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brasil | Categoria e Ministério da Saúde estão em crise desde lançamento do Mais Médicos, há mais de um ano; em MG resultado de exame fazia propaganda contra presidente. | Exame com 'Fora Dilma' ilustra guerra entre governo e médicos | Era só mais um exame oftalmológico de rotina: "A!", "F!", "W!", repetia o paciente, enquanto tentava enxergar letras cada vez menores. Ao receber o resultado impresso de suas taxas de miopia e astigmatismo, porém, os olhos do paciente saltaram: "Fora Dilma", dizia em letras maiúsculas um trecho do laudo médico. O caso aconteceu na segunda semana de setembro, dentro da clínica de olhos da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte - hospital cujo atendimento é 100% vinculado ao SUS. Após a eclosão da história, descoberta pelo jornal mineiro O Tempo, a entidade divulgou uma carta pública, pedindo desculpas à presidente e candidata à reeleição pelo PT Dilma Rousseff, e anunciou abertura de sindicância para investigar o que considerou um "ato de sabotagem" contra a instituição. As investigações sobre o caso continuam, mas fontes ouvidas pela BBC Brasil afirmaram que dificilmente o responsável será identificado, já que a máquina utilizada para imprimir os resultados dos exames é manuseada por pelo menos dez profissionais. De qualquer forma, o episódio ilustra a crise entre parte da classe médica e o governo federal, acirrada especialmente após o lançamento do programa Mais Médicos, em julho do ano passado. A vinda de médicos estrangeiros para trabalhar na atenção básica, como parte do programa, fez com que a principal entidade de representação da classe médica (o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Ministério da Saúde passassem a viver em pé de guerra, em uma situação que se estende por mais de um ano. Em meio ao fogo cruzado, os cerca de 4 mil brasileiros especialistas em medicina de família - que atendem pacientes nas periferias e nos rincões mais distantes do país e que são os personagens principais neste enredo - afirmam enxergar prós e contras no discurso de ambos os lados. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Conselho e Ministério os representam - mas nenhum deles parece falar sua língua. Entre os principais fatores de discordância entre o governo e a entidade médica estão o volume de investimentos em infraestrutura de postos de saúde, as políticas de remuneração e formação de profissionais e a vinda de médicos estrangeiros - especialmente os cubanos. "Por um lado, o programa (Mais Médicos) tornou a atenção em saúde acessível e reduziu mortalidade. Por outro, não veio uma política de Estado de médio prazo", pondera o pediatra e professor de Atenção Básica Luis Cutolo, que ensina na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e na Univale. Nos dois extremos do comentário do professor estão as posições do governo e do CFM. "Há cidades no interior onde pessoas morrem de pneumonia porque não têm médico nem penicilina, em pleno século 21. Ora, era necessário uma atitude urgente para fazer com que essas pessoas não morressem", argumenta Cutolo. "Esses médicos vieram para ocupar espaços que os médicos brasileiros não ocupavam. Mas o governo cometeu uma série de erros estratégicos: não foi claro, não debateu isso com a sociedade antes." Em entrevista à BBC Brasil, o clínico Carlos Vital Corrêa Lima, vice-presidente do CFM, atacou "a falta de vontade política" para a criação de planos de carreiras e a existência de "postos carentes de condições básicas de infraestrutura" na atenção básica. "O problema da saúde no Brasil é crônico, mas vem agonizando nos últimos 12 anos", diz o representante da categoria, em referência aos governos petistas. Representantes do governo, por sua vez, afirmaram que os aportes financeiros na área mais que dobraram na gestão de Dilma Rousseff. "O Ministério da Saúde está investindo fortemente em infraestrutura para melhorar a rede de atenção à saúde e oferecer condições adequadas de trabalho aos profissionais. São R$ 5,6 bilhões destinados aos municípios para a construção, reforma e ampliação de 26 mil Unidades Básicas de Saúde e R$ 1,9 bilhão para construção e reforma de Unidades de Pronto Atendimento 24h", disse o Ministério. Hoje, de acordo com o governo, existem 37.319 equipes de saúde da família no país, cobrindo uma população de 116.417.019 pessoas. Em resposta às cobranças de planos de carreira, o governo diz que "estimula a implantação e a reestruturação dos planos de carreira nos âmbitos estaduais e municipais" e que financia "projetos estaduais para criação de planos de carreiras, cargos e salários e para a desprecarização de vínculos trabalhistas no SUS". "O SUS é interfederado, tem atribuições de Estados, Municípios e da União", diz Marcos Pedrosa, médico de família e professor da UFPE. "Para federalizar toda a mão de obra seria preciso acabar com a lei de responsabilidade fiscal, que estabelece teto para a participação da folha de pagamento do funcionalismo público no orçamento da União. Em cidades pequenas, o salário do prefeito muitas vezes é menor que o salário necessário para atrair um médico", afirma. Profissionais de medicina familiar entrevistados pela BBC Brasil disseram considerar a criação de planos de progressão salarial para médicos do SUS um dos pontos críticos para que mais estudantes decidissem se especializar na atenção básica. Hoje, apenas um em cada dez desses profissionais tem esta especialização - considerada a formação mais adequada para o atendimento primário de saúde. De acordo com a Constituição brasileira, a gestão e os serviços de saúde devem ser descentralizados - portanto, a responsabilidade federal é compartilhada com Municípios e Estados. O médico de família Paulo Klingelhoefer de Sá, que há mais de 20 anos trabalha na atenção básica e hoje é coordenador do curso de medicina da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP), opta pelo meio termo entre os discursos do governo e da entidade representativa. "O Partido dos Trabalhadores, quando no poder, não criou condições adequadas de contratação, de salário e de condições de trabalho para o profissional. Ele teve iniciativas que foram interessantes, mas não suficientes. Se você não botar dinheiro no bolso do cara para ele ter condição de pagar as contas dele, ele não vai ficar." Segundo o governo, mesmo com ofertas de salários acima de R$ 20 mil, apenas 12% das vagas foram preenchidas antes da abertura do processo de cooperação com médicos estrangeiros. Hoje, segundo o Ministério, quase 80% dos mais de 14,4 mil participantes do programa Mais Médicos vêm de Cuba. Ainda de acordo com o governo, 2,7 mil cidades são atendidas exclusivamente por cubanos. O vice-presidente do CFM novamente bate de frente. "A vinda dos cubanos é parte de um processo de sustentação econômica dessa bela ilha do Caribe", diz Vital. "É um interesse de Cuba, haja vista a resistência natural (dos brasileiros) fundamentada pela falta de condições de trabalho", afirma. "Por isso há dificuldade de preenchimento dos espaços." O ministério contra-argumenta. "(As localidades atendidas pelo programa) agora têm o médico atendendo, de segunda a sexta-feira, em tempo integral". Rodrigo Lima, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), critica a "ideologização" da discussão. Segundo o médico, a discussão hoje é muito mais política (direita X esquerda) do que efetivamente construtiva. "Há um componente ideológico forte, porque as corporações médicas historicamente têm se posicionado mais à direita. E o governo anuncia que vai trazer tantos médicos cubanos, sem validar o diploma e passando o dinheiro direto para o governo cubano. Foi uma declaração de guerra", diz. Para o médico, o Mais Médicos "tem muitos defeitos", mas vale a pena trabalhar para aperfeiçoá-lo. "Temos que estar junto para construir algo que é melhor", diz. "Fomos muito criticados dentro da corporação médica por isso." | 2014-09-24 11:46:21 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140924_guerra_medicos_salasocial_eleicoes2014_rs_cq.shtml |
brasil | Fontes ligadas à Santa Casa de BH afirmam que 'seria impossível' identificar quem manipulou o equipamento oftalmológico onde crítica à presidente foi digitada. | Exame médico prega 'Fora Dilma'; investigação não deve apontar autor | Era só mais um exame oftalmológico de rotina: "A!", "F!", "W!", repetia o paciente, enquanto tentava enxergar letras cada vez menores. Ao receber o resultado impresso de suas taxas de miopia e astigmatismo, porém, os olhos do paciente saltaram: "Fora Dilma", dizia em letras maiúsculas um trecho do laudo médico. O caso aconteceu na segunda semana de setembro, dentro da clínica de olhos da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte - hospital cujo atendimento é 100% vinculado ao SUS. Após a eclosão da história, descoberta pelo jornal mineiro O Tempo, a entidade divulgou uma carta pública, pedindo desculpas à presidente Dilma Rousseff, e anunciou abertura de sindicância para investigar o que considerou um "ato de sabotagem" contra a instituição. O episódio ilustra a hostilidade de parte da classe médica com o governo federal, acirrada especialmente após o lançamento do programa Mais Médicos, em junho do ano passado. Fontes ligadas à Santa Casa mineira, entretanto, afirmaram à BBC Brasil que a investigação sobre o caso não deverá trazer resultados objetivos, já que seria impossível identificar quem manipulou o equipamento - que seria manuseado por pelo menos dez profissionais. A imprensa mineira chegou a indicar, sem citar nomes, um dos médicos de plantão como responsável pelo caso. Nas redes sociais, o suspeito postaria recorrentemente mensagens críticas à atual presidente e candidata à reeleição pelo PT. Por conta da quantidade de profissionais com acesso à máquina oftalmológica, entretanto, ainda não é possível confirmar quem foi o responsável. Procurado pela BBC Brasil, o departamento de imprensa da Santa Casa afirmou, apenas, que a sindicância ainda não foi encerrada. Segundo relatos, outros pacientes também teriam recebido laudos com a inscrição "Fora Dilma" - os primeiros registros foram publicados no Twitter em maio deste ano. "A dedução de que um dos médicos teria digitado a mensagem é óbvia, mas isso poderia ter sido feito por enfermeiros, técnicos ou qualquer outro profissional que estivesse ali", disse o entrevistado, que optou por manter seu nome em segredo por medo de represálias. A nota divulgada pela Santa Casa (veja o texto completo abaixo) afirma que "o Grupo Santa Casa BH manifesta publicamente seu pesar e apresenta formalmente pedido de desculpas pelo lamentável ato de sabotagem ocorrido na Clínica de Olhos da instituição e noticiado por órgãos da imprensa no dia 10 de setembro". "Importante ressaltar que, em seus 115 anos de existência, a instituição sempre se pautou pela isenção, neutralidade e decoro em processos eleitorais e disputas partidárias", continua a nota, que se encerra convidando a presidente da República a visitar pessoalmente as instalações do hospital. Após ameaçar denunciar o caso ao TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral), o PT disse considerar a mensagem um ato isolado. Segundo a sigla, o ato teria sido realizado por "um profissional da área de saúde que não tem compreensão das ações do governo Dilma na área". Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast "À EXMA. SRA. Dilma Rousseff O Grupo Santa Casa BH manifesta publicamente seu pesar e apresenta formalmente pedido de desculpas pelo lamentável ato de sabotagem ocorrido na Clínica de Olhos da instituição e noticiado por órgãos da imprensa no dia 10 de setembro. Por repudiar qualquer tipo de manifestação de desrespeito à figura da Presidenta da República, de intolerância a qualquer corrente de pensamento ou de uso indevido do nome ou imagem da Santa Casa BH na tentativa de influenciar a escolha soberana e democrática da população brasileira, o Grupo Santa Casa BH abriu sindicância para apurar o fato e identificar o(s) responsável(eis) por este mal feito e para que sejam aplicadas as medidas legais cabíveis. Importante ressaltar que, em seus 115 anos de existência, a instituição sempre se pautou pela isenção, neutralidade e decoro em processos eleitorais e disputas partidárias. Em seu Conselho, conta com pessoas ilustres que exercem ou exerceram cargos públicos, filiados a diversos partidos políticos de diferentes correntes de pensamento. A principal missão da Santa Casa BH é servir a população mineira com serviços hospitalares e ambulatoriais de excelência, atualmente 100% dedicados ao Sistema Único de Saúde. Nos últimos anos, experimentamos notável crescimento e qualificação nos atendimentos prestados graças às profícuas parcerias junto aos poderes Federal, Estadual e Municipal. Por fim, gostaríamos de convidá-la a visitar pessoalmente a nossa instituição, nacionalmente conhecida como um exemplo de sucesso na prestação de serviços ao Sistema Único de Saúde e de amor ao povo mineiro." | 2014-09-24 01:27:19 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140922_salasocial_eleicoes2014_foradilma_bh_rs.shtml |
brasil | Documento foi firmado por mais de 30 países, entre eles, Estados Unidos, Canadá e União Europeia; governo brasileiro alega que não foi consultado. | Brasil não assina acordo mundial para reduzir desmatamento | No mesmo dia em que a presidente Dilma Rousseff exaltou as medidas tomadas por seu governo na área ambiental, o Brasil se recusou a assinar um documento propondo reduzir pela metade a derrubada das florestas do mundo até 2020 e zerar por completo o desmatamento até 2030. O compromisso foi anunciado nesta terça-feira com a 'Declaração de Nova York sobre Florestas', durante a Cúpula do Clima das Nações Unidas, na sede da organização, em Nova York. Participam da iniciativa mais de 30 países, entre eles, Estados Unidos, Canadá e União Europeia, além de dezenas de empresas, organizações ambientalistas e grupos indígenas. O evento antecedeu à abertura da Assembleia Geral da ONU, prevista para acontecer nesta quarta-feira. À revelia do governo federal, os Estados do Acre, Amapá e Amazonas também assinaram o acordo. A 'Declaração de Nova York sobre Florestas' é uma espécie de cartas de intenções anterior a um tratado internacional, que começaria a vigorar a partir do ano que vem. Uma vez implementado, cortaria a emissão anual de gás carbônico (CO2) entre 4,5 e 8,8 bilhões de toneladas. Autoridades ligadas à defesa do meio ambiente lamentaram a falta de apoio do Brasil, dono da maior floresta tropical úmida contínua do mundo. Segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o Brasil ficou de fora porque "não foi consultado" sobre a nova resolução. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast "Infelizmente, não fomos consultados [sobre a declaração]. Acredito que seja impossível pensar uma iniciativa em prol das florestas a nível mundial sem incluir o Brasil. Não faz sentido", disse Teixeira à agência de notícias Associated Press (AP) na segunda-feira (22). Na prática, porém, o compromisso vai de encontro às regras do governo brasileiro sobre o manejo sustentável das florestas e a derrubada de áreas para agricultura, o chamado 'desmatamento legal'. Como não havia distinção no texto entre o que poderia ou não ser desmatado, o país resolveu não assinar o documento. "Desmatamento legal é diferente de desmatamento ilegal. Nossa política nacional é interromper o ilegal", afirmou a ministra. Caso as metas propostas no documento sejam alcançadas, a redução de dióxido de carbono lançado na atmosfera seria equivalente ao volume atualmente expelido por todos os carros do planeta, informou a ONU. O grupo que assinou o documento também prevê recuperar mais de 2,5 milhões de km² de floresta no mundo até 2030. A Noruega, por sua vez, prometeu gastar US$ 350 milhões (R$ 840 milhões) para proteger as florestas do Peru e outros US$ 100 milhões (R$ 240 milhões) na Libéria. Em entrevista à AP, Charles McNeill, assessor de política ambiental para o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, afirmou que não houve "intenção de excluir o Brasil". "Não houve intenção de excluir o Brasil. Eles são o mais importante país naquela área. Um esforço que envolva o Brasil é muito mais poderoso e impactante". Segundo McNeill, "houve tentativas de falar com integrantes do governo brasileiro, mas não obtivemos uma resposta". Segundo dados oficiais, o desmatamento caiu 79% no Brasil desde 2004. No ano passado, contudo, o desmatamento na Amazônia Legal subiu 28% após quatro anos em queda. Apesar do aumento, o índice foi o segundo menor desde que o país começou a acompanhar a derrubada de árvores na região, em 1988. Em discurso na plenária da ONU, Dilma exaltou a agenda sustentável do seu governo e descreveu os indicadores de desmatamento brasileiros como "excepcionais". Ela afirmou ainda que sua adversária na corrida presidencial pelo PSB, Marina Silva, mente ao afirmar que a atual política ambiental brasileira representa um retrocesso. A presidente lembrou que o Brasil tomou a decisão voluntária, durante a Cúpula de Copenhague, em 2009, de cortar entre 36% e 39% as emissões de dióxido de carbono até 2020. Segundo ela, o país também deixou de emitir cerca de 650 milhões de toneladas de gases desde 2010. "Quero saber onde está o retrocesso. Por que quem definiu 36% e 39% voluntariamente, quem reduziu 650 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, foi o meu governo e o governo do presidente Lula. E não foi na época dela que fizemos isso", afirmou Dilma. Em compromisso de campanha em Florianópolis, Marina Silva voltou a criticar Dilma. A candidata do PSB à presidência lamentou que o Brasil não assinou a carta de proteção às florestas. Marina afirmou ainda que a petista não assumiu um compromisso para o futuro. "Acabo de receber a notícia de que, infelizmente, a presidente Dilma, que está participando em Nova York da cúpula do Clima, a convite do secretariado geral das Nações Unidas, fala tão somente das conquistas já alcançadas no passado, mas não sinaliza nenhum compromisso para o futuro", disse a ex-senadora. | 2014-09-24 02:27:30 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140924_brasil_acordo_clima_lgb.shtml |
brasil | Para o médico brasileiro, que está há 10 anos no Canadá, acesso comum à saúde faz com que classes sociais dividam vantagens e desvantagens de sistema público. | 'Pobres e ricos têm tratamento idêntico em sistema único no Canadá', diz médico brasileiro | Com passagem pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no Paraná e há mais de 10 anos atuando no Canadá, o médico brasileiro Fabio Cury acumula experiência nos dois sistemas públicos de saúde e acredita que o Brasil poderia aproveitar alguns aspectos do modelo canadense. Para Cury, que é especializado em rádio-oncologia - o tratamento do câncer com radiações ionizantes (também conhecido como radioterapia) - uma das grandes diferenças entre os dois países é a presença, no Brasil, de dois sistemas de saúde, um público e outro privado, diferentemente do que acontece no Canadá. “A vantagem de ter um sistema único realmente único (como acontece no Canadá) e não ter um sistema paralelo, como o sistema privado ou o plano de saúde, é que todo mundo tem que ser tratado, e bem tratado, sob aquele sistema (público)”, disse Cury à BBC Brasil. “(No Canadá) Toda a população tem acesso aos mesmos tratamentos, aos mesmos médicos, independentemente da sua classe social. É diferente do Brasil, onde uma pessoa com mais recursos será tratada em um hospital particular, e outra, com menos recursos, às vezes não será sequer tratada, ou será tratada em um hospital com menos tecnologia”, diz. Cury explica que todos os canadenses, independentemente da situação financeira, usam o sistema público para serviços médicos e atendimento hospitalar. O gasto com saúde já está incluído no Imposto de Renda, de acordo com os rendimentos de cada um. Na hora de receber o atendimento, geralmente não é preciso desembolsar nada. Mesmo no caso de uma clínica de propriedade privada, o pagamento pelo tratamento será feito pelo governo, dentro do sistema público de saúde, e não pelo paciente. O sistema privado pode ser usado apenas para alguns serviços, como testes e diagnósticos, algumas cirurgias estéticas ou tratamento odontológico. Cury faz uma comparação com a situação no Brasil, onde, dependendo dos recursos financeiros, os pacientes vão optar pelo SUS, por planos de saúde ou por pagar pelo tratamento integralmente. “No tratamento do câncer, por exemplo, há drogas que o SUS não cobre, e o convênio cobre. Ou só tem acesso se pagar. Então essa pessoa (com mais recursos financeiros) vai receber um tratamento diferenciado do que aquele que está lá pelo SUS (no Brasil)”, afirma. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Para Cury, uma possível maneira de elevar a qualidade do sistema público de saúde no Brasil seria melhorar salários e equipamentos, até que houvesse uma transição natural dos pacientes do sistema privado para o público. “Quando (o tratamento pelo SUS) chegasse no mesmo nível dos grandes hospitais, talvez o paciente particular olhasse com outros olhos, visse que poderia fazer o tratamento de graça e com a mesma qualidade e no mesmo tempo”, destaca. O brasileiro ressalta que os hospitais públicos no Canadá, ao contrário de muitos no Brasil, são equipados com tecnologia de ponta, acessível a todos os pacientes, ricos ou pobres. “O investimento em tecnologia poderia fazer o sistema público do Brasil se tornar algo mais próximo do que o que existe aqui fora. Porque os profissionais do Brasil são bem treinados, de maneira geral”, afirma o brasileiro, que integra a equipe do Montreal General Hospital, parte do McGill University Health Center (Centro Universitário de Saúde McGill) em Montreal, na Província do Québec. No sistema canadense, todos compartilham dos mesmos benefícios e eventuais desvantagens. “Aqui toda a população tem acesso a tecnologia de ponta, tratamento de ponta, com as devidas restrições”, resume Cury. Uma reclamação comum no Canadá é em relação ao tempo de espera para determinados tratamentos, considerado longo – mas, de acordo com Cury, ainda menor que a média no Brasil. Naquele país, um órgão do governo é responsável por vistoriar e ter certeza de que os prazos são cumpridos. “Aqui tem fila, mas ninguém morre na fila”, afirma Cury, ao observar que o tempo de espera costuma ser menor que o registrado no SUS, mas maior do que no sistema privado do Brasil ou de outros países. Ao contrário do que ocorre no Brasil, no Canadá o paciente não tem a opção de pagar mais para ser atendido mais rápido. Cury observa que há casos de pacientes com mais recursos que acabam, por exemplo, viajando aos Estados Unidos em busca de uma consulta de segunda opinião ou de tratamento mais rápido. Mas de modo geral, em caso de descontentamento com algum serviço, a reação da população costuma ser reclamar e exigir seus direitos ao tratamento de saúde de ponta. Para o rádio-oncologista, o maior estímulo ao ensino e à pesquisa também são aspectos do modelo canadense que poderiam ser adotados no Brasil. Outro fator que, na visão de Cury, poderia ser melhorado no Brasil seria a criação de condições para que os profissionais de saúde se dediquem exclusivamente a um determinado local, sem precisar recorrer a dois ou mais empregos para pagar as contas. “Infelizmente, vejo colegas no Brasil trabalhando em dois ou três lugares. Aqui, a maioria trabalha em um único hospital. É onde você vai ver seus pacientes, vai fazer sua pesquisa e vai lidar com a sua parte de ensino”, afirma. “A ideia de se ter plano de carreira para um médico, tanto dentro da universidade quanto alguma coisa guiada pelo governo, com salários melhores, com plano de aposentadoria e tudo mais, seria um grande atrativo para o médico brasileiro.” Formado pela Universidade Federal do Paraná, Cury, de 40 anos, chegou ao Canadá em 2003, após concluir residência no Brasil. Logo depois, surgiu o convite para permanecer no país. Assim como todos os médicos formados fora do Canadá, ele teve de revalidar seu diploma e fazer diversas provas, inclusive de língua francesa (falada no Québec), para ganhar a permissão para atuar. O fato de muitos médicos estrangeiros atuarem no Canadá facilitou a adaptação, diz Cury. “Nunca senti preconceito em relação a ser de fora ou em relação a ser brasileiro”, afirma. “Acho que o aspecto humano do médico brasileiro é uma coisa que chama a atenção de qualquer população. Quando o brasileiro vem para cá, faz sucesso entre os pacientes. Essa forma carinhosa que o brasileiro tem é um ponto positivo.” A demanda por médicos levou o Ministério da Saúde e Serviços Sociais do Québec a criar há mais de dez anos um programa de recrutamento, o Recrutement Santé Québec, para atrair profissionais formados em outros países. Esses médicos precisam ser aprovados pela ordem profissional de médicos, o Collège des Médicins du Québec, equivalente a um CRM (Conselho Regional de Medicina) no Brasil. As regras do programa incluem ainda a aprovação em testes e cursos de treinamento, e o recrutamento não vale para áreas universitárias, como Montreal, mas somente para áreas onde há muita demanda. Segundo a assessoria de imprensa do projeto, desde seu início, em 2003, o programa já recebeu 62 inscrições do Brasil. Desses candidatos, 12 obtiveram licença para atuar no Québec, sendo três recrutados como professores. Atualmente, nove deles permanecem no programa. | 2014-09-22 14:53:10 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140922_medico_salasocial_eleicoes2014_canada_ac_cq.shtml |
brasil | Pacientes no Reino Unido precisam passar por um profissional generalista antes de serem encaminhados para especialistas. | Desvalorizada no Brasil, saúde básica é chave do sucesso de sistema britânico | O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado no Brasil com a redemocratização do país e a promulgação da Constituição de 1988, tendo como uma de suas inspirações o sistema de saúde pública britânico, o NHS (National Health Service). A forma como cada sistema opera, porém, apresenta profundas diferenças. Enquanto no Brasil, os médicos de formação generalista como clínico geral e o médico de família são pouco valorizados, no Reino Unido esses profissionais, chamados de general practitioners (GP) são o eixo central do atendimento. Há 65,3 mil médicos registrados como GP (incluindo os sistemas público e privado), o que representa praticamente um quarto do total de médicos atuando no Reino Unido (267,5 mil). Do total de GPs, 61% atuam no serviço público, onde quase toda a população busca atendimento, inclusive pessoas com renda equivalente à classe média alta brasileira. Não existe um equivalente direto ao GP no Brasil. Esse profissional está entre o que seria o médico de família e o clínico geral que atua em unidades de pronto atendimento. A BBC Brasil mostrou nesta segunda-feira que existem apenas 4 mil médicos de família no país e que essa formação é estigmatizada dentro da categoria médica. "É preciso valorizar a atenção básica de saúde no Brasil. No sistema britânico, é o oposto: há uma supervalorização do GP", afirma o professor da USP Oswaldo Tanaka, que já morou no Reino Unido e estudou o NHS. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast No sistema britânico, o paciente não marca atendimento com médicos especializados de acordo com seu problema, por exemplo cardiologista, endocrinologista, dermatologista, etc. Ele primeiro passa pelo GP, que decide então se o paciente deve ou não ser encaminhado para um especialista. Mesmo no caso de a pessoa ter um seguro de saúde, ela deve passar primeiro por um GP que atue no sistema privado, que posteriormente encaminha o paciente para um especialista."Não é como no Brasil, que você abre seu livrinho do plano de saúde, escolhe o médico especialista e vai lá direto", explica a médica ginecologista Vânia Martins, que trabalhou quinze anos no setor público no Brasil antes de se mudar para Londres, onde atende em uma clínica privada e no NHS. A forma de remuneração dos médicos e gestão dos recursos também é muito diferente da do SUS. Tanaka explica que o GP é como se fosse um prestador de serviço ao NHS, mais do que um funcionário assalariado. Ele é remunerado de acordo com os atendimentos que faz. Os residentes do Reino Unido devem se registrar em um GP na região em que moram, mas têm a opção de trocar de médico ou de clínica se assim desejarem, desde que na mesma região. Dessa forma, é de interesse do GP ter mais pacientes, pois assim ele receberá mais recursos. Não há dados estatísticos sobre qual o tempo médio necessário para marcar uma consulta com um GP. Médicos e usuários ouvidos pela BBC Brasil disseram que é fácil conseguir um horário em poucos dias ou na mesma data, mas as consultas costumam ser breves, duram de dez a quinze minutos e, em geral, se resumem a uma conversa. O GP é quem vai encaminhar o paciente a um médico especialista ou para fazer um exame ou tratamento, por exemplo, e os recursos que pagam por esses serviços saem do orçamento público administrado por sua clínica, explica Tanaka. Dessa forma, o GP tende a só fazer o encaminhamento se tiver certeza de que é necessário. Por isso, muitas vezes as pessoas deixam de marcar a consulta se o caso não é grave. "Esse modelo foi criado com as reformas implementadas pelo governo da Margaret Thatcher nos anos 1980. O GP precisa ser produtivo e atender metas, por isso as consultas são rápidas", diz Tanaka. Apesar das limitações, profissionais brasileiros que trabalham no NHS falaram à BBC Brasil sobre a importância desse modelo centrado no atendimento básico para garantir acesso à saúde para toda a população. "Se você comparar os dois sistemas, ainda é melhor que o brasileiro. Aqui, você levantou passando mal, consegue uma consulta de emergência de dez minutos", diz Vânia Martins. Para ela, a pequena cobertura de saúde da família no Brasil acaba sobrecarregando as emergências. "Se você tem um problema pequeno, o que você vai fazer numa emergência? Quando você não tem um sistema que absorve isso, essas bobeirinhas, digamos assim, que você pode tratar passando uma prescrição, uma injeção e mandar para casa, você sobrecarrega o sistema". "O que eu via no Brasil era gente que ia fazer uma tomografia na emergência, mas não era emergência. É que não conseguia fazer no outro lugar que deveria fazer do SUS", afirma. A enfermeira Ana De Stefano, que já atuou no sistema público brasileiro e hoje trabalha na maternidade do St. Peter's Hospital (Chertsey), observa que, assim como os médicos de família, profissionais como ela também têm um papel mais relevante no Reino Unido do que no Brasil. "Aumentar a qualificação e a responsabilidade dos enfermeiros também diminuiria a pressão sobre os médicos no Brasil", acredita. No Reino Unido, por exemplo, enfermeiros realizam o teste ginecológico papanicolau e exames de ultrassom, procedimentos que costumam ser executados por médicos no Brasil. Vânia Martins, que já trabalhou na Secretaria Estadual de Saúde do Rio e chefiou o Programa de Saúde do Adolescente do município de Belford Roxo (RJ), diz que procurou ampliar o papel dos enfermeiros na sua gestão, mas que há resistência dos médicos, que temem perder mercado. A enfermeira Ana De Stefano destaca ainda o papel da parteira. Após estudar a prática por três anos, são elas que fazem os partos normais no Reino Unido, enquanto os médicos realizam as cesarianas, procedimento raro no sistema britânico. O NHS emprega mais de 1,7 milhão de pessoas e quase metade é de profissionais de saúde, sendo cerca de 40 mil GPs e 370 mil enfermeiros. O sistema é aberto a toda a opulação residente no Reino Unido, que soma 63,2 milhões de pessoas. De acordo com o Ministério da Saúde, o SUS conta com mais de 2 milhões de profissionais, dos quais mais de 184 mil são enfermeiros e 440 mil são médicos de diversas especialidades. Dentre eles, cerca de 113 mil são clínicos gerais. A população total do Brasil é de 203,1 milhões de habitantes. De acordo com dados do Banco Mundial, o gasto público em saúde no Reino Unido é bastante superior ao brasileiro. As tendências, porém, são opostas. Enquanto os recursos destinados ao setor britânico têm recuado em proporção ao PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos anos, no Brasil eles têm crescido. Segundo a instituição, o total destinado por todas as esferas de governo à saúde passou de 3,8% do PIB brasileiro em 2009 para 4,3% em 2012, dado mais recente. No mesmo período, essa taxa passou de 8,2% para 7,8% no Reino Unido. A crescente demanda por serviços devido ao envelhecimento da população e a redução dos gastos por causa do aperto fiscal do governo têm se refletido na piora da qualidade de alguns serviços na Grã-Bretanha. Em abril deste ano, por exemplo, a quantidade de pessoas esperando por mais de 18 semanas por uma operação – prazo limite previsto no NHS – atingiu 3 milhões, maior número em seis anos. | 2014-09-23 11:19:18 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140923_nhs_sus_ms.shtml |
brasil | Setor que antes 'ia atrás dos candidatos' agora é procurado por ser responsável por fatia cada vez maior da economia brasileira. | Cortejado por candidatos, agronegócio expõe força eleitoral inédita | "Estávamos habituados a ir atrás dos candidatos à Presidência para levar nossos pedidos, mas pela primeira vez eles é que estão nos procurando". A declaração, feita à BBC Brasil pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, expõe a força do agronegócio nesta eleição. Responsável por uma fatia cada vez maior da economia brasileira, o setor nunca esteve tão presente nos discursos, agendas e alianças dos candidatos que lideram a corrida presidencial. Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) têm se reunido com representantes do segmento de olho em doações para suas campanhas, no poder do grupo em influenciar votos e na sua força no Congresso. "O cortejo dos candidatos ao agronegócio cresceu de forma excepcional em relação a eleições passadas e está mais escancarado, intenso e assumido", diz o jornalista Alceu Castilho, estudioso das relações entre política e agronegócio e autor do livro Partido da Terra (editora Contexto, 2012). Uma das maiores provas desse cortejo, diz Castilho, ocorreu no início de agosto, quando os três principais presidenciáveis – à época, o candidato do PSB era Eduardo Campos – foram sabatinados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Na última eleição presidencial, somente o candidato do PSDB, José Serra, visitou a entidade. As contribuições do setor às campanhas ajudam a explicar a aproximação, diz Castilho. Elas expõem o crescente poderio do agronegócio num momento em que a economia nacional fraqueja. Segundo a CNA, o setor hoje representa 23% do PIB (Produto Interno Bruto) e foi responsável por 41% das exportações do país em 2013. O Brasil hoje é o maior exportador global de café, açúcar, suco de laranja, carne bovina, frango, soja em grão e milho. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Castilho diz que as doações do grupo JBS, maior processador de carne do mundo, são emblemáticas. Na eleição de 2010, a empresa repassou R$ 35 milhões a comitês e diretórios partidários e integrou o segundo escalão entre as maiores doadoras. Neste pleito, a empresa já doou R$ 71,9 milhões e disputa a liderança da lista. Outros grandes grupos do setor – entre os quais a Cosan, a Cutrale e a Copersucar – também integram a lista das empresas que mais doaram até agora. Castilho diz, no entanto, que o peso do agronegócio nas doações eleitorais não pode ser medido somente pelos repasses de empresas do ramo, já que importantes doadoras de outros segmentos também têm fortes laços com o setor. Ele cita entre essas companhias a construtora Queiroz Galvão, dona de fazendas de eucalipto no Maranhão, e a fabricante de bebidas Ambev, que possui indústrias de sucos e exerce grande influência na cadeia produtiva agrícola. Para ele, as duas gigantes – assim como várias outras empresas originariamente de outros ramos – também exercem lobby político em favor do agronegócio. Dentre os três principais presidenciáveis, Aécio é considerado o candidato mais próximo do agronegócio. O coordenador de seu programa de governo para o setor é o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Dilma tem como principal aliada no ramo a presidente licenciada da CNA Kátia Abreu (PMDB-TO), cotada para assumir o Ministério da Agricultura se a petista for reeleita. Marina é quem desperta mais receio no setor. Desde a morte de Eduardo Campos, ela tem elogiado o segmento e dito que apenas uma "pequena fração" de seus representantes "não atualizou suas práticas" ambientais. A candidata do PSB tem buscado se aproximar de empresários de açúcar e etanol em São Paulo, e conta nessa tarefa com a ajuda de seu vice, o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), que mantém boas relações com o setor. Para o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz, ao acenar ao agronegócio, os presidenciáveis também tentam garantir apoios no Congresso caso vençam a disputa. A bancada ruralista é considerada pelo Diap como a mais forte da Casa. Segundo a Frente Parlamentar da Agropecuária, nome oficial da bancada, 23% dos deputados e 16% dos senadores integram o grupo. A bancada se reúne em almoço todas as sextas para definir prioridades e posições. Segundo Queiroz, o grupo indicou o atual ministro da Agricultura, Neri Geller (PMDB-MT), e os presidentes das comissões de Agricultura e do Meio Ambiente da Câmara e da Comissão de Reforma Agrária do Senado. Tradicionalmente, afirma ele, associações que representam grandes produtores de matérias primas agrícolas – como a CNA – exerciam na bancada uma influência sem paralelo. Hoje, porém, a bancada também mantém relações próximas com indústrias ligadas ao agronegócio, representadas por entidades como a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a CNI (Confederação Nacional da Indústria). O perfil dos representantes da bancada também tem mudado, diz Queiroz. Grandes empresas do ramo deixaram de apoiar apenas políticos que são proprietários de terra e passaram a chancelar candidatos de outros ramos profissionais. "Hoje há a opção em apoiar candidatos economistas, advogados, profissionais liberais que sejam identificados com o setor, mas não sejam tão expostos como os donos de terras." Para o cientista político Edélcio Vigna, que estuda a bancada desde o fim da ditadura, outro motivo para o cortejo dos presidenciáveis ao agronegócio é sua capacidade de angariar votos. Vigna afirma que o PMDB, que tem o maior número de congressistas ruralistas, é também o partido que controla mais prefeituras no país. E especialmente nos municípios pequenos, que são 80% do total e onde as campanhas dos presidenciáveis só chegam pela TV, os prefeitos têm grande poder de influenciar votos. Para ele, o peso político do setor eliminou do debate eleitoral bandeiras tradicionais da esquerda. "Não se discute mais reforma agrária, função social da propriedade, desapropriação de terras", afirma. "Hoje a discussão sobre o campo é somente econômica, desenvolvimentista." | 2014-09-10 22:06:49 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140910_eleicoes2014_agronegocio_salasocial_jf.shtml |
brasil | Categoria que atua em postos de saúde e que poderia ser chave para solucionar problemas de atendimento médico no Brasil sofre com preconceito e baixos salários. | Médica de família 'dirige Chevette e namora Creisom' em apostila para concurso | "Ao ouvir as histórias dos amigos, você ficava triste: os dermatologistas, todos bem de vida (...); o pessoal da cirurgia plástica chegando de carro importado e você caladinha, envergonhada de estar em um fim de mundo, dirigindo seu Chevette hatch, ano 87, com três calotas, e namorando Creisom, motorista da ambulância do seu município...". Esta é a descrição de um hipotético encontro de colegas de Medicina que aparece em uma apostila do Medcurso, o principal curso preparatório para concursos médicos no Brasil. A situação descrita acima introduz uma série de perguntas sobre a atenção básica de saúde. A "motorista do Chevette", que aparece envergonhada, é uma médica que optou por atuar em um Posto de Saúde da Família (PSF) em uma cidade do interior. O material do curso preparatório chega a dizer ainda que líderes de esquerda como Hugo Chávez e Evo Morales seriam os "heróis" dos médicos que trabalham com atenção básica. A apostila ilustra a imagem que médicos de família e comunidade - que atuam majoritariamente no SUS e em postos de saúde - têm entres os profissionais de Medicina no Brasil. Apesar de estarem no centro de programas de governo - como o Mais Médicos - e das propostas de candidatos à Presidência para a saúde, os médicos de família são ainda uma especialidade pouco conhecida da população e pouco procurada dentro das escolas de Medicina: dos cerca de 390 mil médicos no país, apenas cerca de 4 mil são médicos de família, cerca de 1% do total. Profissionais que optaram pela especialidade relatam sofrer preconceito entre professores e colegas, apesar da importância da categoria no atendimento aos problemas de saúde mais básicos que afetam os brasileiros. "Sou formado há 12 anos e aconteceu em vários momentos em encontros de turma de me perguntarem quando farei uma especialidade de verdade", disse Rodrigo Lima, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, à BBC Brasil. "Eu já tive muitos alunos que chegaram a relatar: 'Eu tenho vontade de ser médico de família, mas não sei como minha família encararia isso, não sei se vou conseguir convencê-los'. Para um aluno de 20 anos é difícil resistir à pressão de ter que ter o carro do ano, ser muito bem sucedido financeiramente. É o ideal que a sociedade tem do que é ser médico." Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast O Programa de Saúde da Família - criado durante o governo Fernando Henrique Cardoso – tem o objetivo de oferecer atendimento primário de saúde, que procure prevenir e resolver a maior parte dos problemas em determinado território sem a necessidade de encaminhamento para hospitais especializados. A estratégia foi ampliada durante os governos do PT. Nos postos de saúde e unidades básicas, uma equipe de médicos, enfermeiros e agentes comunitários deve acompanhar até quatro mil pessoas – desde crianças até idosos. O bom funcionamento do modelo, que também é adotado por países como Inglaterra, Canadá e Austrália, ajudaria a evitar a superlotação de emergências e hospitais, um dos principais gargalos do atendimento médico no país. Na prática, no entanto, os profissionais relatam unidades com demanda mais alta do que o previsto, condições precárias de trabalho, falta de materiais básicos para o atendimento e dificuldade de completar as equipes médicas. "Os Postos de Saúde e Unidades Básicas de Saúde hoje não dão conta da demanda por uma série de razões. Então o que temos hoje é uma rede enorme de serviços que não conseguem resolver os problemas e cria nas pessoas a ideia de que 'o postinho não resolve, o melhor é o hospital'", diz Rodrigo Lima. Além do Mais Médicos, que contratou profissionais brasileiros e estrangeiros para complementar equipes de saúde da família em todo o país, a formação de profissionais dispostos a atuar na atenção básica também foi alvo de diversas estratégias durante os governos Lula e Dilma. Entre elas, a mudança no currículo de Medicina – que passou a exigir que os alunos frequentem postos de saúde desde o início do curso, e o estímulo à abertura de mais programas de residência da especialidade no país. Muitos desses programas, no entanto, não conseguem preencher boa parte das vagas, segundo a SBMFC. Para os médicos, é um sinal de que os estudantes precisam de mais estímulo para seguirem a carreira. O salário é considerado um dos fatores que desestimula os médicos - eles ganham em média R$ 8 mil, contando com bonificações oferecidas pelas prefeituras para complementar os salários. "Nos últimos anos, o governo teve iniciativas que foram interessantes, mas não suficientes. Se você não botar dinheiro no bolso do cara para que ele pague as contas, ele não vai ficar", disse Paulo Klingelhoefer de Sá, médico de família e coordenador do curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP), à BBC Brasil. "Os alunos falam isso na minha cara. Eu os coloco na atenção primária desde o começo do curso. Eles acham muito legal, ficam com pena da população, mas escolhem outro caminho. Escolhem fazer oftamologia, radiologia, dermatologia. Dizem que medicina da família é coisa para pobre." Os três candidatos melhor colocados nas pesquisas sobre a disputa pela Presidência, Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves, mencionam a "ampliação" da Estratégia de Saúde da Família em seus programas de governo e a "valorização" dos profissionais de saúde que atuam no serviço público. Dois deles, Marina e Aécio, falam especificamente da criação de uma carreira para médicos no SUS. A BBC Brasil também ouviu a opinião de leitores pelo Facebook. A questão gerou um debate acalorado sobre os aspectos positivos e negativos do atendimento básico no sistema de saúde público. Segundo relatos colhidos pela BBC Brasil (leia abaixo) os médicos de família costumam ser vistos – até mesmo pelos pacientes - como profissionais de qualidade inferior, discriminados por receberem salários mais baixos em relação aos colegas e por serem considerados "de esquerda". Nas situações criadas para as perguntas sobre saúde da família, a apostila do Medcurso chega a dizer que "ideias de Evo Morales e Hugo Chávez" atraíram a personagem que começa a trabalhar em um Posto de Saúde da Família. "Achamos que não valia a pena nos pronunciarmos publicamente sobre a apostila, mas ela contribui com esse estigma social de que o médico de família é um médico inferior, que 'não presta para nenhuma especialidade'. Isso é de uma ignorância incrível", diz Rodrigo Lima. "Nesse cenário desfavorável nas faculdades, os alunos que se aproximam da área geralmente são os que se incomodam mais com a questão da desigualdade social, algo que costuma ser associado à esquerda. Mas isso também não é regra, conheço muitos médicos de família que são de direita". afirma. Até a publicação desta reportagem, o Medgrupo, que produz as apostilas do Medcurso, não havia respondido ao pedido de resposta da BBC Brasil. Confira alguns depoimentos de médicos de família: A medicina de família e comunidade é uma especialidade pouco divulgada até hoje. Eu não tinha nenhum professor que fosse médico de família. Quando entrei na faculdade a reforma curricular já tinha acontecido, mas pouquíssimos professores aderiram. Alguns até se recusaram a dar aulas. Eles diziam que não concordavam com a ideia de "formar médico para trabalhar no posto". Dentro da faculdade de Medicina a gente percebia o quanto a profissão tinha status. Muitos colegas meus se espelhavam nesses professores, que eram reconhecidos como médicos especialistas. Eu tinha um professor de anatomia que era neurocirurgião e dizia em sala de aula que tínhamos que aprender para não nos tornarmos "médicos de posto de saúde". Trabalhar em posto de saúde é visto como coisa de gente que não quis estudar para fazer uma residência mais concorrida. Acho que há preconceito, sim. No Brasil, esta é a especialidade que trabalha com a periferia. Não há um médico de família famoso. É uma especialidade que não paga tão bem como as outras pagam. Dentro da sociedade e das famílias, a medicina de família e comunidade não é vista como algo que dê status para o médico. Quando eu disse a minha família que optei por essa especialidade foi difícil para eles entenderem. Eles diziam que eu não ia ganhar dinheiro e que eu ficaria desempregado, porque ainda achavam que era só um programa de governo e poderia acabar. Percebo hoje que os alunos de medicina têm um maior interesse pela especialidade, mas não por causa do estímulo dos professores. Apenas pelo aumento da prática na faculdade. Da minha turma de 40 pessoas, só duas, contando comigo, seguiram a carreira (de médico de família). Sempre fomos discriminadas por causa disso, a medicina de família e comunidade é a prima pobre das residências. O médico de família é "aquele que não ganha dinheiro, que cuida de pobre e que não gosta de estudar". As pessoas acham que quem não conseguiu passar em outra residência, faz Medicina de Família. Havia muita chacota dos colegas, dos professores. Diziam: "você não quer ganhar dinheiro, quer ficar pobre para sempre? Gosta de trabalhar com pobre?". Muitas pessoas não entendiam a residência como necessária para essa especialidade. Até hoje a comunidade médica me olha de lado quando digo que sou médica da família. Fui acompanhar a cesárea de uma parente em Uberlândia e o obstetra me perguntou o que eu fazia. Eu disse que era médica de família e ele perguntou se eu não queria fazer residência em nada. Eu expliquei que já tinha residência em medicina de família e comunidade e ele me disse: "mas ninguém precisa de residência para trabalhar no postinho, você não quer ser médica de verdade?". Acaba acontecendo um distanciamento de outros colegas médicos, porque as conversas, as prioridades, a atenção ao paciente é diferente. Eu gosto de ter vínculo, de conhecer o paciente, de ir às casas deles. E para muitos dos meus colegas não é assim. Muitos escolhem algumas especialidades porque não é preciso ter tanto contato com o paciente. O médico também escolhe muito a especialidade pela qualidade de vida que ela oferece, por ter acesso a alguns privilégios que a categoria médica tem. Para minha família foi impactante eu dizer que queria fazer medicina da família e comunidade, porque ninguém sabia direito o que era, qual era a rotina do profissional. Todo mundo está muito acostumado com as divisões em áreas, então me perguntavam que tipo de gente eu iria atender. Durante a minha residência ainda perguntavam: "mas tu atende paciente? Tu trata doença?". Achavam que eu estava me capacitando para uma carreira de gestão. Até meu tio, que é clínico e ultrassonografista, ainda tem dúvidas sobre o que é o trabalho. Acho que a imagem histórica do que é médico - que é o especialista, aclamado pela população - acaba afastando as pessoas da medicina de família. Eu observava muito nos estudantes a visão do médico como um profissional liberal: me formo numa instituição pública, trabalho um pouco para ganhar essa experiência e vou abrir meu consultório. Já a medicina de família e comunidade tem como grande - quase único - campo de trabalho o SUS. E isso desencoraja muitos dos nossos colegas por conta da pouca consolidação das unidades – há algumas mal funcionantes, com pouca estrutura e profissionais que não cumprem carga horária - e falta de um plano de carreira. O bullying universitário também existiu para mim e isso passou a me abalar menos quando tive mais certeza do que eu queria. No meio do curso eu sofri muito por isso, ser diferente da maioria é difícil. Mas eu procurava estar mais perto das pessoas que pensavam parecido. Meu irmão, que também é médico, me chamava de "estrela vermelha", porque eu vinha com histórias de mudar o mundo e ele estava no caminho da cirurgia. Mas um dia ele me veio me perguntar o que poderia fazer para mudar um pouco a realidade dos pacientes dele – muitos tinham câncer de pulmão e ele não podia fazer nada. O grande nó é a visão que se tem da Medicina. Por mais que a gente tenha políticas e evidências de que o caminho da medicina de família é eficiente, as pessoas que participam da formação dos médicos não são médicos de família. Meu pai tem uma história bem diferente da minha e era bastante crítico em relação a eu não querer trabalhar em um hospital. Minha mãe foi a pessoa com quem eu mais discuti sobre o que quero fazer da vida, por causa do que ela achava que era trabalhar em um posto, no interior, com unidades mal estruturadas. Meus pais me perguntavam: "O médico que tem um carro velho, tu quer ser isso mesmo?". Tempos depois, ela disse pra mim: "Murilo, eu já te aceito uns 80%". Eu sempre quis fazer medicina de família de comunidade. Na própria graduação a gente tinha opções de estágios alternativos em unidades da família e eu sempre gostei desse modelo de ajudar a população mais carente. Os médicos geralmente estão muito mais voltados para hospitais, procedimentos técnicos. Sempre ouvi "você é maluco, não faz isso não, não dá dinheiro". Também dizem que o médico de família não é um médico bom, que não tem preparo. De fato há muitos médicos despreparados para lidar com as pessoas atuando nas Unidades de Saúde da Família. Se fosse obrigatório fazer a residência para atuar na atenção básica, isso ajudaria a acabar com essa imagem. Havia resistência dos professores e dos colegas. No caso dos professores, há muito a fala de que o médico de família não tem capacidade técnica, não ganha bem, que pode ganhar mais, que os casos são muito simples. Isso se reflete nos colegas. Alguns diziam que era "desperdício" que eu fizesse medicina de família, porque eu era bom aluno. De forma geral, era visto como algo para pessoas em começo de carreira e em fim de carreira. No início, quando comecei a trabalhar na cidade de Cachoeira, alguns pacientes me falavam "obrigada doutor, tudo de bom, espero que tudo dê certo para você, que algum dia você tenha sua clínica, consiga trabalhar num hospital, saia daqui desse postinho". Eu achava que os estudantes de Medicina tinham que ser de esquerda para querer fazer medicina de família e comunidade, porque no Nordeste as coisas são um pouco assim, essa ligação é maior. Mas quando fiz residência em Ribeirão Preto (SP), percebi que no eixo Sul-Sudeste é diferente, que é muito comum que pessoas não ligadas à esquerda também sejam médicos de família. | 2014-09-21 02:07:13 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140920_salasocial_eleicoes2014_saude_abre_medicos_cc.shtml |
brasil | Aumento de equipes de Saúde da Família e criação de carreira para médicos no SUS são destaque nas propostas de candidatos para a saúde. | Enfraquecido, programa de saúde da família é unanimidade entre candidatos | Enfraquecida pelo estigma de classe e pela falta de profissionais, a aposta no fortalecimento da atenção básica (ou primária) em saúde é unanimidade entre os candidatos mais bem colocados nas pesquisas sobre a disputa pela Presidência nas eleições deste ano. Criado durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e ampliado nos governos seguintes de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, do PT, o Programa de Saúde da Família visa tem o objetivo de oferecer atendimento primário e de prevenção, evitando a superlotação do atendimento de emergência. Mas o programa sofre com demanda além do previsto, condições precárias de trabalho e, principalmente, com a falta de profissionais, formados em quantidade insuficiente - em parte por conta do preconceito da própria classe médica e me parte pelo falta de estímulos profissionais a seguir a carreira. Os candidatos à Presidência líderes nas pesquisas, Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves, dão destaque à atenção básica e a Estratégia de Saúde da Família em seus programas. Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV) também mencionam a criação de uma carreira para profissionais do SUS, com o objetivo de aumentar as equipes de Saúde da Família e fixar os profissionais na rede pública. Entre os cinco, a presidente Dilma é a única que não menciona explicitamente a criação da carreira para profissionais de saúde, uma das principais bandeiras da categoria médica. A BBC Brasil publica nesta semana uma série de reportagens sobre o tema dos médicos de família, como parte da cobertura especial das eleições presideniciais. O tema foi escolhido a partir de uma consulta com os leitores da BBC Brasil no Facebook, de acordo com a proposta do #salasocial, projeto que usa as redes sociais como fonte de histórias originais. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Nessa consulta, leitores comentaram sobre as dificuldades de serem atendidos em postos e unidades básicas de saúde, sobre a falta de profissionais e as longas filas de espera para exames e consultas com especialistas. Os rumos da saúde pública têm sido amplamente discutidos no país no último ano - seja pelas reivindicações por mais investimentos, feitas por manifestantes desde os protestos de 2013, seja pelo debate em torno do programa Mais Médicos. No centro das discussões está a atenção básica em saúde, considerada a "porta de entrada ideal" para a população no Sistema Único de Saúde (SUS). A atenção básica é um modelo adotado com sucesso por diversos países europeus, mas vem encontrando obstáculos para sua implementação satisfatória no Brasil. Médicos de família e comunidade de todo o país - profissionais cujo principal campo de trabalho é a atenção básica no SUS - ouvidos pela BBC Brasil apontaram questões como a precarização de Postos de Saúde da Família, os baixos salários e a falta de incentivos à qualificação dos profissionais como problemas-chave na rede pública. Confira a seguir as principais propostas dos candidatos sobre o tema, retiradas do material submetido por suas campanhas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE): Nas diretrizes de governo, único documento disponibilizado oficialmente pela campanha da presidente Dilma Rousseff, fala-se da expansão do programa Mais Médicos, que buscou complementar equipes de Saúde da Família em todo o país com profissionais brasileiros e estrangeiros. A campanha da presidente, no entanto, não esclarece como exatamente aconteceria esta expansão. Inicialmente, o programa teria validade de três anos, prorrogáveis por mais três. Em um trecho de discurso enviado à BBC Brasil pela coordenação da campanha de Dilma, no entanto, a presidente afirma que "essa iniciativa vai durar enquanto o povo brasileiro precisar dela. Não tem prazo de validade." Em seu site oficial, a presidente também anunciou o programa Mais Especialidades, que pretende agilizar o atendimento dos médicos especialistas e o acesso a exames de laboratório instalando, em todas as regiões do país, "uma rede de unidades especializadas integradas, com consultas de pediatria, ginecologia, ortopedia, cardiologia, oftalmologia, oncologia, entre outras áreas". A dificuldade de conseguir consultas e exames laboratoriais para todos os pacientes é, de fato, uma queixa comum a diversos médicos de família entrevistados pela BBC Brasil. As diretrizes de governo da presidente não mencionam um plano de carreira para profissionais da saúde no SUS. Outras propostas de Dilma Rousseff*: *Propostas retiradas das diretrizes de governo divulgadas pela campanha e de material enviado à BBC Brasil pela assessoria de imprensa do PT. Nas diretrizes de seu plano de governo, o candidato fala da criação do Programa Saúde da Família pelo PSDB e diz que os baixos salários da rede pública precisam ser "rediscutidos com urgência". Ele menciona a necessidade de um aumento de gastos federais com a saúde. Segundo o programa, também será criada uma rede de centrais de agendamento de consultas na atenção primária - um dos principais problemas apontados pelos médicos de família ouvidos pela BBC Brasil. Outras propostas de Aécio Neves: A candidata do PSB se refere ao Programa Saúde da Família como "chave para alcançar uma nova realidade" e diz que a atenção primária de saúde deve ser "universalizada". Em seu plano de governo estão previstas melhorias na gestão das equipes de saúde da família, modernização dos sistemas de informação utilizados no atendimento e aumento do percentual do orçamento da Saúde dedicado à atenção básica. Marina afirma ainda que irá implantar gradualmente, ao longo de quatro anos, uma proposta de projeto de lei de iniciativa popular de vincular 10% da Receita Corrente Bruta da União ao financiamento das ações de Saúde. Outras propostas de Marina Silva: | 2014-09-22 05:14:35 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140921_salasocial_eleicoes2014_saude_candidatos_cc.shtml |
brasil | Pesquisa divulgada na quinta-feira havia apontado alta da concentração de renda em 2013; governo diz ter ficado 'chocado'. | IBGE admite erro em Pnad e desigualdade cai | O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) admitiu nesta sexta-feira ter cometido erros nos cálculos da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2013, divulgada na quinta-feira (18). O equívoco gerou distorções de alguns dados, como a concentração de renda. Ao contrário de subir, como havia sido informado anteriormente, a desigualdade social no Brasil recuou entre 2012 e o ano passado. Os dados anteriores apontavam uma ligeira alta do índice de Gini ─ que mede a concentração de renda ─ no período. Ou seja, um aumento da desigualdade social no país. O índice de Gini vai de zero a um. Quando mais próximo de zero, melhor distribuída é a renda. De acordo com o novo levantamento apresentado pelo IBGE, o Gini do trabalho, que mede exclusivamente a distribuição dos rendimentos do trabalho, caiu de 0,496 para 0,495 (o que para o instituto significa estagnação) – antes, a Pnad registrava alta para 0,498. Já o Gini que considera todas as rendas recuou de 0,504 para 0,501 (anteriormente o índice apontava um aumento para 0,505). O avanço ainda que sutil da desigualdade, como revelavam os dados anteriores, foi objeto de cobertura extensiva da imprensa brasileira, inclusive da BBC Brasil, uma vez que a concentração de renda no país vinha caindo gradativamente desde 2001. Caso os dados originais estivessem corretos, 2013 teria sido, assim, o primeiro ano em que a trajetória de queda da desigualdade no país teria sido interrompida. Segundo o IBGE, os erros ocorreram em sete Estados: Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast "No processo de expansão da amostra da Pnad 2013, foi utilizada, equivocadamente, a projeção de população referente a todas as áreas metropolitanas em vez da projeção de população da Região Metropolitana na qual está inserida a capital", informou o órgão por meio de um comunicado. Por se tratar de uma pesquisa por amostragem, a Pnad usa, para determinados tipos de cálculo, a população da principal região metropolitana dos Estados. Nos sete Estados onde houve erro, entretanto, o IBGE admitiu ter usado informações de mais de uma região metropolitana. Em entrevista a jornalistas, a presidente do IBGE, Wasmália Bittar, pediu desculpas pelos erros. "A pesquisa continha erros extremamente graves. Cabe pedir desculpas a toda a sociedade brasileira", afirmou Bittar. Já o diretor de Pesquisas do órgão, Roberto Olinto, descartou qualquer interferência política na revisão dos dados. "Não há o menor indício de pressão. Nós encaramos o fato como um acidente estritamente técnico e que será investigado. O processo do trabalho será investigado. O IBGE está extremamente abalado por isso", afirmou. Olindo também afirmou que a recente greve dos funcionários do órgão não teve impacto no erro. O IBGE também alterou outros dados da pesquisa. O rendimento mensal do trabalho, por exemplo, foi reduzido de R$ 1.681 para R$ 1.651 (alta de 3,8% em relação a 2012, contra avanço inicial de 5,7%). A taxa de analfabetismo também foi corrigida e subiu de 8,3% para 8,5%. A pesquisa inicial mostrava que teria havido queda de 0,5 pontos porcentuais entre 2012 e 2013, de 8,7% para 8,3%. Já taxa de desemprego não sofreu alteração e ficou em 6,5% no ano passado. A taxa de desocupação também foi mantida, em 6,5%. Mas, diferentemente dos dados originais, o aumento da população desocupada foi menor: 6,3% contra os 7,2% divulgados anteriormente. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, afirmou que o governo ficou "chocado" com os erros e acrescentou que criará duas comissões para investigar o que aconteceu. A primeira será formada por especialistas independentes para averiguar a consistência da Pnad. Já a segunda "vai apurar as razões dos erros e as responsabilidades funcionais". "Lamento que isso tenha acontecido. Houve falta de cuidado num procedimento básico de checagem e rechecagem para quem faz trabalhos de estatística", afirmou Belchior. Belchior falou ainda do uso eleitoral da situação. "Em momentos eleitorais, qualquer coisa é usada politicamente". A ministra do Planejamento também rebateu críticas de que os erros poderiam ter sido causados por um ajuste fiscal ou redução do quadro de funcionários do órgão. "[O erro] é muito básico. Não tem a ver com o ajuste fiscal", disse. | 2014-09-20 00:04:34 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140919_ibge_erro_lgb.shtml |
brasil | Mães que perderam filhos em comunidades cariocas trocam experiências em associação; veja depoimentos. | Tragédia une mães de mortos por policiais: 'Eles acham que a gente não tem voz' | "Cheguei na hora. Vi direitinho. O policial da UPP já em posição de atirar. Foi quando puxei meu filho pela camiseta, no meio da gritaria. Ele (o policial) atirou, mas quem morreu foi o filho da minha amiga", conta Fátima dos Santos Pinho de Menezes, de 40 anos, ao lado amiga Ana Paula Gomes de Oliveira, de 37 anos, na comunidade de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ambas moradoras da mesma favela, as duas mal se conheciam antes da tragédia ocorrida no dia 14 de maio desse ano, quando o menino Johnatha de Oliveira Lima morreu, aos 19 anos, baleado durante uma confusão entre policiais de UPP armados e crianças e adolescentes que atiravam pedras neles. Agora, integram juntas o Fórum Social de Manguinhos, ONG local que advoga pelos direitos da comunidade, e têm comparecido a manifestações, marchas e reuniões de mães que perderam filhos em comunidades cariocas. Fátima já havia perdido um filho, Paulo Roberto Pinho de Menezes, no dia 17 de outubro de 2013. Aos 18 anos, o garoto foi espancado até a morte e depois asfixiado. Consultada pela BBC Brasil, a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro respondeu sobre os três casos e disse que o policial responsável pelo disparo na ocorrência que acabou tirando a vida de Johnatha foi indiciado pelo crime de homicídio culposo (sem intenção de matar), e que segue trabalhando na UPP de Manguinhos enquanto aguarda julgamento. Quanto ao caso de Paulo Roberto, cinco policiais da mesma UPP foram indiciados pelo crime de lesão corporal seguida de morte, e trabalham em outros batalhões enquanto aguardam julgamento. "Hoje em dia os jovens de comunidade têm que provar o tempo todo que são produtivos, que não estão envolvidos com nada. É uma pressão constante, e há muito desrespeito, há muita injustiça", diz Ana Paula Gomes de Oliveira. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Embora esteja distante, na Rocinha, favela da Zona Sul do Rio, no outro lado da cidade, Maria de Fátima dos Santos Silva, de 55 anos, tem muito em comum com as duas amigas. Ela também perdeu um filho, Hugo Leonardo dos Santos Silva, aos 32 anos, no dia 17 de abril de 2012, meses antes da instalação da UPP na comunidade. Embora seu caso seja mais antigo, somente há uma semana ela conseguiu falar publicamente sobre sua história. "Foi lá em Manguinhos, durante uma manifestação. Conheci a Ana Paula e a Fátima. Elas me deram muita força. Foi uma vitória, pegar o microfone e contar, diante de todo mundo, a minha história. É bom a gente ver que não está sozinha", diz. Sobre o caso, a Secretaria de Segurança Pública disse que a ocorrência foi registrada como homicídio decorrente de intervenção policial, que ocorreu antes da instalação da UPP da Rocinha, e que permanece sendo investigada. Integrantes de grupos como o Fórum Social de Manguinhos, Mães Vítimas de Violência e a Rede de Movimentos e Comunidades Contra a Violência, as três tornam-se, aos poucos, ativistas nas redes sociais e agora dão força umas às outras. As três mães contaram suas histórias de dor e perda à BBC Brasil para esta reportagem, parte de uma série especial sobre o tema da violência policial e contra policiais. Os temas foram sugeridos pelos leitores da BBC Brasil nas redes sociais para nossa cobertura do tema de segurança pública no contexto das eleições presidenciais, de acordo com a proposta do projeto da BBC Brasil #SalaSocial, que pretende usar as redes sociais como fonte de histórias originais. Duas netas de Maria de Fátima acompanharam com atenção a reportagem na Rocinha, sendo que Carolina era a mais falante. Em Manguinhos, Maria Paula e Alejandra corriam e brincavam enquanto as mães, respectivamente Ana Paula e Fátima, davam suas entrevistas. Todas com menos de dez anos, presenciaram a emoção, choro, saudade, revolta e esperança da avó e das mães ao falarem sobre seus filhos mortos de forma violenta. "Nós nos ajudamos, e queremos Justiça. Somos as vozes dos nossos filhos que se foram. Mas lutamos por elas também. Para que no futuro não seja uma delas conversando com um repórter. Para que tenham um futuro sem essa dor", diz Ana Paula. Veja abaixo os principais trechos dos três depoimentos: "Eles vinham atrás dele, era sempre ele. Queriam que ele dissesse coisas, mas ele não sabia de nada. Na primeira vez, bateram muito. Entraram na casa dele e espancaram. Na segunda, levaram para a delegacia, e ele foi liberado. Na terceira eles conseguiram, mataram meu filho", conta a diarista Maria de Fátima dos Santos Silva, de 55 anos, moradora do Beco 199, na Rocinha. Naquele dia 17 de abril de 2012, Hugo Leonardo dos Santos Silva descia as escadas de um beco estreito quando foi surpreendido por três PMs que ordenaram que ele levantasse as mãos. O rapaz de 32 anos estava em frente a uma creche, onde buscaria o sobrinho. Já com as mãos para o alto, andou na direção dos policiais, quando foi baleado no abdômen. "Uma das minhas filhas ouviu. Nessa hora, os policiais discutiram entre si e um disse: 'Olha a merda que você fez, agora termina'. Foi quando atiraram na cabeça do meu filho, que já estava caído no chão. E aí começou uma confusão para conseguir lençóis para levar para o hospital. Uma gritaria. Os moradores não queriam dar, mas eles ameaçaram e assim conseguiram desfazer a cena do crime. Ele já estava morto", diz Maria de Fátima. A polícia alegou que houve tiroteio e que Hugo seria traficante. "Ninguém ouviu mais do que aqueles dois tiros. E veja bem, a creche fica num beco muito estreito. Se tivesse havido tiroteio, muito mais gente teria morrido ali. Crianças, inclusive, do jeito que o lugar é apertado", diz a mãe. Consultada pela BBC Brasil, a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Janeiro informou que o caso foi registrado como homicídio decorrente de intervenção policial e que as investigações estão em andamento. Maria de Fátima nunca mais passou em frente à creche. "Não consigo", diz. Na sala de sua casa, no alto da favela da Rocinha, Maria de Fátima ainda chora quando relembra a história. "Eu tomei muito remédio para dormir, para os nervos. Nunca mais fui a mesma pessoa. Às vezes, estou ali cozinhando e ouvindo uma música e começo a chorar. É saudade", diz. De um lado, bijuterias, elásticos e materiais para confeccionar brincos e correntes. Do outro, o computador aberto em sua página do Facebook. Ela conta que, se não está fazendo faxina, faz artesanato e interage com outras mães nas redes sociais, para "ocupar a cabeça". Ao lado do computador, um objeto chama a atenção. Uma cruz de madeira. "Mandei fazer para participar de uma passeata na Candelária, relembrando a chacina (de oito jovens nas escadarias da igreja, em 1993)", conta. "Minha cruz eu carrego todo dia. A gente é pobre, preto, desempregado, favelado. Eles pensam que a gente não tem voz. O que mais tem aqui dentro é gente apanhando. Tapa na cara, humilhação. E morrendo também. Isso é pacificação? Mas eu estou falando pelo meu filho. Agora eu sou a voz dele", diz. Para a diarista, o que importa é limpar o nome de Hugo. "Ele não era traficante, era trabalhador. Aqui tenho a carteira de trabalho, os holerites, tudo aqui na pastinha, você quer ver? Ah, e o que eu quero? Justiça. Eu quero Justiça. Alguém tem que fazer alguma coisa. Pouco depois dele mataram o Amarildo, que todo mundo aqui conhecia. Não pode ser assim para sempre, não pode", diz. "Eram umas quatro horas da tarde do dia 14 de maio deste ano, e eu tinha acabado de fazer um pavê. Pedi ao Johnatha para levar para a minha mãe, que mora aqui em Manguinhos também. Bati uma foto dele com o pavê na mão e mandei para a minha mãe por WhatsApp", conta Ana Paula Gomes de Oliveira, de 37 anos, formada em pedagogia. "Olha, é assim que está saindo daqui. Inteirinho", dizia a mensagem. "Mãe, tu é demais, não acredito que você está fazendo isso", o garoto respondeu bem-humorado, antes de dar um beijo em Ana Paula e sair com a namorada. "Como eu ia imaginar que aquele seria meu último momento com ele?", diz a mãe de Johnatha de Oliveira Lima, que morreu duas horas depois, aos 19 anos. Ana Paula foi ao supermercado, e escolhia o refrigerante que o filho gostava. "Ele era a alegria da casa. Carinhoso comigo, com todo mundo. Sorridente, alegre", conta. Na volta da casa da avó, Johnatha acabou entrando numa parte da favela onde acontecia uma confusão entre crianças e adolescentes. "É comum isso aqui. As crianças e jovens ficam na rua conversando, e por uma palavra atravessada, por alguma troca de ofensas, a polícia é agressiva", conta Ana Paula. Quem testemunhou a cena foi Fátima dos Santos Pinho de Menezes, de 40 anos, que foi avisada por vizinhos de que uma confusão se formava ali por perto e a situação já era tensa. "Eu fui lá ver, e o lugar é bem perto da minha casa mesmo. As crianças e adolescentes começaram a jogar pedras nos policiais, que estavam com os fuzis em punho. Eu cheguei na hora. Vi direitinho. O policial da UPP já em posição de atirar. Foi quando puxei meu filho pela camiseta, no meio da gritaria. O policial atirou, e quem morreu foi o filho da Ana Paula, minha amiga", conta. No outro lado da comunidade, ainda no supermercado, Ana Paula ouviu tiros e comentou com a caixa enquanto pagava as compras. Não tinha ideia de que os disparos que ela ouvia eram os que matavam seu filho enquanto ela comprava o refrigerante favorito do menino e se preocupava como o pavê teria chegado ao destino. "É muito injusto. É muito triste. Até quando vai ser assim? Eles me tiraram um pedaço. Dói tanto, tanto, que só mesmo outra mãe pode entender. Eu perdi esse pedacinho de mim, mas meu marido e minha filha também me perderam, porque eu nunca mais vou ser a mesma pessoa que eu era", diz. Consultada pela BBC Brasil, a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro informou que o policial responsável pelo disparo foi indiciado pelo crime de homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e que ele segue lotado na UPP de Manguinhos enquanto o julgamento tramita na Justiça. "Você quer saber o que dói também? Ver os policiais rindo e gozando da nossa cara do lado de fora da igreja em que acontecia a missa de sétimo dia do meu filho. Parentes se irritaram, mas eu pedi para deixarem, porque eu não queria mais confusão. É muito humilhante, é um desrespeito muito grande", diz Ana Paula. "Dói demais lembrar. Dói demais. Eu cheguei correndo, e eles não queriam me deixar passar. Minha filha ficou, mas eu passei por baixo das pernas do policial. Meu menino estava no chão, deitado, e eu acho que ele só estava esperando por mim. Era aquela gritaria, tudo ao mesmo tempo, e ele deu o último suspiro e morreu, nos meus braços." Foi assim que há quase um ano, em 17 de outubro de 2013, Fátima dos Santos Pinho de Menezes, então com 39 anos, se despedia do filho Paulo Roberto Pinho de Menezes, de 18 anos. Ela demora a contar sua história. Com um olhar distante, sereno, dá força para a amiga Ana Paula durante a entrevista, e comenta a situação de violência em geral na favela de Manguinhos, na Zona Norte do Rio, pacificada em janeiro do ano passado. "Sabe, a gente achou que quando eles [os policiais de UPP] chegassem, viria a paz, a segurança, a tranquilidade que a gente quis durante todos esses anos. Mas é humilhação, pancadaria, e morte, morte e mais morte. Eles estão matando com fuzil as crianças que jogam pedras. Não podemos deixar", argumenta. Basta começar a contar o que aconteceu naquela noite, no entanto, para a fisionomia de Fátima mudar. O olhar distante e sereno dá lugar ao choro, gestos rápidos e um olhar que parece traduzir uma fração do desespero sentido ao presenciar o último suspiro do filho espancado até a morte. "Eu fui avisada da confusão na favela. Fiquei com medo, e fui procurar o Paulo Roberto. Eles tinham marcação com ele. Era sempre ele que era abordado, revistado. Eles faziam perguntas, encrencavam. Eu sabia disso, então fiquei muito preocupada", conta. Quando foi se aproximando do local, amigos do menino já vinham gritando: "Eles vão matar ele, tia, eles vão matar ele. Eles estão batendo muito nele, vão matar". "Ele vinha de um barzinho, e ia dormir na casa de um amigo. É a única diversão que eles têm, ficar conversando nesse barzinho até tarde. Eu tinha medo, mas adianta proibir? Os policiais da UPP estavam fazendo abordagem num beco, e quando ele foi passar, houve confusão e começaram a bater nele. Bateram até ele quase morrer, depois asfixiaram", diz Fátima. Ela conta que os policiais quiseram argumentar que ele estava drogado e que tinha tido um mal súbito, embora na certidão de óbito a causa da morte seja clara: "Múltiplas lesões e asfixia mecânica". "Os exames da perícia mostraram que ele não tinha droga no organismo, e no dia seguinte, no caixão, dava para ver os hematomas. O rosto dele todo arranhado, cheio de marca roxa", diz a mãe, acrescentando que no seu caso também teve que enfrentar as piadas e gozações dos policiais do lado de fora da Unidade de Pronto Atendimento para onde o menino foi levado. Consultada pela BBC Brasil, a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro confirmou que os cinco policiais da UPP de Manguinhos foram indiciados pelo crime de lesão corporal seguida de morte e que estão lotados em diferentes batalhões da Polícia Militar enquanto aguardam julgamento. "Eu sei que não vai trazer ele de volta. Mas hoje faz quase um ano, 11 meses que ele se foi. E eu estou aqui, falando dele para você. Eu prometi isso pra ele. Ele foi, mas eu fiquei, e eu posso ser a voz do meu filho aqui, até que se faça Justiça, e que outras mães não passem mais por isso. Ninguém deveria passar por isso. Dói demais", diz Fátima. | 2014-09-19 11:28:30 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140919_depoimentos_maes_vitimas_salasocial_eleicoes2014_rw.shtml |
brasil | Para Ignacio Cano, professor do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da UERJ, desmilitarização é importante, mas não é panaceia para a segurança. | Truculência e barbárie não são soluções para a segurança, diz sociólogo | No Brasil há mais de 15 anos, o sociólogo espanhol Ignacio Cano, professor do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), é um dos principais nomes do país em questões relativas à segurança pública. Ao lado de outros 12 especialistas de diferentes partes do Brasil, ele assinou um documento entregue aos candidatos à Presidência da República pedindo uma agenda mínima de medidas importantes com a meta de reduzir o número de homicídios no país, como a reforma do modelo policial, a revisão da política criminal e penitenciária e a reformulação da política de drogas. Em entrevista à BBC Brasil, Cano comentou alguns dos principais assuntos em debate na segurança pública atualmente, como a desmilitarização da polícia, a violência policial e as mortes de agentes da lei, e a crise nas UPPs do Rio de Janeiro, cidade que, segundo ele, vive um "ciclo negativo" na segurança há no mínimo dois anos. Durante a conversa, o sociólogo comentou a alta cifra de homicídios no Brasil. Em 2012, no número mais recente divulgado pelo SUS, foram registrados 56.337 homicídios, sendo 40.077, ou seja, 71% do total, com armas de fogo. O número é o mais alto da história do país. Confira os principais trechos da entrevista: BBC Brasil – Que medidas um novo governo poderia tomar para tentar impactar de forma positiva a segurança no Brasil a curto prazo? Ignacio Cano – Acho que dois pontos são essenciais. O primeiro, um plano nacional de redução de homicídios, ou seja, determinar que a meta central da segurança pública no país seja a redução do número de homicídios, e o segundo, uma melhora das investigações para que a gente consiga reduzir as taxas de impunidade. Esses dois pontos teriam que ser abordados a curto prazo. A médio e longo prazo nós temos que melhorar a inserção dos jovens nas periferias e controlar a difusão de armamentos. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast BBC Brasil – Uma pesquisa da FGV e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de julho deste ano mostrou que de 21.101 policiais ouvidos, 73,7% são a favor da desmilitarização da polícia. O tema divide opiniões no país e há setores que apoiam e outros que rejeitam a proposta que foi uma das demandas recorrentes nos protestos de junho do ano passado. O senhor é a favor? Na sua opinião, trata-se de algo realista? Ignacio Cano - Até o ano passado não era muito realista, mas com as manifestações de junho, se abriu de novo o debate, e apareceu como uma medida possível. Tudo depende da mobilização popular. Pela inércia institucional não acontecerá. A desmilitarização seria uma medida positiva, e mais um meio do que um fim. Ajudaria a recolocar em pauta a busca pelo melhor modelo policial para o Brasil e a construir também um modelo que seja de proteção e não de guerra ao inimigo. A desmilitarização aceleraria o processo, mas não garantiria que no dia seguinte que as polícias agissem de forma diferente. Precisaria mudar o treinamento, a cultura. É preciso também educar a sociedade de que a truculência não é a solução. É um processo lento, e a desmilitarização seria um elemento importante, mas não uma panaceia para resolver todos os problemas de segurança do Brasil. BBC Brasil – Quando se discute violência policial, a maioria dos argumentos são de condenação a abusos e excessos. Mas em 2008, uma pesquisa da Secretaria Nacional de Direitos Humanos apurou que 43% dos brasileiros concordam com a frase "bandido bom é bandido morto". Até que ponto a sociedade apóia a violência policial? Ignacio Cano – No debate sobre violência policial, muita gente só fica indignada se essa violência for dirigida a pessoas supostamente inocentes. Mas quando ela atinge pessoas vistas como culpadas, criminosas, um setor da população apóia, e trata-se de um setor importante. Veja essa pesquisa. Quarenta e três por cento das pessoas concordam com essa frase. A gente tem que entender que o problema da violência policial não é um problema apenas das polícias e das instituições, é um problema da sociedade como um todo. Isso não significa, claro, que a polícia possa fazer isso só porque um setor apóia. A polícia não pode fazer porque é contra a lei. Nós precisamos cobrar a polícia, por um lado, para que ela cumpra a lei e modifique seu treinamento e doutrina, mas também precisamos educar a sociedade, para que perceba que a barbárie nunca vai resolver nosso problema de segurança. BBC Brasil – Há países em que a polícia tende a ser mais respeitada do que no Brasil, onde muitos temem os agentes da lei. É possível vislumbrar um cenário de maior harmonia e respeito entre a polícia e a sociedade no Brasil? Ignacio Cano – É preciso lembrar que alguns países da Europa que hoje são modelo de desenvolvimento social e de segurança também foram muito violentos um século atrás. Não há uma condenação natural a uma situação de insegurança no Brasil. Mas vivemos na América Latina, que é a região mais violenta do mundo, e somos um continente muito desigual, então há vários fatores que nos limitam, mas nada que a gente não possa mudar. Temos que traçar os mesmos objetivos desses países que eram muito violentos e que hoje têm uma polícia apoiada pela população e baixos níveis de violência. Se o Brasil quer ser um país desenvolvido, não basta aumentar o PIB. É preciso que as pessoas não sejam mortas por intervenções policiais, é preciso que nós não tenhamos o nível de impunidade que temos hoje. BBC Brasil – Um maior controle de armas e munições poderia reduzir o alto número de homicídios no país? Controlar o uso de armamentos e munições dos policiais também poderia ajudar? Ignacio Cano – Houve um esforço na década passada, apesar da derrota no referendo do desarmamento. As armas deveriam estar exclusivamente nas mãos dos profissionais de segurança pública. Os particulares não deveriam ter acesso a armas de fogo, salvo alguma exceção muito bem justificada. Na medida em que a gente caminhar neste sentido, seremos uma sociedade mais segura. Quanto aos policiais, hoje em dia há somente um controle administrativo. O policial muitas vezes preenche um relatório para receber mais munição, mas não para explicar como ele usou essa munição. Isso tem que mudar, a gente tem que justificar cada bala. Isso ajudará a restringir o uso do armamento e da força letal. É imperativo que o governo federal faça um esforço para que haja um controle maior sobre as armas de fogo, incluindo o desvio de armas para os criminosos. BBC Brasil – Desde que as UPPs começaram a ser instaladas no Rio de Janeiro, em 2008, os números de pessoas mortas pela polícia, assim como os de policiais assassinados, caíram consideravelmente. No primeiro semestre de 2014, no entanto, foram maiores do que no mesmo período de 2013. O que isso indica? Ignacio Cano – Nós estamos hoje em dia num ciclo negativo da segurança. Depois de vários anos de diminuição dos homicídios e dos roubos, nós estamos há dois anos pelo menos num ciclo negativo. Nesse cenário era esperado que aumentassem os mortos pela polícia e também os policiais mortos. Sem dúvida nenhuma preocupa, porque isso é um presságio de um aumento na violência de forma geral. Se disparam as mortes pela polícia e mortes de policiais, provavelmente todos os índices vão continuar numa tendência negativa, porque essas mortes estão simbolizando esse velho modelo de guerra ao crime, que tem sido tão deletério para o Rio de Janeiro e o Brasil em geral. Mais mortes pela polícia significam mais policiais que vão ser mortos fora de serviço, e por consequência seus colegas vão matar mais. É um ciclo vicioso que só prejudica a sociedade. | 2014-09-19 08:34:41 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140919_entrevista_ignacio_cano_jeff_salasocial_eleicoes2014_rw.shtml |
brasil | Fotos e vídeos de 'vinganças contra bandidos' e mortes violentas em ações policiais e militares são populares nas redes sociais. | 'Morte sem pena': Perfis nas redes fazem apologia à violência policial | "Recado à bandidagem: não matem PMs, não vale a pena - o risco de ir pro inferno mais cedo é muito grande." A frase, publicada numa página com mais de 10 mil seguidores no Facebook, serve de legenda para imagens sangrentas de supostos "assassinos de PMs" que teriam sido baleados na barriga e no rosto pela polícia. Mais de 400 pessoas curtiram. Quase 100 compartilharam com mensagens de apoio. Não se trata de um caso isolado. Perfis que compartilham fotos e vídeos de "vinganças contra bandidos", linchamentos públicos e mortes violentas em ações policiais e de membros do Exército são populares entre os brasileiros no Facebook. Levantamento da reportagem da BBC Brasil encontrou pelo menos 15 exemplos - juntas, as páginas são seguidas por mais de meio milhão de pessoas. Em comum, elas defendem práticas de tortura, pena de morte e criticam defensores de direitos humanos. "Pena de morte pra marginal é pouco, tem que matar sem pena!", diz uma das páginas."Bandido bom é bandido morto" é a resposta padrão para quem tenta defender tratamento mais humano a criminosos. A Polícia Militar de São Paulo, uma das principais citadas nas páginas de apologia à violência, comentou as menções à corporação em nota enviada à BBC Brasil. "A PM repudia qualquer forma de violência, bem como de incitação a ela", diz o texto. As PMs do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, também citadas nos vídeos, não responderam aos pedidos de entrevista até a publicação desta reportagem. Procurado pela BBC Brasil, o Exército Brasileiro se limitou a dizer que as páginas citadas não são oficiais. Segundo as Forças Armadas, é proibida a divulgação de conteúdo relacionado à rotina de trabalho militares "que possam comprometer sua segurança e a imagem do Exército". Os donos das páginas não se pronunciaram. Já o Facebook disse, em nota, que "usuários não podem publicar ameaças reais a outras pessoas ou organizar atos reais de violência" e que "poderemos comunicar às autoridades locais se notarmos o risco real de lesões físicas ou uma ameaça direta à segurança pública" "Homens de preto, o que que 'vocês faz' [sic]? / Eu faço coisas que até assusta [sic] o Satanás! / Homens de preto, qual é sua missão? / Entra [sic] na favela e deixar corpo no chão." Versos como estes, supostamente cantados como gritos de guerra das corporações, são publicados junto a fotos de policiais em favelas do Rio de Janeiro. Boa parte dos conteúdos mostra ações de dentro das viaturas, delegacias ou durante operações em becos e comunidades na periferia. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Caso do vídeo em que supostos policiais obrigam um jovem suspeito de ser traficante a lixar a perna até apagar uma tatuagem que faria menção ao tráfico. Com uma arma apontada para o pé, ele esfrega a perna até sangrar. Noutro filme, dois supostos traficantes são obrigados a se beijarem na boca. "Língua com língua", obriga o oficial. Imagens de abordagens agressivas de oficiais do exército em comunidades ocupadas pelas forças armadas também são comuns. As fotos de pessoas baleadas são as mais populares. Quanto mais sangrentas, mais curtidas. A reportagem questionou a polícia: o vazamento de vídeos e fotos de operações é permitido? "É importante ressaltar que a maioria das páginas ou perfis é criada de maneira anônima, por supostos 'admiradores'", diz a PM de São Paulo. "Evidentemente, sem a anuência da Polícia Militar, não havendo assim nenhum vínculo com a Instituição." A corporação diz recomendar que os agentes da lei usem as redes sociais "com prudência". "O Comando da Polícia Militar sempre recomenda aos seus integrantes o uso das redes sociais com prudência", diz a corporação. "Caso, eventualmente, seja identificado algum policial militar responsável por página na internet ou perfil em rede social estimulando a violência, ele está sujeito a punições administrativas rigorosas e também na esfera penal." Para o jornalista Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos de Violência da USP, essas páginas multiplicam uma visão histórica de "violência como entretenimento". "Isso não é novo. Na Idade Média tinha gente sendo esquartejada em praça pública. Era como um programa de domingo num ambiente anterior à justiça moderna, as pessoas levavam as crianças para assistir." O pesquisador compara a popularidade da violência nas redes sociais com programas policiais populares da televisão. "Numa sociedade em que prevalecem medo, insegurança e vulnerabilidade, essas imagens criam bodes expiatórios que fazem o cidadão 'se sentir vingado'. Elas supostamente têm aspecto pedagógico, porque mostrariam o que acontece com quem transgride", diz. "Isso traz audiência." No caso, audiência não significa qualidade. "Há uma sensação de que exterminar esses 'vilões' e fazê-los apodrecer na cadeia vai diminuir o problema. Essa falta de reflexão turva a visão das pessoas. É um pensamento meio óbvio - quanto mais bandidos, mais insegura é a sociedade", afirma Paes Manso. "Dizer que 'quanto mais criminosos morrem, mais seguros estamos' é um raciocínio raso. As instituições não conseguem resolver o problema da segurança há mais de 30 anos. Exterminar suspeitos não deixa o mundo mais seguro, ao contrário." Sobre o envolvimento direto de policiais e militares nas postagens, Paes Manso é direto: "Nem os policiais confiam na justiça. Eles próprios defendem a segurança privada". Uma das justificativas seria a fragmentação das forças policiais no Brasil. "Há duas polícias aqui: a civil, para investigar, e a militar, para patrulhar. A PM prende o suspeito, o leva para a Civil e não sabe mais o que vai acontecer com ele", explica. "Passar o suspeito para outra corporação e não saber o que acontece depois traz uma vontade de fazer justiça pelas próprias mãos. Isso cria grupos que defendem o extermínio de forma privada, como se isso fosse um atalho para se fazer justiça", avalia o pesquisador. Ao mesmo tempo em que publicam imagens de extrema violência e supostos atos de "vingança", as páginas também trabalham para mostrar um "lado humano" dos agentes de segurança. Os exemplos mais comuns são fotografias de policiais carregando crianças e bebês no colo ou ajudando idosos a, por exemplo, atravessar as ruas. Junto às fotos, os perfis publicam textos que criticam a imagem que seria criada por ONGs e movimentos de direitos humanos sobre os fardados. "Enquanto ongueiro defende vagabundo a gente faz nosso trabalho, graças a Deus", diz uma das imagens. Também são populares fotografias e registros de policiais mortos em confronto. "Soldado... Teu corpo serviu com alma e coração. Fez-te escudo para o próximo! Portanto, anda em paz pelo Paraíso. O inferno já foi tua missão!", diz a legenda de outra. | 2014-09-17 22:49:40 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140917_salasocial_eleicoes2014_violencia_rs.shtml |
brasil | Segundo pesquisa, os 1% mais ricos continuam a ganhar cem vezes mais do que 10% mais pobres; governo contesta que desigualdade parou de cair. | IBGE: redução da desigualdade no Brasil estaciona nos níveis de 2011 | Após anos de queda lenta porém constante, os índices de desigualdade no Brasil estacionaram no mesmo patamar nos últimos três anos e, no ano passado, apresentaram a primeira piora em mais de uma década, aponta o IBGE. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2013, o chamado Índice Gini, que varia de 0 a 1, piorou de 0,496 em 2012 para a 0,498 em 2013, o primeiro aumento desde pelo menos 2001. O Gini é usado no mundo todo para medir a desigualdade e aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. De acordo com a gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Maria Lúcia Vieira, a variação é muito pequena para afirmar que a concentração de renda aumentou no Brasil, mas indica a interrupção de uma tendência de queda constante. "Vínhamos observando quedas importantes ano a ano, mas não vemos movimentação nos índices agora. Diria que estamos na mesma condição de 2011", diz Vieira, uma das responsáveis pela PNAD. Divulgada nesta quinta-feira, a pesquisa anual do IBGE indica avanços em diversas áreas, como escolaridade e infraestrutura nos domicílios (ver quadro abaixo), e mostra que a renda média continua subindo no país. De 2012 para 2013, este rendimento teve aumento real de 5,7%, passando para R$ 1.681 por trabalhador. Porém, a renda média aumentou mais no topo da pirâmide (6,4%) do que na base (3,5%), não contribuindo para diminuir a desigualdade. O contingente de 1% dos brasileiros mais ricos ainda ganha quase cem vezes mais que os 10% mais pobres. A renda média é de R$ 235 por mês entre os 8,6 milhões de trabalhadores mais pobres, contra R$ 20.312 entre os 864 mil no topo da pirâmide. "Para o índice melhorar (Gini), as pessoas com rendimento mais baixo precisariam ter aumentos superiores aos das populações mais ricas. Não é o que estamos observando", diz Vieira. Professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), José Eustáquio Diniz Alves diz que essa interrupção vem na esteira do baixo crescimento da economia e do PIB – que afeta diretamente o reajuste do salário mínimo, indexado à inflação e ao PIB de dois anos antes. Para ele, os benefícios gerados por programas sociais como o Bolsa Família propiciaram um período de queda na concentração de renda, mas esse efeito pode ter chegado agora a um limite. "Os programas sociais já tiveram esse efeito de reduzir a pobreza e não geraram ganho significativo nos últimos anos", avalia o demógrafo. Os índices de desigualdade no Brasil cresceram de forma contínua a partir dos anos 1960, com uma piora expressiva durante o período da ditadura militar. A economista Sônia Rocha, pesquisadora do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade (IETS), explica que o agravamento da desigualdade ocorreu sob conjunturas bastante diferentes, tanto durante os anos de forte crescimento do "milagre econômico", na década de 70, quanto nos anos 1980, um período de inflação alta e baixo crescimento. A tendência de queda sustentada começa em meados dos anos 1990, lembra a economista, e foi consistente em fases macroeconômicas distintas, tanto durante o governo Fernando Henrique Cardoso quanto nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva. "Na primeira fase, quando o rendimento caía, os pobres perdiam menos, ou não perdiam, se ganhassem algo em torno de um salário mínimo. Na segunda, quando todos os rendimentos aumentaram, a renda daqueles na base de distribuição subiu muito mais que a do extremo superior”, diz Rocha, especialista em estudos sobre a evolução da pobreza. Para ela, no entanto, o processo de redução de desigualdade está se esgotando, e o principal entrave é o funcionamento inadequado do sistema educacional. "A desigualdade educacional – antes mais relacionada aos anos de estudo, mas que agora está cada vez mais à qualidade da educação – está na raiz da desigualdade de renda." Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Na coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira em Brasília para comentar os dados da PNAD, representantes do governo contestaram a ideia de que a desigualdade parou de cair. O economista Marcelo Neri, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), afirmou que os dados deste ano da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) indicam que essa queda continua mês a mês. “A parada na queda da desigualdade não veio para ficar. A PME tipicamente antecipa os dados da PNAD, e temos indicadores de 2014 que apontam para a continuidade da redução da desigualdade”, afirmou. Neri disse que a expansão do Brasil Sem Miséria (programa do governo para combater a extrema pobreza), o aumento da escolaridade e a redução do analfabetismo contribuiriam para continuar reduzindo a desigualdade nos próximos anos, e que é difícil uma série em queda há 11 anos não ter flutuações. Ao ser questionado por que, em 2013, a renda entre os ricos tinha crescido mais que a renda entre os pobres, Neri disse que 2012 foi o ano em que a renda dos 5% mais pobres mais cresceu (20,1%). “Foi um ano excepcional, e você não colhe vários anos excepcionais.” Ele destacou o aumento de renda no país como um todo como “a melhor notícia” da PNAD e afirmou que pesquisa indica uma melhora qualitativa no mercado de trabalho, com mais trabalhadores com carteira assinada, portanto, maior acesso à proteção social e trabalhista. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, lembrou que o Banco Mundial usa outros critérios além da renda para medir a desigualdade e argumentou que esses indicadores devem ser considerados. “Não podemos nos prender a um debate exclusivo sobre a renda”, afirmou. “Se olharmos para a desigualdade como o acesso a um conjunto de bens e direitos, e não só de renda, ela está caindo. O acesso à escolaridade, à agua, à energia elétrica e à saúde tem melhorado de forma expressiva.” Para a ministra, melhorias em saúde, educação e outros investimentos que vêm sendo feitos futuro “vão garantir que o Brasil continue nessa trajetória de redução de desigualdade”. | 2014-09-18 13:53:52 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140918_desigualdade_ibge_brasil_pnad_rb.shtml |
brasil | Em relato à BBC Brasil, policial militar fala sobre preconceito sofrido por PMs, perseguições dentro da corporação e sua decisão de deixar a polícia. | 'Na faculdade, deixei minha profissão camuflada; somos discriminados', diz PM | Orgulho e decepção são dois sentimentos que se misturam quando o policial X fala sobre sua experiência na Polícia Militar do Estado de São Paulo. Em depoimento à BBC Brasil, o policial (que não será identificado para evitar represálias) fala sobre a satisfação em poder ajudar a população em seu trabalho diário e lamenta o preconceito que é dirigido aos agentes da lei em algumas situações. Crítico ao caráter militar da polícia, ele relata situações de perseguição dentro da corporação, fala sobre a necessidade de reformas e confessa ter decidido deixar a PM. Leia o relato concedido ao repórter Luis Kawaguti, da BBC Brasil. "Eu entrei na PM mais por vocação, por gostar da profissão. Eu admirava o trabalho dos policiais militares, a maneira como eles se comportavam com o cidadão, pelo menos isso foi na época em que eu entrei, há mais de dez anos. Eu via o policial como autoridade, um funcionário da lei que poderia mudar um pouco a situação do Estado de São Paulo. Mas na escola de soldados eu já tive aquela decepção com a profissão. Você entra e acredita que vai aprender todas as atividades de policial. Claro, a gente têm aulas de Direito, de procedimentos, mas eles te mandam fazer coisas diversas da profissão como carpir mato, ser pedreiro, lixar, pintar parede, coisa que não faz parte da segurança pública. Fora a pressão interna. Se você chegasse um dia com a bota mal engraxada os comandantes deixavam a gente preso no final de semana. Eles obrigavam a gente a limpar um alojamento enorme em vez de contratar uma empresa especializada. Uma vez eu entrei para pegar algo no meu armário e um tenente me viu com botas. Falou que o chão estava limpo e eu estava sujando, por isso me deixou preso no final de semana. Na minha primeira ocorrência, até considero que agi errado. Guardas civis foram apreender a mercadoria de um vendedor de água e lanches em frente a uma faculdade porque ele não tinha alvará. Estava ele e a filha dele. Ela tinha uns 10 anos de idade e veio correndo e abraçou a minha perna falando: "Salva o meu pai, salva o meu pai, eles vão apreender a mercadoria dele e é a única coisa que a gente tem para trabalhar". Aí eu conversei com os guardas e eles não apreenderam a mercadoria. Isso me marcou. Eu gostava de atender casos de roubo a banco. Às vezes não conseguíamos prender os bandidos, mas podíamos conversar com as vitimas, tranquilizá-las, depois levar para a autoridade policial. Eu me sentia bem, gostava de ajudar as pessoas. A função da polícia militar não é ruim não. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Em festa de amigos ou de parentes, quando o policial militar chega e alguém fica sabendo logo começa aquela conversa numa roda. Você vai bater um papo para descontrair e eles começam a contar casos policiais, como: 'O policial militar me parou nessa semana e o veículo estava com o licenciamento vencido e o policial solicitou dinheiro para mim. Nossa, o policial é corrupto'. Aí eu falo: 'Espere aí! Nem todos os policiais militares são corruptos. Eu não sou, trabalho com vários policiais que não são, esse foi um caso isolado que o policial pediu dinheiro para você, mas nem toda a polícia é corrupta'. Eu defendo o policial militar porque eu convivo com ele e eu acredito que a maioria é honesta, a maioria quer trabalhar, cumprir com seu dever e voltar no outro dia para casa. Eu ficava chateado porque era uma afronta ao fato de eu ser policial e por saber que eu sou honesto e os meus amigos também. Não ficava chateado por falarem mal da instituição, mas por generalizarem o policial militar como desonesto. Ele não é desonesto nem violento, salvo exceções. Na faculdade de Direito, eu procurei deixar camuflada a minha profissão. O policial tem receio, nós somos discriminados. Se eu chegasse na faculdade e me apresentasse como policial militar o tratamento seria outro. Seria entrar naquele debate sobre o policial honesto, todo mundo ia querer contar aquela história sobre o que o policial fez. Eu me preservei por causa disso, quis ser normal na faculdade. No final do curso eu fui falar que era policial e o pessoal falou: 'Nossa, não acredito! Não tem nada a ver você de policial militar'. Eu não sei qual era a analogia. Não sei se é pelo fato de eu estar em uma faculdade estudando, almejando crescer . (Me disseram que) 'o policial militar não tem essa vontade de crescer, ele não tem cultura, não tem estudo'. Mas eu não questionei porque já era o final do curso. Já no curso da pós-graduação em Direito Penal e Processo Penal tinha quatro delegados na minha sala, o resto eram advogados. Quando me apresentei como PM senti um certo afastamento. Eu sentava no fundo da sala e quando me apresentei todo mundo olhou para trás e disseram: 'Nossa, um policial militar aqui na sala!' Hoje a população pensa de maneira errada que o policial militar não tem cultura, não tem estudo, não tem nem o segundo grau, não sabe ler ou escrever. Simplesmente a população acha que ele passou em frente do setor de seleção da PM e foi arrastado para dentro. Mas não, é um concurso muito difícil de entrar e o PM tem que ter muito conhecimento. Antigamente tinha aquela musiquinha: 'É, é , é não estudou virou gambé (gíria para policial em algumas regiões do Brasil)'. Hoje não, para ser 'gambé' tem que estudar, para ser policial tem que estudar muito. O homem com conhecimento pode exercer profissão bem melhor, o policial com conhecimento de Direito vai exercer sua profissão muito melhor. Eu conseguia trabalhar e agir sempre de uma maneira legalista, mas eu fui desanimando por causa de perseguição interna. Exemplo clássico: o policial está dirigindo a viatura e se vier a bater, pronto! De duas uma: vai ficar preso ou vai pagar a viatura e ser perseguido. Como fiz Direito, já defendi muito policial militar em processo administrativo. Mas eu ia vendo que as decisões do comandante eram tendenciosas e isso ia me desanimando. Hierarquia há em todos os órgãos públicos, mas a hierarquia militar, por ter regulamento próprio, é pior. Se você chegar atrasado – o trem pode atrasar, o ônibus pode quebrar - você já responde processo. Eu tomei providências em relação ao meu oficial, que era um tenente. Ele não aceitou o fato de que um soldado poderia abrir um processo contra ele. Ele quis utilizar um armamento que não poderia usar por norma do comandante. Eu fiz um documento comunicando isso a um superior dele e acabei transferido de companhia. Esse é um tipo de punição na Polícia Militar que não tem no regulamento, que é a transferência, mudança de escala, é uma punição velada. O PM é obrigado a melhorar o salário fazendo o famoso bico. Um comandante que quer perseguir vai botar o policial para trabalhar no dia do bico, puxar escala extra e aí ele perde o dinheirinho extra do bico. Eu respondi a dois processos administrativos. Hoje quero sair da PM. Não tenho mais aquele brilho no olhar para a polícia, não gosto mais da profissão. Não quero mais fazer um serviço desses para sofrer perseguições, o militarismo desanima a gente. A PM é a única instituição em que você vai trabalhar e pode ser preso, ser morto ou responder a um processo. A Polícia Militar hoje é uma instituição secular. Felizmente, bem ou mal, é a única polícia que consegue segurar a criminalidade no país, mas tem que passar por muitas reformas. Mas eu não vou ficar para ver, se Deus quiser, vou sair em breve." (Procurada pela reportagem da BBC Brasil, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo afirmou que não se pronunciaria sobre o relato do policial. Já a Polícia Militar do Estado de São Paulo não havia enviado seu posicionamento até a publicação desta reportagem) | 2014-09-17 16:29:41 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140917_depoimento_pm_kawa_salasocial_eleicoes2014_rw.shtml |
brasil | Testemunhas com medo, cenas de crime alteradas e armas 'frias' dificultam a apuração de homicídios cometidos por agentes da lei. | Por que é tão difícil investigar abusos por policiais? Conheça 5 razões | Investigar e punir policiais que cometem crimes é um dos maiores desafios dos órgãos de segurança pública brasileiros, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil. Entre as maiores dificuldades envolvidas no processo estão enfrentar o corporativismo das polícias e convencer testemunhas a vencer o medo e prestar depoimentos contra agentes da lei responsáveis por crimes. "Investigar abusos e crimes cometidos por policiais é difícil porque predomina a cultura de autoproteção e imunidade quanto a esses crimes", diz Átila Roque diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil. Por todo o país, são relativamente comuns os casos em que policiais são flagrados recebendo propina, envolvidos em roubos e até atuando como "seguranças" de criminosos. Porém, o crime que mais preocupa organizações de defesa de direitos humanos e os policiais encarregados de investigar os próprios colegas são os assassinatos cometidos por policiais. Segundo Roque, embora haja alguns casos de órgãos corregedores competentes e atuantes, o controle da violência policial ainda é uma realidade distante no Brasil. "Como fazer isso em um país onde não se sabe nem ao certo quantas pessoas são mortas por policiais por ano?". A BBC Brasil conversou com policiais envolvidos na investigação de crimes cometidos por policiais. Sem se identificar (para não sofrer represálias de seus superiores) eles apontaram cinco fatores que tornam mais difícil a obtenção de provas e o esclarecimento de crimes cometidos por agentes da lei. Uma das tarefas mais difíceis na investigação de homicídios cometidos por policiais é encontrar testemunhas dispostas a se apresentar às autoridades. Especialmente em regiões mais periféricas, pessoas que testemunharam abusos de policiais temem ser assassinadas caso denunciem esses crimes a órgãos corregedores ou à Justiça. Os programas de proteção à testemunha existem, mas muitas preferem o silêncio a aderir a eles. Isso porque os programas implicam que a pessoa mude de casa, de nome, de emprego e corte totalmente os laços com familiares e amigos por longos períodos de tempo. Dessa forma, mesmo que identificada pelos órgãos de investigação, as testemunhas em geral preferem não se envolver, mesmo depois de receberem todas as garantias de proteção e anonimato. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast A análise correta da cena de um crime por peritos pode fornecer as provas necessárias para processar um policial que tenha cometido irregularidades, mesmo que não haja nenhuma testemunha. Exames de balística podem, por exemplo, determinar que um tiro partiu da arma de determinado policial e não de um criminoso. Os peritos conseguem dizer também se a vítima foi baleada quando trocava tiros com a polícia, se foi executada sem chance de defesa, quando o crime aconteceu, entre outas informações. A análise do local do crime serve, portanto, para reforçar a versão de um policial envolvido em uma ação suspeita ou desmascarar uma fraude criada por ele para encobrir um assassinato. Porém, por vezes, policiais que cometem delitos tentam alterar a cena do crime com o objetivo de reforçar sua versão dos fatos. Algumas das práticas já identificadas são a introdução de elementos na cena do crime (armas, drogas, entre outros) ou a remoção de cadáveres do local. Ou seja, os maus policiais matam um suspeito e, em vez de preservar a cena do crime para os peritos, levam o cadáver a um hospital – alegando posteriormente que a pessoa morreu no caminho. Policiais de São Paulo disseram à reportagem que estimam que cerca de 80% dos locais onde houve supostos confrontos entre policiais e suspeitos sejam corrompidos de alguma forma antes da chegada dos peritos. Alguns Estados brasileiros controlam a quantidade de munições usadas por policiais e adotam um calibre específico a ser usado pelas forças de segurança cujo uso é proibido a civis. Medidas como essas ajudam as equipes de investigação a obter indícios da participação de policiais em crimes de assassinato. Mas para dificultar essa identificação, foi constatado por autoridades que alguns policiais usam armas apreendidas ilegalmente de suspeitos para cometer crimes. Essas armas são então descartadas para que não sejam analisadas por peritos criminais. O corporativismo é um dos fatores que enfraquecem a atuação de órgãos corregedores e dificultam que policiais denunciem colegas de trabalho que cometam atos ilegais. Mas o silêncio dos companheiros e a falta de ação não são os únicos problemas de quem investiga a própria polícia. Segundo policiais ouvidos pela reportagem o próprio cenário político em um Estado em determinadas ocasiões pode influir na disposição de superiores hierárquicos para incentivar ou não a investigação e a punição de policiais que tenham cometido algum crime. Em alguns casos mais graves, as ameaças feitas por policiais suspeitos não se restringem às testemunhas de seus crimes. Policiais encarregados de investigar colegas disseram à reportagem que já sofreram ameaças ou têm amigos que já foram vítima desse tipo de ação. Segundo eles, policiais que cometeram crimes chegam a fazer ameaças por telefone e até mesmo a passar em veículos fazendo disparos próximo das casas dos investigadores. As ações de intimidação não chegam a impedir os investigadores de continuar com o trabalho, mas os desestimulam e tornam suas atividades mais difíceis. | 2014-09-16 21:05:42 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140914_investigacao_crimes_salasocial_eleicoes_lk.shtml |
brasil | Para especialistas ouvidos pela BBC Brasil, restrições ao uso da arma de fogo podem ajudar no combate à violência; tema, no entanto, ainda divide a população. | O controle de armas e munições pode ajudar a reduzir as mortes no Brasil? | Sete anos após 64% dos eleitores brasileiros terem rejeitado a proibição da venda de armas de fogo e munições num referendo popular, em outubro de 2005, o Brasil atingiu a marca de 56.337 homicídios no ano de 2012, a maior de sua história, de acordo com dados do SUS (Sistema Único de Saúde). Deste total, 40.077 pessoas foram mortas por armas de fogo, ou seja, 71% de todas as mortes. O número total de homicídios ocorridos no Brasil em 2012 representa 10% de todos os crimes do tipo no mundo, segundo o Relatório Global de Homicídios da UNODC de 2013 (Escritório da ONU para Drogas e Crime, na sigla em inglês). Embora o país já tenha uma legislação que controla o porte e o uso de armas de fogo (o chamado Estatuto do Desarmamento, aprovado em 2003), para especialistas consultados pela BBC Brasil os atuais índices de violência poderiam ser mais facilmente revertidos caso o país adotasse leis que restringissem ainda mais o uso e a venda de armas do tipo. Eles argumentam que em outros países, como o Reino Unido, onde o acesso a armas e munições é mais difícil, o menor número de armas de fogo em circulação tende a diminuir a incidência de homicídios. “É difícil comparar, porque são contextos muito diferentes, mas falta uma política de segurança pública mais efetiva nesta área, e reduzir o número de armas de fogo e munições é, sem dúvida nenhuma, benéfico para a segurança”, diz Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, sociólogo, professor da PUC-RS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Para o pesquisador, embora o Estatuto do Desarmamento tenha passado a penalizar de “forma adequada” o porte ilegal de armas, o fato de os índices de homicídios no Brasil continuarem entre os maiores do mundo faz com que novas medidas sejam necessárias. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Luis Flávio Sapori, sociólogo e professor da PUC-MG, no entanto, é mais crítico com a atual legislação sobre armas em vigor no Brasil. “O Estatuto (do Desarmamento) não melhorou a segurança pública no Brasil. A violência continuou crescendo no país, as armas de fogo continuam se proliferando de forma acelerada nas ruas das cidades brasileiras. A capacidade da polícia de pegar essas armas ilegais não foi aumentada”, diz. Para ele, a legislação foi enfraquecida quando, em 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu o pagamento de fiança para quem fosse preso em flagrante portando arma de fogo ilegal. “O assunto perdeu destaque. As campanhas eleitorais para Presidência poderiam ser um bom momento de retomar essa discussão, mas nem os movimentos de direitos humanos estão se atentando para isso. O estatuto está desmoralizado. Se não conseguiram proibir a venda, então que ao menos tornem o uso e o porte bem mais difíceis”, argumenta. A lei atual pune com dois a quatro anos de reclusão - além de multa - o porte ilegal de armas no fogo no Brasil. Para Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, a legislação aprovada em 2003 é avançada e a rejeição dos brasileiros à proibição da venda de armas e munições, em 2005, não esvaziou o estatuto. Ele lamenta, porém, que o movimento de entrega voluntária de armas tenha pedido força ao longo dos anos, e que o momento atual não seja de avanço, mas sim de ameaça de retrocesso. “Não há confiança na polícia por parte da população e é claro que há uma questão ideológica, e de lobbies de interesses”, diz o especialista. Tanto Sapori como Ghiringhelli de Azevedo concordam que a redução das armas de fogo em circulação seria um avanço para a segurança pública e reduziria o número de homicídios, mas nem todos partilham da mesma opinião. Tanto entre os parlamentares quanto na sociedade há uma série de mobilizações contrárias à legislação e a favor de uma liberalização maior do porte de arma, tornado mais restritivo pelo estatuto. Mais de 40 projetos de lei neste sentido foram apresentados no Congresso nos últimos anos, entre eles o do deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB/SC), que pede a revogação total do Estatudo do Desarmamento. Para ele, as normas mais rígidas não diminuíram os índices de violência, e os criminosos seguem tendo acesso a armas ilegais de qualquer maneira. Recentemente um desses projetos de lei que visam alterar cláusulas do estatuto foi aprovado, e as guardas municipais de todo o país passaram a ser armadas, no que foi visto como um retrocesso por analistas. “Temos um discurso no Congresso argumentando que a pessoa precisa ter a capacidade de defesa própria, senão está à mercê da criminalidade. É um discurso muito disseminado e acho que se houvesse outro referendo hoje em dia, o resultado infelizmente seria o mesmo”, avalia Ghiringhelli de Azevedo. O pesquisador questiona o argumento de que o uso de armas de fogo pode propiciar melhores meios para que as pessoas comuns se defendam de criminosos. “A arma de fogo disponível na rua não está sendo usada para defesa pessoal. Ela acaba sendo usada pelo crime e, em 90% das situações de tentativa de defesa, o que ocorre é o latrocínio, quando a vítima de um assalto acaba sendo morta pelo bandido”, diz. | 2014-09-16 15:40:49 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140916_salasocial_eleicoes2014_controle_armas_jf_cq.shtml |
brasil | Fórum Econômico Mundial seleciona anualmente lideranças com menos de 40 anos em diferentes áreas como política, negócios e mídia. | Quatro brasileiras são 'jovens líderes globais' | Quatro brasileiras integram hoje o seleto grupo do Young Global Leaders (YGL). Com perfis diferentes, a cineasta Julia Bacha, a ex-secretária de Comércio Exterior, Tatiana Lacerda Prazeres, a presidente da companhia aérea TAM, Claudia Sender, e a fundadora da rede de salões Beleza Natural, Leila Cristina Velez, têm se destacado internacionalmente em suas áreas. O Fórum Econômico Mundial, conhecido por suas reuniões anuais em Davos, na Suíça, seleciona, por um mandato de seis anos, personalidades com menos de 40 anos, que tenham se destacado na política, negócios, mídia, pesquisa, cultura e artes. Na última semana, 214 jovens líderes vindos de 66 países se reuniram em Tianjin, na China, durante a edição 2014 do YGL. Mais da metade dos integrantes desse ano são mulheres. "A comunidade do YGL reúne os mais proeminentes dirigentes da próxima geração, que obtiveram resultados extraordinários e os ajuda a continuarem a se desenvolver na estrada da liderança", define David Aikman, responsável pela New Champions Community do FEM, da qual o YGL faz parte. Para Tatiana Lacerda Prazeres, única indicada brasileira que vem do setor público, o grupo reúne pessoas com trajetórias e experiências distintas, mas motivadas a dar uma contribuição para o mundo nas áreas em que atuam. "É muito inspirador o contato", avalia. Julia Bacha, cineasta brasileira, diz que o que une perfis tão diferentes é a preocupação social. "São pessoas que têm um comprometimento em trabalhar para que o futuro seja melhor do que o agora", diz. Tatiana não se considera um exemplo para os brasileiros, mas acredita que a nomeação como jovem líder global é um reconhecimento em relação a sua carreira e uma aposta para o futuro. "Olhando para lideranças mundiais, que já passaram pelo grupo e que hoje ocupam posições de destaque, se reconhece que o fórum tem capacidade para identificar pessoas com potencial". A BBC Brasil preparou perfis de cada uma delas. Leia abaixo: Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Desde 1998, a carioca de 33 anos, vive em Nova York para onde se mudou para estudar inglês e acabou cursando graduação na Universidade de Columbia. Sua carreira de documentarista começou em 2004, quando escreveu e editou Control Room, um dos documentários políticos de maior bilheteria de todos os tempos nos Estados Unidos. O trabalho teve grande impacto na cobertura da Guerra do Iraque. Julia se dedica atualmente a um novo filme sobre as mulheres palestinas, que lideraram campanhas de desobediência civil no final dos anos 80, durante a primeira Intifada. Ela conta que se envolveu com a questão entre Israel e Palestina por acaso. O interesse veio através da colaboração desenvolvida com a cineasta israelense, Ronit Avni, fundadora e diretora da Just Vision, organização sem fins lucrativos, que pesquisa e desenvolve conteúdo sobre líderes palestinos e israelenses comprometidos com a não-violência, da qual Julia é a diretora criativa. Juntas elas dirigiram Encounter Point, em 2006, em Israel. "Quando cheguei em Jerusalém, vi a importância desse trabalho. Queria realmente mudar a dinâmica, na qual a atenção da comunidade internacional e da mídia está sempre focada nos atores que usam a violência. Enquanto israelenses e palestinos, que adotam a resistência pacífica, a desobediência civil, são em grande parte ignorados", denuncia. "Nosso trabalho é o de contar as histórias e mostrar quem são os indivíduos que acreditamos que no futuro vamos olhar com a mesma admiração que reservamos a Martin Luther King, Nelson Mandela e Mahatma Gandhi. Esses indivíduos existem!" Tatiana, que até o ano passado integrava o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, fez história na pasta já que pela primeira vez um funcionário de carreira chegou ao cargo de vice-ministra. Atualmente, ela é assessora do diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra. Com passagem pelo mundo acadêmico, Tatiana é doutora em Relações Internacionais pela Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, e autora de dois livros sobre questões comerciais. Ela coordenou a área internacional da Apex-Brasil e passou pela consultoria de Relações Internacionais da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Além de suas obrigações profissionais, ela ajuda jovens pesquisadores que trabalham com temas relacionados a OMC. "Faço uma orientação informal de pessoas estudando comércio internacional. Achei que esta era a melhor forma de contribuir aproveitando o que eu tenho de melhor". Duas outras jovens líderes foram indicadas por suas atuações no mundo dos negócios. Claudia Sender é a primeira mulher à frente de uma companhia aérea brasileira. Com 39 anos, ela comanda os cerca de 30 mil funcionários da TAM e define a estratégia da empresa, que tem faturamento de quase US$ 13 bilhões. Formada em Engenharia Química pela Universidade de São Paulo, Claudia mudou de área e fez carreira no mundo corporativo atuando em marketing e planejamento na Whirlpool e na Bain & Company. Ela se especializou na Harvard Business School e apenas em dezembro de 2011 entrou para a maior empresa de aviação do país, como vice-presidente Comercial e de Marketing. Após a fusão com a chilena LAN Airlines assumiu a Unidade de Negócios Doméstica Brasil. Em 1993, Leila Cristina Velez criou aos 19 anos um dos primeiros salões de beleza especializado em cabelos crespos, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Hoje, a Beleza Natural é uma rede de cabeleireiros com quase 20 unidades, 2 mil funcionários e mais de 100 mil clientes por mês. A empresa criou ainda nos anos 90 uma linha de produtos para o negligenciado mercado de cabelos afro no Brasil. O sucesso é atribuído pela companhia ao ganho de "autoestima" em milhares de pessoas, por valorizar os fios naturais e ir contra a corrente das técnicas de alisamento praticadas por salões convencionais. No último ano, a cadeia de institutos de beleza presente em cinco estados brasileiros, recebeu um incentivo de US$ 32 milhões da GP Investments, para financiar sua expansão para todo o país. Nascida em uma favela carioca e ex-funcionária do McDonald’s, Leila é formada em Administração de Empresas e fez cursos de Empreendedorismo e Competitividade na América Latina na Columbia Business School e em Harvard . | 2014-09-17 04:45:07 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140917_mulheres_lideres_globais_rm.shtml |
brasil | A adoção de temas pouco conservadores por bispos e jornalistas católicos rendeu elogios e debates paralelos nas redes sociais. | Debate promovido pela igreja discute aborto, casamento gay e drogas | As cartas foram lançadas em primeira pessoa por bispos e jornalistas da igreja católica: drogas, casamento gay, Estado laico e aborto foram, surpreendentemente, os trunfos do debate promovido pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) com os candidatos à presidência na noite de terça-feira. Transmitido por mais de 200 rádios e pelo menos quatro canais de TV católicos, o encontro aconteceu na Basílica do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida e foi mediado pelo jornalista Rodolpho Gamberini. Aécio Neves (PSDB), Dilma Rousseff (PT), Eduardo Jorge (PV), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidelix (PRTB), Luciana Genro (Psol), Marina Silva (PSB) e pastor Everaldo (PSC) precisaram se posicionar - alguns pela primeira vez - sobre assuntos polêmicos. A adoção de temas menos conservadores em relação aos debates de eleições passadas é coerente com a postura mais "progressista" adotada pelo Papa Francisco, nomeado no início do ano passado. As respostas dos presidenciáveis - algumas vagas, outras mais objetivas - renderam, como sempre, debates paralelos nas redes sociais. Questionada sobre violência e uso de drogas entre jovens, Marina Silva respondeu que "o combate à violência é fundamental para termos meios de combater o tráfico de drogas e de armas. Cerca de 50 mil pessoas são assassinadas por ano, a maioria jovem". A resposta da candidata foi alvo de críticas. Dom João Carlos Petrini perguntou a Levy Fidelix sobre "o processo de desvalorização da família, formada por pai, mãe e filhos". O candidato aproveitou a senha para declarar-se contra o casamento entre pessoas nascidas com o mesmo sexo. "Os maus exemplos são uma questão crucial, a união homoafetiva destrói a família. Isso é terrível", disse. À socialista Luciana Genro, coube responder sobre como veria - caso fosse eleita - a relação entre Estado e religião. "Digo com muita sinceridade que não sou uma pessoa religiosa, mas respeito todas as religiões. Não vou me converter como muitos candidatos fazem por oportunismo. O Estado laico é importante para assegurar os direitos de todas as religiões e de quem não tem religião. Sou a favor da união civil entre homossexuais. Precisamos combater a homofobia, o racismo e a transfobia", respondeu. A posição da candidata, que junto a Eduardo Jorge costuma repercutir muito nas redes sociais, rendeu críticas e elogios. O médico Eduardo Jorge voltou a defender o aborto, após ser questionado por um jornalista católico. "Não se pode deixar abandonadas 800 mil mulheres que fazem abortos no Brasil. É preciso revogar essa lei atual, criminosa e machista, que deixa mulheres morrerem e transforma elas em criminosas, mulheres que muitas vezes são católicas e evangélicas." Questionado sobre a regulamentação da maconha para consumo e uso medicional, o estreante em debates com presidenciáveis nestas eleições, Eymael, chegou a gritar. "Totalmente contra. A democracia é totalmente contra a descriminalização das drogas e da maconha. A juventude é assassinada pelas drogas e armas que entram pelas fronteiras desguarnecidas desse país. A função das Forças Armadas é defender as fronteiras deste país, impedindo a entrada de drogas e armas." Aécio Neves precisou responder à seguinte pergunta: "Se eleito, o senhor deve aprovar o projeto de lei que prevê a criminalização da homofobia?" A resposta foi encarada por internautas como ambígua. "É preciso que fique claro que qualquer tipo de discriminação seja tratada como crime. Inclusive a homofobia. Essa discussão tramita no Congresso há muito tempo. Nossa posição é a seguinte: há uma resolução do STF que já é realidade, isso é pagina virada. Essa é nossa posição, bem clara, diferente de outras candidatas. O que precisamos é definir se a PL122 é o instrumento adequado, ou se encontraremos outro texto." Dilma Rousseff foi poupada de temas polêmicos entre religiosos. Questionada pelo bispo Dom Guilherme Werlang, a atual presidente falou sobre redução da pobreza. Depois apresentou suas propostas sobre saúde, questionada por um jornalista. | 2014-09-17 05:30:07 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140916_salasocial_eleicoes2014_debatecnbb_polemica_rs.shtml |
brasil | Terceiro debate entre os candidatos promovido pela CNBB teve discussões mais acaloradas e trouxe 'questões morais' como temas de perguntas. | Dilma e Aécio são principais alvos em debate tenso entre presidenciáveis | Os candidatos à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff, e pelo PSDB, Aécio Neves, foram os principais alvos de críticas e ataques em encontro organizado nesta terça-feira pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que rendeu um debate um pouco mais 'tenso' entre os presidenciáveis. Em um evento pontuado por questões morais, como o direito ao aborto, o casamento gay e a legalização das drogas, os candidatos do PV, Eduardo Jorge, e Luciana Genro, do PSOL, destoaram dos demais postulantes ao confrontarem posições defendidas pela Igreja Católica. Luciana e Genro também fizeram algumas das críticas mais duras dirigidas a Dilma e Aécio. Marina Silva, que estava rouca e aparentava cansaço, ficou à margem das principais polêmicas. O formato do debate promovido pela CNBB - o terceiro entre os aspirantes à presidência - permitiu pouca interação entre os três principais candidatos. Apenas no quarto bloco, houve perguntas entre os presidenciáveis, que não podiam escolher para quem direcionariam suas questões - essas definições eram feitas por sorteio pelo mediador. O momento mais tenso do debate ocorreu quando Luciana Genro associou Aécio Neves a escândalos de corrupção ocorridos em Minas Gerais e no governo federal. "O senhor falando do PT é como o sujo falando do mal lavado", disse Luciana. Ela afirmou que o mensalão, principal escândalo de corrupção do governo petista, deriva do mensalão tucano, em que políticos mineiros – entre os quais o ex-governador Eduardo Azeredo, do PSDB – são acusados de envolvimento em um esquema de compra de apoio na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Luciana disse ainda que Aécio protagonizara um dos últimos escândalos da política brasileira ao reformar um aeroporto em Cláudio (MG). Uma reportagem da Folha de São Paulo revelou em julho que a obra, ocorrida em 2010, quando Aécio era governador, custou R$13,9 milhões e foi feita em terreno desapropriado de um tio-avô do tucano. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast "O senhor é tão fanático das privatizações que consegue privatizar um aeroporto e entregar à família, tão fanático da corrupção que consegue construir um aeroporto para beneficiar sua família." Aécio rebateu as acusações dizendo que Luciana se portava como "linha auxiliar do PT" e que se escusou de responder sua pergunta sobre educação porque não tinha proposta de governo. Em sua última fala, disse ainda que "aqueles que são irrelevantes fazem acusações absurdas e levianas, que não devem ocupar o tempo tão escasso (que há) para se falar do Brasil". O embate ocorreu no dia em que uma pesquisa revelou o crescimento de Aécio na corrida. De acordo com um levantamento do Ibope, Aécio ganhou quatro pontos percentuais em relação à última pesquisa, de 12 de setembro, e chegou a 19% das intenções de voto. Ele continua em terceiro lugar na disputa, atrás de Dilma Rousseff (que passou de 39% a 36%), e de Marina Silva (31% a 30%). O bate-boca entre Luciana e Aécio foi precedido por duras críticas do tucano ao governo de Dilma Rousseff. Em resposta a pergunta do candidato do PSC, Pastor Everaldo, sobre denúncias recentes de corrupção na Petrobras, Aécio afirmou que o caso "fez com que o mensalão parecesse coisa pequena". "Quem não teve condições de administrar nossa maior empresa não tem condições de administrar o Brasil", disse o tucano, referindo-se a Dilma. "A Petrobrás é a face mais visível de governo que abandonou há muito tempo um projeto de país e se permite usar de todas as armas para se manter no poder", afirmou. Dilma pleiteou o direito de resposta e foi atendida. Ela disse ter "tolerância zero" com a currupção e que quem investiga o escândalo na Petrobrás é o próprio governo, por meio da Polícia Federal. "Se hoje se descobrem atos de corrupção, ilícitos, é porque não varremos para debaixo do tapete", afirmou. Em outra ocasião, a petista foi duramente criticada pelo candidato do PV, Eduardo Jorge. Respondendo questão sobre demarcações de terras indígenas, Jorge afirmou que a política do governo Dilma – que paralisou todos os processos demarcatórios – "significou mais violência, mais fome e mais mortalidade infantil" entre índios. Citando informações do Cimi (Conselho Indigenista Missionário, braço da Igreja Católica), ele afirmou que há 17 processos de demarcação de terras indígenas parados na mesa da presidente, e outros 12 na mesa do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Ele disse que, se eleito, concluirá as demarcações em seu primeiro dia de governo. O governo afirma que os processos foram paralisados para evitar conflitos, já que a maior parte das demarcações em curso ocorre em áreas também ocupadas por agricultores. | 2014-09-17 04:05:00 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140917_analise_debate_cnbb_jf_rm.shtml |
brasil | História de sargento ilustra vulnerabilidade de policias a criminosos nos períodos de folga; em 2013, mais de 300 agentes foram mortos. | Dois anos após morte de policial, viúva ainda aguarda prisão de criminosos | O futebol de várzea não era só um passatempo para o sargento Maurício (nome fictício), do serviço de saúde da Polícia Militar de São Paulo. "Se houvesse convite para jogos, ele era capaz de praticar todos os dias, isso desde criança. Ele não fumava, não bebia, nem era mulherengo, era um homem de família, mas tinha essa paixão pelo futebol", diz Ana, a mulher com quem dividiu a vida por mais de 25 anos. Porém, seus familiares e amigos não eram os únicos que sabiam desse "ponto fraco" de Maurício. Em junho de 2012, criminosos supostamente ligados à facção PCC (Primeiro Comando da Capital) montaram uma emboscada e assassinaram o policial em um campo de várzea na zona norte de São Paulo. Segundo as investigações da polícia, o assassinato teria sido um presente de aniversário para um chefe local da facção. Embora o crime que resultou na morte de seu marido tenha ocorrido há pouco mais de dois anos, sua viúva Ana ainda luta para ver seus responsáveis presos, enquanto aguarda o pagamento de uma indenização por parte do Estado. A história do sargento Maurício ilustra uma das faces da guerra cotidiana que toma a maior parte das cidades brasileiras. Embora soubesse dos riscos que corria, o policial Maurício tentava acalmar sua família dizendo que era inútil se preocupar. "Ele dizia que não devíamos nos preocupar, deixar de fazer coisas ou sair na rua, porque se fosse acontecer alguma coisa, os criminosos viriam até em casa, porque têm o endereço de todo mundo", lembra Ana. "Ele sempre fazia o mesmo caminho para sair do campo e ir até a casa da mãe dele. Quando o jogo terminou (dois criminosos) o seguiram. Ele estava dentro do carro, um veio do lado dele e chamou seu nome. O que estava do outro lado atirou nele", afirmou a viúva. O assassinato aconteceu em junho de 2012, no auge do mais recente conflito entre a Polícia Militar de São Paulo e o PCC (maio a dezembro de 2012), quando a facção determinou o assassinato de agentes da lei como resposta à morte de membros do grupo criminoso. Desde então, Ana aguarda o esclarecimento do caso e a prisão de seus responsáveis. Além de acompanhar de perto o processo criminal, ela diz fazer sua própria investigação. "Eu conversei com colegas dele que não falaram com a Polícia Civil e comecei a levar essas informações para investigação", disse. "Faço isso por uma sede que tenho, não de vingança, mas de justiça", afirmou. As autoridades policiais identificaram três suspeitos, que respondem ao crime em liberdade. Após ser arquivado e depois reaberto a partir de dados novos obtidos pela Corregedoria da Polícia Militar, o inquérito foi relatado pela Polícia Civil à Justiça no início deste mês. Segundo a viúva, seu marido foi um dos policiais mortos de forma quase aleatória pelo PCC. Na ocasião, mensagens do crime organizado interceptadas pelos setores de inteligência da polícia ordenavam que os membros do grupo assassinassem policiais (sem dar nomes específicos) em retaliação a ações da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), a controversa unidade de elite da polícia paulista. Segundo ela, a maior prova de que queriam matar um policial, não importando qual fosse, é que Maurício trabalhava havia 20 anos como protético, no centro odontológico da PM. Há muitos anos ele não participava do policiamento de rua. Ana conta que a morte do marido também afetou as condições econômicas da família, além de ter atingido duramente seu filho. "Minha luta ainda não terminou", disse. "Meu padrão econômico de vida caiu em 60%, meu filho passou seis meses tendo desmaios frequentes e estamos passando por tratamento psicológico", conta. Ela tenta agora obter uma indenização paga pelo governo para policiais que morrem em decorrência de seu trabalho. Muitas vezes, no entanto, esse processo é burocrático, especialmente se o assassinato ocorre fora do horário de serviço. Ana disse que só consegue trabalhos esporádicos e com eles tenta ajudar o filho, que hoje tem 17 anos, a cursar uma faculdade. "Depois que conseguir essas coisas, vou tentar viver." | 2014-09-15 05:04:37 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140914_personagens_seguranca_salasocial_eleicoes2014_lk_jp.shtml |
brasil | Ao revisar para baixo o crescimento da economia brasileira, OCDE cita inflação alta e incertezas pós-eleições. | OCDE: Brasil deve crescer 1,4% em 2015, ainda abaixo de emergentes e ricos | O Brasil deverá crescer 1,4% em 2015 contra 0,3% neste ano, mas ainda abaixo de vários emergentes e países ricos, informou um relatório divulgado nesta segunda-feira pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O estudo, intitulado Avaliação Econômica Intermediária, revisou consideravelmente para baixo as previsões em relação ao crescimento da economia brasileira neste ano e no próximo. Segundo a OCDE, a alta do PIB brasileiro (Produto Interno Bruto, a soma dos bens e serviços produzidos por um país) em 2014 deve ser inferior, inclusive, à da Zona do Euro (0,8%), que ainda não conseguiu se recuperar totalmente da crise financeira. No próximo ano, o Brasil continuará crescendo menos do que a China (7,3%) ou a Índia (5,9%) e também terá expansão menor do que países como Estados Unidos, Alemanha e Canadá. Por outro lado, deve ter um crescimento maior que o da Zona do Euro (1,1%) e da Itália (0,1%), diz a OCDE. Em maio passado, no relatório Perspectivas Econômicas, publicado semestralmente, a organização havia previsto que a economia brasileira cresceria 1,8% em 2014 e 2,2% em 2015. O novo levantamento diz que, no curto prazo, o Brasil deve registrar "apenas uma lenta retomada econômica após a recessão", ressaltando que a inflação permanece acima da meta e sugerindo, assim, que as políticas monetárias deverão continuar restritivas. A economia brasileira entrou oficialmente em recessão – quando há dois trimestres consecutivos de queda – no final deste primeiro semestre. A OCDE destaca que os investimentos no Brasil têm sido particularmente fracos neste ano, "afetados pelas incertezas em relação à direção da política econômica após as eleições e pela necessidade de reduzir a inflação". A organização ressalva, no entanto, que "uma recuperação moderada do crescimento pode ser esperada no Brasil quando esses fatores se dissiparem". Mas o crescimento da economia brasileira "deve permanecer abaixo do potencial em 2015", prevê a OCDE. O novo documento divulgado nesta segunda-feira tem o objetivo de atualizar as previsões e análises publicadas em maio, avaliando se elas continuam pertinentes. As novas perspectivas no curto prazo foram publicadas devido à reunião de ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G20 nos dias 19 a 21 de setembro em Cairns, na Austrália. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast A OCDE também afirma no documento que uma expansão econômica moderada está em andamento na maioria das economias desenvolvidas e emergentes, mas isso ocorre a um ritmo desigual entre as regiões. "Há um aumento das diferenças entre as principais economias. A retomada nos Estados Unidos é sólida e o crescimento é uma tendência no Japão e na China e também está se reforçando na Índia, após o recente ritmo fraco", afirma o documento. O cenário contrasta com a situação do Brasil, com perspectiva de recuperação lenta da economia, e também nos países da zona do euro, onde a expansão permanece fraca no curto prazo e "há risco de estagnação prolongada se não houver medidas para aumentar a demanda", estima a OCDE. O PIB dos Estados Unidos deve crescer 2,1% neste ano e 3,1% em 2015, contra 2,6% e 3,5% previstos no estudo de maio passado. A zona do euro deve crescer apenas 0,8% neste ano. Enquanto a Alemanha deve ter expansão de 1,5% neste ano e no próximo, a Itália, por exemplo, deve encerrar 2014 com retração de 0,4% do PIB e crescimento de apenas 0,1% em 2015. A economia da China deve avançar 7,4% em 2014 e 7,3% no próximo ano, sem mudanças em relação às estimativas anteriores. Já no caso da Índia, a OCDE revisou para cima a estimativa de crescimento econômico do país neste ano, que deverá ser de 5,7%, contra 4,9% previsto anteriormente para o mesmo período. Em 2015, o PIB indiano deverá crescer 5,9%. "O grupo de economias emergentes continuará crescendo muito mais rápido do que os países avançados, mas o ritmo também é desigual entre esses países", afirma a OCDE, comparando a expansão do PIB na China e na Índia e os números bem mais modestos no Brasil. | 2014-09-15 17:28:12 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140915_ocde_relatorio_economia_brasil_lgb.shtml |
brasil | Para os especialistas, apesar de controle sobre polícia militar ser atribuição do Estado, propostas do governo federal seriam essenciais para o avanço da discussão sobre a violência policial e contra os policiais. | Medo de perder 'voto conservador' afasta violência policial de campanhas | Após os protestos de 2013, a ONU cobrou explicações do Brasil sobre o que chamou de uso excessivo da força policial na repressão aos manifestantes. Casos como o do pedreiro Amarildo também levantaram o debate sobre a atuação cotidiana da polícia militar em todo o país. Mas uma "fuga histórica do debate" e o receio de perder votos de setores conservadores impedem que o tema entre nos programas dos presidenciáveis lideres nas pesquisas, segundo especialistas. A violência policial e também a violência sofrida pelos policiais – até mesmo dentro da corporação – foram apontadas por leitores em uma consulta promovida pelo #salasocial - o projeto da BBC Brasil que usa as redes sociais como fonte de histórias originais. Trataremos do tema ao longo desta semana, durante a quarta parte da cobertura especial da BBC Brasil sobre as eleições de 2014. Em seus programas oficiais de governo, os candidatos líderes nas pesquisas, Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), apresentam propostas de capacitação, modernização e investimento na carreira e na infraestrutura policial (ver quadro). Alguns deles mencionam itens como "transparência" e "controle da atuação policial". No entanto, não há menção explícita a questões relacionadas ao uso excessivo de força, à alta letalidade da força policial no Brasil e a ações que promovam uma diminuição da violência que atinge os policiais. Entre os candidatos à Presidência, apenas Luciana Genro (PSOL) e Zé Maria (PSTU) mencionam a violência policial. Ambos propõem a desmilitarização da polícia. Para Bruno Langeani, coordenador da área de sistema de justiça e segurança pública do Instituto Sou da Paz, a segurança ainda não é um tema no qual os candidatos à Presidência "gostam de entrar", apesar de ter aparecido como a segunda maior preocupação dos brasileiros em uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no início de agosto. "O maior papel na segurança está com os Estados e as políticas públicas dão resultados de longo prazo. Não é algo que traz benefícios políticos imediatos para o candidato. Historicamente, eles fogem do debate, quando podem", afirma. O cenário, no entanto, estaria mudando, na medida em que a população cobra mais posicionamentos. "Há um tempo, o candidato podia passar a campanha inteira sem falar do tema. Hoje eles já têm que responder mais perguntas sobre isso nos debates. Estamos avançando", disse Langeani à BBC Brasil. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast "O combate à violência policial é reivindicado por todos os movimentos de periferia e é talvez o único tema que unificava dos protestos de 2013. Acho um fato notável que isso não seja mencionado pelos principais candidatos", afirma o filósofo, ativista e professor da USP Pablo Ortellado, autor do livro Vinte centavos: a luta contra o aumento. Para Ortellado, a ausência do tema nas campanhas se deve a um processo que chama de "moralização do debate político brasileiro, semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos nos anos 90 e acontece agora na França e em muitos países". "Temas como a proibição do aborto e do casamento gay, guerra contra as drogas e a redução da maioridade penal ganharam muito espaço, ultrapassando temas econômicos. A defesa de uma polícia mais dura faz parte dessa agenda", diz. "Acho que os candidatos simplesmente não estão lidando com o tema porque temem perder o eleitor conservador, seja ele de direita ou de esquerda." No Brasil, a organização da Polícia Militar é de competência dos governos estaduais, o que explicaria, em parte, a menor presença do tema nas campanhas presidenciais. Para os especialistas ouvidos pela BBC Brasil, no entanto, propostas do governo federal seriam essenciais para o avanço da discussão sobre a violência policial e contra os policiais. "A violência policial não é o único problema da polícia, mas ela não é resolvida apenas com carreira, salário, estrutura e outras questões da segurança pública", diz Pablo Ortellado. "A polícia precisa de reforma em vários níveis, mas a violência policial é uma cultura, que precisa de ações específicas como uma corregedoria independente, instrumentos de sanção para quem cometa violência. É necessário que o policial preste contas." Para Bruno Langeani, do Instituto Sou da Paz, o problema da violência policial "tem que estar expressamente colocado nos programas, porque afeta a falta de confiança na polícia e o desgaste da corporação". "O papel do governo federal é ter liderança, colocar modelos e diretrizes. Ele poderia estabelecer como critério que os Estados recebam recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública que tenham programas de redução de violência policial ou mesmo a criação de corregedorias e ouvidorias policiais independentes", disse ele. "Mas isso também só dará certo se o governo federal investir mais em segurança pública. O orçamento da segurança pública atualmente é menos de 0,5% do PIB brasileiro, em média." Mudanças mais profundas na formação e atuação dos profissionais – como a possibilidade de realizar o ciclo completo de policiamento (preventivo, ostensivo e investigativo), uma das bandeiras de movimentos pela diminuição da violência – devem também ser propostas pelo poder executivo, de acordo com Langeani. "Os candidatos falam da capacitação para o ciclo completo, mas isso só não dá conta, porque é preciso ter mecanismos legais para que o policial possa atuar no ciclo completo. Mesmo que isso seja uma atribuição do Legislativo, sabemos que quando as propostas vêm do Executivo elas têm mais força”, afirma. | 2014-09-12 22:47:30 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140912_salasocial_eleicoes2014_candidatos_policia_seguranca_cc.shtml |
brasil | Em relatório, Nações Unidas elogiam avanços e políticas, mas apontam que país vive 'mito de democracia racial' e 'ideologia de embranquecimento' na sociedade | Governo reconhece 'racismo institucionalizado' apontado pela ONU | "O Governo Brasileiro reconheceu e reconhece sua responsabilidade e criou a Secretaria de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em 2003." O comentário, enviado à BBC Brasil pela secretaria com status de ministério, responde a um relatório divulgado nesta sexta-feira pela ONU. O órgão mundial afirma que o racismo "permeia todas as áreas da vida" no Brasil. As Nações Unidas concluem que o país vive um "mito de democracia racial" e que há "racismo institucionalizado" e uma "ideologia de embranquecimento" na sociedade brasileira. Tanto a ONU quanto o governo, entretanto, também destacam avanços nas políticas para afrodescendentes no Brasil. Segundo o Planalto, a implementação de cotas raciais na educação e no serviço público e a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra foram medidas importantes no processo de reversão deste problema histórico no país. A ONU concorda e diz que os principais avanços ocorreram durante o governo do ex-presidente Lula. As críticas do relatório e o posterior "mea culpa" são resultado da visita de um grupo de trabalho da ONU a Brasília, Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, em dezembro do ano passado. Os especialistas foram recebidos por representantes do governo, do judiciário e de organizações da sociedade civil. O texto do relatório informa que "o racismo permeia todas as áreas da vida no país" e que é difícil para os negros discutir o tema, já que "o país vive um mito de democracia racial". Segundo a ONU, o desemprego é 50% maior entre afrodescendentes e a média salarial dos brancos, por sua vez, é o dobro do salário dos negros. Enquanto a expectativa de vida entre os negros não passa de 66 anos, a dos brancos é seis anos maior. Mais da metade dos negros não tem saneamento básico adequado no país - a média chega a 3 em cada 10 brancos. As Nações Unidas reconhecem que o país conta com "diversas instituições para a promoção da igualdade social" e "diversos avanços expressivos foram feitos na legislação sobre a igualdade racial", especialmente nos últimos dez anos. "Os mecanismos de reprodução das desigualdades raciais se atualizam no Brasil. O reconhecimento do papel estruturante do racismo é o principal fator para que a atual gestão apoie decididamente ações afirmativas para produzir as mudanças que, por longo tempo, foram impedidas de acontecer na sociedade brasileira", disseram os porta-vozes do governo à reportagem da BBC Brasil. "Esses ganhos ainda são acompanhados pela persistência das desigualdades raciais", afirma o governo federal. Segundo o Planalto, as diferenças entre brancos e negros demandam "um renovado esforço de articulação de iniciativas capazes de neutralizar seus efeitos deletérios sobre as oportunidades de inclusão que se abrem no Brasil de hoje". "É um processo", diz a pasta. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Entre os resultados da pesquisa, a ONU aponta que a educação é uma das principais áreas de discriminação e uma das principais fontes de desigualdade. "É importante que se desconstrua a ideologia de embranquecimento que continua a afetar uma parcela significante da sociedade", diz a ONU. Segundo o órgão internacional, "políticos conservadores desvalorizam ações afirmativas, políticas e leis" direcionadas aos afrodescendentes - que têm menos acesso à saúde e educação, menor expectativa de vida, menos cargos públicos e maior presença nas prisões. O relatório critica as administrações estaduais e municipais, onde "faltam recursos materiais e financeiros para que as atividades possam ser conduzidas". O órgão ainda destaca o trabalho de redução do racismo institucional em Pernambuco, com trabalhos de sensibilização e capacitação de policiais, e um grupo de trabalho contra o racismo criado pelo Ministério Público pernambucano. Segundo o órgão internacional, o foco nos policiais é "importante para transformar a cultura de violência sob pretexto de segurança nacional" - três negros morreram em cada quatro homicídios cometidos no Brasil em 2010. A dificuldade de acesso à justiça pela população negra é, para a ONU, um dos pontos-chave da discussão. Segundo o órgão, como a sociedade ainda nega a existência de praticas racistas, estas questões acabam não chegando no judiciário e, quando chegam, dificilmente são penalizadas. As Nações Unidas indicam ainda que a polícia atua com critérios "baseados na cor da pele" dos cidadãos. "O papel da polícia é garantir a segurança pública", diz o relatório. "Mas o racismo institucional, a discriminação e a cultura de violência levam a práticas de tortura, chantagem, extorsão e humilhação, em especial contra afro-brasileiros." Ainda segundo o documento, "o direito à vida sem violência não é garantido pelo Estado". | 2014-09-12 22:06:09 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140911_eleicoes2014_onu_racismo_rs.shtml |
brasil | Tática do PT de 'atacar' Marina Silva parece estar funcionando, pelo que indicam as últimas pesquisas de intenção de voto. | Norte e Sul impulsionam Dilma; analistas veem riscos em estratégia agressiva | Pesquisas recentes mostram que as sucessivas críticas da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, à sua principal concorrente, Marina Silva, do PSB, surtiram efeito principalmente entre eleitores do Norte e Sul do país. Dilma aparece numericamente à frente de Marina segundo a última pesquisa de intenções de voto do Datafolha (36% a 33%) e já teria se descolado na primeira colocação pela pesquisa CNI/Ibope, divulgada nesta sexta (39% a 31%). Nas simulações de segundo turno, os dois institutos apontam agora empate técnico - Marina chegou a ter dez pontos de vantagem no Datafolha e nove no Ibope no início do mês. Analistas afirmam, porém, que a estratégia de atacar Marina é arriscada e pode aumentar a rejeição a Dilma, que já é bastante alta. Na pesquisa CNI/Ibope, 42% disseram que não votariam na candidata do PT de jeito nenhum, 11 pontos percentuais a mais do que o índice medido pelo Ibope no fim de agosto. Marina tem rejeição de 26%, segundo o mesmo instituto. Foi na região Norte que Dilma mais avançou nos últimos dias. Segundo o Datafolha, a petista passou de 38% das intenções de voto, entre 1º e 3 de setembro, para 48% uma semana depois. Como nesse intervalo Marina se manteve com 32%, é provável que a petista tenha roubado votos do candidato do PSDB, Aécio Neves – que passou de 14% para 10% -, e dos indecisos (de 10% a 4%). As intenções de voto em Dilma no Norte ultrapassaram seu índice de apoio no Nordeste, tradicionalmente o principal reduto do PT em eleições para presidente. Segundo o Datafolha, no Nordeste a petista teria 47% dos votos. Para Pedro Fassoni Arruda, professor do departamento de política da PUC-SP, o desempenho de Dilma nas duas regiões se deve principalmente aos programas sociais implantados nas gestões petistas – como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e o Prouni – e à política de valorização do salário mínimo. Ele diz que o apoio relativamente fraco de Marina no Norte, sua região de origem – ela nasceu no Acre –, reflete o distanciamento entre a candidata e suas bases eleitorais. "Ela deixou o Partido dos Trabalhadores e deu uma guinada mais à direita, se aproximando de setores como o agronegócio, banqueiros. Com isso, acabou se afastando de um eleitorado que é tradicionalmente do PT", afirma. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast No outro extremo do país, na região Sul, Dilma também ampliou sua vantagem em relação a Marina. No fim de agosto, segundo o Datafolha, as candidatas do PT e do PSB estavam empatadas, com 32% das intenções de voto cada. Desde então, Dilma abriu sete pontos de vantagem em relação a Marina: ela subiu para 35%, enquanto a ambientalista caiu para 28%. Para Susana Krause, professora do programa de pós-graduação em ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), não se deve considerar que eleitores da região Sul se comportam de modo homogêneo, já que cada um dos três Estados sulistas segue lógicas eleitorais distintas. Quanto ao Rio Grande do Sul, Estado mais populoso da região, ela afirma que a força de Dilma se assenta em três pilares. O primeiro, diz Krause, é a forte tradição do trabalhismo no Estado. Dilma militou nessa corrente política, que teve o gaúcho Leonel Brizola como um de seus principais expoentes. O segundo pilar é a identificação de boa parte do eleitorado gaúcho, particularmente em Porto Alegre, com partidos de esquerda. Krause afirma que, embora nas últimas eleições parte desse eleitorado tenha se afastado do PT, a polarização política em vigor pode ter reaproximado o grupo do partido. "Talvez alguns daqueles eleitores de esquerda mais aguerridos dos anos 80 e 90 tenham se sensibilizado com a onda de acusações contra o PT. Talvez o antipetismo tenha revigorado neles o desejo de votar no PT." O terceiro motivo, segundo a professora, é a popularidade de Dilma e de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, entre agricultores familiares gaúchos, grupo numeroso no interior do Estado. Analistas avaliam, porém, que a estratégia eleitoral que tem melhorado o desempenho de Dilma nas pesquisas pode produzir efeitos contrários, se não for conduzida com cuidado. Dilma tem dito em seus discursos e propagandas eleitorais que Marina menospreza a importância do pré-sal e entregará o governo a banqueiros. A ambientalista rebate as críticas. Ela afirma que investirá no pré-sal, mas que também dará importância a outras fontes de energia, e que nos governos do PT os bancos tiveram lucros recordes. "Sem julgar o mérito das críticas, a estratégia alcançou seus objetivos, que era conter o crescimento da Marina e estancar tendência de queda da Dilma", diz Arruda, da PUC-SP. Ele afirma, porém, que a tática funciona "até certo ponto" e que, se as críticas derem lugar a ataques, pode afastar eleitores. "Por enquanto a campanha da Dilma não cruzou a linha, mas sempre há o risco de errar o tom", diz o professor. | 2014-09-12 19:50:06 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140912_dilma_estrategia_marina_jf_rm.shtml |
brasil | Campanha questiona justiça de SP por declarar fotógrafo alvejado por bala de borracha culpado por perder a visão do olho esquerdo | #SalaSocial: Jornalistas usam tapa-olhos em protesto contra violência policial | Maio do ano 2000, avenida Paulista, São Paulo, protesto de professores e profissionais de saúde. "Eu estava fotografando. Veio uma bomba de gás. Me virei para sair de perto. Foi quando a bala de borracha veio direto para o meu olho", conta o repórter fotográfico Alex Silveira. No início deste mês, 14 anos depois, a Justiça divulga sua conclusão sobre o caso: Silveira foi declarado culpado por perder 80% da visão do olho esquerdo. A conclusão dos desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo não ganhou grandes manchetes, mas repercutiu nas redações de jornais. Usando tapa-olhos como símbolo para a perda de visão de Silveira e a "falta de visão" da Justiça, jornalistas, militantes de direitos humanos, advogados e ativistas lançaram na última quarta-feira uma campanha de apoio ao fotógrafo. "Quando vi tanta gente usando tapa-olhos como os meus eu chorei, bicho. Chorei muito", diz Silveira ao #SalaSocial. "Fiquei sem palavras mesmo. Se parar para pensar, nos não somos uma classe extremamente unida. É muito lindo ver todos juntos apoiando não só a mim, mas ao Sergio e a todas as pessoas que também sofreram violência." Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Sérgio Silva, a quem Alex se refere, entende bem o que sente o colega. Não apenas por ser também é fotógrafo - mas porque no ano passado também perdeu parte da visão após levar um tiro de bala de borracha no olho esquerdo, durante os protestos de junho. "Todos nós, na reunião sobre o caso, entendemos como absurda a decisão da justiça. Parece que estão criando uma jurisprudência. Quem pode garantir que meu caso não vai ser julgado igual, assim como tantos outros que não estão em evidência?" O encontro foi organizado pelo Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e pela Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematógraficos do Estado de São Paulo. Entre os participantes, profissionais de jornais como a Folha de S.Paulo e Agora São Paulo (onde Alex trabalhava), além de entidades como Conectas, Artigo 19, Advogados Ativistas e Associação Brasileira de Imprensa. Além das fotos em seus perfis nas redes sociais, os profissionais decidiram usar tapa-olhos em seus ambientes de trabalho e nas ruas. A data da ação conjunta deve ser divulgada na semana que vem. Meses depois do disparo, quando a perda de 80% da visão foi confirmada, Silveira entrou com ação de danos morais e materiais contra o Estado. "A primeira instância saiu em 2007, com ganho para mim e indenização de 100 salários mínimos por danos físicos", conta Silveira. "Mas disseram que eu não tive perdas materiais. Eu perdi meu material fotográfico, que é bem caro. Recorri, o Estado também, e no fim das contas, depois de sete anos, o Estado me vem dizer que sou culpado pela situação." Segundo a justiça, Silveira também deverá pagar as despesas do processo, estimadas em R$ 1.200. A cifra é bem maior do que parece. "Tenho tido muito menos oportunidades de trabalho desde que tomei o tiro. Minha capacidade de trabalho mudou, mas não diminuiu, só funciono de outra forma." Silveira não participou do encontro porque estava no Amapá, fotografando. "Foi meu primeiro job de foto em 2014, não podia perder. <span >Meu portfólio é tão bom quanto era, talvez seja melhor, mas não me contratam única e exclusivamente porque eu sou um deficiente. Sim, hoje eu sou um deficiente." "Carta aos companheiros! Não é necessário dizer a vocês o quanto a posição tomada por esse Júri me afetou. Na prática, fiquei sem chão e me sentindo um lixo quando soube dessa notícia. Obviamente no primeiro momento foi um misto de indignação e auto piedade, coisa que quem me conhece direito sabe que passa logo, pois sou muito mais teimoso em tudo que faço. Mas passado o susto da notícia, me veio o pior dos sentimentos, que foi o de me sentir literalmente “um boi de piranha" por tudo que vem acontecendo já há um tempo e com vários de nós. (Obviamente que estou citando a era pós-ditadura), na qual saímos pra trabalhar com convicção que somos abonados pela constituição e pelo direito de exercer nossa profissão livremente. E é isso que mais me preocupa e amedronta no momento. Pois permanecendo este parecer ridículo, todos nós estaremos em um grande perigo de uma nova ditadura, mas agora velada de interesses mesquinhos e danosos, e dando para os agentes do estado um Salvo Conduto no qual o despreparo desses mesmos, certamente, causaram muitos danos, físicos, morais e constitucionais, mas isso tudo é muito óbvio. Sobre essa decisão realmente não consegui encontrar outra forma de explicar tal absurdo: Sim eu estava lá no cumprimento de minha profissão, entendeu o Juiz. Sim, foi a polícia a responsável pelo tiro que me atingiu no rosto (bala de borracha) Mas julgou com isso que eu tenho culpa por ter me colocado na frente da bala rs (podem rir, isso realmente foi cômico). E deixou claro que eu deveria ter deixado o local assim que o confronto começou. E o mais bizarro e perigoso "pra todos nós" Ele entendeu que ao permanecer no local eu "assumi o risco" de ter tomado o tiro. Bem, não acho que seja necessário falar sobre isso aqui entre nós, mas, alguém aí cobre, seja lá o que for, sentado na redação?? Obviamente não! Enfim, no fim das contas entendi com tudo isso que essa decisão tem uma clara intenção de "colocarmos em nosso lugar". Acredito que essa causa é maior que todos nós. Perdemos a nossa individualidade e nos tornamos um só Repórter, essa luta agora é de todos nós. Alex Silveira" | 2014-09-12 17:39:15 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140912_salasocial_jornalistas_tapaolho_rs.shtml |
brasil | Em artigo, estudante analisa conteúdo de três publicações. 'Como ter orgulho de ser negra, se o conteúdo estimula embranquecimento?' | Revistas excluem adolescentes negras: 'Estou no Brasil, mas me sinto na Rússia' | A pedido da BBC Brasil, a estudante de Jornalismo Isabela Reis analisou o conteúdo de três revistas voltadas para o público adolescente em busca de exemplos concretos da falta de representatividade de meninas negras na mídia. O artigo abaixo faz parte de um especial que busca dar voz a jovens nos principais debates que mexem com o Brasil. A invisibilidade dos negros na mídia brasileira não é assunto novo, mas as revistas para o público adolescente revelam um quadro cruel de exclusão. Em um país onde 57,8% das meninas de 10 a 19 anos se declaram pretas ou pardas (categorias cuja soma é comumente usada para medir a população negra), as publicações juvenis não as enxergam. Somente as brancas estão nas páginas. Não há diversidade. É difícil crescer lidando com produtos que não te contemplam. Como explicar para uma pré-adolescente negra, em plena formação de identidade, que ela é bonita, se a revista preferida ignora seu tom de pele? Como enaltecer a beleza afro, se o conteúdo estimula o embranquecimento? Como acreditar que o crespo é normal, se as reportagens só exibem cabelos lisos? Estamos no século 21 e parece que paramos no tempo. Nós queremos existir. As edições de agosto das três principais revistas para adolescentes do país omitem a população negra. Atrevida, Capricho e Todateen: 294 páginas, apenas cinco fotos de adolescentes pretas ou pardas. Na Capricho, uma imagem estava num anúncio; outra apresentava a nova integrante da equipe de leitoras que colaboram com a revista. Na Todateen, duas fotos estavam no mural de fãs; a terceira, como na concorrente, era da equipe de colaboradoras. E só. A Atrevida não trouxe uma adolescente negra. As cantoras e atrizes pretas ou pardas conseguiram espaço nas publicações pela fama, não pela cor. Foram 114 páginas de padronização e exclusão. As redações sabem da composição do público. Quatro das cinco imagens foram enviadas por leitoras negras. Elas compram, leem, se interessam, interagem, participam, colaboram. Elas estão presente e são ignoradas. Não havia um editorial de moda com modelos negras, uma seção de penteados para cabelos cacheados e crespos ou uma dica de maquiagem para pele negra. As revistas abordam bullying, sexo, masturbação, compulsões, vícios, sempre com personagens brancas, como se as questões não afetassem ou não interessassem as negras. O racismo também não foi pauta. Estamos em 2014, as pessoas ainda xingam negros de "macaco" e a juventude negra está sendo massacrada. O Mapa da Violência 2014, da Flacso Brasil, denunciou aumento de 32,4% nos homicídios de negros de 15 a 24 anos entre 2002 e 2012. Para cada jovem branco que morre, 2,7 jovens negros perdem a vida. E ninguém toca no assunto. As revistas não responderam às tentativas de contato. Se retornassem, conseguiriam justificar? É possível explicar a predominância das brancas nas páginas, quando elas são apenas uma parte das meninas de 10 a 19 anos? Se houvesse lógica nos números, 57,8% das imagens deveriam ser de meninas negras. Não é o que acontece. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Somos aproximadamente 9,7 milhões de cores, de cabelos com personalidade própria, de bocas grandes, de narizes largos, de sorrisos lindos, de leitoras, de público que vai pagar pelas revistas, de lucro. E ainda assim, não estamos lá. A mídia nos vende uma realidade que não existe. Vivemos no Brasil, o país da miscigenação. Ao abrir uma revista, me sinto na Rússia. É cruel com as crianças que crescem com o sentimento de não pertencer ao universo apresentado nas revistas. É cruel com as adolescentes que se convencem que, ao alisar o cabelo e parar de tomar sol, vão se encaixar no padrão irreal. É cruel com as famílias que precisam trabalhar em dobro para promover a aceitação. Deviam ter as revistas como aliadas, mas elas são, na verdade, um desserviço. *Isabela Reis é estudante de Comunicação Social da UFRJ e tem 18 anos | 2014-09-12 08:39:05 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140912_isabela_artigo_cq.shtml |
brasil | Em entrevista à BBC, Valneide Nascimento dos Santos diz não saber se governo do PSB será melhor que o de Lula e que cotas raciais devem ter horizonte de 10 anos. | 'Tivemos medo de errar', diz coordenadora de Marina sobre política para religiões afro | A coordenadora nacional de promoção da igualdade racial da campanha de Marina Silva diz que sua equipe errou ao não detalhar políticas para religiões como o candomblé e a umbanda - questões consideradas de primeira importância por representes da militância afrobrasileira. "Como Marina, sou protestante e não tinha um acúmulo de conhecimento sobre políticas específicas para religiões de matriz africana", diz Valneide Nascimento dos Santos, em entrevista exclusiva à BBC Brasil. Filiada ao PSB há 17 anos - "meu primeiro, único e último partido" -, Santos demonstrou diversas vezes admiração pelo ex-presidente Lula, criador de políticas como o Brasil Quilombola (destinado a comunidades tradicionais) e das cotas para estudantes negros em universidades. "Se [o governo Marina] vai ser melhor que o de Lula, não sei. Queremos que seja no mínimo igual", afirma. Em conversa por telefone, a coordenadora de campanha adianta que a política de cotas raciais de Marina deve ter horizonte máximo de 10 anos. "Não quero que meus filhos e netos sejam cotistas daqui a 20 ou 30 anos", diz. BBC Brasil: Que acha das críticas sobre as políticas de Marina para religiões de matriz africana? Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Valneide Nascimento dos Santos: Não detalhar foi um erro nosso. Como a Marina, eu que sou a coordenadora nacional sou protestante e não tinha um acúmulo de conhecimento sobre políticas específicas para religiões de matriz africana. Então deixamos para os militantes do PSB de Salvador e da coligação que viessem somar posteriormente. Não foi uma falha do programa, foi uma falha nossa enquanto ativistas negros. Nós deixamos de colocar porque não tínhamos um entendimento sobre como deveria ser, na época. BBC Brasil: Então o programa será alterado? Valneide: Não. Se você pegar o programa, já estão incluídas as políticas. O que falta é o detalhamento. Faltou o compromisso com religiões africanas, que nós sabemos que são muito perseguidas pelos evangélicos. Sabemos de terreiros no Rio de Janeiro que foram tocadas fogo. Não queremos que isso se repita. Eu, que estou na coordenação, Marina, que é evangélica, e alguns companheiros, que são da academia, não temos acúmulo de conhecimento. A gente ficou com medo de errar e ter problemas futuros, entendeu? BBC Brasil: Quais são os comentários de Marina em relação à liberdade religiosa? Valneide: Ela reconhece a dificuldade do povo de religiões africanas em participar de uma política com mais atuação e visibilidade. Ela mostrou em todas as conversas vontade de fazer as pessoas verem a importância desses cultos como os demais cultos da sociedade. Ela sempre demonstrou abertura em todos os sentidos, não só ela como o Eduardo [Campos]. Eles sempre falaram a mesma língua. BBC Brasil: Marina diz querer manter a política de cotas raciais "como política emergencial, temporária, com data para terminar". O que significa ser "temporário e com data para terminar"? Valneide: Nós defendemos cotas com data de dez anos. Dez anos dá para fazer uma avaliação. Não defendemos cotas permanentes, vemos isso como retrocesso. BBC Brasil: Qual será o horizonte final da política de cotas raciais? Valneide: Não tenho uma data para falar. Defendemos no máximo 10 anos. BBC Brasil: As cotas de universidades começaram no início do governo Lula. Não se passaram 10 anos? Valneide: Você vê que na UNB começou a acabar. Já está sendo discutido, a cada ano diminuem as vagas para negros e negras e estão entrando as cotas sociais, que é algo que acreditamos que vai prevalecer futuramente. BBC Brasil: Muitos ativistas do movimento negro diz que racismo não tem a ver com pobreza. Valneide: Tem muitos negros e negras que não defendem cotas para negros, em espécie nenhuma. A gente respeita a opinião de todos, mas tem que respeitar também o partido e a proposta da coligação. Tem que acreditar e ver para crer. É igual Bolsa Família. Concordamos com ele, mas não podemos deixar ter neto e bisneto de Bolsa Família. Não quero que meus filhos e netos sejam cotistas daqui a 20 ou 30 anos. BBC Brasil: Qual será a política para quilombolas? Valneide: O governo do presidente Lula, em 2003, avançou muito. Criou a esperança, abriu portas para todos nós para o reconhecimento e a titularização [das terras quilombolas]. Lula foi o cara que criou o "Brasil Quilombola". A presidente Dilma não avançou em nada, parou. Queremos dar continuidade ao "Brasil Quilombola’ que o Lula criou. Não é copiar e colar, é dar continuidade a algo que está dando certo. BBC Brasil: Se a ideia não é copiar e colar o programa de Lula, qual será a diferença? Valneide: É dar continuidade ao que o presidente Lula com muita sabedoria criou e Dilma engavetou. BBC Brasil: A senhora faz duras críticas à Dilma Rousseff e muitos elogios a Lula. O governo Marina em relação ao movimento negro será melhor que o de Lula? Valneide: Se vai ser melhor, não sei. Queremos que seja no mínimo igual. Vamos abrir as portas para o movimento negro e ouvir. Foi o que Lula fez. A nossa defesa com Marina, e ela participou do governo Lula, é que a população negra seja ouvida, não queremos ser só coadjuvantes. Não vamos só votar, queremos ser votados e participar da gestão. Dilma não abriu para a sociedade. | 2014-09-12 01:54:18 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140911_salasocial_eleicoes2014_coordenadora_marina_rs.shtml |
brasil | Militantes questionam políticas para religiões africanas,comunidades quilombolas, cotas raciais e vínculos com o movimento negro | Única presidenciável negra, Marina sofre resistência entre afrodescendentes | "Brasileira nata, nascida em Rio Branco - AC, no dia 08/02/1958, do sexo feminino, cor/raça preta", diz o documento do Tribunal Superior Eleitoral que oficializa a candidatura de Marina Silva à presidência. Em 2010, quando disputou o Planalto pela primeira vez, Marina disse querer ser "a primeira mulher negra, de origem pobre, presidente da República Federativa do Brasil". Quatro anos depois, ela aparece, segundo o Ibope, na liderança de intenções de voto entre eleitores brancos, mas atrás de Dilma Rousseff entre os negros e pardos. Apesar de ser a única entre os três principais candidatos a dedicar um capítulo inteiro do programa de governo à população negra, a ex-senadora não é percebida como representante dessa parcela dos eleitores. Evangélica, filha de mãe mestiça e pai negro, Marina é analisada com desconfiança por professores universitários, institutos de pesquisa, coletivos, organizações sociais e ativistas ouvidos pela BBC Brasil. As críticas mais frequentes questionam a postura da candidata sobre temas importantes à militância negra. Liberdade para religiões de matriz africana, registro de terras para comunidades quilombolas, viabilização de políticas afirmativas, como cotas raciais, e a falta de vínculos com o movimento foram os principais pontos levantados pelos entrevistados. "Ficamos muito felizes que alguém se autodeclare negro, mas em hipótese alguma Marina representa a luta dessa população", diz o professor Paulino Cardoso, presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN) e pesquisador da cultura afrobrasileira há 30 anos. "Somos [os negros] os mais miseráveis entre os miseráveis no Brasil", afirma Cardoso. "Será que o Estado enxuto que ela promete, de caráter neoliberal, com Banco Central independente, vai conseguir financiar nossas políticas sociais? Os negros dependem muito dessas iniciativas, elas custam mais de R$ 12 bilhões ao governo e são mal vistas pelas oligarquias", diz o professor. O comitê de Marina assegurou que a candidata responderia pessoalmente às questões enviadas sobre o tema pela BBC Brasil. Após desmarcar duas vezes o compromisso, os assessores deixaram de atender a reportagem. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast A doutora em psicologia Elisa Nascimento, presidente do Ipeafro (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros), diz que os aliados políticos de Marina podem comprometer sua postura em relação à tolerância religiosa. À imprensa, Marina Silva disse repetidas vezes defender um "estado laico". A candidata, entretanto, tem o apoio de importantes lideranças políticas evangélicas - caso do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), que já disse "profetizar o sepultamento dos pais de santo" e o "fechamento dos terreiros de macumba". "Tenho visto Marina tentar desvincular religião de seus posicionamentos, mas fica evidente que suas crenças influenciam sua ação política. Há neopentecostais que repetidamente desrespeitam o candomblé e a umbanda. Há terreiros sendo invadidos e destruídos. Religiosos sendo perseguidos. Marina não se posiciona e tem apoio de alguns dos principais inimigos destas religiões." Ouvida pela BBC Brasil, Valneide Nascimento, coordenadora nacional de política e promoção da igualdade racial da campanha, reconhece falhas. "Não detalhar (a política sobre religiões) foi um erro nosso", disse à reportagem, por telefone. "Como Marina, eu que sou a coordenadora nacional também sou protestante e a gente não tinha um acúmulo de conhecimento sobre religiões de matriz africana", diz. "Nós deixamos de colocar porque não tínhamos um entendimento sobre como deveria ser, na época." Valneide, no entanto, nega outra alteração no programa de governo - no fim de agosto, o PSB eliminou trechos do capítulo destinado aos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e transexuais). A mudança foi justificada na época como "falha no processo de editoração". "Não vamos alterar. As religiões estão no programa, o que faltou foi o detalhamento. Mas vamos anunciar esses detalhes pessoalmente no dia 20, em Salvador." Segundo dados de 2013 da Fundação Cultural Palmares, de pelo menos 1.281 comunidades quilombolas em processo de oficialização, só 21 tiveram seus territórios efetivamente titulados, como recomenda a Constituição. O programa de governo divulgado por Dilma Rousseff não cita quilombolas em nenhum momento. Já Aécio Neves menciona a "implementação de programas de apoio e auxílio a comunidades quilombolas", além de referências a "setores vulneráveis" como "mulheres, crianças, idosos, afrodescendentes, LGBT, quilombolas, ciganos, pessoascom deficiências, vítimas da violência e indígenas" (veja mais no quadro). Além de citar quilombolas 34 vezes, o programa de Marina é o único a dedicar um capítulo ao tema. No texto, ela promete "acelerar os processos de reconhecimento e titulação de terras quilombolas", "melhorar o abastecimento de água, rede de esgoto e coleta de lixo", "coibir a especulação imobiliária em áreas de quilombos e arredores", entre outras iniciativas. Mesmo assim, suas propostas encontram resistência. "Culturalmente, os limites da negociação de terras para comunidades tradicionais esbarra na agropecuária. A demarcação nunca vai ser interesse dos proprietários", diz João Jorge Rodrigues, mestre em Direito Público e presidente do Olodum, na Bahia. "Como alguém pode anunciar uma série de políticas para comunidades quilombolas e ao mesmo tempo ter um dos líderes do agronegócio como vice?", indaga. Paulino Cardoso, da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), também é cético. "Marina se alia a bancos e oligarquias para fazer o que chama de nova política. Papel aceita tudo. A gente precisa saber como vai ser feito." Os três principais candidatos à presidência nestas eleições defendem a política de cotas raciais em universidades. Em seu programa de governo, a ex-senadora diz "reafirmar a importância das cotas para população negra brasileira, como medida temporária, emergencial e reparatória da dívida histórica, com data prevista para terminar". Já Dilma Rousseff afirma pretender "tornar realidade a Lei de Cotas no serviço público federal, garantindo-lhe a mesma efetividade já alcançada pela lei de cotas nas universidades". Aécio Neves vai na mesma linha, pregando a "defesa e manutenção das ações afirmativas de inclusão social, inclusive cotas, em razão de raça". Viúva do ex-senador Abdias Nascimento, criador do Teatro Experimental do Negro nos anos 1940 e premiado pela Unesco por seu pioneirismo na luta pelos direitos da população negra, Elisa Nascimento, a presidente do Ipeafro, critica o texto do programa da candidata do PSB sobre cotas. "Ela fala sobre as cotas como medida com data prevista para terminar, mas não vejo como determinar uma data. Estamos longe de uma situação social de equilíbrio, sem desigualdades estatísticas entre negros e brancos", diz. Segundo o IBGE, 66,6% dos estudantes brancos de 18 a 24 anos frequentam universidades, enquanto 37,4% dos negros ou pardos estão no ensino superior. Ouvida pela BBC Brasil, a coordenação do programa racial de Marina afirma que 10 anos seriam o horizonte esperado para a transição de cotas raciais para cotas sociais. "A gente não quer que o negro fique para sempre dependendo das cotas", diz Valneide Nascimento. "O recorte racial nas cotas é necessário, porque pobreza e racismo são coisas diferentes", contra argumenta Elisa. "O fator racial é outro e não se resolve com políticas generalistas." Para a médica Jurema Werneck, da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras, a falta de propostas efetivas para a população negra é um problema comum a todos os candidatos. A possibilidade de uma presidente negra "é simbolicamente importante", diz a ativista. "Mas este é um simbolismo que fala mais do passado, da luta que o movimento negro travou e que permitiu que ela chegasse lá", diz. "Marina Silva e nenhuma outra candidatura à presidência se colocaram [sobre políticas para os negros]. A classe política ainda está muito atrasada nisto." Para Thaís Santos, do Coletivo Negro, da USP, a candidata se declarar ou não negra "não significa muito". "Num país onde muitos dos negros não se entendem como negros, não a entenderão também. Se ela declarasse isso nas propagandas, se isso fosse parte de sua campanha, era outra coisa." A biografia da candidata, publicada em seu site oficial de campanha, não menciona sua cor. Ainda assim, Dennis de Oliveira, professor da USP e coordenador do coletivo Quilombação, considera importante que afrobrasileiros ganhem espaço em esferas de poder - e cita Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. "Marina militou com seringueiros, mas não me lembro de políticas para a população negra", afirma. "Ela é muito mais percebida pela questão ambiental do que pela identificação com os negros." Segundo a coordenadora de políticas raciais, Valneide Nascimento, "o programa foi construído com a participação de representantes da sociedade e da militância em todo o Brasil". Questionada sobre quais grupos de militância participaram, Nascimento não soube responder. "Eram muitos, a gente chamava e eles iam." | 2014-09-11 03:39:18 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140910_salasocial_eleicoes2014_marina_movimentonegro_rs.shtml |
brasil | Alessandra Orofino, da rede Meu Rio, diz que brasileiro não perdeu fé na política, mas se depara com limites da democracia representativa. | Artigo: Jovens têm de exigir espaço e não esperar inclusão | No início do ano passado, uma série de estudos feitos por cientistas da University College de Londres ganhou as manchetes do mundo todo ao afirmar que a solidão era um risco à saúde comparável ao tabagismo e ao alcoolismo. Estar junto de outros seres humanos, compartilhar espaço, recursos e saberes, conviver. Coisas simples, que fazemos todos os dias, e que agora, aparentemente, são consideradas importantes para nossa saúde física e mental. São essas mesmas coisas que nos impulsionaram a viver em sociedade: a necessidade, por razões afetivas, econômicas ou estratégicas, de estar perto do outro. E ao viver em sociedade, descobrimos a delícia e o inferno do convívio e da diferença. Nós nos construímos na alteridade. É justamente da mistura que surgem a inovação, o dinamismo, a criatividade e a capacidade de sonhar com aquilo que ainda não conhecemos. Mas é também dela que nascem o conflito, a dificuldade, as restrições à nossa própria liberdade. A política é a arte de mediar esses conflitos para maximizar o calor do convívio. Na política, encontramos uma forma de transcendência, de construção de um destino comum. Sem política, não há compartilhamento possível. Eu sou de uma geração que teve a sorte de nascer em um país estável politicamente e em franco crescimento econômico. Nos disseram que seríamos felizes quando conseguíssemos todos aceder às estruturas de consumo. E aí, algumas décadas depois, descobrimos que o que precisávamos mesmo era aceder às estruturas de cidadania. Porque o consumismo é o terreno da solidão, e a cidadania é onde nos encontramos com esse outro de quem desesperadamente precisamos para sobreviver. Ao despertar para a importância do que é comum, compartilhado por todos, percebemos que as instituições políticas que havíamos criado para zelar por esse comum já não estavam dando conta do recado. O jovem brasileiro não perdeu sua fé na política. A fé na política está em cada coletivo, em cada horta urbana, em cada ocupação, em cada peça de teatro, em cada roda de dança e de música a céu aberto, em cada grupo de ciclistas, skatistas, surfistas, jornalistas, poetas, funkeiros. Em cada pessoa que dedica parte de sua vida à construção do comum. Perdemos a fé nos instrumentos. Porque a democracia representativa começa a mostrar suas limitações. Porque fazer campanha nesse país continental é caro, e quando é caro, quem paga a conta muitas vezes acaba escolhendo as regras do jogo. Vivemos a política regida pelos donos da bola. Porque estamos cada vez mais conectados, atentos, dispostos e capazes de integrar um só lugar sem estar fisicamente ou temporalmente juntos. Essa eliminação das barreiras do tempo e do espaço criou novas praças públicas, nos recantos da Internet. Essas praças não têm lotação: podem acomodar todas as nossas vozes e por isso dispensam representação. Nelas, nossas escolhas podem se dar de forma direta. Há três anos, eu ajudei a criar uma organização chamada Meu Rio. A palavra ajudar, aqui, é crucial: o Meu Rio também é uma construção feita no convívio. Nasceu de um sonho do meu amigo Miguel, que virou o meu sonho, que virou o sonho de uma equipe muito apaixonada, que virou o sonho de mais de 150 mil cidadãos que agora compõem essa rede. Nosso objetivo: dar aos cariocas ferramentas e metodologias para que eles possam se mobilizar mais facilmente por diferentes políticas públicas que impactam a vida de quem mora no Rio. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Trazer o cidadão pro centro da vida política, exigir e criar esse espaço, ao invés de esperar que as mesmas instituições cuja existência depende da exclusão de muitas vozes decidam incluí-las de fato. Nesse tempo, os membros da Rede Meu Rio já conquistaram um monte de coisas, ocupando o mundo digital e as ruas da cidade. Pais e professores se mobilizaram para, com apoio de milhares de pessoas, evitar que uma das melhores escolas públicas da cidade virasse estacionamento. Mães que procuram seus entes queridos se mobilizaram para dar à cidade a primeira delegacia especializada em pessoas desaparecidas. Moradores de vários bairros da cidade se uniram para que um projeto pioneiro de reciclagem e permacultura em uma favela não fosse destruído. Organizações, movimentos e cidadãos pressionaram os deputados até a aprovação de uma emenda à constituição estadual que exige ficha limpa a todas as pessoas que ocupam cargos de confiança dentro do governo. Agora, vamos além: dentro de um mês, abriremos inscrições para jovens de todo o país que queiram levar nosso modelo pras suas cidades através da Rede Minhas Cidades. Afinal, se nossa saúde, nossa capacidade produtiva, nosso ímpeto criativo e no fim das contas nossa felicidade dependem do convívio, é necessário dar a todos voz ativa nos processos de decisão que regem esse convívio. Não existe colaboração sem direito: ninguém vai construir uma cidade melhor se essa cidade não lhe pertence. Ninguém vai construir um país melhor se esse país não lhe pertence. Cidadania não se ensina nem se cobra, cidadania se pratica quando o direito aos frutos de uma construção comum é de fato de todos aqueles que participaram dessa construção. Em poucas semanas, seremos chamados às urnas. O voto é uma conquista histórica, que minha geração teve a honra de herdar. Mas espero que para os milhões de jovens brasileiros que começam agora suas vidas públicas, o voto seja apenas o início de uma jornada. E que nos próximos quatro anos, a gente consiga criar outros espaços de decisão, para que nossas vozes, em sua infinita pluralidade, guiem de fato os destinos do nosso convívio. *Alessandra Orofino, 25 anos, é formada em Economia e Direitos Humanos pela Columbia University, em Nova York. Há três anos, ela cofundou a Rede Meu Rio, plataforma que une cidadãos interessados em influenciar processos de decisão e criar políticas públicas para a melhoria da vida na cidade. | 2014-09-11 02:57:46 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140910_artigo_politica_rm.shtml |
brasil | Para analistas ouvidos pela BBC Brasil, partidos tradicionais têm dificuldades em contemplar demandas das novas gerações. | Políticos 'ignoram grito de jovens por maior representatividade' | Governantes e políticos ainda não foram capazes de responder às demandas, vindas principalmente de jovens, por mais representatividade na política, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil. Para eles, a desconfiança e a sensação de distanciamento dos jovens em relação ao sistema político, expressas principalmente durante as manifestações de junho de 2013, ainda estão presentes a três semanas do primeiro turno das eleições. Para David Fleischer, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília, a incapacidade de implementar os pedidos das ruas fez com que o sentimento de frustração com as instituições políticas evidenciado em 2013 – especialmente entre as gerações mais novas – continuasse neste ano. "Esse foi o grande grito do ano passado: eu não me sinto representado. Os políticos ensaiaram fazer algumas reformas no sistema político, mas não deu em nada, não reformou nada", disse Fleischer. Segundo Benedito Tadeu César, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a juventude se sente distante das formas institucionais de política. "Esta juventude se sente órfã. O jovem não tem interesse por essa política que está aí. Ela não se reconhece nesses intrumentos", disse, acrescenteando que o atual modelo é fruto da sociedade industrial do século 19. As demandas por novas formas de representatividade e participação políticas estavam no centro das manifestações de 2013 juntamente com reivindicações por melhorias na saúde, transporte e educação. Durante as manifestações, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, propôs a convocação de um plebiscito que autorizasse uma constituinte exclusiva para a reforma política. Mas a proposta recebeu forte oposição no Congresso e acabou não progredindo. "Fizemos um compromisso com a reforma política. Enviamos para o Congresso essa reforma política, não foi aprovada. Aliás, eu acredito que reforma política no Brasil vai exigir a participação popular e a consulta popular atráves de um plebiscito”, reiterou Dilma durante o primeiro debate presidencial desta campanha, transmitido pela TV Bandeirantes no dia 26 de agosto. A necessidade da reforma política foi um ponto levantado por leitores da BBC Brasil em discussões nas redes sociais. O leitor Daniel Lopes afirmou que, se o "sistema não mudar", novas manifestações podem ocorrer, enquanto que Gean Claudio Araujo chegou a propor até mesmo a extinção dos partidos políticos. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Diante da insatisfação o que percebem como promessas não cumpridas, da desconfiança em relação aos políticos e da crescente demanda por representação, os jovens estão buscando outras formas de participação política, inclusive por meio da internet e redes sociais. "Você tem uma enorme massa com anseios (por mudança). (Eles) passaram a ter direitos e estão cobrando esses direitos, mas não têm canal de expressão disso", disse Tadeu César. Isso, diz ele, faz com que o engajamento político da juventude seja fragmentado, em um processo que não ocorre apenas no Brasil, mas também em outras partes do mundo. "O grande palanque hoje virou as redes sociais, onde cada um vai e diz o que bem entende", disse ele. "É muito Facebook, eu vou lá, eu digo o que está me incomodando". Isso não significa o fim do distanciamento dos jovens com a política. Apesar do interesse deles ter crescido com os protestos, "a alienação continua", com "uma grande maioria que continua apática e afastada", disse Fleischer. Para Fleischer, estas características do eleitor mais jovem se refletem também na disputa pela Presidência, em que a candidata Marina Silva (PSB), que diz representar "novas formas de fazer política", é a maior beneficiada. "Os governos não entenderam muito bem essas demandas. Então, essa frustração continua. Em parte, nós vemos isso desaguar num grande tsunami de apoio a Marina Silva", disse. De fato, segundo pesquisa espontânea feita pelo Datafolha, na qual o nome dos candidatos não é apresentado ao entrevistado, Marina tem 28% das intenções de voto entre os eleitores de 16 a 24 anos. Dilma (PT) tem 23% e Aécio Neves (PSDB) tem 10% das intenções. A pesquisa, divulgada no dia 4, tem margem de erro de dois pontos percentuais. Mas ainda é difícil prever se isso se refletirá nas urnas. "Você tem uma insatisfação que não está mais latente, está manifesta. E me parece que está se expressando nessas eleições. A Marina tem sido beneficiada por isso, mas não sei por quanto tempo isso se mantém", diz Tadeu César. | 2014-09-11 09:54:02 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140911_salasocial_eleicoes_jovens_preocupa_hb.shtml |
brasil | Segundo relatório, número aumentou 33% 'em passado recente'; governo rebate dados e cita legislação 'protetora' especial para índios. | Brasil contesta críticas da ONU sobre aumento de índios presos | O Brasil contestou críticas da ONU sobre o forte aumento do número de índios presos no país. As críticas foram feitas em um relatório sobre o Brasil apresentado em um encontro no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, que discute o problema da detenção arbitrária no mundo. O documento aponta para problemas como a superlotação dos presídios brasileiros, o "uso excessivo" da privação de liberdade como punição, mesmo em crimes sem violência, além do elevado número de pessoas detidas sem terem sido julgadas. De acordo com os autores, um grupo de trabalho da ONU que visitou prisões brasileiras no ano passado, o número de índios detidos no Brasil cresceu 33% nos últimos anos. "Os índios são frequentemente discriminados, seja com a aplicação de medidas preventivas ou com a punição imposta, que geralmente envolve penas severas", declarou Mads Andenas, presidente e relator do grupo de trabalho sobre detenção arbitrária. A delegação brasileira que participou da reunião, realizada no âmbito da 27ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, declarou que "é incorreto dizer que o número de índios presos aumentou 33% em um passado recente". Citando dados do Ministério da Justiça, a embaixadora do Brasil nas ONU em Genebra, Regina Dunlop, disse que "o número de índios presos aumentou apenas 13% entre 2010 e 2012". "Se for levada em conta a população total do Brasil, os índios presos representam apenas 0,16%. Há uma legislação penal especial para os índios que concede um regime diferenciado e protetor", argumentou Dunlop. Foi a primeira vez que o Brasil se pronunciou sobre as conclusões do grupo de trabalho da ONU sobre detenção arbitrária. O relatório da ONU já havia sido divulgado, mas foi oficialmente apresentado para debates na 27ª sessão do Conselho de Direitos Humanos, iniciada na quarta-feira. Os especialistas visitaram, em março de 2013, prisões em Brasília, Campo Grande, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo, antes de crises como a do presídio de Pedrinhas, no Maranhão, que não consta do documento. "O Brasil tem uma das maiores populações carcerárias do mundo, com mais de 550 mil pessoas. O que é mais preocupante é o fato de que 217 mil presos aguardam julgamento cumprindo prisão preventiva", afirmou o presidente do grupo de trabalho. "Em alguns casos, o número de presos atinge o dobro da capacidade do local", diz Andenas. Segundo o documento, a pena de privação de liberdade no Brasil "está sendo usada como primeiro recurso em vez do último, como estipulam as convenções internacionais de direitos humanos". Na reunião, a delegação brasileira não comentou as críticas em relação à aplicação sistemática de penas de prisão ou à superpopulação dos presídios, apenas "lamentou" que o grupo de trabalho da ONU não tenha levado em conta as observações feitas pelos representantes do governo. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast A delegação brasileira contestou outro elemento do relatório, que aponta "problemas" em relação à internação compulsória de viciados em drogas, "reforçadas por ocasião da Copa do Mundo e da Olimpíada" e que tem resultado em "detenções indiscriminadas", segundo Andenas. "O relatório comete um erro ao afirmar que a hospitalização compulsória de usuários de droga é algo comum no Brasil", rebateu a embaixadora Regina Dunlop. "Os viciados não são detidos por um longo período sem nenhum direito de recorrer", disse Dunlop, acrescentando que em São Paulo, desde o início do programa, há um ano, apenas quatro pacientes foram hospitalizados por decisão judicial e a pedido das famílias. Ela também disse "lamentar generalidades no relatório sobre o sistema judiciário do país e a política penal referente aos menores de idade e também criticou que alguns dados do documento não especificavam as fontes de informações consultadas. | 2014-09-11 02:28:32 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140910_brasil_contesta_onu_indios.shtml |
brasil | Aos 25 anos, terena do Mato Grosso do Sul conta que já enfrentou desconfiança por sua pouca idade; questão das terras indígenas é foco de seu trabalho. | 'Quero devolver algo à minha comunidade', diz jovem índio que virou advogado | Luiz Henrique Eloy Amado tem 25 anos e é um dos poucos advogados no Brasil dedicados exclusivamente à demarcação e à reintegração de terras indígenas. Em depoimento à BBC Brasil, o índio terena - que se formou em Direito, fez mestrado na Universidade Católica Dom Bosco (MS) e se prepara para fazer doutorado em Antropologia - relata a resistência enfrentada por lideranças jovens dentro e fora de suas comunidades. Confira aqui os principais trechos do depoimento à repórter Paula Adamo Idoeta. "Deixei a aldeia Ipegui, de Aquidauana (MS), para cursar o ensino superior já pensando em devolver algo à minha comunidade. Fiz parte das primeiras levas de indígenas que tiveram acesso à universidade entre 2005 e 2006. Ali eu convivia com vários indígenas, e vi que o problema deixou de ser o acesso à universidade, passou a ser a permanência - os índios têm dificuldades financeiras, (se comunicam em sua) língua materna, ficam longe da comunidade, sofrem preconceito. Nos cinco anos do curso de Direito, em nenhum momento, os direitos dos povos indígenas foram abordados. Então fizemos um grupo de estudo sobre o tema, com acadêmicos e índios. Depois de me formar, comecei a atuar exclusivamente na área de questões coletivas e na demarcação de terras, porque as comunidades indígenas têm uma carência muito grande (de advogados). Faço oficinas nas comunidades sobre os direitos do povo indígena e atuo em processos de demarcação de terra e reintegração de posse. Na esfera criminal, defendo lideranças criminalizadas pela luta pela terra. Não atuo em casos de crime comum, apenas de índios que respondem processos por seu ativismo. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Um dos casos de maior destaque foi o do 'leilão da resistência', em dezembro, quando fazendeiros organizaram um leilão para arrecadar fundos para contratar empresas privadas para a segurança das fazendas. Só que na maior parte dos casos de lideranças indígenas mortas, tem sempre uma empresa de segurança ou um pistoleiro envolvido. Entramos com recurso e a Justiça Federal suspendeu o leilão; os fazendeiros recorreram e fizeram o leilão, mas conseguimos bloquear o dinheiro (cerca de R$ 1 milhão). O processo está correndo. (Nota: À época, os fazendeiros afirmaram que a contratação de seguranças serviria para garantir sua integridade física e de suas propriedades. O caso ainda está sendo discutido pela Justiça) O interessante é que foi a primeira vez que a própria comunidade indígena (entrou com a ação) para defender seus direitos, não a Funai ou o Ministério Público Federal (MPF). Também conseguimos o fechamento de uma empresa de segurança privada envolvida na morte de um indígena. Nesse caso, sou assistente de acusação da família. Nunca sofri ameaça direta (pela atuação como advogado), mas vários amigos dizem ter ouvido rumores e me alertam para que eu tome cuidado. Já fui perseguido por caminhonetes e tive que me esconder no mato. Hoje tomo vários cuidados e restrinjo minha rotina. A causa mais urgente para os índios hoje é, com certeza, a questão territorial. Um terço das terras indígenas do Brasil ainda não foi demarcado, e as que foram estão ameaçadas, seja pelas atividades mineradora e madereira ou pelas hidrelétricas. O Brasil adotou um modelo de desenvolvimento que não contempla os povos indígenas, vistos como empecilho. Passam por cima dos nossos direitos, e o Brasil é cobrado lá fora por isso. Nas minhas andanças pelo Estado, escuto muito das lideranças (indígenas) e dos fazendeiros uma revolta pela omissão do governo federal na questão. A percepção é de que o governo está de braços cruzados assistindo aos conflitos. As comunidades fazem retomadas (de terras) por conta própria, e o fazendeiro se vê no direito de se armar. Esse era o fundamento do leilão da resistência: 'o governo não está fazendo nossa segurança'. Isso tem crescido, a violência está crescendo. E nessa disputa os povos indigenas são as maiores vítimas. Vejo que as lideranças jovens sofrem muita resistência aqui. Uma vez, fazendeiros questionaram na Assembleia Legislativa do Estado (do Mato Grosso do Sul) se eu tinha (registro na) OAB para advogar em nome da causa terena, por eu ser jovem. Já cheguei a entrar em cartórios do fórum para pedir processos e me dizerem: 'Estagiário não pode pegar o processo'. Daí tenho que provar que sou advogado. Já vi até lideranças indígenas tradicionais fazerem críticas à juventude. Pessoas que estão há 20 ou 30 anos lutando veem o jovem falando e resistem. Falo não por mim, mas num contexto geral. Mas temos quebrado essa resistência quando começamos a dialogar, mostrando que não estamos substituindo ou concorrendo (com os mais velhos) - estamos a serviço da comunidade. Há jovens trabalhando pelas comunidades indígenas em várias áreas: estudantes brigando junto ao Ministério da Educação pela permanência dos índios no ensino superior, jornalistas dando visibilidade aos problemas e práticas culturais, antropólogos fazendo registros orais e contribuindo em laudos judiciais, algo que é fundamental em muitas causas. Ainda quero, nos próximos anos, prestar concurso para o MPF (Ministério Público Federal), na defesa das populações tradicionais (indígenas e quilombolas). Acho perfeitamente possível conciliar (as tradições indígenas) com a vida acadêmica. A pessoa tem que saber que está ocupando novos espaços, mas sem esquecer de suas raízes. Vivo em Campo Grande, mas com um pé na minha aldeia." | 2014-09-08 14:30:57 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140908_jovens_indigenas_salasocial_pai.shtml |
brasil | Relatório da OCDE divulgado nesta terça-feira mostra que países ricos gastam três vezes mais para formar estudante. | Brasil dá mais do PIB para educação que países ricos, mas gasto por aluno é pequeno | O Brasil já destina mais do seu PIB para educação do que os países ricos, mas o gasto por aluno ainda é pequeno, pelo que indica um novo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE). O país aparece em penúltimo no ranking de investimento por alunos no relatório, lançado nesta terça-feira, que compara resultados dos 34 países da organização, que reúne países ricos, e outros dez países em desenvolvimento. A educação de um brasileiro é feita com um terço do valor gasto com um estudante dos países ricos, em média, diz a OCDE. Mas o Brasil tem um número alto de alunos; quando o investimento é dividido pelo número de estudantes, ele se dilui. Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, o alto grau de repetência e evasão acaba inflando o número de alunos. A baixa qualidade do ensino também sobrecarrega o sistema. Dentro dos gastos públicos totais do Brasil, a educação até recebe uma atenção grande: em 2011, 19% de todo o gasto público do Brasil foi destinado para a educação. A média da OCDE é de 13%. O gasto público total em educação representou 6,1% do PIB, quando a média da OCDE é de 5,6%. Porém, quando divide-se o gasto pelo total de alunos, o país fica em penúltimo lugar. Gastou US$ 2.985 por estudante, enquanto a média da OCDE é de US$ 8.952. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast O Brasil têm muitos estudantes, principalmente nos ensinos fundamental e médio, onde as matrículas cresceram nos últimos anos. Nesses dois níveis de ensino estão matriculados 84,5% dos estudantes, mas a eles são destinados 75% dos gastos em educação. Segundo o relatório, as instituições públicas gastam 4 vezes mais por aluno do ensino superior do que do ensino fundamental - é a maior diferença entre todos os países que têm dados disponíveis. O professor Naércio Menezes, do Insper, diz que a discrepância ocorre também porque o Brasil ter um PIB menor do que diversos países da OCDE - ou seja, uma mesma porcentagem do PIB resulta em menos dólares no Brasil do que nos Estados Unidos, por exemplo. Dessa forma, segundo ele, a melhor comparação é com o PIB per capita, que leva em conta o tamanho da população. Nessa conta, o Brasil fica atrás dos países ricos. "Mas mais importante do que o gasto com educação é o resultado em termos de aprendizado. Quando fazemos essa conta, vemos que o Brasil gerencia muito mal esses recursos educacionais. Em matemática, por exemplo, 67% dos nossos alunos estão abaixo do nível 2 do PISA (exame internacional que avalia o nível de aprendizagem). Assim, precisamos mudar rapidamente a gestão dos recursos educacionais no Brasil", afirma. Já Francisco Aparecido Cordão, do Conselho Nacional de Educação, diz que o Brasil precisa gastar mais que os países desenvolvidos porque eles "já fizeram o dever de casa" - ou seja, estão muito mais avançados em educação que o Brasil. "Quatro porcento das nossas crianças com 8 anos de idade, embora tenham tido acesso ao ensino fundamental, não sabem ler e escrever. Mais da metade das crianças e adolescentes que concluíram o ensino médio ainda são analfabetos fundamentais. O Ideb mostra melhora, mas nosso resultados ainda estão muito longe dos da OCDE". Com isso, afirma, precisamos investir mais que outros países, tanto para capacitar nossos professores quando para recuperar esses alunos que não aprenderam. "O aluno que repete de ano, por exemplo, é um dinheiro jogado no lixo. Ele precisar aprender e passar de ano, porque fazer duas vezes a mesma série é jogar dinheiro no lixo." Para Cordão, o plano que destina 10% do PIB para a educação pode "ajudar a saldar uma dívida que países da OCDE já pagaram". O relatório da OCDE também destaca que adultos com ensino superior no Brasil ganham 2,5 vezes mais do que aqueles que cursaram apenas o ensino médio. Essa diferença nos rendimentos é maior que a média da OCDE e a segunda maior entre todos os países analisados. A análise também mostra uma peculiaridade brasileira: quem não fez ensino médio tem mais chances de conseguir emprego do que quem fez. Em 2012, a taxa de desemprego para quem tinha ensino médio foi de 5,1%, e para quem tinha menos do que isso foi de 4,1%. Esses números não levam em conta o salário que cada pessoa recebe - além disso, a menor taxa de desemprego é para quem fez ensino superior (2,9%). A OCDE também mostrou que, no Brasil, o número de jovens que não estudam nem trabalham, conhecidos como os "nem-nem", se manteve estável desde 2005, mas ainda é maior que a média dos países ricos (20% no Brasil e 15% nos países da OCDE). O estudo da OCDE mostra também que as universidades do Brasil têm o menor percentual de estudantes estrangeiros entre todos os países analisados. Eles são menos de 0,5% das matrículas do ensino superior e, desses, 27% vem de países que também falam português. "Não é surpresa, visto que o Brasil não oferece quase nenhum curso completo em inglês no nível superior", afirma o documento. Os principais rankings internacionais costumam considerar o número de estudantes estrangeiros - a lógica é que essa diversificação dos alunos beneficia o ambiente universitário para aprendizagem e pesquisa. O relatório também mostra que 23% dos estudantes brasileiros em faculdades no exterior estão nos Estados Unidos, 18% em Portugal e 10% na França. | 2014-09-08 15:25:39 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140908_relatorio_educacao_lab.shtml |
brasil | 'Discutir política me aproximou do meu pai', diz jovem moradora de Heliópolis que vota pela 1ª vez em outubro; BBC Brasil discute nessa semana o papel dos jovens na política. | Jovens ganham força como formadores de opinião na família | Em uma casa numa rua estreita de Heliópolis, maior favela de São Paulo, a jovem Fernanda Macedo de Araújo, de 17 anos, aprendeu que "tudo o que faz é política". Estudante do 3º ano do ensino médio, Fernanda é integrante de um grupo de participação juvenil organizado pela ONG Unas (União de Núcleos e Associações dos Moradores de Heliópolis e Região). Na sede da ONG, adolescentes participam de oficinas sobre direitos humanos, fazem campanhas para escolher lideranças regionais e organizam festas comunitárias e palestras. As eleições de outubro são parte do debate. "Acho importante discutir. Às vezes eu converso com o meu pai sobre o assunto enquanto assistimos ao jornal", diz Fernanda. "Ele ficou surpreso: não sabia que eu sabia tanto! Isso até aproximou a gente. Ele me diz: 'Não vota nesse cara porque ele não vale nada'. Um fala pro outro o que sabe e acaba influenciando o outro." Fernanda, que votará pela primeira vez em outubro, se insere em um perfil de jovens que, segundo analistas, está se tornando mais comum, sobretudo na nova classe média: mais familiarizados com a internet e bem informados que seus pais, esses jovens estão virando, a seu modo, formadores de opinião com cada vez mais influência em suas famílias e comunidades. "Os jovens são um terço do eleitorado (cerca de 45 milhões de pessoas), mas são, em média, mais escolarizados e conectados que seus pais", diz à BBC Brasil Renato Meirelles, presidente do instituto de pesquisas Data Popular e autor de estudos sobre o tema. "Esse jovem não quer só escutar, quer contestar. Muitos não acreditam em partidos ou organizações verticais e se organizam por causas e bandeiras." O papel dos jovens na política é o tema da terceira semana da cobertura especial de eleições da BBC Brasil. A participação juvenil nas eleições de 2014 foi um dos principais assuntos levantados pelos leitores da BBC Brasil em consultas em fóruns nas redes sociais. Para muitos, a juventude está descrente com os rumos da política e pouco interessada em tomar parte no processo eleitoral. De fato, muitos dos jovens consultados pela reportagem dizem que eles próprios e seus amigos falam pouco de política em casa, leem sobre o tema apenas superficialmente e não se veem representados por quem está no poder. E o próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE) diz que o número de eleitores entre 16 e 17 anos caiu 30% em relação ao eleitorado de 2010 - embora esse fenômeno não se deva necessariamente ao desinteresse político, mas sim ao envelhecimento da população e a mudanças na metodologia da contagem. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Mesmo assim, uma pesquisa realizada em 2013 pela Secretaria da Juventude da Presidência da República aponta que 54% dos entrevistados de 15 a 29 anos viam a participação política como muito importante – apesar de 38% dizerem não gostar do tema. Para Renato Meirelles, há entre os jovens o menor índice de crença em partidos políticos. "Mas isso não quer dizer que eles não acreditem no poder do voto." É o caso do ativista e produtor cultural Paulo Ishizuka, 24 anos, de Guarulhos (SP). Ativo nos protestos de 2013, ele agora vê no pleito de 2014 a chance de levantar bandeiras caras aos que saíram às ruas no ano passado. "Apesar do descrédito nas eleições, ainda boto fé por ser o único modo de podermos colocar representantes (no poder)", diz ele. "Dois anos atrás, não tinha ninguém falando de legalização (da maconha), de democratização da mídia. Hoje, estou vendo mais candidatos com um histórico de lutas populares. E esse pessoal está assumindo compromissos diante de gente que tem engajamento e argumentos. É melhor do que votar nulo." Ao contrário de Fernanda e seu pai, Paulo não tem tanta afinidade política com sua família. No entanto, nem por isso deixa de influenciá-la. "Minha família (mãe e irmãos) é bem conservadora e sempre fui a ovelha negra. Nossos debates de hoje em dia são em voz alta. Mas tenho abertura quando eu falo. Já consegui derrubar preconceitos contra cotas raciais, contra o uso de maconha ou mesmo a ideia de que produtor cultural é vagabundo. São pequenos tabus que vão se quebrando." Meirelles, do Data Popular, diz que o relato de Paulo não é exceção. "O jovem não necessariamente vai influenciar em quem os pais vão votar, mas vai checar o histórico dos candidatos para os pais na internet ou orientar alguns dos temas que serão mais ou menos predominantes no voto", afirma. O estudante universitário paulista Paulo Carvalho, 18 anos, é a quem o pai dele recorre quando tem dúvidas sobre como mexer no celular. E durante essas conversas, temas da política também aparecem de vez em quando. "Meu pai não sabe mexer no smartphone e sempre me chama. Eu acabo falando: 'baixa esse aplicativo que é muito legal, vê esse blog'. E eles (adultos) acabam tendo acesso a essa informação de forma diferente também, em vez de só ouvir alguém falando no telejornal", diz Paulo, morador de Itaim Paulista, bairro no extremo leste de São Paulo. Ele acabou convencendo o pai a mudar seu voto nas eleições à prefeitura de São Paulo em 2010, algo que dificilmente aconteceria nas gerações anteriores. Paulo, por exemplo, acha que seu pai, na juventude, não teria mudado a opinião de seu avô. "Ele (meu pai) não tinha internet (quando era mais novo), a tecnologia era muito cara. Se meu pai é cabeça dura, imagina o pai dele. Na época dele, o importante era trabalhar na roça e só. Devia ser complicado mudar a cabeça de alguém assim." De volta a Heliópolis, o coordenador da Unas, Reginaldo José Gonçalves, diz que a turma atual do grupo "jovens conscientes" é a "mais envolvida e interessada em participar da comunidade" desde 2010, quando o projeto começou. Para ele, muito disso tem a ver com o acesso à informação. "A internet também permite a eles (jovens) produzir informação - expressar sua opinião e fazer denúncias nas redes sociais", argumenta. Mas será que essa busca e produção de informação não está superficial demais, numa época em que internautas compartilham notícias sem sequer lê-las? "Isso não é um problema só do jovem", diz Gonçalves. "As pessoas não pesquisam para ver se o que estão compartilhando é verdade. É algo cultural e educacional. Precisamos preparar os jovens para exercer a cidadania e ter senso crítico." Para colocar isso em prática, ele organiza debates na ONG sobre temas como maioridade penal e reforma política, nos quais os jovens são convocados a estudar para defender pontos de vista contra e a favor. O desafio, agora, é inserir nesse e em outros debates os jovens que não se interessam pela participação política. Os próprios participantes do grupo juvenil da Unas sabem que eles são minoria no bairro - e talvez no país - onde moram. "Vejo o pessoal de fora dos projetos sociais (em Heliópolis), e eles são descolados, zoam. Mas se você tenta discutir um assunto com eles por meia hora não consegue", diz Igor da Conceição, 16 anos, conhecido na Unas por escrever letras de rap sobre o cotidiano dos jovens da comunidade. "Para eles o importante é ter dinheiro no bolso." | 2014-09-02 22:11:12 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140829_eleicoes2014_jovens_politica_salasocial_pai.shtml |
brasil | Como parte da cobertura especial de eleições, a BBC Brasil investiga a nova face do ativismo do eleitorado de 16 a 24 anos, que compõe 16,1% dos 142,8 milhões de eleitores. | O jovem pode mudar a cara da política? | "A juventude está tão perdida que alguns dos meus amigos vão votar no candidato que acham menos pior", diz o estudante Lucas Araújo, de 18 anos, de Campina Grande (PB). "As pessoas estão perdendo as esperanças. Prometeram muitas coisas nos protestos, mas nada aconteceu", escreveu o estudante Gabriel Maggiori, 18 anos, de São Paulo. Essas são apenas algumas das opiniões de leitores jovens da BBC Brasil no Facebook sobre suas expectativas para as eleições presidenciais de outubro, o que poderia sugerir um cenário de descrédito das gerações mais novas com as instituições políticas do país. Mas o jovem realmente quer distância dos debates sobre o futuro político do Brasil? Consultas recentes da BBC Brasil a seus leitores também revelaram o perfil de um jovem que, se por um lado está decepcionado com a classe política, se mostra confiante no processo eleitoral e disposto a assumir um papel de protagonismo na busca por novos meios para mudar a sociedade brasileira. De olho na importância desta fatia do eleitorado - de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 16,1% dos 142,8 milhões de eleitores em 2014 têm entre 16 e 24 anos de idade - a BBC Brasil dedica uma semana de sua cobertura especial das eleições ao tema do jovem eleitor e a seus anseios e preocupações em relação ao futuro do país. Essa será a primeira eleição após os protestos de rua que varreram o país a partir de junho de 2013 e que trouxeram à tona a força das mídias sociais como fator de transformação, dois acontecimentos diretamente conectados ao "novo papel" do jovem eleitor. Mas além de estarem cada vez mais conectados - uma pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação (Cetic.br) aponta que 75% dos jovens entre 16 e 24 anos entram na rede diariamente – os jovens também estão interessados em política, embora de um modo às vezes distante do jogo eleitoral tradicional. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast De acordo com um levantamento Datafolha divulgada no final de agosto, 76% dos eleitores entre 16 e 24 anos disseram ter algum interesse pelas eleições, sendo que 30% afirmaram que têm um "grande" interesse. Outra enquete recente, do instituto Data Popular, apontou que 70% dos jovens acreditam que o voto pode transformar o país, mas 59% opinaram que o Brasil estaria melhor se não houvesse partidos políticos. Para entender esse fenômento, a partir de terça-feira a BBC Brasil vai mostrar perfis de jovens que, por suas posições, ideias ou ações estão redefinindo o ativismo político e encontrando novas formas de mudar o país. | 2014-09-08 09:35:18 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140908_salasocial_eleicoes_jovem_intro_tp.shtml |
brasil | Ex-diretor de abastecimento da estatal aceita delação premiada e cita políticos como beneficiários de esquema de propina. | Escândalo na Petrobras agita cenário eleitoral | Supostas denúncias feitas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa à Polícia Federal estremeceram o cenário eleitoral, a pouco menos de um mês para o primeiro turno das eleições . De acordo com uma reportagem publicada no sábado pela revista Veja, Costa teria citado mais de 30 nomes, entre deputados, senadores, governadores e ministros, como beneficiários de um esquema de propina envolvendo contratos da estatal. A reportagem não traz detalhes, documentos nem valores sobre o possível esquema. Os nomes, segundo a revista, teriam sido mencionados por Costa à Polícia Federal durante 40 horas de depoimento, como parte do acordo de delação premiada que o ex-diretor fez com procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato. A operação Lava Jato foi deflagrada em março com a prisão do doleiro Alberto Yousseff, acusado de liderar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões. 'Homem-bomba' Ex-diretor de abastecimento e refino da Petrobras entre 2004 e 2012, Costa é suspeito de intermediar negócios entre a estatal e fornecedores, e distribuir propina a políticos. Ele foi preso em 20 de março deste ano por tentar ocultar provas de esquema de lavagem de dinheiro e solto cerca de um mês depois. Em junho, voltou à prisão e aceitou acordo de delação premiada. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Segundo a Veja, Costa teria afirmado à Polícia Federal que os políticos citados por ele ficariam com uma comissão de 3% sobre o valor de contratos firmados pela Petrobras. Ainda de acordo com a reportagem, o ex-diretor de abastecimento da Petrobras teria admitido pela primeira vez que empreiteiras envolvidas em contrato com a estatal eram obrigadas a contribuir para um caixa paralelo. A reportagem da revista também faz menção à compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, contra a qual pesam denúncias de superfaturamento. Segundo a publicação, Costa disse que a aquisição da planta teria servido para abastecer o caixa de partidos e como propina para os envolvidos no esquema. Reações O conteúdo da publicação gerou reações em todo o espectro político, inclusive dos presidenciáveis. Neste domingo, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, minimizou o impacto das denúncias feitas por Costa, chamando-as de "boataria". "Acho que estão tentando usar essa delação premiada, ou melhor, a notícia parcial de vazamento não confiável, para tentar, um pouco no desespero, mudar o rumo da campanha", afirmou Carvalho, que não figura na suposta lista de políticos relatada por Costa. "Não posso tomar como denúncia contra a base aliada uma boataria de um vazamento, de um procedimento que eu não sei qual é". "Vazamento é sempre condenável; pode ser usada por um advogado de um réu para prejudicar outro...", acrescentou. Já o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, afirmou que as denúncias vão ser investigadas. "O inquérito corre em sigilo por isso não é possível fazer nenhuma valoração a respeito". Confira abaixo as reações dos principais candidatos à Presidência à reportagem da revista Veja sobre as supostas denúncias de Paulo Roberto Costa. Dilma Rousseff: "[Uma reportagem] não lança suspeita nenhuma sobre o governo, na medida em que ninguém do governo foi oficialmente acusado". "Ao ter os dados eu tomarei todas as providências cabíveis, tomarei todas as medidas, inclusive, se tiver que tomar medidas mais fortes". Aécio Neves: "Não dá para a presidente Dilma dizer que não sabia o que vinha acontecendo. A marca mais perversa do governo do PT é o aparelhamento do Estado. Eles têm um plano para se perpetuar no poder, causando situações como esta da Petrobras. Os cargos de direção precisam ser ocupados por pessoas sem ligação com partidos políticos e não por pessoas que negociem, troquem favores". Marina Silva: "O PT e o PSDB estão juntos numa campanha desleal, que afronta a inteligência da sociedade brasileira fazendo todo o tipo de difamação, calúnias, desconstrução do nosso projeto político e da minha pessoa, enquanto o que estamos fazendo é discutindo e dialogando". "Nós queremos as investigações. Não queremos que prevaleça a estratégia leviana que já se faça associação inclusive (com integrantes do partido dela, PSB) esquecendo a grande quantidade de envolvidos que estão por aí vivos e muito aptos a continuar diminuindo o patrimônio público." | 2014-09-08 02:37:49 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140907_denuncias_petrobras_lgb.shtml |
brasil | Dos cruzamentos de promessas de campanha com dados oficiais a detalhes sobre "ficha suja", conheça sites e aplicativos que ajudam o eleitor. | #SalaSocial: 12 ferramentas online para acompanhar (e cobrar) seus candidatos | Não só de memes e piadas é feita a eleição mais conectada de todos os tempos no Brasil. Novas ferramentas digitais mostram estatísticas sobre a presença dos candidatos nas manchetes de jornais, confrontam promessas de campanha com dados oficiais e mostram detalhes sobre os "ficha suja" que tentam a sorte nestas eleições. Para faciltar a vida (e o voto) do eleitor, o #SalaSocial mapeou 12 sites e aplicativos para celulares criados com foco nestas eleições. A internet também é instrumento de cidadania. Aproveite: O aplicativo para celulares, disponível para os sistemas Android e IOS, se propõe a ajudar o eleitor a conhecer seus candidatos. Ali estão as biografias, processos no Tribunal de Contas, bens declarados, valor liberado para gastos em campanha, grau de instrução, ocupação e número eleitoral dos candidatos aos seguintes cargos, em todos os Estados: deputado federal, deputado estadual (e distritais, no caso de Brasilia), senador, governador e presidente. Os criadores prometem, ainda, continuar atualizando o aplicativo após as eleições. Este é o aplicativo oficial do Tribunal Superior Eleitoral. O “Candidaturas” funciona nos mesmos moldes do “Acordei”, mas não é tão sedutor, já que a quantidade de dados disponíveis é menor. Na lista, o usuário encontra apenas nome completo do candidato, nome escolhido para urna, número, situação do registro de candidatura, cargo, partido, coligação e o link para site oficial. Segundo o TSE, os dados são atualizados diariamente. O mote é antigo: “quem não deve, não teme”. Criado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, em parceria com jornais, mecanismos de busca e institutos de pesquisa, o site "Eleição Transparente" mostra quais partidos e candidatos fizeram pedidos de remoção de conteúdo ao Google. Até agora, candidaturas às eleições de 2014 entraram com 95 ações na justiça contra a divulgação de informações. Neste amplo mapeamento, é possível visualizar pedidos de remoção de conteúdos disponíveis na internet filtrados por estado, partido, candidato ou ainda pelas instituições (jornais, blogs, mecanismos de busca) que foram alvo das solicitações. Disponível só para iPhone, o aplicativo "Ficha Suja" ajuda o eleitor a reconhecer políticos brasileiros que enfrentam processos na Justiça. Em uma grande lista com nomes, cargos e partidos, o usuário visualiza os “ficha suja” por um ícone vermelho. Ao clicar ali, o app detalha os processos em andamento relacionados a cada político. Um dos sites mais completos sobre as eleições, o "Manchetômetro" monitora notícias publicadas especificamente por Folha de S.Paulo, O Globo, Estado de S. Paulo e Jornal Nacional. Produzido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o site analisa a cobertura nacional, mostrando, por exemplo, gráficos com a quantidade de matérias de capa para cada um dos três presidenciáveis que lideram as pesquisas. Elas são organizadas pelas seguintes categorias: “favorável”, “contrário” e “neutro”. O site cria um retrato fiel, atualizado semanalmente, da presença dos candidatos à Presidência no Facebook e no Twitter. A partir do primeiro, são criados gráficos que comparam número de curtidas, pessoas falando sobre o candidato (“people talking about it”), likes, compartilhamentos e comentários das postagens. Do Twitter, são mapeados o número de seguidores, número de seguidos, quantidade de tweets e retweets recebidos por cada candidato. O projeto foi criado por professores e alunos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e Design Digital e Design Gráfico da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A ideia do site é ajudar o eleitor a acompanhar seus candidatos antes, durante e depois das eleições. O usuário indica os nomes de seus preferidos e passa a receber uma newsletter mensal com as notícias mais relevantes relacionadas a eles. Detalhe: por quatro anos! Antes do fim das eleições, é possível alterar a lista. Depois, só em 2018. O blog criado pelo jornal O Globo promete “colocar à prova o discurso dos candidatos”, confrontando frases e promessas com “bancos de dados oficiais existentes no Brasil e no exterior”. Os resultados são classificados pelo jornal como "falso", "ainda é cedo para dizer", "insustentável", "verdadeiro, mas...", "contraditório" e "exagerado". Alimentado pela equipe da Folha de S.Paulo, promete listar “as principais promessas feitas pelos candidatos a presidente durante a campanha eleitoral”. Segundo o jornal, “as propostas mais relevantes são avaliadas com a ajuda de especialistas”. É possível fazer buscas pelos nomes dos presidenciáveis, temas (economia, educação, infraestrutura, política, saúde, segurança e transporte) e avaliação (“fácil de cumprir”, “possível” e “difícil”). O sistema organiza informações de candidatos a todos os cargos, além de vices e suplentes, reunindo também dados das eleições municipais de 2012 e presidenciais de 2010. Ali o eleitor encontra: dados pessoais; situação da candidatura; candidaturas anteriores; declaração de bens; receitas e despesas; limite de gastos com campanha; certidões criminais; proposta; nome; número; estado/município; cargo; eleitos e inelegíveis, segundo dados abertos do Conselho Nacional de Justiça. A agência de notícias independente “A Pública” checa dados e promessas feitas por candidatos à Presidência durante o horário eleitoral gratuito. Após a verificação, o projeto “Truco!” dá as cartas: “não é bem assim”, “blefe”, “tá certo, mas pera aí”, “zap” (questionamento) e “truco”. Os candidatos são convidados a responder os questionamentos. Suas respostas são publicadas nas redes sociais, e os internautas decidem se foram convincentes ou não. Se não, o tema volta para o candidato e assim continua o jogo. É um dos aplicativos que mais repercutiram nestas eleições. A razão? Parece o Tinder. Criado por um estudante do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), a ferramenta exibe propostas eleitorais, sem indicar quem são seus criadores. O usuário então informa se concorda (vota) ou discorda (veta). Só então o autor da frase é informado. O aplicativo cria também um ranking de políticos e opiniões mais populares a partir das respostas dos usuários. | 2014-09-05 20:53:50 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140904_salasocial_eleicoes2014_ferramentas_rs.shtml |
brasil | PIB menor força empresas brasileiras a rever custos, cortar gastos e reavaliar desempenho dos funcionários. | Conheça as profissões em alta em meio à desaceleração econômica | Os efeitos da desaceleração da economia já começam a bater à porta das empresas brasileiras, que são forçadas a rever custos, cortar gastos e também reavaliar o desempenho de seus funcionários. Na semana passada, o governo anunciou que o PIB (Produto Interno Bruto), a soma de todos os bens e serviços produzidos no Brasil, caiu 0,6% no segundo trimestre deste ano. O mau desempenho de abril a junho, aliado à revisão para baixo do resultado do primeiro trimestre (-0,2%), levaram o país à chamada recessão técnica (quando há dois trimestres consecutivos de queda). De acordo com agências de recrutamento consultadas pela BBC Brasil, a retração da atividade econômica ainda não resultou em demissões em larga escala, mas, temerosos com a saúde financeira de suas empresas, empregadores já começaram a substituir funcionários. Saem os menos produtivos, entram os mais eficientes. "É normal que as empresas reavaliem melhor seus quadros em momentos como esse", afirmou à BBC Brasil Marcia Almstrom, diretora de Recursos Humanos da empresa de recrutamento ManpowerGroup. Segundo Gil Van Delft, presidente para o Brasil do PageGroup, grupo de recrutamento especializado em cargos de média e alta gerência, oito em cada dez posições intermediadas pela companhia são hoje substituições. "Empresas de grande porte que estão sofrendo mais fortemente os efeitos da retração econômica, como o setor industrial, vêm buscando profissionais que ajudem a reduzir os custos da operação e proporcionem maior eficiência à cadeia produtiva", disse ele à BBC Brasil. "Essas substituições ocorreram em maior peso no Sul e no Sudeste. No Nordeste, por outro lado, ainda temos novas contratações por ser um mercado em ascensão", acrescentou Van Delft. Na avaliação de especialistas, diante desse cenário de incertezas, a qualificação da mão de obra ganha papel fundamental. "A qualificação vai ser a chave para o profissional que quiser sobreviver e crescer a partir de agora", disse à BBC Brasil Ricardo Haag, gerente-executivo da Page Personnel, braço do PageGroup para recrutamento de profissionais de suporte à gestão e primeira gerência. Com base na opinião de especialistas, a BBC Brasil selecionou as áreas e as respectivas profissões que estão sendo ─ e devem ser ─ mais procuradas em meio à desaceleração da economia brasileira. Cargos mais procurados: Gerente de novos negócios, gerente de planejamento de vendas. Por que está em alta? Com menos oportunidades de negócios, as empresas buscam profissionais que possam turbinar seus ganhos, por meio de um melhor desempenho nas vendas e também por meio de novas parcerias. Cargos mais procurados: Contador (nível médio), controller (gestor), gerente de planejamento financeiro, diretor de tesouraria. Por que está em alta? O cenário de incertezas força uma maior racionalização dos custos. Cabe a esses profissionais cortar gastos sem afetar a capacidade de investimento das empresas permitindo, assim, um crescimento contínuo durante tempos mais difíceis. Cargos mais procurados: Gerente de projetos fiscais, gerente fiscal para Centro de Serviços Compartilhados (CSC), gerente de planejamento tributário, advogado tributarista, chefe de 'compliance' (auditoria), gerente de regulação e infraestrutura. Por que está em alta? A estrutura tributária brasileira é considerada uma das mais complexas do mundo. Em um momento que exige enxugamento de custos, empresas buscam profissionais capazes de racionalizar o pagamento de impostos. Cargos mais procurados: Comprador (nível técnico), gerente de compras indiretas, gerente de planejamento de demanda, gerente de logística. Por que está em alta? Produzir mais e melhor depende de um bom funcionamento da cadeia produtiva da empresa. Diante de um quadro de retração da atividade econômica, a importância desses profissionais é estratégica, pois o resultado financeiro obtido por meio das vendas é também consequência direta de compras eficientes. Atualmente, a maior demanda por profissionais da área concentra-se nos setores de serviços e varejo. Cargos mais procurados: Analista de suporte técnico (nível técnico), técnico em segurança da informação, arquiteto da informação, gerente de banco de dados. Por que está em alta? O Brasil possui um desequilíbrio endêmico na área, já que a oferta de profissionais é muito inferior à demanda das empresas. A função é essencial para qualquer empresa, mas tem importância estratégica em momentos em que se busca mais eficiência. Cargos mais procurados: Analista e gerente generalista de RH. Por que está em alta? O departamento de Recursos Humanos tem papel fundamental em momentos de reestruturação para as empresas. Cabe a esses profissionais identificar, entrevistar e contratar novos talentos. Além disso, são responsáveis por avaliações de desempenho e programas de treinamento, essenciais para a melhoria da produtividade. | 2014-09-05 01:27:48 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140905_salasocial_eleicoes2014_profissoes_crise_lgb.shtml |
brasil | Sociólogo José Pastore, especialista em relações de trabalho no Brasil, cita Coreia do Sul como exemplo e diz que 'não existe alternativa senão correr atrás do tempo perdido'. | Pastore defende 'cruzada' contra baixa qualificação do trabalhador | Ao longo de mais de quatro décadas de produção ininterrupta, o sociólogo José Pastore firmou-se como um dos maiores nomes das relações de trabalho, emprego e recursos humanos no Brasil. Pastore lecionou na Faculdade de Economia da USP, foi chefe da assessoria técnica do Ministério do Trabalho e fez parte do Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Atualmente é presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP e escreve como articulista para o jornal O Estado de São Paulo. Na entrevista a seguir, Pastore discorre sobre a baixa produtividade brasileira e possíveis soluções para o problema, um dos maiores gargalos da economia do país. BBC Brasil: Qual é a relação entre produtividade e economia? José Pastore: A relação entre produtividade e economia é direta e indireta. O impacto direto acontece quando um trabalho mal feito por causa da baixa qualificação resulta em um produto de má qualidade, que, por sua vez, perde preço no mercado ou até mesmo seu próprio mercado. Já o efeito indireto ocorre quando, por exemplo, a produtividade cai e o salário cresce. Isso cria um dilema para a empresa. Ou ela passa esse diferencial para os preços ou tira do lucro. Nos dois casos, há prejuízo para a economia. No primeiro caso, porque gera inflação e no segundo porque reduz as taxas de investimento. BBC Brasil: Por que a produtividade do trabalhador brasileiro ainda é tão baixa? Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast José Pastore: Há vários fatores que interferem na produtividade dos trabalhadores, como tecnologia, gestão e ambiente de trabalho. Mas a qualificação do trabalhador é, sem dúvida, um dos mais importantes. Essa qualificação é sustentada pela educação. A qualidade do ensino brasileiro ainda é muito precária quando comparada à dos países mais avançados. Aliado a problemas de tecnologia e gestão de empresas, o resultado final é um baixíssimo nível de produtividade e eficiência do nosso trabalhador, em média. BBC Brasil: A baixa produtividade explica o mau desempenho da economia brasileira nos últimos meses? José Pastore: A desaceleração é produto de uma série de distorções que temos na nossa economia. Temos um problema tributário muito sério, uma infraestrutura muito frágil, um sistema regulatório muito inseguro e um cipoal trabalhista que complica bastante a contratação do trabalho. Tudo isso interfere negativamente naquilo que é o resultado final de um ano de trabalho em uma economia. Mas a produtividade também pesa. BBC Brasil: O incentivo à formação técnica seria um dos meios para aumentar a nossa produtividade? José Pastore: Sim, mas não acredito que a solução esteja unicamente na formação técnica. A formação técnica só vai ter sucesso se a formação básica for de melhor qualidade. Não basta escola que venha adestrar porque não basta ser adestrado. É preciso ser bem educado. Em última análise, o que nós precisamos na educação básica é de uma escola que seja capaz de ensinar às crianças não a passar no exame, mas a pensar. A criança que sabe pensar é um excelente aluno para a educação técnica. Aquele que não sabe, vai dar muito trabalho. BBC Brasil: O Pronatec é um dos maiores trunfos do atual governo. Qual é a sua avaliação sobre o programa? José Pastore: É um excelente programa; está muito bem estruturado. As metas são ousadas. Mas precisamos esperar um pouco mais para avaliar se a mecânica atual está gerando o resultado esperado. BBC Brasil: A chave para melhorar a nossa produtividade seria, então, investir maciçamente na educação? José Pastore: Eu diria que a chave é investir maciçamente em boa educação. Tanto básica quanto secundária. É isso que faz a diferença. Hoje em dia, não se conta mais a eficiência econômica de um indivíduo pelo número de anos que ela passou na escola. O que conta mesmo é o que ela aprendeu durante o período escolar. Hoje, o mercado não busca o diploma, o currículo ou uma escola renomada, mas pessoas que saibam pensar adequadamente, que tenham bons textos e lógica de raciocínio, que sejam capazes de transformar informações em conhecimento prático, que saibam trabalhar em grupo, que conheçam bem a sua profissão. Tudo isso depende de uma educação básica e secundária de boa qualidade. BBC Brasil: Mas as escolas não parecem adaptadas a essa realidade. Como reverter esse cenário? José Pastore: Esse é o maior desafio do ensino moderno: acompanhar as mudanças tecnológicas e as mudanças no sistema produtivo. Mesmo os países avançados estão sendo desafiados em seus sistemas educacionais. Um estudo recente de dois pesquisadores ingleses mostrou que nos próximos oito a dez anos, quase 50% dos profissionais dos Estados Unidos perderão seus empregos por obsolescência, ou seja, serão atropelados por novas tecnologias. Essa questão é muito importante para nós porque o Brasil está no meio desse processo de transformação tecnológica. Do lado da escola, o que se busca hoje é um método de ensino diferente daquele convencional. Há que se buscar um método que seja realmente interessante à criança e ao adolescente, que utilize o mundo digital dos jovens. BBC Brasil: Qual seria o papel do governo nesse processo? José Pastore: O governo deveria valorizar mais a carreira do professor e do diretor de escola. Isso é fundamental. Sem um professor atualizado, que conheça a mente das crianças e dos adolescentes, que conheça as tecnologias educacionais que dão certo, não haverá solução de curto prazo. O Brasil tem um problema muito grave nessa área. Apenas 2% daqueles que se formam no Ensino Médio optam pela carreira do magistério. Isso é um desastre. E quando se analisa quem são esses indivíduos, chegamos a uma conclusão ainda mais triste. São aqueles que tiveram as piores notas no Ensino Médio. Acredito que o governo - junto com a mídia, escolas e empresas - deveria fazer uma campanha muito sólida e de longa duração para valorizar o professor e o diretor. É claro que, em paralelo, seria preciso também tomar medidas concretas de remuneração, de gratificação por mérito, de treinamentos, de atualização tecnológica e pedagógica. Trata-se de um programa tão importante quanto qualquer outro para acelerar o nosso PIB. BBC Brasil: Mas a educação foi sucateada no Brasil durante anos. Ainda é possível correr atrás do tempo perdido? José Pastore: Esse dilema não existe. Não existe alternativa senão correr atrás do tempo perdido. Até porque nossos concorrentes não vão ficar esperando o Brasil desenvolver para depois vender seus produtos e seus serviços. A História mostra que alguns países conseguiram fazer isso. Quando terminou a 2ª Guerra Mundial, a Coreia do Sul tinha 80% da população analfabeta. O país estipulou uma meta: em 30 anos, todos deveriam ter, no mínimo, dez anos de escolaridade. E como essa meta foi alcançada? O governo deu início a uma grande 'cruzada' na sociedade. Foi feita uma divisão do trabalho. Ficou para o governo pagar os professores e atualizá-los constantemente. E coube à iniciativa privada construir laboratórios e atualizá-los constantemente. Depois de 30 anos, todos tinham não só dez anos de escolaridade, mas 12. Hoje, a Coreia do Sul é um país desenvolvido. BBC Brasil: A solução para a educação brasileira seria então uma parceria entre o setor público e a iniciativa privada? José Pastore: Acho que é mais do que isso. É uma parceria entre todos os entes da sociedade brasileira. Todo mundo tem de participar dessa cruzada. Trata-se de uma cruzada de várias dimensões. É preciso haver uma mobilização das famílias em favor de educar aqueles que não são educados, não apenas seus filhos, mas sua empregada doméstica e o funcionário de sua empresa. BBC Brasil: Mas essa proposta não é utópica demais? José Pastore: Não. A sociedade brasileira responde bem quando é adequadamente mobilizada. No ano 2001, tivemos uma grave crise de energia elétrica. O governo liderou uma cruzada de mobilização de todas as famílias brasileiras e as pessoas mudaram o comportamento, fizeram uma economia decisiva para o sucesso do programa. E depois que foi suspenso o racionamento, o comportamento econômico continuou por muito tempo. Pena que essa cruzada foi interrompida. A sociedade brasileira responde bem quando é mobilizada. Tenho muita fé nisso. | 2014-09-03 23:48:35 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140903_salasocial_eleicoes2014_entrevista_jose_pastore_lgb.shtml |
brasil | Líderes protestantes ouvidos pela BBC Brasil dizem que a atual presidente 'lutou contra crenças e valores evangélicos nos últimos quatro anos'. | Aceno de Dilma a evangélicos não convenceria, dizem pastores | Ao assumirem posições sobre temas polêmicos como a criminalização da homofobia e o aborto, as candidatas que lideram a corrida presidencial – Dilma Rousseff, do PT, e Marina Silva, do PSB - mobilizaram a atenção de líderes evangélicos. Os assuntos dominam o noticiário eleitoral desde que, pouco após lançar seu programa de governo, na sexta-feira, Marina alterou o capítulo que trata de propostas para a comunidade LGBT. O programa inicial defendia, entre outros pontos, a aprovação do casamento gay e a criminalização da homofobia, mas as duas propostas foram eliminadas. A mudança ocorreu após fortes críticas públicas do pastor Silas Malafaia, que comanda o Ministério Vitória em Cristo da igreja Assembleia de Deus e é um dos principais líderes evangélicos do país. Após o último debate entre os presidenciáveis, na segunda-feira, Dilma defendeu em entrevista a criminalização da homofobia. Por outro lado, segundo reportagem da "Folha de São Paulo" desta terça, a presidente pretende apoiar uma lei que garantiria benefícios fiscais a igrejas evangélicas, numa provável tentativa de agradar ao eleitorado protestante. Em entrevista à BBC Brasil, Malafaia diz que "Dilma está mais perdida que cego em tiroteio". "Ela acende uma vela para o diabo ao mesmo tempo em que acende uma vela para Deus. Isso não dá." Segundo Malafaia – que no primeiro turno diz que votará no Pastor Everaldo (PSC) e, no segundo, em Marina – a proposta de Dilma sobre a criminalização da homofobia desrespeita uma decisão recente do Senado. Em dezembro de 2013, os senadores votaram por anexar ao novo Código Penal o Projeto de Lei Complementar 122, que criminaliza a homofobia. Na prática, a decisão implicou adiar a análise do tema, já que o novo Código Penal ainda está em discussão e não tem data para ser votado. O pastor critica ainda a suposta intenção de Dilma de aprovar a Lei Geral de Religiões, que estenderia a igrejas evangélicas benefícios fiscais já concedidos à Igreja Católica. "Ela está pensando que os pastores são otários. Durante quatro anos o PT lutou contra todas as nossas crenças, valores e princípios, e agora querem o apoio do povo evangélico?" Quanto ao recuo de Marina em suas propostas para a comunidade LGBT, Malafaia diz não ter tido qualquer influência na decisão. "Não tenho essa bola toda". Para ele, a alteração no programa ocorreu porque o "comitê LGBT do PSB exagerou na dose" e Marina não leu o texto antes de sua publicação." Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Já Marina afirma que a mudança se deveu a "falhas de edição". Outros líderes evangélicos entrevistados pela BBC Brasil defenderam Marina das críticas que ela sofreu pelo recuo. Para o apóstolo Paulo de Tarso, presidente da Igreja Betlehem, de São Paulo, o episódio expôs uma "desorganização natural" no comitê da candidata após a morte de Eduardo Campos. Para o pastor Sérgio Ribeiro, líder da Comunidade Evangélica de Santiago, do Rio Grande do Sul, a mudança "demonstra o compromisso de Marina com princípios cristãos". Os dois líderes expressaram desconfiança quanto a possíveis medidas de Dilma para agradar o segmento. Para Tarso, o governo do PT "perdeu a credibilidade" entre os evangélicos. "Acreditamos que qualquer aceno agora não tem mais possibilidade de traduzir uma posição real", ele diz. Ribeiro, por sua vez, diz que a aprovação da Lei Geral de Religiões teria pouco impacto para a maioria das igrejas evangélicas do país, que são pequenas. "Essa lei beneficia igrejas que têm muitos prédios, estrutura. Para nós, que trabalhamos e não dependemos da igreja para sobreviver, muda muito pouco." Tanto Ribeiro quanto Tarso afirmam que vão votar em Marina para presidente. Os dois – além de Silas Malafaia – aprovaram a proposta de candidata, anunciada no último debate, de convocar plebiscitos sobre temas como a legalização do aborto e da maconha. Já o pastor Edmilson Vila Nova, presidente da Convenção Batista Nacional, expressa cautela quanto ao alinhamento entre evangélicos e a candidata. Para ele, muitos protestantes se iludem ao pensar que, votando em candidatos de mesma fé, fazem uma boa escolha. "Não basta ter fé cristã, católica ou evangélica, para governar. É preciso ter outras qualificações". Vila Nova critica, por outro lado, o que considera um preconceito de setores da sociedade – inclusive da imprensa – com candidatos evangélicos. "Não tem que tratar um candidato de determinada maneira porque ele é evangélico, católico ou espírita, mas sim por suas propostas." | 2014-09-02 22:07:41 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140901_dilma_evangelicos_pastores_jf_rm.shtml |
brasil | Para cientistas políticos ouvidos pela BBC Brasil, o segundo debate entre os presidenciáveis já teve 'cara de segundo turno', e Aécio 'aceitando' o terceiro lugar. | Duelo entre Dilma e Marina, debate isola Aécio em terceiro lugar | Transformado em um duelo entre a ex-senadora Marina Silva (PSB) e a presidente Dilma Rousseff (PT), o segundo debate presidencial da TV aberta isolou o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) na terceira posição na disputa pelo Planalto, acreditam analistas ouvidos pela BBC Brasil. Três dias após uma pesquisa do Datafolha revelar um empate técnico entre Marina e Dilma no primeiro turno (cada uma teria 34% das intenções de voto) e a vitória da candidata do PSB sobre a petista em um eventual segundo turno (50% contra 40% das intenções de voto, respectivamente), o debate promovido pelo SBT em parceria com o jornal Folha de São Paulo, UOL e a rádio Jovem Pan "consagrou" as duas candidatas, acredita Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos. "O embate foi entre elas; esse debate foi uma consagração das duas como as fortes oponentes desta eleição. Elas polarizaram todas as questões, se mostraram muito seguras, enquanto Aécio ficou muito apático", diz Manhanelli, que tem mais de 40 anos de experiência no ramo de marketing político e consultoria. Para Ricardo Ismael, doutor em Ciência Política pelo IUPERJ e coordenador do laboratório de pesquisa Governo, Desenvolvimento e Equidade, da PUC-Rio, o debate foi crucial a ponto de enterrar a campanha do tucano. "A eleição acabou para o Aécio. É como se já estivéssemos vivendo o segundo turno. A eleição caminhou para uma polarização muito rápida entre Dilma e Marina. As duas estavam mais nervosas, porque sabiam que qualquer erro poderia comprometer votos, enquanto Aécio se mostrou muito mais tranquilo e confortável, aceitando sua posição de terceiro lugar", diz. Ismael acredita que o recuo do ex-governador de Minas, que na última pesquisa do Datafolha caiu de 20% para 15% das intenções de voto no 1º turno, configura uma diferença "irreversível". Para os especialistas, há questões pontuais que ajudam a interpretar o desempenho de cada candidato no debate. "Era nítido que Dilma viria para esse debate com a estratégia de atacar Marina. Mas ela não conseguiu, em momento algum, criar uma situação nova que pudesse impedir o crescimento da candidata do PSB. Marina sai deste debate com capacidade de continuar crescendo nas pesquisas", diz Ricardo Ismael, da PUC-Rio. Para ele, a mudança de Dilma em relação ao primeiro debate, da TV Bandeirantes, quando optou por fazer um balanço de seu governo e deixar que os adversários atacassem Marina, mostra uma forte preocupação do PT. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast "A campanha da Dilma é focada em mostrá-la de forma humana, carinhosa. A avó na cozinha, a figura maternal. Quando os estrategistas autorizam que ela assuma a posição que assumiu hoje, agressiva, com raiva, visivelmente nervosa e com fisionomia fechada, sabem que ela perde pontos, consolidando uma rejeição que já existe contra ela", avalia. Para o cientista político a campanha de Dilma Rousseff ainda não conseguiu encontrar a maneira de neutralizar o crescimento de Marina. "Há uma chance de Marina vencer no 1º turno. E por isso é justificável que Dilma tenha se colocado assim nesse debate. Do contrário, por que partir para este ataque num pleito que só se definiria daqui a quase dois meses?", questiona. Ismael chama a atenção para o fato de Dilma ter sido flagrada virando folhas de caderno soltas, ainda com a rebarba do espiral, durante uma pergunta de Marina. "Neste aspecto Dilma foi muito mal. Ficou o tempo todo procurando respostas, precisou recorrer muito ao papel, e estava tão nervosa que no início cometeu uma gafe, tentando interferir na condução do debate. Isso é ruim, passa uma impressão ruim para o eleitor", avalia. Já o consultor político Carlos Manhanelli é mais cauteloso. "Acho que houve um empate. As duas cumpriram a missão para a qual foram treinadas. Dilma atacou com convicção, e Marina mostrou-se blindada. Comportou-se como uma candidata presidencial, se esquivando de perguntas difíceis. Aécio, no entanto, teve uma performance como a de um jogador que está em campo mas não entra no jogo", diz. Ele ressalta que ao ser questionada sobre a alteração de seu programa de governo, no que diz respeito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, Marina Silva conseguiu se esquivar da resposta, e não se comprometeu. Quanto às folhas de caderno de Dilma, o consultor diz estar certo de que todos os candidatos presentes tinham suas anotações. "É uma estratégia comum, ninguém iria para um debate como este sem um caderno com os tópicos do seu programa de governo, as respostas treinadas", diz. Ele chama a atenção para o fato de Dilma estar usando um brinco de pérolas, condizente com a estratégia de mostrá-la de forma maternal, suave. Já Marina teria passado por uma transformação. "Sua roupa estava diferente do primeiro debate. O terno branco, de corte alinhado, mostra uma postura de autoridade, uma figura muito mais presidenciável do que a que apareceu na TV Bandeirantes. Agora na minha opinião ela insiste no erro de usar colares étnicos", diz Manhanelli. Os especialistas concordam que Levy Fidelix (PRTB), Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV), candidatos com menor expressão nas pesquisas, tendem a continuar cumprindo o papel de agitar os debates, trazendo questões polêmicas. "Acho cedo para falar em decisão no 1º turno. Até o dia 15 de setembro a maioria dos eleitores ainda está se informando, ponderando. Após a segunda quinzena começa o processo de cristalização do voto, da tomada de decisões. Quanto ao próximo debate, tudo vai depender das pesquisas. Marina surfou a onda de favorita hoje, mas se cair, poderá partir para o ataque", acredita Carlos Manhanelli. | 2014-09-01 23:39:17 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140901_analise_debate_jp_rm.shtml |
brasil | Lucinda Riley passou dois anos pesquisando a história do monumento e fez três visitas ao Rio. | Mensagens secretas no Cristo Redentor inspiram livro de irlandesa | Uma descoberta surpreendente inspirou a escritora Lucinda Riley a escrever um livro sobre a história do Cristo Redentor: por trás das milhares de pastilhas de pedra-sabão que recobrem o famoso monumento, há orações e mensagens de amor escritas por mulheres que participaram da construção da estátua. Em entrevista à BBC Brasil, a autora do romance As Sete Irmãs (lançado no Brasil pela editora Novo Conceito) conta que durante dois anos pesquisou documentos, visitou arquivos, ouviu inúmeras histórias e conversou com parentes de Heitor da Silva Costa, engenheiro responsável pelo projeto e construção do Cristo Redentor, inaugurado no dia 12 de outubro de 1931. Em três visitas ao Rio de Janeiro, numa das quais passou mais de um mês na cidade, Lucinda descobriu que muitas mulheres receberam a tarefa de colar cada pastilha de pedra sabão sobre redes de algodão que posteriormente seriam colocadas sobre a estrutura de concreto da estátua. "O curioso é que antes de colar os azulejos de pedra, elas escreviam, à mão, mensagens para suas famílias e para seus amados, do lado de trás. Há orações e juras de amor. Então, na verdade, além de toda a beleza aparente, o Cristo contém centenas de mensagens de amor. É algo fascinante", conta a escritora nascida na Irlanda e radicada na Grã-Bretanha. "Paul Landowski, o artista francês responsável pela escultura, considerou cobri-la de bronze. Mas logo se deu conta de que o material ficaria verde com o tempo. Pouco depois percebeu que pastilhas de pedra seriam o ideal, e que colocadas numa rede de algodão, e com a distância entre elas preenchida pelo concreto, qualquer problema numa delas, ou rachadura, não colocaria em risco toda a estrutura", acrescenta. A descoberta serviu de inspiração para o início da história fictícia que ela conta no livro As Sete Irmãs. Trata-se do primeiro de uma série de sete romances que pretende escrever em que diferentes lugares do mundo e grandes obras como esculturas, sinfonias ou quadros serão mesclados às histórias de amor e ao enredo que no final reconta a saga de sete irmãs. "Maia é uma moça que mora em Genebra, e recebe um azulejo de pedra sabão de seu pai no leito de morte. Ao rastrear a história do objeto e da mensagem escrita no verso, ela chega ao Rio em busca de sua história. E aí, juntamente com ela aterrissamos no Rio de Janeiro dos anos 30, da Belle Époque, e acompanhamos a construção do Cristo Redentor", resume a escritora. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Lucinda se declara apaixonada pelo Brasil, sobretudo pelo Rio de Janeiro. "Acho que os cariocas têm uma noção sobre o tempo do trabalho e o tempo do lazer. O esporte, a praia, as paisagens magníficas. Tudo isso é um estilo de vida que me agrada muito. Morei um Ipanema por quase dois meses e posso dizer que já me sinto uma carioca", conta. O interesse da escritora pela cidade começou quando uma editora brasileira a convidou a vir ao país assinar um contrato. "No caminho entre o aeroporto e o hotel, ao longe, vi o Cristo em cima de uma montanha. Na hora, me arrepiei. Senti que eu tinha que descobrir tudo sobre como ele tinha ido parar lá em cima. Eu acredito nessas coisas, foi um sinal. E nos dois anos seguintes, foi exatamente o que eu fiz", relembra. Na pesquisa, ela relembra uma série de fatos curiosos. Durante os dez anos entre o início do projeto e a inauguração, ninguém morreu em acidentes de trabalho. Toda a ideia foi financiada pela própria população carioca, embora muitos acreditem que a estátua tenha sido um presente. "Me surpreende que muitos brasileiros achem que o Cristo tenha sido um presente da França. Na verdade todo o dinheiro foi arrecadado da própria população. É algo inteiramente do Brasil, projetado, construído e pago pelos brasileiros", diz. "Eu acho fascinante o fato de ser estrangeira e agora saber tantos detalhes sobre o Cristo, muito mais do que tantos brasileiros. Mas acho que é normal. Sou britânica e não sei nada sobre o Big Ben. Quando algo tão grandioso faz parte do nosso dia a dia, não prestamos tanta atenção." | 2014-08-29 23:11:34 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140829_cristo_redentor_jp_lgb.shtml |
brasil | Assessora de Aécio diz que Dilma 'copiou' iniciativa na área de educação profissional; opositores defendem ajustes e mais avaliações sobre seu impacto na economia. | PT e PSDB disputam paternidade de programa que dá curso grátis | Por muitos anos, se manteve uma espécie de disputa pela paternidade do Bolsa Família entre líderes do PT e do PSDB. Os primeiros procuravam identificar o programa com o governo Lula, os últimos lembravam que ele surgiu a partir do programa Bolsa Escola, do governo Fernando Henrique Cardoso. Agora, uma briga semelhante parece estar surgindo em torno do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), uma das "vitrines" da campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Criado em 2011, o programa já matriculou cerca de 7,5 milhões de brasileiros em cursos técnicos e profissionalizantes patrocinados pelo governo ao custo de R$ 14 bilhões em investimentos. A promessa do atual governo é chegar a 8 milhões de inscritos até o fim do ano e 20 milhões - ou 10% da população - até 2018, se Dilma for eleita. Mas, segundo a assessora para assuntos de educação de Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, Maria Helena Guimarães de Castro, o programa seria uma "cópia" de programas da área de educação profissionalizante implementados primeiro em Minas Gerais e, em seguida, em São Paulo. O modelo da iniciativa, segundo a assessora, seria o Programa de Educacão Profissional (PEP), lançado em Minas em 2007, quando Aécio era governador, e que, como o Pronatec, também patrocinava cursos profissionalizantes gratuitos em escolas estaduais, instituições privadas ou entidades ligadas ao chamado Sistema S (como o Senai e o Senac). "Eu copiei o PEP de Minas quando era secretária de Educação em São Paulo. Na época, lançamos o Programa Vence. Depois o Pronatec copiou os dois", disse Castro, em entrevista à BBC Brasil. O desafio do ensino técnico no Brasil é o tema da segunda semana da cobertura especial de eleições da BBC Brasil. A falta de mão de obra qualificada foi um assunto destacado por leitores em uma consulta promovida pelo#salasocial - o projeto da BBC Brasil que usa as redes sociais como fonte de histórias originais - e apontado como um dos temas que deveriam receber mais atenção por parte dos candidatos presidenciais. Tanto Aécio, quanto Marina Silva, da coalizão do PSB, prometem expandir o Pronatec - o que parece indicar certo consenso de que essa é uma estratégia interessante para lidar, ao menos de forma emergencial, com o que consultorias como a Tendências e a ManPowerGroup e descrevem como um dos principais gargalos da economia brasileira hoje: a falta de mão de obra com qualificações específicas. O desafio do ensino técnico e a falta de mão de obra qualificada foram assuntos destacado por leitores em uma consulta promovida pelo#salasocial - o projeto da BBC Brasil que usa as redes sociais como fonte de histórias originais - e apontados como temas que deveriam receber mais atenção por parte dos candidatos presidenciais. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast O Pronatec, visto como saída para ambos os problemas, tem sido alvo de críticas, em particular quanto ao modo com que vem sendo implementado. Maria Alice Setúbal, coordenadora do programa de Marina, por exemplo, não o vê como solução definitiva. "O Pronatec dá respostas de curto prazo, mas não resolve o problema. Precisamos melhorar a qualidade do ensino médio e criar um currículo mais adequado a realidade do mundo no século 21 - no médio e longo prazo é isso que vai nos trazer resultados mais sólidos", diz ela. Setúbal defende que "a questão da educação é estratégica para que se possa pensar em novas formas de desenvolvimento com foco na sustentabilidade". "Mas não podemos considerar a educação profissional como algo descolado do resto do sistema educacional - ela precisa estar inserida nesse debate sobre como reorganizar o ensino médio e lidar com as desigualdades do sistema", diz. Tanto Setúbal quanto Castro também defendem a necessidade de uma avaliação mais ampla dos cursos que estão sendo patrocinados via Pronatec e seus resultados - ou seja, sua relevância para os trabalhadores e as empresas. "Trata-se de uma iniciativa em princípio interessante, mas precisamos avaliar a qualidade dos cursos e sua pertinência para os alunos e para a economia como um todo", diz Setúbal. "Hoje não temos um bom sistema de monitoramento, um sistema que procure identificar os resultados dos cursos para quem consegue terminá-los e os motivos das desistências. Há muitos cursos que abrem vagas e têm dificuldade para atrair alunos, por exemplo", concorda Castro. O PSDB propõe reformas em pelo menos três frentes para "aperfeiçoar o programa". Primeiro, Castro diz que seria necessário ampliar a articulação dos cursos com as estruturas produtivas locais."Hoje, há alguns cursos oferecidos para os quais pode não haver demanda no mercado", opina. Luiz Cláudio Costa, secretário executivo do ministério da Educação, discorda da afirmação e enfatiza que a maior parte dos cursos é provida por entidades do Sistema S - como Senac, Senai, Sebrae, Sesi e Sesc - que estão em contato direto com os setores empresariais e têm pesquisas sobre suas demandas. Outra forma de aprimorar o programa, segundo a assessora de Aécio, seria ampliar a articulação das redes públicas estaduais do ensino médio com o curso técnico. Por fim, Castro menciona o fato de hoje 70% das matrículas do Pronatec serem relativas aos chamados FICS, cursos de Formação Inicial e Continuada, que têm de 160 a 400 horas, enquanto um curso técnico tem de 800 a 1200 horas. "Esses cursos mais curtos são importantes para o adulto que já está trabalhando ou quer se requalificar - por isso também devem ser expandidos. Mas o esforço para a expansão do curso técnico deve ser ainda maior, porque é ele que realmente oferece uma oportunidade nova de trabalho para os alunos", diz ela. Para Castro o ritmo pelo qual o Pronatec está se expandindo indica um viés "populista". "No sentido de que (o programa) está abrindo um grande número de vagas rapidamente sem que haja um mecanismo de monitoramento e acompanhamento da qualidade e resultado dos cursos", explica. O governo nega. "O compromisso de Dilma com o Pronatec e com a melhora da qualidade da educação sempre foi estruturante, esse não é um programa que começou às vésperas da eleição", diz Costa. | 2014-08-22 21:00:56 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140821_salasocial_eleicoes2014_campanha_pronatec_ru.shtml |
brasil | Ensino profissionalizante pago por governo atrai de faxineiras a aposentados; alunos narram suas expectativas. | Ex-entregador de folhetos vê curso técnico como escada para medicina | De distribuidor de panfletos no farol a cozinheiro e supervisor do serviço de atendimento telefônico de uma empresa: Edward Jean Lirani, de 25 anos, começou a trabalhar ainda quando cursava o ensino médio e diz que "fez de tudo". "Pode-se dizer que era sempre fui um 'quebra galho'. Depois que terminei a escola não tinha condições de continuar os estudos – precisava conseguir meu próprio sustento", conta. "Mas meu grande sonho sempre foi atuar na área de saúde", diz ele. Edward conseguiu, com algum sufoco, a vaga no curso técnico de enfermagem do Pronatec, programa do governo que financia cursos profissionalizantes em entidades públicas e privadas. Ficou com uma das últimas vagas na turma da Faculdade Anhanguera, em Campinas, após uma tentativa frustrada em outra instituição. Agora, já pensa nos próximos passos: "Quero primeiro me especializar em acupuntura e depois, quando tiver alguma renda garantida, me dedicar aos estudos para entrar em uma faculdade de Medicina", diz. Edward é um dos milhões de brasileiros que se inscreveram no Pronatec desde sua criação, em 2011. O programa é visto pelo governo como uma de suas principais armas para lidar com a escassez de técnicos ou trabalhadores com habilidades específicas e enfrentar a baixa produtividade da economia – e é uma das iniciativas de seu governo que tanto Marina Silva quanto Aécio Neves prometem manter e expandir se vencerem a eleição. Boa parte das 7,5 milhões de matrículas feitas no Pronatec desde 2011 são de alunos ou jovens recém-formados no ensino médio, que veem no curso uma possibilidade de entrar rapidamente no mercado em postos de alguma qualificação. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast O governo já investiu R$ 14 bilhões patrocinando cursos técnicos e de qualificação em entidades do chamado sistema S (como Senai, Senac, Senar e Senat), faculdades particulares, escolas técnicas e institutos federais com o duplo objetivo de ajudar a impulsionar a produtividade do trabalhador brasileiro e promover a ascensão social e profissional dos estudantes. Mas nas salas de aula não é difícil notar que a demanda está longe de se limitar a esse público. Há desde donas de casa que veem no programa uma chance de voltar ao mercado até trabalhadores informais que sonham com uma nova vida após décadas ganhando pouco ou mesmo aposentados. "O perfil é bastante variado e ainda estamos nos preparando para dar apoio para esse público que inclui pessoas que estavam fora da sala de aula há muito tempo", diz Paulo de Tarso, Diretor de Novos Negócios e Pós-graduação da Kroton Educacional, rede de instituições de ensino superior que já matriculou 58 mil alunos Pronatec. "Na primeira chamada de inscrição para os cursos exige-se o Enem, então os alunos tendem a ser mais novos. Eles ocupam 40% das vagas. Mas nas chamadas seguintes não há esse requerimento - daí o grande contingente de alunos mais velhos e com diferentes perfis", completa Pedro Regazzo, que ajudou a implantar o Pronatec na Anhanguera Educacional. A maranhense Laurenilcy Ribeiro, de 47 anos, quando se inscreveu em um curso de 1.000 horas de Técnico em Informática (TI), "mal sabia o que era um mouse" e "tinha medo de mexer no teclado". Laurenilcy passou mais de vinte anos como cozinheira em uma casa de família em São Paulo. Nunca teve computador e antes do curso não tinha ideia de como se fazia para acessar a internet. "No começo foi difícil de acompanhar o curso. Mas entrei na era da informática e me dei conta de que vivia na caverna", diz a ex-cozinheira, que hoje trabalha numa rede de supermercados com atendimento ao cliente e também faz faculdade de Marketing. Após um ano e meio, Lauernilcy é alguém que se poderia chamar para consertar um computador quebrado ou fazer trabalhos complexos de programação e análise de sistemas – como promete a descrição do curso de TI? Quem sabe. Possivelmente não. Mas o próprio fato de ela não querer atuar na área levanta a questão de que talvez fosse melhor criar cursos mais ajustados a demandas como a dela, mais da linha da inclusão digital. "Mas por outro lado, trata-se de uma brasileira que de fato tem mais condições de avançar na sua carreira e na conquista de sua cidadania – coisa difícil de se precificar", opina o economista Marcelo Manzano, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp. Rosaura Mondim, das Universidades QI, do Rio Grande do Sul, conta que na entidade há alguns estudantes no Pronatec de mais de 70 anos, "que às vezes parecem fazer o curso mais para ter uma ocupação e conviver com outras pessoas". Mas esse não parece ser o caso do aposentado Aguinaldo Geraldo de Mello, de 76 anos, que frequenta o curso de técnico em eletro-eletrônica na Faculdade Anhanguera. Apesar de ter se aposentado, Aguinaldo continuou fazendo trabalhos eventuais como rebobinador de motores elétricos para completar a renda. "Mas há algum tempo havia me dado conta de que as coisas estavam mudando e eu precisava saber mais. Estou consertando uma máquina de algodão-doce agora, por exemplo, que tem um circuito eletrônico, e disso eu ainda não sei muito", explica. "Entrei nesse curso Pronatec para me atualizar e até já fui escolhido por meus colegas mais jovens para ser representante da turma." Mas se alguns como Edward "seguem um sonho", nas salas de aula também não é raro encontrar alunos que não tinham muita informação sobre o curso ao se inscrever – o caso de uma das colegas de Laurenilcey na Faculdade Sumaré, a atendente de telemarketing Rosana Maria Brito, de 38 anos. Rosana achou que o curso de técnico em TI lhe serviria para consertar o computador de casa, que estava quebrado. "Li num jornalzinho que era gratuito e resolvi me matricular", disse ela. "Quando me dei conta do que o curso era realmente fiquei em dúvida, mas decidi seguir porque acho que é algo que vai me ajudar a avançar na carreira." Marieuleni Elvira Barreto, de 49 anos, diz que o curso de TI foi a oportunidade que esperava para voltar a estudar. "Passei a infância trabalhando na roça no Piauí e sempre tive o sonho de estudar alguma coisa - direito talvez. Mas na minha época só estudava quem tinha condições." Ela casou, teve quatro filhos e passou décadas trabalhando como faxineira diarista e cuidadora de idosos em São Paulo, até que seus filhos cresceram. Quando começou a pensar em voltar para as salas de aula, encontrou o curso de TI. "Ele está me abrindo as portas de um mundo que não conhecia. É fantástico", diz. Depois para e pensa um pouco: "Apesar de que o que eu gostaria mesmo era de fazer um técnico em nutrição. Para esse não achei vaga." | 2014-08-22 19:45:48 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140821_salasocial_eleicoes2014_personagem_pronatec_ru.shtml |
brasil | Cerca de 4% da população deve ter se matriculado até final do ano em cursos grátis profissionalizantes do Pronatec; especialistas atentam para falta de estudos de impacto. | Sonho do emprego, bolsa e tablet grátis turbinam programa-vitrine de Dilma | Inscreva-se em um curso grátis de Técnico em Informática ou Técnico em Programação de Jogos Digitais e ainda ganhe um tablet de presente. A promessa é da Faculdade Sumaré, uma das instituições de ensino privadas que, desde o ano passado, oferecem cursos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, ou Pronatec - uma das principais vitrines de campanha da presidente Dilma Rousseff. Com cerca de 20 mil alunos de graduação, em questão de meses a Sumaré inscreveu mais de 7 mil estudantes no ensino técnico patrocinado pelo governo. Outras instituições têm histórias semelhantes - embora algumas também registrem um número alto de desistências, nem todos os matriculados vão até o fim. O governo diz que o programa é uma plataforma para qualificar trabalhadores a impulsionar a produtividade no Brasil. A meta - que o comitê de campanha do PT diz já ter sido alcançada - seria chegar até o fim do ano a 8 milhões de matrículas. Se tais estimativas se confirmarem, isso significa que 4% da população terá se inscrito em um desses cursos profissionalizantes nos últimos quatro anos. E a promessa é chegar até a 10% se Dilma for reeleita. Além disso, assessores dos candidatos Marina Silva e Aécio Neves também têm se comprometido com uma expansão do programa, embora defendam a necessidade de ajustes. O governo paga escolas técnicas, entidades do Sistema S (como Senai, Senac, Senar e Senat), instituições federais e – desde 2013 – faculdades particulares, como a Sumaré, para que elas ofereçam gratuitamente cursos técnicos e de qualificação profissional. O público vai de estudantes ou jovens recém-saídos do ensino médio a desempregados e trabalhadores interessados em se requalificar. E não é pouca coisa. Desde 2011, foram investidos no Pronatec R$ 14 bilhões. Provedores disseram receber por hora/aula para cada aluno de R$ 5 a R$ 8. Em um curso técnico de 1.000 horas, isso significa um custo de até R$ 8 mil por estudante ao longo de um ano e meio - em turmas de até 50 alunos. O objetivo do programa, além de ampliar as chances de ascensão profissional e social dos estudantes, é lidar com o que vem sendo apontado como um dos principais gargalos da economia brasileira: a escassez de técnicos ou trabalhadores com habilidades específicas. "Desde 2011, por exemplo, a folha salarial da indústria cresceu 12,7%, mas a produtividade do trabalho no setor aumentou apenas 2,6%, o que prejudicou sua competitividade", diz Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast O governo insiste que o Pronatec deve contribuir para resolver o problema ao ampliar a qualificação dos trabalhadores - e, com isso, sua produtividade. "Estamos ofertando cursos de que o Brasil precisa", diz Luiz Cláudio Costa, secretário-executivo do Ministério da Educação (MEC). "O sistema S - cuja participação no programa chega a 70% - tem larga experiência na área e muito conhecimento da demanda das empresas." Rafael Lucchesi, do Senai, assegura que entre os egressos de cursos da entidade, de 70% a 80% conseguem emprego um ano após finalizar os estudos. Mas os dados de outros provedores ainda não são conhecidos. Até por isso, especialistas apontam para a necessidade de avaliações independentes que mostrem até que ponto os cursos de fato fazem a diferença para os alunos que procuram emprego e as empresas que buscam trabalhadores no mercado. "A sociedade tende a achar que é bom criar curso profissionalizante - isso dá voto em todos os níveis sociais", diz Naercio Menezes, do Centro de Políticas Públicas do Insper. "Mas dizer que milhares de pessoas passaram pelo programa não garante que ele seja efetivo. É surpreendente que a essa altura não tenhamos estudos independentes sobre o seu impacto na empregabilidade dos estudantes e no setor produtivo." E se há questionamentos sobre a eficácia do programa, o mesmo pode ser dito sobre os métodos usados para atrair novos alunos - como a oferta da Sumaré. Afinal, é legítimo oferecer um tablet para estimular a adesão ao programa? Não se corre o risco de "inflar" matrículas com alunos "pouco comprometidos" que podem desistir após receber o aparelho? Tal estratégia comercial, é bom que se diga, é definida pela faculdade – sem interferência do governo. Júlio Araújo, coordenador da área de ensino técnico e profissional da Sumaré, explica que o aparelho é um material didático, que ajuda os alunos a seguirem o curso de TI. Ele admite que já houve casos de estudantes que, aparentemente, se inscreveram para ganhar o tablet e acabaram desistindo das aulas. Isso teria ajudado a elevar a evasão dos cursos da Sumaré para mais de 50%, embora outros fatores - como a dificuldade dos alunos acompanharem o curso e de conciliá-lo com o trabalho - também teriam contribuído para tais índices. "Trata-se de uma taxa de evasão alta, mas semelhante a de outras faculdades. E o problema tem diminuído conforme informamos melhor os interessados de que o curso é puxado e eles só recebem o tablet no segundo mês", diz Araújo. Segundo dados oficiais, a taxa de evasão média do Pronatec é de 12% - e no caso de uma desistência os repasses do governo cessam, mas não há como "recuperar" o valor investido inicialmente. Costa, do MEC, diz que há um compromisso grande dos alunos com os cursos porque eles acreditam que isso lhes dará mais oportunidades no mercado de trabalho. A BBC Brasil conversou com alunos, ex-alunos e professores do Pronatec durante um mês e encontrou uma miscelânea de perfis e relatos contraditórios. Muitos dizem de fato ter conseguido um bom emprego ou mudado de vida com ajuda do programa. Outros, se mostraram frustrados por não encontrar o trabalho desejado. A oferta de cursos varia muito de região para região - então também é comum encontrar quem não consegue matrícula no de sua preferência. Há quem admita ter se matriculado porque "sobravam vagas" em sua área, ou para receber o auxílio estudantil oferecido em alguns dos cursos (algo em torno de R$ 2 a R$ 4 por hora/aula para gastos com alimentação e transporte). "O curso até era bom, mas eu já tinha estudos na área então não fez muita diferença", disse um desses estudantes, de Goiás, após ser contactado pela BBC por Facebook. Para outros, o auxílio estudantil é crucial para evitar a evasão. "Recebi bolsa na graduação e no mestrado e não vejo porque esses estudantes não possam também ter apoio", opina Andreza Albuquerque, professora de um curso de organização de eventos na Paraíba. O economista Marcelo Manzano, da Unicamp, diz que a diversidade é natural. Ele explica que o Pronatec é um "programa guarda-chuva" que aglutinou iniciativas de formação profissional ligadas a diversos ministérios e entidades. "Se considerarmos isso, a expansão de vagas pode não ser tão grande, mas ao promover essa sistematização se permite que haja mais controle sobre os cursos - o que é positivo." Há quem tenha uma visão mais crítica do programa. Para Gabriel Grabowski, especialista em ensino técnico da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, por exemplo, o Pronatec seria muito focado no "curto prazo". Ele se refere ao fato de o programa ter dois tipos de curso. Os (cursos) técnicos têm de 800 a 1.200 horas e formam técnicos aeroportuários, em petróleo e gás, joalheria, hospedagem ou calçados – só para mencionar alguns exemplos. Neles, teriam se matriculado 2,1 milhões de pessoas, segundo o MEC. O grosso das matrículas, porém, teriam sido feitas nos cursos de Formação Inicial e Continuada (FICs), com duração de 160 a 400 horas - e mais específicos. Podem ser, por exemplo, de auxiliar de saúde bucal, cuidador de idoso, cervejeiro ou produtor de carnes exóticas. Nesses, teriam sido inscritas 5,4 milhões de pessoas. "Esses cursos mais curtos podem resolver demandas imediatas e específicas das empresas, mas no médio e longo prazo não vão impulsionar a produtividade do país ou abrir os horizontes dos trabalhadores", opina Grabowski. Na sua visão, o Pronatec comete o mesmo erro de políticas do passado ao descolar a educação profissional do ensino médio. "A verdade é que se não tivermos um ensino básico de qualidade, que dê instrumentos para as pessoas se ajustarem com facilidade às mudanças no mercado, continuaremos a gastar tempo e recursos qualificando e requalificando trabalhadores em técnicas que em poucos anos já estão obsoletas", acredita Grabowski. Para Lucchesi, do Senai, a crítica é "academicista": "Não há dúvida que esses cursos fazem a diferença para as empresas e os jovens, que, do contrário teriam mais dificuldade de entrar no mercado", defende. | 2014-08-20 12:47:04 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140820_salasocial_eleicoes2014_pronatec_ru.shtml |
brasil | Pesquisa do Datafolha divulgada nesta sexta-feira aponta empate técnico entre candidata do PSB e petista já no 1º turno. | Marina avança; Dilma e Aécio apostam em 'experiência' para freá-la | Alarmados com o rápido crescimento da ex-senadora Marina Silva (PSB) nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência, as campanhas de seus principais competidores – Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) – testam estratégias para tentar frear a alta da candidata. Um levantamento do Datafolha divulgado nesta sexta-feira, o primeiro realizado após o primeiro debate entre os candidatos (terça, na TV Bandeirantes), mostrou um empate técnico entre Marina e Dilma já no primeiro turno. Segundo a pesquisa, a candidata do PSB e a petista receberiam 34% dos votos cada uma. Aécio aparece em terceiro lugar, com 15%. No segundo turno, a acriana derrotaria Dilma por 50% a 40%. O nível de confiança é de 95%. O último levantamento do Ibope, divulgado antes do debate, já havia mostrado o avanço de Marina. Segundo a pesquisa do instituto, a candidata do PSB aparece com 29% das intenções de voto, cinco pontos porcentuais a menos do que a petista, que lidera a disputa com 34%. O tucano Aécio Neves marca 19%. No segundo turno, Dilma seria derrotada por Marina por 45% a 36%. Contra Aécio, Dilma ganharia por 41% a 35%. Algumas das táticas dos concorrentes de Marina foram expostas na terça-feira durante o primeiro debate entre os presidenciáveis e devem ser repetidas nos próximos dias. Tanto Dilma como Aécio levantaram dúvidas sobre a capacidade da ambientalista de presidir o país e buscaram se apresentar como mais preparados e experientes para exercer o cargo. Referindo-se a Marina, Dilma disse que um presidente não lidera "só com discursos". "Ele terá de tomar posições, terá de fazer gestão, tem de resolver os graves problemas do país na saúde, educação, segurança, os problemas nas estradas, portos, ferrovias e aeroportos." A fala foi uma resposta a uma declaração dada por Marina nesta semana. A acriana havia dito que o Brasil não precisa de um presidente com funções de gerente – característica atribuída a Dilma -, mas sim de um líder com "visão estratégica". Os esforços para conter o avanço da ex-senadora também se notam na agenda da petista e em ações realizadas nos bastidores das campanhas. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Na quarta, líderes dos partidos que compõem a coalizão de Dilma (PT, PMDB, PDT, PCdoB, PSD, PRB, PP, PROS e PR) e dezenas de funcionários de estatais e ministérios foram convocados para uma reunião no Palácio da Alvorada para discutir os rumos da campanha. Segundo relatos, os assessores ficaram incumbidos de se reunir com movimentos sociais e fortalecer a campanha de Dilma nas redes sociais, ambiente em que Marina tem tido forte respaldo. A própria presidente tem se engajado no esforço de aproximação com as bases tradicionais do PT. Nesta quinta-feira ela se reuniu com representantes da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura) e, na segunda, movimentos sociais da área cultural foram convidados para uma reunião no comitê de campanha da petista. A presidente tem ainda intensificado seus contatos com a imprensa para ampliar suas aparições na mídia. Normalmente avessa a entrevistas coletivas, ela tem falado a jornalistas todos os dias. Aécio, por sua vez, tem enfocado sua estratégia na crítica à "nova política" pregada por Marina. No debate, ele lembrou que Marina se recusou a endossar a aliança entre PSB e PSDB pela reeleição de Geraldo Alckmin em São Paulo, mas disse que, se eleita, esperava contar com o apoio do tucano José Serra. Marina tem dito que sua candidatura representa uma alternativa à polarização entre PT e PSDB. O tucano busca ainda se mostrar como a opção mais segura para eleitores preocupados com a economia. Em crítica indireta a Marina – mas também a Dilma -, ele disse que a política econômica "não comporta novas aventuras ou improviso" e que seu governo seguiria o caminho da "segurança, responsabilidade, transparência fiscal e previsibilidade". Aécio, que governou Minas Gerais duas vezes, tenta se apresentar como mais experiente que Marina em cargos executivos. Os postos mais altos que a acriana já ocupou foram o de senadora e o de ministra do Meio Ambiente. O mineiro também tem questionado a capacidade de Marina de construir uma maioria no Congresso. A coligação que apoia a acriana é composta por dois partidos médios – PSB e PPS – e quatro nanicos (PSL, PHS, PRP e PPL). Marina diz que contornará a fragilidade da coalizão governando com “os melhores” de cada partido, e buscando a união em vez do embate. Enquanto ataca a acriana, Aécio busca ainda conquistar votos nos grupos de eleitores em que obtém pior desempenho nas pesquisas: jovens e habitantes do Nordeste. Desde o início da campanha, ele tem viajado com frequência à região, e grande parte de sua campanha no rádio tem sido narrada por atores com sotaque nordestino. Em sua propaganda eleitoral na última terça, Aécio tentou enfocar os dois públicos ao se encontrar com jovens da periferia de Salvador e propor um programa para reduzir a evasão escolar. | 2014-08-29 22:04:17 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140829_eleicoes2014_marina_ascensao_jf_lgb.shtml |
brasil | Ao longo desta semana, a BBC Brasil apresentou uma série de reportagens tema que vinha ganhando pouco destaque no debate nacional. | Violência contra professores: o que você achou da nossa cobertura? | Ao longo desta semana, a BBC Brasil apresentou uma série de reportagens sobre um tema que vinha ganhando pouco destaque no debate nacional: a violência contra os professores. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Nossa presença no Brasil e no exterior, com redações em São Paulo e em Londres, permitiu também que trouxéssemos perspectivas diversas. A violência contra professores não é um problema apenas do Brasil. Aqui na Grã-Bretanha, onde moro há 14 anos, ser professor é uma profissão respeitada e ambicionada pela classe média. Quantos excelentes e transformadores professores o magistério brasileiro perdeu ao longo das últimas décadas para profissões que dão mais dinheiro? Como reverter a perda de status da profissão que faz com que ser professor seja uma das últimas opções de jovens no Brasil? Salários de R$ 9,5 mil? Federalização de escolas? Ouvimos muitas sugestões de especialistas e de leitores. Nos surpreendemos com a grande participação do público, de todas as idades e regiões do Brasil, nos nossos fóruns online. Não deveria ter causado surpresa. O valor da Educação para o futuro do país parece ser consenso. Mas será que Educação de base não dá voto, como nos disse um entrevistado? Se você acha que dá, atenção à nossa matéria de hoje. Nesta sexta-feira, publicaremos o que representantes de campanhas dos candidatos à Presidência têm a dizer sobre o tema. Mas Educação não é função apenas do governo federal. O que propõem candidatos a outros cargos públicos? Se acharem algo interessante, por favor, compartilhem conosco. Esperamos ter contribuído de forma construtiva com o debate, e gostaríamos de saber o que você achou da nossa cobertura. Foi útil? Faltou algo? Queremos inaugurar aqui uma nova forma de fazer jornalismo, mais aberta à contribuição do nosso público não apenas no estágio inicial de definição de uma ideia, mas também ao longo de todo o processo de pesquisa e apresentação do conteúdo. | 2014-08-29 10:59:30 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140829_salasocial_eleicoes2014_educacao_fechando_semana_ss_tp.shtml |
brasil | Em depoimento à BBC Brasil, rapper que causou polêmica há 20 anos ao criticar ensino no país em 'Estudo Errado' reavalia papel do educador, do estado e dos alunos. | Gabriel o Pensador: 'Professor é herói do dia a dia' | "Eu tô aqui pra quê? / Será que é pra aprender? / Ou será que é pra sentar, me acomodar e obedecer?" O rapper Gabriel o Pensador causou polêmica em 1995 com a música Estudo Errado, em que questiona o formato e o conteúdo das aulas, que via como distantes da realidade fora das salas de aula. O rap, à época, foi bastante criticado por professores e educadores. "Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci. Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi. Decoreba: esse é o método de ensino. Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino", diz a música. Duas décadas depois do lançamento de Estudo Errado, em meio à campanha para as eleições presidenciais de 2014 e no momento em que graves problemas da educação como a violência contra professores e a desvalorização do ensino voltam à tona, a BBC Brasil procurou Gabriel o Pensador para saber o que ele mudaria nessa letra se fosse fazer uma versão hoje. Veja o seu depoimento: "Mais do que imaginar uma escola ideal, seria ideal a gente transformar a escola a partir das dúvidas, das curiosidades dos alunos em relação à realidade fora da sala de aula. Tanta informação que uma criança hoje recebe na internet, na televisão…tudo isso gera milhões de questões que já não se enquadram dentro do que é passado pelo MEC, dentro das disciplinas. Acho que o que os alunos precisam é entender um pouco mais sobre ética, sobre violência, sobre política, como funciona a sociedade, por que certas coisas acontecem, por que certas coisas permanecem acontecendo depois de tantos anos… É um desafio para os professores adaptar o conteúdo das suas aulas para coisas cada vez mais próximas do dia a dia, das coisas da atualidade. Isso dá resultado sempre, quando é feito nas aulas de redação, por exemplo, nas aulas de história, de geografia, muitos professores já fazem isso. Minha crítica na letra 'Estudo Errado' era justamente em relação a essa distância do conteúdo do que era passado nas matérias para a vida real. Outro problema crônico que a gente tem na escola brasileira é a evasão escolar, então mais um desafio é tornar cada vez mais interessante para os alunos esse conteúdo. Isso também faz parte do que eu abordei na letra da música. E eu acho que é um dos problemas da escola de hoje em dia. Além da falta de resultado efetivo, porque mesmo para aqueles que frequentam a escola, às vezes o nível de aprendizado é muito baixo, principalmente na questão da interpretação de texto, da alfabetização, da compreensão de certas matérias. A gente tem muito a evoluir, mas também tem muitos trabalhos bonitos sendo feitos, com grandes educadores, e eu confio que isso já esteja sendo trabalhado pelos professores. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Na frase da letra de '175 Nada Especial', o professor reclamava 'esse não é o valor que um professor merecia'. Ali eu estava falando do salário, mas hoje eu poderia lembrar da polícia batendo nos professores em manifestações, da falta de respeito dos alunos que agridem e ofendem professores e os desrespeitam verbalmente. Isso também faz partedesse lamento do professor, que não vê seu valor reconhecido. Não é só uma questão de salário. Para mim, o professor é o herói do dia a dia, essa é a palavra que cabe perfeitamente. O professor é herói pelo amor com que ele se dedica a profissão, pela superação que ele demonstra, que deve inspirar os alunos, e na sua dedicação ao acolhimento, que é uma das coisas mais generosas e importantes que os professores dão para os alunos, não só os alunos das classes mais baixas, mas todos que tem às vezes pouco tempo com seus pais, com suas famílias, e sentem esse acolhimento, esse carinho, essa amizade do professor. O aumento da violência não é um problema só das escolas ou das salas de aula, é um reflexo de um aumento da violência na sociedade e da falta de valores, da diminuição da ética, da amizade, do respeito, do amor à vida. E da própria falta de esperança, que leva uma grande massa de jovens e adolescentes para um caminho da violência, do 'nada a perder'. Esse é um problema muito complexo, que só os professores não vão conseguir resolver. Mas acho que deve haver uma medida de emergência para proteger a integridade física dos professores, e também uma medida educativa, que extrapola a sala de aula, que possa tentar recuperar um pouco esses valores na nossa sociedade, em todas as idades, nos pais e nos filhos. A solução da educação no Brasil é uma questão bem complexa, que precisa de muitas pessoas trabalhando sério, fazendo um programa abrangente de medidas para melhorar. Mas acho que um ponto fundamental é a destinação de mais verba para a educação, para a construção de escolas, para equipar as escolas, para pagar os professores e os funcionários. O Brasil tem muito dinheiro só que o dinheiro é desviado para outros caminhos, para falcatruas variadas, superfaturamento de obras, muitas outras coisas que dão mais dinheiro, mais margem para lucro dos políticos corruptos do que a educação. E na área da educação, a gente vê muitos escândalos absurdos também, até com a merenda escolar, entre outros. Então uma primeira medida seria corrigir esse absurdo e destinar muito mais recursos pra educação. | 2014-08-29 02:09:13 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140828_salasocial_eleicoes_educacao_pensador_rm.shtml |
brasil | Enquete da OCDE revela que 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. | Pesquisa põe Brasil em topo de ranking de violência contra professores | Uma pesquisa global feita com mais de 100 mil professores e diretores de escola do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio (alunos de 11 a 16 anos) põe o Brasil no topo de um ranking de violência em escolas. Na enquete da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. Trata-se do índice mais alto entre os 34 países pesquisados - a média entre eles é de 3,4%. Depois do Brasil, vem a Estônia, com 11%, e a Austrália com 9,7%. Na Coreia do Sul, na Malásia e na Romênia, o índice é zero. "A escola hoje está mais aberta à sociedade. Os alunos levam para a aula seus problemas cotidianos", disse à BBC Brasil Dirk Van Damme, chefe da divisão de inovação e medição de progressos em educação da OCDE. O estudo internacional sobre professores, ensino e aprendizagem (Talis, na sigla em inglês), também revelou que apenas um em cada dez professores (12,6%) no Brasil acredita que a profissão é valorizada pela sociedade; a média global é de 31%. O Brasil está entre os dez últimos da lista nesse quesito, que mede a percepção que o professor tem da valorização de sua profissão. O lanterna é a Eslováquia, com 3,9%. Em seguida, estão a França e a Suécia, onde só 4,9% dos professores acham que são devidamente apreciados pela sociedade. Já na Malásia, quase 84% (83,8%) dos professores acham que a profissão é valorizada. Na sequência vêm Cingapura, com 67,6% e a Coréia do Sul, com 66,5%. A pesquisa ainda indica que, apesar dos problemas, a grande maioria dos professores no mundo se diz satisfeita com o trabalho. A conclusão da pesquisa é de que os professores gostam de seu trabalho, mas "não se sentem apoiados e reconhecidos pela instituição escolar e se veem desconsiderados pela sociedade em geral", diz a OCDE. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Segundo Van Damme, "a valorização dos professores é um elemento-chave para desenvolver os sistemas educacionais". Ele aponta melhores salários e meios financeiros para que a escola funcione corretamente, além de oportunidades de desenvolvimento de carreira como fatores que podem levar a uma valorização concreta da categoria. No Brasil, segundo dados do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDEs) da Presidência da República, divulgados em junho deste ano, a remuneração média dos professores é de pouco menos de R$ 1,9 mil por mês. A média salarial dos professores nos países da OCDE, calculada levando em conta o poder de compra em cada país, é de US$ 30 mil (cerca de R$ 68,2 mil) por ano, o equivalente a R$ 5,7 mil por mês, o triplo do que é pago no Brasil. O especialista da OCDE cita a Coreia do Sul e a China como exemplos de países onde o trabalho dos professores é valorizado tanto pela sociedade quanto por políticas governamentais, o que representa, diz ele, um "elemento fundamental na melhoria da performance dos alunos". "Em países asiáticos, os professores possuem um real autoridade pedagógica. Alunos e pais de estudantes não contestam suas decisões ou sanções", afirma. A organização ressalta que houve avanços na educação brasileira nos últimos anos. Os investimentos no setor, de 5,9% do PIB no Brasil, estão próximos da média dos países da OCDE (6,1%), que reúne várias economias ricas. "Entre 2000 e 2011, o nível de investimentos em educação no Brasil, em termos de percentual do PIB, quase dobraram", afirma Van Damme. Outro indicador considerado importante pela OCDE, o percentual de jovens entre 15 e 19 anos que estudam, é de 77% no Brasil. A média da OCDE é de 84%. | 2014-08-22 13:49:22 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140822_salasocial_eleicoes_ocde_valorizacao_professores_brasil_daniela_rw.shtml |
brasil | Para senador e ex-ministro da Educação, escola no Brasil está 'sem moral' e 'professores são tratados como seres sem importância'. | Escola é violenta com aluno, diz Cristovam Buarque | Um dos grandes defensores da educação como instrumento de transformação do Brasil, o senador Cristovam Buarque considera que o problema da violência na rede pública de ensino do país é gerado principalmente por causa da desvalorização da escola como instituição. Em entrevista exclusiva à BBC Brasil, Cristovam afirma que a escola no Brasil "está sem moral". "A escola desvalorizada gera violência, e a violência desmoraliza ainda mais a escola. Os jovens sabem que saindo com o curso ou sem, de tão ruim que são os cursos, não vai fazer diferença, porque o curso não agrega muito na vida dele. Os alunos não veem retorno na escola", explica. Ministro da Educação do governo Lula entre 2003 e 2004, Cristovam Buarque chegou a se candidatar à Presidência em 2006 levantando como principal bandeira a "revolução na educação de base". Ele acredita que só ela poderia resolver de vez o problema da violência e fazer com que a escola voltasse a ser respeitada no país. BBC Brasil - Como o senhor define o problema da violência nas escolas do Brasil? Por que ele acontece? Cristovam Buarque - A sociedade brasileira é uma sociedade muito violenta hoje, então as pessoas se sentem no direito de agir violentamente, às vezes, até não necessariamente com agressão física, mas com palavras. As escolas estão rodeadas de traficantes, a violência do meio influencia. O outro é o fato de que a escola não é uma instituição valorizada e, ao não ser valorizada, as crianças também entram na mesma onda da não valorização, se sentem no direito de quebrar os vidros, se sentem no direito de levar as coisas pra fora. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Aqui mesmo na UnB (Universidade de Brasília), eu vi a enciclopédia britânica sendo rasgada, porque o aluno em vez de tirar o xérox da folha que ele precisava, arrancou a página e levou. Os próprios professores são tratados como seres sem importância, que ganham salários baixos. Além disso os jovens sabem que saindo com o curso ou sem, de tão ruim que são os cursos, ele sabe que não agrega muito na vida dele. Os alunos não veem retorno da escola. BBC Brasil - Quais as consequências da violência na escola para a educação no país? Cristovam Buarque - A escola desvalorizada gera violência, e a violência desmoraliza ainda mais a escola. Os professores hoje estão fugindo, porque o salário é baixo e há muito desrespeito com relação à profissão deles. Quando a gente analisa o concurso para entrar na universidade, o vestibular, os últimos cursos na preferência dos vestibulandos são pedagogia e licenciatura, isso gera um clima de desvalorização. Para entrar em medicina são 50 por vaga, para pedagogia às vezes têm mais vagas que candidatos. Isso gera desvalorização. E aí as pessoas ficam quebrando as coisas, são violentas. Cria um ciclo vicioso. A desvalorização da escola aliada à violência do país induz à violência dentro da escola. É preciso ter disciplina na escola, mas para o professor ser agente da disciplina, ele tem que ter moral. Só que a escola hoje está sem moral. Uma das coisas básicas da disciplina é o aluno chegar na hora. Como chegar na hora se nem o professor dele chega na hora? Se o professor dele ficou dois meses de greve? O professor se vai um dia, não vai outro. A ausência do professor no Brasil é tão grande quanto a do aluno. Eles faltam igualmente. Então está faltando moral na escola. BBC Brasil - Quais seriam as medidas a curto prazo para conter o problema? Cristovam Buarque - Eu não vejo como resolver isso no curto prazo, só se for atribuindo Valium (calmante) para todo aluno, se colocar Valium na merenda. Brincadeira, mas é que é difícil ver uma solução a curto prazo. Qual o caminho a médio e longo prazo? Valorizar a escola, hoje o salário médio do professor na escola é R$ 2 mil, se você pagar menos do que paga para quem vai ser engenheiro ou médico, os melhores não vêm, eles não vão querer ser professores. Você tem que ter um salário compensador, eu calculo R$ 9.500. Só que para merecer esse salário, tem que ter um processo muito rígido de seleção do aluno, para ver se a pessoa tem vocação, tem que quebrar a estabilidade plena de que o professor continue no cargo sem se aperfeiçoar, tem que ser uma estabilidade sujeita a avaliações. Para a escola ser respeitada, o prédio tem que ser respeitado. As pessoas não saem quebrando shopping, porque é um prédio bonito, confortável. As crianças se sentem desconfortáveis na escola, por isso que elas são violentas. A verdade é que a escola é mais violenta com o aluno do que o aluno com ela. Ela obriga o aluno ficar sentado 6, 7 horas numa cadeira desconfortável, num prédio feio e mal cuidado. Como fazer isso funcionar no Brasil a curto e médio prazo? Ir implantando isso por cidade. Leva 20 anos no país todo, mas precisa de um ou dois anos para fazer em uma cidade. E até lá, como faz? É o que estão fazendo, colocar polícia, bom diretor. A polícia tem que ficar longe da escola, mas no longo prazo. No curto prazo ela é uma necessidade, porque ela diminui a violência da sociedade que está na escola. Além disso, é preciso identificar os alunos violentos. Um só jovem faz uma violência que desmoraliza a escola inteira. Então identificando os jovens que são agentes da violência você resolve o problema, levando ao psicólogo, tratando esse jovem. BBC Brasil - O que o senhor acha do modelo de educação nas escolas de hoje? Cristovam Buarque - Não dá para seduzir uma criança com métodos seculares como quadro negro, tem que ser computador, vídeo. O professor tem que ser capaz de cavalgar a tecnologia da informação, de se comunicar com a criança usando o computador. E finalmente a escola tem que ser 6h ou 7h por dia. O menino se comporta melhor na escola que ele fica o dia inteiro porque ela passa a ser um pouco da casa dele, a escola tem que ser a extensão da casa da criança. BBC Brasil - Aprovou-se no ano passado a medida de destinar 10% do PIB pra educação. Esse dinheiro é suficiente? Então qual é o problema da educação hoje em dia (se não é dinheiro)? Cristovam Buarque - O problema é dinheiro, mas não é só dinheiro. Se chover dinheiro no quintal da escola, a primeira chuva vira lama. Se aumentar muito o salário do professor agora, isso não vai mudar nada. Precisa de todas ações juntas, a revolução mesmo da educação. Para pagar os R$ 9 mil (para os professores), para construir as escolas novas, você precisa de 6,5% do PIB (na educação de base, sem contar investimentos nas universidades). Esse negocio de 10% do PIB foi uma farsa. Por que não colocaram 10% da receita? Porque ao dizer que é do PIB, ninguém sabe de onde vai sair o dinheiro. O PIB não existe, ele é um conceito abstrato de estatística. Para fazer a revolução a qual eu me refiro, nós precisamos para a educação de base R$ 441 bilhões em 20 anos, por isso que eu digo 6,4% do PIB. Se supõe que pré-sal vai dar R$ 225 bi, ele poderia ser uma fonte desse dinheiro. Eu peguei 15 fontes de onde a gente poderia conseguir esse dinheiro e com elas a gente pode chegar a R$ 750 bi. (Quais fontes?) São várias, não vou citar todas aqui. Mas por exemplo, quem vai querer um imposto sobre as grandes fortunas, reduzir publicidade do governo, eliminar subsídio que se dá para educação privada, porque se a pública vai ser boa, não precisa bancar a privada, ou então voltar a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), só que fazer ela ser toda destinada pra educação, pegar 50% do lucro das estatais que vão pro governo, usar rentabilidade de reservas? Tudo isso dá o dinheiro que a gente precisa. Não precisa dos 10% do PIB. Isso não existe. Eu defendo a federalização das escolas para tornar o ensino público uma referência no Brasil. Hoje, das 196 mil escolas públicas que nós temos, pouco mais de 520 são federais e essas são boas. A seleção do professor é mais cuidadosa, as instalações são melhores o regime de trabalho é melhor. Temos que levar esse padrão para todas as outras. BBC Brasil: Mas o senhor tinha consciência disso quando entrou no Ministério? O que o senhor fez pra mudar? Cristovam Buarque: Eu sabia. Essa ideia de implantar escolas boas por cidade, eu comecei. Escolhi 29 cidades e comecei. Eu comecei a fazer isso nas cidades com dinheiro do MEC e não sensibilizei o governo. Para fazer isso leva tempo, quando a gente conseguiu aprovar, eu fui demitido. Mas o governo não tinha interesse em investir em educação de base, como todos os outros, ele só queria investir em universidade. Educação de base não dá voto, você fica na história, mas não fica no governo. Universidade é imediato. Eu recebi 520 parlamentares em um ano que fiquei lá no ministério, desses só um me pediu uma ajuda de investimento para educação de base, um deputado da Bahia, o resto, todos os outros queriam investimento para faculdade, ensino técnico, ou regularizar faculdade particulares.. | 2014-08-19 09:31:09 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140819_salasocial_eleicoes_educacao_cristovam_rm.shtml |
brasil | Suspeito é aluno que teria se revoltado com nota; 'Não lhe ensinei a lidar com revólver', diz tia de vítima em carta. | Professor baleado em estado grave expõe face trágica de violência em escolas | "Professora, preste atenção, que comigo não são cinco tiros, são seis". A frase foi dita por um aluno à professora Mariana*, em uma escola estadual em Sergipe, e faz referência ao trágico caso de um professor baleado em Aracaju no dia 12 de agosto. Carlos Christian Gomes estava na escola em que leciona Biologia quando foi atingido por cinco tiros. Ele continua internado em estado grave, respirando com ajuda de aparelhos. "A gente quer pensar que é brincadeira, mas nunca se sabe", conta Mariana. Por medo das consequências, a professora achou melhor não dar o nome do aluno à diretora da escola. O suspeito de atirar contra Carlos Christian é um aluno de 17 anos, que teria ficado revoltado com uma nota baixa. O caso foi destacado por leitores da BBC Brasil em nossas páginas de Facebook, Google+ e Twitter como um símbolo da violência contra professores no País. A professora Mariana, conta que, depois de ser repreendido por ela, o aluno que ameaçou "dar seis tiros" não repetiu o comentário. "Eu disse (ao aluno) que esse assunto não é algo com o que se brinque e que eu poderia levar a sério, ir à delegacia e fazer um boletim de ocorrência. E que, se qualquer coisa acontecesse comigo, o primeiro suspeito seria ele". "Alguns alunos se aproveitam da situação para amedrontar mesmo o professor. Se aconteceu com Carlos Christian, pode acontecer com qualquer um. O professor fica vulnerável quando está dando aula." Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Dias após a tentativa de homicídio, professores fizeram uma manifestação na frente do Palácio de Despachos do governo de Sergipe contra a violência nas escolas. Pais, parentes e professores que atuam na região de São Cristóvão também fizeram uma passeata pela paz nas proximidades da escola Olga Barreto, onde ocorreu o crime. O aluno suspeito de atirar contra o professor cursava a 8ª série da Educação de Jovens e Adultos (EJA), se apresentou recentemente à polícia e disse ter planejado o crime. "Ele disse que as questões na prova não correspondiam à revisão que o professor passou em sala de aula. Afirmou que comprou a arma e pediu ao professor uma segunda chance. Quando o professor disse que não era possível, ele atirou", disse à BBC Brasil a delegada Thereza Simony, responsável pelo caso. Segundo Claudia Oliveira, que ensina Língua Portuguesa na Escola Olga Barreto há sete anos, o professor Carlos Christian não havia se queixado de problemas de relacionamento com alunos. "Ele é muito responsável em suas atividades, não falta, participa de projetos na escola. Não tinha motivo nenhum para o aluno agir dessa forma." "O rapaz não tinha comportamento agressivo com nenhum dos professores, mas era um aluno que faltava às aulas, não fazia as atividades. Ele ainda teria outra oportunidade para recuperar a nota, porque aquela era a primeira avaliação que fez", afirmou. O Sintese diz que, apesar da situação de Christian ser incomum, a relação entre professores, alunos, funcionários e diretores frequentemente se torna violenta. "Na maioria das vezes, a violência é verbal, mas às vezes descamba para a violência física", explica Joel Almeida, diretor de comunicação do sindicato. "Geralmente, com os alunos, (os conflitos) são (por) questões ligadas à nota. Com os professores mais severos, mais disciplinadores, é comum que existam ameaças ou mesmo depredação de bens. Alguns reclamam de terem carros riscados, pneus furados." "Eu fui vítima de algo semelhante no semestre passado. Alunos que não conseguiam ser aprovados ficavam horas na porta da minha sala me questionando e ameaçando. Mas conseguimos dialogar e resolver a situação", disse à BBC Brasil a professora Claudia Oliveira, diretora do Sindicato dos Professores de Sergipe (Sintese). Para Almeida, o problema pode ser minimizado com investimento na infraestrutura das escolas e com mais engajamento dos professores. "A comunidade escolar em Sergipe não se reúne para discutir a escola, seus problemas, como vai atuar sobre eles. A escola é um lugar em que o aluno e o professor chegam e saem, às vezes, sem muita relação com outras pessoas na escola." O medo de possíveis atitudes extremas dos alunos também é um fator que impede que os docentes comuniquem seus problemas a outros, segundo Mariana. "Acontecem muitas coisas nas escolas que ficam só no comentário entre os professores, cada um tem algo a contar. Muitas vezes, não levamos à direção por medo. Temos receio de que, mesmo que seja uma brincadeira, o aluno seja repreendido e acabe levando isso a sério." A Secretaria de Educação criou, após a tentativa de assassinato de Carlos Christian, uma comissão permanente de acompanhamento da violência nas escolas, formada pela secretaria de Educação, professores, pais, funcionários não docentes e estudantes. O grupo terá um cronograma de visitas às escolas da rede estadual. A família de Carlos Christian não quis dar entrevistas. Segundo o Sintese, vários membros da família são professores - que nunca tinham sofrido atos de violência física. Uma semana após a tentativa de assassinato do docente, sua tia Margarida, professora há 25 anos, divulgou uma carta em que pediu "perdão" ao sobrinho. "O magistério sempre significou para mim a porta de entrada para um país melhor, mais consciente. Somos uma família de professores. Sua mãe, seu pai, sua irmã, suas primas e eu. Muitas vezes quando você era pequeno, sua mãe, mesmo você febril, deixava-o sobre os cuidados de outros, pois os alunos dela estavam esperando-a", escreveu Margarida. "Perdoe-me por não tê-lo ensinado a lidar com a violência. Eu falo para você me reportando a todos os alunos que fizeram parte da minha vida durante estes 25 anos de magistério". "Sempre que meus alunos pensavam em desistir eu argumentava e mostrava outro caminho para eles continuarem. E de repente eu vejo você lutando a favor da vida por ter feito uma avaliação nesse processo de ensino e aprendizagem tentando mostrar ao aluno que ele precisava estudar e se dedicar mais. Ele não entendeu e se revoltou e resolveu descontar em você todos os seus demônios sociais." A tia do professor afirma ainda que é preciso "diminuir a distância entre os jovens e os adultos" e "aprender e ensinar a estabelecer vínculos". "Mas... eu não lhe ensinei como lidar com um revólver", conclui. *A pedido da professora, seu nome real foi mantido em sigilo. | 2014-08-25 20:20:08 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140825_salasocial_eleicoes_professor_sergipe_cc.shtml |
brasil | Após 45 horas e pelo menos quatro mortos, líderes se entregam e polícia anuncia operação pente-fino na penitenciária. | Rebelião em Cascavel acaba com transferência de presos | Depois de 45 horas e pelo menos quatro mortes, chegou ao fim nesta terça-feira a rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel, no Paraná. Um comboio de veículos transferiu mais de 950 presos para outras instituições do estado. Dois agentes penitenciários que vinham sendo mantidos como reféns foram libertados, de acordo com as autoridades. A rebelião começou por volta de 6h de domingo e terminou às 3h30m de terça-feira. Autoridades afirmaram que centenas de policiais iriam realizar uma varredura no presídio em busca de armas. Ambulâncias e médicos prestavam atendimento aos presos e reféns feridos. O motim começou no domingo de manhã e só foi encerrado na madrugada de terça, com a transferência dos presos. A rebelião deixou pelo menos quatro mortos – dois deles decapitados e outros dois atirados do telhado. Os presos exigiam melhores condições na unidade, que dizem estar superlotada e com falta de itens de higiene, além de oferecer mau atendimento médico e jurídico. No entanto, autoridades dizem que outro motivo poderia ser uma ação de detentos membros da facção criminosa PCC para se fortalecer no presídio – que segundo ele seria um dos poucos no estado ainda não controlados pelo grupo. | 2014-08-26 10:55:50 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140826_rebeliaofim_ebc.shtml |
brasil | Introdução de matéria 'inteligência emocional', elaborada por psicólogas, mudou realidade de violência em escola da periferia de São Paulo. | Escola usa aulas de respeito e honestidade para combater violência | "Professora, o Victor disse que vai matar o Pedro e a Ana quando ele crescer", denuncia Marina* à professora da sala da segunda série de uma escola localizada no meio de uma comunidade em Pirituba, zona oeste de São Paulo. A "ameaça de morte" pode até assustar de bate-pronto, mas é uma provocação comum de ser ouvida por ali. "Eu tava zoando", defende-se o garoto de 8 anos. Até três anos atrás, os gritos de "Vou te matar" eram, em geral, seguidos por brigas violentas, em que alunos saíam dando chutes, socos e pontapés uns nos outros. Às vezes, sobrava também para os professores – alguns deles relatam terem levado "unhada" dos estudantes, outros foram agredidos com chutes em momentos de irritação das crianças. Mas desde que um grupo de psicólogas começou a trabalhar as emoções dos alunos, inserindo na grade curricular a matéria de "inteligência emocional" – que incluem aulas de respeito e até honestidade -, a realidade da rotina na escola mudou bastante, conforme relatam os próprios professores. O tema da violência contra professores foi destacado por internautas em consultas nas redes sociais promovidas pelo #salasocial, o projeto da BBC Brasil que usa as redes para obter conteúdo original e promover uma maior interação com o público. Localizada em uma comunidade com altos índices de violência, a escola da zona oeste sofria o reflexo dos conflitos do lado de fora que iam parar dentro das salas de aula, com alunos agressivos e "sem limites", conforme definiram os próprios professores à BBC Brasil. "É uma realidade fora do que você possa imaginar vivendo na classe média. O comportamento das crianças me assustou bastante, a agitação que eles tinham, a falta de concentração", relatou uma das professoras, que já teve turmas do ginásio e do primário na escola de Pirituba. "A gente via muito desrespeito, falta de tolerância, o aluno não consegue enxergar os erros dele, mas aí aponta no outro tudo o que tem de ruim e isso gera muitas brigas, agressões verbais, físicas, tudo isso aqui era muito constante", constatou. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Para combater essa "agressividade" dos alunos, as psicólogas que fazem parte do grupo Inteligência Emocional na Escola implementaram um projeto no colégio dando outro caminho – que não a violência – para os alunos extravasarem suas emoções. "Esses alunos têm problemas assustadores, alguns sofrem abuso sexual do pai, outros apanham, eles vivem a violência dentro e fora de casa e eles precisam falar isso, é um jeito de extravasar. Mas isso normalmente acaba sendo pela violência. Se você dá outro caminho para eles extravasarem isso, eles entendem e param com a violência", explicou Andreia Carelli, uma das psicólogas que fazem parte do projeto implementado na escola municipal de Pirituba. O trabalho dela e das outras duas psicólogas que atualmente estão no projeto se dá em três tipos de ações: o ensino da inteligência emocional dentro da sala de aula, por meio de uma apostila que trata temas como respeito, honestidade, cidadania, diferenças, etc, conforme a faixa etária; o uso de dinâmicas (brincadeiras) que têm como objetivo trabalhar as emoções dos alunos e o autocontrole; e o atendimento individual para os casos mais graves, de alunos muito agressivos ou que passam por problemas pessoais mais complicados (abuso sexual, violência doméstica, drogas, etc). Pelos abraços e o calor demonstrado pelos alunos já no caminho para a sala, a reportagem constatou que o projeto parece ter boa receptividade. "Qual vai ser a atividade de hoje, tia?", "O que a gente vai fazer hoje, prô?" – a agitação era inegável, mas os alunos da 4ª série pareciam empolgados para a 'lição emocional' do dia que a professora-psicóloga iria passar. Andreia começa a aula questionando os alunos: "O que tem que estar sempre presente quando a gente está em grupo?". Eles citam educação, amizade, respeito. "Respeito. E quando a gente perde o respeito é fácil de recuperar?" – um grandioso "não" ecoa pela sala. E a professora segue a explicação da brincadeira. "Hoje vocês vão ser cuidadores do respeito. Nós vamos deixar o respeito aqui na lousa e nós temos que cuidar para ele não ir embora." A tarefa do dia era ouvir quatro histórias que a professora contaria e identificar, por meio de "carinhas" desenhadas em um papel (feliz, triste, assustado e com raiva) qual emoção cada uma delas despertava. Tudo isso sem perder os cuidados pelo "respeito" guardado na lousa. Não demorou muito para os alunos se agitarem e começarem a falar ao mesmo tempo. A professora relembra: "Olha o respeito indo embora!", e a aluna da primeira carteira endossa o pedido apontando para o colega: "É, Kauã, respeita, cala a.." e ela mesma percebe sua 'quase' falta de respeito, colocando a mão na boca antes de completar a frase. No meio da brincadeira e de algumas provocações direcionadas, outro incidente chamou a atenção da turma. Victor*, um garoto sentado no fundo da sala, levanta de repente e pega a cadeira na mão. Com um olhar transbordando de raiva, ele anda em direção ao colega em tom de ameaça. "Ele tá doido, ele quer matar ele" (sic), avisa um dos meninos à professora, que vai até Victor, abraça o garoto e, em tom sereno, faz as perguntas que eles já se acostumaram a ouvir nos últimos anos. "Por que você queria jogar a cadeira nele? Você acha que ele ia ficar feliz se você fizesse isso? Você ia ficar feliz? Resolveria sua raiva? Lembra que quando a gente perde o respeito, a gente não ganha o respeito dos outros" – aos poucos, o Victor vai se acalmando e volta a sentar no seu lugar. Ao fim da aula, quando a professora pergunta se a classe "cuidou bem do respeito", o próprio Victor admite: "Vixe, o respeito quase foi embora". Andreia Carelli faz parte do projeto há um ano e meio e explica que o grande mérito dele é mudar a visão de mundo dos alunos. "Quando eles chegam aqui, a única referência deles de mundo é a violência, mas a gente conseguiu dar pra eles outra referência, como conversar. Se você não gosta de apanhar, por que você vai bater? E com o tempo eles vão mudando essas atitudes." As aulas de inteligência emocional são ministradas semanalmente de 1ª à 5ª série em quatro escolas do país, duas em São Paulo (uma municipal e a outra estadual) e duas em Manaus (as duas estaduais). O sucesso do projeto é percebido facilmente pelos professores. "Ao longo desses dois anos é nítida a mudança, a convivência entre os alunos mudou demais. E a gente sabe que mudou o comportamento aqui dentro da escola, porque essa não é a realidade deles lá fora", contou uma das professoras. Os professores, inclusive, também passaram por um treinamento com as psicólogas para poderem aprimorar a relação que tinham com os alunos na escola. "No início, eles (professores) tinham bastante resistência, achavam que estávamos ali para criticar o trabalho que eles estavam fazendo e tal. Depois eles foram aceitando e sentindo o resultado das aulas", explica Taíssa Lukjanenko, outra psicóloga que está no projeto desde o início. Em geral vistos como vítimas, os professores muitas vezes também são 'agentes da violência' pelo modo como tratam os alunos, conforme pontuou Taíssa. "Aquela violência nunca é só do aluno. Ela vem do meio que ele vive, da forma como o professor o aborda, mas nunca é só dele." Ela diz que o autoritarismo de alguns professores assim como a adoção de medidas extremas como a expulsão de sala em casos pequenos de indisciplina – um assovio durante a aula, por exemplo – podem contribuir para um ambiente violento na escola, além de prejudicar a relação professor-aluno. "Essa relação é muito importante, o respeito vem daí". De acordo com os números do grupo Inteligência Emocional na Escola, 86% dos professores que dão aula nas escolas que participam do projeto consideram que a disciplina dos alunos melhorou e 89% acreditam que a relação com os alunos também deu um salto após a aplicação das aulas. Além do projeto com as psicólogas, a escola em Pirituba também aposta em programas extra-curriculares – banda escolar, mostra cultural, etc. – e na integração com a comunidade – a escola é aberta no fim de semana para atividades da comunidade de Pirituba – para combater a violência. *Os nomes usados são fictícios | 2014-08-19 09:02:30 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140819_salasocial_eleicoes_educacao_escola_modelo_rm.shtml |
brasil | Educadores criticam medidas por impor medo e não atacar causas do problema. | Goiás aposta em 'militarização' de escolas para vencer violência | No portão de entrada, o sequestro relâmpago de uma professora; na sala de aula, o assassinato de um ex-aluno; no banheiro, tráfico de drogas: esse era o retrato da escola Fernando Pessoa em Valparaíso (GO), que acendeu o alerta das Secretarias de Educação e de Segurança Pública de Goiás para os frequentes casos de violência na rede de ensino estadual. Para combatê-los, o governo goiano, literalmente, chamou a polícia. Numa medida polêmica, a escola Fernando Pessoa, assim como outras 11 da rede estadual no último ano, passou por um processo de "militarização" do ensino, resultado de uma parceria das duas Secretarias (Educação e Segurança) para acabar com a violência no ambiente escolar. Na prática, os militares assumem a administração da escola, enquanto a parte pedagógica (professores e métodos de ensino) segue sob a alçada da Secretaria de Educação. Os resultados da mudança implantada no início deste ano, segundo a escola e o governo goiano, foram satisfatórios. O diretor do agora Colégio Militar Fernando Pessoa, capitão Francisco dos Santos Silva, afirma que, implementando os princípios básicos militares de "hierarquia e disciplina", a escola conseguiu acabar com os casos de violência e virou um "sonho" para os moradores da cidade. "Aqui, aluno fumava droga dentro da escola e batia em professor. Eu cheguei a ter de tirar uma professora da aula. Ela estava em um estado tão grande de depressão, que eu tive que tirá-la da sala", conta o capitão à BBC Brasil. "Agora, é outro mundo, os próprios professores perguntam como nós conseguimos. Antes, eram os alunos que mandavam na escola", diz. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Entre os pedagogos e especialistas, porém, o modelo militar é bastante questionado. "Resolve a violência por causa do medo da repressão. Mas não resolve o problema real", defende a doutora em Ciência da Educação e coordenadora do Observatório de Violência nas Escolas do Brasil, Miriam Abramovay. A escola se tornou militar em janeiro deste ano e, segundo o capitão Santos, conseguiu manter 80% dos alunos após as mudanças – eram 680 alunos até então. Agora, o colégio tem quase o dobro de estudantes (1.100) e atuam nele um total de 13 oficiais militares, 38 professores – a maioria mantida do modelo antigo da escola, com apenas algumas trocas daqueles que "não se adaptaram ao novo esquema" -, além de uma psicóloga, uma psicopedagoga e outros funcionários. Entre as funções dos militares, estão as de cunho administrativo – o comandante e o sub-comandante fazem parte do corpo diretivo – e também as de "coordenadores de disciplina", que são responsáveis por fazer com que os alunos cumpram as regras da cartilha militar. "O ser humano se adapta ao meio. Quando você tira o meio violento, as palavras pesadas, eles mudam, o linguajar muda, o falar muda, a gente trabalha a consciência deles", diz o capitão Santos. "Os alunos receberam muito bem, teve três ou quatro pais que não ficaram satisfeitos. Mas para a região aqui é um sonho para esse povo, muita gente queria e não tinha oportunidade." O dia a dia do aluno do Fernando Pessoa já começa diferente ao sair de casa para ir à escola. Antes, bastava colocar a camiseta do colégio, agora é preciso vestir o uniforme militar completo de estudante e cuidar para que tudo esteja "nos trinques" – uma camisa para fora da calça já pode gerar uma chamada de atenção. O corte de cabelo dos meninos agora é "padrão militar", e as meninas devem manter o seu preso. Esmalte escuro é proibido, assim como acessórios muito chamativos. Mascar chiclete, falar palavrão ou se comunicar com gírias ("velho", "mano", "brother") também são práticas banidas da escola desde que ela se tornou militar. Ao chegarem à escola, o tradicional "bom dia" foi substituído por uma continência. "Ela é a nossa saudação, para o professor ou entre os alunos, é um jeito de dizer 'bom dia, como vai?'", explica o capitão Santos. Daí vem o perfilamento em formação militar seguido da revista de um "coordenador de disciplina" para evitar que alguma regra seja desrespeitada. Uma vez por semana, há também a formação geral para cantar o hino nacional e o hino à bandeira, enquanto a mesma é hasteada conforme manda o protocolo militar. Além dos novos hábitos, os alunos da escola Fernando Pessoa ganharam também novas aulas. O currículo do Ministério da Educação (MEC) é mantido, mas os militares adicionaram à grade aulas de música, cidadania, educação física militar, ordem unida, prevenção às drogas e Constituição Federal. "Nós trabalhamos o respeito com o próximo, a responsabilidade com horários, a reverência aos mais velhos. E a convivência", conta o diretor, que garante também não aplicar punições severas aos alunos que quebrarem as regras. Desde que os militares passaram a administrá-la, a escola Fernando Pessoa passou por reformas e teve sua aparência transformada. "A escola era toda pichada, toda deteriorada, banheiros quebrados. Tirei oito caminhões de lixo daqui, era uma coisa muito triste. Agora, reformulamos, pintamos, pusemos climatizador nas salas, sistema de câmera, não tem mais nada de violência", diz o diretor. O próximo passo, segundo ele, é informatizar todas as salas, ampliar a área de esporte, construir uma piscina olímpica para natação e hidroginástica e criar um anexo para receber mais alunos. Mas tudo isso não é pago somente com a verba destinada pelo governo do Estado. Quem estuda no colégio militar Fernando Pessoa agora é convidado a "contribuir voluntariamente" com o pagamento de uma matrícula (R$ 100) e de uma mensalidade (R$ 50). O "custo" para o aluno inclui também a compra do uniforme militar, de R$ 150. "É voluntário, acharam que isso era uma obrigação, mas não é. Contribui quem quer. O uniforme faz parte também, quem não teve condição de comprar a escola doou. Tiramos 10% dos pais que contribuem para ajudar quem não tem condição", esclarece o comandante Santos. "Nós reunimos os pais e passamos pra eles como funciona nossa escola. Mostramos que esse apoio deles é muito pouco pelo que a gente oferece. E eles acreditam e acabam aderindo. Muitos ajudam até com mais", diz. A "solução" encontrada pela escola Fernando Pessoa com a "militarização" do ensino é vista por alguns educadores como uma forma de a escola "fugir" do problema. Para Miriam Abramovay, uma das principais especialistas em violência no ambiente escolar – responsável por coordenar, inclusive, uma pesquisa da Unesco sobre o assunto -, a atitude mostra um certo "desespero" da escola, que "atesta sua incapacidade" para resolver a questão. "Militarizar a escola é algo muito grave, porque a escola atesta que ela não é capaz de nada, que para ela funcionar, tem que vir gente de fora, tem que vir a polícia. E aí dizem que isso resolve, mas resolve pela repressão", pondera. O método da disciplina que proíbe o uso de palavrões e de um linguajar mais despojado também é questionado por Abramovay. "Falar palavrões, usar gírias é normal entre os jovens, faz parte da linguagem juvenil, em algum momento sai palavrão. Proibi-los disso é mais uma forma de repressão", diz. Por último, a pesquisadora pontuou que não há números concretos que comprovem a eficiência dos militares no combate à violência na escola. "Nos Estados Unidos, quando a polícia entrou nas escolas americanas, a violência só aumentou. Sabemos isso porque lá tem números, aqui não temos números. Os adolescentes e jovens estão sempre tentando burlar as formas de repressão que eles sofrem, então por isso que não resolve a violência desse jeito", observa. "Nós já tivemos uma ditadura militar aqui, não dá para chamar os militares para qualquer coisa." | 2014-08-19 09:20:35 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140819_salasocial_eleicoes_educacao_escola_militarizada_rm.shtml |
brasil | Penitenciárias paranaenses registraram até 17 motins em nove meses. | Para sindicato, rebelião indica crise no sistema prisional do PR | A rebelião que já deixa quatro mortos confirmados– dois deles decapitados e outros dois atirados do telhado– na Penitenciária Estadual de Cascavel está perto de terminar após o acordo firmado com os detentos para transferir 600 presos a outras unidades. Os primeiros 255 presidiários deixaram o local escoltados por policiais na noite desta segunda-feira e foram levados para unidades em Foz do Iguaçu, Guarapuava, Cruzeiro do Oeste, Maringá, entre outras no Paraná, e a ação continua durante a madrugada, conforme apurou a BBC Brasil. Os dois agentes penitenciários que são mantidos como reféns pelos rebelados só serão liberados após a transferência total dos 600 detentos e só aí, segundo a Secretaria de Justiça, a rebelião poderá ser considerada encerrada. Esse é o episódio mais brutal de uma série de eventos que vêm desestabilizando o sistema prisional do Paraná, segundo o sindicato local de agentes penitenciários Sindarspen. Segundo a entidade, desde dezembro de 2013 foram registrados 17 motins no sistema prisional do Estado, que tem 31 unidades prisionais – e 26 agentes prisionais feitos reféns no período. A Secretaria de Justiça confirmou 14 desses eventos e disse que a maioria foram episódios de pequena escala e normalmente motivados por detentos que queriam forçar transferências para outras unidades. A pasta disse que não comentaria a situação do sistema prisional do Estado antes do fim da rebelião em Cascavel. Segundo o advogado do Sindarspen, Jairo Aparecido Ferreira Filho, a rebelião iniciada às 6h30 de domingo foi motivada por dois fatores. O primeiro seria um quadro geral marcado por superlotação na unidade, falta de itens de higiene e atendimento médico e jurídico deficitário. O segundo seria uma ação de detentos membros do PCC que estariam interessados em consolidar a posição da facção na unidade – que segundo ele seria uma das poucas ainda não controladas pela facção no Estado. “Conquistar essa penitenciária era uma espécie de troféu. Os presos que são contrários ao PCC são os reféns”, disse. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Ferreira Filho disse, porém, que a rebelião não foi fruto de choques entre facções, pois não haveria um grupo organizado rival ao PCC nas prisões da região. Ele disse que as más condições de infraestrutura e a suposta superlotação do sistema prisional têm elevado a tensão nas prisões de todo o Estado desde dezembro de 2013 – o que resultou em uma série de motins menores que teriam culminado na atual rebelião. O advogado afirmou que a situação também é preocupante em presídios de Foz do Iguaçu, Piraquara e Maringá. Ele disse também que o sindicato teria alertado o Departamento Penitenciário do Paraná no último dia 6 de agosto sobre a possibilidade de uma rebelião em Cascavel – data em que ao menos 50 novos detentos seriam transferidos para a unidade. A Secretaria de Justiça do governo do Paraná disse à BBC Brasil por meio de sua assessoria de imprensa que apenas comentaria o assunto após o fim da rebelião. Paulo Malvezzi, assessor jurídico da Pastoral Carcerária, disse que a situação do sistema carcerário paranaense não está entre as piores do cenário nacional. “Mas o sistema carcerário como um todo está em crise porque não consegue oferecer serviços básicos aos presos, inclusive no Paraná”. A entidade divulgou uma nota lamentando as mortes e incentivando autoridades e a sociedade a investigar supostos abusos de agentes penitenciários contra detentos e a acabar com a revista vexatória a visitantes dos presídios. Segundo Ferreira Filho, o motim teve início quando agentes penitenciários serviam o café da manhã para presos da Penitenciária Estadual de Cascavel. Uma porta que continha os presos teria tido um ferrolho serrado, o que teria possibilitado aos presos de uma determinada ala fazer agentes reféns. O motim teria então se transformado em uma rebelião de grandes proporções. Na hora do tumulto, nove agentes penitenciários cuidavam de 1.040 detentos. Os presos destruíram grande parte da infraestrutura da unidade, segundo o sindicato dos agentes. Eles levaram reféns para o telhado de um dos edifícios do complexo onde os agrediram. Ao menos dois presos foram decapitados e outros dois morreram após serem empurrados do telhado, segundo a Secretaria de Justiça do Estado. Ferreira Filho afirmou ter visto os detentos intimidando reféns com a cabeça cortada de uma das vítimas. Na tarde desta segunda-feira, autoridades do governo e do Judiciário negociaram com as lideranças dos presos a transferência de 600 detentos para outros presídios com o objetivo de acabar com a rebelião. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Justiça, os presos concordaram em libertar os reféns e autorizar a entrada da polícia na unidade depois que metade das transferências já tiverem ocorrido. A expectativa das autoridades é que a rebelião acabe ainda nesta segunda-feira. | 2014-08-25 19:58:51 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140821_crise_prisoes_parana_lk.shtml |
brasil | Agressões de alunos são principal motivo de doenças psicológicas entre educadores, afirma Lenine da Costa Ribeiro. | 'Professores reclamam mais do medo que do salário', diz psiquiatra | À frente de sessões de terapia em grupo para professores da rede pública há mais de 25 anos, o psiquiatra Lenine da Costa Ribeiro diz que as agressões físicas e verbais vindas de alunos são os principais motivos de doenças psicológicas entre os educadores que recorrem ao divã. Segundo o médico do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo, seis em cada dez professores não conseguem mais voltar às salas de aula após enfrentarem episódios de agressões graves - como humilhação, ameaças e ataques físicos. De acordo com Ribeiro, assumindo cargos de "readaptação", como funções na secretaria ou na biblioteca escolar, esses educadores tendem a ser vistos como figuras menos importantes do que aqueles que seguem dando aulas. Desinteresse pela vida, depressão, perda de memória e problemas de cognição são algumas das consequências da violência no cotidiano das escolas, diz o psiquiatra. Leia, a seguir, os principais trechos da conversa: BBC Brasil - A violência na escola é um tema recorrente nas sessões de terapia? Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Lenine da Costa Ribeiro - O medo dos alunos, as situações de agressão e humilhação e a sensação de impotência são as queixas mais comuns nas reuniões. Fala-se sempre sobre salário ou infraestrutura das escolas, mas a insegurança do professor em relação aos alunos é um tema bem mais frequente. Os professores reclamam mais do medo que do salário. BBC Brasil - Quais são suas consequências para a saúde dos professores? Ribeiro - Surgem transtornos de ansiedade generalizada. O estresse pós-traumático é um agravamento importante da saúde mental e leva a sintomas como pânico em diferentes níveis, falta de interesse pela vida, depressão, perdas de memória, dificuldades de cognição e fobias distintas. São sintomas que não respondem rápido aos tratamentos e que por isso costumam ser longos, assim como os períodos de afastamento, que chegam a durar mais de um ano. BBC Brasil - Como é esse tratamento? Ribeiro - Primeiro, com medicação. Antidepressivos e neuromoduladores. O tratamento medicamentoso tenta abreviar o sofrimento o mais rápido possível, mas também são necessários pelo menos dois anos de monitoramento. Neste período o professor participa de sessões de psicoterapia feitas em grupo, onde todos compartilham e discutem experiências. Muitos deles são afastados das escolas até que consigam se recuperar. BBC Brasil - Quais são os principais relatos compartilhados nas sessões? Ribeiro - Há pessoas que tinham grande capacidade de dar aulas, articulação didática, e que ficaram completamente apáticas. O mais frequente é a incapacidade do professor de dar aula porque está sendo impedido agressivamente. Ele não consegue mais se impor e perde toda a autoridade diante da turma. Ameaças também são frequentes, não são só ameaças contra a vida, mas contra o patrimônio da pessoa, como esvaziar os pneus do carro, por exemplo. O maior medo é sofrer reprimendas na rua, depois das aulas, fora da escola. BBC Brasil - Algum caso que o tenha marcado? Ribeiro - Uma professora tinha advertido um aluno em sala. Na reunião de pais, a família, particularmente o pai, foi muito intensamente agressivo no auditório repleto de pessoas. Seu discurso era raivoso e acusador. Depois desse evento, ela nunca mais pode funcionar da mesma maneira. A maneira agressiva com que ele tentou tirar satisfações foi tão hostil e a estressou de tal forma que essa a professora nunca mais conseguiu dar aulas. A humilhação é tão dolorosa quanto a agressão física. São várias as formas de violência. BBC Brasil - Pode falar sobre estas diferentes formas de agressão? Ribeiro - A violência física não costuma ser tão explícita, ela é menos comum. Na rotina mesmo estão as agressões verbais, a desconsideração, um desrespeito profundo à condição do professor. O que acontece é uma descaracterização de seu papel. O educador, aquela pessoa que seria central e determinante na construção de um sujeito, de um indivíduo, de uma personalidade, é tirado de seu lugar. Isso é muito grave, tem consequencias muito importantes, porque cada agressão afeta não só a relação do professor com o agressor, mas também com todos os demais alunos. BBC Brasil - É comum que os professores extravazem este estresse agressivamente sobre os alunos? Ribeiro - Quem está limitado não costuma criar enfrentamentos. Essas pessoas costumam ter respostas mais apáticas, por conta da ansiedade, da depressão. Isso tudo acaba colocando o professor numa situação de limitação e quase sempre quem está limitado não consegue entrar em situações de enfrentamento. BBC Brasil - Como é o retorno destes professores à sala de aula? Ribeiro - O que vejo nesses casos é que o retorno acontece quase sempre de forma readaptada, e não à sala de aula. Uma porcentagem importante, em torno de 60% dos pacientes, volta para a escola ocupando funções administrativas, ou na biblioteca, na secretaria. A readaptação é às vezes a única maneira de dar continuidade ao cargo. Este retorno é muito difícil. BBC Brasil - Como as escolas costumam reagir aos pedidos de afastamento? Ribeiro - Posso falar sobre o momento do retorno. Os readaptados dizem sempre sofrer algum tipo de prejuízo. Isso acaba se tornando parte da própria condição social deles. Acabam sendo vistos como uma posição de menos valia, o que causa baixa autoestima. É como se eles passassem a ter menos valor do que aqueles que estão lecionando. | 2014-08-18 21:07:18 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140818_salasocial_eleicoes_educacao_psiquiatra_rs.shtml |
brasil | Grandes temas nacionais serão abordados em diálogo com leitor, convidado a participar da geração de ideias, do debate por soluções e busca por repercussão. | Série sobre violência contra professores abre cobertura de eleições da BBC Brasil | Há cerca de um mês, perguntamos aos nossos leitores nas redes sociais o que mais lhes preocupava na área da Educação. Ficamos surpresos com a frequência de menções a um tema que, por mais que fosse conhecido, não vinha ganhando tanta atenção: a violência contra os professores. O tema será assunto de uma série que abre a cobertura da BBC Brasil das eleições de 2014. Pretendemos discutir grandes temas do debate político nacional dialogando com as redes sociais em todas as etapas do processo de produção das reportagens. Nesse novo modelo de cobertura, BBC Brasil vai explorar ao máximo as ferramentas de interação com o público e convidar o leitor para participar não apenas da geração ideias, mas também da procura por histórias inéditas, do debate por soluções e da busca por repercussão. "Nossa presença ativa nas redes sociais, por meio do projeto #salasocial, nos proporcionou um tesouro de informações às quais não tínhamos acesso. Não vamos ignorar ou desperdiçar isso. Pelo contrário, vamos fazer dessa colaboração com o público a força da nossa cobertura", disse Silvia Salek, diretora de redação da BBC Brasil. Por meio de um diálogo mais ativo em redes como Twitter, Facebook e Google+, buscamos adaptar nossa maneira de fazer jornalismo, identificando temas – e maneira de abordar esses temas – que respondam aos anseios do nosso público. Casos específicos, como o de uma professora da rede pública em São Paulo, que chegou a tentar o suicídio por duas vezes após ser vítima de agressões de alunos, são o ponto de partida para discutir a desvalorização do magistério, o impacto que isso tem sobre a qualidade do ensino no país e o que propostas existem para combater esse problema. "Nosso objetivo é criar uma pauta que não se resuma à denúncia de um problema, mas à discussão aprofundada das causas e das soluções. Queremos ocupar um espaço mais construtivo no debate por um Brasil melhor", concluiu Salek. | 2014-08-25 12:11:56 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140825_salasocial_eleicoes2014_introducao.shtml |
brasil | Culpa por agressões nas escolas não é só de alunos, mas também de professores e do currículo escolar defasados, dizem especialistas. | Escolas, alunos e professores 'não falam mesma língua' | 2014-08-22 00:12:12 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140820_salasocial_eleicoes_educacao_contexto_rs.shtml |
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brasil | Caso expõe desvalorização do educador e desafios da educação no Brasil; tema levantado após consultas com leitores, violência contra professores inaugura cobertura de eleições da BBC Brasil. | Professora tenta suicídio duas vezes após agressões consecutivas de alunos | "Dou aula de porta aberta por medo do que os alunos possam fazer. Não dá para ficar sozinha com eles", diz Liz*, professora de inglês de dois colégios públicos da periferia de São Paulo. Em 15 anos de aulas tumultuadas e sucessivas agressões (de ameaças de morte a empurrões e tapas na frente da turma), a professora chegou a tentar suicídio duas vezes – primeiro por ingestão de álcool de cozinha, depois por overdose de remédios. "Me sentia feliz quando comecei a dar aulas. Hoje, só sinto peso, tristeza e dor", diz. A violência contra professores foi destacada por internautas em consulta nas redes sociais promovida pelo #salasocial, o projeto da BBC Brasil que usa as redes para obter conteúdo original e promover uma maior interação com o público. Segundo o psiquiatra Lenine da Costa Ribeiro, que há 25 anos faz sessões de terapia coletiva com educadores no Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, o trauma após agressões é o principal motivo de licenças médicas, pânico e depressão entre professores. "Mais do que salários baixos ou falta de estrutura", ressalta. O problema, de acordo com especialistas consultados pela BBC Brasil, seria resultado da desvalorização contínua do professor, do descompasso entre escolas e expectativas dos alunos e de episódios de violência familiar e nas comunidades. A primeira tentativa de suicídio aconteceu assim que Liz descobriu que estava grávida. "Quando vi que teria um filho, fiquei desesperada. Eu não queria gerar mais um aluno", diz a professora, que bebeu álcool de cozinha e foi socorrida pela mãe. A segunda aconteceu em abril do ano passado, após agressões consecutivas envolvendo alunos da primeira série de uma escola municipal e do terceiro ano do ensino médio de um colégio estadual, ambos na zona sul de São Paulo. "Começou com um menino com histórico de violência familiar. Ele atacava os colegas e batia a própria cabeça na parede. Um dia, para chamar minha atenção, ele apontou um lápis bem apontadinho e rasgou o rosto de uma 'aluna especial' que sentava na minha frente", relata. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Ela conta que o rosto da aluna, que tem dificuldades motoras e intelectuais, ficou coberto de sangue. "Violência gera violência", diz Liz, ao assumir ter agredido, ela mesma, o menino de 6 anos que machucou a colega com o lápis. "Empurrei ele com força para fora da sala. Depois fiquei destruída", conta. Na semana seguinte, diz Liz, um aluno de 16 anos a "atacou" após tentar mexer em sua bolsa. "Ele disse que a escola era pública e que, portanto, a bolsa também era dele. Eu tentei tirar a bolsa, disse que era minha e então ele pulou em cima de mim na frente de todos", relata. O adolescente foi suspenso por seis dias e voltou à escola. O mesmo não aconteceu com Liz, que pediu licença médica e se afastou por um ano. "Não me matei. Mas não estou convencida a continuar vivendo", diz. A professora de inglês diz que a gota d'água para buscar ajuda de um psiquiatra foi quando percebeu que estava se tornando "muito severa" com a própria filha, de 6 anos. "Ali eu vi que estava perdendo a vontade de viver", diz. "A violência na escola é física, mas também é moral e institucional. Isso acaba com a gente", afirma. A educadora diz que, nas duas oportunidades, não procurou a polícia por "saber que nada seria feito e que os policiais considerariam sua demanda pequena perto das outras". Para a educadora, o modelo atual das escolas estaria ultrapassado, o que tornaria a situação mais difícil. "Na sala de aula, eu dou aula para as paredes. E se o aluno vai mal, a culpa é nossa. Essa culpa não é minha, eu trabalho com quadro negro e giz. Enquanto isso os alunos estão com celular, tocando a tela", observa. Em tratamento contínuo, ela diz que está, aos poucos, se afastando do ensino na rede pública. "Dou aulas particulares também. E estes alunos eu vejo crescendo, progredindo", diz. Abandonar a escola, diz a professora, seria o caminho para resgatar sua autoestima. "A alegria do professor é ver o progresso do aluno. É gostoso ver o aluno crescer. A classe toda tirar 10 é o maior prazer do mundo, vê-los entrando na faculdade é a nossa alegria", diz. "Mas não é isso o que acontece". *A pedido da professora, o nome real foi mantido em sigilo. | 2014-08-18 23:13:25 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140818_salasocial_eleicoes_educacao_perfil_professora_rs.shtml |
brasil | Rebelião seria promovida por supostos integrantes da facção criminosa PCC. | Presos são decapitados e lançados do telhado em prisão no Paraná | Ao menos quatro pessoas foram mortas em uma rebelião de grandes proporções supostamente integrada por membros da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em um presídio no Paraná neste domingo. Segundo a polícia, dois detentos foram decapitados e outros dois foram jogados do telhado da unidade prisional. A rebelião começou por volta de 6h30 na Penitenciária Estadual de Cascavel. Os detentos estariam exigindo transferências e melhores condições de organização, higiene e alimentação na unidade prisional. Segundo órgãos de imprensa locais, os presos teriam serrado a tranca de uma das celas e dominado um agente prisional, iniciando um motim. Dezenas de presos se posicionaram no telhado da unidade. Eles tinham os rostos cobertos e agrediram agentes e outros detentos feitos reféns com pedaços de ferro e madeira. Os presos exibiram cartazes onde era possível ler a sigla do PCC e depredaram as instalações prisionais. Policiais militares confirmaram à BBC Brasil que detentos foram decapitados. A penitenciária abrigava 1.040 presidiários e ao menos 600 deles teriam tomado parte da rebelião. A polícia disse porém que não era possível ter informações precisas sobre o que estava ocorrendo dentro da unidade. De acordo com a TV Globo, dois detentos foram decapitados e outros dois morreram ao serem jogados do telhado da unidade. Dois agentes eram reféns até a noite de domingo – quando as negociações com a polícia e autoridades do governo e do Judiciário foram suspensas. O diálogo com os presos seria retomado na manhã de segunda-feira. Não há informações precisas sobre o número de feridos. A facção criminosa paulista PCC está presente em diversos Estados brasileiros e, segundo investigações da Polícia Civil e do Ministério Público, controla o tráfico de drogas, o código de conduta e a decisão sobre a realização de rebeliões dentro das prisões. Durante uma crise do sistema prisional no ano passado, mais de 60 detentos foram assassinados em uma série de rebeliões no Maranhão. | 2014-08-25 02:05:56 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140821_rebeliao_parana_lk.shtml |
brasil | Em meio a sinais de esgotamento de modelo de pacificação das favelas, moradora desabafa sobre dor de perda do filho. | 'Acreditei na pacificação, mas é de mentira', diz mãe de mototaxista morto no Alemão | "Quando a morte bate na porta da sua casa, você começa a ver as coisas de uma maneira muito diferente. No começo eu acreditei, quando se falava em UPP com objetivos sociais, colocando esportes, trazendo iniciativas para aproximar a comunidade, mas não foi isso que aconteceu. É uma pacificação de mentira. A gente não está na África nem em Israel, mas vivemos uma guerra também, e aqui no Alemão não se usa bala de borracha e não tem primeira abordagem. Aqui você morre logo." Denize Moraes da Silva, de 49 anos, nasceu e cresceu no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. A comerciante perdeu em 27 de maio o filho Caio Moraes da Silva, aos 20 anos, atingido por uma bala no peito quando tentava sair de um tumulto gerado por uma manifestação na favela em que trabalhava como mototaxista. A investigação ainda está em curso, mas Denize acusa a polícia e diz ter testemunhas. Para ela, o clima nas UPPs está ficando cada vez mais tenso. "Para mim não restam dúvidas de que foi a polícia. Há testemunhas, até mostraram para o meu cunhado o policial que atirou. Foi um tiro no tórax, com a clara intenção de matar. E meu filho era trabalhador, sempre foi. Nunca tinha se envolvido com nada", afirma. Consultada pela BBC Brasil, a Delegacia de Homicídios (DH), que investiga o caso, diz que o inquérito ainda está em andamento. "Foi realizada perícia de local. Familiares e testemunhas foram ouvidos, além dos policiais militares. As armas foram apreendidas e encaminhadas para confronto balístico, e a delegacia aguardo o resultado dos laudos da perícia", informou a DH em nota. Ocupado há quase quatro anos pelas Forças Armadas, o complexo de favelas vive hoje o pior momento desde que recebeu quatro bases de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Com o retorno da lógica de guerra, tiroteios, entrada de tropas do Bope e do Batalhão de Choque, e uma elevação de mortes de civis e de policiais, o momento vivido pela comunidade é emblemático de uma situação que afeta diferentes unidades do programa de pacificação desde o começo do ano. Somente nas últimas semanas a Rocinha registrou tiroteios frequentes. Nas proximidades do Complexo do Lins (zona norte) houve ônibus incendiados e trocas de tiros numa importante avenida que liga o centro à zona oeste, fechada por mais de cinco horas. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast No início da semana o corpo de um policial do Alemão foi encontrado carbonizado dentro do seu carro na Baixada Fluminense. Além disso, três policiais da UPP Jacarezinho (zona norte) estão respondendo por acusação de estupro coletivo, e a lista continua, com denúncias de abusos policiais e a elevação dos números de PMs assassinados e de pessoas que morreram em confronto com a polícia. "O programa de pacificação no Rio de Janeiro está em crise, e não é nos últimos dias não, é nos últimos meses. Só não vê e não admite isso quem está com a responsabilidade do governo, porque a população não nega, os policiais não negam, e a opinião pública também não nega", diz o sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Análise de Violência da UERJ. "É verdade que há uma situação diferente em cada unidade. Em algumas ainda há uma situação positiva, em outras há problemas já bem complicados, e em outras, como no Complexo do Alemão, há um descontrole. A situação lá está fora do controle mesmo", complementa o especialista. Para ele, apesar do cenário mais ou menos grave em cada unidade, é indiscutível que a política de pacificação no Rio de Janeiro se encontra num momento de fortes revezes. "A questão é que o projeto foi desenvolvido para solucionar o problema em todas as comunidades, não só em algumas, e apesar de ainda haver impacto positivo em certos locais, é possível afirmar, sim, que o programa como um todo está em crise". Para Denize Moraes da Silva, o que restou após a morte do filho foram os dois netos, de três anos e um ano, que se converteram em sua maior fonte de força. Para ela, a dor a transformou numa defensora dos direitos dos moradores da comunidade. "Aqui todo mundo está muito desconfiado. Meu avô foi um dos fundadores do lugar onde eu moro, e a gente já viu vários períodos de violência, mas agora estou muito preocupada. Com o tráfico era difícil, mas hoje temos medo da polícia. Medo e antipatia. Tem muito morador inocente morrendo em becos, vielas, eles matam mesmo. E eu não posso me calar, tenho que ajudar a mudar essa história. Hoje sou uma outra pessoa, virei uma guerreira", conta. Além do retorno da lógica de guerra a algumas comunidades, a cidade tem amargado mortes de policiais, seja em serviço ou de folga. Só em 2014 já foram 73. Já o número de "autos de resistência", como são caracterizadas as mortes de civis em confronto com a polícia, também sofreu elevação. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), houve 139 homicídios do tipo no primeiro semestre de 2014, contra 115 no primeiro semestre de 2013. Apesar do cenário negativo e do retorno de cenas de confrontos que têm assustado os cariocas, para o coronel Frederico Caldas, coordenador das UPPs que chegou a ser ferido num tiroteio na Rocinha no começo do ano, o momento não é de crise, mas sim de "grandes desafios". "Em março nós tivemos uma sequência de mortes de policiais no Alemão, uma crise aguda, muito pior. Numa análise do todo, das 38 UPPs, pode-se dizer que hoje a gente vive um momento de estabilidade, mas ainda com esses desafios pontuais no Alemão e na Rocinha, e que não dá para caracterizar isso como uma crise do processo de pacificação, mas sim um desafio proporcional à importância que esses lugares tiveram para o tráfico de drogas", afirma. Caldas diz que é preciso lembrar que o Alemão é uma região muito extensa e complexa, com topografia difícil, e que até 2010 era um lugar tido como intransponível e inacessível, funcionando como o quartel-general do Comando Vermelho. Questionado sobre os ataques recentes, o coronel diz que trata-se de uma "nova geração" de traficantes. "Especificamente no Alemão a utilização da mão de obra jovem é algo feito em larga escala. Muitos dos principais líderes foram mortos, presos ou fugiram e com isso a gente observa que houve uma renovação. Nós temos relatos dos nossos policiais, de jovens de 13 anos de idade com pistola na mão. Isso é uma tragédia social". Quanto ao controle que o Estado detém sobre as regiões que vêm apresentando confrontos e tiroteios, Caldas admite que em alguns pontos há um "controle relativo". João Trajano Sento-Sé, doutor em Ciência Política e Sociologia e pesquisador da UERJ, relembra outro fator que coloca em dúvida o futuro das UPPs. Para ele, o programa tornou-se uma bandeira política do atual governo do Rio de Janeiro, que comandou a Segurança Pública por dois mandatos. Essa lógica política acabou primando pelo que ele avalia como uma "expansão exagerada e não planejada", a ponto de afirmar que a ocupação do Alemão foi um "tiro que saiu pela culatra". Além da crise atual e das eleições em outubro, outro desafio é iminente para o Rio: a pacificação do Complexo da Maré, ocupado pelas Forças Armadas em março deste ano, onde o Exército vem registrando fortes confrontos. Para especialistas, é preciso aprender com as lições do Alemão e da Rocinha antes de iniciar o processo na Maré. Na visão de Trajano a ocupação do Complexo do Alemão poderia ter tido um planejamento melhor e deveria ter sido aguardada - o argumento oficial do Estado é de que a tomada do Alemão foi antecipada devido a uma onda de ataques. "Fica difícil você querer um novo padrão de policiamento, sem hostilidade, sem enfrentamento, sem violência. É até irresponsável. Acho que foi um mau passo para o programa como um todo. Surgiu esta crise", diz. Apesar de mostrar apreensão com o futuro, Trajano diz que não vê outro modelo melhor neste momento e que acredita que as UPPs sejam "o melhor experimento de policiamento do Rio de Janeiro dos últimos 30 anos", mas que acabaram adotando uma lógica política, e não técnica. "Por isso houve esse crescimento desordenado, para o qual a polícia sequer tinha recursos humanos para responder. Hoje em dia há setores da própria Polícia Militar descrentes do programa, então o novo governo que assumirá a partir de janeiro terá que fazer ajustes necessários para planejar essa expansão, conter um pouco o crescimento, protegendo as UPPs até mesmo do fogo amigo", diz o especialista, que não acredita que um novo governo interrompa o programa. "Tudo o que um novo governador não precisa é a volta das altas taxas de homicídios", avalia. Já o coordenador das UPPs, coronel Frederico Caldas, admite a necessidade de um aperfeiçoamento e de uma lógica de expansão que não coloque em risco o programa como um todo, mas cobra do governo mais investimentos em programas sociais e melhorias nas comunidades pacificadas. "É preciso que ocorram os investimentos sociais, que sejam levados também os serviços essenciais, porque senão fica injusto demais que o policial permaneça sozinho ali sendo o responsável por tudo. Então o futuro da UPP é fazer esses ajustes no processo, avançar com a cautela necessária, para que a gente não perca a possibilidade de controle ou que os problemas se tornem tão grandes a ponto de tornar o programa como um todo muito vulnerável. Já são 9.500 policiais em 38 UPPs, e o lixo continua sendo acumulado, ainda há questões como a vala negra, a escola, a saúde, e sobretudo os empregos. É preciso que haja um futuro, uma ocupação para estes jovens, porque muitos estão sendo cooptados pelo tráfico". | 2014-08-21 00:13:11 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140820_upp_depoimento_jp_lgb.shtml |
brasil | Coronel Frederico Caldas diz que a polícia tem controle 'absoluto' em alguns pontos e 'relativo' em outros, mas pede também investimentos sociais. | Chefe de UPPs rejeita crise e alerta sobre expansão no próximo governo | Embora tenham experimentado um momento de estabilidade em seus primeiros anos, as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) do Rio de Janeiro, criadas em 2008, vivem hoje um cenário complexo. Há unidades onde ainda existe estabilidade e outras com problemas, mas de longe o pior cenário ocorre no Complexo do Alemão, onde o sociólogo Ignacio Cano, da UERJ, diz que a situação está "fora de controle". Desde o início do ano diferentes UPPs têm registrado tiroteios, confrontos, mortes de policiais e de moradores. Várias unidades têm visto problemas sérios, como a Rocinha, Complexo do Lins, Jacarezinho e Manguinhos, incluindo denúncias de tortura, estupros coletivos por parte de PMs, e o retorno das tropas do Bope E do Batalhão de Choque. Mas apesar da volta da lógica de guerra a algumas favelas, o comando central do programa rejeita tratar-se de uma crise e diz lidar com "grandes desafios". Para especialistas, o futuro do principal programa de Segurança Pública do Rio está num momento crucial não só pelos fortes revezes, mas também pela proximidade da entrada de um novo governo do Estado. Criadas pela administração que encerra agora oito anos à frente do Estado, as UPPs, para analistas, tornaram-se uma bandeira política e foram expandidas seguindo uma lógica política e não técnica. Outra questão é a pacificação do Complexo da Maré, ocupado pelas Forças Armadas em março deste ano, que deve ser mais difícil do que a do Alemão, podendo colocar ainda mais em xeque a política de pacificação. Em entrevista à BBC Brasil na sede do Coordenadoria da Polícia Pacificadora, diante do Complexo do Alemão, o coronel Frederico Caldas, chefe das 38 UPPs do Rio, fez um alerta ao novo governo, dizendo que a expansão das UPPs deve ser cuidadosa, a fim de evitar problemas "tão grandes a ponto de colocar todo o programa em risco" e questionado a respeito do domínio do Estado sobre pontos mais tensos das favelas, admitiu que a polícia tem controle "absoluto" em algumas regiões e "relativo" em outras. Confira os principais trechos da entrevista: BBC Brasil - Após relatos de confrontos e reforço de PMs e do Bope no Alemão, mortes de moradores e de agentes e denúncias de abusos policiais, a política de pacificação no Rio de Janeiro vive um momento de crise? Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Coronel Frederico Caldas - A gente vive um momento de grandes desafios, mas não dá para caracterizar como crise. Já tivemos períodos muito difíceis mesmo, em uma quantidade até maior de UPPs. Dito isso, sem dúvida nenhuma o Complexo do Alemão hoje é o nosso maior desafio. É preciso lembrar que este lugar era o quartel-general da principal facção do tráfico do Rio (o Comando Vermelho), ou seja, um lugar que se julgava inacessível. Outros fatores são a extensão territorial e os becos, vielas e áreas de vales. Tudo isso justifica o fato de ainda termos, hoje, trocas de tiros e confrontos, que de fato são incômodos e geram para os moradores uma situação de instabilidade e de medo, que a gente compreende. Agora também é inevitável comparar. Até a ocupação de 2010 era um lugar em que a polícia não entrava, ou seja, a gente imagina o que era viver no Alemão com os traficantes, e hoje é infinitamente melhor. BBC Brasil - Analistas criticam a expansão do programa de pacificação como "exagerada" e dizem que a ocupação do Alemão foi um "tiro que saiu pela culatra". Alegam que não há efetivo suficiente e que os policiais, em sua maioria muito jovens, são treinados para o policiamento comunitário mas se deparam com situações de confronto para as quais não têm experiência. O senhor concorda? Caldas - É sabido que a ocupação do Alemão não estava prevista. Ela ocorreu em consequência de ataques por parte de marginais antes de novembro de 2010, numa série de ataques pela cidade cujo epicentro do poder paralelo estava lá. A gente viveu um momento até final de 2013, em que apesar de todo esse desafio mantínhamos um grau de estabilidade. Do final do ano passado para cá as coisas se agravaram por razões que a gente até desconhece, mas era previsível que houvesse uma tentativa de retomada de alguns pontos em função do lucro da venda da droga, já que o Brasil é o segundo maior mercado consumidor de cocaína do mundo. Falando dos policiais, é claro que o processo de pacificação contempla a formação dentro de uma lógica de policiamento de proximidade, comunitário. Mas em alguns locais há uma necessidade de um perfil diferente. E a partir daí nós criamos o Grupamento de Intervenção Tática, o GIT. São 86 policiais que receberam um treinamento de 15 dias dado pelo Bope no Complexo do Alemão. Acho que a gente precisa fazer o que estamos fazendo. Analisar o cenário e adaptar a nossa realidade a este cenário. Nós tivemos um momento, por exemplo, em que os fuzis começaram a ser recolhidos das UPPs, em 2011. As comunidades da Zona Sul e da Tijuca não usavam mais fuzis. Foi um momento de estabilidade absoluta. Hoje isso já não é possível. BBC Brasil - A UPP ainda está "vencendo" mesmo em locais como o Complexo do Alemão? O Estado ainda detém o controle? Caldas - A resposta nunca foi só da UPP. Se eu precisar de um apoio maior, este apoio está disponível. Seja com o Bope, o Choque, e talvez no momento mais agudo, em março, com a montagem da base do Bope aqui na Pedra do Sapo e a utilização de aeronaves. Os confrontos provêm de pontos em que havia venda da droga. Na Rua 2, por exemplo, onde houve realmente um embate maior, é onde há tentativa de continuar vendendo a droga, e nós estamos fazendo uma operação de asfixia. Temos um controle total da área, mas com instabilidades. O que não podemos deixar de dizer é que temos o compromisso de que não pode haver recuo. Nas UPPs a gente tem, sim, um cenário de controle. Algumas com controle absoluto, outras com um controle, digamos, relativo, em regiões onde há uma lógica de enfrentamento. BBC Brasil - Se há treinamento para policiamento comunitário, de proximidade, por que há tantas reclamações de abusos, fora as denúncias de flagrantes forjados, tortura, até estupro? Há um ranço entre os policiais de UPP de que todos nas comunidades são marginais? Caldas - Nós detectamos no fim do ano passado que a abordagem e a revista de pessoas são os momentos mais tensos na relação do policial com os moradores. Nomeamos uma comissão para elaborar uma cartilha, um manual de abordagem. Há abusos, há excessos, a gente reconhece isso e não faremos apenas uma entrega do manual. Nós vamos fazer um treinamento. Parece óbvio, mas a gente precisa fazer isso. Precisa dizer que não pode ameaçar forjar flagrante, botar droga no bolso. Não pode levar para o posto policial, como no problema do Amarildo. Tem que levar para a delegacia. A outra ação foi a criação das ouvidorias das UPPs, em maio. E agora por fim vamos inaugurar, em setembro, o Conselho Comunitário de Segurança nas UPPs, com um projeto na Cidade de Deus e outro na Mangueira. Moradores, comerciantes e associações de moradores vão participar e sentar uma vez por mês com o comandante da UPP para discutir segurança pública. Instalamos na primeira semana de setembro, e até o final do ano queremos ter um conselho em cada unidade. BBC Brasil - Outro desafio aguarda o Rio de Janeiro com a pacificação do Complexo da Maré, ocupado pelas Forças Armadas em março deste ano. Se o Alemão e a Rocinha eram QGs de facções rivais do tráfico, um na Zona Norte e outro na Zona Sul, na Maré há três facções diferentes e milícias. Já se prevê muita resistência? Caldas - Em primeiro lugar é importante destacar que a ocupação da Maré aconteceu devido a um momento específico, quando a cidade sofria uma onda de ataques e fez-se necessária essa intervenção. Até aquele momento não havia certeza de que a Maré seria pacificada antes da Copa, provavelmente ficaria até para o segundo semestre. Somadas as 16 comunidades, a extensão da Maré é superior à do Alemão e da Penha, e a população também, já que são em torno de 130 mil moradores, então é um cenário mais complexo. É uma comunidade extremamente politizada, com cerca de 50 ONGs. Mas também há algumas facilidades. É uma favela plana, com exceção do Timbau, que é um morro. E isso facilita, por isso vamos ter um efetivo menor do que no Alemão, onde temos 2,2 mil policiais. Lá serão 1,6 mil policiais e há uma definição de que tenhamos pelo menos quatro bases de UPPs. Ainda não há uma data exata, mas tudo caminha para que a entrada seja depois das eleições. BBC Brasil - A pacificação da Maré pode ser ainda mais difícil do que a do Alemão? Caldas - Pode, sobretudo pela localização, nos arredores da Linha Vermelha, Linha Amarela, do aeroporto do Galeão e da Baía de Guanabara. A baía incorpora um outro elemento que a gente não tem no Alemão. A questão das facções rivais no mesmo local, das milícias. É um cenário mais desafiador, e por isso estamos fazendo uma integração com a comunidade com uma antecedência muito maior, para que possamos anular esses fatores. Tenho tido reuniões com ONGs e moradores, e o Exército sinaliza os pontos em que a gente deve ter um cuidado muito maior. É inevitável que haja resistência, mas o Exército tem compartilhado com a gente um índice diário de trocas de tiros, tropas atacadas, em que momento foi, qual a incidência de horário. BBC Brasil - Qual deve ser o futuro das UPPs após as eleições? Caldas - Em primeiro lugar, a expectativa como cidadão e como profissional é de que o programa de pacificação se transforme num programa de Estado e não de governo, ou seja, que quem quer que assuma, dê continuidade. Agora, há que se ter dois cuidados. Primeiro, entender que a UPP não vai resolver todos os problemas de segurança. Segundo, que o programa tem uma limitação de expansão, porque isso requer investimento, efetivo policial. Espero que haja um aperfeiçoamento. Identificamos aqui a necessidade de uma proximidade maior com a comunidade e um melhor preparo do policial, sobretudo na questão da abordagem, que é um grande foco de tensão. Agora é preciso também que ocorram os investimentos sociais, que sejam levados também os serviços essenciais, senão fica injusto demais que o policial permaneça sozinho ali sendo o responsável por tudo. O futuro da UPP é fazer esses ajustes no processo e avançar com a cautela necessária, para que a gente não perca o controle. Já são 9,5 mil policiais em 38 unidades. A expansão da pacificação significa a retomada de mais áreas, o que é positivo. Mas não podemos expandir demais, para evitar que os problemas comecem a ser tão grandes a ponto de colocar toda a política em risco. | 2014-08-20 22:15:33 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140820_upp_ping_jp.shtml |
brasil | Júlio de Almeida, de 83 anos, foi para o presídio em 1958 e continuou na ilha após ganhar liberdade condicional. | Último preso da Ilha Grande conta dias para fim da pena | Júlio de Almeida, de 83 anos, é o último prisioneiro da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, três décadas após a implosão do presídio. Almeida ganhou liberdade condicional antes da desativação da prisão, mas decidiu cumprir lá mesmo o resto de sua pena em liberdade condicional. Neste ano, ele deve finalmente completar as sentenças por homicídio e roubo. O jornalista da BBC Gibby Zobel conversou com ele na ilha que – de criminosos e presos políticos – passou a receber multidões de turistas. Assista ao vídeo. | 2014-08-22 07:52:22 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2014/08/140822_video_ilhagrande_ebc.shtml |
brasil | A pedido da BBC Brasil, analistas assistiram a imagens divulgadas nesta semana e levantam hipóteses sobre o que pode ter dado errado. | Especialistas nos EUA e França veem jato de Campos ‘invertido’ em vídeo | O avião que transportava o candidato à presidência Eduardo Campos e seis outras pessoas pode ter voado "invertido", ou seja, "com a barriga para cima" antes de sofrer a queda, segundo alguns especialistas ouvidos pela BBC Brasil na França e nos Estados Unidos. O avião Cessna Citation caiu em Santos, no litoral de São Paulo, no dia 13. A BBC Brasil pediu a especialistas em aviação para analisar o vídeo que mostra a aeronave ainda no céu, poucos segundos antes de sua queda. O vídeo foi divulgado nesta semana por uma afiliada da TV Globo. As imagens do momento da queda foram filmadas por uma câmera instalada em um prédio em construção. O especialista em aviação Jean Serrat, ex-piloto da Air France e ex-vice presidente do Sindicato Nacional dos Pilotos de Linha (SNPL) da França, acha que o avião estava invertido pouco antes da queda e ressalta que, se isso ocorreu, foi erro de pilotagem. "É possível pensar que na hora de arremeter (procedimento em que o piloto, durante um pouso que não pode ser efetuado, decide voltar a subir) o avião estivesse a uma velocidade muito baixa em relação ao seu peso", diz Serrat. "Isso ainda é mais acentuado se o piloto estiver fazendo uma curva para mudar a trajetória", diz Serrat. "Uma asa do avião pode ter perdido a sustentação, fazendo com que o avião virasse e ficasse em posição invertida, caindo de costas em alta velocidade", afirma o especialista, ressaltando que se trata de uma hipótese. "Como a altitude era muito baixa, o piloto não tinha mais tempo para retomar o controle e fazer manobras para recuperar o voo", acrescenta o ex-piloto. "Ou o piloto não fez os procedimentos corretos com o flat da asa ou não estava na velocidade adequada no momento de arremeter o avião. O avião caiu em grande velocidade e com ângulo de descida muito superior ao normal", acrescenta. Para Gérard Arnoux, ex-presidente do Sindicato dos Pilotos da Air France (SPAF), que realizou investigações paralelas sobre o acidente com o voo Rio-Paris da companhia aérea, em 2009, o piloto do Cessna que transportava Campos "perdeu o controle" da aeronave. "O avião caiu com uma inclinação muito forte e com velocidade muito elevada", diz Arnoux. Mas diferentemente de outros especialistas ouvidos pela BBC Brasil, Arnoux diz não achar, ao observar as imagens do vídeo, que o avião estivesse invertido no momento da queda. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Após assistir ao vídeo, o especialista americano Peter Goelz, ex-diretor da National Transportation Safety Board (NTSB), agência responsável pela investigação de acidentes aéreos nos EUA, também destacou o fato de o avião parecer estar invertido. "Parece que o piloto perdeu completamente o controle", disse Goelz à BBC Brasil. Ao comentar a hipótese de desorientação espacial do piloto, o americano diz que "é possível ocorrer", mas salienta que, "em um avião como o Citation, que tem sistemas de controle de voo muito sofisticados, é pouco provável que seja apenas isso, deve haver algo mais". Segundo especialistas, desastres aéreos costumam ser resultado de um conjunto de fatores. Apesar de ressaltar que é muito difícil, neste momento, determinar o que causou o acidente, Goelz acredita que os investigadores também irão concentrar sua atenção, entre outros fatores, sobre as condições meteorológicas na hora do desastre. O americano destaca que um dos fatores observados nesse tipo de acidente é a possível pressão sobre a tripulação para voar mesmo com mau tempo. Goelz lembra que houve nos EUA vários casos de acidentes aéreos com políticos eleitos ou candidatos em condições semelhantes. Em 2000, o governador do Estado do Missouri, Mel Carnahan, morreu em um desastre aéreo durante sua campanha para o Senado. O avião, um Cessna pilotado pelo filho do candidato, caiu em uma área de floresta durante uma tempestade, matando as três pessoas a bordo. Em 2002, o senador Paul Wellstone, de Minnesota, que buscava a reeleição, morreu 11 dias antes do pleito, em um acidente que matou outras sete pessoas, entre elas sua mulher e sua filha, também durante mau tempo. "Como há um candidato ou autoridade eleita a bordo, e ele tem um compromisso, há maior pressão sobre a tripulação para completar o voo, completar a missão", afirma Goelz. "Tenho certeza de que as pessoas (investigando o acidente no Brasil) estão preocupadas com isso. Que esta tripulação queria completar sua missão para o candidato. E com o tempo ruim. Em circunstâncias normais, sem o candidato no avião, talvez não o tivessem feito." Técnicos americanos da NTSB, da Federal Aviation Administration (FAA), autoridade da aviação civil dos EUA e da Cessna, fabricante da aeronave, com sede nos EUA, foram enviados ao Brasil para auxiliar nas investigações. Também foram enviados técnicos do Canadá, país da fabricante do motor, a Pratt & Whitney Canada. | 2014-08-21 18:56:06 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140821_voo_campos_possibilidades_pai_ac_df.shtml |
brasil | Segundo o presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, estados nordestinos estão melhores preparados para lidar com períodos de estiagem. | Sudeste pode 'aprender com Nordeste a lidar com seca' | O presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, disse em entrevista à BBC Brasil que a atual crise hídrica em São Paulo e em outras cidades do Sudeste é uma "oportunidade" para esta região do país, que deveria se inspirar no exemplo do Nordeste para enfrentar o problema. Segundo Braga, daqui em diante, o uso mais eficiente da água e o preparo para enfrentar períodos de estiagem se tornarão uma prioridade, assim como houve uma busca por eficiência energética e medidas capazes de evitar a falta de energia elétrica após os apagões do início da década passada. "Em meio a essa crise no Sudeste, ninguém fala do Nordeste, que vive uma seca há três anos", destaca o hidrologista, que também é professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). "Esta região aprendeu com as crises do passado e criaram uma infraestrutura para conseguir sobreviver a este momento díficil. O Ceará é um bom exemplo disso." Braga também defende que haja uma mudança no atual modelo de cobrança de tarifas de consumo de água. Para o especialista, somente um aumento exponencial do preço seria capaz de fazer consumidores usarem este recurso de forma racional. O hidrologista defende que seja imposto um limite "razoável" de consumo para cada residência e que, a cada metro cúbico utilizado além dele, o valor da tarifa seja em primeiro lugar triplicado. Caso seja ultrapassado um segundo patamar de consumo, o preço seria elevado em seis vezes, e assim por diante. "A única forma de fazer as pessoas reduzirem seu consumo é gerar um impacto no bolso." A Sabesp já aplica um aumento progressivo do valor da tarifa de acordo com o consumo. A empresa cobra em São Paulo um preço fixo de R$ 16,82 pelo uso de até 10m³. Entre 11m³ e 20m³, a tarifa por metro cúbico sobe 56%. Se forem usados entre 21m³ e 50m³, o preço sobe mais 149%. Acima disso, há um acréscimo de 10% no valor do metro cúbico. "Minha proposta é que o valor seja triplicado após um limite razoável para cada residência. Depois, sextuplicado", afirma Braga. "Quando o consumidor receber a conta, vai perceber que não tem como pagá-la e ai vai entender que há uma crise e economizar." Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast A proposta de Braga ganha relevância diante de números divulgados na última terça-feira a investidores pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Esses números mostram que, mesmo em meio a pior crise de água já registrada na região atendida pela empresa, quase um quarto das residências paulistas teve um aumento no consumo de água. A porcentagem das casas com esse aumento ficou em 24% em maio, baixou para 21% em junho, subiu para 26% em julho e está em cerca de 22% em agosto, segundo dados parciais contabilizados até o último dia 11. Os dados da Sabesp ainda mostram que um bônus oferecido a paulistas que reduzirem seu consumo de água em 20% não foi capaz de gerar uma grande economia de água. Desde fevereiro, as residências que cumprem com esta redução ganham um desconto de 30% na conta no fim do mês. Mas o consumo nas 43 cidades da região metropolitana de São Paulo terminou o primeiro semestre com um aumento de 1,1%. Isso ocorreu por causa de um aumento de 4% entre janeiro e março. Já entre abril e junho, houve uma redução de 2%, o equivalente a 6 bilhões de litros, algo que a Sabesp considerou "significativo" diante do aumento de 5% nas ligações de água neste período. Para Braga, isso é um sinal de que a população não está consciente da crise hídrica, "caso contrário não haveria aumento do consumo". "A mídia fala muito da crise, mas, se não impactar no bolso do cidadão, ele acha que é assim mesmo e que não é uma situação tão grave assim, porque tem água na torneira", diz o especialista. O governo estadual paulista chegou a anunciar em abril que iria cobrar uma multa de 30% pelo aumento do consumo de água. A medida veio após quedas sucessivas do nível do Sistema Cantareira (que abastece a Grande São Paulo) por causa de uma escassez de chuvas. A multa seria aplicada a partir de maio, foi adiada para junho e nunca chegou a sair do papel. O governador paulista Geraldo Alckmin desistiu da medida em julho por considerá-la desnecessária diante do aumento do número de consumidores que aderiram ao programa de bônus da Sabesp. Ele disse que "91% da população aderiu ao uso racional da água. Quase 40% ganhou o bônus", disse o governador na época. Segundo dados de agosto da Sabesp, 78% dos consumidores reduziram seu consumo até agora. "A multa gera muita confusão porque seu processo legal é complicado e ela pode ser questionada pelo Ministério Público", diz Braga. "O aumento exponencial da tarifa é possível porque é uma decisão que cabe exclusivamente à agência reguladora." Diante da perspectiva de falta de chuva até novembro, o governo do estado já obteve autorização para captar uma segunda parte do volume morto, estimada em 100 bilhões de litros. Braga considera a medida "absolutamente necessária porque não há como fazer uma previsão climatológica de longo prazo". "É uma forma de se precaver em relação a verão menos chuvoso, porque nenhuma obra de infraestrutura para levar mais água para o Sistema Cantareira será concluída no curto prazo", diz Braga. "Obras já são por si só algo demorado e isso se agrava no nosso país, porque temos uma legislação ambiental e de licitações altamente complexa, o que faz com que obras levem dez vezes mais tempo aqui do que na China, por exemplo." O especialista acredita que a escassez recorde de chuvas entre o final de 2013 e o início deste ano dificilmente se repetirá, mas esclarece que isso não significa que a crise estará resolvida. "As previsões do CPTEC (Centro de Estudos do Tempo e Estudos Climáticos, órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia) indicam que teremos um verão normal. Se isso se confirmar, chegaremos nesta mesma época do ano que vem com o nível dos reservatórios em 30%", diz Braga. "Isso é preocupante, porque ai dependeremos de novo da chuva, e não podemos ficar à mercê da chuva." | 2014-08-20 21:28:47 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140820_crise_agua_nordeste_sudeste_rb.shtml |
brasil | Espera-se que a Rede Sustentabilidade passe a exercer influência nos rumos da campanha; maior dúvida é postura em relação ao agronegócio. | Chapa de Marina corre contra o relógio para finalizar ajustes | Oficializada a candidatura da ex-senadora Marina Silva à Presidência pelo PSB nesta quarta-feira, a chapa corre contra o relógio para fazer ajustes na campanha e incorporar aliados da ambientalista nos altos círculos de decisão. Embora dirigentes pessebistas digam que, com Marina, a candidatura não sofrerá alterações importantes, espera-se que a Rede Sustentabilidade, o grupo político da ex-senadora, passe a exercer influência equivalente à do PSB nos rumos da campanha. As mudanças serão feitas com o bonde em movimento: com o início da propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio nesta semana, a campanha já entrou em sua reta final. Coordenador do programa de governo da chapa, o deputado federal Maurício Rands (PSB-PE) disse à BBC Brasil que é natural que Marina traga para a cúpula da campanha seus assessores mais próximos. Ele afirmou, porém, que as alterações não afetarão a essência da candidatura. "A campanha segue na mesma direção, feita em cima de um programa pactuado pelo PSB, pela Rede e pelos demais partidos aliados. A coordenação sempre foi bipartite (entre PSB e Rede) e sempre nos demos muito bem", diz. Na cerimônia em que sua candidatura foi oficializada, Marina disse que nenhum dirigente do PSB deixaria seu posto na coordenação da campanha para dar lugar a quadros da Rede. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Nos bastidores, porém, há incertezas sobre os próximos passos da chapa. Antes da morte do ex-candidato Eduardo Campos, no dia 13, Marina e seu grupo já haviam se estranhado com a cúpula do PSB quanto a alianças nos Estados. Dois dos desentendimentos ocorreram quando Marina barrou a aproximação da candidatura com os políticos ruralistas Ronaldo Caiado (candidato do DEM ao Senado por Goiás) e Ana Amélia (postulante do PP ao governo do Rio Grande do Sul), gesto que irritou dirigentes pessebistas. Ela defendia que a chapa só se aliasse a políticos e partidos com quem mantivessem afinidades ideológicas. Marina também se recusou a endossar alianças do PSB com o PSDB na eleição para o governo de São Paulo e com o PT na disputa para o Senado no Rio. Em seu discurso na quarta, Marina disse que todas as alianças acertadas por Campos estão mantidas, mas que ela só apoiará as que foram costuradas com seu consentimento - o que exclui arranjos com o PSDB em São Paulo e o PT no Rio. Candidato a vice-governador na chapa encabeçada pelo PSDB em São Paulo, o deputado federal pessebista Márcio França diz que Marina não será prejudicada caso ignore as alianças. "Eu acho que ela tem que seguir o caminho dela", afirma. "Ela entra num perfil não-partidário, o eleitor quer vê-la sozinha". França diz, ainda, que não pretende usar a imagem de Marina em seu material de campanha. "Se eu tivesse que escolher, eu gostaria de continuar usando a imagem do Eduardo (Campos). Eu acho que, neste instante, é a imagem mais forte, porque o Eduardo passou, mas é o sentimento que sinto nas pessoas, de que existe um certo arrependimento: 'Poxa, não sabia que ele era assim. Se eu soubesse!'" Outras dúvidas que pairam sobre a campanha dizem respeito à postura de Marina em relação ao agronegócio, um dos maiores setores da economia, que vem sendo assediado por todos os principais candidatos. Como cabeça de chapa, Eduardo Campos vinha se esforçando para atrair votos e doações de expoentes do setor. Ao menos em uma das tarefas ele vinha sendo bem sucedido: na primeira prestação de contas da campanha, empresas do agronegócio apareceram como suas principais doadoras. Em sabatina recente na Confederação Nacional da Agropecuária (CNA), Campos buscou mostrar-se simpático ao setor e combater temores sobre a influência que Marina exerceria nas políticas para o campo em seu eventual governo. Não se sabe como Marina – que politicamente sempre se posicionou no pólo contrário ao dos ruralistas – tratará do tema na campanha. Em seu discurso, ela disse que a maior parte do setor está alinhada com suas ideias quanto à necessidade de aumentar a produção sem desmatar novas áreas, e que os demais agricultores aguardam incentivos do governo para seguir por esse caminho. O PSB tem se esforçado em sinalizar que a candidatura não representa qualquer ameaça ao setor, e a nomeação do deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) para vice da chapa é parte dessa estratégia. Albuquerque é considerado um hábil negociador e visto com simpatia por membros da bancada ruralista. "Vamos continuar desenvolvendo uma interlocução que já tinha sido feita com o agronegócio", diz o coordenador do programa de governo da chapa, Maurício Rands. "Muitos atores importantes já sabem que não há qualquer ameaça ao agronegócio na nossa candidatura. Reconhecemos o papel do avanço tecnológico do agronegócio, seus mercados conquistados e importância para a balança comercial. É um caso de de sucesso nacional." | 2014-08-21 01:34:41 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140820_chapa_marina_ajustes_pai_jf.shtml |
brasil | Da infância difícil no Acre à segunda candidatura à Presidência, Marina conquistou seu espaço na política de forma muitas vezes surpreendente. | Presidenciável mais uma vez: Marina Silva em cinco transformações | A trajetória de Marina Silva é marcada por uma série de guinadas e recomeços. Cabem algumas vidas nos 56 anos da nova candidata à Presidência pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), no lugar do falecido Eduardo Campos. Marina superou a infância pobre no interior do Acre. Passou de seringueira e doméstica a vereadora, deputada e senadora. Deixou o Partido dos Trabalhadores (PT) depois de se consagrar como ícone da defesa do meio ambiente enquanto ministra no governo Lula. Desde então, vem cultivando seu espaço na política brasileira com movimentos muitas vezes surpreendentes, como quando anunciou no ano passado seu apoio a Eduardo Campos. Conheça algumas das transições mais marcantes em sua vida. Batizada Maria Osmarina Silva e Souza, Marina nasceu em uma família de seringueiros que vivia no seringal Bagaço, a 70km da capital do Acre, Rio Branco. Dos 11 irmãos, três sucumbiram a doenças que quase lhe vitimaram também. Ela sobreviveu a casos de malária e hepatite e guarda até hoje as consequências de ter tido o sangue contaminado por mercúrio na infância. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Os problemas de saúde incluem intolerância a carne vermelha, frutos do mar, lactose, bebidas alcoólicas, maquiagem e cosméticos em geral. Ela e as irmãs caminhavam quilômetros todos os dias para trabalhar com o pai no seringal. Ninguém na sua família havia ido à escola. Aos 16 anos, Marina resolveu ir para a capital em busca de educação e tratamento para a hepatite. Em uma entrevista à revista Piauí, seu pai, Pedro Augustinho da Silva, lembrou da sua reação ao saber que a filha queria "ir aprender": "E tu lá vai aprender alguma coisa?", reagiu. Marina foi acolhida por freiras no convento das Servas de Maria e aprendeu de fato a ler e escrever. Depois, deixou o convento e trabalhou como empregada doméstica na casa de uma família em troca da moradia enquanto estudava. Quando viu seu nome na lista dos aprovados do primeiro curso equivalente ao primário, Marina se ajoelhou e agradeceu a Deus, como lembrou em entrevista à BBC Brasil alguns anos atrás. "Aquela lista que me aprovou como alfabetizada, apta à educação, me abriu um portal." Marina aproximou-se da política na época da faculdade de História, quando filiou-se ao Partido Revolucionário Comunista (PRC). Na época, conheceu o seringueiro e líder sindical Chico Mendes e trocou o PRC pelo PT. Foi eleita vereadora em 1998, com o maior número de votos em Rio Branco. No mesmo ano, o amigo Mendes foi assassinado por seu ativismo pela preservação da Amazônia e dos meios de subsistência dos seringueiros. Em 1990, Marina foi eleita deputada estadual, e, aos 36 anos, chegou ao Senado. "Ela vai ganhando o plano nacional de forma lenta e bastante consistente", diz o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio. "Se há um Estado distante do centro das atenções no Brasil, é o Acre, e ganhar destaque vindo de lá não é algo trivial. Mas ela vai ganhando espaço nacionalmente como uma pessoa que conhece bem a Amazônia, uma região até hoje discutida de maneira episódica no Brasil." Marina já havia se consagrado como ambientalista e defensora da Amazônia quando foi anunciada por Lula como um dos primeiros nomes a compor seu ministério, em 2003. A notícia repercutiu bem internacionalmente. "Ela já era um ícone nacional e internacional, e Lula sabidamente aproveitou sua boa imagem e a chamou para ser ministra do Meio Ambiente", diz o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB). "Ela deu bastante dor de cabeça para Lula e também para Dilma, então chefe da Casa Civil. Até que não aguentou mais e caiu fora." Os cinco anos como ministra reforçaram o seu prestígio como ícone na luta ambiental – durante sua gestão, centenas de pessoas foram presas por crimes ambientais, o índice de desmatamento na Amazônia foi reduzido e uma área recorde de reserva indígena foi demarcada. Mas Marina bateu de frente com ruralistas e amargou derrotas como a aprovação de safras de soja transgênicas e o asfaltamento da BR-163, que liga Cuiabá, no Mato Grosso, a Santarém, no Pará. Cada vez mais isolada, decidiu deixar o Ministério em 2008, após a notícia de que o Plano Amazônia Sustentável tinha sido passado a outro ministro. Após mais de 20 anos no PT, rompeu com o partido em 2009. Recém-saída do PT, Marina se filiou ao Partido Verde (PV) para as eleições de 2010 e deu trabalho à antiga sigla. Foi lançada à Presidência e conquistou inéditos 19 milhões de votos para o partido – ficando em terceiro lugar, atrás de Dilma Rousseff e José Serra, e forçando a ida da disputa para o segundo turno. Afirmava querer ser "a primeira mulher negra e de origem pobre" a ocupar o Palácio do Planalto. No ano passado, mostrou que continuava com disposição para concorrer ao cargo tentando lançar o partido Rede Sustentabilidade, mas não obteve assinaturas suficientes para a empreitada. Mesmo com a forte campanha de "marineiros" indo às ruas para buscar apoio à criação da sigla, Marina não conseguiu validar as quase 500 mil necessárias para fundar o novo partido, ficando 50 mil abaixo da meta. Ela deu, então, mais uma guinada surpreendente, declarando apoio a Eduardo Campos – e depois tornando-se sua candidata à Vice-Presidência. Foi uma Marina em choque e abatida que o Brasil viu poucas horas depois da morte de Campos, quando apareceu para fazer uma declaração sobre o acidente que matara seu parceiro de chapa e sacudiria a corrida presidencial. Depois de passar os últimos dez meses viajando pelo país para impulsionar a campanha de Campos – a quem tinha "aprendido a respeitar" durante este período – Marina se vê agora no centro das atenções. Apesar de um primeiro resultado promissor em uma pesquisa de opinião, só agora os brasileiros poderão começar a vê-la e ouvi-la como candidata à Presidência – e colocar na balança as diversas imagens construídas a partir de sua biografia, como a de ambientalista radical, promessa de mudanças, evangélica devota ou liderança carismática. Para David Fleischer, da UnB, muitos ainda têm dela a imagem de alguém que defendia posições radicais e batia de frente com o agronegócio. Mas há também um entusiasmo inspirado em suas propostas de mudança. Após os protestos de junho do ano passado, ela foi a única presidenciável cuja imagem cresceu em pesquisas de opinião. O fato de ser evangélica divide opiniões e afasta eleitores que discordam de sua posturas conservadoras contra o casamento gay e o aborto. Por outro lado, ela tem uma vivência do país que a aproxima de eleitores mais pobres. "Ela se credencia numa lógica parecida com a de Lula – a de quem conhece os problemas do Brasil por andar na rua e correr o país", diz Ismael, da PUC-Rio. | 2014-08-20 15:54:46 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140820_marina_silva_perfil_jc_rb.shtml |
brasil | Candidata afirma, porém, que só se empenhará nas alianças estaduais acordadas previamente, o que exclui os arranjos com PSDB em SP e com o PT no Rio. | Marina assume candidatura e diz que respeitará acordos de Campos | A ex-senadora Marina Silva disse nesta quarta-feira na cerimônia em que foi lançada pelo PSB à Presidência que manterá os acordos de campanha costurados pelo seu antecessor, Eduardo Campos, mas que não subirá em palanques construídos sem sua concordância. "Aqui há o sentido do peso dessa responsabilidade, há o compromisso com as responsabilidades já assumidas e construídas ombro a ombro, noite e madrugada adentro, com a ajuda de todos vocês, mas sob a liderança de Eduardo Campos." Marina afirmou, porém, que só se empenhará nas alianças estaduais com as quais concordou desde o início, o que exclui os arranjos com o PSDB em São Paulo e com o PT no Rio de Janeiro, entre outros. "No dia 4 de outubro, quando conversamos pela primeira vez, estabelecemos que onde isso não seria possível (conciliar PSB e Rede quanto às alianças), o PSB teria suas escolhas e a Rede, as suas. (…) Neste momento permanece o mesmo quadro." Marina se pronunciou ao fim de uma reunião entre dirigentes do PSB na sede do partido, em Brasilia. A reunião oficializou a nova chapa da sigla para a disputa após a morte do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, que era o candidato do partido à Presidência e morreu num acidente de avião no dia 13. Marina, que era vice de Campos, passou a encabeçar a chapa, e o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) foi escolhido como o vice. A candidata disse que Albuquerque representará a chapa nas alianças com as quais não concordou. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast A ambientalista chorou ao se referir ao momento em que assistiu ao primeiro programa eleitoral levado ao ar pelo PSB, que homenageou Campos. Ela chegou a interromper a fala ao mencionar uma cena do programa em que o pernambucano a abraçava. Antes do discurso, Marina foi rcebida pelos dirigentes pessebistas com os gritos de "Eduardo presente, Marina presidente". O presidente do partido, Roberto Amaral, disse que houve unanimidade no PSB para a escolha de seu nome. Marina, no entanto, recebeu uma carta do PSB em que o partido formalizou suas expectativas em relação à candidatura. O conteúdo da carta não foi divulgado. "Recebi de forma muito afetuosa esta carta, que chamo de carta inventário, onde o presidente Roberto Amaral me diz qual o significado da luta, da trajetória e da história deses partido, e que agora nós juntos temos a responsabildiade de ajudá-los a se erguer após a perda irreparável que sofreu." Ela comparou o recebimento da carta à proposta de aliança que apresentou a Campos quando a Justiça rejeitou a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade. Durante a campanha, Marina disse que logo após a eleição daria prosseguimento à criação da Rede e se desfiliaria do PSB. Em seu discurso, porém, a ambientalista deu a entender que só voltará a tratar do assunto após a eleição. "Tão importante quanto a formação e o registro da Rede é o crescimento do PSB e a superação dessa fase tão triste, em que perdeu sua liderança." "Estamos juntos nesse sentido e sinto-me parte solidária e interessada em que PSB leve adiante seus planos de futuro partidário que tinha sob a inspiração de Eduardo". Marina afirmou ainda que sua candidatura é uma alternativa a "uma polarização (entre PT e PSDB) que já deu o que tinha que dar". Ela criticou indiretamente as amplas alianças feitas pelos dois partidos ao ocupar a Presidência ao dizer que não fará um governo "baseado na distribuição de pedaços do Estado". | 2014-08-21 01:00:26 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140820_marina_candidatura_pai_jf.shtml |
brasil | Conheça os pontos fracos que Dilma Rousseff, Aécio Neves e Marina Silva tentarão blindar durante as próximas semanas de campanha presidencial. | Analistas políticos apontam pontos fracos de presidenciáveis | Na arena de batalha das campanhas eleitorais, os marqueteiros dirão que nem sempre a melhor defesa é o ataque. Cada vez mais, também é importante blindar os pontos fracos dos candidatos. No dia da oficialização da candidatura de Marina Silva à Presidência pelo PSB, em substituição a Eduardo Campos, que morreu em um acidente aéreo na semana passada, a BBC Brasil ouviu especialistas para apontar as maiores fraquezas dos três presidenciáveis mais bem colocados pelas pesquisas de intenção de votos – e o impacto que elas podem ter nas urnas. Confira. Candidata à reeleição, Dilma Rousseff tenta sobrepor uma imagem de gestora eficiente à dos escândalos de corrupção que acometeram os últimos 12 anos do governo Partido dos Trabalhadores (PT). Para o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, Dilma apresenta "cansaço eleitoral" e seu maior desafio é propor uma "mudança, mas com continuidade". "Os desgastes relacionados ao tempo em que seu partido está no poder constituem, sem sombra de dúvida, um ponto fraco na candidatura de Dilma", concorda Antonio Carlos Mazzeo, cientista político da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Marília. O cientista político e sociólogo Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que Dilma tem pouca empatia junto a uma classe média urbana que cobra "essência das instituições" e cujas insatisfações não foram "correspondidas". "Os escândalos ocorridos durante o governo PT 'colaram' na imagem da candidata. É difícil para ela se desvencilhar disso", diz. Fora do plano político, a economia é outro ponto que especialistas classificam como um dos pontos fracos na plataforma de Dilma. "A economia não tem tido o mesmo desempenho do que na época de Lula e a inflação começa a pesar mais fortemente no bolso dos consumidores, sobretudo os mais pobres", diz Ismael, da PUC-Rio. Os especialistas ressaltam, contudo, que Dilma ainda tem grande capital eleitoral em regiões mais pobres do Brasil devido às políticas de transferência de renda implementadas durante o governo petista, como o Bolsa Família. Além disso, tem a seu favor bons índices de aprovação. Segundo última pesquisa do Datafolha, 38% dos brasileiros avaliam o governo de Dilma como "bom" ou "ótimo". Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Principal adversário de Dilma na corrida presidencial, o ex-governador de Minas Gerais e candidato do PSDB à Presidência ainda tem dificuldades de se firmar como uma alternativa à candidata do PT. Para Mazzeo, da Unesp de Marília, "as recentes denúncias envolvendo Aécio Neves tiveram um impacto fortemente negativo na campanha do tucano, uma vez que minaram o 'projeto moralizante' que ele propunha para o Brasil, em relação a Dilma". Em julho, o jornal Folha de São Paulo publicou reportagem mostrando que o governo de Minas construiu um aeroporto em um terreno pertencente ao tio de Aécio. Mazzeo acrescenta que, além de faltar "carisma" ao candidato do PSDB, o próprio partido sofre de um problema "estrutural": "O PSDB não apresenta nenhuma proposta econômica profundamente diferente da do PT", diz o cientista político. Para Ismael, da PUC-Rio, o principal ponto fraco do tucano é "sua dificuldade de falar com eleitores mais pobres, especialmente os do Nordeste". "O maior desafio de Aécio é tentar mostrar que suas propostas para estimular o crescimento da economia não vão sacrificar as conquistas sociais obtidas ao longo do governo petista", argumenta. Já para Baía, da UFRJ, o tucano, apesar de ter sido governador de Minas Gerais durante oito anos, não "é um líder nacional testado". "Aécio ainda não conseguiu obter projeção nacional a partir de seus feitos como líder mineiro", avalia. Segundo Baía, essa lacuna é observada inclusive em São Paulo, tradicional celeiro da política tucana. "Aécio precisou escolher um vice-presidente de São Paulo (Aloysio Nunes) para tentar ganhar eleitores no estado mais rico do Brasil e tradicionalmente simpático ao projeto político do PSDB", acrescenta. Despontando nas pesquisas de intenção de voto desde a morte do então candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, Marina Silva enfrenta o desafio de unir as fileiras do partido em torno de sua candidatura, de acordo com os especialistas. Para Mazzeo, da Unesp de Marília, a candidata do PSB não "tem o apoio de todo o partido". "Marina não pertence à estrutura do PSB e só foi lançada candidata por causa de uma costura feita pelo grupo hegemônico da legenda. O nome dela nunca foi consenso e isso pode lhe causar problemas", acredita. Outro ponto fraco da candidata, dizem eles, está na falta de uma plataforma ampla e clara que mostre sua visão sobre os vários problemas do país. Na avaliação de Ismael, da PUC-Rio, "Marina precisa mostrar aos eleitores que tem um programa de governo que não se restringe à questão ambiental". "Ela capitaliza um eleitorado de maior renda e escolaridade que já está cansado da alternância no poder do PT e do PSDB. Mas ainda mantém uma visão muito monotemática. Ela não é mais uma candidata do Partido Verde (PV) à Presidência, mas sim de uma coligação", afirma o cientista político. Ismael lembra, contudo, que a escolha de nomes como o dos economistas André Lara Resende (um dos pais do real) e Eduardo Giannetti para compor a equipe econômica da candidata agradam ao mercado e beneficiam sua proposta política. Para Baía, da UFRJ, a fraqueza de Marina seria "a falta de experiência como gestora". "Marina é um nome conhecido por todo o país desde as eleições de 2010. Já foi senadora e ministra. Mas lhe falta no currículo uma experiência direta com o povo", argumenta. Baía não acredita, no entanto, que a aproximação de Marina com alas religiosas mais conservadoras possa interferir negativamente em sua candidatura. "Não acho que o fato de ela ser evangélica tenha influenciado em suas decisões como senadora ou ministra. Além disso, as demais candidaturas têm os mesmos compromissos religiosos que ela", conclui. | 2014-08-19 22:38:37 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140819_pontos_fracos_presidenciaveis_lgb.shtml |
brasil | Especialistas dizem que ex-senadora é 'terceira opção', mas que falta de conhecimento sobre projetos impede afirmar que seja representante de uma nova via política. | 'Terceira via' de Marina ainda é uma incógnita, dizem analistas | Apontada como "terceira via" entre os candidatos à Presidência da República, Marina Silva entra na corrida oficialmente nesta quarta-feira com políticas e ideias que permanecem em grande parte uma incógnita. O termo "terceira via" tem sido associado a Marina pela própria, além de imprensa e analistas. Entretanto, a expressão reflete um conceito baseado na reconciliação da direita e esquerda, com políticas sociais progressistas e ações econômicas ortodoxas. Teve como representantes recentes o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, trabalhista, e o ex-presidente americano Bill Clinton, democrata. Especialistas vêem Marina mais como uma "terceira opção" à polarização PT x PSDB que tem dominado o pleito nacional há 20 anos. Bandeira que sua campanha deverá reforçar ao enfrentar a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) na eleição presidencial. "A terceira via implica algum compromisso entre a social-democracia e o neoliberalismo, uma nova tentativa de achar resultados positivos sociais junto com parcerias com o setor privado", disse à BBC Brasil Anthony Pereira, diretor do Brazil Institute do King’s College de Londres. "Realmente não está claro se Marina representa isso. Acho que por enquanto a terceira via dela representa uma opção diferente com um conteúdo indefinido." A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será oficializada nesta quarta-feira como candidata do PSB à Presidência, substituindo o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo há uma semana. Desde 2010, quando foi candidata ao Palácio do Planalto pelo Partido Verde - finalizando no terceiro lugar com cerca de 20 milhões de votos, uma surpresa -, Marina já se colocava como alternativa à política convencional. Criticava o "fisiologismo" da "velha política" e defendia uma "ruptura". Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Quando tentou sair candidata investindo no lançamento do seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade, a ex-senadora disse não ser "nem de esquerda, nem de direita". Com o fracasso no lançamento da legenda, surpreendeu o cenário político se aliando a Campos como candidata a vice, numa plataforma com pontos favoráveis a investidores. Aliados de ambos relataram choques de ideais entre os grupos. "Ela como pessoa, sem dúvida, é uma terceira via. Agora, uma sustentação conceitual, programática, de planos de governo, é uma coisa que ainda estamos esperando para ver", disse Marcos Troyjo, diretor do BricLab, da Universidade de Columbia, em Nova York. Para Anthony Pereira, "fora da área do meio ambiente, não vejo um conteúdo muito concreto que possa chamar de terceira via". Ambientalista de posições firmes, a candidata é vista como defensora do desenvolvimento econômico com proteção ambiental. O desafio será vender esta postura como possível, diz Pereira. "O Brasil pode ter políticas públicas sustentáveis mas também orientadas ao crescimento forte. Este pode ser um argumento muito interessante." Marina é vista por muitos analistas como herdeira dos votos de eleitores descontentes com o atual cenário político. Mas muitos creem que os ideais que ela representa ainda são desconhecidos, gerando incertezas. Uma pista do que pensa a futura candidata é dada por aqueles que a cercam, diz Troyjo, que aponta nomes "muito competentes" assessorando Marina, como os economistas André Lara Resende e Eduardo Gianetti da Fonseca. "Mas tem gente também que tem, do ponto de vista ambientalista, uma visão tão preservacionista dos recursos naturais que eu acho que é um obstáculo ao tipo de velocidade e proporção de crescimento econômico que o Brasil precisa", disse. Os discursos de Marina passaram a chamar atenção na reta final da campanha de 2010, com o crescimento dela nas pesquisas. Muitos se depararam com palavras difíceis, com poucos conceitos ou projetos concretos. "Não é bem claro, por exemplo, as políticas públicas que ela quer adotar. As pessoas associam ela com o meio ambiente, mas ela também é associada a políticas mais conservadoras em temas sociais, por exemplo, contra casamento gay, aborto", disse Pereira. Agora, alçada ao centro da disputa, com exposição maior na mídia e forçada a participar de debates com os outros candidatos – que não deverão poupá-la de ataques e críticas – a atenção será ainda maior. "Vai haver, de fato, maior atenção ao que ela diz. É óbvio que para ela subir mais, e se manter lá em cima nas pesquisas, não é uma coisa banal, porque as contradições vão começar a aparecer", disse João Augusto de Castro Neves, diretor para América Latina da consultoria de risco político Eurasia, em Washington. "Tanto Dilma como Aécio já estão sofrendo este tipo de fiscalização há muito tempo já. A Marina agora vai sofrer isso", disse. | 2014-08-20 06:48:51 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140820_marina_terceiravia_hb.shtml |
brasil | Criminoso acusado de agressões sexuais contra pacientes foi encontrado escondido em Assunção. | Polícia Federal prende o médico foragido Roger Abdelmassih no Paraguai | O médico Roger Abdelmassih, condenado por mais de 50 agressões sexuais contra pacientes de sua clínica de reprodução assistida em São Paulo, foi preso pela Polícia Federal nesta terça-feira em Assunção, no Paraguai. O criminoso havia sido condenado a 278 anos de prisão e era considerado foragido desde 2011 – quando tentou tirar um passaporte e teve revogado o habeas corpus que permitia que respondesse a recursos da sentença em liberdade. Desde que começou a ser acusado de molestar pacientes em 2008, Abdelmassih vem afirmando ser inocente das acusações. Ele chegou a dizer ter que as acusações seriam motivadas por vingança. Até então o médico era considerado um dos maiores especialistas em reprodução assistida do país. Algumas de suas pacientes o acusaram de agressões sexuais que ocorreriam dentro de sua clínica. Segundo as vítimas, os ataques teriam acontecido quando as vítimas estavam sozinhas com o médico em salas de consulta ou recuperação. Algumas afirmaram ter sido abusadas enquanto estavam dopadas por medicamentos. A Polícia Federal afirmou que a prisão foi feita em parceria com a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas, um dos mais importantes órgãos policiais do Paraguai). A deportação do foragido para o Brasil deve acontecer de forma "sumária", segundo a PF. Ele seria levado para a sede da instituição em Foz do Iguaçu ainda nesta terça-feira e posteriormente transferido para São Paulo. Abdelmassih chegou a ficar cerca de cinco meses preso em 2009, mas obteve o direito de responder ao processo em liberdade devido a uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Por causa disso, após ser condenado em 2010, pôde continuar em liberdade, a espera do julgamento de recursos. Esse benefício foi revogado no ano seguinte após tentar tirar um passaporte. Desde então passou a ser considerado foragido. | 2014-08-19 20:37:26 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140814_roger_abdelmassih_lk.shtml |
brasil | Cientistas políticos debatem se a candidata de hoje será a mesma de há quatro anos e qual sua disposição de se adaptar ao legado de Campos e ao projeto de seu partido, o PSB. | Duas visões: qual será o projeto de Marina Silva para o Brasil? | Em meio ao início da campanha eleitoral no rádio e na TV, nesta terça-feira, cresce a expectativa quanto ao lançamento da candidatura de Marina Silva à Presidência, substituindo seu companheiro de chapa, Eduardo Campos (PSB), que morreu na semana passada. O nome de Marina como candidata deve ser confirmado pelo PSB nesta quarta-feira. Mas ainda não se sabe ao certo qual será o seu programa de governo - se ele será semelhante ao de sua candidatura ao Planalto em 2010 ou diferente, tentando acomodar as propostas e alianças defendidas por Campos. Na pesquisa Datafolha divulgada na segunda-feira, a primeira após a morte de Campos, Marina aparece em segundo lugar no primeiro turno, com 21% das intenções de voto, e lidera no segundo turno, com 47%, à frente até mesmo da presidente Dilma Rousseff (embora a diferença entre Marina e Dilma configure empate técnico). Esse clima contagiou até mesmo a página de Marina na internet. Na segunda-feira, haviam sido publicadas no endereço as diretrizes de sua campanha em 2010, revistas e ampliadas com base nos comentários deixados na época por eleitores em sua página. O conteúdo não está mais no ar, e assessoria de imprensa da coligação Unidos Pelo Brasil, capitaneada pelo PSB, não respondeu aos pedidos de esclarecimentos da BBC Brasil até o fechamento desta reportagem. Isso ampliou ainda mais as dúvidas sobre as propostas de Marina para estas eleições. Após a morte de Campos, a ex-senadora chegou a declarar ter um "senso de responsabilidade e compromisso com o que a perda de Eduardo impõe", mas não detalhou o significado disso. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Ao mesmo tempo, há relatos de que o PSB deseja que Marina assuma esse compromisso formalmente por meio de uma carta a ser apresentada juntamente com o anúncio de sua candidatura. Nessa carta, ela tentaria conciliar posições de Campos com os interesses da Rede Sustentabilidade, partido que Marina tentou criar e que acabou barrado pela Justiça Eleitoral. Com esta possibilidade ainda em aberto, a BBC Brasil conversou com dois cientistas políticos para ajudar a esclarecer qual será o projeto de Marina para o Brasil: Marco Aurélio Nogueira, diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), e Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo. Nogueira e Ribeiro convergem em um ponto: a Marina de hoje é diferente daquela de 2010. Mas divergem quanto à possibilidade dela fazer mais concessões do que as que já vieram a público até o momento. Confira suas opiniões: Acredito que será, porque o país mudou nestes quatro anos. Os protestos de 2013 mostraram uma distância entre a sociedade, ou de parte importanrte dela, e o sistema politico. É de se esperar que políticos reajam a isso, ainda mais aqueles que desejam ocupar um cargo tão importante. Além disso, em 2010, Marina era uma franco-atiradora que caminhava de certa forma à margem do sistema político e, hoje, está inserida em uma estrutura de campanha herdada de Campos e que não foi inteiramente construída por ela. Ela aderiu a um projeto em andamento, que é das pessoas as quais Campos representava. Só o fato de ter aceitado fazer parte dele significa que ela reduziu um pouco a dose de sonhos que apresentou há quatro anos. Ainda assim, apesar de vir se mantendo mais em silêncio do que se esperava, é de se esperar que tenha dado sua contribuição ao programa de governo. Acredito que sim. Marina surgiu com a bandeira da ecologia e foi aos poucos priorizando mais a economia sustentável. Agora, a principal diferença deve ser a defesa mais forte por ela de uma política econômica liberal, porque hoje ela está hoje mais ligada e próxima ao mundo empresarial, e isso tem que ser explicitado. Mas ainda não sabemos o que será defendido por ela Havia uma grande diferença entre o que ela e Campos pensavam. No entanto, será exigido dela uma consistência nas suas propostas. Atualmente, Marina é mais conhecida, mas continua a ser um mistério. Até hoje, ninguém sabe se a votação expressiva dela em 2010 se deu por causa do eleitorado evangélico ou do voto ecológico. <br> A terceira via de Marina é diferente da terceira via de Campos e do PSB, mas ela terá se de se flexibilizar senão ela será combatida não apenas por Dilma e Aécio, mas por membros do seu partido. Acredito que ela já fez isso, por exemplo, com o agronegócio, que era uma pedra no sapato da aliança. Campos era mais pragmático e conseguia dialogar mais com esse setor. Marina tem menos jogo de cintura, mas teve que se flexibilizar neste ponto ao entrar nesta aliança. Outro ponto é a questão do desenvolvimento. Se ela condicionar isso demais à conservação ambiental, terá dificuldade de fazer o país o crescer. Não será uma questão que ela poderá tratar de forma doutrinária. Também acho que ela já se flexibilizou em relação às alianças políticas e terá de ir além nesse ponto. O PSB fez alianças com o PSDB em São Paulo, e Marina foi contra, mas terá que aceitar isso. Se houver uma exigência política de que ela esteja no mesmo palanque com Geraldo Alckimin, por exemplo, ela estará, senão não será muito competitiva em São Paulo. Isso deve ser perguntado a ela, porque é uma questão repleta de incertezas. Hoje sabemos o que Aécio Neves e Dilma Rouseff querem, mas não o que Marina quer. Segundo o presidente do PSB, o Roberto Amaral, ainda está mantido o combinado entre eles de que a Marina deixa o partido depois das eleições. Ainda precisa ser esclarecido se, caso ela vença, se terá sido eleita uma pessoa do PSB ou da Rede Sustentabilidade (partido que Marina tentou criar, mas acabou barrado pela Justiça Eleitoral pelo número insuficiente de assinaturas apresentado na época). Além disso, tem o fato do PSB ter um nome curioso, porque não é socialista de fato. Mas acho muito difícil ver Marina abrir mão de seus princípios em nome da candidatura. Ela é uma pessoa de convicções muito fortes e muito segura do que acredita. Acredito que ela não seguiria tanto o legado de Campos, mas a política da Rede. Mas isso depende do que ela negociou com o PSB. | 2014-08-19 14:17:07 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140819_marina_candidatura_rb.shtml |
brasil | Levantamento preliminar de fiscal do Ministério do Trabalho indica que cultura de segurança consolidada poderia ter evitado 'maioria, senão todas' as mortes. | Acidentes nos estádios da Copa: crônicas de nove mortes anunciadas? | Canteiro de obras da Arena Amazonas, em Manaus, 4h da manhã. Marcleudo, 22 anos, trabalha a 35 m de altura, em local mal iluminado, usando uma ferramenta improvisada. Ele começou seu turno dez horas atrás. Faz três meses que cumpre cargas acima das recomendadas por lei. O cinto de segurança que deveria protegê-lo é mal projetado e difícil de encaixar. Por alguma razão que jamais será conhecida, Marcleudo tomou a decisão de não conectar o cinto. O jovem morreu no dia 14 de dezembro de 2013. Como ele, outros oito operários que trabalhavam na construção de estádios da Copa perderam suas vidas. Longe dos holofotes e da atenção da mídia, quase 1.400 trabalhadores morreram em atividades ligadas à construção no Brasil entre 2010 e 2012– segundo dados do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho (AEAT) 2012 do Ministério da Previdência Social. E o número de acidentes (incluindo doenças e acidentes de trajeto) na construção passou de 29.054, em 2006, para 62.874 em 2012 – ou seja, mais do que dobrou. (A maioria dos acidentes, no entanto, não é comunicada às autoridades.) As mortes nos estádios da Copa ainda estão sendo investigadas e levará tempo para sabermos ao certo quem são os responsáveis. No entanto, um pesquisador e fiscal de segurança no trabalho ouvido pela BBC Brasil disse que a maioria dos óbitos poderia ter sido evitada - possivelmente, todos - se normas básicas de segurança (as Normas Regulamentadoras previstas na legislação trabalhista, CLT) tivessem sido obedecidas. Vitor Araújo Filgueiras, auditor fiscal do Ministério do Trabalho e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (CESIT) da Universidade de Campinas, Unicamp, baseia suas conclusões preliminares em relatórios sobre os acidentes feitos pela fiscalização do trabalho, autos de infração lavrados, ações civis públicas do Ministério Público do Trabalho, fotos e reportagens publicadas pela imprensa. A menos de dois anos da Olimpíada no Brasil, com obras atrasadas e grande pressão para que sejam finalizadas a tempo, os comentários do pesquisador são um sinal de alerta: "Não há novidades nessas medidas (as normas de segurança), todo mundo sabe o que deve ser feito. E o que mais me incomoda é que as mortes vão continuar acontecendo", disse. Veja, a seguir, como aconteceram cada um dos acidentes. E entenda como uma cultura mais consolidada de respeito à segurança poderia, provavelmente, tê-los evitado. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast O auxiliar de carpintaria José Afonso de Oliveira Rodrigues, de 21 anos, caiu do anel superior do estádio Mané Garrincha, em Brasília. Ele sofreu uma queda de 30 metros (o equivalente a um prédio de dez andares). Segundo relatório da fiscalização do Ministério do Trabalho (MT), José Afonso caminhava em um local que havia servido de passagem a trabalhadores da obra. Já devia ter andado por ali várias vezes, porém, muito provavelmente, ninguém o avisara de que parte da estrutura que sustentava a plataforma de madeira onde caminhava havia sido removida. Sem sustentação, a plataforma não suportou o peso de José Afonso e cedeu, levando à morte do operário. Segundo a fiscalização do MT, a remoção parcial das estruturas de sustentação da plataforma, deixando apenas as madeiras sem suporte, foi um erro de procedimento que induziu a uma falsa sensação de segurança no trabalhador. Normas básicas de segurança - entre elas, sinalização e isolamento da área, de altíssimo risco, supervisionamento e controle das atividades e movimentação de trabalhadores no anel superior, orientação aos envolvidos e proibição de trânsito na área – poderiam ter salvo a vida de José Afonso. Após o acidente, a fiscalização interditou parcialmente a obra até que fossem revistos certos procedimentos. Às 22 horas e 15 minutos, o pedreiro Raimundo Nonato Lima Costa, de 49 anos, sofreu traumatismo craniano após despencar de uma altura de cinco metros quando circulava por uma passarela de concreto na laje. A fiscalização disse que medidas obrigatórias de segurança não haviam sido adotadas no canteiro de obras. A empreiteira responsável pela obra em Manaus foi a construtora Andrade Gutiérrez. Entre as medidas, a instalação de proteção coletiva em locais onde há risco de queda de trabalhadores (como redes de segurança), treinamento e capacitação de trabalhadores para trabalho em altura e fornecimento de equipamento de proteção individual (EPI) adequado. Comentando o caso, Filgueiras explica que há uma hierarquia entre as normas, priorizando medidas coletivas de proteção. "A lógica é antecipar possíveis erros, porque é da natureza das operações cotidianas que aconteça uma operação indevida. Por isso a segurança do local não pode depender de ação individual". Então, ele diz, a norma obriga que empresas adotem medidas de proteção coletiva, no caso do trabalho em altura, guarda-corpo ou rede de segurança, por exemplo. "O problema é que as empresas não seguem as normas. E até a polícia, quando investiga acidentes, tende a ignorar a legislação trabalhista. Questões do tipo 'ele usava equipamento de proteção individual no momento do acidente?' ilustram bem essa distorção, também reforçada pela mídia". "As empresas promovem o conceito da individualização da segurança, de forma deliberada, para culpar o trabalhador pelo acidente. E as pessoas não percebem o caráter ideológico por trás desse discurso", diz o fiscal. O motorista Fábio Luiz Pereira, de 42 anos, e o montador Ronaldo Oliveira dos Santos, de 44 anos, morreram quando trabalhavam na construção da Arena Corinthians. Um guindaste que içava uma peça de 420 toneladas - parte da cobertura do estádio – tombou, levando à queda da peça e morte dos trabalhadores. No momento do acidente, Fábio Luiz – que, segundo a família, vinha reclamando do excesso de trabalho - descansava dentro do caminhão, em seu horário de almoço. Ronaldo também descansava em um ponto próximo ao local de atuação da grua. A polícia civil indiciou nove pessoas pelo acidente. Sete trabalhavam para a Odebrecht, empresa responsável pela obra. Dois são funcionários da companhia que operava o guindaste, Locar. Falando à imprensa, o delegado responsável, Luiz Antônio da Cruz, disse que uma análise mais rigorosa dos riscos teria revelado que o solo não suportaria o peso do guindaste. Em junho último, um laudo do Instituto de Criminalística constatou que houve afundamento do solo. Antes disso, em abril, a Odebrecht havia apresentado um outro laudo, segundo o qual não teria havido deformação ou amolecimento do solo no local. A análise dos riscos antes da realização de obras está prevista na Norma Regulamentadora (NR) 18. Mas, mesmo sem acesso a detalhes, com base apenas em relatos sobre o evento, Filgueiras identificou a possibilidade de uma outra irregularidade séria: a presença de trabalhadores no raio de ação do equipamento (o guindaste). Segundo o item 18.14.5 da NR 18, "No transporte e descarga de materiais, perfis, vigas e elementos estruturais é proibida a circulação ou permanência de pessoas sob a área de movimentação da carga". Filgueiras diz que não é sabido se os trabalhadores mortos estavam no raio de atuação da grua. "Se estavam, o respeito a uma norma básica, a NR 18, poderia tê-los salvo". Da mesma forma, se um inquérito comprovar que houve falha nos estudos que avaliaram a capacidade do solo de tolerar o peso do guindaste, a norma que poderia ter evitado as mortes também é a NR 18. O Ministério Público informou que antes desse acidente (primeiro de dois acidentes fatais no Itaquerão) já haviam sido identificadas 50 irregularidades na obra. A Odebrecht não se pronunciou sobre o caso e aguarda a conclusão do inquérito policial. A Locar disse à imprensa que colaborou com as autoridades e que aguarda o término das investigações. José Antônio da Silva Nascimento, de 49 anos, trabalhava na construção da Arena Amazonas quando sofreu um enfarto e morreu. A lei obriga empresas a comunicarem acidentes de trabalho, no entanto, segundo o fiscal, a empresa em questão (José Antônio era terceirizado) não informou as autoridades relevantes (Ministérios do Trabalho, Saúde e Previdência Social) sobre a morte. Vitor Filgueiras disse também não ter encontrado um relatório ou processo sobre o caso. Entre os nove mortos, sete eram terceirizados. O fiscal vê o aumento na terceirização na indústria com preocupação. Segundo ele, empresas tomadoras tendem a transferir riscos e responsabilidades por medidas de segurança para outros. Filgueiras aponta algumas normas de segurança e saúde que podem ter relevância no caso de José Antônio. A NR 7, por exemplo, determina que deve ser feito um exame médico admissional detalhado antes de que o trabalhador assuma suas atividades. Essa avaliação médica deve levar em conta as atividades típicas de cada indústria e os riscos específicos que essas atividades acarretam. Segundo Filgueiras, isso permite que as condições de risco do trabalhador sejam consideradas, evitando que lhe sejam alocadas atividades inadequadas – como aquela que pode ter levado à morte do trabalhador. Outra norma, a NR 17, determina que as empresas adaptem as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de forma a promover a saúde dos empregados. Há relatos de que operários no local trabalhavam sob grande pressão, cumprindo jornadas excessivas. Uma cunhada de José Antônio disse ao site G1 que ele trabalhava "de domingo a domingo". Marcleudo de Melo Ferreira, de 22 anos, morreu na Arena Amazonas, após cair de uma altura de 35 metros. Eram 4 horas da manhã e ele tinha iniciado seu turno às 6 da tarde - 10 horas antes. O operário trabalhava na instalação de uma estrutura metálica em local grande altitude e alto risco. O EPI nesse caso, um cinto de segurança, era, segundo avaliação da fiscalização, mal projetado, ineficaz e difícil de usar, exigindo extrema disciplina mental, física e motora. Ou seja, além de se concentrar na execução do trabalho em si, Marcleudo ainda tinha de se esforçar para conectar adequadamente o EPI. A iluminação no ponto onde ele trabalhava também era inadequada, dificultando ainda mais o procedimento. Naquela madrugada, após horas de trabalho braçal, Marcleudo não conectou seu cinto ao cabo. Note-se que, nos três meses anteriores, ele trabalhara, em média, jornadas de 53 horas semanais (a carga recomendada por lei é 40 horas). O relatório da fiscalização ressalta que a exaustão gera riscos adicionais: "Jornadas de trabalho superiores a 9 h estão associadas a reduções no estado de alerta, assim como na capacidade cognitiva, maior cansaço e, consequentemente, mais acidentes." Há ainda um outro fator que contribuiu para a morte do trabalhador: Marcleudo tinha de se projetar para a frente para alcançar o ponto de realização de sua intervenção. Ocorre que ele utilizava uma ferramenta improvisada como alavanca (um pedaço de vergalhão com a ponta achatada), fazendo força para posicionar uma estrutura à sua frente. No momento do acidente, a ferramenta escapou. A posição em que ficava, aliada à força que fazia com a ferramenta improvisada, fizeram com que o corpo de Marcleudo se projetasse na direção de um vão à sua frente. "No caso de Marcleudo, era imprescindível o uso de EPI, já que, por razões técnicas, não era pertinente o uso de proteção coletiva na operação que realizava", explicou Filgueiras. A vida do trabalhador teria talvez sido salva se as normas de segurança relevantes tivessem sido cumpridas, entre elas, adoção de EPI adequada às condições de risco específicas que Marcleudo enfrentava (o que envolve um estudo prévio dos riscos pela empresa), fiscalização efetiva do uso do EPI, jornadas menores, melhor iluminação, utilização de ferramenta apropriada para realizar o trabalho. Antônio José Pita Martins, de 55 anos, trabalhava desmontando um guindaste quando foi atingido na cabeça por uma das peças – um mancal de rolos (conjunto de roldanas do equipamento) pesando cerca de 1, 6 mil kg. Antônio José não tinha treinamento para desmontar guindastes. Segundo a análise da fiscalização, o descumprimento de várias normas de segurança contribuiu para o acidente. Entre elas, a empreiteira fazia a desmontagem do guindaste sem haver elaborado procedimentos de trabalho e de segurança específicos, padronizados, com a descrição detalhada de cada tarefa e sem haver realizado a análise de risco. A desmontagem foi feita por trabalhador não qualificado e sem obedecer aos procedimentos estabelecidos pelo fabricante, sem supervisão e sem autorização expressa de profissional habilitado e qualificado. O Ministério Público do Trabalho (MPT) do Amazonas disse à BBC Brasil que já havia identificado irregularidades no canteiro de obras da Construtora Andrade Gutierrez, responsável pela Arena Amazonas, em 2010. No entanto, segundo o MPT, a empresa continuou desrespeitando normas de segurança. A empreiteira detém o recorde de responsável por obra de estádio da Copa que mais matou operários: 4. Em abril de 2013, o MPT entrou com ação pedindo indenização de R$ 20 milhões por danos morais coletivos. O caso ainda está tramitando na Justiça do Trabalho. Em nota à BBC Brasil, a Andrade Gutierrez disse que cumpriu todas as normas vigentes de segurança e que lamenta profundamente os acidentes ocorridos. A construtora disse ter prestado total assistência às famílias dos seus "colaboradores". Fábio Hamilton da Cruz tinha 23 anos e trabalhava na obra da Arena Corinthians, o Itaquerão, em São Paulo. Fábio morreu ao cair por uma das diversas aberturas no piso da plataforma onde trabalhava. Ele participava da montagem das arquibancadas provisórias do estádio, a uma altitude entre 8 e 10 metros. A empresa responsável pela obra, Odebrecht, não havia instalado a rede de proteção coletiva no local. No momento da queda, o operário não usava EPI (Equipamento de Proteção Individual, nesse caso, um cinto de segurança). Após o acidente, circularam pela internet fotos que mostram Fábio Hamilton trabalhando. As fotos teriam sido tiradas por um colega do trabalhador morto. Se forem autênticas, mostram com clareza que não havia rede de segurança no local e que havia vãos (buracos) na plataforma onde ele trabalhava. Em entrevista ao Globo.com logo após o acidente, o delegado que registrou o boletim de ocorrência, Rafael Pavarini, do 24º DP, no bairro da Ponte Rasa, disse que sua primeira impressão era a de que a vítima teria negligenciado o uso do equipamento de segurança. Comentando o caso, Vitor Filgueiras ressalta que ao dizer que o trabalhador "negligenciou" o uso do EPI, o delegado culpa o trabalhador pela morte, revelando completo desconhecimento da lei. O item 18.13 da NR 18, que estabelece medidas de proteção contra quedas de altura, diz que é obrigatória a instalação de proteção coletiva (como redes de segurança) onde houver risco de queda de trabalhadores. Além disso, as aberturas no piso (por onde Fábio caiu) devem ter fechamento provisório resistente. A BBC Brasil procurou o delegado Rafael Pavarini e o delegado titular, Luiz Antônio da Cruz, do 65º DP de Arthur Alvim, para esclarecimentos. Até o memento da publicação desta matéria, não obteve respostas aos telefonemas. "No caso do Fábio Hamílton, o quadro é muito claro. Havia aberturas no piso, não havia proteção coletiva. A causa e efeito estão estabelecidos", disse Filgueiras. Equipamentos de proteção individual, diz a lei, devem ser adotados apenas como último recurso. E seu uso não é uma prerrogativa do trabalhador – é obrigatório e seu uso deve ser fiscalizado pela empresa. A norma prevê, inclusive, punições a funcionários que não estejam utilizando o EPI. A fiscalização do Ministério do Trabalho embargou as atividades de montagem da arquibancada. A Odebrecht foi multada e a obra só foi liberada após a instalação de redes de proteção. Muhammad Ali Maciel Afonso, de 32 anos, morreu no canteiro de obras da Arena Pantanal, sede de quatro jogos da Copa. Ao que tudo indica, ele foi eletrocutado. O caso ainda está sendo analisado pelo Ministério do Trabalho e não há relatórios formalizados. No entanto, segundo informações publicadas pela imprensa, Muhammad teria sofrido uma descarga elétrica quando instalava uma luminária, morrendo no local. Muhammad não era eletricista. Também de acordo com os relatos, ele havia sido contratado como montador. No local do acidente, um encarregado da empresa ouvido pela fiscalização teria confirmado que o trabalhador estava em "desvio de função", ou seja, realizava tarefa para a qual não havia sido contratado. O chefe da fiscalização do trabalho no Mato Grosso, José Almeida, ressaltou em entrevistas que para trabalhar com a parte elétrica é necessário que o operário tenha treinamento especializado. Além disso, antes da instalação, a rede elétrica deveria ter sido desligada, disse o fiscal. O Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT) disse à BBC Brasil que instaurou um inquérito civil para apurar a responsabilidade da empresa Etel e Engenharia Montagens e Automação Ltda. e do Consórcio Cle Arena no caso. | 2014-08-11 16:06:23 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140811_mortes_estadios_copa_mv.shtml |
brasil | Leitores compartilharam via redes sociais suas opiniões sobre a provável candidatura da ex-senadora à Presidência. | #SalaSocial: Para internautas, Marina vai de 'luz no fim do túnel' a fenômeno 'emocional' | Enquanto uns falam com entusiasmo sobre sua provável candidatura - "luz no fim do túnel", "Agora é Marina!" - outros fazem duras críticas - e afirmam que Marina Silva é apenas um fenômeno efêmero e "emocional". Até a publicação desta reportagem, o post em nossa página de Facebook já havia sido compartilhado por 616 pessoas, curtido por 4.686 e rendido 1.362 comentários. No sábado, foi feito o anúncio de que a ex-senadora Marina Silva (PSB) aceitou se candidatar à Presidência no lugar do ex-govermador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em um acidente de avião na quarta-feira. Marina era a candidata a vice em sua chapa. Entre os comentários que colhemos no Facebook figuram os de Thiago Alves, para quem uma candidatura de Marina seria uma ameaça direta à presidente Dilma Rousseff : "Tem petista desesperado. Sim ou claro??!!!". Uma pesquisa do instituto Datafolha, divulgada nesta segunda-feira indica que Marina já entraria na disputa em segundo lugar nas preferências para o primeiro turno, portanto, empatada tecnicamente com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e 15 pontos atrás da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT. Valber Anjos afirma que anteriormente "votaria nulo, pois não acreditava em nenhum dos candidatos, porém vejo em Marina a pequena luz no fim do túnel, por toda sua história. #marinapresidente". Mas a ex-senadora pelo Acre esteve longe de ser uma unanimidade entre os leitores consultados pela BBC Brasil. Para Abigail Moura Fé, "infelizmente a Marina Silva não tem condições de exercer a chefia do Executivo nem mesmo municipal e muito menos federal. Não é estadista, não é agregadora e muito menos diplomática". Aliny Stephane argumentou que o entusiasmo em torno de Marina é "bem simples, chama-se comoção social. O povo está comovido com o que aconteceu e nem todos estão votando em Marina e sim na esperança de Eduardo Campos estar vivo nela como está nos que iram votar". Pelo Google +, a internauta Maria Lourdes Carvalho Figueiredo expressou opinião semelhante: "Penso que a mudança é emocional...a tragédia trazendo seu ônus e bônus....". De fato, muitas das menções à provável candidatura de Marina, ainda surgem acompanhadas de referências à morte de Eduardo Campos e ao recente enterro do seu ex-companheiro de chapa, como mostra a nuvem de palavras formulada pela ferramenta Map. Alguns, como Francisco Diassis (@chicoassi01) responderam à pergunta formulada pela BBC Brasil, via Twitter, "Você mudou sua intenção de voto com a possível candidatura de Marina Silva à Presidência?", com um tom mais moderado."Era bastante óbvio que Marina iria conquistar os descontentes !!! mais calma com o andor !!!". De toda forma, o entusiasmo em torno de Marina Silva é particularmente forte nas redes sociais. A página oficial de Marina Silva no Facebook conta atualmente com 1,1 milhão de seguidores, sendo que houve um aumento de 41,9% no número de curtidas na página em uma semana. Os internautas que mais interagem no espaço da ex-senadora no Facebook têm entre 25 a 34 anos e são, em sua maioria, de São Paulo. Segundo a ferramenta de análise de mídias sociais Topsy, no Twitter, nos últimos 30 dias, Marina foi tema de 791 mil tuítes, sendo que, destes, 316 mil foram feitos somente nos últimos sete dias. Em termos comparativos, o número de vezes que ela foi mencionada no microblog supera as menções feitas à presidente Dilma Rousseff (mais de 781 mil) e ao ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (mais de 436 mil). | 2014-08-18 16:24:16 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140818_salasocial_marina_bg.shtml |
brasil | Pesquisa mosta que candidata teria 21% dos votos, mas, para especialistas, resultados podem refletir uma emoção passageira gerada pela morte de Campos. | Projeções de sucesso de Marina são precipitadas, dizem analistas | É preciso cautela para analisar pesquisas eleitorais que apontem a ida da ex-senadora Marina Silva para o segundo turno da eleição presidencial, já que os resultados podem refletir efeitos emocionais passageiros gerados pela morte do ex-candidato à Presidência Eduardo Campos, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil. Uma pesquisa do Datafolha divulgada nesta segunda-feira sugere que Marina, que na quarta-feira deverá ser anunciada como a nova candidata do PSB à Presidência, teria 21% dos votos no primeiro turno da eleição. O desempenho a colocaria em empate técnico com o mineiro Aécio Neves, candidato do PSDB, que teria 20% das intenções de voto. Segundo a pesquisa, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, lideraria a corrida, com 36%. Se Dilma e Marina fossem para o segundo turno hoje, segundo o Datafolha, ocorreria um empate técnico – a ex-senadora teria 47% dos votos, contra 43% da presidente. Numa disputa com Aécio, Dilma venceria por 47% contra 39%, de acordo com a pesquisa. Cientistas políticos avaliam, no entanto, que as projeções de votos para Marina podem refletir uma comoção temporária com a morte de Campos, e que a ex-senadora enfrentará importantes obstáculos para consolidar sua candidatura e concorrer com chances de vitória. Para Roberto Romano, professor de filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo), o desempenho de Marina reflete uma espécie de "recall". "Ela foi muito bem votada em 2010, é figura conhecida e tem essa aura de alguém que não iria repetir procedimentos perniciosos da política nacional", disse ele à BBC Brasil. Segundo Romano, eleitores do centro-sul do Brasil têm a tendência de votar em candidatos "que supostamente vão modificar a estrutura moral da política brasileira". "Foi assim com Jânio Quadros, Fernando Collor de Melo e o PT – ainda que nos três casos essa expectativa tenha se mostrado ilusória". Para o professor, Marina também parece contar com o apoio de boa parte dos manifestantes de junho de 2013, sobretudo os mais jovens, que estariam descontentes com as opções eleitorais até então colocadas e pretenderiam anular os votos. "Esse setor parece disposto a rever o voto caso ela seja candidata." Ainda assim, Romano diz que só nas próximas semanas, passado o efeito da morte de Campos, será possível projetar com mais precisão as chances da acreana. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Para Antonio Carlos Mazzeo, professor em Teoria Política da Universidade Estadual Paulista (Unesp), um importante obstáculo para a campanha de Marina é a "fragilidade" de seu partido em comparação com as máquinas partidárias por trás de seus principais adversários, Dilma e Aécio. Além disso, diz ele, a ex-senadora terá muito menos tempo de propaganda eleitoral gratuira que seus maiores concorrentes. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marina contará com apenas 2 minutos e 3 segundos nas propagandas exibidas às terças, quintas e sábados, enquanto Dilma terá 11 minutos e 24 segundos e Aécio, 4 minutos e 35 segundos. A duração da propaganda é proporcional ao número de deputados federais dos partidos que apoiam as candidaturas. "O tempo de TV vai influenciar o desempenho de Marina, assim como suas entrevistas e participação em debates", diz Mazzeo. Para Maria do Socorro Braga, professora de ciência política da USP, para resistir aos ataques dos adversários, Marina terá de apresentar um programa de governo que satisfaça os eleitores que desejam mudanças. "Ela só vai conseguir ter consistência e manter o eleitorado se esse programa estiver de acordo com o que estão reivindicando." Roberto Romano, da Unicamp, diz ainda que, se conseguir superar todos esses obstáculos, Marina terá testada sua personalidade. "Ela tem um perfil bastante autoritário, o que é uma virtude dela mas também um problema." Segundo Romano, Marina é capaz de manter princípios e definir suas ações com base em doutrinas, mas "na política não há apenas uma ética ou moral". "A política é a arte de adequar as múltiplas perspectivas éticas. E ela parece muito rígida nessa linha", diz. "Não digo que deva se transformar em político tradicional, mas, se atenuar esse perfil autoritário, evidentemente pode consquistar boas graças do partido. E com uma boa campanha, um bom esquema de propaganda e convencimento, ela talvez consiga de fato chegar a segundo turno, o que será uma situação complicada para a Dilma Rousseff", conclui. | 2014-08-18 18:58:37 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140818_marina_projecao_jf.shtml |
brasil | Ex-ministra aparece bem em pesquisas e pode se beneficiar de voto religioso, mas terá pouco tempo de TV e pode ter dificuldades com palanques regionais. | As chances de Marina em seis pontos | A morte de Eduardo Campos mudou o cenário da corrida à Presidência no país e alçou sua candidata à vice, Marina Silva (PSB), ao primeiro plano da disputa. Em um momento de comoção, Marina - que deve ser anunciada oficialmente como substituta de Campos na quarta-feira-, largou bem na pesquisa eleitoral do instituto Datafolha, com 21% das intenções de voto. Mas a ex-ministra do Meio Ambiente também enfrentará desafios, como o pouco tempo de TV e uma possível falta de palanques regionais. A BBC Brasil listou vantagens e obstáculos que Marina terá em seu caminho. Após conquistar 19,6 milhões de votos em 2010, Marina aparece com 21% das intenções de voto na primeira pesquisa Datafolha após a morte de Eduardo Campos. Ela está em empate técnico com o candidato do PSDB, Aécio Neves, segundo o levantamento divulgado pela Folha de S.Paulo. No segundo turno, a ex-senadora tem 47% das intenções de voto - tecnicamente empatada com a presidente Dilma Rousseff, que tem 43%, já que a margem de erro do levantamento é de dois pontos para cima e para baixo. Uma incerteza é quanto os eleitores estão influenciados, neste momento, pelo impacto da morte trágica de Eduardo Campos, nem como a imagem de uma candidata "de luto" poderá influenciar a votação. Em um pesquisa realizada em abril, Marina obteve 27% dos votos, o que sugere que ela ainda tem potencial para crescer. Segundo o Datafolha, 8% dos brasileiros que não votam nela hoje são receptivos ao seu nome - ou seja, são votos possíveis de serem conquistados. Analistas consideram que Marina Silva foi a candidata que mais se beneficiou dos protestos de junho do ano passado. Nas ruas, a população demonstrou desânimo com a política tradicional, um espírito que se conforma ao discurso da ex-senadora que defende uma "nova forma de fazer política". Esse desencanto aparecia nas pesquisas eleitorais, que mostravam 27% de eleitores sem candidato. O Datafolha avalia que, ao entrar na disputa, Marina capturou esses eleitores: votos nulos, brancos e de indecisos agora são 17%. Marina é da Assembleia de Deus e pode conquistar os votos dos religiosos, que tiveram um papel importante nas eleições mais recentes. Em 2010, a ambientalista teve boa votação depois que lideranças religiosas - evangélicas e católicas - pregaram o voto anti-Dilma. A presidente estava envolvida em uma polêmica sobre as suas posições sobre aborto. Marina já disse publicamente que é contra o aborto, mas defendeu um plebiscito sobre a questão. A maior parte das igrejas evangélicas se associou, neste ano, à candidatura do pastor Everaldo, do PSC. Mas, com a entrada de uma evangélica na linha de frente da disputa, parte dos votos pode migrar para ela. Segundo o censo do IBGE de 2010, 22,2% da população brasileira se dizia evangélica e 64,6% era católica. Desde a redemocratização, nenhum candidato que chegou em 3º lugar na corrida presidencial conseguiu repetir o mesmo desempenho na eleição seguinte. Brizola, Enéas, Ciro Gomes, Garotinho e Heloísa Helena ou não concorreram de novo ou tiveram votações piores que a de anos anteriores. A teoria por trás disso é que há um desgaste dos candidatos que, antes, eram vistos como novidade. Marina terá cerca de dois minutos diários na propaganda eleitoral na TV - menos que seus adversários Dilma Rousseff e Aécio Neves. O horário eleitoral é considerado a mais importante plataforma de exposição dos candidatos, principalmente por causa dos comerciais que são exibidos no meio da programação. Por outro lado, Marina terá mais tempo agora do que tinha em 2010, quando concorreu pelo PV. A ex-senadora também pode enfrentar dificuldade com seus palanques regionais. Como Marina se abrigou no PSB apenas por não ter conseguido montar a Rede, não aprovava alguns dos apoios costurados por Eduardo Campos. É possível, dessa forma, que os candidatos nos Estados não se empenhem por sua candidatura. Em típico "marinês", o programa lançado pela chapa da ambientalista traz "eixos programáticos" e expressões como "democracia de alta intensidade", "empoderamento humano" e "brasileiros socialistas e sustentabilistas". Em uma abordagem mais objetiva, Campos já havia feito diversas promessas que não apareciam no programa, como o passe livre estudantil. Na campanha, Marina terá que superar duas importantes contradições. A primeira é conciliar seu discurso com o do PSB e de outros partidos da coligação O exemplo mais claro dessa tarefa é a relação com o agronegócio, no qual Campos tinha bom trânsito e com o qual a ex-ministra do Meio Ambiente já teve atritos. Também será preciso conciliar as suas próprias posições, tidas muitas vezes como conservadoras, com a de seu eleitorado, composto em grande parte por jovens e moradores de grandes centros, que tendem a ser mais progressistas. | 2014-08-14 15:02:33 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140814_prosecontras_marina_lab.shtml |
brasil | Para jornal britânico, se for confirmada na disputa, Marina poderá ter um "grande apelo" para o eleitor brasileiro insatisfeito com o atual governo. | Para 'Financial Times', Marina pode liderar votos de 'todos contra Dilma' no 2º turno | A ex-senadora Marina Silva poderá liderar o voto de "todos contra a presidente Dilma Rousseff" em um eventual segundo turno da eleição presidencial, disse o jornal britânico Financial Times em editorial nesta segunda-feira. Marina ainda não foi confirmada como candidata do PSB à Presidência. Mas já teria aceitado participar da disputa, segundo o coordenador da Rede Sustentabilidade, Bazileu Margarido. Um anúncio oficial deverá ser feito nos próximos dias. Se for, assumirá a chapa do partido, antes liderada pelo ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo na quarta-feira. Ex-ministra do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marina disputou a Presidência em 2010 pelo Partido Verde (PV) e alcançou cerca de 20 milhões de votos. Evangélica, ela é altamente popular entre este segmento de eleitores. "A popularidade de Marina diminui a esperança de Dilma de conquistar a eleição (no primeiro turno)", diz o jornal. "No segundo turno, Marina poderá, então, liderar um voto de 'todos contra Dilma'", avaliou o jornal britânico. "Se Marina concorrer, a bandeira de 'renovação política' e de 'terceira via' terá um grande apelo em um país marcado pela insatisfação com o status quo, como os grandes protestos de rua do ano passado mostraram", disse o editorial. Segundo o jornal britânico, "a morte trágica de Campos tornou a eleição em uma corrida de três cavalos" ao alçar Marina como potencial kingmaker, termo em inglês que se refere à pessoa que escolhe o próximo rei. Neste caso, o jornal diz que, caso Marina concorra, ela pode ser decisiva para definir o vencedor, ou "ser uma candidata bem sucedida em seu próprio mérito". Para o texto, uma candidatura de Marina ameaça não só o desempenho de Dilma, mas também o de Aécio, que "agora terá que realizar campanha em duas frentes". Pesquisa Datafolha divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo nesta segunda-feira apontou Marina com 21% das intenções de voto, em empate técnico no segundo lugar com o ex-senador Aécio Neves (PSDB), com 20%. Dilma lidera, com 36%. Este foi o primeiro levantamento realizado após a morte de Campos, que aparecia em um distante terceiro lugar em pesquisas anteriores. | 2014-08-18 08:08:21 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140818_marina_press_ft_hb.shtml |
brasil | Candidato à Presidência foi enterrado neste domingo, depois de um dia sendo velado em Recife. | Familiares, políticos e pernambucanos se despedem de Eduardo Campos | O ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos, foi enterrado na tarde deste domingo, no cemitério de Santo Amaro, em Recife, após um dia de velório e homenagens na cidade. Campos morreu em um acidente aéreo em Santos (SP), na quarta-feira. Mais de 160 mil pessoas, segundo a PM, se aglomeraram nos arredores do Palácio Campo das Princesas, sede do governo pernambucano, onde o corpo foi velado desde a madrugada. De lá, o caixão foi levado em carro de bombeiros até o cemitério. Entre os presentes no velório estiveram Marina Silva, vice na chapa de Campos e que deve se tornar a candidata do PSB à Presidência, a presidente Dilma Rousseff (PT), que concorre à reeleição, e Aécio Neves (PSDB), também candidato. Também acompanharam o velório o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os governadores de Pernambuco, José Lyra, de São Paulo, Geraldo Alckmim, de Alagoas, Teotônio Vilela, do Espírito Santo, Renato Casagrande, do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, entre outras autoridades, como ministros, prefeitos, embaixadores e empresários. A mulher de Campos, Renata, a mãe dele, Ana Arraes (ministra do Tribunal de Contas da União) e os filhos do presidenciável ficaram todo o tempo ao lado do caixão, no velório e no carro de bombeiros. Dilma foi vaiada por um grupo ao aparecer no telão - depois disso, outro grupo puxou aplausos. "Está morto um homem que tem as suas convicções vivas", disse o arcesbispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, durante a missa. "Sentíamos nele, acima do gestor, um ser humano apaixonado pelo povo, especialmente pelos mais empobrecidos", afirmou. Ao final da cerimônia, houve muitos aplausos e o público gritou "Eduardo, guerreiro, do povo brasileiro" - os filhos de Campos cantaram junto. Também foram velados neste domingo em Recife os corpos do jornalista Carlos Percol e do fotógrafo Alexandre Severo, mortos no mesmo acidente. Campos, que governou Pernambuco entre 2006 e 2014 - quando deixou o governo para concorrer à Presidência - foi enterrado ao lado do túmulo de seu avô, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (1916-2005). O PSB tem até o final desta semana para apresentar um nome para substituir Campos. Na sexta-feira, a ex-senadora Marina Silva foi consultada de forma preliminar pelo PSB e, segundo a sigla, aceitou concorrer à Presidência no lugar de Campos. Ela recebeu também o apoio explícito da família dele. O PSB realizará uma reunião de sua executiva para anunciar sua decisão final na quarta-feira. No fim da tarde deste domingo, o presidente do partido, Roberto Amaral, abriu oficialmente o processo de consultas internas. "Sepultado nosso líder, o PSB abre o processo de consultas visando à construção de alternativa política consensual a ser adotada pela sua Executiva Nacional (...), começando pela companheira Renata Campos (viúva de Campos), a vice Marina Silva e os partidos que integram a coligação Unidos pelo Brasil", informa a nota do partido, segundo a Agência Brasil. Campos, que tinha 49 anos, estava em terceiro lugar na corrida eleitoral, com cerca de 10% dos votos, de acordo com as pesquisas mais recentes. Estava atrás da presidente Dilma Rouseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB). Nascido em 10 de agosto de 1965 no Recife, Eduardo Henrique Accioly Campos era filho do poeta Maximiano Campos (1941-1998) e de Ana Arraes, atual ministra do TCU. Era economista e o principal herdeiro político de seu avô, Miguel Arraes. Começou oficialmente na política em 1986, ao trabalhar na campanha de Arraes em sua segunda campanha ao governo de Pernambuco. Em 1990, filiou-se ao PSB, pelo qual foi eleito deputado estadual no mesmo ano. Aos 25 anos, sofreu sua única derrota eleitoral ao terminar em quinto lugar na disputa pela Prefeitura do Recife. Em 1994, foi eleito deputado federal com 133 mil votos. Licenciou-se do cargo para ser secretário do governo Arraes em Pernambuco. Em 1998, foi reeleito deputado federal com 173,6 mil votos. Foi ministro de Ciência e Tecnologia entre 2004 e 2006, durante o primeiro governo Lula. Era o mais jovem entre os ministros à época. Campos assumiu a presidência do PSB em 2005 e, no ano seguinte, licenciou-se deste cargo para concorrer ao governo de Pernambuco. Foi eleito com 60% dos votos no segundo turno. Em 2010, foi reeleito com 83% dos votos no primeiro turno, o maior índice registrado entre todos os governadores eleitos naquele ano. O político estava em campanha para as próximas eleições presidenciais e havia firmado aliança com a ex-senadora Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, que seria sua vice-presidente. Campos tentava se apresentar como uma nova via da política nacional. "Se a gente quer chegar a um novo lugar, a gente não pode ir pelos mesmos caminhos", disse em sua última entrevista, dada à Rede Globo na terça-feira. Mesmo atrás nas pesquisas, acreditava que cresceria ao se tornar conhecido com o início da campanha na televisão. "Minha eleição vai ser de fenômeno, vai ser de arranque na última hora", disse à revista Piauí. De acordo com a Aeronáutica, o jato em que estava Campos saiu do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao aeroporto do Guarujá, em São Paulo. Quando se preparava para o pouso, por volta das 10h, o avião arremeteu possivelmente devido ao mau tempo. Em seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato com a aeronave. A Aeronáutica já deu início às investigações para apurar o que pode ter contribuído para o acidente, no qual morreram outras seis pessoas - o fotógrafo da campanha, um operador de câmera, dois assessores e os dois pilotos. Campos era casado com a economista e auditora concursada do Tribunal de Contas do Estado Renata de Andrade Lima Campos, de 47 anos. Eles começaram a namorar ainda na adolescência. Renata estava com a família em Recife no momento do acidente. Campos deixa cinco filhos. | 2014-08-17 19:44:59 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140817_campos_enterro_pai.shtml |
brasil | Enterro de candidato à Presidência morto em acidente de avião está previsto para as 17h. | Velório de Campos deve reunir mais de 100 mil pessoas no Recife | Mais de 100 mil pessoas são esperadas no funeral do ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência pelo PSB Eduardo Campos, morto na quarta-feira em um acidente de avião em Santos (SP). Na manhã deste domingo, foi realizada uma missa em homenagem a Campos e a seus assessores que morreram no voo. Com a multidão que acompanhou a cerimônia podiam ser vistas bandeiras do Brasil, de Pernambuco e da campanha, além de algumas com a frase "Não vamos desistir do Brasil" - dita por Campos em uma de suas últimas entrevistas. Além da família de Campos e de Marina Silva, que concorria a vice em sua chapa, compareceram a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, Aécio Neves (PSDB), seu adversário na disputa, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma foi vaiada por um grupo ao aparecer no telão -depois disso, outro grupo puxou aplausos. "Está morto um homem que tem as suas convicções vivas", disse o arcesbispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, durante a missa. Saburido disse que Campos foi "um grande líder". "Sentíamos nele, acima do gestor, um ser humano apaixonado pelo povo, especialmente pelos mais empobrecidos", afirmou. Ao final da cerimônia, houve muitos aplausos e o público gritou "Eduardo, guerreiro, do povo brasileiro" -os filhos de Campos cantaram junto. O enterro está marcado para as 17h de domingo, no cemitério de Santo Amaro, próximo ao centro do Recife. O político será enterrado ao lado do túmulo de seu avô, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (1916-2005), no Cemitério de Santo Amaro. O velório ocorre no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, desde a madrugada de domingo. Campos governou o estado por dois mandatos, de 2006 a 2014, quando deixou o governo para se candidatar à Presidência. Também estão sendo velados os corpos do jornalista Carlos Percol e do fotógrafo Alexandre Severo, que também morreram no acidente. O PSB tem dez dias para apresentar um nome para substituir Campos. Na sexta-feira, a ex-senadora Marina Silva foi consultada de forma preliminar pelo PSB e, segundo a sigla, aceitou concorrer à Presidência no lugar de Campos. O PSB realiza uma reunião para anunciar sua decisão final na quarta-feira. Campos, que tinha 49 anos, estava em terceiro lugar na corrida eleitoral, com cerca de 10% dos votos, de acordo com as pesquisas mais recentes. Estava atrás da presidente Dilma Rouseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB). Nascido em 10 de agosto de 1965 no Recife, Eduardo Henrique Accioly Campos era filho do poeta Maximiano Campos (1941-1998) e de Ana Arraes, atual ministra do Tribunal de Contas da União. Campos era economista e o principal herdeiro político de seu avô, Miguel Arraes. Começou oficialmente na política em 1986, ao trabalhar na campanha de Arraes em sua segunda campanha ao governo de Pernambuco. Em 1990, filiou-se ao PSB, pelo qual foi eleito deputado estadual no mesmo ano. Aos 25 anos, sofreu sua única derrota eleitoral ao terminar em quinto lugar na disputa pela Prefeitura do Recife. "Era uma criança, um menino", disse em entrevista à revista Época no ano passado. Em 1994, foi eleito deputado federal com 133 mil votos. Licenciou-se do cargo para ser secretário do governo Arraes em Pernambuco. Em 1998, foi reeleito deputado federal com 173,6 mil votos. Foi ministro de Ciência e Tecnologia entre 2004 e 2006, durante o primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva. Era o mais jovem entre os ministros à época. Campos assumiu a presidência do PSB em 2005 e, no ano seguinte, licenciou-se deste cargo para concorrer ao governo de Pernambuco. Foi eleito com 60% dos votos no segundo turno. Em 2010, foi reeleito com 83% dos votos no primeiro turno, o maior índice registrado entre todos os governadores eleitos naquele ano. O político estava em campanha para as próximas eleições presidenciais e havia firmado aliança com a ex-senadora Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, que seria sua vice-presidente. Campos vinha se apresentando como uma nova via da política nacional. "Se a gente quer chegar a um novo lugar, a gente não pode ir pelos mesmos caminhos", disse em sua última entrevista, dada à Rede Globo na terça-feira. Mesmo atrás nas pesquisas, acreditava que cresceria ao se tornar conhecido com o início da campanha na televisão. "Minha eleição vai ser de fenômeno, vai ser de arranque na última hora", disse à revista Piauí. De acordo com a Aeronáutica, o jato em que estava Campos saiu do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao aeroporto do Guarujá, em São Paulo. Quando se preparava para o pouso, por volta das 10h, o avião arremeteu devido ao mau tempo. Em seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato com a aeronave. A Aeronáutica já deu início às investigações para apurar o que pode ter contribuído para o acidente, no qual morreram outras seis pessoas - o fotógrafo da campanha, um operador de câmera, dois assessores e os dois pilotos. Campos era casado com a economista e auditora concursada do Tribunal de Contas do Estado Renata de Andrade Lima Campos, de 47 anos. Eles começaram a namorar ainda na adolescência. Renata estava com a família em Recife no momento do acidente. Campos deixa cinco filhos. | 2014-08-17 12:08:19 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140817_campos_velorio_lab.shtml |
brasil | Ex-senadora permitiu que PSB iniciasse consultas na coligação sobre sua candidatura, diz aliado. | Marina aceita concorrer à Presidência no lugar de Campos | A ex-senadora Marina Silva (PSB) aceitou se candidatar à Presidência no lugar de Eduardo Campos, morto em um acidente de avião na quarta-feira. O coordenador da Rede Sustentabilidade, Bazileu Margarido, disse à BBC Brasil que Marina autorizou o PSB a fazer consultas com a sigla e os outros partidos da coligação para definir a candidatura. De acordo com o PSB, Marina foi consultada na noite de sexta-feira sobre a possibilidade de concorrer pelo partido e concordou. A Executiva da sigla se reúne na quarta-feira para tomar a decisão final - a tendência, segundo fontes ligadas ao PSB, é que o nome da ex-senadora seja referendado. A legenda entende que a candidatura de Marina seria uma forma de homenagear Campos e manter seu projeto. Marina era vice na chapa de Campos e sofria resistência de parte da cúpula do PSB, que preferia um nome mais ligado à base do partido. A ex-senadora ingressou na legenda no ano passado, após fracassar sua tentativa de criar a Rede. A candidatura de Marina não deve ser anunciada oficialmente antes do enterro de Campos. O ex-governador de Pernambuco e outras seis pessoas morreram em um acidente aéreo em Santos, no litoral de São Paulo, na manhã de quarta-feira. As causas da queda do avião ainda não são conhecidas. Na tarde deste sábado, seu corpo foi levado do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo rumo à base aérea de Guarulhos, para seguir a Recife, onde começará, nesta noite, seu velório. O enterro está marcado para as 17h de domingo, no cemitério de Santo Amaro, próximo ao centro do Recife, informa a Agência Brasil. Cem mil pessoas devem acompanhar o funeral. Ao aceitar a candidatura, Marina indica que concordou com as exigências do PSB de respeitar os acordos regionais firmados pela sigla e manter o programa de governo já acordado. Durante a semana, a família de Eduardo Campos já havia manifestado a vontade de que a vice concorresse em seu lugar. | 2014-08-16 11:37:07 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140816_marina_candidata_lab.shtml |
brasil | Mais de 300 mil emigrantes se inscreveram para participar das eleições, mas só poderão votar para presidente. | Brasileiros no exterior criam petição para poder votar em senadores e deputados | A comunidade brasileira em Londres quer mobilizar os milhões de cidadãos que vivem fora do Brasil pelo direito de eleger senadores e deputados federais no país. Atualmente, brasileiros radicados no exterior só podem votar para Presidente da República. Os números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelam um forte crescimento do número de eleitores brasileiros fora do país. Neste ano, 337.168 pessoas se inscreveram para votar nas eleições presidenciais, uma alta de 68% ante 2010, quando 200.392 eleitores estavam inscritos. Como muitos brasileiros vivem ilegalmente fora do país, é difícil calcular com precisão o tamanho da comunidade expatriada. A estimativa mais recente do Ministério das Relações Exteriores indica que 2,5 milhões de brasileiros moram fora do país. Ao defender a ampliação do direito ao voto, o presidente da Casa do Brasil, Carlos Mellinger, lembra que a maioria dos brasileiros que vivem no exterior são emigrantes econômicos que têm planos de voltar ao país depois de juntar dinheiro. Segundo dados do Banco Central, esses trabalhadores enviam cerca de US$ 2 bilhões (atualmente R$ 4,5 bilhões) ao ano para o país. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, a maior comunidade brasileira está nos Estados Unidos, onde vivem pouco mais de 1 milhão de brasileiros. A do Reino Unido é a sexta maior, contabilizando 118 mil pessoas. A Casa do Brasil, porém, estima que o número real seja mais que o dobro disso: cerca de 300 mil. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Além da ilegalidade, outro fator que contribui para que o número de brasileiros que vivem no país seja subestimado é que muitos têm dupla nacionalidade e migram usando passaportes de países europeus, observa Mellinger. Uma pesquisa feita este ano com 500 dos 5 mil associados à Casa do Brasil revelou que a maioria dos brasileiros que vivem em Londres tem baixa qualificação e ocupa funções em setores como os de limpeza, segurança, transporte, hotéis, restaurantes e construção civil. “A grande maioria dos brasileiros que vivem no exterior sonha em um dia voltar para casa. Eles compõem uma migração puramente econômica, num processo que costuma ser difícil e doloroso”, afirma Mellinger. A petição pelo direito ao voto foi divulgada neste sábado em um evento para a comunidade brasileira em Londres. O objetivo é mobilizar mais associações de brasileiros no Reino Unido e em outros países, para depois levar o documento ao governo federal e ao Congresso Nacional em Brasília. Por enquanto, a petição tem assinaturas no Brasil, França, Canadá, Holanda e Reino Unido. | 2014-08-16 16:51:32 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140816_voto_exterior_ms.shtml |
brasil | Imprensa internacional especula sobre futuro da corrida no Brasil; 'Guardian' diz que Marina deve concorrer porque é 'ambiciosa'. | Marina Silva será chave para 'definir rei' na eleição brasileira, diz Bloomberg | A imprensa internacional destaca nesta sexta-feira artigos e perfis sobre Marina Silva, indicando a aposta de que a ex-senadora sucederá Eduardo Campos na cabeça da chapa do PSB à Presidência do Brasil. O site de negócios da Bloomberg diz que Marina Silva é um "curinga" e provável "fiel da balança" para definir o próximo presidente do Brasil. O texto usa a expressão em inglês kingmaker, que se refere à pessoa que escolhe o próximo rei - neste caso, indicando que caso concorra, Marina seria decisiva para definir o vencedor na disputa de outubro. "Acidente aéreo fatal transforma ambientalista evangélica em fiel da balança no Brasil", diz a manchete do artigo. "(Marina) pode afetar as duas campanhas dos dois principais candidatos (Dilma Rousseff, do PT e Aécio Neves, do PSDB) caso decida concorrer", avalia o texto, citando um analista do banco UBS AG. "Pode dividir o eleitorado o suficiente para roubar uma vitória no primeiro turno da presidente Dilma Rousseff, e retirar Aécio Neves da disputa no segundo lugar." Outros analistas políticos citados na reportagem descrevem Marina Silva como uma figura enigmática, que não deixa claras as suas posições em relações a temas que interessam ao mercado, como ajuste fiscal e controle de inflação. A reportagem diz que existe um debate no meio político, e entre o eleitorado, para tentar definir "exatamente o que ela representa". Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast O jornal britânico The Guardian também trata a ex-senadora como a "sucessora óbvia" de Eduardo Campos na campanha. Para a publicação, a ex-senadora tem apelo junto ao eleitorado brasileiro e é vista como alguém que ajudou a reduzir o desmatamento da Amazônia. Por outro lado, a reportagem afirma que seu "radicalismo não agradou a classe política brasileira", lembrando que ela deixou o Ministério do Meio Ambiente no governo Lula em pé de guerra contra os interesses do agronegócio. Para o Guardian, dificilmente Marina deixaria de concorrer agora, por conta de sua intenção de fortalecer a agenda ambientalista. "É difícil imaginar que uma política tão ambiciosa não vá aproveitar essa chance [de concorrer à Presidência] para poder avançar com sua agenda de desenvolvimento sustentável." O Guardian afirma que não há políticos dentro da coalizão do PSB com a mesma força eleitoral de Marina Silva, mas ressalva que ela não conta com total apoio de muitos dentro do partido. "Há riscos para o partido ao escolher uma candidata que é retratada por seus rivais como uma pessoa divisiva que veio de fora", diz o artigo. "Caso ela saia para a disputa com um candidato a vice forte, para garantir que a máquina do PSB esteja com ela, a corrida presidencial do Brasil, que já está competitiva, pode ficar ainda mais acirrada." | 2014-08-15 10:49:52 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140815_marina_press_dg.shtml |
brasil | Alternativa natural seria candidatura de Marina Silva, dizem analistas, mas coalizão pode seguir pelo menos outros três caminhos distintos. | Eleições 2014: Veja os possíveis cenários para o PSB sem Eduardo Campos | Com a morte do ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência Eduardo Campos, do PSB, especula-se que sua vice, a ex-senadora Marina Silva, assumirá a cabeça da chapa. A coligação partidária que apoia a candidatura, porém, pode enveredar por pelo menos quatro caminhos distintos. Se não houver apoio a Marina, que enfrenta resistências dentro do PSB, os partidos da coalizão podem inscrever outro político para a disputa ou até abrir mão dela. Nesse caso, poderão ficar neutros na corrida ou se aliar às candidaturas de Dilma Rousseff (PT) ou de Aécio Neves (PSDB). O PSB tem até o dia 23 para tomar sua decisão. A nomeação do candidato deverá ser aprovada pela maioria das direções dos outros partidos da coalizão: PHS, PRP, PPS, PPL e PSL. A coligação não precisa necessariamente lançar um pessebista; ela poderá nomear o membro de outro partido da coalizão, desde que o PSB abra mão de sua preferência para indicar o novo candidato. A BBC Brasil listou os quatro possíveis cenários que se abrem para o PSB na disputa, abordando os obstáculos para que cada um deles se concretize. Neste cenário, tido por analistas como o mais natural, Marina concorreria à Presidência pelo PSB. A ex-senadora filiou-se à sigla no ano passado, após a Justiça Eleitoral rejeitar a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast A coalizão poderia, então, nomear para o cargo de vice algum político tradicional do PSB, para manter algum controle sobre a chapa. Pesam a favor de Marina sua popularidade (ela obteve 19% dos votos na última eleição presidencial, em 2010) e a relação que construiu com Campos após a o lançamento da candidatura. Apesar das divergências políticas entre os dois, ambos exaltavam a dobradinha em público, e Marina ocupava quase tanto espaço na propaganda da chapa quanto Campos. O irmão do ex-governador pernambucano, Antonio Campos, que é membro do PSB, divulgou nesta quinta uma carta defendendo que Marina assuma a candidatura. Mesmo assim, a decisão de lançar Marina enfrentaria resistências no partido. Caciques pessebistas, como o novo presidente da sigla, Roberto Amaral, e o deputado federal Márcio França (SP), já tiveram importantes divergências com a política acreana. A relação de Marina com a cúpula do partido se deteriorou quando ela interveio em negociações do PSB para o acerto de palanques estaduais. A ex-senadora barrou a aproximação do partido com os ruralistas Ronaldo Caiado (candidato do DEM ao Senado por Goiás) e Ana Amélia (postulante do PP ao governo do Rio Grande do Sul), gesto que irritou dirigentes pessebistas. Marina defendia que as alianças nos Estados se restringissem a partidos e candidatos alinhados ideologicamente com a chapa do PSB, rejeitando acordos com PT e o PSDB, além de grupos políticos tradicionais ou adversários, como os ruralistas. Mesmo assim, ela não conseguiu evitar que o PSB se aliasse com o PSDB em São Paulo e com o PT no Rio. Marina ainda não anunciou se pleiteará a candidatura. O PSB poderia nomear para a corrida algum de seus políticos tradicionais. Os principais dirigentes da sigla hoje são seu novo presidente, Roberto Amaral, os deputados federais Beto Albuquerque (RS) e Márcio França (SP), o senador Rodrigo Rollemberg (DF) e os governadores Renato Casagrande (ES), Ricardo Coutinho (PB), Wilson Martins (PI) e Camilo Capiberibe (AP). À exceção de Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia no governo Lula, todos os outros já são candidatos a outros postos na eleição: Casagrande, Coutinho e Capiberibe concorrem à reeleição nos governos de seus Estados; Rollemberg disputará o governo do Distrito Federal; Martins e Albuquerque pleitearão vagas no Senado; e França é candidato a vice-governador na chapa de Geraldo Alckmin em São Paulo. Para que assumem a chapa para a Presidência, teriam de abrir mão de suas candidaturas. Segundo o presidente da Comissão Nacional de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil, José Norberto Lopes Campelo, caso os candidatos renunciem das disputas nos Estados, eles poderiam ser substituídos por outros postulantes. A troca, diz Campelo, teria de seguir os mesmos procedimentos da substituição na chapa presidencial. Ao lançar um político do próprio partido para a Presidência, o PSB poderia tentar manter Marina no posto de vice, mas analistas avaliam que é improvável que ela aceite. Outro entrave importante é que nenhum dos dirigentes do PSB tem a mesma projeção de Campos ou Marina e correria o risco de receber uma votação ínfima na eleição, diz David Fleischer, professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB). O PSB poderia, ainda, recorrer a membros mais conhecidos, entre os quais o ex-jogador e deputado federal Romário – candidato ao Senado pelo Rio – ou a deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina – candidata à reeleição na Câmara. Nenhum dos dois, porém, exerce hoje influência relevante na direção da sigla. Se assim desejar e tiver o apoio da maioria da coalizão, o PSB pode abrir mão de lançar um candidato do próprio partido para nomear um postulante de outra sigla coligada. Nesse caso, o presidente do PPS e deputado federal por São Paulo, Roberto Freire, seria o favorito. Freire atualmente busca a reeleição para a Câmara dos Deputados. Pernambucano como Campos, Freire é um dos políticos mais experientes da coalizão e é próximo de Marina Silva. As outras siglas da coligação (PHS, PRP, PPL e PSL) não contam com políticos conhecidos. No entanto, o novo presidente do PSB, Roberto Amaral, disse na quarta-feira que "não há a possibilidade de abrirmos mão de candidatura própria", o que torna a nomeação de alguém de fora da sigla improvável. Outra opção possível, ainda que pouco provável, segundo analistas, é a coligação abrir mão de lançar um candidato à Presidência. Nesse caso, a coalizão poderia se manter neutra na disputa ou se aliar, já no primeiro ou em eventual segundo turno, a uma das duas principais candidaturas: a de Dilma Rousseff (PT) ou a de Aécio Neves (PSDB). O apoio a Dilma poderia significar, num eventual segundo mandato da presidente, a volta do PSB à base governista, de onde saiu no ano passado. O endosso a Aécio simbolizaria o desejo da sigla em firmar-se no pólo oposto ao PT. As duas alternativas, porém, contradizem o discurso de Campos, que postulava buscar uma terceira via na política nacional, que escapasse à polarização PT-PSDB. Para David Fleischer, da UnB, se abrisse mão da disputa presidencial, o PSB encolheria como partido, elegendo menos congressistas e governadores. "Eles deixariam de ser um partido médio e voltariam a ser um partido pequeno." | 2014-08-15 02:46:37 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140814_eleicao_cenarios_jf_kb.shtml |
brasil | Processo complexo de identificação de vítimas causa inquietação em relação à campanha presidencial. | DNA acelera identificação de vítimas; Campos pode ser enterrado no domingo | Os peritos da polícia de São Paulo devem utilizar exames de DNA como seu principal recurso para identificar as vítimas do acidente aéreo que matou o candidato à Presidência Eduardo Campos, pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro) na quarta-feira. O objetivo é acelerar o processo de liberação dos restos mortais. Uma cerimônia de enterro chegou a ser prevista para o próximo domingo. Mas, os peritos de São Paulo ainda não confirmaram se os restos mortais do político serão liberados a tempo – fato que vem colaborando um clima de incerteza na corrida eleitoral. A decisão política sobre o lançamento ou não de um substituto na candidatura de Campos deve acontecer após o enterro do candidato, segundo analistas políticos. O PSB divulgou comunicado nesta quinta-feira afirmando que o partido está em luto e só tomará decisões relacionadas ao processo eleitoral "quando julgar oportuno". A explosão da aeronave – que caiu sobre um bairro residencial em Santos após uma tentativa frustrada de pouso – fragmentou os corpos das vítimas e tornou impossível sua identificação por meio de reconhecimento. O diretor do IML (Instituto Médico Legal), Ivan Miziara, afirmou nesta quinta-feira que os restos mortais poderiam ser identificados por meio de técnicas mais simples – como o exame de arcadas dentárias – , mas tais opções foram praticamente descartadas em detrimento dos exames de DNA. Além de Campos, outras seis pessoas morreram no acidente. "Daria para se trabalhar (usando outras técnicas), mas levaria muito mais tempo. Com o DNA é muito mais rápido. Então como a gente tem a ideia de que o trabalho seja feito o mais rápido possível, para diminuir a dor dessas famílias, a gente está trabalhando com isso (DNA)", afirmou. Miziara afirmou que 50 especialistas estão trabalhando no reconhecimento dos corpos. Eles devem comparar os restos mortais encontrados no local da queda do avião com o perfil genético da família de cada vítima. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast De acordo com ele, a previsão era que ainda na quinta-feira os peritos conseguiriam acabar de reunir todas as amostras genéticas de familiares necessárias para a realização dos exames. Algumas vinham sendo colhidas em São Paulo e outras estavam chegando de diferentes Estados. Os bombeiros que trabalharam no local da queda da aeronave disseram que 90% dos restos mortais foram encontrados no primeiro dia de buscas. Algumas equipes devem continuar o trabalho na sexta-feira. "Estamos fazendo todos os esforços para completar a investigação o mais rápido possível", disse. Ele afirmou porém que não há um prazo definido para a conclusão dos trabalhos. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que as identificações poderiam ser concluídas no fim de semana. O prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), que tem atuado como porta-voz da família do candidato, disse ter recebido a informação de que o corpo de Campos poderia ser liberado no sábado. Se isso de fato ocorrer, é possível que a cerimônia fúnebre ocorra no domingo. Porém, Geraldo Júlio deixou claro que essas datas são apenas uma estimativa, pois nada foi confirmado. Segundo a lei eleitoral, o PSB tem dez dias de prazo para registrar uma nova candidatura. Um dos principais nomes cotados é de Marina Silva, que figura como vice na chapa de Campos. A investigação sobre as causas do acidente com o jato Cessna 560 XL está sendo liderada pela Aeronáutica. A entidade afirmou que seu Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos está tentando recuperar conversas de voz entre os pilotos gravadas pela caixa-preta da aeronave – que sofreu diversas avarias na queda. Especialistas ouvidos por órgãos de imprensa brasileiros levantaram a hipótese do jato ter colidido com um drone – um veículo aéreo não tripulado. Isso porque a Aeronáutica havia emitido um "Notam" (aviso aos aeronavegantes) informando que seriam realizados voos de drones em uma área localizada a 20 quilômetros do aeroporto onde o jato pousaria no Guarujá entre os dias 11 e 31 de agosto. Contudo, a assessoria de imprensa da Força Aérea afirmou em nota que não necessariamente haveria drones voando no momento do acidente. O órgão disse ainda que os voos de drones estavam previstos para acontecer em uma área "bem distante da possível trajetória realizada pelo PR-AFA no dia 13 de agosto". A entidade disse ainda que o solicitante da autorização (cuja identidade não foi divulgada) informou que nenhum voo de drone foi realizado no período. | 2014-08-15 00:24:34 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140807_aviao_eduardo_lk.shtml |
brasil | Pesquisador Artur Avila diz que matéria é apresentada de forma pouco interessante nas escolas, o que pode afastar talentos. | Escola deve priorizar lado criativo da matemática, diz 'Nobel' brasileiro | O ensino fundamental deveria destacar o lado criativo da matemática, na opinião do pesquisador brasileiro Artur Avila, ganhador de uma Medalha Fields – prêmio que é frequentemente chamado de "Nobel da matemática" O prêmio foi considerado a mais importante distinção científica já conquistada por um brasileiro. Em entrevista à BBC Brasil, Avila afirmou que a matéria é apresentada de forma pouco interessante, o que pode afastar crianças talentosas da carreira científica. "Na atividade real, fazer matemática é uma coisa extremamente criativa", disse. O pesquisador, que divide o seu tempo entre o Rio de Janeiro e Paris, afirmou que ele mesmo só se deu conta do apelo da profissão ao participar de uma Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM). O evento abriu as portas de uma carreira vertiginosa, que o levou a completar um doutorado no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada – o Impa, com sede no Rio de Janeiro – aos 21 anos. "Eu tinha outras coisas que me interessavam, mesmo em ciências. Foi só quando eu compreendi que tinha tanta criatividade em matemática que eu escolhi de fato esta direção", disse, por telefone, de Seul, na Coreia do Sul, onde participa do Congresso Internacional de Matemática (CIM). Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Para ele, além do orgulho pela conquista do prêmio mais prestigioso do planeta em matemática, o Brasil vive um momento importante para o seu campo. Em 2017, o país sediará a Olimpíada Internacional de Matemática pela primeira vez. No ano seguinte, acontecerá no Rio o próximo CIM, o maior evento da área, em que são anunciados os vencedores da Medalha Fields. Avila, vencedor de diversos outros prêmios internacionais – entre eles, uma medalha de ouro na OBM e distinções das sociedades Europeia e Brasileira de Matemática – admitiu ter ficado surpreso com a honraria. A medalha é dada apenas a pesquisadores com menos de 40 anos, cujos trabalhos sejam considerados fundamentais para o avanço da matemática, e por isso, é mais comum que os laureados estejam próximos da idade limite. No entanto, Avila tem apenas 35 anos, e ainda poderia ser escolhido para o prêmio de 2018. "Fiquei surpreso", disse. Na entrevista à BBC, o matemático se mostrou ligeiramente incomodado com a frequente comparação da Fields com o Nobel. "A medalha Fields é difícil, não se pode usar isso como parâmetro. Para se ter uma ideia, a Alemanha tem só uma. Ou seja, não tem 10 ou 20 medalhas Fields por país", disse. Por isso mesmo, para ele é "bem mais estranho que não exista um Nobel nas outras áreas do que não ter existido uma medalha Fields para o Brasil até agora". Uma possível razão para isso, segundo Avila, seria a escassez de recursos para ciência no Brasil. Pelo menos no campo dele, os próximos anos apresentarão grandes oportunidades para o governo, possivelmente estimulando mais pessoas a considerarem uma carreira na matemática. Porém, para aproveitar essas oportunidades, o governo deveria refletir sobre a "maneira certa" de incentivar a ciência. "Não é muito caro, creio, fazer ciência, dentro de todo o orçamento que têm", afirmou. "Embora o Brasil já faça matemática em um nível elevado em certos campos, ainda há muito para ser feito em questão de estender as áreas de atuação neste nível e também levar a produção matemática a outras áreas do país." Para isso, evidentemente, o Brasil precisará de novos matemáticos. Mas essa é realmente uma carreira viável para quem também busca segurança? "É uma carreira de classe média, de bom nível no Brasil, talvez mais que na França", disse. Avila acrescentou que há diversas compensações adicionais, além é claro da satisfação de se fazer aquilo que se gosta. Ele diz que a matemática garante bastante liberdade e é uma carreira pouco hierarquizada. "Não tem que lidar com chefe, você decide no que vai trabalhar e como vai obter resultados. Você pode adaptar o modo de trabalhar às próprias características." Tratam-se de pontos positivos para o carioca, que gosta de pensar nas soluções de complexos problemas abstratos andando de bermuda na praia. | 2014-08-14 10:49:49 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140814_entrevistaavila_ebc.shtml |
brasil | Como as escolhas do PSB e da coalizão podem ter impacto em termos de votos, financiamento e coligações. | Quatro perguntas sobre o impacto da morte de Campos na corrida eleitoral | A morte do ex-governador pernambucano Eduardo Campos gera uma série de incertezas para a corrida eleitoral deste ano - talvez as mais relevantes delas, neste momento, se a ex-senadora e presidenciável Marina Silva, vice na dobradinha, continuará na disputa e passará à cabeça da chapa para disputar o pleito. Marina, que terminou as eleições de 2010 com 19% dos votos, é creditada por aportar uma parte importante do apoio dos eleitores à candidatura do PSB. Campos ocupava o terceiro lugar na disputa, atrás da presidente Dilma Rousseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB). Por outro lado, analistas ouvidos pela BBC Brasil apontam que ela não circula com a mesma desenvoltura por círculos ideológicos diferentes, incluindo setores influentes do ponto de vista do financiamento de campanha. A ex-senadora ainda não indicou o que pretende fazer. Para explorar os diferentes cenários, elaboramos algumas perguntas sobre os possíveis impactos da morte de Campos para a disputa eleitoral. Segundo a legislação eleitoral, o partido de Campos poderá escolher outro candidato em até dez dias. A candidatura terá de ser respaldada pelas direções dos partidos que se coligaram com o PSB na disputa à Presidência: PHS, PRP, PPS, PPL e PSL. O candidato poderá ser do PSB ou de qualquer um desses partidos, desde que todos estejam de acordo. Entre os nomes mais cotados está o da ex-senadora Marina Silva, atual vice da chapa. Marina se filiou ao PSB após a Justiça Eleitoral rejeitar a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade. No entanto, a relação entre Marina e dirigentes do PSB é delicada. Cabia a Campos harmonizar posições divergentes entre a vice e o PSB. Se por um lado a morte de Campos a torna a candidata natural do PSB para a disputa, por outro, unificar o partido – e as demais siglas da coalizão – em torno de seu nome será um grande desafio. Marina pode, ainda, abrir mão da disputa. A ex-senadora ainda não disse qual será sua posição. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Na última pesquisa do Ibope, divulgada na semana passada, Campos aparecia com 9% das intenções de voto. Segundo analistas, seus votos não têm um herdeiro óbvio – nem mesmo se Marina Silva assumir a cabeça da candidatura. Apesar da aliança com Marina, muitos dos seguidores de Campos expressam reserva com a vice. "Campos circula melhor que a Marina entre os eleitores, porque não tem um discurso associado a dois perfis de eleitor muitos distintos: o evangélico e o ambientalista", diz Silvana Krause, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Por outro lado, caso se candidate, Marina poderia recuperar votos de eleitores que a apoiaram em 2010, mas planejavam votar em Dilma ou Aécio em 2014. A ex-senadora terminou em terceiro lugar naquela eleição, com 19% dos votos. Para Krause, os eleitores de Campos que não aderirem a uma eventual candidatura de Marina deverão se dividir entre Dilma e Aécio pelos seguintes critérios: a petista deve herdar os votos de eleitores de centro-esquerda, preocupados com políticas sociais, enquanto o tucano ficará com os votos dos eleitores antipetistas, com perfil mais conservador. Bem relacionado com empresários, Campos havia recebido até agora R$ 8,2 milhões em doações para a disputa de 2014, segundo a primeira parcial divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dilma recebeu R$ 10,1 milhões, e Aécio, R$ 11 milhões. A morte dele lança dúvidas sobre a capacidade do PSB de manter o fluxo de doações. As três empresas que até agora mais doaram para Campos são do ramo do agronegócio: a Atasuco, fabricante de sucos e aromas, doou R$ 1,5 milhão; a JBS, maior produtora de carnes do mundo, doou R$ 1 milhão e o mesmo valor foi doado pela Cosan, gigante do setor de açúcar e biocombustíveis. Caso Marina assuma a cabeça da chapa, é improvável que empresários do agronegócio mantenham o nível de doações, já que a candidata é vista pelo setor com reserva. Com menos doações, uma eventual campanha de Marina teria de ser mais modesta. Segundo a cientista política Silvana Krause, da UFRGS, as alianças costuradas por Campos para eleições estaduais não deverão ser alteradas, mesmo que Marina assuma a cabeça da chapa. Em busca de nacionalizar sua campanha, Campos aliou-se a candidatos de outros partidos em disputas para governos estaduais. As negociações geraram atritos com Marina, que rejeitava alianças com partidos não alinhados ideologicamente com a candidatura. Em nota divulgada em junho, a Rede Sustentabilidade, grupo político de Marina incorporado pelo PSB nesta eleição, anunciou que a ex-senadora só participaria de atividades de candidatos a governos estaduais apoiados pela Rede. A Rede ainda não disse se a morte de Campos altera esse quadro. Para Krause, a tendência é que, caso assuma a candidatura do PSB, Marina só busque o apoio de candidatos cujas alianças ajudou a negociar. | 2014-08-14 03:19:52 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140813_morte_campos_cenarios_jf_kb.shtml |
brasil | Tragédia unifica mensagens de apoio de rivais eleitorais; presidente Dilma Rousseff decreta três dias de luto oficial. | Brasil amanhece em choque após morte de Eduardo Campos | Personalidades políticas, familiares, amigos e simpatizantes do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto na quarta-feira em um acidente aéreo em Santos, aguardam a chegada do corpo em Recife, onde ele será velado. Até a manhã desta quinta-feira, porém, ainda não havia previsões sobre quando poderia ser realizado o translado. "Uma série de procedimentos e trâmites burocráticos devem realizados em Santos antes que possamos levar o corpo para Recife", disse um assessor do Partido Socialista Brasileiro (PSB) no fim da tarde da quarta-feira. Campos era candidato à Presidência pelo PSB e o terceiro nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de outubro. Sua morte em um acidente trágico causou grande comoção em todo o país e lançou uma série de dúvidas sobre a corrida eleitoral. A presidente Dilma Rousseff, colega de ministério de Campos no primeiro governo Lula, decretou três dias de luto oficial pela morte do candidato e anunciou ter suspendido seus compromissos de campanha. "Hoje o Brasil está de luto e sentindo uma morte que tirou a vida de um jovem político promissor", disse Dilma, em um pronunciamento. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast "Sem dúvida esse é um momento de pesar, um momento de tristeza. Somos afetados pela fragilidade da vida, mas também pela força e exemplo das pessoas." O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, também lamentou a morte de Campos. Em discurso, disse que "hoje é um dia de imensa tristeza para todos os brasileiros e para todos aqueles que acreditam na boa política". "Eduardo era um dos maiores representantes da boa política. Convivi mais de 20 anos com o Eduardo e tenho por ele uma admiração que não terminará com sua morte trágica. Ele fará uma falta imensa na política nacional." Campos, de 49 anos, era casado com a economista Renata de Andrade Lima Campos, de 47 anos, e tinha cinco filhos - um deles de apenas sete meses. O acidente que matou o candidato aconteceu na manhã de quarta-feira e suas causas estão sendo investigadas. A caixa-preta da aeronave foi encontrada no fim da tarde e peritos foram enviados para o local do acidente para analisar os corpos e destroços. Segundo informações da Aeronáutica, o jato que levava o ex-governador de Pernambuco ao litoral paulista saiu do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao aeroporto de Guarujá, em São Paulo. A aeronave levava outras seis pessoas - o fotógrafo da campanha, um cinegrafista, dois assessores e os dois pilotos – e caiu em uma área residencial quando se preparava para pousar. Sem Campos, o PSB e os partidos que fazem parte de sua coligação têm dez dias para escolher um novo candidato, de acordo com as regras da lei eleitoral. A mais cotada é Marina Silva, vice-presidente na chapa, mas ainda não está claro se o nome será aprovado pelas lideranças do PSB. Marina foi para Santos para acompanhar o resgate do corpo do candidato. "Essa é uma tragédia que nos impõe luto e profunda tristeza", disse a colega de chapa, visivelmente abatida. "Durante esses dez meses de convivência aprendi a respeitá-lo, admirá-lo e a confiar em suas atitudes e ideais de vida." Em nota, o PSB lembrou que há exatos nove anos morria Miguel Arraes, líder histórico do partido e avô de Campos. "Perdemos Eduardo Campos quando mais o Brasil precisava de seu patriotismo, seu desprendimento, seu destemor e sua competência", diz a nota. "Não é só Pernambuco e sua gente que perdem seu líder, não é só o PSB que perde seu líder. É o Brasil que perde um jovem e promissor estadista." | 2014-08-14 03:05:28 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140813_morte_campos_choque_rc_kb.shtml |
brasil | Analistas americanos apostam que ex-senadora assumirá cabeça da chapa, mas mudança teria impacto eleitoral limitado. | Com Marina, disputa ficaria mais competitiva, diz brasilianista | Se a ex-senadora Marina Silva se converter, como têm especulado analistas estrangeiros, em candidata do PSB às eleições de outubro, poderá roubar votos tanto dos candidatos do PT quanto do PSDB, disse à BBC Brasil um brasilianista que acompanha a política brasileira a partir de Washington. Isso teria como consequência acirrar a competitividade da campanha eleitoral, pois Marina poderia tirar votos tanto de Aécio Neves quanto da presidente Dilma Rousseff, avalia o analista Peter Hakim, presidente emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue, na capital americana. "Neste momento, é difícil avaliar, faz pouco (tempo) que a campanha começou para valer. Mas deve tornar a disputa eleitoral mais competitiva", afirma Hakim. "Se Marina concorrer e se as pessoas acharem que ela tem mais chances de vencer, Aécio pode perder votos para ela. Ela pode até ser a candidata a ir para o segundo turno", acredita. Segundo a pesquisa mais recente divulgada pelo Ibope, na semana passada, Eduardo Campos, morto na quarta-feira em um acidente aéreo, tinha 9% das intenções de voto. Dilma aparece à frente, com 38%. Aécio tinha 23%. Poucas horas após a morte de Campos, Marina disse que ainda não é hora de falar em campanha, diante da tragédia pessoal na qual morreram o candidato e outras seis pessoas. Embora ela não tenha indicado o que pretende fazer, a maior parte dos analistas internacionais tem apostado que ela substituirá o presidenciável na cabeça da chapa. Já outros especialistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que o impacto da entrada de Marina seria limitado. O diretor do programa de estudos da América Latina da Universidade Johns Hopkins, Riordan Roett, nota que a ex-senadora recebeu cerca de 20% dos votos quando concorreu à presidência em 2010. Mas quatro anos depois, não se sabe se os eleitores que a apoiaram naquele pleito continuam a seu lado. "Aécio poderia se beneficiar no fim, com a transferência de votos para ele uma vez que o choque da morte de Campos tenha sido absorvido pelo povo brasileiro", pondera. O economista Mark Weisbrot, codiretor do Center for Economic and Policy Research, com sede em Washington, salientou que, dada a dominância de PT e PSDB na corrida presidencial, qualquer mudança a partir da morte de Campos provavelmente mudará pouco o cenário eleitoral com vistas a outubro. "Se Marina concorrer à Presidência, pode até se sair melhor no primeiro turno, mas provavelmente não chegará ao segundo", calcula Weisbrot. Campos era pouco conhecido nos Estados Unidos. Hakim lembra de ter sido apresentado ao ex-governador no ano passado, em Washington. "Era um homem muito confiante, muito seguro de si quando falava sobre o Brasil. Um pouco menos quando falava sobre Estados Unidos e sobre política externa", lembra Hakim. | 2014-08-14 02:43:47 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140813_campos_morte_eua_ac_kb.shtml |
brasil | Imprensa internacional analisa cenário eleitoral brasileiro, especulando se ex-senadora assumirá candidatura presidencial ou não. | Marina Silva poderia romper polarização PT-PSDB, diz 'Economist' | Uma reportagem publicada nesta quinta-feira no site da revista The Economist afirma que, caso seja confirmada para disputar a Presidência no lugar de Eduardo Campos, a ex-senadora Marina Silva pode representar um "rompimento da polarização do debate político" brasileiro entre PT e PSDB. A coalizão liderada pelo PSB terá dez dias para escolher seu novo candidato presidencial. Poucas horas após a morte de Campos, em um acidente aéreo, Marina Silva falou a jornalistas que não é hora de se falar em política, diante da tragédia pessoal. Para a revista britânica, a coalizão liderada pelo PSB "quase certamente" optará por Marina Silva. A Economist cita o desempenho dela nas eleições de 2010, quando chegou em terceiro lugar, atrás de Dilma Rousseff e José Serra. "Em 2010, Silva abalou o Brasil com sua candidatura presidencial, e em particular seu uso inteligente das redes sociais. Isso fez com que ela partisse do nada para chegar no terceiro lugar, com 20 milhões de votos. Seu idealismo e probidade funcionam bem com eleitores jovens e urbanos, cansados da política de sempre." O site de negócios Bloomberg Businessweek destacou a oscilação do índice Bovespa e da cotação do real – que caíram inicialmente após a notícia da morte de Campos, e depois se recuperaram. "A volatilidade reflete o debate sobre quem ganhará apoio nas pesquisas de opinião [com a morte de Eduardo Campos]", avalia a publicação. A revista cita duas previsões conflitantes: a Nomura Securities International acredita que Dilma Rousseff será prejudicada; já o Instituto Análise vê Aécio Neves perdendo votos. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast O jornal espanhol El País especula sobre o cenário eleitoral após a morte de Eduardo Campos, também citando Marina Silva como provável candidata. O jornal lembra a popularidade da ex-senadora entre os 40 milhões de evangélicos do Brasil. "Neste caso, o mínimo que se pode especular é que será muito difícil para a candidata do PT ganhar as eleições no primeiro turno, já que o peso não só político como também emocional em boa parte do eleitorado poderá pesar a favor da [possível] nova candidata", diz o El País. "O que ninguém esquece neste momento é que a morte de Campos [...] representa uma grande perda para a política e sociedade brasileiras, já que o socialista era considerado uma das figuras mais dignas e preparadas da classe política." Na Grã-Bretanha, a morte de Campos foi notícia em diversos veículos de grande circulação e audiência, mas com pouco destaque. Entre os grandes jornais britânicos, apenas o Financial Times destacou em sua capa a morte de Campos, dizendo que o episódio pode "mudar radicalmente as perspectivas para as eleições mais disputadas do país em mais de uma década". | 2014-08-14 07:14:12 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140814_marina_press_review_dg.shtml |
brasil | Acidente que levou à morte de Eduardo Campos comoveu a cidade e deixou moradores vizinhos em choque | Explosão de jato leva terror e desperta solidariedade em moradores de Santos | Um barulho ensurdecedor de turbinas de avião seguido por uma explosão de grandes proporções, poeira e muita fumaça. É assim que os moradores do bairro do Boqueirão em Santos, no litoral paulista, descrevem o acidente aéreo que matou o candidato à Presidência Eduardo Campos e membros de sua equipe de campanha na manhã da quarta-feira. Segundo a polícia, além de Campos outras seis pessoas que estavam na aeronave morreram. A explosão atingiu ao menos 16 imóveis e deixou quatro feridos em solo. Enquanto bombeiros e policiais passavam o dia trabalhando em busca de restos de corpos de vítimas, centenas de moradores saíam às ruas no local da queda do avião para tentar entender o que estava acontecendo e oferecer alguma ajuda caso fosse necessário. Impressionados com o acidente, eles descreviam o que tinham visto ainda em choque e se solidarizavam com os vizinhos mais afetados com a tragédia. O protagonista de uma dessas histórias foi Vinícius Lopez, dono de uma escola de inglês próxima ao local do acidente. Ao ouvirem a explosão e sentirem o cheiro do querosene queimando, ele e um amigo correram para fora do prédio e foram ajudar duas mulheres que estavam presas em uma das casas atingidas. "Eu estava na escola e ouvi um barulho muito forte, como a passagem de um avião. Então eu corri para fora e pulei o muro para ajudar duas senhoras que estavam em uma casa", disse à BBC Brasil. Após tirar as duas do local, ele parou para reparar nos escombros e resume o que viu: "cenas de destruição". "Estava tudo destruído, um buraco enorme, fogo por tudo quanto é lado, nas janelas e na casa dos fundos. Tudo completamente destruído. A gente tirou as pessoas de lá e também saiu para ficar todo mundo em segurança", afirmou. Julia Nagamine conta que era sua irmã e mãe que estavam na casa e que, por uma diferença de 20 minutos, ela mesma não viveu a explosão de perto. A irmã dela chegou a sofrer ferimentos leves nas costas, mas passa bem. A mãe saiu ilesa. "Eu tinha saído de lá pra comprar umas coisas, quando vi o que aconteceu, eu liguei pro Vinícius, ele me disse que elas já estavam a salvo e eu corri pra cá. Vendo a casa assim de frente, parece que não aconteceu nada, mas lá no fundo está irreconhecível, destruiu tudo”, descreveu. Mesmo horas após o impacto do acidente, Vinícius Lopez ainda se mostrava em choque com o que estava vendo, especialmente após a morte do candidato Eduardo Campos ter sido confirmada. “Eu vi o Eduardo Campos dar uma entrevista um dia antes, ele estava lá tão bem e de repente acontece tudo isso aqui do lado da gente.” Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Ao menos 50 pessoas tiveram que deixar suas casas devido ao acidente. Os 16 imóveis que foram atingidos com destroços do acidente foram interditados, e a energia chegou a ser cortada em todo o quarteirão ao longo do dia, só sendo reestabelecida nas casas onde não estão sendo realizadas as buscas por volta de 20h. Lourdes Rinaldi, que é vizinha das casas mais atingidas com o acidente, conta que passou o dia "sem rumo", buscando informações e checando se os vizinhos estavam bem. Ela diz que achou que a explosão estava acontecendo em sua própria residência, tamanho o impacto dela. "Eu estava na cozinha, pensei que tivesse explodido o gás, o barulho foi muito forte, parecia aqui dentro. O vidro do meu banheiro quebrou, a porta da minha sala quebrou, até um pedaço do telhado caiu”, contou dona Lourdes, que foi à casa de um vizinho que teve estragos ainda maiores. "A parte de trás da casa do sr. Jean danificou muito, a cozinha ficou toda quebrada, na parte da piscina detonou, não dá nem pra ver a água nela, tá tudo coberto. Tem até uma guarnição do avião ali dentro.” Outra moradora da região, a jovem de 22 anos, Beatriz Regina, estava se arrumando para ir trabalhar quando sentiu o estrondo da explosão do avião e não pode conter o desespero. Ela disse que a queda do jatinho provocou uma ventania e a grande quantidade de fumaça e fogo deixou os moradores do quarteirão em pânico. "Eu estava me vestindo e aí começou a bater um vento muito forte, mas na verdade era a pressão do ar. Eu vi as pessoas correndo, alguns iam em direção ao local do acidente falando que um avião tinha caído, mas na hora você não acredita". "Tinha uma fumaça forte e preta, o cheiro de queimado, tinha muitos estilhaços, até uma peça com uma pequena identificação da aeronave. Na hora eu senti medo você fica com medo de explodir alguma coisa a mais", conta. "As pessoas estavam assustadas, algumas até passando mal, principalmente idosos." O capitão dos Bombeiros, Mauro Palumbo, explica que a intensidade da explosão fez com que o estrago atingisse áreas enormes, dificultando a busca. "A gente mal consegue encontrar pedaços concretos do avião, não dá nem pra reconhecer os fragmentos, porque são muito pequenos e se espalharam por todo o lugar". Centenas de pessoas estão envolvidas nas buscas, incluindo 45 bombeiros e outras dezenas de policiais militares e federais, além de membros da aeronáutica e outros peritos. As cenas de destruição da tragédia, segundo o diretor do Deinter 6, da Polícia Civil de Santos, Aldo Galiano Jr., são muito impactantes. "É realmente muito chocante ver a situação. Um cenário muito triste", falou à BBC Brasil. Ele conta que um parente de Eduardo Campos chegou a ir até a prefeitura de Santos na tarde da quarta-feira e pediu para ser levado para o local do acidente. "Nós felizmente o convencemos a desistir. Tanto ele quanto familiares dos dois fotógrafos também queriam vir e nós explicamos que seria muito impactante mesmo." Ainda de acordo com Galiano Jr., cerca de 90% dos restos mortais das vítimas já foram encontrados até a noite desta quarta. O secretário de Segurança Pública Fernando Grella afirmou que o processo de identificação das vítimas já está sendo feita no Instituto Médico Legal de São Paulo, principalmente por meio de exames de arcadas dentárias. "Em alguns casos vai ser necessário o (uso de exames de) DNA, que já foram pedidos", afirmou. O clima estava nublado e chuvoso na hora do acidente, mas ainda não é possivel saber quais foram as causas da queda da aeronave. Segundo Galiano, há fortes indícios de que o jato tenha explodido ao se chocar contra o solo, e não durante o voo, principalmente levando em consideração a distância que os destroços percorreram. Mais cedo, testemunhas haviam dito que o avião estaria em chamas ainda em voo. "A gente acredita que o avião só explodiu quando estava no solo, até porque dá para saber que o piloto estava consciente no momento que tentava encontrar uma área aberta para pousar sem fazer grandes estragos. Ele foi heroico, desviou o avião e ele só caiu nessa área que é um quintal e tem um bambuzal do lado. O estrago poderia ter sido bem maior", explicou o delegado. Ele praticamente descartou a hipótese de atentado e disse que as maiores probabilidades de causa para o acidente são falha humana ou técnica. "A aeronáutica já está com as duas caixas pretas e vai poder esclarecer isso em breve." A investigação sobre as causas do acidente estão sendo lideradas por peritos da Força Aérea . Além disso um inquérito foi aberto pela polícia para apurar se houve imperícia ou negligência de pessoas envolvidas no caso. Apesar do mau tempo em Santos – choveu muito durante toda a quarta-feira -, as buscas não pararam no local e a expectativa da Policia Civil é que elas terminem até a tarde desta quinta. | 2014-08-14 01:44:57 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140814_explosao_aviao_campos_moradores_rm.shtml |
brasil | Presidente do PSB, o ex-governador de Pernambuco estava em terceiro lugar nas pesquisas das próximas eleições. | Candidato à presidência, Campos se apresentava como 'nova via' da política | O candidato à presidência pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos, de 49 anos, morreu na queda de um jato na cidade de Santos, no litoral paulista, na manhã desta quarta-feira. Campos estava em terceiro lugar na corrida eleitoral, com cerca de 10% dos votos, segundo as pesquisas mais recentes, atrás da presidente Dilma Rouseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB). Sua última aparição pública ocorreu na noite de terça-feira, durante uma entrevista ao vivo no Jornal Nacional, da Rede Globo. Na ocasião, após ser questionado sobre sua vontade de ser presidente, ele disse: "Não se trata de ambição. Trata-se de um direito. Numa democracia, qualquer partido pode lançar um candidato". Segundo Antonio Campos, irmão de Eduardo, o político será enterrado no túmulo de seu avô, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (1916-2005), no Cemitério de Santo Amaro, em Recife, em data ainda não confirmada. De acordo com a Aeronáutica, o jato em que estava Campos saiu do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao aeroporto do Guarujá, em São Paulo. Quando se preparava para o pouso, por volta das 10h, o avião arremeteu devido ao mau tempo. Em seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato com a aeronave. A Aeronáutica já deu início às investigações para apurar o que pode ter contribuído para o acidente, no qual morreram outras seis pessoas - o fotógrafo da campanha, um operador de câmera, dois assessores e os dois pilotos. Campos era casado com a economista e auditora concursada do Tribunal de Contas do Estado Renata de Andrade Lima Campos, de 47 anos. Eles começaram a namorar ainda na adolescência. Renata estava com a família em Recife no momento do acidente. Campos deixa cinco filhos. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Nascido em 10 de agosto de 1965 em Recife, capital de Pernambuco, Eduardo Henrique Accioly Campos era filho do poeta Maximiano Campos (1941-1998) e de Ana Arraes, atual ministra do Tribunal de Contas da União. Campos era o principal herdeiro político de seu avô. Economista formado pela Universidade Federal de Pernambuco, onde ingressou aos 16 anos, foi eleito presidente do Diretório Acadêmico de sua faculdade em 1985. Começou oficialmente na política em 1986, ao trabalhar na campanha de Arraes em sua segunda candidatura ao governo de Pernambuco. Para isso, desistiu de cursar um mestrado nos Estados Unidos. Em 1990, filiou-se ao PSB, pelo qual foi eleito deputado estadual no mesmo ano. Aos 25 anos, sofreu sua única derrota eleitoral. Disputou as eleições para a Prefeitura de Recife, vencidas pelo então atual prefeito da cidade, Jarbas Vasconcelos. Campos ficou em quinto lugar. "Era uma criança, um menino", disse em entrevista à revista Época no ano passado. Em 1994, foi eleito deputado federal com 133 mil votos. Licenciou-se do cargo para integrar o terceiro governo de Arraes em Pernambuco, primeiro como secretário de Governo e, depois, como secretário de Fazenda. Em 1998, foi reeleito deputado federal com 173,6 mil votos. Ocupou o cargo de ministro de Ciência e Tecnologia entre 2004 e 2006, durante o primeiro mandato da presidência de Luis Inácio Lula da Silva. Era o mais jovem entre os ministros nomeados na época. Campos assumiu a presidência do PSB em 2005 e, no ano seguinte, licenciou-se deste cargo para concorrer às eleições para governador de Pernambuco. Campos foi eleito com 60% dos votos no segundo turno. Em 2010, foi reeleito com 83% dos votos no primeiro turno, o maior índice registrado entre todos os governadores eleitos na ocasião. Em 2011, Campos foi reeleito presidente do PSB. Seu mandato iria até este ano. O político estava em campanha para as próximas eleições presidenciais e havia firmado aliança com a política Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, que seria sua vice-presidente. A pré-candidatura foi lançada oficialmente em abril deste ano, quando ele deixou o governo de Pernambuco. A aliança foi considerada controversa por muitos para os quais os partidos de Campos e Marina defendiam interesses conflitantes. A candidatura foi confirmada no fim de junho. Nela, Campos vinha se apresentando como uma nova via da política nacional. "Tantas pessoas que votaram na Dilma se frustraram. Agora, o que o povo quer é alguém que dê solução a isso", disse ontem em sua última entrevista. "Eu e Marina entendemos que para dar solução a isso é fundamental um novo caminho. Porque PSDB e PT governam o país há vinte anos. Se a gente quer chegar a um novo lugar, a gente não pode ir pelos mesmos caminhos." Mesmo atrás nas pesquisas, Campos acreditava que poderia se eleger depois que tivesse a chance de se apresentar ao país com o início da campanha na televisão. "Minha eleição vai ser de fenômeno, vai ser de arranque na última hora", disse à revista Piauí. Ainda não há uma definição sobre o futuro da candidatura capitaneada por Campos. O PSB tem dez dias para apresentar um nome para substituir Campos. Em entrevista à rádio Estadão, o presidente do PSB de São Paulo, Marcio França, disse que "ninguém tem cabeça para pensar nisso agora". Segundo França, Campos era "o jovem mais brilhante que a política brasileira produziu nos últimos anos". A presidente Dilma Rousseff decretou luto oficial e a suspensão de sua campanha por três dias em homenagem a Campos. Em um pronunciamento, Dilma lamentou a morte de Campos: "Quero dizer que hoje o Brasil está de luto e sentido com uma morte que tirou a vida de um jovem político promissor. O Brasil perde uma jovem liderança, com um futuro extremamente promissor, um homem que poderia galgar os mais altos postos". O vice-presidente Michel Temer também comentou a morte de Campos: "Não há palavras para descrever essa tragédia que se abateu sobre a política brasileira. Eduardo campos era um político e princípios herdados de sua família e carregados por ele com dignidade e honra wem sua carreira no Parlamento e no Executivo". Visivelmente abatida, a ex-senadora Marina Silva exaltou os dez meses de convivência com Campos ao comentar pela primeira vez a morte de seu companheiro de chapa. "Essa é sem sombra de dúvida uma tragédia. Uma tragédia que nos impõe luto e uma profunda tristeza", disse Marina em coletiva de imprensa realizada em Santos. "Durante esses dez meses de convivência, aprendi a respeitá-lo, admirá-lo e a confiar nas suas atitudes e ideais de vida." O candidato Aécio Neves também suspendeu sua campanha por causa da tragédia. Em nota, disse que o "Brasil perde um de seus mais talentosos políticos, que sempre lutou com idealismo por aquilo que acreditava. A perda é irreparável e incompreensível". | 2014-08-13 15:46:27 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140813_acidente_eduardo_campos_rb.shtml |
brasil | A presidente disse estar 'tristíssima' e que, em seu último encontro com o político, eles conversaram 'como amigos'. | Dilma decreta luto de três dias por morte de Campos | A presidente Dilma Rousseff decretou luto oficial de três dias pela morte do ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB). Dilma também suspendeu, por igual período, todas as suas atividades eleitorais. Em um pronunciamento, Dilma lamentou a morte de Campos. "Quero dizer que hoje o Brasil está de luto e sentido com uma morte que tirou a vida de um jovem político promissor." Ela também lembrou que Campos era neto de Miguel Arraes, a quem se referiu como uma referência para a geração dela. "Eduardo Campos seguiu seus passos." "O Brasil perde uma jovem liderança, com um futuro extremamente promissor, um homem que poderia galgar os mais altos postos." A presidente também falou da boa relação que ambos tinham, apesar das divergências que tinham, e lembrou da última vez que se viram. "Foi no funeral do (escritor) Ariano Suassuna (no final de julho) e, nessa ocasião, mantivemos a relação afetuosa que tivemos ao longo da vida." "Espero que o exemplo de Eduardo Campos sirva para mantê-lo vivo na memória e nos corações de brasileiros e brasileiras." Dilma também estendeu seus pêsames aos assessores e colegas de Campos que estavam a bordo. Ela também decretou luto oficial de três dias e disse que suspenderia sua agenda de campanha pelo mesmo período. Campos, de 49 anos, estava num avião que caiu em Santos, em trajeto entre o Rio de Janeiro e o Guarujá, no litoral de São Paulo. Todas as outras seis pessoas a bordo morreram. Horas antes, a Presidência havia divulgado uma nota, em que Dilma dizia estar "tristíssima" com a morte e que "o Brasil inteiro está de luto". "Perdemos hoje um grande brasileiro, Eduardo Campos. Perdemos um grande companheiro." Na nota, ela citou sua convivência com Campos no governo Luiz Inácio Lula da Silva – ambos foram ministros do ex-presidente. "Sempre tivemos claro que nossas eventuais divergências políticas sempre seriam menores que o respeito mútuo característico de nossa convivência." Dilma disse ainda que Campos foi um pai e marido exemplar. "Nesse momento de dor profunda, meus sentimentos estão com Renata, companheira de toda uma vida, e com os seus amados filhos." A presidente também expressou condolências aos familiares dos outros seis mortos no acidente. | 2014-08-13 18:45:43 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140813_campos_nota_dilma_rb.shtml |
brasil | Candidata a vice-presidente do ex-governador de Pernambuco não revelou se gostaria de assumir liderança da chapa. | Marina lembra admiração por Campos e não fala de futuro da chapa | Visivelmente abatida, a ex-senadora Marina Silva exaltou os dez meses de convivência com Eduardo Campos ao comentar pela primeira vez a morte do companheiro de chapa à Presidência. "Essa é sem sombra de dúvida uma tragédia. Uma tragédia que nos impõe luto e uma profunda tristeza", disse a candidata à vice-presidência em uma declaração em Santos, local do acidente de avião desta quarta-feira. "Durante esses dez meses de convivência, aprendi a respeitá-lo, admirá-lo e a confiar nas suas atitudes e ideais de vida", disse Marina, manifestando solidariedade com os familiares do candidato e das outras seis pessoas a bordo. A candidata falou que Campos estava empenhado com esses ideais até os últimos segundos da sua vida. "A imagem que eu quero guardar dele é a da nossa despedida de ontem, cheia de alegria, sonhos e compromissos", disse. Na sua breve declaração, Marina não indicou se gostaria de liderar a chapa ao Planalto que era encabeçada pelo ex-governador de Pernambuco. A Coligação Unidos pelo Brasil, que inclui além do partido de Campos, o PSB, também PHS, PRP, PPS, PPL e PSL, também divulgou nota de pesar. "A Coligação Unidos pelo Brasil acredita que a perda de Eduardo campos encerrou sua vida mas não seus ideais. Que siga a semente da esperança que move quem é capaz de transformar o cotidiano", diz a mensagem. O PSB tem dez dias para decidir se lançará outro candidato à Presidência. Segundo a legislação eleitoral, o novo candidato pode pertencer a qualquer um dos partidos que integram a coalizão que apoiava Campos. A escolha pode ser feita pelas Executivas das agremiações, sem a necessidade de uma nova convenção partidária. | 2014-08-13 20:09:10 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140813_campos_marina_kb.shtml |
brasil | Entre 2003 e 2012, 98% dos casos ocorreram com aeronaves de menor porte, deixando 581 vítimas. | Acidentes com aviões pequenos são mais frequentes e matam mais no Brasil | Aviões de pequeno porte como o usado pelo candidato à presidência Eduardo Campos (PSB) se envolvem em mais acidentes e matam mais no Brasil. O avião usado por Campos caiu na manhã desta quarta-feira, por volta das 10h, em Santos, no litoral paulista, depois de tentar pousar sem sucesso e arremeter. Acidentes com aviões de carreira costumam ganhar mais destaque -só neste ano, dois aviões da Malaysia Airlines se acidentaram, um na Ucrânia e um a caminho da China. Mas, pelo menos no Brasil, são aeronaves como a de Campos, que não realizam voos comerciais regulares, que respondem por 98% dos acidentes. Os dados estão em um levantamento feito pelo Cenipa, órgão de investigação de aviação do país, com base em acidentes de 2003 a 2012. O balanço mostra que, dos 1.026 acidentes ocorridos neste período, apenas 2% envolviam companhias que fazem voos regulares, com aviões maiores. A maioria destes acidentes foi com táxis-aéreos, aeronaves agrícolas e de instrução de voo. A disparidade se explica, em parte, porque a frota das grandes companhias é muito menor - em 2013, segundo dados da Anac, apenas 3% das aeronaves registradas no país eram de grandes aviões. Parte da frota de aviões menores, no entanto, voa raramente, enquanto os aviões maiores estão constantemente em operação, o que aumenta a possibilidade de acidentes. Mas, segundo o professor Paulo Celso Greco Junior, do Departamento de Engenharia Aeronáutica da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), dois outros fatores ajudam a compreender esta situação. Primeiro, aeronaves menores não têm tantos dispositivos de segurança quanto as maiores - em parte, por restrições financeiras, que fazem com que os usuários não os instalem, mas também por falta de viabilidade técnica para a instalação. Por este motivo, costumam ser mais sensíveis a problemas meteorológicos, por exemplo. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Além disso, segundo Greco Junior, há muitos aviões experimentais no país, para uso esportivo e, muitas vezes, projetados pelos próprios pilotos. Menos seguros, eles se envolvem em muitos acidentes. "No geral, todas as aeronaves certificadas (não experimentais) têm o mesmo nível de segurança, quando respeitadas suas limitações. Só algumas delas podem voar em certas condições meteorológicas, por exemplo". A aeronave Cessna, em que viajava Eduardo Campos, tem recursos avançados e é "extremamente segura", segundo Grecco Junior. Com mais acidentes, os aviões menores também mataram mais pessoas. No período analisado, 581 pessoas morreram neste tipo de aeronave, ou 59% do total. Já nos grandes aviões, foram 402. Dois grandes acidentes aéreos foram registrados no Brasil na última década, em 2006 e 2007, com as companhias Gol e Tam. O último acidente com companhia regular, segundo o Cenipa, ocorreu em 2011, quando um avião da NoAr caiu em Pernambuco, deixando 16 mortos. | 2014-08-13 18:50:30 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140813_aviao_pequeno_lab.shtml |
brasil | Para cientistas políticos, político representava opção para romper polarização PT-PSDB; | Morte de Campos reduz diversidade da política brasileira | A morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos nesta quarta-feira reduz a diversidade na política brasileira, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil. Campos, de 49 anos, estava em um avião que caiu em Santos, em trajeto entre o Rio de Janeiro e o Guarujá, no litoral de São Paulo. Para cientistas políticos, a morte do ex-governador, que concorria à Presidência pelo PSB, empobrece a disputa eleitoral para a Presidência e priva Pernambuco de seu principal líder político. "A polarização que já dura 20 anos entre PT e PSDB tinha sido rompida com a candidatura do Eduardo e da Marina (Silva)", diz Francisco Teixeira da Silva, professor de história moderna e contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na decisão mais supreendente desta eleição, Campos e Marina decidiram se aliar na corrida à Presidência. A ex-senadora procurou o pernambucano após a Justiça barrar a criação do seu partido, a Rede Sustentabilidade, e lançou-se como vice na chapa dele. Segundo Teixeira, a candidatura "se apresentava de forma consistente, possivelmente não como opção para 2014, mas como uma opção política para outras eleições". Campos ocupava o terceiro lugar nas pesquisas eleitorais. No último levantamento do Ibope, divulgado na semana passada, ele tinha 9% das intenções de voto, ante 23% de Aécio Neves (PSDB) e 38% de Dilma Rousseff (PT). Teixeira diz que o PSB também sofre duro golpe com a morte do ex-governador. O partido, que teve o maior crescimento nas eleições passadas, em 2012, poderia fortalecer-se ainda mais em 2014 com a candidatura de Campos, segundo o professor. "Com o Campos candidato, o PSB teria mais chances de se tornar a terceira via e despolarizar a política brasileira." Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Para Ricardo Ismael, professor de ciência política da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro, Pernambuco perdeu sua maior liderança nacional e o Brasil perdeu "um de seus melhores políticos". "Era uma liderança muito promissora, muito dedicada com a gestão pública", diz Ismael. Segundo ele, Campos herdou do avô – o também ex-governador Miguel Arraes – um "talento natural para a política". "Ele sabia fazer campanha, participar de debates, entendia o jogo político." Para Ismael, a morte é também "um baque para a campanha". "O Eduardo estava qualificando o debate, agregrava propostas e reflexões que ficariam sumidas em meio à polarização PT-PSDB." Para a professora Helcimara de Souza Telles, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Campos tinha grande potencial de crescimento na eleição, já que seu índice de rejeição era o mais baixo entre os principais candidatos. Sem ele, diz a professora, a eleição deve ganhar um caráter "plebiscitário". "Os eleitores deverão decidir o voto com base na sua avaliação do atual governo. Quem está satisfeito deve votar na Dilma, quem está insatisfeito, no Aécio." Com a morte de Campos, o PSB tem dez dias para decidir se lançará outro candidato à Presidência. Segundo a legislação eleitoral, o novo candidato pode pertencer a qualquer um dos partidos que integram a coalizão que apoiava Campos, que inclui, além do PSB, PHS, PRP, PPS, PPL e PSL. Segundo a legislação eleitoral, a escolha pode ser feita pelas Executivas das agremiações, sem a necessidade de uma nova convenção partidária. Marina Silva, atual vice da chapa, ainda não se pronunciou sobre a morte. Para Ricardo Ismael, da PUC-RJ, o PT "moverá montanhas para impedir a candidatura de Marina, que seria muito forte". | 2014-08-13 17:59:31 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140813_acidente_campos_repercute_jf.shtml |
america_latina | Liberado sob fiança, Rosauro Martinez era capitão do Exército na época do incidente, em 1981. | Deputado chileno é processado por assassinatos na ditadura Pinochet | Um deputado chileno está sendo processado pelos assassinatos de três militantes de esquerda ocorridos durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1974-1990). Membro do partido conservador Renovação Nacional, Rosauro Martínez, de 64 anos, foi libertado sob fiança pela polícia nesta sexta-feira, depois de ter sido detido no dia anterior sob a acusação de envolvimento nos crimes. Martínez era capitão do Exército na época dos incidentes, em 20 de setembro de 1981. Na época, ele liderava uma busca por membros do Movimento da Esquerda Revolucionária, que tentava derrubar Pinochet. Durante a busca, houve uma troca de tiros em que ao menos 11 pessoas morreram. Entretanto, os detalhes do que ocorreu exatamente nunca foram esclarecidos. Martínez se diz inocente e alega que apenas seguiu um protocolo militar. "Quero manifestar minha tranquilidade, já que entendo que isso é parte de um processo necessário para que seja conhecida a verdade e se faça justiça neste caso", disse ele em um comunicado. No entanto, soldados sob seu comando dizem que Martínez usou violência excessiva. Martínez é congressista desde o início dos anos 1990, quando Pinochet abriu mão do poder, e o Chile retornou a um regime democrático. Em junho, a Suprema Corte chilena o afastou das atividades legislativas e tirou sua imunidade parlamentar, o que abriu caminho para sua prisão na quinta na cidade de Valdivia, no sudeste do país. A data marcou o 41º aniversário do golpe que levou aos 17 anos de ditadura de Pinochet. "O Chile precisa de mais verdade e justiça para que nunca mais vivamos o terror de uma ditadura novamente", disse o porta-voz do governo, Alvaro Elizalde. Cerca de 3,2 mil pessoas foram mortas e 38 mil foram torturadas durante a era Pinochet, segundo o governo. Martínez acompanhará os próximos passos do processo em liberdade condicional. Nesta sexta-feira, o Tribunal de Recursos de Valdivia liberou o deputado depois do pagamento de uma fiança de 15 milhões de pesos chilenos, o equivalente a R$ 58,9 mil. | 2014-09-12 20:18:19 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140912_deputado_chile_assassinatos_pinochet_rb.shtml |
america_latina | José André Montaño aprendeu a tocar piano e bateria aos quatro anos de idade e já se apresenta em festivais internacionais. | Menino cego boliviano de nove anos é prodígio do jazz | Um prodígio do jazz, de apenas nove anos de idade, está conquistando fãs em toda a América Latina. O garoto boliviano José André Montaño é cego, mas aprendeu a tocar bateria e piano aos quatro anos. Aos cinco anos, ele formou um trio de jazz e já se apresentou em todo o país, além de Brasil e Peru. Durante o Festival Internacional de Jazz de La Paz, ele conquistou também colegas músicos, que elogiam seu talento para o improviso. | 2014-09-08 16:58:12 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140908_video_prodigio_jazz_cc.shtml |
america_latina | Recuo da economia brasileira deverá atingir países da América Latina; atrasando investimentos e reduzindo niveis de produção, segundo especialistas. | Recessão no Brasil deverá ter impacto regional, dizem analistas | A recessão do Brasil deverá ser mais um revés para a economia da América Latina, já atingida com a crise na Venezuela e o calote da Argentina. O Produto Interno Bruto (PIB) do país, maior economia da região, recuou 0,6% no último trimestre na comparação com o trimestre anterior e 0,9% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do IBGE divulgados na sexta-feira. O órgão revisou para baixo o resultado do primeiro trimestre - de crescimento de 0,2% para queda de 0,2%, o que colocou o país em "recessão técnica", quando há dois trimestres seguidos de crescimento negativo. O governo culpou a realização da Copa do Mundo - responsável pela redução de dias úteis com o decreto de feriados -, e a crise internacional como motivos da desaceleração, mas analistas advertem para problemas estruturais que freiam o crescimento do país, cujos efeitos são sentidos em toda a região. "Isto afeta muito a região porque o (Brasil) é o maior país da América Latina. Todos os países que têm relações comerciais com o Brasil vão sofrer o impacto", disse Margarida Gutierrez, professora de Macroeconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Especialistas já previam um retrocesso da economia no segundo trimestre, mas os números vieram piores do que o estimado. Entre os fatores que puxaram o PIB para baixo estão a queda de 5,4% nos investimentos neste trimestre e a redução de 1,5% na produção da indústria. Também houve uma queda de 0,5% nos serviços e 0,7% nos gastos do governo. O resultado já é sentido: empresas que têm negócios com parceiros no Brasil já estão com perspectivas de queda nas relações comerciais, disse Gustavo Segre, diretor do Center Group, empresa de consultoria de negócios na América Latina, em Buenos Aires. A previsão, segundo ele, é que as grandes indústrias da região com negócios no Brasil sofram um impacto maior, mas que o país ainda é visto como atraente por muitas empresas pelo seu tamanho e mercado consumidor. O Brasil parece sentir também os problemas econômicos nas vizinhas Argentina e Venezuela, dois grandes parceiros regionais e integrantes do Mercosul. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast As tensões parecem estar se acirrando. "Se as economias que compram de nós não conseguirem reverter essa situação, dificilmente nossos setores exportadores poderão ser competitivos", disse o ministro de Economia argentino, Axel Kicillof, que se reuniu nesta semana com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Já Mantega queixou-se, na sexta-feira, da queda das exportações de automóveis para a Argentina como uma das razões do recuo do crescimento brasileiro. Mantega negou que haja recessão e disse que a queda do PIB foi pequena e não afetou o desempenho nem o consumo. Ele previu uma recuperação para o segundo semestre. No entanto, ele admitiu que deverá haver uma revisão da previsão de crescimento para este ano, atualmente de 1,8%. Economistas acreditam que a expansão do PIB deverá ser inferior a 1%. Margarida, da UFRJ, diz que a queda dos investimentos reflete uma desconfiança na economia e incertezas sobre um possível reajuste em 2015 - há expectativa de aumento em preços de combustíveis e energia -, e que a indústria perde competitividade com um real forte e custos altos de produção. Tal cenário tende a atingir os fluxos comerciais na região, segundo ela. "Isto vai atrasar investimentos e reduzir niveis de produção", disse. O anúncio - a cinco semanas das eleições - é também um golpe duro para campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), e servirá de munição para seus principais rivais - Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB). "Esta recessão mostra a exaustão de um modelo de crescimento centrado no consumo interno", disse Eduardo Velho, economista-chefe da empresa de investimentos INVX Global, em São Paulo. "É um bom retrato do que a economia está sofrendo - desaceleração da indústria, queda em investimento", disse ele, argumentando que profundas reformas serão necessárias, independente de quem for eleito em outubro. | 2014-08-30 13:30:08 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140830_brasil_recessao_americalatina_hb.shtml |
america_latina | Centenas de adolescentes foram internadas com os mesmos sintomas em hospitais colombianos; ministro da Saúde diz que o problema 'não é clínico'. | O mistério por trás do desmaio de 200 meninas na Colômbia | Nos últimos 12 dias, os médicos de El Carmen de Bolívar, uma cidade no norte da Colômbia, já atenderam pelo menos 200 meninas com sintomas muito parecidos: desmaios, tonturas, dor de cabeça, dormência e formigamento em várias partes do corpo. A razão para essas reações ainda é um mistério. Elas não foram as primeiras a darem entrada no Hospital Nuestra Señora del Carmen com quadro similar. De acordo com o prefeito de El Carmen de Bolívar, Francisco Veja, foram registrados um total de 276 casos como esse desde o meio do ano. Todos com adolescentes, sendo a maioria deles estudantes do Colégio Espírito Santo. O próprio Ministro da Saúde da Colômbia, Alejandro Gaviria, citou na última quinta-feira "246 meninas que apareceram com sintomas bizarros". Diante desse quadro, aumentaram as especulações sobre as causas que estariam levando as jovens a desmaiarem. Na falta de um diagnóstico preciso, multiplicam-se as teorias que correm no boca a boca entre os colombianos. Para acabar com as especulações, especialmente as que ligam os casos a uma possível reação adversa à vacina contra o Vírus do Papiloma Humano (HPV), o ministro da Saúde convocou uma coletiva de imprensa e revelou a hipótese "que parece mais provável no momento" – e que é, inclusive, "apoiada por especialistas". Segundo Gaviria, os sintomas seriam uma ‘resposta psicogênica em massa’. "A resposta psicogênica em massa é uma espécie de sugestão de medo coletivo que se contagia de um lado para o outro e termina apresentando um fenômeno estranho", explicou o ministro aos jornalistas. "Os sintomas aparecem, mas quando os médicos vão examinar clinicamente as meninas, não encontram nenhum tipo de doença." O ministro citou casos similares ao redor do mundo, um deles que aconteceu no Taiwan, após uma campanha de vacinação em massa para prevenir a gripe suína (N1H1), e outro na Austrália, mas sem dar datas, nem mais detalhes de como aconteceram. Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast No entanto, Gaviria insistiu que as meninas estão, sim, doentes. "Não é que essas meninas não estejam doentes, elas estão. Não estamos subestimando o problema. O problema tem que ser levado a sério e seguiremos acompanhando e apoiando a comunidade, mas isso não parece ser um problema de uma doença clínica." Alejandro Gaviria ainda acrescentou que o Ministério da Saúde colombiano quer trabalhar nesta semana com a Associação Colombiana de Psiquiatria, que se mostrou disposta a se deslocar até El Carmen de Bolívar para estudar os casos. O ministro novamente reiterou que o motivo para os sintomas nas garotas não aparenta ser clínico e que nada tem a ver com a vacina contra o vírus do HPV. "Não há nenhuma evidência que possa haver uma relação entre as duas coisas", acrescentou ele, insistindo que tem o apoio da Organização Mundial da Saúde, da Organização Pan-Americana da Saúde "e de todas as associações científicas." As explicações do ministro não convenceram a todos. "A coletiva de imprensa dele abalou os ânimos de vários pais das garotas", explicou Vicente Arcieri, jornalista da sucursal do El Heraldo em Cartagena das Índias. Uma hora depois da coletiva de imprensa, várias pessoas protestaram por cinco horas em Troncal de Occidente - a estrada que liga o interior do país com a costa - pela postura das autoridades com o caso. O jornalista Vicente Arcieri está acompanhando bem de perto o caso e esteve no Hospital Nuestra Señora del Carmen na última quinta. Segundo ele, somente nesse dia, 10 meninas deram entrada no hospital com os sintomas já conhecidos – desmaios, tonturas, dormência e formigamento em várias partes do corpo. Foram esses os casos mais recentes de um fenômeno que tem preocupado cidadãos e autoridades colombianas há meses. Dez das primeiras pacientes que deram entrada no Hospital Nuestra Señora del Carmen estão sendo tratadas em Bogotá, no Hospital Infantil Universitário de San José. Uma delas é a filha de María Romero. Foi a primeira das que apresentaram os sintomas em El Carmen de Bolívar, no dia 21 de março. Elas recorreram primeiro ao centro de saúde da região e tiveram que voltar para lá pela mesma razão em 23 de abril. "Desde então não tivemos descanso", contou Romero à BBC por telefone. No hospital de Bogotá, disseram que o resultado de um teste feito com a filha de Romero apontou que ela teve intoxicação por chumbo, assim como outra menina do grupo. O chefe de toxicologia do hospital, Camilo Uribe, explicou na quarta-feira ao diário colombiano El Tiempo que não havia características claras ou específicas que indicassem o que as outras pacientes poderiam ter. E acrescentou que os próximos exames estariam focados em endocrinologia, imunologia e psiquiatria. As autoridades informaram que o diagnóstico sairá em uma semana. Uma resposta que poderá acabar com o mistério e acalmar os ânimos na Colômbia. | 2014-08-29 22:13:06 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140829_misterio_meninas_colombia_rm.shtml |
america_latina | Grande paralisação afetou bancos, trens e outros setores; governo diz que motivações são políticas. | Greve geral na Argentina cancela voos e faz Buenos Aires ter 'feriado' | A segunda greve geral em quatro meses na Argentina deixou a capital do país, Buenos Aires, com ares de feriado. Nesta quinta-feira, poucos carros eram vistos nas ruas e havia pouco movimento nas lojas. Não funcionaram bancos, postos de gasolina, trens e algumas linhas do metrô, já que bancários e maquinistas, entre outros, aderiram à paralisação convocada pelas centrais sindicais CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) e CTA (Central dos Trabalhadores da Argentina). As linhas de ônibus funcionaram, mas muitos veículos circulavam praticamente vazios na cidade. A companhia aérea estatal Aerolíneas Argentinas cancelou seus voos domésticos e internacionais, de acordo com a imprensa local, e outras empresas, como Gol, TAM e a chilena LAN também tiveram alguns voos reprogramados, segundo informações dos aeroportos Jorge Newberry e de Ezeiza. A greve de 24 horas incluiu ainda o bloqueio dos principais acessos de trânsito ao centro da cidade. O líder da CGT, Hugo Moyano - crítico ao governo da presidente Cristina Kirchner -, disse em entrevista coletiva que a greve "teve 85% de adesão, como é visível nas ruas". E a CTA afirmou que a paralisação "mostra a insatisfação" dos argentinos com "os rumos do país". Já o ministro do Interior e do Transporte, Florencio Randazzo, criticou o ato, chamando-o de "greve política". Por sua vez, o ministro do Trabalho, Carlos Tomada, afirmou que "a grande maioria do povo argentino foi trabalhar". Podcast traz áudios com reportagens selecionadas. Episódios Fim do Podcast Quando souberam que diversos ministros e políticos participariam de um encontro empresarial em Buenos Aires, manifestantes se concentraram em frente ao local com cartazes que diziam, por exemplo, "chega de demissões e suspensões de trabalhadores". Em meio ao frio e ao forte esquema de segurança, eles deixaram o local antes da chegada do principal orador do evento, o ministro da Economia, Axel Kicillof. "Temos vários motivos para parar hoje, começando com o desemprego, além da inflação e da proposta do governo de ampliar a base dos trabalhadores que devem pagar imposto de renda", disse à BBC Brasil o professor de história Cristian Jurado, de 35 anos, que erguia cartaz do Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST) em frente ao hotel onde as autoridades estavam. O taxista David Safirsztein, de 66 anos, disse que esta quinta parecia "um sábado de manhã". "Estou trabalhando, mas acho que a greve tem razão de ser. Todos estão com medo de perder o emprego. O governo não faz nada contra a inflação, e quem vai investir na Argentina com essas incertezas econômicas?", questionou. Em seu discurso, o ministro Kicillof mostrou números positivos sobre a economia do país, dizendo que o mundo está crescendo menos, mas que a Argentina registra crescimento. Economistas críticos do governo afirmam, porém, que o país estaria em recessão. "Dentro do que o mundo está vivendo, nós estamos bem, com crescimento. Nosso principal sócio e comprador, o Brasil, cresce menos e isso também nos afeta", afirmou Kicillof a empresários e executivos. Ele citou ainda um relatório da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) sobre a "reprimarização" da economia brasileira, sugerindo menor potencial da indústria. O termo "primarização" é usado por especialistas para se referir à desindustrialização. Segundo o ministro, nos últimos anos, a economia argentina "cresceu entre os que mais cresceram e se reindustrializou". O ministro tem sido criticado, porém, por opositores que afirmam que a economia "piorou" em seus nove meses de gestão, com o aumento da inflação e a disparada do dólar paralelo - que nesta semana passou bateu recorde, superando a barreira dos 14 pesos. Em suas manchetes desta quinta, alguns jornais ratificaram o tom crítico ao governo. "Greve de sindicatos ‘anti K’ (opositor ao kirchnerismo) agrega tensão em um país que em 2014 já perdeu 400 mil empregos, segundo dados oficiais", publicou o diário econômico El Cronista. | 2014-08-28 19:12:28 | http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140828_greve_argentina_pai_mc.shtml |
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