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in96fe15-a | A Internet um ambiente propcio para os altos e baixos do corao. Isso todo mundo ficou sabendo ao acompanhar o romance entre Dara e Jlio Falco, na novela Explode Corao, da TV Globo. Na grande rede de computadores que interliga pessoas no mundo todo, o amor e o dio esto presentes, por isso, ontem, dia de So Valentim (Valentine's Day), em que se comemora o dia dos namorados em vrios pases do Hemisfrio Norte, a grande rede abriu espao para os apaixonados. Na Internet h vrios endereos dedicados ao assunto. Neles, pode-se comprar chocolate, vinho, lingeries, enviar cartes e at pedir o ser amado em casamento pela rede, de modo pblico ou no. Um dos endereos mais bvios o Valentines.com - love at first site (amor no primeiro endereo) (http://www.valentines.com). Nesse ciberlocal, o objetivo ajudar os apaixonados a manter a chama do amor acesa. H cartes de visitas, cartas romnticas. Duas pessoas respondem dvidas amorosas via correio eletrnico. Entre as dvidas dos internautas apaixonados esto: o que fazer se uma mulher lhe oferecer flores ou como confiar em algum depois de ter sido magoado em outro relacionamento. No Palcio do amor de Afrodite (http://www.purple.co.uk/purplet/love.html), alm de ligaes para vrias outras pginas regidas pelo Cupido, os enamorados encontram, entre muitos desenhos melosos e apaixonados, msicas, poemas, cartes, dicas para mimar os amantes e arquivos com sons de vrios tipos de beijo (french kiss, cyberkiss, english french kiss), alm de uma proposta de casamento on-line, em que basta preencher seu nome e nome do futuro cnjuge. Nessa pgina, h ligaes para pginas comerciais onde pode-se comprar flores, vinho, chocolate, lingeries e at um carro para presentear namorados. Tmidos - Para os enamorados tmidos ou que tm dificuldade para lidar com as palavras, o melhor apelar para o The Cyrano Server (http://www.nando.net/toys/cyrano.html). Calcada na pea teatral escrita no sculo passado pelo francs Edmond Rostan - em que o feio Cyrano de Bergerac escrevia as cartas que apaixonavam a namorada de um amigo bonito -, a pgina se prope a escrever os e-mails enquanto o usurio leva a fama. Um detalhe: as cartas so escritas em ingls. Para o computador escrever uma carta pelo internauta, a mquina pede dados como o estilo de carta desejado (indecisa, surreal, desesperada, intelectual) e adjetivos que descrevam a pessoa amada, alm da comida preferida dela. Na pgina Valentine's Day (http://www.nando.net/toys/valentine.html) h dados curiosos sobre o dia de So Valentim, santo decapitado por um imperador romano no dia 14 de fevereiro de 269. Valentim, um bispo estudioso, entrou para a histria como um protetor dos jovens, aos quais ajudava a escrever cartas de amor. Seus ossos, guardados hoje na igreja de Santo Antnio, em Madri, atraem at hoje romarias de pessoas que vo pedir ao santo felicidade no amor. At o dia 17, na Internet, tambm est sendo comemorada a Semana do dia do casamento: no endereo http://www.randomc.com/rmachan fica-se sabendo que h vrios eventos sobre o assunto e, no mesmo site, possvel votar no casal mais romntico j existente. Outras pginas da World Wide Web (parte grfica da rede) tm sugestivos ttulos como A escolha do Cupido, The Valentine's Thief: a children story, Hearts- the game, Cupid's Chapel of Love, Love Bytes Web Valentine e a Screen Saver for Valentine's Day (um descanso de tela para o dia dos namorados). Como o dia dos namorados no Brasil cai em 12 de junho, d tempo de pesquisar as dicas nos endereos internacionais e utiliz-las por aqui. Namoro no ciberspao acaba em... casamento no ciberspao. Nada mais natural. Faltava apenas um casal que se dispusesse a reconhecer a seriedade de sua relao e resolvesse subir no altar informatizado. Os americanos Joseph Perling e Victoria Vaughn aceitaram o desafio e se tornaram pioneiros do sacramento on line. Ontem, em pleno dia dos namorados nos EUA, eles disseram sim e juraram fidelidade eterna via Internet - ele, de seu laptop em Venice Beach, na Califrnia; ela de seu terminal em Hollywood, no mesmo estado. A cerimnia, realizada atravs da rede Compuserve, foi abenoada e oficializada - via computador, claro - por um padre de uma igreja em Beverly Hills, tambm na Califrnia. | So Valentim , que entrou para a histria como protetor dos jovens, o patrono dos namorados. Ontem, seu dia e dia dos namorados, a Internet abriu seu espao para os enamorados em vrios sites. Nos vrios endereos eletrnicos, prope-se a atender a todos os gostos, dvidas e ansiedades dos apaixonados. Se algum quer presentear com vinho, chocolate , lingeries, enviar cartes ou cartas romnticas s buscar um dos sites. Os tmidos tm quem lhes exprima as declaraes ao/ amado/a conforme o seu gosto. s entrar no (Http://www.nando.net/toys/cyrano.html) . Outros querem estimular a paixo ouvindo msicas , poemas, diversos sons de beijos e at propostas de cansamento on-line ; basta procurar o Palcio do Amor de Afrodite. E ,para no se acusar isso de pura realidade virtual, ontem os americanos Joseph Perling e Victoria Vaughn concretizaram sua unio --- ele no seu laptop em Venice Beach , Califrnia; e ela no seu terminal em Hollywood, no mesmo estado. Logicamente, abenoados , via computador, por um padre em Beverly Hills. |
po96fe07-b | O ex-senador Nelson Carneiro, 85 anos, um dos mais ativos legisladores da poltica brasileira durante 48 anos, morreu ontem, s 18h50, em casa, em Niteri. O governador do Rio, Marcello Alencar, e o prefeito Csar Maia decretaram luto oficial por trs dias no estado e no municpio. O corpo est sendo velado na Cmara Municipal do Rio e o enterro ser hoje, s 17 horas, no Cemitrio So Joo Batista. Sua filha, a deputada federal Laura Carneiro, contou ontem que seu pai conversava com um amigo quando morreu. Nelson Carneiro tinha recebido alta hospitalar h poucos dias, depois de serecuperar de uma anemia e submeter a cirurgia abdominal laparoscpica feita em dezembro, em So Paulo. O ex-senador h 15 anos teve um cncer no estmago. O ex-senador esteve internado de 16 a 31 de janeiro, no Hospital Samaritano, no Rio, depois de passar 40 dias no Hospital Srio Libans, em So Paulo, para se recuperar da cirurgia. Os mdicos tinham conseguido reverter um quadro de desidratao e desnutrio. Em 1980 teve que ser operado de diverticulite (inflamao na parede do intestino grosso) com urgncia em So Paulo. Em novembro de 92 foi internado na Casa de Sade So Jos, no Humait, por causa de um derrame cerebral. Em 1972 j tinha sofrido acidente vascular cerebral no Mxico, por causa da altitude. Desta vez seu diagnstico foi hipertenso. Em novembro de 94, foi internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, por causa de um stress. Fez exames de rotina. O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em Braslia, que Nelson Carneiro dedicou toda sua vida defesa e consolidao da democracia. Foi tambm um dos principais arautos dos direitos da mulher no Brasil. Sua morte nos deixa tristes. Durante longos anos, ele iluminou os debates no Congresso Nacional. A morte do ex-senador foi recebida com pesar no Congresso Nacional. A sesso plenria de hoje no ser suspensa, mas se transformar em homenagem sua memria. Ele foi a imagem do homem dedicado ao parlamento, disse ontem o presidente do Congresso Nacional, senador Jos Sarney (PMDB-AP). Os dois senadores que o derrotaram na eleio passada foram os que mais choraram o desaparecimento do ex-parlamentar. Sempre lamentei t-lo derrotado, mas no fui s eu. No se esquea da Benedita, disse o senador Artur da Tvola (PSDB-RJ). Mas a senadora petista lembrou: Nelson, junto com o PT, apoiou o PDT a meu pedido. Mas Artur da Tvola no quis relembrar as crticas feitas por Nelson ao governador do Rio, Marcello Alencar, no discurso de despedida do Senado, quando chamou o governador de judas carioca, e o acusou de prejudicar sua tentativa de reeleio. Foram resqucios da campanha eleitoral, deixou escapar Tvola. Para ele, Nelson Carneiro um dos poucos parlamentares que podem se orgulhar de ter uma obra legislativa completa, marcando a mudana na face da sociedade brasileira. A senadora Benedita da Silva (PT-RJ) reagiu com emoo: Perdemos o grande parceiro na luta pelos direitos das mulheres. Nelson deve ser lembrado como o senador amigo das grandes causas feministas, disse a senadora. Nelson Carneiro era casado com Carmem e tinha trs filhos do seu primeiro casamento: Jorge Miguel, 42 anos; Luza, 40 anos e Laura, 32 anos. Um poltico obstinado, caxias, defensor dos direitos da mulher e extremamente emotivo. Com esse perfil, os 65 anos de vida pblica de Nelson Carneiro se confundem com a histria poltica do pas. Depois de cinco mandatos como deputado, trs como senador e 32 horas como presidente da Repblica - em 1990, durante uma viagem de Jos Sarney -, Nelson Carneiro considerado um dos mais destacados legisladores, com mais de 500 projetos, a maioria convertida em leis. Mas, sem dvida, a Lei do Divrcio, aprovada em 1977, foi a mais famosa de sua biografia poltica. A conquista ocorreu depois de 30 anos de luta contra a Igreja Catlica, apesar de catlico praticante fervoroso, devoto de Nosso Senhor do Bonfim - como todo bom baiano - e at coroinha durante a infncia. Nelson Carneiro atribuiu a derrota nas eleies de 54 para a Cmara de Deputados por sua defesa obstinada ao divrcio. Tambm foi autor do projeto que previa a equiparao da mulher casado ao marido (Lei nmero 4.121) e do que assegurava penso aos filhos de qualquer condio. A derrota de 54, no entanto, no foi a maior decepo sofrida por Nelson ao longo de sua vida pblica. Ela veio 40 anos depois, quando o senador, ento filiado ao PP, concorreu reeleio na coligao PSDB/PP/PFL/PL, ao lado do ento candidato ao governdo do Rio Marcello Alencar. Em uma entrevista emocionada - que o levou s lgrimas -, no dia 7 deste mesmo ano, Nelson Carneiro anunciou seu rompimento com Marcello. Nelson Carneiro atribuiu sua derrota ao empenho do tucano em eleger somente o outro candidato ao Senado da chapa, Artur da Tvola (PSDB). Fui trado calculadamente e a sangue-frio, desabafou. Nem mesmo o ento candidato presidncia da Repblica, Fernando Henrique Cardoso, escapou da mgoa do senador, que o criticou pela omisso diante do fato. Na poca, Nelson divulgou documento desfiando uma sucesso de episdios em que Marcello favorecia Tvola. Entre as provas, o senador citou a ausncia de outdoors com fotos suas - apesar de ter posado ao lado de Marcello e Tvola - e chegou a dizer que no era convidado a participar dos eventos de Fernando Henrique que, junto com Marcello e Tvola, percorria o Rio no avio do feliz banqueiro Ronaldo Csar Coelho. Tambm no perdoou o fato de uma emissora de TV ter registrado a imagem de Marcello votando apenas em Artur da Tvola para o Senado. Depois do incidente, Nelson apoiou, no segundo turno, a candidatura do pedetista Anthony Garotinho ao governo do estado. Enxugando as lgrimas em um leno branco, ele afirmou na entrevista que esperava, at o fim do mandato, aprovar um projeto que garantia s mes o direito de escolher com quem ficaria a guarda dos filhos aps a separao. Sempre me comovo com aos causas ligadas mulher, justificou. Esta, no entanto, no foi a nica ocasio em que Nelson deixou extravasar a emoo. Chorou tambm em fevereiro de 95, ao ouvir o Hino Nacional durante sua despedida do Senado Federal. Nascido em Salvador, em 1910, Nelson cursou Direito na Universidade Federal da Bahia. L teve seu primeiro contato com a poltica, filiando-se ao Partido Democrtico Universitrio da Bahia. Em 1929, iniciou sua carreira jornalstica em O Jornal. Especialista em direito da famlia e em direito das sucesses, comeou a se sensibilizar com os dramas das famlias constitudas que no podiam ser legalizadas. Em 45, filiou-se Unio Democrtica Nacional (UDN) e foi eleito suplente de deputado pela Bahia Assemblia Nacional Constituinte. Como jornalista, Nelson fez a cobertura do evento para o JORNAL DO BRASIL, onde escreveu como colaborador at a dcada de 70. Em 47, assumiu uma cadeira na Cmara, participando da Comisso de Legislao Social e da Comisso Especial de Proteo Natalidade. Trs anos depois, foi eleito deputado federal pela Bahia. Em 53, filiou-se ao Partido Libertador (PL). Mudou-se para o Rio e, em 58, elegeu-se pelo Partido Social Democrtico (PSD) carioca. Com a transferncia da capital para Braslia, passou a representar o estado da Guanabara. Eleito vice-lider do PSD, presidiu a Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI) sobre o petrleo e a Comisso de Constituio e Justia da Cmara. Em setembro de 61, aps a renncia do presidente Jnio Quadros, relatou e conduziu a votao da Emenda Constitucional nmero 4, que instituiu o parlamentarismo no Brasil. Continuou a carreira poltica no Movimento Democrtico Brasileiro (MDB). Nas eleies para o Congresso, em 1978, foi ele quem desafiou a proibio de se fazer campanha nas ruas, ao comandar uma passeata na Avenida Rio Branco, enfrentando o cerco de mais de mil soldados. Nesse mesmo ano ele acrescentou a sua biografia outro feito eleitoral, ao eleger-se com mais de 2,2 milhes votos. | As manifestaes protocolares pela morte do ex-senador Nelson Carneiro contm , naturalmente, as frases feitas tpicas dos meios oficiais. Mas , entre elas, existe uma, do ex-presidente Sarney, que talvez seja a que melhor defina sua condio de homem pblico: Ele foi a imagem do homem dedicado ao parlamento. Nasceu em Salvador em 1910, cursou Direito na Universidade Federal da Bahia. No seu Estado, fez a iniciao poltica e exerceu o jornalismo. Sua experincia de 65 anos de vida pblica permitiu que ele percorresse vrias instncias do Poder Legislativo e vivenciasse mltiplas circunstncias da nossa histria poltica. Inclusive durante a Revoluo de 1964, quando comandou uma passeata na Av. Rio Branco, em 1978, desafiando uma proibio do poder militar. Mas a luta que melhor caracterizou sua persistncia e seu perfil de poltico foi aquela travada pela legalizao do divrcio, que lhe custou 30 anos de enfrentamento com a Igreja Catlica. Sua posio no era, porm, de ressentido contra a Igreja, mas de profissional consciente da legitimidade do direito pelo qual lutava. De fato, as causas que, de uma forma ou outra, envolviam os direitos da mulher mereceram dele um empenho desde muito cedo. Alm da persistncia , a emotividade --- muitas vezes extravasada em choro, publicamente---- era outro componente de sua personalidade. Parece que uma e outra esto relacionadas com as doenas que o acometeram: hipertenso , problemas vasculares, cncer de estmago podem ter sido resultado da emotividade; e o drible por muitos anos dos seus problemas de sade pode ter resultado da sua persistncia. Entre as manifestaes de pesar, esto as de concorrentes polticos que o venceram nas ltimas eleies. As do senador Artur da Tvola ---Sempre lamentei t-lo derrotado, mas no fui s eu--- disfaram mal a hipocrisia, comum no ambiente poltico. Nlson Carneiro ficou magoado com a ntida tendncia do presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador do Rio, Marcelo de Alencar, a favor de Artur da Tvola nas ltimas eleies. Se pudesse ouvir, reclamaria no tmulo |
br94fe8-50 | Leia a ntegra do pronunciamento de FHC Esta a ntegra do pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, em cadeia nacional de rdio e TV: Senhoras e senhores, boa noite. Diante da inflao, que beira os 40% ao ms e das dificuldades do povo, o governo apresentou ao Congresso um programa econmico para derrubar a inflao. Este programa funciona em trs tempos: primeiro, ajusta as contas do prprio governo, cortando gastos e equilibrando o Oramento; segundo, cria um padro estvel de valor, a Unidade Real de Valor, a URV, para que os preos e a economia se ajustem; terceiro, transforma esse padro em nova moeda nacional, forte, garantida pelo Banco Central, restabelece a confiana no dinheiro e desta forma elimina a inflao. Desde a minha posse no Ministrio da Fazenda venho afirmando que no se deve enganar o pas pulando etapas. preciso primeiro equilibrar o Oramento. Sem isso impossvel conseguir que a inflao baixe definitivamente. Para acabar de vez com a inflao preciso que o governo no gaste mais do que tem. Do contrrio ter que ir aos bancos, fazer emprstimos ou fabricar dinheiro e tudo isso gera mais e mais inflao. uma conta muito simples: se eu tenho cem, no posso gastar 150. Se gastar mais do que cem a diferena ter de vir de algum lugar. Quando o governo imprime dinheiro o povo que paga, no tenham a menor iluso. Com a inflao elevada quem perde sempre a imensa maioria da populao, que no possui conta nos bancos, no tem sequer acesso caderneta de poupana, no tem como defender-se da desvalorizao do dinheiro e empobrece a cada dia que passa. O governo do presidente Itamar Franco est fazendo tudo para equilibrar as suas contas e acabar com a inflao. Meus amigos. No Oramento deste ano o governo cortou cerca de 40% das despesas da mquina administrativa e dos investimentos. Conseguimos tambm o que os pessimistas diziam ser impossvel: Estados e municpios fizeram acordo com a Unio e esto pagando as suas dvidas, conforme as regras estabelecidas pelo Congresso. Isso, sem falar do rigoroso combate sonegao, com resultados concretos. Acabamos com os 'parasos fiscais', privilgio daqueles que no eram investigados. Mas, apesar de todo esse esforo, ainda faltam bilhes em cruzeiros reais para zerar o dficit. Pior ainda, no basta cortar gastos se o governo obrigado a entregar a maior parte das suas receitas para os Estados e municpios ou para outras despesas previstas na Constituio. De cada CR$ 100 que o governo federal arrecada, CR$ 80 j tm destino certo. Esto vinculados a despesas obrigatrias. Sobram apenas CR$ 20 para atender a todos os gastos com a sade, com o combate fome, com transporte, agricultura, a cincia e a tecnologia e os outros programas essenciais. Como equilibrar as contas nessas condies? Como eliminar a inflao? A sociedade cansou de pagar impostos, porque eles recaem injustamente sobre os pobres mais do que sobre os ricos. Foi por isso que o governo props a emenda constitucional que cria o Fundo Social de Emergncia. O Fundo serve para distribuir melhor a aplicao dos recursos, no para fazer gastos novos, mas para financiar os programas sociais que no podem e nem devem sofrer mais cortes. De outra forma, o governo vai continuar a se endividar para cobrir despesas essenciais, como fizemos em dezembro passado ao emitir mais de US$ 1 bilho em ttulos a juros de 25% reais ao ano, para pagar hospitais e outros programas sociais. Dos US$ 16 bilhes previstos para o Fundo Social de Emergncia, a maior parte se destina redistribuio de recursos, apenas US$ 3 bilhes, ou seja, cerca de 20% do Fundo, viro de aumento de impostos. Aumento indispensvel para cobrir despesas inadiveis. E quem vai pagar a conta? Os que podem mais. Quem ganha acima de CR$ 5 milhes por ms, as instituies financeiras, que pagaro 30% a mais na contribuio social sobre seus lucros. Os setores mais altos da classe mdia, que tero um aumento mnimo, bem menos de 2% em suas alquotas no Imposto de Renda, e os bancos, que no esto pagando o PIS e tero de pagar. Esse esforo tributrio no vai atingir os trabalhadores, nem a maioria da classe mdia. Estamos trocando a inflao, que o imposto dos pobres, pelo imposto dos ricos. Ainda assim no faltam demagogos para dizer que o governo s aumenta os impostos e no corta os seus gastos. Vamos falar claro e sem cerimnia sem o Fundo Social de Emergncia no haver condies de combater o pior de todos os impostos, que a inflao. O governo est seguro de que esse programa o melhor caminho para alcanar a estabilizao desejada e para proporcionar o crescimento sustentado da economia. Mas, s juntos e em parceria, sociedade, governo e Congresso, superaremos as dificuldades. O governo no pode nem quer impor esse programa ao Congresso. Todos os planos dos governos anteriores, a maioria deles com choques, confiscos, congelamentos, foram endossados pelo Congresso e praticamente sem discusso. Hoje, o Congresso no assim, felizmente, pois democracia participao, nem o nosso programa tem as caractersticas dos anteriores. Nunca um ministro da Fazenda no Brasil dialogou tanto com o Congresso para a aprovao de um plano econmico. Debati horas a fio com meus colegas parlamentares. Aceitei as boas sugestes, cedi a tudo que era possvel, desde que a nossa proposta de zerar o dficit no fosse prejudicada. Admiti manter intocvel os recursos dos Estados e municpios porque eles necessitam. Fiz o que pude. Cheguei ao limite do possvel. O que vai ser votado esta semana o resultado dessa ampla negociao. um trabalho conjunto do governo e do prprio Congresso. Agora, preciso que o Congresso decida, no porque o governo quer, mas porque o Brasil tem pressa. Voltamos a crescer em 1993 e devemos crescer mais em 94. O setor privado da economia se ajustou e progrediu, o Produto Industrial cresceu 9% em 1993. As exportaes atingiram quase US$ 39 bilhes, as importaes cresceram 25% e a balana comercial apresentou um saldo de US$ 13 bilhes. A massa salarial cresceu mais do que 10% e o nvel de emprego subiu 3%. As reservas do Brasil superam hoje os US$ 33 bilhes. recorde histrico. A dvida externa com os bancos privados, cuja negociao tem que ser concluda at o dia 10 de maro, no passa de US$ 35 bilhes. A entrada de recursos estrangeiros em 1993 no mercado financeiro foi superior a US$ 12 bilhes e recebemos US$ 1,3 bilho como investimento direto. Os investidores estrangeiros do um voto de confiana ao Brasil, mas ainda falta fazer muito. Falta fazer as reformas constitucionais na rea tributria, na Previdncia e redefinir as atribuies dos Estados, dos municpios e da Unio para citar apenas alguns exemplos. Essas mudanas so fundamentais para equilibrar definitivamente as contas do governo. Falta ainda um programa mais amplo de privatizao e estou lutando por ele, a fim de consolidar a estabilizao da economia. O Brasil vive hoje uma grande contradio. O Congresso e outros setores concordam que h necessidade de se acabar com a inflao e fazer as reformas constitucionais, mas resistem s medidas necessrias. Parte das bancadas liberais querem a reviso constitucional, mas discordam dos aspectos do programa econmico. As bancadas progressistas concordam parcialmente com o programa, mas no querem a reviso. Muitos defendem o mercado, a livre iniciativa, mas no pram de pressionar os cofres pblicos. Querem a liberdade, mas temem a competio e os riscos. Alguns falam em diminuir o Estado, mas no resistem aos grupos de presso contrrios ao enxugamento da mquina. Outros boicotam as privatizaes e pregam um nacionalismo mal colocado, defendem monoplios paralisantes mesmo em reas no estratgicas. Sabem pedir e reivindicar, mas fogem s suas responsabilidades. Mas o Brasil quer hoje claramente que cada um assuma sua parcela de responsabilidade. Como disse o presidente Itamar Franco, a governabilidade responsabilidade de cada um e de todos. A mudana ou ganha fora agora ou no ocorrer to cedo. O Congresso, que por meio da CPI est restaurando a dignidade da poltica, precisa agir responsavelmente na rea econmica. preciso que decida e diga sim ou no, que no se omita, nem deixe para depois. Se no estiver de acordo com o plano proposto, recuse-o, pois no faltar quem busque outros caminhos e formule alternativas. Ao ministro da Fazenda, se o Congresso aprovar o programa tal como proposto na sua integralidade, resta uma luta imensa a enfrentar. A pacincia sempre foi virtude do nosso povo, mas o pas no pode esperar. A responsabilidade de assumir as decises e agir a tempo de cada um de ns, governo e Congresso. O Brasil tem pressa e o governo est pronto para agir. Muito obrigado e boa noite. | ntegra do pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, em cadeia nacional de rdio e TV. Senhoras e senhores: Para enfrentar uma inflao de cerca de 40% ao ms e suas dificuldades, o governo apresentou ao Congresso um plano econmico para cont-la. So trs etapas :uma de corte de gastos e equilbrio de Oramento; a outra de criao de um padro estvel de valor(URV), para que os preos e a economia se ajustem; e a terceira de transformao desse padro em nova moeda nacional. Desde quando assumi o ministrio da Fazenda ,tenho afirmado que , sem isso, impossvel baixar a inflao. E no fazer penalizar os mais pobres. O governo Itamar est empenhado em cumprir sua parte.No Oramento deste ano o governo cortou por volta de 40% dos gastos com a mquina administrativa e com os investimentos. Tambm os Estados e municpios esto pagando suas dvidas com a Unio. E ainda um duro combate sonegao e aos parasos fiscais. Mas ainda faltam bilhes para zerar o dficit. Um lado oneroso para a Unio o repasse de 80% do arrecada aos Estados e municpios. Os 20% que sobram tm que cobrir as despesas com sade, combate fome, transporte , cincia e tecnologia e com outros programas essenciais. E o que fez o governo para equilibrar as contas nessas condies? Props a emenda constitucional que cria o Fundo Social de Emergncia. Para efetiv-lo sem onerar muito com impostos, somente 20% sero arrecadados com eles e, mesmo assim, sob encargo dos que ganham CR$5 milhes por ms, das instituies financeiras e dos bancos. O governo est seguro de que s assim haver estabilizao econmica e desenvolvimento sustentvel. Como o programa , logicamente, no ser imposto ao Congresso, coube a mim , ministro da Fazenda, um intenso dilogo com seus representantes. Aceitei sugestes , fiz concesses at o ponto de no prejudicar a meta . O que os congressistas vo votar nesta semana resultou de ampla negociao. da responsabilidade deles decidir, pois o Brasil tem pressa. Os frutos da atuao do governo nesse perodo esto a para todos verem. S faltam reformas constitucionais na rea tributria , na Previdncia e redefinir atribuies dos Estados , municpios e da Unio. E tambm um plano mais amplo de privatizao , com vistas a estabilizar a economia. O que pode emperrar o sucesso das medidas a contradio vivida hoje no Brasil. O Congresso e outros setores concordam quanto a necessidade de eliminar a inflao e fazer reformas constitucionais, mas resistem s medidas para tal. Ao Congresso , cuja atuao de saneamento na poltica tem sido levada pelas CPIs , cabe a responsabilidade de agir corretamente nas decises econmicas. Aprovado o plano, resta a mim a imensa luta, j que o pas no pode esperar. |
in96fe08-a | SANTO DOMINGO - Equipes de socorro retiraram ontem das guas do Atlntico 79 corpos dos 189 ocupantes de um Boeing 757-200 que caiu no mar por volta de meia-noite de tera-feira, cinco minutos depois de ter levantado vo do centro turstico de Porto Plata, na Repblica Dominicana. O aparelho, da empresa turca Birgen-Air, fretado pela agncia alem Oeger Tours, transportava 176 passageiros, todos alemes, com uma possvel exceo de dois deles, que seriam poloneses. Levava tambm 13 tripulantes, 11 deles turcos, e duas aeromoas dominicanas, as irms Francis e Ibeyse Ramos. Segundo a Fora Area Dominicana, que est sendo ajudada nos trabalhos de resgate por unidades da Guarda Costeira dos Estados Unidos, nada indica que tenham havido sobreviventes. O avio caiu numa rea infestada de tubares, onde ontem as ondas se elevavam a mais de trs metros. Pequenos pedaos do aparelho foram vistos flutuando em meio a uma grande mancha de combustvel e leo. Helicpteros e embarcaes particulares tambm participam da busca aos corpos. Por falta de lugar suficiente no necrotrio da cidade, eles esto sendo depositados em caminhes frigorferos, para posterior identificao. Comoo - Porto Plata um balnerio dominicano muito procurado por turistas alemes. O Boeing fazia um vo charter com destino a Berlim, com escala em Frankfurt. No aeroporto de Schoenefelf, em Berlim, os parentes dos passageiros, desesperados com as notcias do acidente e a impossibilidade de haver sobreviventes, tiveram sua disposio uma sala especial onde, isolados da imprensa e dos curiosos, eram atendidos por mdicos, psiclogos e religiosos. Em Hamburgo, o proprietrio da agncia de viagens Oeger Tours, Vural Oeger, disse estar informado de que as condies meteorolgicas eram extremamente desfavorveis no momento da decolagem, e que o aparelho foi muito provavelmente atingido por um raio, que paralisou suas duas turbinas. Em Frankfurt, Oliver Will, diretor da associao Cockpit (Cabine), de aeronautas alemes, afirmou que o acidente um exemplo tpico de linhas areas exticas que entram nos mercados alemes sem que estes conheam seus padres de segurana. Riscos - De acordo com Will, as pessoas devem ser sempre lembradas de que a passagem mais barata envolve algum risco, pois os preos reduzidos so geralmente uma decorrncia de cortes nas revises dos aparelhos e reduo do tempo de treinamento das tripulaes. O representante da Cockpit recusou-se a especular sobre as causas do acidente, mas rejeitou a hiptese de este ter sido conseqncia de um raio. Para um avio desse tamanho no existe mau tempo, disse. Investigaes - Depois de ter emitido uma nota segundo o qual o Boeing no estava segurado - o que significa que no tinha condies de vo -, o Ministrio dos Transportes da Alemanha retificou essa informao, quando a Oeger Tours apresentou as aplices de seguro. Ainda assim, o aparelho no tinha permisso para entrar no espao areo alemo, acrescentou o Ministrio. Tcnicos alemes partiram ontem para a Repblica Dominicana, para participar das investigaes sobre as causas do acidente, um dos maiores da dcada. Em 20 de dezembro do ano passado, um avio do mesmo tipo, Boeing 757, da empresa American Airlines, caiu na Colmbia, causando a morte de 161 pessoas. Em 1994, a queda de um Airbus da China Airlines, de Formosa, causou 264 mortes nas imediaes do aeroporto de Nagia, no Japo. Houve sete sobreviventes. | Um Boeing 757-200 da empresa turca Birgen-Air, fretado pela agncia alem Oeger Tours, caiu com 176 passageiros , na maioria alemes, logo depois de ter decolado do centro turstico Porto Plata na Repblica Dominicana. Segundo a Fora Area Dominicana , que prestava socorro ajudada pela Guarda Costeira americana, no deve ter havido sobreviventes . A regio da queda infestada de tubares e , no dia, as ondas se elevavam a mais de trs metros. por falta de espao no necrotrio Diferentemente de Porto Plata, onde os corpos eram depositados provisoriamente em caminhes frigorferos, no aeroporto Schoenefelf, em Berlim, os parentes das vtimas esperavam notcias atendidos por mdicos , psiclogos e religiosos. O proprietrio da agncia que fretou o avio informou que , na hora da decolagem, o tempo estava muito ruim e que , possivelmente, um raio tenha atingido a aeronave. J o diretor da associao de aeronautas alemes , sutilmente, censurou a entrada de linhas areas pouco confiveis no mercado alemo, alertou para o risco de viagens baratas e descartou a possibilidade de um raio ter afetado um avio daquele tamanho. O Ministrio de Transportes alemo retificou uma primeira notcia segundo a qual o Boeing no estava segurado. Mesmo com o seguro, ele no poderia entrar na Alemanha. Tcnicos alemes partiram para a Repblica Dominicana , a fim de participar nas investigaes. |
di94mr6-16 | A grande farsa do combate aos oligoplios Plano do governo contra inflao esconde apoio aos cartis, cobrana de tarifas em dobro e outras distores ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha O Plano Real est nas ruas. Pode-se discordar, e totalmente, de suas diretrizes. Pode-se considerar um absurdo que o pas seja submetido a nova experimentao, autoritria, por vaidades e ambies de alguns. Por maior que seja a discordncia, porm, j no h possibilidade de recuo, pois a desmoralizao do governo traria consequncias imprevisveis. S resta, ento, esperar que o Congresso evite aberraes contidas no plano. E que a sociedade esbraveje, exija providncias que realmente resultem em combate inflao, e que a equipe FHC continua com dificuldades de adotar. A queda da inflao pode ocorrer, se houver mudanas de comportamento, como se segue: Alimentos - H exatos trs domingos, as linhas finais desta coluna afirmavam que, j na quarta-feira de cinzas, o ministro FHC levaria uma paulada na cabea com os preos do feijo. Base para a previso: a seca dizimou a colheita de 400 mil toneladas da regio de Irec, Bahia, reduzindo-a a 20 mil toneladas, ou 5% do previsto. Quase nada. Tradicionalmente, so essas 400 mil toneladas que garantem o consumo no Sul/Sudeste em fevereiro/maro. Elas evaporaram, os preos teriam que disparar. A equipe no tomou conhecimento da escassez para minimizar seus efeitos, nem antes -nem agora. O desastre dos preos do feijo um exemplo da grande falha das equipes de economistas que se propem a combater a inflao com choques espantosos. As equipes parecem (parecem, repita-se) muito preocupadas com oligoplios, cartis e outras distores. Mas disparadas brutais de feijo, batata, soja, legumes, tambm fazem os ndices de inflao de determinados meses explodirem, e fazem a inflao continuar em alta nos meses seguintes -porque a correo monetria, a indexao, provoca a alta dos demais preos. Sem lobby - O presidente da Repblica deveria escolher j algum para acompanhar os preos dos alimentos in natura, para evitar a repetio de episdios como o do feijo. preciso algum que se preocupe com os interesses do produtor e do consumidor, isto , no pode ser um nome ligado ao lobby agrcola, que cruza os braos diante de alta de preos, porque aumentam os ganhos dos produtores. H tcnicos, como o economista Fernando Homem de Mello, que estudam permanentemente as questes agrcolas, do plantio venda no varejo, e tm iseno suficiente para priorizar o combate carestia e no outros interesses. Ditadura - O aumento de 46% nas tarifas de energia eltrica, que provocou indignao, mostra perfeitamente a necessidade de vigilncia do Congresso e da sociedade, e mostra tambm que, ao contrrio do que a imprensa tem apregoado desde o comeo do governo Itamar, um ministro da Fazenda todo-poderoso uma distoro absurda. Uma fonte de prejuzos, ora para o Tesouro (a sociedade), ora para o consumidor. Um foco de inflao, com decises das quais acha que no precisa prestar contas. O ministro FHC concedeu reajustes na faixa dos 40% para pequenas concessionrias da Amaznia. Para a Cesp, do governo paulista, autorizou aumento de 48,9%. Em janeiro, a empresa do governador Fleury j ganhara outro aumento, de 50,2%. Em novembro, alguma coisa parecida. Na poca, esses aumentos no provocaram reao, apesar de serem um desmentido s afirmaes do ministro FHC, de que as tarifas de energia subiriam 8% acima da inflao at outubro. No palanque, a promessa de conteno. Nas negociaes com governadores, a farra. Nada como ser um ministro-ditador. Pode adotar a poltica do dando que se recebe, s custas da classe mdia e do povo. Explorao O Instituto de Economia do Setor Pblico um rgo tcnico do governo paulista. Seus clculos sobre o preo da energia eltrica cobrado pela Cesp esto de estarrecer. Em 1989, a tarifa do quilowatt/hora era de US$ 43 para as residncias (classe mdia, basicamente) e US$ 21 para a indstria. Com a poltica de recuperao das tarifas do governo Collor, a residencial subiu para US$ 62 em 91 e US$ 72 em 92. Com Fernando Henrique/Fleury, passou para US$ 92 em dezembro ltimo e US$ 97 em janeiro antes do novo salto, agora em maro. Em sntese, de 89 para 94, o preo da energia paulista para residncias passou de US$ 43 para US$ 97. Mais de 120% de aumento real, acima da inflao. Para a indstria? De US$ 21 para US$ 23. isso mesmo. Entre sorrisos, o ministro FHC diz que autorizou aumentos para a Cesp porque havia defasagem. Entre sorrisos, o governador Fleury arranca o couro do consumidor e ganha o apoio dos empresrios para seus sonhos polticos. E garante votos, na Cmara, para os projetos do ministro sonhador. Tudo, em meio conversa fiada do combate aos oligoplios.... Reviravolta O economista Jos Milton Dallari foi convidado pelo ministro FHC para cuidar da guerra dos preos, negociando e teoricamente procurando evitar aumentos abusivos dos clebres oligoplios. Ele chegou a ser o responsvel por essa mesma rea, de controle de preos, na equipe do ex-ministro Delfim Netto. Ao deixar o governo, Dallari assumiu a funo de consultor e ocupa hoje o posto de presidente executivo da Associao de Produtores e Exportadores de Carne. Espcie de presidente efetivo, com conhecimentos tcnicos, ele quem efetivamente orienta o setor sobre questes como poltica de preos (isto , que preos cobrar...), concentrao empresarial (formao de cartis e oligoplios), etc. Alm disso, Dallari tambm consultor, isto , conselhador sobre os mesmos temas, de dois setores similares: indstria de alimentao (Abia) e supermercados (Abras). Suspeio As ligaes de Dallari com setores empresariais no seriam suficientes, por si s, para colocar em dvida seu empenho em evitar abuso nos preos. Afinal, se FHC e assessores progressistas mudaram tanto (e pe tanto nisso), Dallari tambm poderia assumir novas atitudes. As evidncias no mostram isto. Cumplicidade Logo ao assumir, Dallari foi colocado diante de crticas disparada dos preos do leite e derivados. Ele reforou a verso, divulgada bobamente pela imprensa, de que a culpa era dos pasme-se padeiros, que tinham aumentado sua margem de lucro em 100%. Ora, o sr. Dallari um tcnico competente, assessor da indstria de alimentao. Sabe que o setor de leite e laticnios est sendo dominado por cartis, grandes grupos nacionais e multinacionais. Nos ltimos anos, eles at compram pequenas fbricas de queijos ou usinas de pasteurizao no interior, e chegam a fech-las para ficarem como nicos compradores do leite. Aviltam preos para o produtor. E cobram preos de ouro pela venda ao consumidor. Naquele exato momento em que o preo do leite disparava para o consumidor e chegava aos CR$ 275,00 o litro, o produtor estava recebendo menos de 10% desse valor, ou CR$ 24,00 pelo litro extra-cota... Detalhe que o sr. Dallari (tambm) no deve ignorar: a Parmalat vem avanando no mercado, comprando pequenas e mdias empresas, com financiamento. De quem? Segundo reportagem da Folha, do prprio Banespa. O governo financia a formao de cartis e oligoplios. Sorrisos de l, sorrisos de c. Na entrevista de lanamento do Plano FHC, o economista Prsio Arida fez comovente declarao de crena no funcionamento do mercado. O plano vai dar certo disse ele porque as empresas no vo poder aumentar preos, porque quem aumentar no vai conseguir vender. muita f no funcionamento de uma economia de mercado perfeita, sem cartis e oligoplios. Muita teoria. Arida poderia ter feito uma consulta, ali mesmo, ao seu colega de equipe, Dallari. Durante todo o ano passado, os preos do boi e da carne, em dlares, estiveram muito acima (de 30% a 40%) de sua mdia normal. Mesmo com a concorrncia do frango (gigantesca expanso na produo) e da carne de porco, a carne bovina encareceu tambm proporcionalmente, isto , um quilo do produto passou a comprar maior quantidade dos produtos concorrentes (preos relativos). Capacidade de impor preos. Moral da histria: o combate aos oligoplios tem sido uma farsa e nada indica que v mudar. O brasileiro s deve acreditar se, amanh, os jornais estamparem uma manchete parecida com esta: Dallari convoca Dallari para explicar especulao com preos da carne e do leite. O resto farsa. ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de redao da revista Viso e editor de economia da Folha. | A grande farsa do combate aos oligoplios Plano do governo contra inflao esconde apoio aos cartis, cobrana de tarifas em dobro e outras distores ALOYSIO BIONDI- Especial para a Folha Por mais que se discorde do Plano Real, ele est a e o recuo do governo seria uma desmoralizao de conseqncias desastrosas. S resta o Congresso evitar certas aberraes contidas nele , e a sociedade exigir providncias eficazes de combate inflao. Para que este acontea, necessrio que se atente para alguns fatos: Diferentemente da quase inao do governo , casos como a reduo da colheita de 400 mil para 20 mil toneladas de feijo , na Bahia, por causa da seca , devem ter providncias. essa colheita a responsvel pelo abastecimento do Sul/Sudeste em fevereiro e maro, e sua queda provocar aumentos . As equipes parecem mais preocupadas com oligoplios, cartis e outras distores do que com disparadas de preos de produtos agrcolas , que fazem explodir a inflao em certos meses. O presidente da Repblica deveria nomear algum para acompanhar os preos de alimentos in natura , mas que no tivesse comprometimento com o lobby do setor. Outro fato que merece ateno do Congresso o aumento das tarifas eltricas . O ministro FHC , arbitrariamente, concedeu reajustes de 40% para pequenas concessionrias da Amaznia e 48,9% para a Cesp, do governo paulista, j tendo tido esta outro aumento de 50,2% . A promessa de palanque que as tarifas de energia subiriam 8% acima da inflao at outubro. Depois, o acerto com governadores foi o que se viu acima. O economista Jos Milton Dallari foi convidado por Fernando Henrique para vigiar os preos , em tese para evitar subidas abusivas pelos oligoplios. Suas ligaes com setores empresariais no seriam motivos suficientes para suspeies. Mas , ao assumir , foi criticado pela disparada dos preos do leite e derivados. A verso foi que a culpa era dos padeiros, que aumentaram seus lucros em 100%. Como tcnico competente, ele sabe que essa rea dominada por cartis , grandes grupos nacionais e internacionais, que compram pequenas fbricas, fecham-nas para terem o controle de compra do produto. s observar que , naquele momento, o leite disparou para CR$ 275,00 o litro, enquanto o produtor recebia CR$24,00. O senhor Dallari , por exemplo, sabe que a Parmalat vem crescendo, comprando pequenas e mdias empresas, e financiado pelo Banespa. O resultado tpico de fbulas: o combate aos oligoplios constitui uma farsa sem perspectivas de mudanas. |
br94ou16-16 | O jornal e seu papel MARCELO LEITE Para muita gente, em especial milhares de assinantes particularmente azarados da Folha, parecia que o mundo ia acabar. Era como se o Sol no tivesse aparecido, naquela manh, ou quem sabe os cachorros desaprendido a latir: o jornal no estava na porta. O desastre aconteceu no ltimo domingo, 9 de outubro, uma data s comparvel em importncia ao 14 de agosto em que a Folha superou a marca de 1 milho de exemplares. Desse episdio h muitas lies a tirar, sobretudo em relao febre dos fascculos que acomete a imprensa brasileira. E quero j adiantar antes de historiar alguns fatos que podem no ser do conhecimento geral que o juzo dos leitores devastador. No se concebe tragdia maior para um peridico do que deixar de circular, ainda que parcialmente. Foi o que aconteceu com 111.100 exemplares destinados a bancas do interior de So Paulo, distribudos pasme sem o primeiro caderno. Isso mesmo, sem a primeira pgina, sem editoriais, sem expediente. Outros 237.700 saram sem os cadernos Cotidiano e Finanas. O resultado dessa falha inacreditvel no poderia ter sido outro. Em dois dias, os telefones do jornal receberam mais de 7.000 chamadas de leitores indignados, ressentidos, decepcionados. Sentiam-se trados em algo bsico, a certeza de poder contar com o jornal preferido e, no caso dos assinantes, pago com antecedncia. Entornado o caldo, a Folha fez o que pde. Ao mesmo tempo em que enxugava o espao editorial (notcias e tudo o que no publicidade) at o ponto de quase desfigurar as edies ao longo da semana, a Redao tomou a nica atitude cabvel no caso: tornar pblicas as prprias dificuldades (nos dias que se seguiram, jornais como O Globo, Gazeta Mercantil e O Dia tambm trataram da questo). Em cinco reportagens extensas, publicadas na segunda, tera, quinta e sexta-feiras e ontem, a Folha escancarou a origem de suas agruras. O maior jornal do pas quase parou, atrasando em 11 horas a impresso de mais uma edio histrica, por uma razo para l de prosaica: falta de papel. Muitos leitores que ligaram para o ombudsman no se deram por satisfeitos com as explicaes publicadas resumidamente, a combinao de escassez de papel de imprensa no mercado mundial, atrasos na chegada de navios com papel importado e no-cumprimento pelas Indstrias Klabin de Papel e Celulose da entrega de cotas contratadas em julho. Segundo a direo da Empresa Folha da Manh S/A, que edita a Folha, compromissos assumidos por escrito pela Klabin exigiriam a entrega de no mnimo 204 toneladas por dia, este ms. At o ltimo dia 9, a mdia diria estava em 130 toneladas. O consumo total da Folha em outubro era projetado para 12.831 toneladas, mas dever ficar em 10.800. Com a veemncia previsvel do consumidor que se acredita ludibriado, os leitores cobravam duas definies: quais providncias seriam tomadas, e quando. Outros, ultrapassando a fronteira da simples decepo, lanavam a suspeita de uma grave falta de planejamento, de organizao ou at de responsabilidade empresarial. Quanto s definies, o leitor teve de esperar at sexta-feira para obt-las. Era o mnimo a fazer, um imperativo apontado mais de uma vez, durante a semana, na crtica interna da edio feita diariamente pelo ombudsman. Foi, assim, s na sexta que o leitor ficou sabendo que a regularizao do fornecimento deve ocorrer at o final deste ms. Sobre as providncias, o esclarecimento veio apenas na edio de ontem. Na realidade, so medidas mais para minorar os efeitos do fato consumado do que para revert-lo: um remanejamento e enxugamento geral de colunas e sees fixas, com o propsito de liberar 15% do espao disponvel para notcias propriamente ditas. Nosso objetivo tentar dar a volta por cima, fazer um produto melhor em um espao menor, diz Eleonora de Lucena, secretria de Redao encarregada da rea de Edio (e, portanto, da administrao do espao editorial). As suspeitas de alguns leitores, sobretudo a alegada falha estratgica de se lanar na rota de um aumento estrondoso das tiragens em meio a uma crise no mercado de papel, so rebatidas pelo diretor-presidente da Empresa Folha da Manh S/A, Lus Frias. Ele argumenta que, no fossem as falhas na entrega e o atraso dos navios, a Folha chegaria ao final deste ms com mais de 18 mil toneladas de papel em estoque. Ningum aqui se esqueceu de comprar o almoo de amanh, afirma. Como a Klabin aceitou engordar suas entregas Folha at o patamar de 350 toneladas dirias, tudo indica que o pior j passou. Dentro de oito dias, o espao de redao deve voltar ao normal. Hoje mesmo voc tem em mos um jornal comparvel aos dos ltimos domingos: 242 pginas, na edio So Paulo (a includas 80 da Revista da Folha); na semana passada, foram 250 pginas. E com um novo recorde de tiragem, 1.460.240 exemplares. Agora, s lies: 1. O transtorno causado ao leitor por esse curto-circuito administrativo-comercial irreparvel, mas muito mais grave o dano em sua confiana na Folha. Para reconquistar a parcela perdida ser necessrio muito mais tempo do que se consumiu em permitir que fosse desfalcada. O leitor, em particular o assinante, tem conscincia clara de que o jornal e no uma indstria de papel ou um capito de navio que tem compromisso com ele. 2. As perdas no se resumem aos exemplares no-entregues ou mutilados. Como a prpria Folha noticiou, deixaram de ser publicados quatro cadernos especiais. Entre eles, um sobre a Bienal de Artes Plsticas de So Paulo, para revolta de muitos paulistanos. Nestes casos, Ins morta. 3. Boa parte dos leitores dirige sua frustrao e mgoa contra os fascculos, como o Atlas e agora o dicionrio Aurlio (cuja circulao em bancas foi adiada para dia 24). Identificam-nos como os responsveis diretos pelos transtornos, j que sem eles no haveria o brutal aumento das tiragens. O raciocnio impecvel. Resumindo, o recado insistente dos leitores que eles querem antes de mais nada um bom jornal. Se vier com fascculos, timo. Mas se os fascculos resultarem em um jornal ruim, passaro a odi-los. Esto cobertos de razo. Escrevi esta coluna com cerca de 80% de seu tamanho normal. a minha maneira de contribuir, voluntariamente, para que o jornal leve ao leitor um pouco mais de notcias que so, afinal, o que realmente interessa. Fui informado pela Direo de Redao de que os jornalistas lvis Bonassa e Daniela Pinheiro reivindicaram espao fora desta coluna para prosseguir com nossa polmica sobre o caderno Olho no Voto (o texto deve estar publicado nesta mesma pgina). Lerei com ateno os novos argumentos. Aviso, no entanto, que s pretendo responder se representarem de fato uma oportunidade de contribuir para que se faa um caderno melhor, na prxima eleio. MARCELO LEITE o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ele no pode ser demitido durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Marcelo Leite/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. | O jornal e seu papel --- MARCELO LEITE No ltimo domingo, milhares de assinantes da Folha tiveram um choque: o jornal no foi entregue. O acontecimento permite um bom aprendizado, principalmente quanto fasciculomania da nossa imprensa. J adianto que o julgamento dos leitores impiedoso. Em dois dias, os telefones do jornal receberam mais de 7.000 chamadas. Consumado o acidente, a Folha empenhou-se em solues. Inicialmente, enxugou o espao dos editoriais. Mas viu que devia se expor mais: em cinco reportagens longas, falou da causa fundamental --- a falta de papel . Foi necessrio explicar a falta de papel de imprensa no mercado mundial, o atraso dos navios que traziam papel importado, do no-cumprimento da entrega das cotas pelas Indstrias Klabin de Papel e Celulose. Com veemncia, os leitores cobravam quais providncias seriam tomadas e a data. Ficaram sabendo que a regularizao se dar at o fim do ms. Quanto s providncias , alis paliativas no mento, iniciaram-se pelo remanejamento e enxugamento geral de colunas , a fim de liberar 15% de espao para notcias propriamente ditas. As suspeitas sobre falhas estratgicas relacionadas ao superdimensiomento das tiragens foram assim respondidas pelo diretor da Empresa Folha da Manh S/A: Ningum aqui se esqueceu de comprar o almoo de amanh. Quanto s lies , posso enumerar: a perda de confiana no jornal; a no-publicao de quatro cadernos especiais, entre os quais um sobre a Bienal de Artes Plsticas de So Paulo; a frustrao e mgoa dos leitores por no receberem os fascculos do Atlas e do dicionrio Aurlio. Os leitores querem principalmente um bom jornal e nisso esto cheios de razo. Da minha parte contribuo escrevendo esta coluna com cerca de 80% do tamanho normal. |
co94no27-17 | 'Quando morrer, quero ir para o Chanterelle' J.R.DURAN Especial para a Folha O meu apartamento em N.Y. fica na Mercer St. esquina com a 4th St., perto da New York University e da Washington Square, um lugar alegre e colorido. Isto quer dizer que grande parte da minha vida l, transcorre no downtown e no Soho, mesmo porque, para fins profissionais, a situao bem prtica. O Studio One, na 23 East, 4th St., um dos melhores estdios fotogrficos para alugar em N.Y., onde voc pode cruzar com Gilles Bensimon, Michel Comte, etc. Na 65 Bleeker St., existe o US Color, o melhor laboratrio fotogrfico dos Estados Unidos. Se voc disser que meu amigo, pode ganhar desconto e atendimento preferencial. Ento, estas dicas so todas de lugares que d para ir andando (exceto uma ou duas), mesmo no inverno, o que no pouca coisa para quem conhece o inverno de New York. O caf da manh no Dean & De Luca. Tem trs deles na rea e o meu favorito o da Prince Street. o mais calmo, tem mais espao e d para ler o New York Times sem ter que ouvir a conversa de quem estiver na mesa ao lado. Alm do mais, tem uma clarabia que proporciona uma luz agradvel em qualquer poca do ano. Livros e revistas podem ser na Rizzolli, da West Broadway, ou na Tower Books, da Lafayette St. Na verdade, a Rizzolli mais agradvel, os vendedores so mais educados e ainda se pode tomar um expresso em um barzinho que tem no andar superior. A Tower Books tem mais variedade de livros, mas os vendedores conseguem sempre mostrar o mesmo olhar de peixe morto para qualquer tipo de pergunta. Na outra Tower, a Tower Records, esquina da Broadway e Mercer St., o tratamento puxa mais para o Bronx Boys'on the Hood, mas compensa pela quantidade e a qualidade dos CDs. Para comprar roupas para dar de presente para algum como rika Palomino, tem a Patricia Fields, na 8th street, entre 5 e 6 Ave. So roupas exclusivas, divertidssimas e que um ms depois estaro em matrias de moda da Details. Se por acaso as suas amizades so mais comportadas, s ir at o Gap na Broadway e 8th street e comprar todos os bsicos que voc for capaz. A minha querida Alexandra Brochen prefere fazer compras na Tehen, esquina da Prince e Greene St. Eu prefiro comprar roupas na Agnes B (o estilo Jean-Paul Belmondo blas) na Prince St., ou na APC (uma coisa assim meio intelectual chic), 131 Mercer St. Na mesma Mercer St., a duas portas da APC, existe uma livraria que tem todos os livros de fotografia que qualquer fotgrafo procura (novos e usados) e que esqueci o nome, mas que a mais completa e suja que j visitei. Para compras paralelas e diversas, tem a Kate's Papeterie, na Broadway e Prince St., que vende aqueles caderninhos com pginas brancas da Cranc's, onde se pode escrever interminveis dirios (imaginrios ou no). Como curiosidade, tem a Evolution, 120 Spring St., que vende tudo o que relacionado com a evoluo da espcie. Voc pode comprar uma belssima caixa com borboletas da Papua-Nova Guin, um crnio de macaco do deserto do Kalahari ou um dente de crocodilo. Para aqueles objetos que a gente compra compulsivamente e depois quase se arrepende, tem a AD*HOC, na esquina da West Broadway e Spring. So milhares de sabonetes, perfumes, canetas, livros, vasos, roupa de cama e coisas assim que fazem enlouquecer a minha amiga Mnica Figueiredo toda vez que entra na loja. O que tem cada vez mais na regio so bares. Alm do tradicional Fanelli's, que aparece no fim daquele filme State of Grace, de Phil Joanou com Sean Penn e Gary Oldman, tem os novos: o Temple Bar, na 332 Lafayette St., com petiscos geniais e clima de chega mais. O Merc Bar, na Mercer St., entre Houston e Prince St., mais descolado, e com gimlets perfeitos (gimlets, voc sabe, a bebida preferida de Philip Marlove). E, alguns meses atrs, foi inaugurado o Match, um daqueles lugares que as pessoas fazem fila e choram na porta para poder entrar, quase em frente ao Merc Bar. Os restaurantes so numerosos e dependem da companhia. Toda vez que saio com minha amiga Leda Gorgone, a gente acaba indo ao Jerry's, um american food a preos razoveis que fica na Prince Street, perto do correio, onde na hora do almoo se encontram quase todos os alternativos do bairro. Tem o Jour et Nuit na esquina da West Broadway e Broome St., restaurante francs bom e barulhento sempre cheio de modelos, propriedade de Frederic que o namorado da Frederique, modelo famosa de tanto aparecer nos anncios de Victoria Secret. Outro restaurante, tambm francs, o favorito de Monique Pillard, presidente da agncia de modelos Elite. o Chez Jacqueline, que fica na MacDougal na esquina da Houston. Para impressionar, sem muito dinheiro, o Kelly & Ping Wooster entre Prince e Houston, um restaurante tipo chins de San Francisco dos anos 20, que parece sado de um livro de Tin-Tin. Barulhento e divertido e com massas chinesas timas. J se voc dispe de um bom capital e quer impressionar, tem o Chanterelle, bem mais downtown, mas que um Nirvana gastronmico aliado a um clima de paz e tranquilidade. Quando eu morrer, se no for para o cu, quero ir para o Chanterelle. Em ocasies de romance, onde o tiro e queda fundamental, o lugar o Alison ou Dominick, na Dominick St. e Varick. ntimo, no preciso falar, s sussurrar, e com comida estilo americano de primeira, o que no fcil de encontrar. No toa que vem sendo considerado pelos crticos, de alguns anos para c, como um dos trs melhores de N.Y. Para ir ao cinema, s chegar na esquina da Houston com Mercer e entrar no Angelika Film Festival. Um cinema com cinco salas, onde passa o melhor do melhor. Foi l que assisti estria de Pulp Fiction, de So Quentin Tarantino. E para uma coisa mais intensa e mais cult (tipo se voc encontrou com Arto ou Duncan Lindsay) temos Film Forum, na Houston com a 8th Ave, onde voc pode assistir a coisas como Architecture of the Dome, um documentrio sobre a ascenso e queda do nazismo visto atravs das artes alems daquele poca, ou ainda, Visons of Light o delicioso filme que no me lembro quem dirigiu, mas que a respeito dos fotgrafos de cinema. Na esquina da Lafayette e Great Jones St., tem o Times Cafe, famoso pelos eggs benedict e por ter sado em um anncio da gua mineral Perrier, mas o mais interessante est no subsolo. Se trata de um bar com msica ao vivo que se chama Fez. no estilo marroquino e tem jazz do melhor. Claro que se o que voc quer um jazz mais tradicional (Thelonius Monk, por exemplo), v ao Blue Note, na 8th St., entre 6th Avenue e Macdougal, reduto de turistas e jazzmanacos do mundo inteiro. Surpresas musicais acontecem no Bottom Line, uma casa de espetculos na esquina oposta minha. Um lugar onde voc pode convidar Matinas Suzuki para assistir Jimmy Scott em uma noite e na outra assistir o pavoroso Buster Poindexter ou os Ramones. J. R. DURAN, 42, fotgrafo e s gosta de Nova York quando est fora dela. | Quando morrer , quero ir para o Chanterelle J.R.DURAN --- Especial para a Folha Moro num apartamento em N.Y. , na Mercer St. Esquina com a 4th St., perto da New York University e da Washington Square, um lugar alegre e colorido. Minha vida transcorre por ali, o que, do ponto de vista profissional, bem prtico. Dois estdios fotogrficos da melhor qualidade ficam por ali: o Studio One e o US Color. O caf da manh num dos trs Dean & De Luca , o Prince Street, calmo e espaoso, onde se pode ler o jornal. Livros e revistas podem ser encontrados na Rizzolli ou na Tower Books. Roupas para presente se encontram na Patrcia Fields . Pessoalmente, prefiro comprar as minhas na Agnes B, na Prince St. , ou na APC . Ao lado da APC, h uma livraria com uma variedade de livros de fotografia. Quem quer compras diversas pode ir Kates Papeterie, na Broadway. Curiosidades sobre a evoluo da espcie se encontram na Evolution, 120 Spring St. E as quinquilharias ,objeto de compras compulsivas , so adquiridas na AD*HOC , na esquina da West Broadway e Spring. Na regio, os bares so numerosos. O tradicional Fanellis; o Temple Bar , com petiscos geniais ; o Merc Bar . Os restaurantes tambm . O Jerrys , um american food , a preos razoveis; o Jour et Nuit, bom e barulhento restaurante francs; o Chez Jacqueline, tambm francs; o Kelly & Ping Wooster , um restaurante tipo francs San Francisco , anos 20; para quem quer impressionar e tem dinheiro, o Chanterelle, com tima comida, tranqilo. E em ocasies romance, bom ir ao Alison ou Dominick , ntimo e com boa comida americana. Cinema , encontra-se na esquina da Houston com Mercer , o Angelika Film Festival, com bons filmes; e o Film Frum na Houston com a Oitava Avenida. Para satisfazer o ouvido, deve-se ir ao Bottom Line, uma boa casa de espetculos . |
di94jl17-04 | Uma agenda para o trabalho EDWARD J. AMADEO Agradeo o professor Pastore pela elegante resposta ao meu artigo O consenso sobre os encargos sociais (Folha de 04/06/94), onde mais que nada ele reafirma os pontos da sua entrevista Folha, que deu origem aos meus comentrios. Ao final de meu artigo, deixei claro que a discusso sobre a flexibilizao do trabalho no Brasil era importante, mas que no deveria ser confundida com a demanda pura e simples por reduo dos chamados encargos sociais. Mais uma vez o professor Pastore confunde as discusses sobre encargos e flexibilizao. Prefiro separ-las. Quando a empresa contrata um trabalhador por 100 unidades de salrio, ela sabe que ter que desembolsar 202, diz o professor Pastore em seu artigo. Discordo marginalmente dos nmeros. Meu principal argumento outro: dos 102 extras que a empresa paga, mais ou menos 70 vo para as mos do empregado. Isto significa que, dos 202, 170 representam a remunerao do empregado. Logo, a demanda por reduo de encargos ou se refere ao que vai para o Estado 30 dos 202, ou se refere reduo do salrio do empregado. preciso que o professor Pastore deixe claro o que tem em mente. claro que podemos pensar em formas para desonerar a folha de salrios. Isso se refere to somente aos 30 que vo para o Estado, que poderiam ter origem num imposto sobre o faturamento e no sobre a folha. Nesse caso, as grandes empresas, cuja relao faturamento/folha muito maior que nas pequenas empresas, passaro a pagar mais impostos. As pequenas pagariam menos. Uma boa idia. O professor Pastore argumenta que os encargos so responsveis pela informalidade do mercado de trabalho. Por mais atraente e difundido que seja o argumento, quero dizer que no h evidncias empricas a seu favor. Suponhamos que a empresa s pode pagar um total de 180 entre salrios e encargos. Ela poderia pagar 90 em carteira, mais 63 ao trabalhador (total 153) e recolher 27 ao governo. claro que ela pode preferir no recolher nem um tosto ao governo e pagar 180 ao trabalhador. Agindo assim, remunera seus trabalhadores melhor que a empresa que paga 170 e recolhe 30. Sonegar sempre uma opo, principalmente se no houver fiscalizao ou se os fiscais forem corruptos. Mas ser mesmo que as empresas que sonegam pagam salrios mais altos, como faz crer o argumento e o exemplo citados? No. Os trabalhos do professor Ricardo Paes e Barros, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada), no Rio, mostram que, quando comparados os salrios de trabalhadores com as mesmas caractersticas (educao, sexo, idade e regio), ganham mais os trabalhadores de empresas que assinam a carteira de trabalho. Estas empresas pagam os encargos e, alm disso, pagam salrios em carteira mais altos. No verdade, portanto, que as empresas deixam de pagar encargos para pagar salrios mais altos. A informalidade no decorre dos encargos. Como j disse antes, preciso diferenciar a discusso dos encargos da discusso sobre a flexibilidade do trabalho. O que significa flexibilidade? Flexibilidade significa tornar o mercado de trabalho e o trabalhador mais adaptveis a mudanas na tecnologia, no nvel de atividades e na composio setorial da demanda. Com mais flexibilidade, os custos sociais dos ajustes a estas mudanas so menores. H diferentes maneiras de obter flexibilidade. Uma dando s empresas o direito de demitir sem custos e sem interferncia dos sindicatos e reduzindo o nmero de leis que regem a relao de trabalho. Este o sentido convencional de flexibilidade e o sentido usado pelo professor Pastore. Ocorre que este tipo de flexibilidade, em que a empresa pode admitir e demitir livremente e em que a rotatividade do trabalho alta, gera uma situao em que as empresas no tm incentivos para investir em formao e treinamento e os trabalhadores no tm compromissos com os objetivos da empresa. Este tipo de relao entre empresas e empregados reduz outras fontes de flexibilidade, associadas capacidade do trabalhador de adaptar-se a mudanas. Simplesmente porque a adaptabilidade requer trabalhadores educados, treinados e comprometidos com a empresa. De fato, h dois modelos de flexibilidade. Um modelo liberal do qual o professor Pastore adepto, que se baseia na desregulamentao do mercado de trabalho, na descentralizao das negociaes e na reduo do papel dos sindicatos. Um modelo social-democrata, que valoriza a negociao em diferentes nveis entre patres e trabalhadores, como forma de flexibilizar o trabalho e aumentar o grau de cooperao entre empresas e empregados. O modelo liberal entrou na moda na dcada de 1980. Hoje, h inmeros estudos sobre a reforma liberal na Inglaterra e outros pases e a concluso triste, o que j torna o modelo um tanto demod. No melhorou a situao macroeconmica e a disperso salarial cresceu muito na Inglaterra. Os EUA, que sempre tiveram um modelo liberal, apesar de conseguirem gerar mais empregos que qualquer outro pas rico, tm pssimo desempenho no que se refere ao crescimento da produtividade do trabalho e enorme disperso salarial. Por isso, o ministro do Trabalho, Robert Reich, tem insistido em mudanas de natureza social-democrata. J tive oportunidade de argumentar em outros trabalhos que existem diferentes modelos de mercado de trabalho. preciso escolher entre eles. Dada a situao brasileira, em que a criao de empregos em si no um problema, mas a qualidade dos empregos e da relao capital-trabalho pssima, tenho me convencido de que a opo social-democrata a que melhor frutos traria. Isso no significa que o mercado de trabalho no Brasil no seja demasiadamente regulamentado. muito regulamentado e a Justia do Trabalho tem poder normativo, o que reduz muito o espao de negociao entre patres e empregados. preciso desregulamentar, mas, simultaneamente, aumentar o escopo de negociao. Sendo assim, reduz-se o papel da lei (da Consolidao das Leis do Trabalho e da poltica salarial, por exemplo) e em seu lugar introduz-se negociaes diretas entre patres e trabalhadores. Mas no negociaes em nvel de empresas apenas, porque a maior parte dos trabalhadores no Brasil no est organizada para negociar e tem seus direitos regidos pela CLT. Para estes, a descentralizao das negociaes e eliminao da CLT representariam uma enorme perda. Minha proposta que a negociao de condies bsicas de trabalho e reposio salarial se d em nvel nacional, depois setorial, depois nas empresas. Este o modelo social-democrata que permite coordenao na formao de salrios e preos e reduz a disperso salarial. Ao contrrio do que se imagina, o desempenho macroeconmico (medido pela inflao e o desemprego) melhor e a distribuio dos salrios muito mais igualitria em pases em que as negociaes so centralizadas, ou, pelo menos, sincronizadas no tempo, como no Japo. O princpio bsico da proposta que a flexibilizao no advm da ausncia de regras nem do enfraquecimento de uma das partes negociantes, mas de regras negociadas e que, portanto, tenham legitimidade. H outros ingredientes desta proposta que eu gostaria de ver comentados pelo professor Pastore. Em primeiro lugar, importante que haja reduo do poder normativo da Justia do Trabalho, que inibe a negociao direta. Em segundo lugar, preciso que o imposto sindical seja abolido, uma vez que este imposto est na raiz do peleguismo patronal e trabalhista, que reduz muito a representatividade dos sindicatos. Em terceiro lugar, preciso que os trabalhadores passem a ter representao formal dentro das empresas, independentemente da organizao sindical. Por ltimo, preciso que os recursos do Senai, Sesi e Sebrae tenham administrao tripartite, envolvendo trabalhadores, patres e o governo. Isto porque estes fundos deveriam ser a base de financiamento das polticas de mercado de trabalho no Brasil e, num contexto mais negocial, deveriam contar com a participao dos trabalhadores na sua gesto. Esta a agenda para o trabalho que proponho, a fim de flexibilizar o trabalho no Brasil. Flexibilizao civilizada, como quer o professor Pastore, mas negociada. EDWARD J. AMADEO, 38, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), professor do Departamento de Economia da PUC-RJ (Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro) e autor de Keynes's Principie of Effective Demand (1989) e Keynes's Third Alternative (1991) Edvard Elgar Publishing Co (Inglaterra). | Uma agenda para o trabalho EDWARD J.AMADEO Agradeo ao professor Pastore pela elegante resposta ao meu artigo O consenso sobre os encargos sociais , onde ele reafirma os pontos j expostos na sua entrevista. No final do meu artigo, deixei claro que minha defesa da flexibilizao no significava pura e simplesmente reduo de encargos sociais. Discordo dos nmeros do professor, quando diz que uma empresa, ao contratar um operrio por 100 , vai desembolsar 202. Minha posio que dos 102 extras que a empresa paga, aproximadamente 70 vo para o empregado. Os trabalhos do professor Ricardo Paes e Barros, do Ipea, no Rio, mostram que os salrios de trabalhadores com as mesmas caractersticas so melhores nas empresas que assinam carteira. Elas pagam os encargos e , ainda, salrios mais altos . No verdade, pois, que empresas que no pagam encargos remuneram melhor. Como j disse, preciso diferenciar a discusso sobre encargos das referentes flexibilidade de trabalho. Flexibilidade significa tornar o mercado de trabalho e o trabalhador mais adaptveis a mudanas na tecnologia, com custos menores dos ajustes s mudanas. H diferentes modos de alcanar flexibilidade. Uma dando o direito de demitir sem custos e sem intermediao dos sindicatossentido usado pelo professor Pastore. Ele gera uma situao que desmotiva as empresas de investir em formao e treinamento , e que reduz outras fontes de flexibilidade , relacionadas adaptao . O modelo de flexibilizao liberal que o professor Pastore defendebaseia-se na desregulamentao do mercado, na descentralizao das negociaes e na reduo da interferncia dos sindicatos. O modelo social-democrata valoriza a negociao em diferentes nveis , como forma de flexibilizar o trabalho e elevar o grau de cooperao. Os inmeros estudos sobre o modelo liberal na Inglaterra e outros pases so entristecedores . No melhorou a situao macroeconmica e a disperso salarial na Inglaterra , e nos Estados Unidos houve baixo desempenho de produtividade e grande disperso salarial. Minha convico que a opo social-democrata seria mais proveitosa. No Brasil, o mercado de trabalho muito regulamentado; convm desregulament-lo , mas tambm aumentar o objetivo da negociao, com negociaes diretas entre patres e empregados. Porm, que obedeam , no nvel de condies bsicas , uma hierarquia: em nvel nacional, depois setorial, depois nas empresas. Esse modelo permite coordenao na formao de salrios e preos e reduz a disperso salarial. Nos pases em que as negociaes so centralizadas, o desempenho macroeconmico melhor e a distribuio salarial , mais equnime . Mais alguns ingredientes da minha proposta: Que haja reduo do poder normativo da Justia do Trabalho; que o imposto sindical seja abolido, pois favorece o peleguismo patronal e trabalhista; que os trabalhadores passem a ter representao dentro da empresa ; e que os recursos do Senai, Sesi e Sebrae tenham administrao tripartite, com representao de trabalhadores , patres e governo. |
co94ou29-06 | Medo de mortes pode adiar ao no Rio Itamar teme que ocupao militar dos morros provoque morte de inocentes e pode decretar estado de defesa s aps 2 turno INCIO MUZZI Do Painel, em Braslia JOSIAS DE SOUZA Diretor-executivo da Sucursal de Braslia Os ministros militares traaram, por encomenda de Itamar Franco, os cenrios de uma eventual interveno armada contra o crime organizado no Rio. Concluram que, qualquer que seja a ao, grande o risco de muitas mortes. O alerta dos militares deixou Itamar angustiado. Ele quer agir no Rio, mas passou a temer o que chama de efeito Volta Redonda'', numa referncia ao do Exrcito contra grevistas da Companhia Siderrgica Nacional, em 88. A operao resultou em trs mortos e comps o ambiente que levou eleio da petista Luza Erundina em So Paulo. O almirante Mrio Csar Flores, ministro-chefe da SAE (Secretaria de Assuntos Estratgicos), construiu, em dilogo com o presidente, uma imagem ilustrativa. Ele disse que, alvejado por um tiro disparado de um barraco num morro carioca, um policial civil tentaria localizar o atirador. Em situao semelhante, um soldado do Exrcito no perderia tempo em procurar o agressor. Ele destruiria o barraco'', disse. Segundo o raciocnio de Flores, os soldados so treinados para a guerra e no para o combate criminalidade, em reas urbanas. O Planalto passou a considerar com maior intensidade os riscos embutidos da operao. Com ndices de popularidade superiores a 80%, Itamar teme sofrer um desgaste caso a ao no Rio resulte em chacina e morte de inocentes. Itamar j no exclui a hiptese de adiar para depois do segundo turno das eleies, em 15 de novembro, a decretao de estado de defesa no Rio. At l, seriam tomadas medidas tpicas, em conjunto com o governo carioca. O Exrcito tambm receia sair do episdio com a imagem arranhada. Afirma-se na cpula que h o risco de a operao transformar-se em um fiasco. A maior parte dos oficiais militares acha que, exposto no noticirio, o plano de interveno perdeu um trunfo: o sigilo. Acredita-se que os traficantes estejam se preparando para submergir, evitando a priso e a apreenso de armamentos e dos estoques de drogas. O Planalto e as Foras Armadas esto divididos quanto convenincia do estado de defesa. Divergem tambm em relao idia de mobilizar o Exrcito para ocupar os morros da cidade. O assunto foi discutido por Itamar em vrias reunies, na ltima quinta-feira. Participaram da discusso, em momentos diversos, os ministros militares, assessores civis do presidente e o embaixador do Brasil em Portugal, Jos Aparecido de Oliveira. Itamar busca no momento a cumplicidade do Congresso, de Nilo Batista e das principais lideranas da sociedade do Rio. Alm de enviar o ministro da Justia para dialogar com o governo estadual e com as autoridades militares que servem no Rio, o presidente pediu o auxlio do embaixador brasileiro em Portugal, Jos Aparecido de Oliveira. Aparecido deixou Braslia com uma pauta de encontros que inclua o cardeal d. Eugnio Salles e o presidente da Associao Brasileira de Imprensa, Barbosa Lima Sobrinho. Itamar espera ter um relato minucioso das conversas na segunda-feira, antes do encontro que ter, tarde, com o governador carioca Nilo Batista. Prega-se na cpula do Exrcito uma soluo intermediria: a interveno apenas no comando da PM fluminense, que seria entregue a um oficial do Exrcito. Entende-se como fundamental que a polcia passe por um processo de limpeza. A proposta foi apresentada informalmente ao governador Nilo Batista, que a recusou. Mesmo assim, o presidente voltar a insistir na medida, na segunda-feira. Itamar est impressionado com o nmero de cartas e abaixo-assinados que tm chegado ao Planalto, pedindo a interveno. Um assessor chegou a sugerir uma pesquisa para aferir a opinio dos cariocas. Itamar cortou rspido. Disse no ter dvidas de que o resultado seria 80% favorvel interveno. | Medo de mortes pode adiar ao Itamar teme que ocupao militar no Rio mate inocentes e pode decretar estado de defesa s aps 2 turno. INCIO MUZZI -- Do Painel , em Braslia JOSIAS DE SOUZA- Diretor-executivo da Sucursal de Braslia Por sugesto do presidente Itamar, os ministros militares compuseram cenrios do resultado de uma ocupao militar dos morros no Rio de Janeiro. Qualquer que seja a forma de ocupao, admitem que haver muitas mortes. O presidente Itamar ficou angustiado com a previso, porque teme efeito semelhante ao que ocorreu na interveno do Exrcito na Cia.Siderrgica Nacional, quando trs operrios morreram. Isso favoreceu a eleio de Luiza Erundina para prefeita de S.Paulo. O almirante Mrio Csar Flores, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratgicos , fez uma comparao amedrontadora: um policial que recebesse um tiro vindo de um barraco, procuraria achar o responsvel; um soldado do Exrcito destruiria imediatamente o barraco. O Exrcito prepara para a guerra e no para intervenes urbanas. Com o seu ndice alto de popularidade, Itamar no quer que a morte de um inocente tire o seu brilho. At pensa em adiar a interveno das Foras Armadas para depois do segundo turno. O Exrcito tambm teme sair com a imagem arranhada , aps um possvel fiasco. O Planalto e o Exrcito divergem quanto convenincia da interveno. O assunto foi discutido pelo presidente em vrias reunies. Surgiu at uma soluo intermediria na cpula do Exrcito: a interveno apenas no comando da Polcia Militar fluminense. E uma fundamental limpeza na polcia do Rio, idia que o governador Nilo Batista recusou. Cartas e abaixo-assinados pedindo interveno assustam Itamar pela sua quantidade. |
td94ma01-02 | Inventores transformam idias em dinheiro `Gnios' devem pedir registro de patente para lucrar com o invento; sorte pode render at um carro 0 km NELSON ROCCO Da Reportagem Local Boas idias podem render muito dinheiro e um carro 0 km. Bastam criatividade, sorte e principalmente esperteza para assumir a paternidade da inveno. A Associao Nacional dos Inventores vai incentivar os melhores gnios do pas sorteando um Corsa no fim deste ms (leia texto ao lado). Quem no quer depender da sorte deve ter em mente que talento fundamental, mas no suficiente para ter sucesso. O principal obter o registro dos inventos. Com o registro de uma inveno (patente), o dono da idia reserva para si o direito de explorao comercial ou industrial do produto ou processo de produo. Qualquer idia ou produto patentevel. O pedido feito ao Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). O registro demora at cinco anos para sair. Ana Paula Mazzei, 32, vice-presidente da Associao Nacional dos Inventores e diretora da Fama (empresa especializada em patentes), diz que existem quatro tipos de registros. O PI (patente de inveno) destinado criao de um produto novo e acabado. A patente do tipo MU (modelo de utilidade) se refere ao uso da inveno. Ana Mazzei cita como exemplo de patente MU o aparelho de fac-smile, que criou novo uso para a linha telefnica (que j existia anteriormente). Cada modelo de fac-smile, com suas especificaes tcnicas peculiares, recebe uma patente do tipo MI (modelo industrial). No um PI porque s funciona com algo que j existia (o telefone). O registro do tipo DI (desenho industrial) diz respeito configurao e cor do produto. Como registrar Para pedir patente de uma idia ao Inpi, preciso elaborar um esquema de funcionamento ou um prottipo do produto. Deve-se fazer um desenho descritivo da inveno, juntar os projetos da pea, cpias de documentos pessoais e lev-los ao rgo. Depois de dar entrada no processo, o Inpi concede um direito pretenso de patente, vlido enquanto no houver um registro definitivo. Se no houver registro anterior da mesma idia nem qualquer pedido de patente requerido, concedida a patente. Ana Mazzei diz que o rgo edita a Revista da Propriedade Industrial, onde publicado o andamento de cada processo. necessrio acompanhar a publicao at que a patente saia. Caso a pessoa perca o registro, a patente cai em domnio pblico e qualquer um pode explor-la. Carlos Mazzei, 31, presidente da associao, diz que h vrias formas de negociar um invento. Uma delas a venda da patente. Mazzei afirma que o inventor pode conceder uma licena de explorao do produto para terceiros e receber royalties (comisses). Os royalties variam de 3% a 10% sobre o valor pelo qual a empresa vende o produto, diz. Pode-se ainda procurar um parceiro que banque os custos de produo. A associao d todas as informaes sobre a obteno de patentes. H empresas especializadas no setor. A Fama, por exemplo, cobra entre US$ 500 e US$ 1.000, para encontrar um comprador. | Inventores transformam idias em dinheiro. Gnios devem pedir registro de patente para lucrar com o invento; sorte pode render at um carro 0 km NELSON ROCCO- Da Reportagem Local Boas idias podem ser um caminho para ganhar muito dinheiro e um carro 0 km. Alm da criatividade, necessrio ser esperto e registrar a idia. No basta s o talento. Com a patente na mo, o dono da idia tem o direito explorao comercial ou industrial do produto ou processo de produo. Para encaminhar o registro de uma idia ao Inpi, necessrio elaborar um esquema de funcionamento ou um prottipo do produto. Com o desenho descritivo na mo e cpias dos documentos pessoais , o interessado d entrada no rgo. No rpido o processo, mas , se no houver registro anterior ou um pedido de patente encaminhado, ela concedida. |
op94fe27-01 | Dia D, deciso ou decepo Chegou finalmente o Dia D, a hora do ataque frontal inflao. O governo batalhou nos ltimos meses para garantir as condies adequadas ao ataque. Amanh, com o lanamento da Unidade Real de Valor (URV), comea de fato a transio rumo nova moeda do Brasil. Talvez nunca se tenha alcanado, s vsperas de outros planos, condies to favorveis do ponto de vista econmico. Em primeiro lugar, destaca-se o nvel sem precedentes das reservas internacionais em poder do Banco Central. Isso significa que o governo tem poder de fogo contra os especuladores. Pode aumentar as importaes e garantir que as cotaes do dlar permaneam estveis em termos de URV. a chamada ncora cambial. Quanto s contas pblicas, deve-se reconhecer que aps vrios meses de negociao com o Congresso e outras lideranas, o esforo de aumento da arrecadao e combate sonegao, o aumento de alquotas e reduo de prazos e o Fundo Social de Emergncia tambm colocam o governo numa situao de vantagem frente s tentativas anteriores de estabilizao. Em muitos pacotes anteriores a economia foi sacudida, s vsperas, por tarifaos e maxidesvalorizaes cambiais. A muitos sempre pareceu bvio que iniciar uma etapa de estabilizao com uma mxi ou tarifao era injetar presses inflacionrias na pior hora. Dessa vez, entretanto, a situao das tarifas pblicas relativamente tranquila. A tal ponto que mesmo convertidas URV pela mdia ainda garantem s estatais a sade financeira indispensvel. Quanto taxa de cmbio, a performance do comrcio exterior brasileiro a evidncia maior de que no h nada de preocupante. Enquanto pases j estabilizados como Mxico e Argentina tm dificuldades, sem alcanar posies superavitrias no comrcio exterior, o Brasil tem reafirmado uma vocao fortemente competitiva, mesmo sob um ambiente superinflacionrio e de incremento das importaes. Finalmente, h as vantagens do compromisso com a liberdade de preos, que vem sendo respeitado pelo governo apesar das dificuldades polticas. provvel que muitos setores tenham formado, ao longo dos ltimos meses e semanas, margens de segurana que permitiro no apenas suportar a estabilidade, mas principalmente colaborar com ela, medida que a URV trouxer transparncia ao jogo real entre a oferta e a procura. H expectativas de que a demanda permanea contida. Justamente o contrrio de planos anteriores (como o Cruzado), quando se tentava estabilizar a economia com demanda aquecida. A perspectiva de juros reais ainda mais elevados nas prximas semanas refora a impresso de que, a partir de agora, as empresas vo operar numa economia com salrios estabilizados na mdia e mercados incapazes de sancionar puxadas de preos. Com todos esses fatores favorveis, no h quem duvide da capacidade do governo de obter considervel sucesso no curto e mesmo no mdio prazo. A fase de transio entre a URV e a nova moeda, cuja durao pode alcanar at 90 dias, culminaria portanto numa inflao bastante baixa -medida em URVs. Entretanto, cabe aqui uma dvida legtima, presente na conscincia de milhes de brasileiros que j tiveram de suportar as mais mirabolantes experincias de poltica econmica. Ningum duvida da capacidade do governo de derrubar a inflao. Isso j ocorreu vrias vezes. Mas o Dia D tambm o dia em que se renova a dvida: a inflao baixa, mas at quando? Amanh, a sociedade ingressar nessa nova experincia com o entusiasmo condicionado por essa dvida. Inquietao, alis, justificada no apenas pelo passado como por uma fragilidade das circunstncias a que bom estar atento. Fragilidade, antes de tudo, poltica, como revelam as sucessivas dificuldades no encaminhamento do ajuste fiscal e que esto ainda longe de se esgotar. Qual ser o valor do salrio mnimo e que impactos ter sobre o Oramento de 1994? Quando ser esse mesmo Oramento aprovado pelo Congresso? Quais as reais perspectivas de aumento da arrecadao num ano de crescimento econmico mais modesto? Como o governo tratar a entrada de recursos externos, com impactos inflacionrios? E qual a credibilidade do compromisso com a austeridade num ano eleitoral que promete disputas de virulncia indisfarvel? So incertezas, tanto tcnicas quanto polticas, que se devem contrapor com rigor s vantagens da situao atual frente a tentativas anteriores. Para que as dvidas desse Dia D decisivo no venham a ser, mais uma vez, tambm o prenncio de uma grande decepo. | Dia D, deciso ou decepo Chegou a hora do ataque frontal inflao. Foi grande o esforo do governo para garantir as condies bsicas para isso. O processo de transio para a nova moeda comea amanh com o lanamento da Unidade Real de Valor (URV). Possivelmente, nenhum plano anterior estruturou condies to favorveis. Primeiramente, destaca-se o timo nvel das reservas internacionais, o que significa poder do governo contra a especulao, facilidade de aumentar exportaes e de sustentar a estabilidade do dlar. Em relao s contas pblicas, o esforo para aumentar arrecadao e combater a inflao, a elevao de alquotas e reduo de prazos, e o Fundo Social de Emergncia aumentam as vantagens do governo. Os tarifaos e maxidesvalorizaes cambiais dos planos anteriores, pressionadores da inflao, agora no existem. A respeito da taxa de cmbio, o melhor aval o sucesso do comrcio exterior. Finalmente, o compromisso com a liberdade de preos vem sendo respeitado pelo governo. Provavelmente, muitos setores tenham se prevenido para sobrenadar durante a estabilidade e cooperar com ela. H expectativa de conteno da demanda. Com todos os esses ventos favorveis, no se duvida da capacidade do governo de obter sucesso em pequeno e mdio prazo. No entanto, cabe uma dvida : a inflao baixa , mas at quando? A nova experincia a ser vivida pela sociedade comporta essa inquietao, motivada no s por vivncias anteriores como pelas dificuldades atuais no encaminhamento do ajuste fiscal. Ficam estas perguntas: Qual ser o novo salrio mnimo e quais seus impactos sobre o Oramento de 1994? Quais as reais perspectivas de aumento da arrecadao num ano de crescimento mais modesto? Como o governo tratar a entrada de recursos internos, causadora de inflao? E que crdito o compromisso com a austeridade ter num ano eleitoral? |
mu94ma22-25 | Milagre chins d sinais de esgotamento Para especialistas, mercado de mais rpido crescimento do mundo pode estar prestes a sofrer uma queda Empresrios tiram capitais da China e levam a Hong Kong e Amrica Latina Clinton pode renovar o NMF e descobrir que no h dinheiro para ganhar na China DAVE LINDORFF Do The Nation, em Hong Kong medida que se aproxima o dia 3 de junho, o prazo final para o presidente Clinton decidir se renova o status comercial de Nao Mais Favorecida (NMF) para a China, o mundo empresarial norte-americano aumenta a presso para fazer a administrao esquecer a contnua represso exercida pela China contra os ativistas pr-democracia, os nacionalistas tibetanos e outros adversrios do Estado unipartidrio chins. O argumento do empresariado simples: se os Estados Unidos no separarem os direitos humanos da poltica comercial, eles perdero bilhes de dlares em comrcio e centenas de milhares de empregos. Para Frank Martin, chefe da Cmara de Comrcio Americana em Hong Kong, se os EUA cancelarem o NMF, correm risco de se exclurem do mercado de crescimento mais rpido no mundo. Clinton, que durante sua campanha presidencial criticou Bush por mimar tiranos em Pequim, expressou aberta simpatia pelos interesses do setor empresarial e parece estar disposto a conceder o NMF a Pequim. Enquanto isso, porm, um nmero crescente de sinlogos diz que o mercado de mais rpido crescimento do mundo pode estar prestes a sofrer uma grande queda. As pessoas esqueceram que quando um pas se abre e cresce muito rapidamente, ele passa por ciclos muitos fortes de crescimento e retrao, e acho que a China vai sofrer um revs muito srio, diz Marc Faber, diretor de uma firma de assessoria em investimentos, sediada em Hong Kong. Faber observa que a China passou de um supervit comercial lquido, em 1992, a um dficit comercial no ano passado e que esse dficit est aumentando. Durante os ltimos dois anos o pas sofreu uma evaso lquida de capitais, com investidores nacionais injetando dinheiro em Hong Kong e na Amrica Latina. A maioria das pessoas que vem a China com pessimismo fazem questo de se manterem no anonimato, para no incorrer no desagrado de representantes chineses. O governo chins admite que a inflao j de 20% e que em algumas regies urbanas chega a 40%, diz um economista muito importante de Hong Kong. Alguma coisa tem de ceder. Voc tem uma moeda que est se desvalorizando internamente e a perspectiva de uma moeda que se desvaloriza tambm no exterior. Voc tem a incapacidade das estatais de competir e de pagar seus funcionrios. As perspectivas de perturbaes sociais so enormes. Um economista que fala abertamente Thomas Chan, coordenador do Centro Empresarial Chins na Politcnica de Hong Kong. Diz Chan, que tem acesso fcil s estatsticas do governo chins (Pequim utiliza suas pesquisas): Acho que a inflao chinesa est to alta que uma aterrissagem dura para a economia tornou-se inevitvel. Chan argumenta que com o crescimento das vendas no varejo em menos de 5%, comparada com um crescimento industrial de 18%, no existe base de apoio para este crescimento. Quando o crescimento comea a cair, as empresas tero que fechar ou elevar seus preos. A maioria vai elevar os preos, agravando a inflao. Com isto, segundo Chan, os responsveis pela poltica econmica chinesa se vem num impasse. Ou o governo imprime mais dinheiro ou arrocha o crdito. Com metade das estatais j tecnicamente falidas, qualquer reduo no crdito levar a enormes falncias de empresas. J faz vrios anos que o governo vem dizendo que as estatais tero de manter-se de p por conta prpria. Mas como isto significaria a demisso de milhes de trabalhadores, ningum quis dar o primeiro passo. E por um bom motivo: quando as empresas tentam demitir trabalhadores, frequentemente enfrentam violentas greves irregulares. O governo oficialmente reporta 10 mil greves legais e vrias centenas de motins em 1993. Isto num pas em que as organizaes trabalhistas independentes so ilegais e quem instiga um tumulto corre o risco de levar uma bala na cabea. Ultimamente a reao do governo tem sido de aceder s reivindicaes dos trabalhadores, e Pequim vem imprimindo mais dinheiro para subsidiar empresas que enfrentam problemas. Milhes de chineses j esto trabalhando, ou esto simplesmente inativos, recebendo meio salrio mensal. Outros milhes vm trabalhando h meses sem serem pagos. Mais de 100 milhes de camponeses e trabalhadores agrcolas so hoje migrantes desempregados que vagueiam de cidade em cidade procura de trabalho temporrio. Segundo uma estimativa o nmero total de desempregados na China talvez j supere os 200 milhes, mas esse apenas um dos muitos problemas. De acordo com um informe do Banco Mundial, desde o incio dos anos 50 cerca de 30 milhes de pessoas foram expulsas de suas terras e casas, da mesma maneira, recebendo pouca ou nenhuma compensao. A ira que esses cidados desapropriados sentem sintomtica da crise provocada por vrios anos de desenvolvimento frentico, mal planejado e cada vez mais superaquecido. Em vista das vrias crises que o pas enfrenta, Chan prev uma recesso com caractersticas chinesas, que ele define como uma queda do ndice de crescimento anual, dos 13% atuais para apenas 4%, comeando este ano e durando at o incio de 1997. Os assessores econmicos de Clinton talvez considerassem um crescimento de 4% nos EUA como o paraso, mas num pas como a China, em que 900 milhes de pessoas ainda vivem em condies primitivas e onde a populao aumenta rapidamente, um crescimento lento dessa ordem seria um desastre poltico. Com a f no comunismo e na revoluo no ndice mais baixo j visto (numa pesquisa recente, apenas 7% dos jovens disseram acreditar no comunismo e conversas particulares com quadros do governo mostram que at mesmo os membros do partido so leninistas relapsos e marxistas descrentes), a nica base de legitimao e poder do regime tem sido seu xito em expandir a economia e elevar os padres de vida pelo menos nas cidades. Um crescimento to lento quanto aquele previsto por Chan significaria ndices ainda mais altos de desemprego, desabrigo e fome e, inevitavelmente, distrbios sociais (especialmente quando uma parcela considervel dos ganhos comerciais do governo e do capital estrangeiro investido contribuem para um macio fortalecimento das reservas militares). Este retrocesso econmico que se aproxima ameaadoramente vem num momento em que o governo enfrenta uma crise poltica sobre a sucesso de sua liderana. Com a antecipada morte do patriarca enfraquecido Deng Xiaoping, que est com 89 anos, a liderana ter que vir de burocratas mais jovens, aos quais falta o prestgio associado aos combatentes da revoluo de 1949. As brigas por posies entre conservadores maostas, liberais econmicos e reformistas polticos de todas as estirpes j esto se tornando complexas e viciadas. Com os funcionrios do governo central preocupados com intrigas palacianas, os lderes provinciais e at mesmo de condados esto pura e simplesmente ignorando as diretrizes de Pequim. No ano passado, por exemplo, as autoridades de Guangdong, confrontadas com ordens de Pequim para limitar o consumo de petrleo, simplesmente assinaram contratos para a entrega de petrleo estrangeiro Provncia. Em lugar de deixar-se desmoralizar, admitindo que no tem meios de fazer implementar suas decises, o governo central hoje habitualmente as rev, transformando-as em medidas mais brandas quando confrontado com oposio regional. Num estudo publicado nesta primavera pelo Instituto Internacional de Estudos Estratgicos, sediado em Londres, Gerald Segal interpreta estes sinais como indcios de uma prxima descentralizao econmica e poltica da China, talvez at mesmo de sua fragmentao. verdade que a opinio prevalecente mantm um viso mais otimista do futuro da China. Acho que a economia vai crescer a um ndice real de 10% este ano, que uma desacelerao em relao aos 13,4% do ano passado, diz Jason Kwok, economista-chefe do Citibank em Hong Kong. No ano que vem acho que a desacelerao vai continuar, com 9% a 9,5%. Kwok diz que sua viso mais otimista do que os cticos porque eles no tm f no governo chins e eu tenho. Vale lembrar que o Citibank tambm teve muita f na economia latino-americana nas dcadas de 70 e 80. Um funcionrio consular econmico ocidental ecoa as idias de Kwok: Qualquer queda seria simplesmente parte do ciclo contnuo que vem sendo vivido desde que a poltica de reforma e abertura econmica comeou, em 1979. A queda poderia durar dois a trs anos, mas a tendncia a longo prazo na China continua sendo de crescer cada vez mais. Este observador admite que v com inquietao o dficit infraestrutural. Como diz, a falta de usinas eltricas, ferrovias e rodovias pode abater a economia chinesa a mais longo prazo. No se pode ter um crescimento contnuo de 13% quando as ferrovias j funcionam com 100% de sua capacidade. O funcionrio consular reconhece a incerteza poltica provocada pela corrupo e pelo desemprego, alm da insatisfao na zona rural, onde o crescimento econmico e a melhoria nos padres de vida no vm acompanhando a China urbana. Parte do que se ouve na imprensa chinesa e internacional sobre corrupo e perturbaes propaganda. a maneira do governo fazer saber ao povo que est ciente do problema. Mas em parte se deve ao fato de que eles realmente temem que as coisas estejam fugindo a seu controle. Wei Jingsheng, o mais famoso dissidente chins do Muro da Democracia, que acabou de cumprir 15 anos de encarceramento e voltou a ser preso em abril por acusaes no especificadas, publicou recentemente um ensaio num jornal de Hong Kong aconselhando os investidores estrangeiros na China a no se deixarem ser vistos como estando apoiando o atual regime comunista, para no virem a incorrer na ira popular mais tarde. Antes de ser preso esta ltima vez, Wei conclamou os EUA a manterem a presso econmica sobre o governo chins. Os entendidos em poltica podem discutir se ou no do interesse do povo americano e do interesse do povo chins ver a economia chinesa desabar. Mas isso no tem sido o tema da discusso sobre a renovao do NMF, que em lugar disso vem focalizando os interesses econmicos imediatos dos EUA. Seria um caso de justia potica se a administrao Clinton traindo mais uma promessa feita durante sua campanha, em nome do Realpolitik e da promoo do comrcio cortasse o vnculo entre direitos humanos e NMF e lavasse suas mos de responsabilidade pelos ativistas democrticos na China, apenas para descobrir que no h dinheiro para ser ganho. Traduo de Clara Allain | Milagre chins d sinais de esgotamento Para especialistas, mercado de mais rpido crescimento do mundo pode estar prestes a sofrer uma queda Empresrios tiram capitais da China e levam a Hong Kong e Amrica Latina Clinton pode renovar o NMF e descobrir que no h dinheiro para ganhar na China Quanto mais se aproxima o prazo de Clinton decidir sobre a renovao do status comercial Nao Mais Favorecida (NMF) conferido China , mais o empresariado americano pressiona para que o governo esquea a represso chinesa contra os adversrios do Estado chins. O argumento o de que , se isso no acontecer, os Estados Unidos perdero milhes de dlares e milhares de empregos. Clinton, apesar de crticas a Bush por mimar tiranos , est disposto a concordar com os empresrios. Mas vrios sinlogos afirmam que o mercado de mais rpido crescimento do mundo est para desabar. Marc Faber, diretor de uma firma de assessoria em investimentos, assinala que um pas que cresce muito rapidamente oscila para momentos de retrao e acredita que a China ter um revs muito srio. Um sinal que , nos dois ltimos anos, houve evaso de capital lquido para Hong Kong e Amrica Latina. . Um economista importante de Hong Kong informa que o governo chins admite que a inflao j est em 20% e em algumas regies urbanas j chegou a 40%. Ele acrescenta que a desvalorizao da moeda internamente e no exterior , a falta de competitividade das estatais e sua incapacidade de pagar funcionrios acarretam graves perturbaes sociais. Thomas Chan, coordenador do Centro Empresarial Chins na Politcnica de Hong Kong , com bases nos dados do governo chins , afirma que a inflao to alta do pas somente pode resultar numa aterrissagem dura da economia. Ele mostra o descompasso entre o crescimento de 5% no varejo e o crescimento industrial de 18% , o que significa falta de sustentao para a produo. H tempo que o governo fala que as estatais tm que andar com as prprias pernas, mas ningum assume porque a ameaa de desemprego iria provocar reaes violentas dos trabalhadores. Milhes j esto trabalhando e recebendo s meio salrio ou sem serem pagos. Milhes de camponeses e trabalhadores j so migrantes vagando pelas cidades em busca de emprego temporrio. A recesso prevista por Chan dos atuais 13% anuais para 4% resultaria num quadro alarmante. Principalmente agora, quando a crise poltica relacionada sucesso de liderana envolve brigas entre conservadores, liberais. As oposies regionais agora so enfrentadas com medidas mais brandas pelo governo central, a fim de no desmoralizar-se por no poder impor suas decises. Apesar desse quadro, ainda prevalece uma posio otimista quanto ao futuro da China . Jason Kwok, economista do Citibank em Hong Kong estima uma taxa de crescimento de 10% , mais realista do que a do ano anterior. Um funcionrio consular da rea econmica do Ocidente tem o mesmo otimismo de Kwok. S acha que h dficit na infra-estrutura no setor eltrico, rodovirio e ferrovirio. Os entendidos em poltica podem discutir se do interesse americano ou at dos chinesesver a economia chinesa ruir. O duro Clinton aps descumprir promessas de campanha no se importar com as infraes da China com relao aos direitos humanos e verificar depois que no h dinheiro para ser ganho. |
br94de25-11 | O efeito Gutenberg MARCELO LEITE Um leitor qualificado e perspicaz sugeriu-me outro dia uma pergunta difcil: como se comportar a Folha em relao ao governo Fernando Henrique Cardoso? No maniquesmo inerente ao jornalismo, s haveria uma alternativa: ou amor ou dio. A questo pertinente, dada a notria proximidade do jornal com o presidente eleito. At setembro de 1992, FHC mantinha uma coluna semanal na pg. 1-2, publicada s quintas-feiras. Tal relao de colaborao s foi interrompida porque o senador peessedebista se tornou chanceler de Itamar Franco. (Segundo praxe da Folha, um colunista no pode simultaneamente ocupar ou candidatar-se a cargo no Executivo. Nesta condio, sua coluna correria o risco de transformar-se em tribuna para defesa de um interesse privado a reputao como governante.) Fernando Henrique no foi o nico tucano a ocupar esse espao, conhecido na Redao como coluna vertical. Depois de amanh dever ser publicado o ltimo texto do futuro ministro do Planejamento Jos Serra. Pertinente, a questo no porm nova. O prprio retrospecto das colunas de ombudsman aponta para uma simpatia espria: Durante a campanha eleitoral, minha antecessora apontou fernandohenriquismo do jornal; Ao estrear, emiti a opinio de que este e outros dirios tinham mesmo henricado; A 30 de outubro, na coluna Lua-de-mel na Europa, critiquei a condescendncia da Folha com o presidente eleito. Quando FHC enfim se lanou ao primeiro ato de governo, montar seu ministrio, temi pelo pior. No episdio da escolha de Pedro Malan para ministro da Fazenda, intencionalmente vazada para reprteres, os jornais evidenciaram sua tibieza. Com arrogncia, FHC desqualificou as manchetes de 1 de dezembro, dizendo que era um ministrio Gutenberg (referncia a Johannes Gutenberg, que inventou a imprensa de tipos mveis no sculo 15). Ficou por isso mesmo. Em outras pocas, a Folha teria posto a boca no trombone, denunciando a tentativa de manipulao. FHC seguiu a seu modo a receita do seu sucessor na Fazenda, aquele premiado com a embaixada em Roma pela ajuda ao candidato: esconder o que ruim (as presses para indicar Serra no lugar de Malan) e faturar o que bom (a imagem favorvel de Malan). No ltimo dia 14, perguntei em minha crtica interna da edio documento distribudo diariamente na Redao se o termo loteamento tambm no se aplicaria s negociaes em curso, em especial as tratativas com o fisiolgico PMDB. Afinal, eram um tanto semelhantes s entabuladas por Itamar dois anos antes e desancadas pelo jornal. Dois dias depois, uma chamada na capa do jornal anunciava: FHC cede a presso e loteia ministrio. Ao elogiar a iniciativa crtica, no entanto, fiz uma ressalva: Faltou mencionar um ponto importante, na anlise das 'presses': FHC teria condies, sem contemplar PMDB, de fazer a reforma constitucional (ou pelo menos fiscal) exigida por todos, inclusive esta Folha? uma espcie de outro lado neste caso, da questo. A necessidade de criticar o emprego de mtodos polticos atrasados, como a distribuio de cargos, no desobriga de outra, a de eventualmente reconhecer que pode no haver outra moeda no mercado para negociar a estabilidade. A palavra-chave do comportamento que a Folha deve observar frente ao governo qualquer governo equilbrio. Sem simpatia nem rancor. O perigo das relaes estremecidas, como no caso FHC-Folha, so as hiper-reaes resultantes de encontres fortuitos. Foi o que sucedeu com o socilogo Luciano Martins, amigo de FHC e organizador de um convescote acadmico em Braslia. Na vspera do seminrio, ele tinha dado entrevista Folha e falado da crise do Estado-Nao, publicada sob ttulo Acabou o Estado nacional, diz tucano. Era um exagero, mas confesso que nem me chamou a ateno. Por vaidade, ou cioso das diferenciaes que matizam o pensamento, seu ofcio, Martins chiou. Em carta ao Painel do Leitor, exps suas divergncias e levou troco imediato, na forma de uma atordoante Nota da Redao: Por serem resumos extremamente condensados, os ttulos jornalsticos quase nunca comportam filigranas como esta que tanto preocupa o missivista. Para Luciano Martins, o conceito de Estado nacional no acabou, mas est em crise. E da? A imprensa deve melhorar seus ttulos, no h dvida. Mas os intelectuais agora transformados em aprendizes de polticos ajudariam muito se comeassem a falar de maneira categrica ou, pelo menos, clara. O reflexo desse destempero pde ser visto pelo pblico no prprio Painel do Leitor, 11 dias depois: quatro cartas de protesto, nenhuma de apoio ao jornal, nenhuma nova nota justificando ou se desculpando pela anterior. Os leitores esto certos. Se o jornal acha que intelectuais no tm nada de importante ou compreensvel para dizer, no deveria insistir em entrevist-los. Se entrevista, tem de cobrar clareza durante a conversa; depois, s lhe resta ser fiel ao que dizem. Atritos como esse so exceo. No geral, a relao entre tucanos e reprteres afvel. Sua melhor expresso o off, um acordo entre fonte e jornalista para manter a primeira no anonimato. Na ltima tera-feira, o colunista Lus Nassif levantou questes pertinentes sobre o abuso dessa modalidade de investigao. Seu alvo eram as muitas reportagens abusivamente atribudas famosa equipe econmica. Aproveitei a deixa para anotar que a distoro afetava grande parte, talvez a maior, do noticirio sobre o governo Itamar Cardoso. No caso deste jornal, sem que as reportagens respeitassem norma do Novo Manual da Redao, que manda identificar o off com a expresso a Folha apurou. Foi o caso, entre outros, da notcia sobre a escolha de Malan para a Fazenda (ironizada e depois confirmada). E tambm da indicao de Bresser para o Itamaraty (manchetada e depois revista). Trata-se de uma distoro, sim. Embora a prtica jornalstica brasileira sugira o off como ferramenta bsica de reprteres, ele contraria o direito informao. Deve ser encarado como exceo, e nunca oferecido pelo prprio reprter, muito menos aceito, se o confidente no tiver motivos slidos para manter-se em sigilo. No me parece que o anncio a conta-gotas do ministrio possvel de FHC, todo ele em off, se enquadre nessa exigncia. A identificao da fonte crucial para a credibilidade de uma informao. O jornalista que admite a exceo no pode esconder do leitor que se trata de um off, pelo simples fato de que o interesse no anonimato pode comprometer aquilo que se revela. Afinal, no foi para esconder informaes que Gutenberg inventou a imprensa. O ombudsman estar de folga at o dia 2. Se voc tiver alguma reclamao, deixe recado na secretria eletrnica ou mande fax. Na volta, respondo. | O efeito Gutenberg -- MARCELO LEITE Um leitor me sugeriu uma pergunta difcil: como se comportar a Folha em relao ao governo Fernando Henrique Cardoso? Se o jornalismo maniquesta, s podia ser de amor ou dio. Faz sentido a pergunta , j que a coluna semanal de FHC na Folha condicionava uma proximidade com o jornal. Com a sua nomeao a chanceler, interrompeu-a , seguindo praxe da Folha. No foi o nico tucano a ocupar esse espao. E o retrospecto que fiz em gesto anterior do meu cargo mostrou compadrio durante a campanha eleitoral, relao que eu critiquei na Folha e em outros dirios. Na escolha de Pedro Malan para o ministrio da Fazenda, houve vazamento intencional imprensa. Dada a indiferena dos jornais , Fernando Henrique reagiu com arrogncia. Se fosse em outras pocas, a Folha teria retrucado duramente. Na minha crtica interna ---documento distribudo diariamente na Redao--- , ao tratar da questo de indicao de cargo, perguntei se o loteamento no estava sendo includo nas negociaes com o PMDB, como tinha ocorrido antes no governo Itamar procedimento to criticado pela Folha O resultado veio dois dias depois: FHC cede a presso e loteia ministrio. Elogiei a iniciativa , mas com uma ressalva : a de que a crtica aos mtodos atrasados de distribuio de cargos deveria ser acompanhada do reconhecimento de , s vezes,no h outro caminho para negociar a estabilidade. O estremecimento das relaes entre FHC e Folha resultou num desdobramento indigesto: o socilogo Luciano Martins, amigo do presidente , falou numa entrevista ao jornal sobre crise Estado-Nao. O ttulo que saiu foi Acabou o Estado nacional. A divergncia do socilogo quanto interpretao mereceu uma resposta despropositada. O reprter disse que era impossvel resumir um texto e contemplar , ao mesmo tempo, idias menores como aquela que o missivista reclamava. E acrescentou que, se a imprensa deve melhorar seus ttulos, os intelectuais aprendizes de poltico deviam expressar-se com mais clareza. Os prprios leitores no apoiaram a Folha, com o que concordo. Se o jornal acha que eles no tm algo importante a dizer , no deve entrevist-los. No entanto, esses atritos no acontecem sempre entre o jornal e os tucanos. At , com mais freqncia do que seria esperado, os reprteres preservam o anonimato dos entrevistados. |
co94jl07-23 | Escolas conseguem lucro mdio de 7,52% Consultor afirma que resultado 'mais que razovel'; dono de escola diz que situao no to boa PAULO SILVA PINTO Da Reportagem Local Escolas de So Paulo tiveram lucro mdio de aproximadamente 7,52% sobre seu faturamento em maio, segundo a CNA Consultores, que atende 70 estabelecimentos de ensino de pr-escola ao 2 grau. Para julho, a previso dos consultores de que isso deve diminuir um pouco porque desaparece o ganho financeiro dos prazos de recolhimento de impostos (veja quadro ao lado). Mas, se no houver despesas imprevistas, vai sobrar dinheiro do item reserva, resultando em nmeros prximos aos de maio. Em abril a rentabilidade foi de 8,46% e em maro, de 15,19%. Para Mrcio Orlandi, 51, da Fundamental Research Consultoria, que atende empresas de outros setores, o resultado apresentado pelas escolas pode ser considerado mais que razovel. Para a avaliao ele considera o baixo risco financeiro da escola muito difcil uma fuga em massa dos alunos e da receita de um ms para outro e um risco civil um pouco maior so muitas crianas e adolescentes sob responsabilidade dos proprietrios. Mas Orlandi acha que o resultado s possvel em um modelo de escolas particulares como o brasileiro, em que predominam instalaes adaptadas em prdios alugados e improvisados para a escola. O lucro sobre patrimnio tambm bem superior ao que paga o mercado financeiro. Sobre o capital empatado do Colgio Oswald de Andrade, por exemplo, de US$ 100 mil, houve retorno de US$ 70 mil (70%) no ano passado, acima da mdia do mercado financeiro. O overnight est hoje com juros projetados para 45% ao ano. Eugnio Cordaro, 40, um dos proprietrios da CNA e do colgio Oswald de Andrade, acha, porm, que a situao no to atraente assim. Do que recebemos, tivemos que investir US$ 50 mil s em informtica com fins educacionais. Quem no fizer isso neste momento vai ficar para trs, afirma. Alm disso, no so todas as escolas que conseguem manter uma situao to estvel. Dois teros dos seus clientes da CNA esto com lucro abaixo da mdia. o caso da escola B (veja quadro ao lado), que no permitiu a divulgao de seu nome e deve fechar o ano no vermelho. Cinco das 70 escolas atendidas pela CNA esto venda desde o incio do ano, sem encontrar compradores. O consultor Joo Paulo Nogueira, 40, um dos proprietrio da CNA, afirma que pelo menos a situao financeira dos estabelecimentos de ensino melhorou. H seis anos a maioria era deficitria. Mas, para Mauro de Salles Aguiar, diretor do Colgio Bandeirantes, um indicador de que escolas continuam no sendo um negcio dos mais atraentes do mercado a ausncia de novos investimentos por parte de pessoas de fora do setor. A disparidade entre o lucro das escolas ocorre pela variao de custos que influem na qualidade mas podem no ser claros aos pais. Alm de equipamentos, h o preo da hora-aula, trabalho fora das classes (no Bandeirantes 45% da remunerao de professores para atividades como preparo de laboratrios e programas de computador etc). Entre as escolas que esto com lucro acima da mdia, h resultados supreendentemente altos, como o da escola A (que tambm no permitiu a identificao), com uma rentabilidade de 47% sobre seu faturamento. Se a remunerao dos scios fosse menor, ela daria lucro at com a MP 524 aquela que foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal e diminua em 50% a mensalidade das escolas. O presidente do Sieeesp (sindicato das escolas particulares de So Paulo), Jos Aurlio de Camargo, 45, diz que no conhece nenhuma escola nesta situao. O Sieeesp no pede a seus associados as planilhas de custos. A lucratividade resultado de competncia gerencial e indispensvel para novos investimentos, afirma. Segundo o Conselho Estadual de Educao, desde 1991 as escolas esto desobrigadas, por lei federal, a apresentar ao rgo suas planilhas de custos. | Escolas conseguem lucro mdio de 7,52% Consultor afirma que resultado mais que razovel ; dono de escola diz que situao no to boa PAULO SILVA PINTO --- Da Reportagem Local Escolas de So Paulo tiveram lucro mdio de aproximadamente 7,52% sobre o faturamento em maio.Em abril foi de 8,46$ e maro , de 15,19% , resultado mais que razovel , segundo o consultor Mrcio Orlandi, da Fundamental Research Consultoria. Para julho , a previso dos consultores de que diminua . Mas Orlandi acha o resultado s possvel no modelo, em predominam as escolas em prdio alugado. O lucro sobre o patrimnio tambm supera o mercado financeiro. Dos US$100 mil empatados no Colgio Oswald de Andrade houve um retorno de US$70 mil. Eugnio Cordaro , um dos proprietrios do CNA e do colgio Oswald de Andrade no considera to atraente a situao. Do que recebemos , tivemos que investir US$ 50 mil s em informtica com fins educacionais. Dois teros dos seus clientes esto abaixo da mdia. Cinco das 70 a que presta servios esto venda. Para o direitor do Colgio Bandeirantes , Mauro de Salles Aguiar, um sinalizador de que no tem sido um mercado to atraente a pequena presena de novos investidores. Alm dos equipamentos, h as horas-aula , trabalho fora de classe. Uma das felizardas teve lucro de 47% sobre o faturamento. Daria lucro at com a MP524, que diminua a mensalidade em 50% , se a remunerao dos scios fosse menor. Jos Aurlio de Camargo , presidente da Sieeesp( sindicato das escolas particulares de So Paulo) diz no conhecer nenhuma escola nessa situao. |
ce94jl31-b | Apesar do consenso sobre a necessidade de reformular a Previdncia Social, as propostas hoje em discusso apresentam pontos divergentes. Para que as mudanas sejam feitas, o Congresso ter que realizar mudanas na Constituio. A criao de um sistema bsico e pblico de previdncia tem o apoio de parlamentares de diversos partidos. O sistema bsico concederia benefcios apenas para quem contribui. As divergncias surgem no momento de definir, por exemplo, qual o valor mximo do benefcio do sistema bsico. Variam de um a dez salrios mnimos. A proposta da Fiesp (Federao das Indstrias do Estado de So Paulo) prev a criao do VRS (Valor de Referncia Social), igual a um salrio mnimo na data da reforma. A partir da, o seu valor seria corrigido pela variao do custo de uma cesta bsica. O benefcio do regime bsico seria at trs VRS e custeado unicamente pelo trabalhador. A Febraban (Federao Brasileira das Associaes dos Bancos) defende um regime bsico com benefcios at dois salrios mnimos. A CUT (Central nica dos Trabalhadores), por sua vez, defende que o valor mximo dos benefcios do sistema bsico seja equivalente a dez salrios mnimos, o equivalente hoje a cerca de R$ 650. No caso da aposentadoria por tempo de servio, a tendncia criar no seu lugar um sistema misto. Apenas sete pases em todo o mundo adotam o sistema de aposentadoria por tempo de servio, entre eles o Brasil. A idia do sistema misto levar em conta a idade e o tempo de contribuio do trabalhador para a Previdncia. o caso, por exemplo, da frmula 95, apresentada por Wladimir Martinez, especialista no assunto. Por ela, o trabalhador se aposentaria quando a soma de sua idade e do tempo de contribuio fosse igual a 95. O deputado Reinhold Stephanes (PFL-PR), ex-ministro da Previdncia, prope que os critrios de aposentadoria sejam iguais para os homens e para as mulheres. Para ter direito aposentadoria por tempo de servio, o trabalhador precisaria de 40 anos de contribuio. A aposentadoria por idade seria concedida aos 62 anos e 35 anos de contribuio. A CUT quer a manuteno da aposentadoria por tempo de servio. A extino da aposentadoria por tempo de servio defendida pela Fora Sindical. A Febraban defende a aposentadoria por idade aos 63 anos para ambos os sexos. Outro ponto polmico a fonte de financiamento da Previdncia. A CUT quer manter a contribuio atual das empresas. A Fiesp prope que a contribuio previdenciria do empregador seja eliminada. A proposta da Febraban prev o financiamento atravs de contribuio dos segurados e das empresas at a faixa de dois salrios mnimos. As alquotas seriam diferenciadas de acordo com o tipo de benefcio, totalizando 22% para ser dividida entre empresa e empregado. A proposta baseada no modelo chileno prev um regime de capitalizao. Haveria contribuies individuais dos trabalhadores e um seguro obrigatrio de riscos e enfermidades ocupacionais. O regime seria obrigatrio para os empregados e facultativa para os trabalhadores autnomos. Para o homem se aposentar aos 65 anos e a mulher aos 60 anos, seria necessrio estarem filiados ao sistema h pelo menos 20 anos. O valor mnimo do benefcio corresponderia a 85% do menor valor base de contribuio para indviduos com menos de 70 anos e de 90% para quem estiver acima dessa idade. Para penso, o valor mnimo de 85% do menor valor base de contribuio. Est previsto ainda um benefcio de carter assistencial para a populao carente. Seria de 50% da penso mnima. No haveria aposentadoria por tempo de servio. Seriam adotadas as mesmas regras para os servidores pblicos. Para viabilizar as mudanas na Previdncia, sero necessrias mudanas na Constituio aprovada em 1988. | Apesar do consenso sobre a necessidade de reformular a Previdncia Social, as propostas em discusso apresentam pontos divergentes. Por exemplo, se h bastante consenso sobre a criao de um sistema bsico e pblico, que beneficiaria apenas quem contribui, h divergncia quanto definio do valor mximo do benefcio. As classes patronais propem menos ( Fiesp, um salrio mnimo na data da reforma; Febraban, at dois salrios); a Central nica dos Trabalhadores - CUT - defende at 10 salrios mnimos como valor mximo do regime bsico. Para substituir o sistema de aposentadoria ---que funciona s em sete pases, entre os quais o Brasil--- a tendncia criar um sistema misto ---idade e tempo de contribuio. O especialista Wladimir Martinez , criador da frmula 95, defende que o trabalhador se aposente quando a soma da sua idade e do tempo de contribuio 95. O deputado Reinhold Stephanes prope critrios iguais para homens e mulheres. A CUT e a Fora Sindical pensam diferentemente: a primeira quer a aposentadoria por tempo de servio; a segunda defende sua extino A fonte financiadora outro ponto de discordncia. A CUT quer manter a contribuio atual das empresas. A Fiesp, no. A Febraban defende a contribuio de segurados e empresas , at a faixa de dois salrios mnimos. H ainda a proposta baseada no modelo chileno, uma forma de capitalizao , com contribuies individuais e um seguro obrigatrio . Esse regime seria obrigatrio para os empregados e facultativo para os autnomos. Tambm prev o valor mnimo do benefcio para os contribuintes e um valor menor, de carter assistencial, para os carentes. |
co94ma15-03 | Novo presidente do TJ quer agilizar Judicirio paulista nfase maior na proximidade do juiz com a comunidade tambm meta YURI CARAJELESCOV Free lance para a Folha O novo presidente do Tribunal de Justia (TJ) de So Paulo, desembargador Jos Alberto Weiss de Andrade, 68, quer dinamizar a atuao do Poder Judicirio paulista. O Poder Judicirio deve tomar decises mais rpidas e que atendam ao interesse da populao. Weiss de Andrade juiz h mais de 40 anos e j foi presidente do Tribunal de Alada Criminal (1980/81), corregedor-geral da Justia (1992/93), duas vezes diretor da Escola Paulista de Magistratura (1988 e 1990) e vice-presidente do TJ. Eleito com o voto de 92 dos 132 desembargadores do Estado, Weiss de Andrade substitui Francis Davis, que se aposentou em abril. Seu mandato termina no final de 95. Alm de dinamizar o atendimento jurisdicional, daremos nfase a uma maior proximidade do juiz com a comunidade, afirmou. Para o presidente, a implantao dos Juizados de Pequenas Causas representa a principal forma de garantir essa aproximao. Os Juizados de Pequenas Causas tm procedimento informal. As partes em conflito no precisam de advogados, o pedido pode ser formulado oralmente e prevalecem as tentativas de acordo. Hoje, apenas as demandas que no excederem 20 salrios mnimos (cerca de 1.280 URVs) so apreciadas por esse juizado. Weiss de Andrade sugere ainda uma mudana de mentalidade dos juzes. Para ele, os juzes existem para servir a populao e no o contrrio. A funo dos magistrados deve ser a de solucionar os conflitos, promovendo a pacificao social. O presidente criticou a postura de juzes que no recebem as partes ou seus advogados. dever dos juzes receber os advogados e as partes. Eventuais irregularidades a este respeito devem ser denunciadas. Como chefe do Poder Judicirio de So Paulo, Weiss de Andrade disse que exercer atividades polticas de representao, diferenciadas da atuao partidria. A atividade poltica do presidente do TJ deve ser entendida num sentido amplo, sem significar atividade poltico-partidria. Alm das atribuies gerais de dirigente da Magistratura do Estado, o presidente do TJ tem funes previstas no artigo 193 do regimento interno do tribunal e leis de organizao judiciria. Problemas Segundo Weiss de Andrade, o maior problema enfrentado pelo Judicirio a falta de recursos humanos e materiais. No conseguimos preencher a maior parte das vagas que oferecemos nos concursos para juiz porque os candidatos so despreparados tecnicamente. A morosidade do Judicirio deve ser combatida com medidas conjugadas. Alm da informatizao, preciso simplificar as regras procedimentais e aumentar o nmero de juzes para proferir decises, disse o desembargador. Em uma sociedade com mltiplas carncias, naturalmente os problemas se avolumam e, por consequncia, exigem solues em maior nmero. O Judicirio no cria problemas, apenas os resolve lembrou. Para o presidente do TJ, com a instabilidade econmica e social por que passa o pas aumenta o nmero de pessoas que procuram socorro no Judicirio. Democratizao O Poder Judicirio no precisa ser democratizado, isso porque, segundo Weiss de Andrade, o Judicirio j democrtico. `O ingresso na magistratura feito por concurso pblico, aberto a todas as pessoas interessadas, desde que possuam os requisitos tcnicos (formao jurdica) exigidos na Constituio. Na mesma linha de argumentao de outros chefes do Judicirio, o desembargador criticou a proposta de controle externo do Poder Judicirio. Para ele, corre-se o risco de ingerncia nas decises e liberdade dos juzes, que constitui a maior garantia do cidado. J existe controle disciplinar interno eficaz, exercido pelas corregedorias, e controle administrativo externo, feito pelo Tribunal de Contas. Alm disso, a experincia de controle externo em outros pases mostrou-se nefasta, disse. Corrupo A regra geral a probidade dos magistrados. Os casos isolados, objetos de denncia, tm sido prontamente apurados pela corregedoria, afirmou. O Poder Judicirio apura os casos de corrupo dos juzes atravs da atividade de suas corregedorias. H a necessidade de denncia e prova efetiva de irregularidades praticadas. A garantia da transparncia do Judicirio est na lei, segundo o desembargador. Todas as audincias so pblicas e de livre acesso a qualquer interessado, salvo aquelas em que a prpria lei exige segredo de justia. A fiscalizao administrativa exercida pelo Tribunal de Contas foi lembrada por Weiss de Andrade como outra forma de se garantir a transparncia do Judicirio. Sobre o sentimento de impunidade da sociedade brasileira, o desembargador declarou que o Judicirio tem contribudo para diminu-lo. | Novo presidente do TJ quer agilizar Judicirio paulista nfase maior na proximidade do juiz com a comunidade tambm meta YURI CARAJELESCOV (Free lance para a Folha) O novo presidente do Tribunal de Justia de So Paulo, desembargador Jos AlbertoWeiss de Andrade, quer dinamizar o Poder Judicirio paulista. Alm disso, aproximar o juiz da comunidade. A melhor forma para isso a implantao dos Juizados de Pequenas Causas, em que as partes no precisam de advogados, a formulao do pedido oral e as tentativas de acordo predominam. Ele prega a necessidade de mudana da mentalidade dos juzes, esclarecendo que eles devem servir comunidade e no o contrrio; e que sua funo solucionar conflitos visando a harmonia social.E critica os juzes que no recebem as partes e os advogados. Segundo o presidente, o maior problema do Judicirio a carncia de recursos humanos e de materiais, que redunda em morosidade e na conseqente acumulao de processos. Tambm de acordo com ele, o Poder Judicirio no precisa ser democratizado , porque j . E alega que o acesso magistratura feito por concurso pblico, aberto a todas as pessoas. E no concorda com a proposta de controle externo, at porque a experincia em outros pases foi nefasta. Quanto corrupo no Judicirio, diz limitar-se a casos isolados , que so apurados pelas corregedorias. E tenta confirmar a probidade dos magistrados dizendo que todas as audincias , salvo casos especficos, so abertas a quem quiser. |
mu94de04-c | Franois Mitterrand quer ser lembrado como o grande construtor da Europa. Alguns erros polticos e revelaes sobre seu passado ameaam abalar essa imagem. Sofrendo de cncer na prstata, Mitterrand vive dias difceis no fim de seu mandato e de sua vida. Sua ligao com a extrema direita na juventude, revelada este ano -em parte, por vontade do prprio presidente, que quer acertar contas com seu passado-, chocou os franceses. Mitterrand definiu suas posies do passado como erros da juventude. O fato que, aps a guerra, aos poucos ele se imps como lder da esquerda e maior adversrio do general Charles de Gaulle. Faanha Em 1965, aos 49 anos, ele alcanou a faanha de levar De Gaulle ao segundo turno da eleio presidencial. Quatro anos depois, os socialistas preferiram escolher Gaston Defferre como candidato e naufragaram, com apenas 5% dos votos. Mitterrand retomou as rdeas do partido em 1971, no congresso de Epinay. No ano seguinte, assinou com o Partido Comunista o programa comum da esquerda. A aliana durou cinco anos e s beneficiou os socialistas, que roubaram boa parte do eleitorado cativo dos comunistas. Foi com a ajuda desses votos que, finalmente, Mitterrand alcanou seu objetivo, derrotando por pouco Valry Giscard d'Estaing na eleio presidencial de 1981. Em 1988, foi reeleito facilmente. Aps dois anos de coabitao com Jacques Chirac, um premi de direita, Mitterrand bateu o prprio Chirac no segundo turno. O balano de seus dois mandatos polmico. Para uns, foi um perodo de paz em que a Frana enriqueceu; para outros, a maioria dos compromissos de campanha foi esquecida. Mesmo esquerda, muitos o vem como um homem obcecado pelo poder e impiedoso. Vacilaes Na poltica estrangeira, algumas vacilaes marcaram os ltimos anos do seu governo. O presidente no percebeu a tempo a queda do comunismo: no previu a queda do Muro de Berlim em 1989, e chegou a flertar com os golpistas de Moscou em 1991. Apesar de criticado por seus adversrios, devido s contradies que marcaram sua carreira, Mitterrand se manteve coerente em pelo menos um ponto: a defesa da Unio Europia. J em 1951, durante um congresso socialista, o futuro presidente dizia que nada possvel, muito menos a paz, se a Frana no for o agente da Europa. Treze anos depois, Mitterrand escreveu: Creio que a Europa corresponde vontade da histria. Em 1973, ameaou renunciar liderana do partido, dividido entre pr e antieuropeus. Em 1992, o presidente reviveu seus grandes momentos de campanhas do passado ao se engajar na luta pela aprovao em plebiscito do tratado de Maastricht, que prev a moeda nica na Europa. Mitterrand aceitou participar de um debate na televiso contra Philippe Sguin, deputado conservador que se opunha ao tratado. Apesar da diferena de idade (75 anos contra 49, poca), Mitterrand se mostrou jovial e foi considerado vencedor. O tratado foi aprovado por pequena margem. Mas h setores que se opem unio sem fronteiras. A Frana foi a principal responsvel pelo adiamento da livre circulao de pessoas no interior da Comunidade, prevista para janeiro de 95. O motivo alegado foram dificuldades para implantar o banco de dados de todas as polcias europias, em Estrasburgo. Os franceses receiam o trfico de drogas e a imigrao clandestina. Por fim, os agricultores so a classe social que mais se ope UE. Eles se queixam do fim de vrios subsdios, extintos por Bruxelas. comum encontrar espantalhos com cartazes de protesto nas estradas do interior francs. | Apesar de ser um produto da direita na juventude, Franois Mitterrand se definiu politicamente na esquerda. Em 1965, levou o cultuado De Gaulle ao segundo turno. Quatro anos depois, foi preterido pelos socialistas, que escolheram Gaston Defferre e perderam. Continuou a militncia e , na eleio presidncia em 1981, venceu Giscard dEstaing , com a ajuda de votos do eleitorado comunista.. Facilmente, ainda foi reeleito em 1988. polmica a avaliao de seus dois mandatos: para uns , foi um perodo de paz e prosperidade; para outros, ele esqueceu a maioria das promessas de campanha. Sua postura poltica em relao ao mundo mostrou alguns equvocos: por exemplo, o de no ter percebido a queda do muro de Berlim e o de ter flertado com os golpistas de Moscou em 1991. No entanto, manteve coerncia na defesa da Unio Europia. Tanto que, em 1992, se engajou na luta pela aprovao do plebiscito do tratado de Maastricht, que aprovaria a moeda nica na Europa. O caminho para a estruturao da unidade europia no foi pacfico: a prpria Frana relutou em aceitar de imediato a livre circulao em todo o territrio europeu. verdade que com um argumento pondervel: no estava ainda implantado o banco de dados das polcias europias, que fiscalizaria o trfico de drogas e a imigrao clandestina. O setor agrcola francs foi o que mais se ops formao da UE, pois receava a extino de vrios subsdios |
td94ja22-01 | Preo de material escolar supera inflao Pesquisa da Sunab mostra que variao em lojas de So Paulo atinge at 1.433%; perspectiva de preos altos MRCIA DE CHIARA Da Reportagem Local Tanto o material escolar como o livro didtico bateram a inflao em 93. A perspectiva de que os preos continuem em alta durante as prximas semanas, quando a procura cresce por causa da volta s aulas. A disparidade de preos grande atinge 1.433% para o papel almao em So Paulo, informa a Sunab. O Procon afirma que o preo mdio de 81 itens da lista de material escolar subiu 2.778,30% nos ltimos doze meses para uma Taxa Referencial (TR) acumulada de 2.594,85%. A Fipe aponta alta de 2.598,68% para o material escolar e de 3.269,90% para o livro didtico. A inflao acumulada foi de 2.490,99% em 93. Na segunda quadrissemana encerrada em 15 de janeiro, por exemplo, o material escolar subiu 41,56% e o livro didtico 55,83%, para uma inflao de 40,35% apurada pela Fipe. Mas os varejistas dizem que o preo real igual ao do ano passado. Antonio Martins Nogueira, 53, presidente do Sindicato do Comrcio Varejista de Materiais de Escritrio e Papelaria de So Paulo, no tem estatsticas. Ele afirma que o preo real do caderno recuou cerca de 10% em relao a 93. Essa queda resultado da entrada de novos fabricantes nacionais e dos importados no mercado. Alm disso, a indstria reduziu a variedade de capas para cortar custos e aumentar a competitividade. Caio Coube, 36, presidente da Tilibra, que produz cadernos e material de papelaria, conta que reduziu de 150 para 102 o nmero de itens fabricados. No queremos reajustes de preos acima da inflao, diz Jos Milton Dallari, assessor especial do Ministrio da Fazenda. Segundo apurou entre os prprios fabricantes do setor, o preo do caderno est dolarizado desde outubro, o que facilita a adoo da URV. O livro didtico subiu 40% acima da inflao entre dezembro e janeiro. Mas um aumento sazonal que no deve se repetir, diz Dallari. Mesmo assim, ele recomenda pesquisar preos, pois a disparidade do mesmo produto entre lojas significativa. O papel almao e o giz de cera lideram o ranking dos itens com maior diferena de preos em duas pesquisas realizadas nesta semana em So Paulo. Levantamento da Sunab constatou variao de 1.433% no preo de 10 folhas de papel almao entre as papelarias Saraiva do shopping Paulista (CR$ 60) e Dux do shopping Morumbi (CR$ 920). Pesquisa do Procon revela diferena de 625% para o mesmo produto. A caixa com 12 unidades de giz de cera foi encontrada com diferena de 580% entre as papelarias EB (CR$ 250) e Universal do shopping Penha (CR$ 1.700), ambas da zona leste, segundo a Sunab. Os nmeros do Procon indicam variao de 476,5%. | Preo de material escolar supera inflao Pesquisa da Sunab mostra que variao em lojas de So Paulo atinge at 1.433%, perspectiva de preos altos MRCIA DE CHIARA Da Reportagem Local Material escolar e livro didtico superaram a inflao em 93. Segundo a Sunab , os preos do papel almao em So Paulo variaram em at 1.433%. O Procon constatou que , nos doze ltimos meses, 81 itens do material escolar subiram 2.778,30% , para uma TR acumulada de 2.594,85%. Os varejistas contestam dizendo que o preo real igual ao do ano passado. Antnio Martins Nogueira, presidente do sindicato do ramo, informa que o preo do caderno recuou aproximadamente 10% em relao a 93resultado da competio de fabricantes nacionais e dos produtos importados. Tambm a indstria diminuiu a variedade de capas . Segundo apurou Jos Mlton Dallari, assessor especial do Ministrio da Fazenda, o aumento de 40% acima da inflao do livro didtico foi sazonal . Mas recomenda pesquisar preos, pois h variaes inexplicveis , como o caso observado do papel almao. |
in96ju10-a | GDANSK, POLNIA - Os estaleiros de Gdansk, no norte da Polnia, de que emergiram ao poder o Sindicato Solidariedade e seu primeiro lder, o ex-eletricista e ex-presidente Lech Walesa, no resistiram mar capitalista. No sbado passado, a junta geral de acionistas decidiu pela liquidao da Stocznia Gdanska SA, bero histrico da luta contra o regime comunista polons a partir dos anos 80. A companhia vai falncia afogada em dvidas que podem chegar a US$ 110 milhes. Em seu lugar, o governo, que detm 60% das aes, pretende criar uma empresa que funcione por 12 meses, apenas para terminar cinco navios em construo. Para Walesa, que voltou simbolicamente a ocupar o cargo de eletricista aps perder, para os ex-comunistas, as eleies presidenciais de novembro de 1995, tudo no passa de uma manobra poltica. Finalmente, os ex-comunistas sentem a satisfao de liquidar os estaleiros de Gdansk, disse, ontem, Walesa, que liderou, em 1980, a criao, dentro as instalaes da companhia, do primeiro sindicato livre do Leste Europeu. Naquele ano, o Sindicato Solidariedade seria reconhecido por fora de uma greve geral que abalou o governo comunista. No ano seguinte, com a decretao de lei marcial, o movimento foi reprimido, e Walesa, preso. Protestos - Ainda assim o Solidariedade seria o motor das reformas democrticas na Polnia e, de algum modo, inspirao para a queda do socialismo em todo a Europa socialista no final da dcada. Em 1989, o movimento voltou legalidade e ganhou fora de partido. Walesa, que encabeou o Solidariedade por 10 anos, chegou presidncia da Repblica em 1990. O ex-presidente prometeu apoiar as manifestaes contra a falncia dos estaleiros, que os operrios - detentores de 40% das aes da empresa - prometem levar s ruas. Mas Walesa, que atualmente se ocupa de proferir palestras mundo afora, recusou-se a lideras protestes. Diriam que revanche. Mas, no lugar dos operrios, lutaria pelos estaleiros. Naturalmente, com mtodos pacficos, disse Walesa, que acusou o governo de nada ter feito pela empresa. O chefe do sindicato dos operrios de Gdansk, Jersy Borowczak, disse que os trabalhadores promovero passeatas e bloquero estradas. H meses, os operrios vm recebendo salrios com atraso e em parcelas. Amanh, devero receber 65% do salrio de maio. Somente a bancos e companhias locais, os estaleiros devem US$ 56 bilhes. Ao decidir pela falncia - com que condordaram 79% dos acionistas -, a junta alegou falta de dinheiro para cobrir as perdas da companhia no ltimo ano, estimadas em US$ 31,7 milhes. Os estaleiros tinham 18 navios encomendados por um total de US$ 580 milhes. Cinco estavam em construo, e o governo polons no descarta pretende criar uma empresa sobre as runas econmicas do velho complexo. O novo estaleiro deve herdar apenas 3 mil dos 7.300 operrios da antiga companhia. A previso de que funcione apenas por um ano, proibido de aceitar novos contratos. Ainda assim, nasce com os mesmos problemas da empresa que faliu: depende de que bancos financiem a construo dos navios e cubram as eventuais perdas. | Os estaleiros de Gdansk , que ascenderam ao poder o Sindicato Solidariedade e Lech Walesa , est em vias de liquidao , por questes econmicas. Dali surgiu a luta histrica contra o regime comunista polons e um lder operrio, que comandou o sindicato por dez anos, e que chegou presidncia do pas. O ex-presidente prometeu apoiar as manifestaes contra a falncia do Solidariedade , mas , agora empenhado em fazer palestras pelo mundo afora, diz que no vai liderar os protestos , at porque isso soaria como revanche. Mas , no lugar dos operrios, lutaria pelos estaleiros; naturalmente, com mtodos pacficos. O chefe do sindicato dos operrios, Jersy Borowczak, disse que os operrios, sem receber h meses, promovero passeatas. Diante dessa tendncia falimentar dos estaleiros, o governo v como sada a criao de uma nova empresa que cumpra a produo de 18 navios encomendados , mas que no aceite novos contratos e que , portanto , no sobreviva a um ano. |
di94ju29-24 | A ncora monetria do real MRCIO G.P. GARCIA A partir da reforma monetria de 1 de julho a inflao certamente cair abruptamente. Para mant-la em nveis reduzidos, o governo recorrer a uma ncora monetria. A ncora monetria consistir em um conjunto de regras que limitar a emisso monetria pelo Banco Central (BC). Sobre a efetividade dessa ncora em manter baixa a inflao pairam algumas ameaas. A mais notria delas so as presses por maiores gastos pblicos. H, contudo, uma outra ameaa que advm do mecanismo operacional adotado pelo BC nas ltimas duas dcadas para conviver com a inflao. O regime de poltica monetria atualmente em vigor caracterizado pelo BC ter como principal objetivo de poltica monetria manter o juro real do mercado de reservas bancrias (open market) em um nvel que o BC considera adequado. Este nvel adequado no deve ser to alto de forma a impingir um custo muito elevado ao Tesouro, nem deve ser to baixo de forma a provocar fuga da moeda nacional. Tal objetivo atingido atravs das operaes dirias de compra e venda de ttulos que o BC realiza no open market, inclusive a famosa zeragem automtica. Uma das funes que a zeragem automtica realiza a de prover liquidez a baixo custo a bancos que necessitem de reservas ao final do dia. O objetivo de fazer uma dada taxa real de juros torna a oferta de moeda completamente endgena e passiva, o que uma condio sine qua non para a exploso inflacionria que observamos no Brasil. Note-se que no a fixao da taxa real de juros em geral que torna passiva a oferta monetria. Uma regra de fixao da taxa real de juros que elevasse suficientemente a taxa real sempre que a expectativa inflacionria subisse seria compatvel com um controle da oferta de moeda. Por exemplo, a poltica monetria do banco central dos EUA equivale a uma regra de fixao de taxas de juros real. Toda vez que a expectativa inflacionria se eleva em 0,5%, o banco central norte-americano eleva a taxa de juros real tambm em 0,5%, subindo a taxa de juros nominal em 1%. O que torna a oferta monetria passiva no Brasil a forma especfica de fixao da taxa real de juros que o BC segue, no elevando, ou elevando insuficientemente, os juros reais quando se eleva a expectativa inflacionria. Quando a inflao atinge os nveis elevadssimos atuais, o controle desta via elevao de juros reais torna-se invivel. Mas, para que a inflao permanea baixa aps o impacto inicial da reforma monetria, imprescindvel que a passividade da oferta monetria seja rompida. Esta deve ser uma das funes da ncora monetria. Quando a inflao cair aps 1 de julho, a demanda por M1 (a soma de depsitos em conta corrente com o papel moeda) certamente crescer. Esse aumento da demanda por moeda exige um aumento correspondente da oferta de moeda. Tal aumento da oferta de moeda no inflacionrio, pois apenas atende ao aumento da demanda. O problema que ningum sabe a quanto subir a demanda de moeda. Assim, fica difcil dizer a priori quando dever ocorrer de expanso da oferta monetria. Se expandir pouco, os juros ficaro desnecessariamente altos, diminuindo o nvel de atividade. Se expandir demais, os juros caem e a inflao recrudesce (o caso do Plano Cruzado). A ameaa que reside na implementao da meta monetria trimestral deriva do carter de quase-moeda que tm atualmente os FAFs e demais fundos. A poltica do BC acima descrita de fixar a taxa real de juros a responsvel pela proviso de liquidez a tais fundos. E precisamente a proviso de liquidez s cotas de tais fundos que permite economia brasileira funcionar com um grau de monetizao (M1/PIB) mais de dez vezes inferior ao registrado nos EUA. A queda da inflao que ocorrer com a reforma monetria aumentar a demanda por M1. De quanto ser tal aumento depender em grande medida da poltica monetria do BC. Explico atravs de meu prprio exemplo. Atualmente, mantenho meu salrio num fundo do banco mais prximo da PUC-Rio. medida que emito cheques, o banco retira os recursos necessrios do fundo, transferindo-os para minha conta corrente. Isso s possvel porque o banco sabe que pode obter liquidez barata do BC, vendendo os ttulos pblicos quando precisar de reservas bancrias sem grande perda de capital. Se tal procedimento de prover liquidez barata aos bancos no for alterado pelo BC, o banco no precisar me impor nenhuma restrio adicional, nem eu precisarei mudar meu cmodo comportamento atual. Assim, aps a queda da inflao com a reforma monetria, eu apenas andarei com um pouco mais de dinheiro na carteira (nem tanto, pois moro no Rio de Janeiro!). Se as demais pessoas e as firmas tampouco alterarem seus comportamentos atuais, no haver um grande aumento na demanda por M1. Isto pode parecer bom, pois manteria a oferta de moeda abaixo da meta estipulada. Na realidade, se a poltica monetria do BC no se alterar, isso representar a volta lquida e certa da inflao. Vejamos por qu. A forma atual do BC prover liquidez a ativos que rendem juros conduz inapelavelmente ao rompimento de qualquer meta nominal que se imponha a qualquer agregado monetrio no longo prazo. Na medida em que as taxas de juros de tais ativos contenham a expectativa de inflao (mais o juro real), aumentos na expectativa da inflao sero repassados aos juros pagos pelos ttulos. Os juros mais altos, devido poltica do BC de conferir liquidez aos ttulos, acabaro aumentando a base monetria. Ou seja, a manuteno do mecanismo operacional atual de poltica monetria do BC, o qual inclui a zeragem automtica, pode ser responsvel num primeiro momento (alguns meses) pela observncia da meta monetria, mas, no longo prazo, trar inevitavelmente de volta a inflao. Uma outra forma de entender este fenmeno se pensar no financiamento do dficit pblico. Presume-se que a meta monetria vai impedir o BC de financiar o dficit pblico. Entretanto, ao manter o mecanismo atual de poltica monetria, o BC mantm um mercado privado adicional para a dvida pblica, posto que esta pode ser usada como quase-moeda. Assim, o Tesouro, bem como os Estados e municpios que emitem dvida mobiliria, ganham um flego adicional para financiarem seus dficits via colocao de dvida mobiliria. Ou seja, sem a mudana da regra operacional do BC, a meta monetria tampouco impe limites ao financiamento do dficit pblico, que pode se dar via dvida ao invs de via expanso monetria (senhoriagem). Em suma, o que se quer aqui chamar a ateno para a necessidade que a regra monetria que venha a ser adotada imponha desde logo custos significativos de iliquidez aos bancos. Ou seja, o que se quer a eliminao da moeda indexada, da ciranda financeira, ou do substituto domstico de moeda. O crescimento da demanda por moeda depender do que os bancos acreditaro que o BC far. Se o meu banco na PUC-Rio achar que no poder mais ter liquidez barata no BC, ele no poder mais me dar a combinao de liquidez diria e proteo inflacionria no FAF e nos demais fundos. Assim, terei que deixar mais dinheiro na conta corrente para no passar cheques sem fundos. A demanda por M1 crescer mais no incio do plano, exigindo uma maior expanso da oferta de reservas bancrias, mas poder no apresentar o movimento de contnuo crescimento que certamente se registraria se mantida o atual procedimento operacional do BC. Portanto, acredito que uma meta monetria definida a priori, para ser inscrita em lei com o fim de conferir confiana plano, no necessariamente garanta os resultados pretendidos. As metas devero ser definidas adaptivamente medida que a implantao do real progredir e se souber melhor qual a demanda por moeda. Para evitar excessos nessa fase inicial, uma proposta interessante a do professor Mrio Simonsen, de congelar temporariamente o M4, atravs da imposio de um depsito compulsrio de 100% na margem. A confiana no plano ser reflexo das aes do BC. Por exemplo, o plano ganhar certamente a confiana do mercado se o BC mostrar que de fato exerce sua funo de regulador da atividade bancria, livre de ingerncias polticas, certamente muito fortes neste perodo eleitoral, agindo com rigor com qualquer banco que no cumprir as normas do BC, como o caso de algumas instituies estaduais e oficiais. MRCIO G.P. GARCIA, 34, doutor em Economia pela Universidade de Stanford (EUA), professor do Departamento de Economia da PUC-RJ (Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro) e editor da Revista de Econometria. | A ncora monetria do real MRCIO G.P. GARCIA A partir da reforma monetria de 1 de julho, a inflao certamente cair repentinamente. Para mant-la em nveis baixos, o governo se valer de uma ncora monetria, conjunto de medidas que limitar a emisso monetria . A eficcia dessa ncora sofrer algumas ameaas, a mais forte so as presses por mais gastos pblicos. A outra causada pelo fato de o Banco Central ter como principal objetivo de poltica monetria manter o juro real do mercado de reservas bancrias em nveis , segundo ele, adequados. Esse nvel no deve ser to alto a ponto de sobrecarregar o Tesouro, nem to baixo que provoque fuga da moeda nacional. Estabelecer uma taxa real de juros torna a oferta de moeda endgena e passiva, condio pressionadora da inflao. Esta a poltica seguida pelo Banco Central, que no eleva ou eleva insuficientemente os juros reais no caso de expectativa inflacionria . Quando os nveis de inflao so muito altos, o controle por meio da elevao de juros torna-se invivel. Ao cair a inflao aps 1 de julho, a demanda por M1 ( soma de depsitos em conta corrente com o papel moeda) certamente crescer. . Tal aumento no inflacionrio , pois simplesmente atende demanda. O que difcil antecipar quanto de expanso vai ocorrer. Se pequena, os juros aumentaro muito, diminuindo a aplicao produtiva; se grande, os juros caem e a inflao reacende. O que se quer aqui chamar a ateno para a necessidade de a regra monetria a ser adotada impor altos custos de iliquidez aos bancos. O que significa a eliminao da moeda indexada, da ciranda financeira, ou do substituto domstico da moeda. O crescimento da demanda por moeda depender da crena dos bancos nas medidas futuras do BC. Se determinado banco sentir que no obter mais liquidez barata no BC, no poder oferecer mais ao cliente a combinao de liquidez diria e proteo inflacionria no FAF e nos demais fundos. Assim , o cliente ter que deixar mais dinheiro na conta corrente . A demanda por moeda (M1) se elevar mais no incio do plano, exigindo maior oferta de reservas. Minha opinio que uma meta monetria pr-definida , a fim de ter configurao legal para dar confiana ao plano, no garante obrigatoriamente os resultados pretendidos. As metas devero ser definidas conforme progredir a implantao do real e se souber qual a demanda. |
ce94se21-72 | Um esporte em que a terra o fim 'Trata-se de um jogo geomtrico, uma luta pelo equilibrar-se na maior inveno do homem: o retngulo' ' o nico esporte de que me lembro onde a bola um corpo celeste, mensageiro a ser acariciado' LUIZ PAULO BARAVELLI Especial para a Folha Os americanos, com sua mania de compartimentar em caixas os fenmenos da cultura, inventaram o termo spectator sports, esportes para serem observados. H esportes autocentrados (regatas, alpinismo, ralis), que so s para serem exercidos e que, embora no repudiem o espectador, no so feitos especialmente para ele. Todo esporte uma forma de simbolizar (para tentar entend-las) as foras em ao no mundo e na sociedade. Estes esportes non-spectator, se exercidos sem hipocrisia, so uma forma quase religiosa de procura, anloga aos 40 dias e 40 noites passados em meditao solitria no deserto indivduos com o melhor de sua constituio e engenho em confronto simblico com os limites maiores da natureza. So viagens particulares, inescrutveis. Em que pensa o alpinista solitrio assunto seu e no necessariamente visvel externamente. Suspenso por uma corda a 300 metros de altura, pode refletir gravemente sobre a vida e a morte, mas pode tambm estar pensando no mau negcio que fez quando trocou os amortecedores do carro. Nunca saberemos: ele no nos dir e, principalmente, no estaremos l para ver. Por outro lado, os esportes para espectadores so uma forma de arte. So encenaes, espetculos calculados para serem vistos e lidos. No so exatamente teatro porque o desfecho imprevisvel. O teatro uma caixinha de no-surpresas, mas um jogo junta os participantes, impe as regras e deixa o roteiro/enredo ser escrito ao vivo. Um jogo de futebol algo de verdade, talvez uma das nicas coisas de verdade dentre as que so feitas para serem assistidas. Se vemos na TV que a bola entrou, este um instante absoluto no foi ensaiado, no h verses pessoais, no pode ser editado, desmentido, colorizado ou receber efeitos especiais. Em um mundo onde tudo, dos ndices de inflao a quem ganhou uma guerra, depende de interpretao, uma bola na rede a epifania possvel da verdade (o quanto a presena cultural cada vez maior dos esportes influencia as artes assunto para outro artigo o que foi o modernismo seno a introduo dessa verdade futebolstica no reino anterior do artifcio e da fabricao?). Se todos os esportes simbolizam e teatralizam as relaes sociais e pessoais, cada um escolhe enfatizar uma parte delas. Imagino que o futebol seja o mais abrangente por sua complexidade, e no de surpreender sua preferncia mundial. Gosto muito, como todo mundo, mas tenho (e quero tentar entender aqui) uma atrao misteriosa pelo vlei. Pelos padres do futebol montono, imvel, repetitivo, limitado. O que h nele para ver? Ou, de outro modo, o que est sendo dramatizado ali? De todos os jogos fsicos este um dos mais geomtricos. Estamos sempre conscientes dos alinhamentos, espaamentos, paralelas e diagonais. jogado em um campo retangular, duro, liso e pequeno o suficiente para ser visto de um golpe s. um jogo que, em princpio, ocupa o campo todo o tempo todo. Ligado a isto h um longo e fascinante assunto que tento resumir em poucas palavras: talvez a grande inveno da humanidade no tenha sido nem o fogo nem a roda; os dois existiram desde sempre na natureza, nosso mrito foi observ-los e aprender como fabric-los e utiliz-los. Por outro lado (e isso deve ter interesse maior para os esportistas), ns, devido nossa antecedncia, hum... simiesca, tivemos que inventar um jeito de ficar de p. Nenhum bicho sem asas tem uma base to pequena em relao altura como os ps de uma pessoa. Isto implica em um contnuo equilibrar-se, procurando no cair, jogando o peso do corpo em torno de um eixo vertical. Por isso, tambm s estamos confortveis em uma superfcie dura, plana e horizontal. Quando deixamos de ser quadrpedes, passamos a ser um desejo ambulante pelo ngulo reto. Isso fez com que inventssemos algo que no existe na natureza, para nos simbolizar: o retngulo. Talvez essa tenha sido a inveno decisiva, porque da para a frente toda nossa civilizao foi uma ao dentro de um retngulo. nosso repdio ao mundo animal, a afirmao de nossa artificialidade. Em outras palavras, quanto mais retangular e urbano, mais civilizado. A geometria do vlei o torna um dilogo entre dois retngulos, duas salas cheias de gente autoconsciente. A entra um segundo aspecto no menos importante. Estas salas so povoadas no de gente, mas de mulheres. O vlei um jogo essencialmente feminino. claro que homens podem jogar, mas so homens jogando um jogo de mulheres fica errado, muito rpido e forte, to errado quanto mulheres jogando basquete, um jogo para rapazes, que se esbarram tentando alcanar um aro quase inatingvel, duro, mas com um interior macio, e enterrar; um sexo mecnico, repetitivo, suarento, juvenil. Os jogos sem retngulo so essencialmente aventuras masculinas e, portanto, infantis, cegas, desordenadas ( fascinante pensar que na antiguidade, enquanto homens/crianas estavam ocupados em suas guerras, viagens e caadas caticas, as mulheres estavam pacientemente inventando o quadriculado da computao em seus teares e bordados. Hoje somos todos mulheres, mas isso tambm outra histria). O jogo das mulheres pode ser furioso e concentrado, mas nunca violento; elas nunca matam, como os homens fazem. Matar no feminino. Para mim, feminino e metafsico tm mais ou menos o mesmo sentido. O vlei um jogo do ar. impossvel para seres humanos existirem no nada, mas esse jogo se passa no meio fsico menos fsico e denso que podemos habitar. O futebol essencialmente um jogo da terra, mas a terra no vlei o fim, a derrota; perde-se quando no se consegue evitar o curto-circuito da bola com a terra. Um jogador de futebol parece ter seu centro de gravidade l em baixo, no eixo dos quadris, imagino, mas uma jogadora de vlei gira em torno de um ponto entre o plexo solar e a cabea (no sei se isto mesmo assim; estou pensando no em ortopedia mas na imagem, e imagem a raiz da palavra imaginao). Falei antes na sala. Esse jogo tambm feminino, no sentido da casa. Acho que um jogo de defender sua casa e, de dentro dela, atacar a casa das rivais. A mitologia est repleta de Danaides, Musas, Amazonas, Pliades, grupos de mulheres que lutam juntas e compartilham um destino comum. Essas casas se observam atravs de uma janela, uma trama retangular (de novo a computao), e que, como na histria da inveno do retngulo ou do quadro de pintura, o reconhecimento dos limites do universo conhecido e em que, em ambos os casos, no se pode tocar. A bola passar por cima o exerccio desta metafsica a que me referi. Um saque queimar a rede uma boa metfora do que acontece quando o fsico e o metafsico se tocam. No importa qual veio antes, mas o tnis conceitualmente um primo pobre do vlei, um jogo solitrio, rasteiro, histrico (sem falar em coisas piores como pingue-pongue e badminton). No tnis, a bola um ponto, uma mosquinha amarela a ser raquetada rapidamente; no vlei uma esfera branca a ser tocada com a ponta dos dedos. O vlei o nico esporte de que me lembro em que a bola uma esfera, corpo celeste, um mensageiro a ser acariciado. E a mensagem sempre : ns conseguimos existir s no ar, mas faremos vocs terem conscincia do fim, da terra. Essa geometria simblica pode ser entendida melhor no diagrama de uma jogada tpica: saque, devoluo, largadinha. Essas trajetrias so parbolas. Os ps existem no retngulo duro; as mos, o mais alto que podem, enviam a bola mensageira em curvas elegantes, mas mortais. Uma cortada um raio (uma reta) dirigido ao reino dos ps como a nos lembrar que a derrota ser devolvido geometria bsica de tentar ficar em p. O feminino no vlei particularmente ertico porque se trata de mulheres concentradas, em luta entre si, e que no esto pensando nisso, nem olhando para ns. No h nada menos ertico do que fotos erticas nas revistas para homens. Elas sabem que esto sendo fotografadas e fazem suas caras e bocas calculadamente para ns (para brochar de vez faa uma experincia de tapar o resto e deixar apenas os olhos delas nessas fotos). O realmente ertico do vlei que ele no feito para isso. S um marido muito ingnuo acha mais excitante quando sua mulher usa lingerie preta e segura uma rosa nos dentes do que quando est pensando em outra coisa, de luvas e macaco, cuidando do jardim, suada e com o cabelo caindo na testa. Isso est subjacente na prpria organizao da quadra; o vlei um dos jogos onde se pode estar mais perto da quadra, mais perto das jogadoras. feito para se olhar de perto (sim, apesar de as regras serem feitas pelos burocratas esportivos, elas tambm embutem uma psiqu). Mulheres nunca brincam, muito menos em pblico, e sua concentrao o realmente atraente. A essncia do erotismo a mulher querer e estamos aqui para ver isso (e, por falar nisso, a essncia da pornografia a mulher no querer). essa mgica do querer que transforma um bando de varapaus mal acabadas em deusas voadoras. Na verdade, como jogo feminino, no se joga para ganhar. Creio mesmo que o jogo todo existe s para que se possa ter um eplogo, que acho encantatrio. A rede, que durante o jogo todo no pode ser tocada nem atravessada, serve, no fim, para uma cerimnia: as jogadoras dos dois times se tocam delicadamente sob o retngulo, como que reafirmando uma solidariedade e uma identificao abaixo do limite da civilizao. Tudo termina em restaurao nesse escuro simblico e vamos todos para casa pensar na vida. Luiz Paulo Baravelli, 51, artista plstico | Um esporte em que a terra o fim Trata-se de um jogo geomtrico, uma luta pelo equilibrar-se na maior inveno do homem: o retngulo o nico esporte de que me lembro onde a bola um corpo celeste, mensageiro a ser acariciado LUIZ PAULO BARAVELLI Especial para a Folha Em sua mania de compartimentar a cultura, os americanos criaram o termo spectator sports, cujo significado esportes para serem observados. H esportes autoconcentrados ( regatas, alpinismo, ralis), s para serem exercidos , embora no excluam o espectador. Todo esporte uma forma de simbolizar as foras em ao na sociedade. Os esportes non-spectator, se praticados sem hipocrisia, constituem um modo de procura , como os jejuns prolongados dos anacoretas. So viagens inescrutveis, como a do alpinista solitrio , cujo pensamento indevassvel. J os esportes para espectadores so uma forma de arte, espetculo calculado para ser visto . O futebol pertence a essa categoria. Uma bola dentro da rede uma constatao que no depende de verses pessoais; a verdade absoluta. Se todos os esportes simbolizam e teatralizam as relaes sociais e pessoais , cada um enfatiza uma parte delas. Embora eu conceba o futebol como o mais abrangente da sua preferncia mundial-- , sinto uma atrao misteriosa pelo vlei. De todos os jogos fsicos o mais geomtrico. praticado num campo retangular, duro, liso e pequeno o bastante para ser visto de uma vez. Devido nossa origem simiesca , tivemos que aprender a ficar de p. Nossa base a menor entre os animais, o que explica a necessidade de equilibrar-se constantemente. S estamos confortveis em uma superfcie dura, plana e horizontal. A nossa civilizao , desde ento, uma ao dentro de um retngulo. O afastamento do mundo animal se concretiza na busca do retngulo. E no vlei ela se realiza. E de maneira mais interessante: o dilogo entre mulheres. Embora possa ser exercido por homens, um esporte essencialmente feminino. Os jogos sem retngulo so masculinos e , portanto, infantis, desordenados. J na Antigidade, enquanto os homens caavam e guerreavam, as mulheres inventavam o quadriculado nos seus teares. Diferentemente dos jogos masculinos, os praticados pelas mulheres, mesmo quando impetuosos , no so violentos. Enquanto o futebol um jogo da terra, o vlei um jogo do ar, em que a terra representa derrota. Tambm o vlei um jogo feminino por sua relao com casa: da sua casa as contendoras a defendem atacando o inimigo. Outra simbologia importante do vlei consiste na passagem da bola por cima da rede, sem toc-la .Queimar a rede representaria o contato do fsico e do metafsico, portanto o desastre. O vlei deve ser o nico jogo em que bola , uma esfera, lembra um corpo celeste , um mensageiro a ser acariciado. J a cortada como o raio dirigido aos ps, representando a volta condio de quadrpede. A concentrao das mulheres no vlei , indiferentes a quem as rodeia, particularmente ertico. A intencionalidade das modelos quando fotografadas, a conscincia de que esto ou vo ser observadas eliminam o erotismo. No vlei, essa mgica que transforma um bando de varapaus em deusas voadoras. |
ce94jl11-b | At o fim do sculo o mundo vai assistir ao fenmeno da desmetropolizao, ou seja, a tendncia desta dcada ser a desconcentrao populacional das metrpoles. Em alguns casos, espera-se crescimento negativo nas grandes cidades. Uma das razes para a guinada na expectativa de crescimento, na opinio de Elza Berqu, diretora do Nepo (Ncleo de Estudos de Populao da Unicamp), a busca macia, por parte dos habitantes dos grandes centros urbanos, de uma qualidade de vida melhor da que oferecem as metrpoles. Segundo Berqu, haver a fixao das pessoas em cidades medianas que se transformaro em plos de referncia, menores e com menos problemas que as megacidades. Algo parecido com o que est acontecendo em Campinas e Ribeiro Preto, no interior de So Paulo, que oferecem vida cultural e infra-estrutura de servios parecida com a das grandes cidades, sem, no entanto, estarem saturadas. Essa mudana na concentrao populacional estar ocorrendo ao mesmo tempo em que outra tendncia for se cristalizando: uma distribuio de renda mais harmnica e mais equitativa. O sonho de que as solues para todos os problemas esto nos grandes centros est no fim. E isso uma boa notcia. Deve-se comemorar, diz Berqu. Nmeros do Seade (Sistema Estadual de Anlises de Dados) mostram que a cidade de So Paulo, por exemplo, cresce menos a cada dcada. Nos anos 60/70, tinha sua populao aumentada anualmente na razo de 4,92%. Nos anos 70/80, o crescimento diminuiu e foi para 3,67%. De 1980 a 1991, o crescimento anual chegou a 1,15%. At o ano 2000 no deve sair desse patamar percentual. De acordo com dados do Nepo, a taxa atual de fecundidade no Brasil de 2,5 filhos por mulher. Em 1980, era de 4,5 filhos por mulher. At na regio Nordeste, onde essa taxa chegou, em 1980, a seis filhos por mulher, atualmente j baixou para 3,7. Hoje vivem no Brasil 152 milhes de pessoas. Em 2000, sero 179 milhes de brasileiros. Com exceo dos pases africanos, a taxa de fecundidade no mundo est diminuindo, com forte tendncia de estabilizao ou crescimento populacional negativo. Na frica, a mdia de fecundidade ainda de seis filhos por mulher. No caso especfico do Brasil, a expectativa dos cientistas que a partir de 2020 o pas v ter seu crescimento populacional estabilizado e, por volta de 2050, essa taxa chegar a zero. Isso significa que o nmero de mortes vai se igualar ao de nascimentos. A desacelerao populacional no Brasil poderia at ser mais rpida, no fosse o alto contingente de mulheres que ainda est se reproduzindo, segundo Elza Berqu. Se o excesso de populao um problema, a imploso demogrfica tambm. Hungria, Alemanha e Itlia, entre outros pases, enfrentam crescimento populacional negativo e envelhecimento de suas populaes. Ou seja, em breve tero que importar gente para suprir as atividades mais corriqueiras. Na Itlia, por exemplo, o nmero de bitos maior que o de nascimentos. Na Frana, a mdia de fecundidade de 1,3 filho por mulher. Para efeito de comparao, em So Paulo, segundo a demgrafa Bernadete Waldvogel, do Seade, a mdia de 2,2 filhos por mulher. Na dcada de 80, cada brasileira tinha 3,4 filhos. Na de 70, 4,2. Em cada dcada est diminuindo um filho, resume Waldvogel. Sem levar em conta essa tendncia de queda apontada pelo Seade e Nepo, um relatrio produzido pela ONU (Organizao das Naes Unidas) projeta que em 2010 a cidade de So Paulo ser a segunda maior do mundo, perdendo apenas para Tquio e na frente de Bombaim, Xangai, Lagos, Cidade do Mxico, Beijing, Dacar, Nova York e Jacarta, nessa ordem. O relatrio da ONU mostra uma So Paulo catica no ano 2000, com 25 milhes de habitantes. Estudos do Seade projetam uma cidade parecida com o que hoje, com 10,7 milhes de habitantes. No segundo semestre deste ano, no Cairo (no Egito), acontece uma conferncia internacional sobre crescimento populacional. | At o fim o ano 2000, haver uma desconcentrao populacional nas metrpoles do mundo--- em algumas , o crescimento ser negativo. Cada vez mais , as pessoas procuram cidades de porte mdio, com menos problemas que as metrpoles, sem perder na oferta de vida cultural e infra-estrutura de bens de servios. Segundo Berqu, diretora da Nepo ( Ncleo de Estudos de Populao da Unicamp) , uma das razes a busca de qualidade de vida. Paralelamente a essa desconcentrao , ocorre uma melhor distribuio de renda. Ir para a capital , a fim de fazer a vida, j no o grande sonho. Clculos do Seade indicam que as dcadas de 60 , 70, 80 apresentam , respectivamente, ndices de 4,92% , 3,67% , 1,15% , para a cidade de S.Paulo A relao mulher/filho tem diminudo, inclusive no Nordeste , onde de 6 filhos por mulher em 1980 , caiu para 3,7. Com exceo dos pases africanos, a taxa de fecundidade vem diminuindo no mundo inteiro. No Brasil, segundo cientistas, at o ano 2020 , o crescimento estar estabilizado , e aproximadamente at 2050, ser zero. Desprezando os clculos da Nepo e do Seade, a ONU apresentou um relatrio falando da exploso populacional de So Paulo, que ser a segunda maior cidade do mundo at o ano 2010. Se pavorosa essa anteviso , tambm o a imploso demogrfica, que j ocorre na Hungria, Alemanha e Itlia, que precisaro importar gente para determinados servios. |
ce94jl31-c | A taxa oficial de analfabetismo no Brasil de 18%. Isto quer dizer que, para as estatsticas, cerca de 28 milhes de brasileiros no sabem nem ao menos identificar letras. Educadores concordam que no h como comear a reverter esse quadro sem tornar novamente interessante a carreira do magistrio. Isto , pagar melhores salrios, treinar e exigir mais dos docentes. Aumentar simplesmente o nmero de escolas e vagas no prioridade. Mesmo em estados onde a cobertura escolar vagas disponveis- aceitvel, o desempenho escolar sofrvel. A situao de boa parte dos 82% 'no analfabetos' no muito melhor que a dos que nunca foram escola. O critrio oficial identifica alfabetizados pela capacidade de saber escrever um bilhete simples. Conceitos mais exigentes, no entanto, abarcariam quase 60 milhes de brasileiros na categoria de analfabetos. Para os critrios mais refinados, defendidos por pesquisadores de servios de estatsticas educacionais e educadores, a exigncia de quatro anos de escolaridade o requisito mnimo para que algum no seja considerado um analfabeto funcional. Isto , aquele capaz de aproveitar de alguma forma produtiva a instruo que recebeu e no regredir. No Brasil, quase metade da populao de mais de 10 anos de idade no completou esse ciclo. O critrio que qualifica algum que saiba rabiscar um bilhete como alfabetizado foi estabelecido pela Unesco em 1958. A revoluo tecnolgica nos sistemas produtivos jogou esse padro no lixo. Mudou o paradigma da educao. As prprias empresas chegaram concluso de que se a mo-de-obra no for melhor preparada, o pas no ter condies de competir internacionalmente, diz Clio Cunha, chefe do departamento de Projetos Educacionais do ministrio da Educao. justamente nessa rea que o governo federal investe menos. atribuio dos governos municipais e estaduais a educao bsica, mas a maioria deles no tem recursos para construir escolas que no sejam taperas, quanto mais para bancar um ensino de qualidade. Nos municpios menores, a situao da educao bsica muito ruim, tanto em termos de evaso e repetncia como em termos de nvel de conhecimentos dos alunos aprovados, diz Azuete Fogaa, professora da Universidade Federal de Viosa. Pelo menos nos ltimos cinco anos, o governo federal vem investindo cerca de 50% a 60% de seus recursos em educao no ensino superior nas instituies federais de ensino. Recursos federais quase no vo para a educao primria. O resultado que a Constituio no cumprida, diz Cunha. A Unio obrigada a investir 18% de seus recursos em educao. Boa parte desse dinheiro, cerca de 75%, gasta com a rede federal, ou seja ensino superior e escolas tcnicas. Desse dinheiro, 25% gasto com aposentadorias das universidades, afirma Cunha. Professores A Coria, em meados dos anos 60, tinha um quadro educacional to ruim ou pior do que o brasileiro. Em duas dcadas e meia conseguiu que 95% dos jovens completassem o 2 grau, diz a professora Azuete. Como a Coria fez isso? Investiu na formao e na carreira do professor. Hoje, no Brasil, o magistrio primrio a carreira de quem no tem horizontes, diz Azuete. Tanto Azuete como Clio Cunha concordam que a extenso da rede escolar brasileira tem falhas, mas satisfatria. O Brasil j conseguiu colocar cerca de 90% das crianas nas salas de aula, mas s poucas se formam e estas so despreparadas, diz Cunha. A rede atende muita gente, mas atende muito mal. S 20% dos que entram chegam s ltimas sries do 1 grau. muito dinheiro desperdiado pelo Estado e pelas pessoas, afirma Azuete. Segundo ela, um exemplo de reforma o Japo do ps-guerra. na reconstruo, o governo selecionou os melhores alunos das universidades vocacionados para o magistrio. Alguns deles viviam em internatos, para se dedicarem mais intesnsamente aos estudos, conta. A qualificao do corpo docente depende tambm de uma reforma na poltica de carreira e de salrios dos professores, segundo Azuete. No Japo, um professor ganha mais do que os tcnicos de nvel mdio. Em geral, duas vezes e meia mais. Com isso, h procura suficiente para escolher os melhores, afirma a professora. | A taxa oficial de analfabetismo no Brasil de 18% , ou seja, de 28 milhes de brasileiros que sabem escrever um bilhete simples, conforme o critrio estabelecido pela Unesco em 1958. A situao dos 82% dos alfabetizados no muito melhor. Como a proposta de critrio para se considerar algum alfabetizado , hoje, que se tenha quatro anos de escolaridade , a situao nossa mais sria. As prprias empresas no vem possibilidade de competio com o mundo globalizado , se o pas no melhorar o preparo escolar de seus trabalhadores. A falha brasileira no tanto de quantidade quanto de qualidade. Para tanto, necessrio investir na qualificao do professor e na melhoria salarial. Se se examinar a forma como o governo federal cumpre a obrigatoriedade constitucional de investir na educao , percebe-se uma distoro muito grande : 75% dos 18% reservados para a educao so aplicados no ensino superior ; e 25% desse montante destinado a pagamento de aposentadorias nas universidades. O ensino fundamental e mdio incumbncia dos Estados e Municpios. No o que aconteceu com dois pases , que servem de lio ao Brasil nesse campo: Coria e Japo. O primeiro , comeando nos meados de 60, conseguiu , em duas dcadas, que 95% dos jovens terminassem o segundo grau. O segundo , no ps-guerra, qualificou o seu corpo docente e o remunerou significativamente. O resultado foi o boom de desenvolvimento que conhecemos. O desafio continua para ns, apesar do esforo de ampliao quantitativa do ensino fundamental. |
di94ag09-08 | A questo dos encargos trabalhistas RUBEN D. ALMONACID, MRCIO I. NAKANE ; SAMUEL A. PESSA Um importante debate tem acontecido neste espao e que diz respeito importncia (ou no) dos encargos trabalhistas na composio dos custos das empresas e, portanto, seu impacto sobre a gerao de empregos e competitividade das empresas brasileiras. O professor Jos Pastore, em entrevista na Folha de 23/04/94, comentando os resultados de uma pesquisa recente (Flexibilizao dos Mercados de Trabalho e Contratao Coletiva, Editora LTr, 1994), manifestava a opinio de que os elevados encargos trabalhistas constituem um forte fator de inibio na gerao de empregos no Brasil. O professor Edward J. Amadeo, em dois artigos (Folha de 04/01/94 e 04/06/94) manifestou posio diversa; enquanto este calculava encargos de 24,5% sobre a folha de salrios, o professor Pastore chegava ao total de 102,1% para os mesmos. Tal diferena deve-se ao fato de que os dois autores tm conceitos distintos de encargos. Para o professor Amadeo os encargos so a diferena entre o que o trabalhador recebe e o que a empresa paga, enquanto para o professor Pastore os encargos sociais compem o custo final do fator trabalho para a empresa. A diferena que o professor Amadeo no considera como encargos os gastos do empregador que retornam ao trabalhador como por exemplo, o 13, o abono de frias, o FGTS, o uso do dinheiro do Sesi, o vale transporte, o salrio maternidade e doena etc.. Para resumir, diremos que os gastos do empregador dividem-se em dois grupos: aqueles que no retornam ao trabalhador (por exemplo, INSS), que chamaremos de encargos; e aqueles que retornam a ele (por exemplo, repouso semanal e dcimo terceiro salrio), que chamaremos de salrio indireto. Em contraposio, chamaremos de salrio indireto ao pagamento por hora trabalhada ou por tarefa. Portanto, o professor Amadeo considera como encargo trabalhista somente o que chamamos de encargos (na sua avaliao, INSS, salrio educao e contribuio relativa a acidentes do trabalho); enquanto o professor Pastore considera como encargo trabalhista a soma dos encargos com o salrio indireto. No pretendemos nesta nota entrar no mrito da discusso emprica, qual seja, se tais encargos so ou no elevados, mas sim, chamar a ateno para alguns pontos conceituais que julgamos importantes para uma melhor compreenso da questo. Do ponto de vista econmico a discusso relevante saber o impacto destes encargos sobre a eficincia produtiva. Isto equivale a discutir qual o conceito de salrio relevante nas decises dos agentes econmicos (empresrios e trabalhadores). Quando o professor Amadeo exclui dos encargos o salrio indireto ele entende que o conceito relevante de salrio para as decises do trabalhador a soma deste com o salrio direto. Esta soma dividida pelas horas trabalhadas (ou pelas tarefas) constitui seu salrio mdio. Para que o leitor entenda o ponto que desejamos ressaltar considere o seguinte exemplo. Suponha que existam na economia dois tipos de empresas. As empresas tipo um no pagam salrio indireto, pagam R$ 1,00 por hora trabalhada e trabalha-se dez horas por dia. Portanto, seu trabalhador recebe R$ 10,00 por dia com um salrio mdio de R$ 1,00. As empresas tipo dois pagam R$ 5,00 de salrio indireto por dia, R$ 0,50 por hora trabalhada e tambm trabalha-se dez horas por dia. O salrio por dia e o salrio mdio, portanto, so idnticos para os trabalhadores de ambas as empresas. Nesta situao, diria o professor Amadeo, os trabalhadores de ambas, por receberem o mesmo salrio mdio, comportar-se-iam da mesma forma e as empresas, portanto, produziriam com a mesma eficincia. A teoria econmica ensina, contudo, que os agentes reagem a incentivos marginais, que no exemplo corresponde ao salrio por hora trabalhada. de se esperar que o comportamento dos trabalhadores em ambas as empresas seja, assim, radicalmente distinto: certamente o incentivo presena no trabalho maior nas empresas do tipo um onde a falta de um dia acarreta uma perda de R$ 10,00 do que nas empresas do tipo dois que acarreta uma perda de R$ 5,00. Um outro exemplo ajudar o leitor a entender a distino entre incentivo mdio e marginal. Imagine duas churrascarias: a primeira funciona no sistema a la carte (o consumidor paga por poro de carne pedida) e a segunda funciona no sistema rodzio (o consumidor paga uma quantia fixa e consome vontade). claro que o mesmo comensal ter comportamentos distintos nas duas churrascarias. Consumir menos carne na churrascaria a la carte ainda que o gasto seja o mesmo. No que diz respeito, portanto, eficincia produtiva o conceito relevante de salrio o marginal. Certamente, parte do salrio indireto, por exemplo, o abono de frias, salrio-maternidade, vale-transporte, por aumentar o salrio mdio, mas no o marginal, no tem impacto sobre o esforo de trabalho. claro que outros itens, como o repouso semanal remunerado, se assemelham a uma remunerao na margem e, assim, devem ser excludos dos encargos. Note que para o professor Pastore os encargos so entendidos segundo seus impactos sobre o custo do empregador. Mas se a discusso refere-se aos efeitos sobre o mercado de trabalho est correto o professor Amadeo ao afirmar que o importante a diferena entre o custo percebido pelo empregador e o salrio recebido pelo trabalhador. No entanto, ao considerar o salrio mdio e no o marginal, subestima esta diferena. Outro importante ponto o tratamento assimtrico dispensado pelo professor Amadeo ao FGTS vis--vis o INSS. O primeiro contabilizado como salrio indireto quando sabe-se que sua correo feita por ndices que subestimam a taxa de inflao e seu acesso restrito. Assim, este fundo no retorna integralmente ao trabalhador. Quanto ao INSS, parte de sua contribuio retorna a ele sob a forma de servios de sade e pagamento de penses. No se justifica, portanto, a sua total excluso do salrio indireto. Este ponto mais relevante quando se trata de comparaes entre pases: quanto maior for a eficincia do setor pblico na gesto desses fundos (aposentadoria e correlatos) e na administrao da assistncia sade maior o salrio indireto e menores sero os encargos para um mesmo montante de contribuio. Entre os itens que compem os encargos merece meno os custos de resciso contratual. Estes custos, novamente, podem ser divididos entre aqueles que retornam ao trabalhador (por exemplo, aviso prvio e indenizao de 40% calculada sobre o saldo do FGTS) e aqueles que no retornam. Nesta ltima so de particular importncia os custos para a empresa da Justia trabalhista. uma posio de senso comum (que merece um estudo mais rigoroso) que a Justia trabalhista tem um vis pr-trabalhador. Mesmo em demandas sem fundamento sua posio tem sido favorvel a ele. Esta peculiaridade faz com que o benefcio para o trabalhador de uma pendncia seja alto enquanto o custo baixo uma vez que os advogados trabalhistas cobram um percentual sobre o resultado da ao. A estrutura de incentivos clara: quer o trabalhador tenha ou no razo sente-se estimulado a entrar com a ao. Assim, apesar de difcil mensurao, tais consideraes nos levam a crer que o valor apresentado pelo professor Pastore para as despesas de resciso contratual (2,57%) encontra-se subestimado. Assim, acreditamos que uma avaliao emprica que considere os pontos aqui discutidos (distino entre salrio mdio e marginal, eficincia do setor pblico e os elevados custos da resciso contratual) ajudaro a uma melhor compreenso do real impacto sobre a eficincia produtiva dos encargos trabalhistas. RUBEN D. ALMONACID, 50, doutor em Economia pela Universidade de Chicago (EUA). Foi professor da Faculdade de Economia e Administrao da USP (Universidade de So Paulo) de 1971 a 1991. MRCIO I. NAKANE, 28, mestre em Economia e professor da Faculdade de Economia e Administrao da USP. SAMUEL A. PESSA, 31, doutor em economia pela Faculdade de Economia e Administrao da USP e professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). | A questo dos encargos trabalhistas RUBEN D.ALMONACID, MRCIO I. NAKANE, SAMUEL A PESSA Tem acontecido um importante debate sobre a relevncia dos encargos trabalhistas na composio dos custos das empresas e, portanto, seu impacto sobre gerao de empregos e competitividade das empresas. O professor Jos Pastore , ao comentar recente pesquisa, opinava sobre a relao dos encargos trabalhistas e a forte inibio de empregos no Brasil. O professor Edward J.Amadeo manifestou opinio diversa: para ele os encargos representam 24,5% da folha de salrios, enquanto que para o professor Pastore representam 102,1%. que os dois tm opinies diferentes de encargo. Para o professor Amadeo eles so a diferena entre o que o trabalhador recebe e o que a empresa paga ; para o professor Pastore os encargos sociais compem o custo final do fator trabalho para a empresa. Os gastos do empregador se distribuem em dois grupos: os que no retornam ao trabalhador ( INSS, por exemplo) , que chamaremos de encargos ; e os que retornam ( por exemplo, repouso semanal , dcimo terceiro), que denominaremos de salrio indireto. Do ponto de vista econmico , o importante saber quanto os encargos interferem na eficincia produtiva. Ao excluir dos encargos o salrio indireto, o professor Amadeo quer dizer que o conceito relevante de salrio para o trabalhador a soma deste com o salrio direto, que dividida pelas horas trabalhadas constitui seu salrio mdio. Imaginemos dois tipos de empresa: as do tipo um , que no pagam salrio indireto, remuneram com R$1,00 a hora trabalhada e em que se trabalha dez horas por dia. Seu trabalhador recebe R$10,00 por dia , com um salrio mdio de R$1,00. As do tipo dois pagam R$5,00 de salrio indireto por dia , R$0,50 por hora trabalhada e se trabalha tambm dez horas por dia. Portanto, o salrio mdio e o salrio por dia so idnticos para os trabalhadores de ambas. O professor Amadeo concluiria que , por receberem o mesmo salrio mdio, eles se comportariam da mesma forma, e as empresas produziriam com a mesma eficincia. No entanto, a teoria econmica ensina que os agentes reagem a incentivos marginais, no caso o salrio por hora trabalhada. Assim, a assiduidade maior nas empresas um,onde a perda por falta de R$10,00,enquanto nas empresas dois de R$5,00. Assim, o incentivo marginal mais relevante para a eficincia produtiva. Para o professor Pastore , os encargos so avaliados conforme seus impactos sobre os custos do empregador. Mas se a discusso se refere aos efeitos sobre o mercado de trabalho, vale a posio do professor Amadeo, quando afirma que o importante a diferena entre o custo percebido pelo empregado e o salrio do trabalho. Outro ponto importante a conceituao assimtrica de ambos os professores quanto ao FGTS e INSS. O primeiro classificado como salrio indireto , embora se saiba que sua correo frente inflao subestimada. J o INSS retorna em parte sob a forma de atendimento sade e pagamento de penses. No deve, pois, ser totalmente excludo do salrio indireto. Entre os encargos , destacam-se os custos de resciso contratual, divididos entre os que retornam ao trabalhador (aviso prvio e indenizao de 40% sobre o saldo do FGTS) e os que no retornam |
td94ja23-10 | Cariocas j podem montar empresa em casa Lei permite que empresrio use residncia como local de trabalho e pague IPTU na categoria residencial Da Sucursal do Rio e da Agncia Folha O microempresrio carioca j pode montar sua empresa dentro de casa. A lei com a proposta de conciliar moradia e trabalho foi sancionada em 16 de dezembro passado pelo prefeito Csar Maia (PMDB). Uma das vantagens manter o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) do pequeno empresrio na categoria residencial mais barata que a comercial. A lei 2.062 considera 80% dos imveis do municpio como prprios para conciliar residncia e local de trabalho. As micro e pequenas empresas podem funcionar na casa de seus donos desde que no estejam situadas em local de preservao ambiental, em torno de bens tombados ou sem ordem do condomnio, no caso das reas multifamiliares. Cada uma dessas empresas pode ter, no mximo, dois empregados. Algumas atividades so vetadas pela lei, como instalaes mdicas, estabelecimentos de ensino, venda de combustveis, material qumico, armas e munio, casas de espetculos e parques de diverses. Para obter o alvar de funcionamento em casa, preciso procurar a Inspetoria Regional de Licenciamento e Fiscalizao do bairro em que o imvel foi construdo. Quem quiser fechar uma microempresa j existente e se transferir para a residncia, basta comunicar a troca de endereo inspetoria. O vereador Roberto Saturnino Braga (PSB) que apresentou o projeto que originou a lei instalou em seu gabinete na Cmara de Vereadores um balco de informaes. Os interessados podem se informar ainda atravs do telefone (021) 292-4141.EmEm So Paulo, as pequenas empresas tambm podem funcionar em residncias, mas h algumas restries. A Lei de Zoneamento do municpio prev cinco reas de instalaes, que vo da estritamente residencial at a totalmente industrial. Por determinao estadual, a microempresa que estiver funcionando na moradia deve ter entrada separada. Servio Os micro e pequenos empresrios de Belo Horizonte j tm disposio um servico de consultoria gratuita, atravs do qual podem organizar e planejar melhor os seus negcios. Trata-se da Clnica da Micro e Pequena Empresa, criada pelo Clube dos Diretores Lojistas (CDL) de Belo Horizonte em conjunto com Sebrae-MG. A clnica funciona na sede do Clube de Diretores Lojistas (CDL) de Belo Horizonte e conta com oito consultores, que do assessoria nas reas financeira, mercadolgica (administrao de material, vendas e formao de preos), organizacional, de recursos humanos, contbil, tributria, trabalhista e de informtica. O servio atende os associados do CDL e pequenos empresrios indicados pelo Sebrae. Segundo Marcos Alexandre Ricaldoni de Miranda, vice-presidente de tecnologia e gesto empresarial do CDL, a idia da clnica surgiu da necessidade de dar suporte tcnico aos associados. O servio pode fazer ainda pesquisas de mercado. | Cariocas j podem montar empresa em casa Lei permite que empresrio use residncia como local de trabalho e pague IPTU na categoria residencial Da Sucursal do Rio e da Agncia Folha A lei 2.062, sancionada em 16 de dezembro passado, permite que microempresrio carioca monte sua empresa na prpria residncia , aproveitando-se de IPTU mais barato. Desde que as residncias no estejam situadas em local de preservao socioambiental , em torno de bens tombados ou sem permisso do condomnio. Tambm restringe algumas atividades como instalaes mdicas, estabelecimentos de ensino , venda de combustveis, material qumico, armas e munio, casas de espetculos e parques de diverso. Em So Paulo, tambm h lei equivalente, com as devidas restries. Em Belo-Horizonte, os micro e pequenos empresrios contam com a Clnica da Micro e Pequena Empresa, que presta consultoria gratuita nas reas financeira, mercadolgica, organizacional, de recursos humanos, contbil, tributria, trabalhista e de informtica. |
mu94de14-a | Por exigncia da editora, as livrarias sul-africanas s comearam a vender no final da tarde de ontem Longa Caminhada para a Liberdade (Macdonald Purnell, 630 pgs., R$ 20), a autobiografia de Nelson Mandela. No foi a nica exigncia voltada a ampliar o impacto de uma obra que, sem publicidade, j tem garantia de vendas por retratar a vida de um dos polticos mais importantes da atualidade. Em entrevista anteontem rdio 702, a mais ouvida de Johannesburgo, Mandela afirmou que teve que lutar muito com a editora americana para que o livro mantivesse suas caractersticas originais. Apesar disso, ele acabou aceitando personalizar o livro, que narrado na primeira pessoa. Isso foi feito para agradar o enorme pblico leitor dos EUA e contrariou, de certa forma, a idia incial de que o livro deveria ser um registro histrico, afirmou. Mas essa declarao apenas se soma aos 115 captulos do livro para demonstrar uma das caractersticas mais marcantes do presidente sul-africano: a humildade. Mandela diz que sua politizao no se deu de repente: O acmulo de mil desfeitas, mil indignidades e mil momentos foram produzindo uma raiva, uma rebeldia, um desejo de lutar contra o sistema que aprisionou meu povo. Aps 27 anos de priso, Mandela liderou uma transio que muitos julgavam impossvel: a tomada do poder sul-africano pelos negros. Mandela disse na entrevista que quer ser considerado um santo, se por santo entendemos um pecador que continua tentando. E pediu pacincia populao para as mudanas que ainda esto por vir. O livro foi escrito em colaborao com o editor Richard Stengel, que acompanhou Mandela desde sua libertao em 1990. Apesar dos valores liberais da universidade, eu nunca me senti totalmente confortvel l. Sempre ser o nico africano, alm dos empregados, ser considerado na pior das hipteses uma curiosidade e na pior como um intruso, no uma experincia agradvel. (...) Wits abriu um novo mundo para mim, um mundo de idias e crenas e debates polticos, um mundo onde as pessoas eram passionais sobre poltica. Eu estava entre intelectuais brancos e indianos da minha prpria gerao, jovens que formariam a vanguarda dos mais importantes movimentos polticos dos anos seguintes. Descobri pela primeira vez pessoas da minha idade firmemente alinhadas com a luta pela libertao, que estavam preparadas para se sacrificar pela causa dos oprimidos. Logo depois do amanhecer do dia 5 de dezembro de 1956, eu fui despertado por uma forte batida na porta. Nenhum vizinho ou amigo bate na porta de um jeito to peremptrio e eu sabia imediatamente que era a polcia de segurana. Eu me vesti rapidamente e encontrei o chefe de polcia Rousseau, um oficial da segurana que era conhecido na rea, e dois policiais. Ele apresentou um mandado de busca, quando os trs imediatamente comearam a revistar toda a casa procurando por jornais ou documentos incriminatrios.(...) Depois de 45 minutos, Rousseau de fato disse: 'Mandela, ns temos uma ordem judicial para prend-lo. Venha comigo.' Eu olhei para a ordem e as palavras saltaram: ALTA TRAIO. O maior acontecimento do pas em 1958 eram as eleies gerais 'gerais' apenas no sentido de que 3 milhes podiam participar, mas nenhum dos 13 milhes de africanos. Debatemos sobre realizar ou no um protesto. Uma eleio em que apenas brancos podiam participar fazia diferena para os africanos? A resposta, no que dizia respeito ao CNA, era de que no podamos ficar indiferentes mesmo quando ramos deixados de fora. Ns estvamos excludos, mas no insensveis: a derrota do Partido Nacional seria do nosso interesse e de todos os africanos. Em 1969, chegou um jovem carcereiro, que parecia particularmente ansioso em me conhecer. Eu tinha ouvido rumores de que nosso pessoal do lado de fora estava organizando uma fuga para mim e tinha infiltrado um carcereiro na ilha que iria me ajudar. Gradualmente, esse homem me informou que estava planejando a minha fuga. Ouvi o plano inteiro e no revelei a ele como soou sem confiana. Eu consultei Walter e ns concordamos que este homem no merecia confiana. Nunca disse a ele que eu no faria, mas nunca tomei nenhuma das aes exigidas para implementar o plano. Ele deve ter entendido o recado porque foi logo transferido para fora da ilha. Minha desconfiana era justificada porque ficamos sabendo que o carcereiro era agente da Boss, agncia de inteligncia secreta da frica do Sul. Eu acordei no dia da minha libertao depois de poucas horas de sono, s 4h30. Onze de fevereiro era um dia sem nuvens, de fim de vero, na Cidade do Cabo. Eu fiz uma verso reduzida dos meus exerccios usuais para regime, me lavei e tomei o caf da manh. (...) Eu estava espantado e um pouco assustado. No esperava uma cena como aquela no mximo, eu tinha imaginado que haveria algumas dzias de pessoas, principalmente os carcereiros e suas famlias. Mas isso provou ser apenas o comeo. Percebi que ns no tnhamos nos preparado totalmente para o que estava para acontecer. | O lanamento da autobiografia de Nelson Mandela ,Longa Caminhada para a Liberdade, mesmo sem propaganda, trazia a expectativa de recorde de venda, dada a importncia do lder biografado. O autor, entrevistado, disse que preferia manter um tom de impessoalidade , para retratar com iseno um momento histrico, mas o fez em primeira pessoa para agradar o enorme pblico dos EUA, segundo declarou. Para ele , a prpria formao poltica se alicerou nos mltiplos sofrimentos, humilhaes, que acrisolaram uma rebeldia capaz de se exteriorizar em luta contra o sistema. Vinte e sete anos de priso foram uma escola para o lder , que posteriormente comandou a devoluo do poder aos negros. Na entrevista , ele pediu pacincia populao para aguardar as mudanas que ainda viriam. Falou de sua experincia na universidade , que, apesar de cultivar valores liberais, no era o habitat em que se via vontade: sentia-se, s vezes, um objeto de curiosidade, um intruso. No entanto, foi uma oportunidade de abertura para o mundo das idias essa convivncia com jovens intelectuais brancos e indianos, dispostos a lutar pela libertao. Seu aprisionamento em dezembro de 1956 veio de forma arbitrria por intermdio de uma ordem , que falava de alta traio. Na priso, assistiu s eleies gerais, das quais somente participaram 3 milhes de brancos. Em 1969, chegou um jovem carcereiro, que supostamente facilitaria sua fuga. Mas sua intuio lhe dizia que era um traidor: de fato, pertencia inteligncia secreta da frica do Sul . Na entrevista, falou tambm do dia de sua libertao, em que estava espantado e um pouco assustado. |
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