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Incubadoras ajudam 'parto' de empresas Candidatos obtm local subsidiado para iniciar atividades, alm de orientao burocrtica e tecnolgica CLUDIA RIBEIRO MESQUITA Free-lance para a Folha Mesmo sem dinheiro para investir, possvel comear um empreendimento com alto uso de tecnologia. O segredo est nas incubadoras. Mantidas por universidades, empresas privadas e pelo governo, elas auxiliam a abertura da empresa, desde o registro na Junta Comercial at a assessoria tecnolgica. O candidato a empresrio dispe tambm de infra-estrutura local na prpria incubadora para o incio de suas atividades, luz, gua, telefone com taxas subsidiadas. O desconto inicial chega a 80% do valor real. O custo aumenta com o tempo, at que se torne vantajosa a sada da incubadora. H um limite de permanncia de trs anos. O incentivo financeiro decrescente para que a empresa sofra o menor choque possvel assim que ela sair da incubadora, afirma Jos Adelino Medeiros, professor visitante da USP e assessor de incubadoras e plos tecnolgicos da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Desenvolvimento Econmico do Estado de So Paulo. A idia livrar o empresrio dos entraves burocrticos, tcnicos e comerciais, orientando-o em seus primeiros passos, explica Medeiros. Segundo ele, h 19 incubadoras em funcionamento no Brasil quatro delas no Estado de So Paulo e mais uma dezena em fase de implantao ou ainda em estudos, como a da USP. H incubadoras especializadas em diversas reas (veja quadro ao lado). No Brasil, h mais de 200 micro e pequenas empresas geridas ou ainda em gestao nesse tipo de redoma, especialmente configurada para estimular a criao de empresas e transformar idias em produtos, processos e servios. Os setores abrangidos so bastante diversificados. Empresas nascidas em incubadoras atuam, por exemplo, no setor qumico, na fabricao de produtos odontolgicos, em informtica, em biotecnologia e muitos outros. Nas Ietec (Incubadoras Empresariais Tecnolgicas, a denominao oficial das incubadoras), empresrios, ou futuros empresrios, ganham mais tranquilidade para desenvolver seus projetos porque so subsidiados pelas entidades que as apiam universidades, prefeituras, governo do Estado, associaes comerciais e industriais e institutos de pesquisa isoladamente ou em conjunto. De acordo com Medeiros, o principal objetivo das incubadoras incentivar a criao de empresas, com a possibilidade de gerar novos empregos. Os candidatos s vagas em uma Ietec so selecionados por concurso pblico. No so aceitas empresas poluentes. Uma vez aprovadas e instaladas, tm acesso aos servios que as universidades e centros de pesquisa oferecem, como laboratrios para testes e toda a assessoria de especialistas. Esses servios, opcionais, so pagos. Os preos, por hora de trabalho do consultor, costumam ser mais baixos do que os cobrados no mercado. Podem entrar nas incubadoras tambm empresas j em funcionamento ou novos departamentos de empresas em atividade. Cada Ietec ocupa, em mdia, rea de 800 m2, em galpes, antigas instalaes industriais ou prdios adaptados, com um mdulo de cerca de 40 m2 para cada empresrio. O restante do espao comum a todos os condminos e pode ser utilizado para show room, sala de reunies, banheiros, depsitos, almoxarifados e secretaria. Cada Ietec tem capacidade para cerca de dez empresas.
Incubadoras ajudam partode empresas Candidatos obtm local subsidiado para iniciar atividades, alm de orientao burocrtica e tecnolgica CLUDIA RIBEIRO MESQUITA- Free-lance para a Folha possvel iniciar um empreendimento com tecnologia avanada , sem dinheiro. O caminho so as incubadoras , que facilitam a abertura da empresa, a partir do registro at a assessoria tecnolgica. O candidato a empresrio usufrui de espao na prpria incubadora, de luz, gua, telefonea preos mdicos. O professor Jos Adelino Medeiros, assessor de incubadoras da Secretaria de Cincia, Tecn. E Desenv. do Est. de S.Paulo , diz que o incentivo financeiro decrescente para que no haja surpresa. A idia livrar o candidato de entraves burocrticos, tcnicos e comerciais. No Brasil , h mais de 200 micro e pequenas empresas em gestao , em setores bastante diversificados. Nas Ietec (incubadoras) ,os futuros empresrios tm mais tranqilidade para desenvolver seus projetos. O prof. Medeiros diz que , paralelamente com seu objetivo de criar empresas, as incubadoras ajudam a abrir novas fontes de trabalho. Os candidatos so selecionados por concurso pblico , sendo descartadas as empresas poluentes. Selecionadas as empresas, logo elas tm acesso aos ncleos que patrocinam as incubadoras, a preos sempre mais baixos do que os do mercado.
ce94jl11-a
Uma legio que varia entre 30 e 35 milhes de fiis brasileiros acredita que o juzo final, ou o dia do apocalipse, pode acontecer entre hoje e o ano 2000. Esse coro, suficiente para lotar 185 Maracans, estimado por entidades to diversas como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e o Instituto Cristo de Pesquisas (ICP). Os apocalpticos so compostos por uma horda de fiis intitulada evanglicos, que inclui membros de igrejas como a Presbiteriana, Batista, Metodista, Assemblia de Deus, Deus Amor e Universal do Reino de Deus. Considerada uma das caractersticas do nosso esprito de poca, essa crena no fim do mundo nasceu de mltiplas leituras que os fiis fizeram de axiomas bblicos, retirados sobretudo dos textos de Mateus, Habacuque e do Livro dos Provrbios. A Folha percorreu o centro de So Paulo por dez dias, em busca das leituras que cada fiel fez dessas frases. Mario Silva Ramos, por exemplo, pregador presbiteriano que frequenta a praa Ramos de Azevedo (centro de So Paulo). Diz que acredita no fim do mundo para o ano de 1999 -graas a uma frase que ele retirou do livro do Apocalipse: um raio branco varrer os no convertidos do centro da terra e s sero arrebatados ao Paraso os merecedores. At alguns catlicos tm sustentado que o fim do mundo pode acontecer a qualquer momento, antes do clssico 1999. Segundo a Confederao Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Igreja Catlica perde em mdia, s no Brasil, 600 mil fiis para outras religies, sobretudo as apocalpticas. E alguns desses dissidentes do catolicismo, atormentados pelo fantasma do juzo final, saem para as ruas pregando o fim do mundo -sem abrir mo dos cnones catlicos mas tambm sem aceitar integralmente a idia das religies adventistas. o caso de Maria de Lourdes Batistella, 45, que h cinco anos torra sua existncia no centro de So Paulo alertando os pedestres como sobre se salvar dos pecados. Olhos azuis, vestida de branco como uma freira, trazendo em punho um megafone de ltima gerao, ela distribuiu santinhos de metal dourado, na inteno de salvar os paulistanos do mal. Um dos sinais do apocalipse que os padres deixaram de usar batina e que eles mesmos tm medo de falar sobre o fim do mundo, sustenta a pregadora. A nica forma de salvao seria rezar um rosrio mais de 40 vezes por dia, diz Maria de Lourdes, que prega carregando um retrato de Nossa Senhora. Assim como ela, h membros de seitas que esperam o fim do mundo para qualquer hora, a partir de agora. Em 1992, por exemplo, as seitas coreanas Bank ik Ha e Misso Taber, do Brs (zona leste), anunciaram o fim do mundo para o dia 28 de setembro daquele ano -tambm escolhido como o ano final pela seita carioca Auto-Clamor. O mais curioso de tudo que a Misso Taber sustentava que a lngua dos anjos que desceriam do cu seria o coreano. E que as bestas do apocalipse poderiam ser identificadas por trazerem o cdigo de barras na testa. Segundo pesquisador Paulo Romeiro, do Instituto Cristo de Pesquisas, a diversidade de datas e meios pelo qual vir o juzo final reside em vrias interpretaes do captulo 4, versculo 18, onde se faz meno vinda da luz, que arrebatar os fiis aos cus. Cada seita diz que essa luz vir numa data e, com esse tipo de ameaa, conseguem extorquir dinheiro de seus fiis, que se sentem ameaados. Em 1994, apenas uma igreja marcou data para o fim do mundo. Trata-se da seita Family Radio, dos EUA, comandada por Harold Camping, um pastor da Califrnia. No incio do ano, ele enviou ao Brasil 50 discpulos que se hospedaram no Othon Palace Hotel, em So Paulo. Passaram 100 dias no Brasil distribuindo a obra 1994, um calhamao de 556 pginas, que pode ser encontrado em qualquer livraria da cidade. Detalhe: l-se pgina 524 que a vinda de Cristo Terra j teria sido anunciada em 1994 no primeiro dia do stimo ms. E mais: na pgina 528, est escrito que o dia do juzo final est marcado para o prximo dia 15 de setembro. Diz o pesquisador de religies Joaquim de Andrade, 32, que alguns membros dessas seitas tm sustentado que, quando finalmente o apocalipse chegar, s haver vagas no cu para um nmero justo de 144 mil pessoas puras. Agora eles vm dizendo que a maioria dessas vagas j foi preenchida e que s vai haver lugar mesmo para 8.000 pessoas.
Segundo o IBGE e o Instituto Cristo de Pesquisa (ICP) , entre 30 e 35 milhes de fiis brasileiros acreditam que o juzo final pode se dar de hoje at o ano 2000. Entre esses crentes , denominados de evanglicos, esto membros de igrejas como a Presbiteriana, Metodista , Assemblia de Deus, Deus Amor, e Universal do Reino de Deus. Seguidores dessas seitas, com base na leitura de certas passagens bblicas, apregoam o fim do mundo, alguns at com data marcada. H muitos dissidentes do catolicismo que , influenciados por esses pregadores, tambm fazem coro com eles nas suas pregaes de rua. Todos esses pretensos profetas querem salvar os que ainda no assimilaram a sua verdade. Alm da tragdia apocalptica , muitos deles pressionam alertando para o limite de vagas no cu :s 144 mil , algumas j preenchidas, segundo alguns . uma frmula fcil de convencer os crdulos e, conseqentemente, de tirar dinheiro deles. Uma seita americana , Family Radio, chegou a marcar data para o juzo final. Na poca , mandaram 50 discpulos ao Brasil, que se hospedaram no Othon Palace Hotel, em So Paulo. Passaram aqui 100 dias distribuindo a obra 1994
co94ag07-09
Gogol e o novo estatuto dos advogados CAETANO LAGRASTA NETO; SNIA DAS DORES DIONSIO Elaborar uma nova lei no quer dizer, necessariamente, que estaremos adquirindo uma mentalidade moderna. O pssimo vezo do brasileiro de pensar que, em formulando novas leis, talvez consiga novas almas, lembra-nos Gogol: o Brasil precisa parar de colecionar almas mortas. Um novo estatuto profissional deve se constituir em documento hbil legalmente, moderno e avanado, voltado para as necessidades sociais com enfoque cientfico, visando o aprimoramento da classe (por exemplo, incentivando cursos, estgios e reformulando exames de Ordem). Lavrar-se mais um libelo corporativista apenas demonstra a fragilidade de um segmento profissional e a incapacidade para criar novos mecanismos de defesa da prpria sociedade. Neste diapaso, a atitude do procurador-geral da Repblica de questionar apenas um dos incisos do novo Estatuto dos Advogados revela-se, quando nada, falha. Basta enfocar, para tanto, apenas dois pontos, onde avultam a falta de tcnica legislativa e agresses Constituio Federal. O artigo 1, inciso I, da lei 8.906, de 04 de julho de 1994 (Estatuto da Advocacia), afirma ser atividade privativa desta a postulao a qualquer rgo do Poder Judicirio e aos Juizados Especiais. Nesse ponto, a lei afronta, dentre outras, a que criou os Juizados Especiais de Pequenas Causas (7244/84), a CLT (artigos 791 e 839 e lei 5.584/70), a Lei de Alimentos (5.478/68), todas, normas de carter instrumental e absolutamente especiais, sobressaindo nesse passo a ofensa ao artigo 5, inciso LXXIII, da Constituio Federal (Ao Popular), numa tentativa de garantir o monoplio do mercado, em detrimento do acesso Justia e moralidade administrativa. Neste conflito entre normas consagrado o princpio segundo o qual no poder haver prevalncia de norma especial sobre outra, tambm especial, diante da escala estabelecida pelo artigo 59, da CF/88, uma vez que a lei 8.906/94, alm de ser norma de carter eminentemente estatutria especfica, no disciplina integralmente a matria, quer quanto ao jus postulandi, quer quanto, especificamente, aos Juizados. Desta forma, havendo outras que o faam, como mencionado, a nova lei no revoga nem modifica a anterior (artigo 2, pargrafo 2 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil). Ao pretender ser corolrio do princpio constitucional estabelecido no artigo 133, no demasia observar, com o ministro Orlando Teixeira da Costa, do TST, que esse dispositivo, no objeto de lei reguladora, reserva aos advogados uma condio de servidor da justia e no de monoplio, da decorrendo que o art. 839 da CLT continua em plena vigncia (Rev. LTR n 53-3/271). Assim, inexistindo lei que regulamente o citado artigo 133, evidente que a lei de estatuto no poder excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito (CF, artigo 5, inciso XXXV). Por fim, quando a lei diz juizados especiais, dirige-se queles do artigo 98, inciso I, da CF/88, o que, evidentemente, no inclui os de Pequenas Causas, porque previstos em artigo diverso (artigo 24, X), o que impede qualquer interpretao extensiva. O segundo ponto refere-se sustentao oral, aps o voto do relator (artigo 7 IX), onde, mais uma vez, infringe o legislador ordinrio a determinao constitucional, invadindo a competncia privativa dos tribunais, conforme dispe o texto da Carta Magna, na letra a do artigo 96, que diz competir aos tribunais dispor sobre o funcionamento dos respectivos rgos, e repete atitude desastrada da Lei Castilho Cabral (2.970/56), que naquela poca, como hoje, em 48 horas, teve declarada a inconstitucionalidade pelo Superior Tribunal Federal. Estas questes no se coadunam com o disposto no item I, do artigo 44, do prprio estatuto, que diz ser finalidade da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) defender a Constituio, a ordem jurdica do estado democrtico de direito, os direitos humanos, a justia social e pugnar pela boa aplicao das leis, pela rpida administrao da Justia e pelo aperfeioamento da cultura e das instituies jurdicas. Ser possvel desta forma? CAETANO LAGRASTA NETO, 51, juiz do 2 Tribunal de Alada Civil do Estado de So Paulo. SNIA DAS DORES DIONSIO, 37, juza do Trabalho Substituta da 4 Junta de Conciliao e Julgamento de Vitria (ES).
Gogol e o novo estatuto dos advogados CAETANO LAGRASTA NETO; SNIA DAS DORES DIONSIO Uma nova lei no atualiza, necessariamente, uma mentalidade. Um novo estatuto profissional deve ser juridicamente hbil, avanado, capaz de defender as necessidades sociais sob um enfoque cientfico , direcionado ao aprimoramento da classe. Elaborar um regimento corporativista sinal de fragilidade do segmento profissional a que ele se destina e de sua incapacidade de criar novos mecanismos de defesa. A atitude do procurado-geral da Repblica de questionar apenas um dos incisos do novo Estatuto dos Advogados mostra-se falha. Basta examinar dois pontos, que revelam falha tcnica e desrespeito Constituio. O artigo 1 , inciso I, da lei 8.906 (Estatuto da Advocacia) afirma ser atividade privativa desta a postulao a qualquer rgo do Poder Judicirio e aos Juizados Especiais. Nesse ponto, a lei se choca contra a que criou os Juizados Especiais de Pequenas Causas (7244/84), a CLT (art.791 e 839, e a lei 5.584/70), a lei de Alimentos (5.478/68).Em caso de conflito entre normas, prevalece o princpio de que uma no se superpe outra O segundo ponto diz respeito sustentao oral, aps o voto do relator (art.7 IX ) , em que o legislador ordinrio desrespeita a Constituio que diz competir aos tribunais dispor sobre o funcionamento dos respectivos rgos. So questes que conflitam com o que diz o prprio Estatuto , que afirma ser finalidade da OAB defender a Constituio.
di94ma04-07
O Rio Grande do Sul e a interao latino-americana RICARDO ANTNIO SILVA SEITENFUS Devemos ser criterios os com o que o governo federal nos oferece No ano de 1960, Leonel Brizola, poca governador do Rio Grande do Sul, envia dramtica mensagem ao presidente Juscelino Kubitschek, denunciando que o Brasil est prestes a firmar acordo internacional que pode trazer efeitos os mais danosos e injustos para labor honesto e fecundo do povo riograndense, sem permitir nossa opinio sobre assunto que interfere com nossos mais altos e sagrados interesses. O telegrama, datado de 6 de fevereiro, refere-se criao da Associao Latino-americana de Livre Comrcio (ALALC), promovida pelo ento ministro das Relaes Exteriores, Horcio Lafer. Brizola reivindica que o Rio Grande do Sul possa examinar e se fazer ouvir durante a elaborao do Tratado de Montevidu, designando, para tanto, Manoel Luzardo de Almeida, economista especializado no setor primrio. A imprensa brasileira, mordaz ao noticiar o episdio, descreveu o governador gacho como ridculo, fanfarro e administrador irresponsvel do Rio Grande do Sul (Correio da Manh, 10/02/1960). Diante das declaraes oriundas do Itamaraty, que informa ter enviado ao Rio Grande do Sul todos os documentos atinentes ao acrodo, predomina nos peridicos uma interpretao superficial: a de que, antes de fazer ameaas, Brizola deveria pr em ordem sua administrao. Efetivamente, o governador afirma estar tomando conhecimento, atravs da imprensa, que o governo brasileiro prepara-se para assinar acordo para construo de Mercado Comum sul-americano. No entanto, a ALALC visava unicamente fomentar o comrcio intra-regional, lanando de forma conjunta as bases da industrializao, para torn-la mais eficiente. Estava totalmente excluda de sua pauta a diminuio tarifria dos produtos oriundos da agricultura e da pecuria. A cena protagonizada por Brizola repetir-se- 28 anos mais tarde, em abril de 1988, novamente atravs do governo do Rio Grande do Sul, agora exercido por Pedro Simon. Em Braslia, quando da assinatura de mais uma rodada de acordos entre Brasil e Argentina, ponto fundamental da poltica de aproximao instaurada pelos presidentes Sarney e Afonsn, Simon declara que tomou conhecimento, atravs da imprensa, do teor de um dos documentos: o Protocolo 22, semente do Mercado Comum do Sul (Mercosul), criado pelo Tratado de Assuno, em 1991. Com o recuo do tempo, torna-se evidente que, assim como para a ALALC combatida por Brizola tais questes no estavam em jogo, no caso do Protocolo 22 que mereceu feroz reao de Simon no houve invaso dos produtos argentinos: ao contrrio a economia primria gacha demonstrou sua competitividade no mercado argentino. O Rio Grande do Sul alou-se ao segundo lugar das exportaes brasileiras (crescimento de 12,10% em 1992 para 13,44% em 1993), menor apenas que a de So Paulo, inclusive com a exportao de produtos primrios. A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econmico e Social divulgou, em fevereiro de 1994, levantamento pelo qual conclui que as exportaes gachas para os pases membros do Mercosul cresceram 68,52% em 1993. Na verdade, h dois aspectos realmente importantes na atitude dos dois governadores. Em primeiro lugar, a identificao dos interesses pblicos do Rio Grande do Sul com as idias de alguns segmentos arcaicos do setor da produo primria, pelos quais arriscam-se at mesmo a combater algo que desconhecem. Apesar do profundo processo de urbanizao e industrializao pelo qual passou o Rio Grande do Sul, at os dias de hoje, quando h no horizonte qualquer mudana, positiva ou negativa, que possa tangenciar tais interesses, de imediato o poder poltico mobiliza-se. Por outro lado, os polticos gachos tradicionais esto impregnados de uma viso regionalista das relaes entre o Brasil e a Amrica Latina, cujo calcanhar-de-aquiles seria precisamente o relacionamento do Rio Grande do Sul com a Bacia do Prata. O territrio gacho detm toda a fronteira brasileira com o Uruguai e grande parte dos limites com a Argentina. Do ponto de vista militar e estratgico, aparenta ser um escudo contra o Sul. De fato, muito da histria do Rio Grande fez-se com ou contra os pases platinos. O perfil da produo econmica, do acesso aos fatores de produo, especialmente a terra, e a prpria cultura (iclusive poltica, pois Getlio Vargas costumava dizer que se sentia mais prximo de Buenos Aires do que do Rio de Janeiro), moldam os gachos para que no sejam indiferentes em relao aos seus vizinhos. Assim, todas as iniciativas do governo federal referentes a questes latino-americanas, sero muito mais sentidas no sul do pas do que nos demais Estados da Unio. Note-se que, assim como Brizola, Simon fez a poltica do alarde, apresentando os temores de alguns gachos como interesses sagrados de todo o Rio Grande do Sul e, o que mais grave, prescindindo de um srio estudo que avaliasse as consequncias do acordo para a economia gacha. Ironicamente, alguns meses depois do episdio aqui narrado, tendo observado o processo integracionista em desenvolvimento, Simon consagrou-se como artfice da integrao, sendo ovacionado pela imprensa e pelos setores classistas do Estado, eis que os protocolos outrora combatidos por ele, pela imprensa e os mesmos setores foram assinados durante a sua gesto. A prpria participao dos Estados membros em questes de poltica externa foi assegurada pelo Protocolo 23, elaborado pela Secretaria de Assuntos Internacionais do Rio Grande do Sul e assinado em 1988. Pela primeira vez criou-se um canal, juridicamente reconhecido pelo governo federal, de participao do Estado nas questes que envolvem nossas relaes com a Argentina. Diga-se de passagem, chegado o momento de fazer o mesmo com relao ao Uruguai. O exemplo de Simon serve para introduzir tema bem mais amplo. No Rio Grande do Sul, passamos do repdio abertura do mercado ao ufanismo integracionista. H, atualmente, adeso imediata e inquestionvel ao Mercosul, considerado uma questo gacha e no um projeto nacional, sobretudo pelos setores que dantes contestavam o Protocolo 22. A euforia decorre de uma impreciso: no se percebe que os ganhos so conjunturais e podem ser alterados, por exemplo, com uma mudana da poltica econmica argentina. A tal ponto, e to superficialmente, o senso comum assimilou o princpio da integrao, que a opinio pblica condena, de pronto, qualquer crtica formulada conduo das negociaes do Mercosul, como se os seus emissores fossem adversrios no da forma de conduzi-lo, mas do prprio processo. Quando Lula visitou a fronteira gacha com sua caravana e nela demonstrou sua preocupao com o encaminhamento dado pelo governo federal ao Mercosul, registraram-se reaes implacveis, inclusive afirmaes de que no governo petista o sonho de um mercado comum estaria acabado. Ora, Lula apenas expressou conhecimento sobre o tema, o que indito entre os candidatos Presidncia da Repblica. No se ope, apenas reflete: props a reviso de prazos, o que traria maturidade e preciso ao processo. Questionou os seus atores, eis que o Itamaraty centraliza o encaminhamento do Mercosul, dele excluindo precisamente os consumidores, os pequenos produtores rurais e os representantes da fronteira, entre muitos outros interessados. Seguramente, a pressa e a irreflexo, tantas vezes presentes em nossa histria, que so os coveiros da integrao. Desta forma, o que h de comum entre a anterior rejeio e o ufanismo do presente de fato a precipitao. Evidente que o moderno Rio Grande do Sul no pode prescindir de um projeto amplo de integrao latino-americana, pois somente assim o extremo Sul do Brasil ter condies de tornar-se um dos plos do novo sistema sul-americano que se desenha. Contudo, um projeto mal concebido ou executado inadequadamente pode causar, e j tem causado, prejuzos inestimveis. Favorveis ao pressuposto da integrao, devemos ser criteriosos, no descartando e nem acatando, de pronto, tudo o que nos oferece o governo federal. Os exemplos de Simon e Brizola revelam que a precipitao e a busca de resultados polticos imediatos constrem o pior caminho para o desenvolvimento e so vcios que o curso da histria no tarda a desnudar. RICARDO ANTNIO SILVA SEITENFUS, 45, doutor em Relaes Internacionais pelo Instituto de Altos Estudos Internacionais em Genebra, coordenador do curso de mestrado em Integrao Latino-americana da Universidade Federal de Santa Maria (RS). Foi secretrio especial para Assuntos Internacionais do Rio Grande do Sul (governo Pedro Simon).
O Rio Grande do Sul e a interao latino-americana RICARDO ANTNIO SILVA SEITENFUS Devemos ser criteriosos com o que o governo federal nos oferece No ano de 1960, o governador do Rio Grande do Sul, Brizola, envia uma dramtica mensagem ao presidente Juscelino Kubitschek denunciando que o Brasil estava em vias de firmar acordo internacional com possveis efeitos desastrosos para o povo sul-riograndense, sem ouvir sua opinio. O telegrama referia-se criao da Associao Latino-americana de Livre Comrcio (ALALC), encaminhada pelo ento ministro das Relaes Exteriores, Horcio Lafer. A mordacidade da imprensa brasileira classificou o governador de ridculo, fanfarro e administrador irresponsvel do Rio Grande do Sul (Correio da Manh , 10/02/1960) Apesar do susto do governador, a ALALC tinha em mira somente incrementar o comrcio intra-regional, organizando as bases da industrializao para aumentar sua eficincia. Nada de reduzir a tarifa dos produtos agropecurios. Vinte e oito anos depois, a cena se repete , agora comandada pelo ento governador do Rio Grande do Sul, Pedro Simon. Quando da assinatura de uma rodada de acordos entre Brasil e Argentina, dentro da poltica de aproximao encaminhada pelos presidentes Sarney e Alfonsn , Simon declara que s tomou conhecimento , atravs da imprensa, do teor de um dos documentos o Protocolo 22, semente do Mercosul . Como no episdio anterior, agora no houve a suspeitada invaso de produtos argentinos . A economia gacha mostrou competitividade , e o Estado alcanou o segundo lugar nas exportaes brasileiras , somente superado pelo Estado de So Paulo. Os dois episdios permitem uma reflexo importante. Primeiro, a identificao dos interesses do Rio Grande com as idias arcaicas de alguns segmentos da produo primria. Apesar do processo de urbanizao e industrializao pelo qual passou o Estado, h sempre um frisson na classe poltica, quando ocorre uma conversa de mudana. que muito da histria do Estado aconteceu com ou contra seus confrontantes platinos. O perfil da produo , a terra e a cultura no permitem que sejam indiferentes entre si. O alarde em ambos os episdios certamente resultado da precipitao ocasionada pelo sentimento regionalista. No entanto, passado alguns meses e encaminha o processo de integrao, foi o prprio Simon quem o consagrou , sendo elogiado pela imprensa e pelos setores classistas do Estado. Pela primeira vez, estabeleceu-se um canal reconhecido pelo governo federal , com a participao do Estado nas relaes com a Argentina. O salto entre a rejeio e a adeso ufanista advm da falta de amadurecimento capaz de mostrar a convenincia de uma medida. Quando Lula visitou o Estado e manifestou a sua preocupao com a forma de encaminhamento da questo do Mercosul , logo recebeu crticas como se ele se opusesse sua implantao. O que questionava eram as imprecises como ele estava sendo implantado. O moderno Rio Grande do Sul no pode abrir mo de um projeto amplo de integrao latino-americana, altamente benfico a ele, mas tem que avaliar o prejuzo de um projeto mal elaborado.
op94ag21-a
Os dados da pesquisa Datafolha publicada hoje acerca das intenes de voto para a eleio presidencial abrem um novo cenrio para o debate poltico e ensejam um breve exerccio especulativo acerca do futuro do pas. De fato, a manuteno do crescimento da candidatura de Fernando Henrique Cardoso e da queda de Luiz Incio Lula da Silva comea a tornar plausvel a hiptese de que a corrida presidencial se encerre j no primeiro turno. claro que essa uma perspectiva incerta, e a prpria ascenso de Fernando Henrique Cardoso alerta para a volatilidade das preferncias pr-eleitorais. Ainda assim, a especulao faz sentido medida que no se vislumbram, at agora, novos fatos polticos de impacto e que o grande fator diferencial desta campanha, o Plano Real, dever, segundo especialistas, apresentar taxas declinantes de inflao ao menos at o prximo ms. Lembre-se ademais que a mera perspectiva de vitria j basta para atrair adeses. Como esta Folha vem revelando nos ltimos dias, cada vez mais polticos, das mais varidadas tendncias, procuram a candidatura tucana em busca de alianas. Esse afluxo pode reforar a imagem de favorito, o que por sua vez acaba atraindo mais adeses e assim por diante, num possvel efeito bola-de-neve. Ainda que sempre no campo da especulao, bvio que uma eventual vitria de Fernando Henrique no primeiro turno lhe daria um importante capital poltico. O vasto espectro de apoios que FHC tem recebido vem-se somar a declaraes do prprio candidato no sentido de sugerir a possibilidade de uma ampla frente, de um governo como que de aliana nacional. E se certo que uma juno de foras dspares apresentaria naturalmente problemas de coeso, tambm verdade que uma vitria no primeiro turno poderia dar ao eleito fora bastante para contrapor-se a presses, direcionando mesmo um bloco heterogneo para seus objetivos. Outras indagaes que surgem nesse panorama referem-se ao futuro de partidos no pas. O PT, por exemplo, tender a ser engolfado por uma crise se for derrotado novamente. No surpreenderia se a ala radical da legenda responsabilizasse o comedimento do discurso eleitoral pelo fracasso e tentasse tomar as rdeas do partido; tampouco causaria espanto se os membros mais moderados recusassem o jugo xiita. H que acrescentar a isso o fato de que no h no PT, at agora, um nome capaz de suceder Lula na liderana da agremiao. E duvidoso se o atual cacique petista ter condies de permancer no posto aps duas derrotas sucessivas. No caso do PMDB a situao algo semelhante. Seu atual lder, Orestes Qurcia, parece caminhar para uma derrota de propores at surpreendentes. Tal derrocada, se efetivada, abriria um vcuo para o qual, como no PT, no h at aqui um nome de consenso embora seja provvel que o governador paulista Luiz Antonio Fleury Filho tente preench-lo. incerto, porm, se o PMDB conseguir manter-se intacto: as divergncais internas so notrias e j h adeses a Fernando Henrique ocorrendo de forma desorganizada. Mas, se conseguir sobreviver unido, o PMDB dever dispor de fora pondervel no futuro quadro poltico. Assim como ocorre com Lula e Qurcia, de se indagar se Leonel Brizola no acabar tambm afastado do cenrio poltico com mais essa derrota o que afetaria duramente o PDT, partido muito mais vinculado figura do seu caudilho que os outros acima. Parece esboar-se assim sempre no caso de manuteno das atuais tendncias um cenrio ps-eleio de enfraquecimento de algumas das principais lideranas polticas dos ltimos anos que no exclui a possibilidade de uma grande aliana em torno do vencedor. Um cenrio, portanto, de enormes mudanas e transformaes na vida poltica nacional.
As intenes de voto para a presidncia que o Datafolha publica ensejam uma especulao sobre o futuro poltico do Brasil. Com o crescimento de Fernando Henrique Cardoso e a queda de Lula , pode haver uma definio no primeiro turno. verdade que essas prvias em poltica no tm estabilidade obrigatoriamente, mas a ausncia de fatos novos que indiquem mudana pode deixar o sucesso do Plano Real como nico motivador dos votos, principalmente se a inflao declinar , como sugerem os especialistas. E esse clima de vitria atrai adeses, como j vem acontecendo em torno de FHC, at revelia de decises de cpulas de partidos. Se acontecer a vitria no primeiro turno, Fernando Henrique capitalizar um trunfo poltico capaz de anular as presses e facilitar suas decises de governo. Ainda especulando, o PT pode cair em crise , e os seus radicais assumir as rdeas do governo. E o pior que no h, por enquanto, quem substitua Lula na liderana do partido. Caso idntico ocorre com o PMDB, se o seu atual lder, Orestes Qurcia, concretizar uma derrocada que parece certa. Antonio Fleury Filho pode querer assumir a liderana , mas no h consenso em torno dele. O mesmo pode se dar em Leonel Brizola , cacique do PDT, que no deve resistir a mais uma derrota.
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Os ltimos continuam sendo os primeiros O pressuposto que o povo brasileiro pagar qualquer preo para ter estabilidade, at custa do desemprego MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Na semana passada, em Santiago do Chile, consegui tomar distncia das mltiplas desgraas que assolam o Rio de Janeiro e fazer uma anlise serena do Plano Real. Fui ajudada pela obrigao de fazer duas exposies para um pblico seleto de experts da Cepal e para o presidente do Banco Central do Chile. Trata-se de gente que conhece as experincias de estabilizao da Amrica Latina. A perplexidade que reinou foi em relao poltica cambial e monetria. As perguntas mais difceis de responder foram: 1 - Por que deixaram o real sobrevalorizar-se nominalmente em 15% em menos de dois meses, em cima de uma inflao residual de cerca de 12%? 2 - Levando em conta o repique da inflao em outubro para cerca de 3%, se esta se mantiver, a sobrevalorizao do real entre 30 de junho e 30 de dezembro pode alcanar cerca de 40%. Esta a mais rpida e brutal sobrevalorizao de todas as experincias recentes de estabilizao que escolheram o cmbio como ncora. Por acaso, o objetivo provocar uma abertura externa com dficit comercial, em tempo recorde para os padres latino-americanos, que levaram em mdia mais de trs anos para obter esse resultado? 3 - Por que puseram uma meta monetria to estreita, sabendo que no detinham o controle do crdito interno e muito menos o do crdito externo? A monetizao brusca, os vasos comunicantes do mercado financeiro e a desregulao da conta de capital do balano de pagamentos no iriam anular qualquer possibilidade de poltica monetria ativa e eficaz? 4 - As expectativas de volta da inflao no tenderiam a restabelecer a reindexao voluntria? Tive dificuldade de responder s perguntas e algumas s pude faz-lo com meras hipteses. Em relao s medidas corretivas que acabaram de ser anunciadas, ocorreram as inevitveis comparaes com o invernadero chileno e as dvidas sobre se o IOF seria um instrumento eficaz para regular a entrada de capitais. O simples manejo para cima do IOF no poderia ser repassado taxa de arbitragem dos agentes financeiros que operam em dlar, seguindo-se um aumento do spread bancrio e uma elevao da taxa de juros nominal interna, que apenas sancionaria o aumento das expectativas inflacionrias? Os fatos da semana passada parecem confirmar a pergunta. Sobre a dinmica futura do plano, podemos pensar em duas fases. Na primeira, a sobrevalorizao continuar como mecanismo de abertura radical da economia. Dado o grande fechamento histrico, parece querer-se chegar, com um atraso de um a dois anos, a um dficit comercial. Este seria julgado essencial para que a absoro de recursos externos seja compatvel macroeconomicamente com o supervit da conta de capitais. Trata-se de uma hiptese convencional, defendida pela maioria dos economistas do Consenso de Washington (ver, por exemplo, o artigo de Arminio Fraga na Gazeta Mercantil de 14/10/94). Esta poltica foi adotada pelo plano de estabilizao do Mxico, com a diferena de que a sobrevalorizao foi mais lenta (dado o mecanismo de deslizamento do peso em relao ao dlar). No Mxico, a destruio da indstria tradicional pela concorrncia externa (decorrente da abertura tarifria e da sobrevalorizao cambial) foi em parte compensada pelo crescimento fortssimo da indstria maquilladora da fronteira que transaciona diretamente em dlar com os EUA. O processo de privatizao acelerou a entrada de capitais (e a sobrevalorizao cambial), a qual continuou depois acompanhando o ciclo de negcios e a demanda por crdito do setor privado. A entrada de capitais, para ser esterilizada monetariamente, teve de ser absorvida pelo crescimento da dvida pblica, o que por sua vez requereu um supervit fiscal primrio crescente. H mais de um ano, o Mxico encontra-se numa situao de desequilbrio potencial permanente no balano de transaes correntes e no oramento fiscal, que foi compensado mais recentemente por um endividamento crescente do setor pblico nas praas financeiras internacionais, em particular na Bolsa de Nova York. As expectativas de entrada e sada de capital financeiro so dificilmente manejveis em condies de desequilbrio macroeconmico crescente e de especulao na Bolsa de Valores. Assim, no Mxico, mais do que em qualquer parte da Amrica Latina, o rabo financeiro especulativo balana continuamente o cachorro. Estruturalmente, o ciclo de negcios mexicano depende cada vez mais do ciclo de negcios dos EUA, j que o Nafta, ao contrrio do Mercosul, no um acordo de livre comrcio, mas sim um acordo de proteo de investimentos de origem americana. Isso d uma certa solidariedade ao pacto das elites mexicanas, ficando com o governo do Mxico a tarefa de tentar sentar em cima das flutuaes da conjuntura e conter as presses sociais atravs das chamadas polticas sociais compensatrias ou, de outro modo, mais violento, conforme a natureza e a localizao dos conflitos. Portanto, a experincia do maior pas latino-americano do Norte indica que a mexicanizao da economia ou da poltica brasileira no so de nenhum modo recomendveis para o Brasil. No caso do Brasil, passado um certo estgio de reestruturao microeconmica, podemos passar a uma segunda fase, onde as presses dos exportadores manufatureiros, que no aguentam a concorrncia, induzam expectativas de desvalorizao. Essas expectativas sero agravadas se a recente elevao de preos das commodities (que representam 50% das exportaes) e a tendncia desvalorizao do dlar no se mantiverem. Como as importaes reagem lentamente enquanto no houver um crescimento interno suficiente para reativar a demanda interna de insumos e bens de capital para investimento, as presses por desvalorizao cambial e reindexao podem se tornar insustentveis, desestabilizando o plano. Para dar nova fora ao plano seria preciso uma nova onda de privatizaes, o que estimularia a entrada de capitais e sustentaria a sobrevalorizao cambial. Desta vez, seriam provavelmente envolvidos os setores estratgicos protegidos pela Constituio e recomendado o estabelecimento de uma nova paridade fixa entre o real e o dlar, com plena conversibilidade e depsitos em dlar, desembocando em alguma verso do Plano Cavallo. Dada a dimenso do Brasil, o seu maior grau de industrializao e os seus gigantescos bolses de pobreza, os resultados desse tipo de polticas seriam piores que os verificados em outras experincias de liberalizao latino-americanas. Do ponto de vista operacional, o mercado financeiro deixado a si mesmo no vai parar de pressionar no sentido da especulao cambial, como na semana que antecedeu as medidas de interveno. Mas o BC (alm de ter de jogar o jogo de gato e rato, em que os operadores da mesa de cmbio conseguem vrias vezes ganhar o jogo derrotando um ou outro especulador mais afoito) deveria ter uma poltica cambial de longo prazo mais coerente com metas mais lentas e coordenadas de abertura econmica e absoro de capitais, sem o que no haver poltica monetria nem poltica fiscal compensatria possveis. Os mentores da poltica econmica brasileira devem conhecer a experincia internacional recente em matria das dificuldades e contradies que derivam da opo por uma poltica de cmbio fixo ou flutuante que leva continuamente sobrevalorizao, usando-se o cmbio nominal como ncora antiinflacionria permanente. Restou-me, assim, uma possvel resposta sobre o porqu da poltica to agressiva de sobrevalorizao cambial, acompanhada de reduo de tarifa externa e antecipao das regras do Mercosul: a equipe quer aproveitar a lua-de-mel da eleio e o prestgio do novo presidente para dar um tratamento de choque em matria de poltica de abertura. Tratar-se-ia de malhar o ferro enquanto est quente para evitar a organizao e arregimentao de interesses a favor de uma abertura lenta, gradual e segura. Como caracterstica da histria das elites, tudo ser feito em nome da estabilidade duradoura, da modernizao e da eficincia (com as devidas salvaguardas microeconmicas para os agentes mais relevantes). O pressuposto que o povo pagar qualquer preo para ter estabilidade de preos, mesmo custa do desemprego e da anomia social. Assim, (como ocorreu com a industrializao), o ltimo pas a se ajustar ao modelo vigente da nova ordem continental seria o primeiro em termos de impacto nos destinos da modernizao conservadora latino-americana. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).
Os ltimos continuam sendo os primeiros O pressuposto que o povo brasileiro pagar qualquer preo para ter estabilidade, at custa do desemprego MARIA DA CONCEIO TAVARESEspecial para a Folha Na semana passada , em Santiago do Chile, tive a chance de uma anlise serena do Plano Real. A situao favorvel foi a obrigao de fazer duas palestras a um pblico seleto de especialistas da Cepal e para o presidente do Banco Central do Chile. O interesse maior estava voltado para a poltica cambial e monetria . As perguntas mais difceis foram: 1- Por que deixaram o real sobrevalorizar-se nominalmente em 15% em menos de dois meses, em cima de uma inflao residual de cerca de 12%? 2- Se esta se mantiver , a sobrevalorizao do real entre junho e dezembro pode chegar a 40%. A inteno provocar uma abertura externa com dficit comercial? 3- A monetizao brusca , a interligao do mercado financeiro e a desregulao da conta de capital do balano de pagamentos no anulariam qualquer possibilidade de poltica monetria ativa e eficaz? 4- A possibilidade do retorno da inflao no tenderia reindexao voluntria? Nas respostas , fiquei s vezes em hipteses. Quanto s medidas corretivas , ficaram as dvidas sobre se o IOF seria eficaz para regular a entrada de capitais. A anlise da dinmica futura do plano pode ser pensada em duas fases. A primeira , admitindo a continuidade da sobrevalorizao como mecanismo de abertura da economia, com o possvel objetivo de chegar-se a um dficit comercialessencial para captao de recursos. Essa poltica foi adotada pelo plano de estabilizao no Mxico. O processo de privatizao estimulou a vinda de capitais que, para ser esterelizada monetariamente, precisou ser condicionada ao crescimento da dvida pblica , exigindo , por sua vez, supervit primrio crescente. O Mxico encontra-se numa situao de desequilbrio potencial permanente no balano de transaes correntes e no oramento fiscal. difcil operar com entrada e sada de capital financeiro em situao de desequilbrio macroeconmico e de especulao na Bolsa. Estruturalmente, os negcios mexicanos esto cada vez mais dependentes dos EUA. Para o pacto das elites mexicanas relativamente confortvel, cabendo ao governo segurar as presses sociais, por bem ou por mal. No so medidas para o Brasil. Passada a experincia de reestruturao microeconmica , pode-se ceder presso dos exportadores manufatureiros, facilitando a desvalorizao, expectativa cada vez mais agravada se os preos das commodities e a tendncia de desvalorizao do dlar no se mantiverem. Uma nova onda de privatizaes , que estimulariam a entrada de capitais e sobrevalorizariam o cmbio, seria uma fora para o plano. Mas, dadas as dimenses do Brasil, no seria uma boa poltica. O BC deveria ter uma poltica cambial de longo prazo com metas mais lentas e coordenadas de abertura econmica e absoro de capitais. Nossos gestores da poltica econmica devem conhecer as dificuldades de uma experincia internacional derivada de uma poltica de cmbio fixo ou flutuante , usando-se o cmbio nominal como ncora antiinflacionria permanente.
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O compromisso do cristo de amar a Deus sobre todas as coisas e ao prximo como Jesus nos ensinou. Atravs das semanas da quaresma, viemos caminhando at a Pscoa, a festa da vitria de Cristo sobre o pecado e a morte. Agora, tudo nos fala de vida nova que nos vem da ressurreio de Cristo. Pscoa esperana, certeza de que com a morte no terminar a nossa existncia. Somos chamados a participar para sempre, pela misericrdia de Deus, da ressurreio de Jesus. Da nasce a alegria profunda em nossos coraes. Nada pode destruir a confiana, que Deus infunde em nosso ntimo, de que nos destina felicidade na comunho plena com ele e os irmos. No entanto, Deus nos mantm ainda nesta terra por um tempo que pode durar muitos anos. De ns deseja o testemunho dos valores cristos na construo de uma sociedade justa e solidria. A Pscoa no nos deixa desanimar diante da tarefa de vencermos o mal, o dio, a ganncia, a sede desenfreada de prazer e toda forma de pecado. A esperana comea agora, em nossa vida e na misso de comunicar aos outros a vitria de Cristo. Faz parte desta misso o direito e o dever de procurarmos a concrdia, a justia social e a promoo integral de cada pessoa humana. Aproximam-se no Brasil as eleies. Comea a apresentao de programas pelos partidos e de candidatos aos vrios cargos de governo. Qual deve ser a expresso de nossa cidadania, luz dos valores cristos? Requer-se a anlise das propostas dos partidos e candidatos. Precisamos, tambm, oferecer os valores cristos para que possam beneficiar a sociedade. Quais so estes valores? A honestidade, a justia, a paz e a promoo do bem comum que a todos deveriam atrair. Para o cristo tem como fundamento o amor gratuito e universal que Jesus nos ensina. Assim, na base da justia social deve estar o amor que leva ao apreo e respeito a toda pessoa humana, sem discriminaes de classe, raa e origem. O cristo, a exemplo de Jesus, precisa ainda assegurar a solicitude pelos mais carentes, no anseio de a eles oferecer condies dignas de vida, reduzindo as distncias que separam ricos e pobres, at chegarmos a uma vivncia verdadeira da fraternidade. Sem esta ateno maior aos carentes, partidos e candidatos podero, ao melhorar os resultados econmicos, agravar, no entanto, a brecha entre pobres e ricos, resvalando na tentao de eliminar os excludos, sejam eles nascituros ou sofredores de rua. luz da Pscoa de Jesus, o compromisso poltico do cristo expressa nosso dever para com um novo tipo de sociedade solidria, empenhados em promover a felicidade de cada irmo, sem excluir ningum. A esperana para todos. A ressurreio de Cristo ilumina toda nossa vida e at o discernimento sobre nossa participao poltica. Torna-se mais forte o dever da orao pessoal e comunitria. Vamos, nesta Pscoa, atrair as bnos de Deus sobre nosso povo e nossos governantes na delicada situao poltica que atravessamos.
Amar a Deus sobre todas as coisas e ao prximo como a si mesmo so dois mandamentos fundamentais para o cristo. A festa da Pscoa , que agora comemoramos, nos acena com um vida nova de superao do pecado e da morte. Isso motivo de alegria . No plano terreno, um apelo solidariedade com o prximo, a fim de que a exultao religiosa no fique no discurso, ou numa transcendncia que desconhece as necessidades humanas. O reconhecimento de que existem injustias sociais faz parte da essncia dos valores cristos. E participar de sua soluo sem olhar classe, raa e origem apreender bem a mensagem do Cristo. E com a aproximao das eleies, essa coerncia crist deve ajudar o eleitor na anlise das propostas dos candidatos e interferir na seleo deles.
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Ao primeiro minuto da prxima quarta-feira as nove capitais provinciais da frica do Sul ouviro pela primeira vez, ao menos oficialmente, os sons de Nkosi Sikeleli Afrika (Deus Abenoe a frica). o novo hino nacional oficial, depois de ter sido, anos a fio, o hino clandestinamente cantado pela maioria negra, submetida ao apartheid, o nefando regime de segregao racial. Bem que a frica do Sul vai necessitar das benos dos deuses depois das eleies marcadas para os dias 26 a 28. Em seus 1,22 milho de quilmetros quadrados, vo ensaiar uma difcil convivncia 40,4 milhes de pessoas, divididas entre 5,1 milhes de brancos, 3,4 milhes de mestios e 30,7 milhes de negros, por sua vez, subdividos em 11 etnias diferentes. Desde que, em 1652, a Companhia Holandesa das ndias Orientais estabeleceu sua primeira colnia na costa sul-africana, brancos e negros amaram odiar-se. Antes e depois, negros de uma tribo matavam os de outra. Em 1990, depois de 338 anos de cruentos conflitos, seus lderes decidiram trocar os fuzis pelo dilogo, em busca de um fim negociado do apartheid. O processo reduzira misria uma majoritria fatia da populao negra e conduzira ao fausto a elite branca. As eleies desta semana so o ponto de chegada dessa negociao, um desses raros momentos que de fato merecem a qualificao de histricos. At banqueiros, habitualmente frios, recorrem retrica incandescente para avaliar a situao. O processo de transio em andamento envolve, talvez, o mais substancial realinhamento de poder poltico, militar, social e econmico jamais completado em uma mesa de negociao, em vez de no campo de batalha, incluindo o Oriente Mdio, a Europa Oriental e a antiga Unio Sovitica. A avaliao foi publicada em folheto do Salomon Brothers, banco internacional de investimento. Tarefa to ciclpica no se limitou, no entanto, mesa de negociao. Por indefinidos campos de batalha ficaram, nesses quatro anos de dilogo, os corpos de 13.724 pessoas, conforme o mais recente cmputo da Comisso de Direitos Humanos. Quase dez mortos por dia, s pela violncia poltica, sem contar a elevada cota da criminalidade comum (16 mil assassinatos apenas no ano de 1992). Seria otimismo desmesurado supor que a realizao da primeira eleio multirracial, por mais histrica que seja, basta para pr fim violncia, poltica ou comum. Os conflitos tribais que ensaguentam boa parte do mapa africano e as guerras tnicas em plena Europa assombram uma frica do Sul democrtica. As experincias da frica independente, da Iugoslvia e da ex- URSS demonstraram claramente como difcil substituir identidades tnicas individuais por um compromisso com um nico e abrangente nacionalismo, admite Zola Skweyiya, advogado do partido Conselho Nacional Africano (CNA), o mais provvel ganhador da eleio. O perodo pr-eleitoral d razo a ele. Pelo menos uma parcela dos brancos comea a se concentrar em reas do Transvaal e do Estado Livre de Orange, na zona centro-oriental do pas. um ensaio para se criar um Volkstaat (ptria para os afrikners, os brancos sul-africanos). Tambm a fatia dos zulus, a maior etnia negra (8,3 milhes), pretende fazer do KwaZulu (literalmente o lugar dos zulus) um pas independente. essa presso de fundo tnico, soma-se a presso social. Marginalizada durante sculos, a maioria negra dificilmente ter pacincia para esperar muito tempo para ter a uma vida melhor. Na edio que foi anteontem s bancas, o semanrio The Weekly Mail and Guardian publica histria na popular tira Madame e Eva. Um casal de negros apresenta-se na casa de uma senhora branca, afirmando estar caando casa para depois da eleio. O casal encanta-se com o lustre de cristal, quando a dona avisa: Sinto, mas a casa no est venda. Os negros retrucam: E quem disse algo sobre comprar? O alto nvel de expectativas da maioria negra com a troca de guarda no palcio governamental admitido pela cpula do CNA. No h crime em as pessoas desejarem coisas que lhes dem uma vida melhor, afirma Cyril Ramaphosa, secretrio-geral do partido. De fato no h crime em querer melhorar de vida. Mas tampouco h resposta para a pergunta que o Ramaphosa faz a respeito do futuro imediato: Seremos capazes de satisfazer tais expectativas? Pelo menos no papel, o CNA promete muito: criar, em dez anos, 2,5 milhes de empregos, por meio de um programa nacional de obras pblicas; construir 1 milho de casas, em cinco anos; no mesmo prazo, colocar eletricidade em 2,5 milhes de residncias; prover dez anos de educao grtis e de qualidade para todos, dentro de meros 365 dias. Se conseguir tudo isso e, ainda, controlar os previsveis conflitos tnicos, a frica do Sul nem precisar cantar Nkosi Sikelele Afrika, porque j ter sido abenoada pelos deuses. Se no, ser apenas mais um inferno africano.(CR)
A frica do Sul est prestes a ouvir pela primeira vez, pelo menos oficialmente, o seu hino nacional Nkosi Sikeleli Afrika( Deus Abenoe a frica) . Depois das prximas eleies , aps secular perodo de apartheid , ela vai precisar , mesmo, de proteo divina. A primeira colnia na costa sul-africana , em 1652, implantada pela Companhia Holandesa das ndias Orientais inaugurou um longo perodo de dio entre brancos e negros e de extermnio fratricida. O enriquecimento dos brancos custa da espoliao dos negros alimentou esse dio , que, infelizmente, contaminou as 11 etnias negras diferentes. Enfim, em 1990, os lderes decidiram negociar o fim do apartheid , certamente no por esprito humanitrio , mas por falta de lucro nos conflitos e por presso. At os prprios banqueiros , habitualmente frios, se entusiasmam com a magnitude da negociao. Se milhares de corpos tombaram neste longo e cruento conflito, no de se esperar que a soluo venha pacfica, como num passe de mgica. Tambm difcil supor que essas 11 etnias negras se organizem tranqilamente num nico pas. Pelo menos parte dos brancos, neste perodo pr-eleitoral, j comea a agrupar-se em reas do Transvaal e do Estado Livre de Orange , certamente preocupada em se isolar para proteger-se. E do lado dos negros, principalmente os zulus , a etnia dominante, procuram recuperar o que lhes foi tomado e garantir melhor qualidade de vida. Certamente prevendo as tenses criadas pelas novas expectativas, a cpula do partido promete muito na rea social. Mas o prprio secretrio-geral do partido tem suas dvidas sobre a possibilidade de satisfaz-las. fcil imaginar os resultados de uma frustrao generalizada.
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Interior paulista frtil para pequena empresa Da Reportagem Local A reduo de despesas e de pessoal empregado em grandes empresas de plos produtores do interior do Estado de So Paulo tem provocado um boom de abertura de pequenas empresas. o caso de cidades como So Jos dos Campos (97 km a nordeste de So Paulo), Franca (401 km ao norte) e So Carlos (244 km a noroeste). Em So Jos dos Campos, apenas a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronutica) reduziu o total de empregados de 12.500 para 5.700 de 1990 para c. Segundo Juarez de Siqueira Wanderley, diretor de produo da Embraer e diretor do Ciesp regional (Centro das Indstrias do Estado de So Paulo), desde 86 as grandes empresas da cidade dispensaram 15 mil pessoas. Muitos foram embora e outros procuraram uma nova atividade, diz. A Akros Engenharia e a Mectron Engenharia so empresas de ex-funcionrios da Embraer que resolveram ficar em So Jos. Csar Augusto da Silva, 39, scio da Akros, diz que a empresa nasceu h dois anos fazendo projetos de engenharia aeronutica e mecnica. O contrato com a Embraer veio depois. Ela acabou de entregar projetos para o EMB-145 (o primeiro jato comercial brasileiro) e j tem novos pedidos em carteira. A Mectron tambm faz projetos para a Embraer, mas tem contratos com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e j lanou produtos prprios. Fornecer para um nico cliente um risco. Por isso baseamos nossa produo em um trip: servios aeronuticos, de automao industrial e produtos prprios, afirma Rogrio Salvador, 36, scio da empresa. Parceiros integrados A Saltos Francs, de Franca, uma das pequenas empresas que fornecem para os mais de 400 grandes fabricantes de calados da cidade. Srgio Rodrigues Peixoto, dono, diz que vende 60% de toda a produo de saltos para a Sambinos, uma grande fabricante de solados. A integrao entre empresa-me e empresa-filha tal que a Sambinos mantm um centro de qualidade com dois funcionrios dentro da Saltos. Segundo Carlos Brigago, 47, dono da Sambinos, as duas empresas esto investindo na interligao dos computadores para tornar o envio de papis e pedidos menos burocrtico. A metalrgica Genarex, de So Carlos, fornece peas e componentes para a Climax e para a Sincom, segundo Federico Confolonieri, 24, gerente. As encomendas da Sincom representam 70% da produo da empresa. A Genarex est lanando um bebedouro de gua, de fabricao prpria. Para desenvolver o produto, diz Confolonieri, a Sincom cedeu seu laboratrio para as pesquisas e est vendendo componentes. Eles passaram a ser nossos fornecedores tambm, diz ele. (NR)
Interior paulista frtil para pequena empresa Da Reportagem Local Grandes empresas do interior do estado de So Paulo, para conter despesas e reduzir funcionrios, tm provocado o surgimento de vrias pequenas. Tem acontecido em So Jos dos Campos, Franca e So Carlos. A Embraer , em So Jos, reduziu seu quadro de 12.500 para 5.700 empregados, a partir de 1990. A Akros Engenharia e a Mectron Engenharia foram fundadas por ex-funcionrios da Embraer. A Akros , que j fazia projetos de engenharia aeronutica e mecnica , firmou depois contrato com a Embraer. A Mectron, alm de projetos para a Embraer, presta servios para o Inpe. Diversificar clientes mais seguro. Em Franca, a Saltos Francs uma das muitas fornecedoras de grandes fabricantes de calados .E a integrao tal entre ela e a Sambinos , que esta mantm um centro de qualidade dentro da Saltos. Em So Carlos, a metalrgica Genarex fornece peas e componentes para a Clmax e Sicom .E seu lanamento prprio , um bebedouro de gua, recebeu ajuda da Sicom , que lhe cedeu seu laboratrio.
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Os custos sociais do liberalismo suicida Pases centrais tomam conscincia da gravidade dos problemas gerados por uma poltica liberal irresponsvel MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Finalmente, polticos e intelectuais dos pases centrais comeam a se dar conta da gravidade dos problemas sociais e econmicos gerados por mais de uma dcada de um liberalismo irresponsvel, dogmtico e anrquico. Esta tardia tomada de conscincia se manifesta no encontro de cpula dos ministros do Trabalho dos pases centrais em Detroit (o Job Summit) e em recentes declaraes de renomados e respeitveis economistas conservadores. Pela primeira vez, o G-7 se rene para discutir o problema do desemprego em massa nos pases desenvolvidos, que no pra de crescer, lanando uma parcela cada vez maior da populao na marginalidade. Intimamente ligada a este processo est a questo da deslocalizao, onde setores e at comunidades inteiras so destrudas, pois suas indstrias deixaram de ser competitivas num ambiente de globalizao financeira e abertura comercial indiscriminada. A combinao de taxas de desemprego crescente com a decadncia econmica de regies onde ocorre a deslocalizao gera um quadro social terrvel, cujas consequncias so bem conhecidas. No falam, claro, os liberais como os da revista The Economist, que ainda no nmero da semana passada repetem a ladainha de que o problema do desemprego resultado da rigidez do mercado de trabalho dos pases desenvolvidos, em particular os europeus. A soluo, como sempre, seria aumentar a flexibilidade do mercado de trabalho, com a retirada do seguro-desemprego e demais empecilhos ao livre jogo das foras de mercado. Em outras palavras, o problema do desemprego viria do fato de que as economias centrais, no que diz respeito ao mercado de trabalho, so liberais de menos e a soluo seria mais liberalismo. Depois de anos de crescente flexibilizao do mercado de trabalho, acompanhado de grande aumento e no de diminuio do desemprego, natural que os governos e at alguns liberais de renome comecem a desconfiar que a soluo para os males sociais causados pelo liberalismo irresponsvel no seja mais liberalismo. Em um artigo recente, o professor Maurice Allais, que recebeu o Prmio Nobel de Economia em 1988 por suas contribuies teoria neoclssica (teoria de onde a f liberal busca obter credibilidade cientfica), faz um ataque frontal aplicao, nas condies contemporneas, da doutrina das vantagens comparativas. Segundo ele, esta s aplicvel sob condices altamente restritivas, particularmente se as taxas de cmbio correspondem ao equilbrio das balanas comerciais e se as vantagens comparativas so permanentes, o que em geral no o caso. Allais, talvez por vcio profissional, ou sentimento de impotncia ante a realidade, se esqueceu de mencionar a necessidade da hiptese de pleno emprego. Na maioria dos casos, o resultado da poltica liberal foi uma enorme destruio de empregos locais, em troca de uma pequena reduo no preo do produto para o consumidor e um grande custo fiscal para a sociedade toda, sobretudo para os prprios consumidores que mativeram-se empregados. Os custos sociais esto hoje em evidncia em toda parte. Um relatrio recente da OIT prev para o final da dcada taxas de desemprego em torno de 30% para os pases desenvolvidos. Esta situao e a falta de perspectiva para os mais jovens cria um caldo de cultura propcio marginalidade e aos movimentos de extrema direita, visveis em toda a Europa. Frente a esta situao de catstrofe social, o ex-liberal Maurice Allais recomenda o fechamento comercial do mercado comum europeu, atravs do controle quantitativo de importaes dos pases extra-comunitrios. No caso de a CEE no adotar francamente uma poltica de bloco, frontalmente contrria s regras do Gatt, recomenda que a Frana o faa sozinha. Na verdade, apesar da retrica liberal, esta a prtica corrente nos Estados Unidos e no Japo em matria de comrcio de mercadorias que ameaam suas indstrias. De outro lado, renascem tambm as propostas utpicas onde h os que, como Ricardo Petrella em recente artigo no Le Monde Diplomatique, esperam que a ONU no seu prximo encontro de cpula sobre a questo social, a ser realizado em Copenhague em 1995, estabelea as bases para uma nova ordem econmica e financeira mundial! Independentemente do carter conservador ou utpico e da viabilidade tcnica ou poltica de quaisquer destas propostas, um consolo saber que as pessoas esto reaprendendo que a soluo para o problema do desemprego, resultante da modernizao conservadora e dos excessos do liberalismo, no pode ser simplesmente mais liberalismo. Enquanto isso, chega ao Brasil lady Margaret Thatcher, smbolo do que h de pior no liberalismo socialmente irresponsvel e aplaudida de p pela nata do empresariado brasileiro. As classes produtoras brasileiras no tomam juzo. Pagam US$ 100 mil para ouvir um show requentado da pseudo-rainha de um ex-imprio, cuja indstria entrou em decadncia h 100 anos. Enquanto isto, sabotam, em nome do livre mercado, mais um plano de estabilizao, apesar de supostamente apoiarem o ministro como candidato. Melhor fossem em caravana a Washington (e no a Nova York) verificar in locu as duas caras do consenso na capital do imprio. Na verdade, o que deviam escutar e estudar so os planos de reestruturao da indstria e a reforma do sistema de sade, privado e pblico, que o governo dos Estados Unidos est aplicando para melhorar a situao interna do seu pas. No deveriam impressionar-se tanto com as receitas e presses do FMI e do secretrio do Tesouro norte-americano sobre o Brasil e muito menos deslumbrar-se com a performance de uma atriz coadjuvante. Se prestassem ateno ao que est ocorrendo com as mudanas na economia norte-americana, ficariam surpresos, por exemplo, com o grau de estatizao do novo programa de telecomunicaes. Talvez aprendessem tambm que o aumento de produtividade sistmica incompatvel com o sucateamento do Estado e no implica, do lado empresarial, simplesmente aumentar o desemprego e subir os preos. Finalmente, concluiriam que o governo americano no est baixando os impostos nem desregulando sua economia, mas regulando-a mais intensamente do que nunca, para enfrentar a concorrncia dos pases asiticos e do Japo. Ao mesmo tempo, o Consenso de Washington pretende obter da Amrica Latina um dficit comercial, atravs de uma sobrevalorizao da nossa moeda, o que permitiria aos Estados Unidos reequilibrar a curto prazo suas contas externas. Isto significa que o Brasil, o ltimo pas a resistir ao novo ajuste, que o oposto do de 1982/83, deve submeter-se dolarizao e promover a toque de caixa e no segredo dos gabinetes a reforma constitucional, no captulo da ordem econmica, numa direo supostamente liberal, o que sustentaria novo ciclo de endividamento. Mas seria pedir demais s classes produtoras brasileiras, interessadas apenas no botim imediato, que tomassem conscincia do seu destino e do destino da nao. Provincianos e deslumbrados pela mdia, parecem no saber o que acontece no mundo e so incapazes de pensamento estratgico. Continuam viciados numa ideologia liberal suicida, preocupados apenas com os seus desejos incontidos de ganncia especulativa e patrimonial, que vo custar ao governo, este ano, mais de US$ 10 bilhes em juros internos. Somando os juros da dvida externa (cuja negociao ainda no terminou), o prprio FMI estima em 5,7% do PIB (mais de US$ 22 bilhes) a conta global de juros, uma cifra inacreditvel, cuidadosamente oculta pela equipe econmica, e superior ao impacto fiscal ocorrido no auge da crise da dvida externa! por isso que o ajuste fiscal nunca termina e que o processo de privatizao uma farsa sinistra. Na verdade, como disse recentemente Clovis Rossi nesta Folha, estamos precisando mesmo de uma ruptura democrtica que exponha o nosso empresariado aos ventos da negociao e da verdadeira produtividade e que termine de vez com o seu carter de parasitas financeiros. O saneamento do Estado e o cuidado com o povo, seguramente no cabem a eles e sim ao avano da conscincia e do desejo de cidadania do prprio povo, particularmente na escolha de seus representantes no Congresso e dos futuros governos da nao. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, economista, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).
Os custos sociais do liberalismo suicida Pases centrais tomam conscincia da gravidade dos problemas gerados por uma poltica liberal irresponsvel MARIA DA CONCEIO TAVARES- Especial para a Folha At que enfim , polticos e intelectuais dos pases centrais comeam a se conscientizar da gravidade dos problemas sociais e econmicos gerados por mais de uma dcada de um liberalismo irresponsvel e dogmtico. Foi o que se observou no encontro de cpula dos ministros do Trabalho dos pases centrais em Detroit e em recentes declaraes de respeitveis economistas conservadores. Pela primeira vez, o G-7 se rene para discutir a questo do desemprego em massa, marginalizando grande parte da populao. Isso fruto da perda de competitividade de muitas empresas, vtimas da globalizao financeira e da abertura comercial indiscriminada. Os liberais no falam sobre isso e atribuem o desemprego rigidez do mercado de trabalho dos pases desenvolvidos. Propem a flexibilidade do mercado do trabalho, retirando vantagens j conquistadas pelos trabalhadores. Mas , depois de anos de flexibilizao com aumento do desemprego, governos e at alguns renomados liberais comeam a desconfiar que mais liberalismo no cura liberalismo. O professor Maurice Allais, Prmio Nobel de Economia, ataca a aplicao, nas condies contemporneas, da doutrina das vantagens comparativas.Segundo ele, ela s aplicvel sob condies altamente restritivas. Na maioria dos casos, a poltica liberal s destruiu empregos. Um relatrio recente da OIT prev taxas de desemprego por volta de 30% para os pases desenvolvidos . Com a falta de perspectiva para os mais jovens desenvolve-se um clima de marginalidade propcio aos movimentos de extrema direita. Diante desse quadro catastrfico, o ex-liberal Maurice Allais recomenda o fechamento comercial do mercado comum europeu, atravs do controle quantitativo das importaes dos pases fora da CEE. Enquanto isso, Margaret Thatcher, o que h de pior no liberalismo socialmente irresponsvel, vivamente aplaudida pelo nosso empresariado. Se nossos empresrios prestassem ateno no que ocorre nos EUA , se surpreenderiam , por exemplo, com a estatizao do novo programa de telecomunicaes. Compreenderiam que o governo americano est , mais do que nunca, regulando sua economia para enfrentar a concorrncia dos pases asiticos e dos japoneses. Tambm o Consenso de Washington quer ampliar o dficit comercial da Amrica Latina com a sobrevalorizao da nossa moeda, para reequilibrar suas contas externas. Para tanto, o Brasil deve submeter-se dolarizao e promover a reforma constitucional no captulo sobre a economia , numa direo supostamente liberal. Esses empresrios , anestesiados pela ideologia liberal, continuam preocupados somente com a ambio especulativa e patrimonial, que vai custar ao governo, s neste ano, mais de US$ 10 bilhes de juros internos. Como disse o jornalista Clovis Rossi na Folha , precisamos de uma ruptura democrtica que d um banho de negociao e de verdadeira produtividade nos nossos empresrios e elimine de vez seu carter de parasitas financeiros.
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Bugigangas importadas geram novos negcios Lojas que vendem produtos com preos entre US$ 1 e US$ 100 despontam como boa opo de investimento ROBERTA JOVCHELEVICH Free-lance para a Folha A abertura de mercado est trazendo ao pas uma verso tipicamente americana de negcio: as lojas de bugigangas. So casas que trabalham basicamente com produtos importados, que custam de US$ 1,00 a US$ 100,00. um tipo de comrcio que no tem pblico-alvo difinido e procura atender indiscriminadamente crianas e adultos. Em uma mesma loja possvel encontrar brinquedos, utenslios domsticos, cosmticos, ferramentas e artigos de papelaria e de escritrio. Como em lojas norte-americanas, os preos so fixados em dlar. Terminais de computador ou cartazes, atualizados diariamente, indicam o valor correspondente em cruzeiros reais. A Dollar Days uma das poucas casas que explora esse mercado. Inaugurada em outubro do ano passado, j conta com quatro unidades espalhadas pela cidade de So Paulo. No Natal passado, se transformou em uma verdadeira mania, devido sua grande variedade de produtos. Cada loja vende cerca de 600 itens 98% importados com preos de US$ 1,00, US$ 2,00 ou, no mximo, US$ 3,00. A estratgia da rede ganhar no giro, isto , vender um volume alto de mercadorias a preos baixos. Nesse caso, a variedade fundamental, assim como a renovao constante do estoque. Segundo Moacyr Bittencourt, 38, scio da Dollar Days, a inteno que o cliente sempre tenha uma nova opo de compra. A rede conta com mais dois scios, Dulio Montanarini e Marcos Croce, que j tinham experincia na rea de importao. Croce mora em Chicago e o responsvel pela importao dos produtos, que vm em grande parte de pases do Oriente (China, Tailndia, Taiwan, Indonsia e Hong Kong). Outra casa, com perfil mais sofisticado, a Dollar Store, inaugurada em dezembro, no bairro de Higienpolis (regio central). A loja s trabalha com importados. Tem mil itens dispostos nas prateleiras, desde um chicl at uma cafeteira eltrica. Segundo Perla Joldzac, 40, antes de abrir a Dollar Store com a scia Paulina H. Fridrich, 43, as duas viajaram para o exterior atrs de idias e novidades. Fizemos uma longa pesquisa de produtos e fornecedores, diz. As compras so realizadas em feiras especficas nos Estados Unidos e Europa e junto a representantes de mercadorias do Oriente. Atualmente, elas recebem catlogos com lanamentos e tambm compram de importadores brasileiros. Apesar de pouco explorado, o mercado de quinquilharias importadas no para qualquer um. Alm de conhecimentos dos trmites da importao, o empreendedor deve ter capital suficiente para montar uma loja relativamente sofisticada (afinal, so produtos destinados classe mdia e alta) e bancar transaes de longo prazo, no caso de importaes diretas do exterior. Uma compra de produtos do Oriente chega a demorar seis meses, diz Bittencourt. J compramos mercadoria que s vai chegar s nossas lojas em maio, afirma. Perla estima em US$ 150 mil (fora o ponto) o investimento mnimo para montar uma casa do gnero.
Bugigangas importadas geram novos negcios Lojas que vendem produtos com preos entre US$ 1 e US$100 despontam como boa opo de investimento ROBERTA JOVCHELEVICHFre-lance para a Folha Na onda de abertura de mercado, esto entrando as lojas de bugigangas verso tipicamente americana de negcios. Basicamente , trabalham com produtos importados , que variam de US$1,00 a US$100,00. A clientela indefinida e inclui crianas e adultos. A Dollar Days uma das poucas lojas do ramo. No Natal passado, virou mania com sua variedade de produtos e preos que iam de um a trs dlares . Para ela, a estratgia ganhar com o giro. Outra lojacom perfil mais sofisticado a Dollar Store, inaugurada em dezembro, no bairro Higienpolis. Suas proprietrias, antes de abrir, pesquisaram novidades no exterior . Fazem suas compras em feiras especficas dos Estados Unidos, Europa e com representantes de mercadorias do Oriente. O mercado de quinquilharias importadas exige conhecimentos da burocracia de importao e capital suficiente para montar loja com certo apuro e para realizar transaes a longo prazo
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Armarinho se sofistica e vai para shoppings CLUDIA RIBEIRO MESQUITA Free-lance para a Folha Armarinhos aquelas lojas de miudezas, repletas de produtos para costura podem ser boa alternativa de negcio para quem se mantm atualizado sobre moda e sabe cultivar clientes. O retorno para o investimento para comear, so necessrios cerca de US$ 30 mil chega em mdio prazo. Nessa rea, o sucesso tambm est na diversificao de produtos e de servios. Renato Debellis, 38, um dos proprietrios da filial do Rei dos Aviamentos no shopping Iguatemi, diz que fatura US$ 5.000 por ms, com um lucro em torno de 20%. Segundo ele, se a idia for vender apenas aviamentos a melhor opo ir para um shopping. Esse pblico, afirma, exige sempre produtos de primeira qualidade. Os kits de costura em ponto cruz, a nova coqueluche de seus clientes, so responsveis por 30% de suas vendas. Num shopping h um fluxo intenso de pessoas, condio fundamental para o sucesso de um armarinho, afirma Jos Mancuso Sobrinho, 48, consultor financeiro do Sebrae SP (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo). O grande nmero de clientes, de acordo com Mancuso, o que torna a atividade trabalhosa. A loja de Debellis, inaugurada h 12 anos, atende uma mdia de cem pessoas por dia. H dez anos tnhamos cerca de 400 clientes, lamenta-se. Alm disso, necessrio administrar o estoque. Ele deve ser bastante diversificado e precisa estar em constante reposio. A miudeza faz com que o lucro por pea seja pequeno, afirma Ana Maria Buairide, 38, consultora de marketing do Sebrae SP. Por isso, segundo ela, para provocar vendas de maior expresso importante estar atento s ltimas novidades da moda e agregar servios ao negcio, como divulgar receitas e manter cursos de costura. interessante resgatar o antigo conceito de lojinha, um ponto de encontro onde se podem obter dicas da rea, diz Buairide. No ramo dos armarinhos, a interao com o cliente primordial. Os meus clientes so conhecidos, pedem sugestes, e quem compra uma agulha merece a mesma ateno que a pessoa que leva um nmero maior de peas, afirma a fisioterapeuta Marli Viotti, uma das scias do armarinho Botes e Cia., no shopping Jardim Sul. Ela e a ex-secretria Solange Gaspar abriram a loja h um ano e faturam, em mdia, US$ 3.000 por ms. O principal comprar na hora certa, saber o que o cliente quer e dar ateno a ele, aconselha Marli. Reformas de roupas e aplicao de monogramas engordam o oramento em mais US$ 2.000. O carro-chefe da nossa loja so os botes e os consertos, conta Marli. Alm disso, para atrair o pblico do shopping, cerca de 50% dos 6.000 itens que elas oferecem so importados. A apresentao das instalaes da Botes e Cia. tambm exerce um papel importante. O investimento para criar luxuosas vitrines, ao estilo das joalherias, foi de US$ 40 mil. Outros US$ 30 mil foram investidos na formao do estoque.
Armarinho se sofistica e vai para shoppings CLUDIA RIBEIRO MESQUITAFree-lance para a Folha Para quem se mantm atualizado sobre moda e cultiva empatia com cliente, armarinho pode ser boa alternativa de negcio. Com aproximadamente US$ de 30, o interessado pode comear e ter um retorno a mdio prazo. Renato Debellis, scio da filial do Rei dos Armarinhos no shopping Iguatemi, diz que fatura US$5.000 por ms , com lucro de 20%. O consultor financeiro do Sebrae SP, Jos Mancuso Sobrinho, aconselha um shopping , dado o fluxo de pessoas. Debellis fala da necessidade de administrar o estoque e diversific-lo bastante. A consultora Ana Maria Buairide informa que o lucro por pea pequeno e , por isso, necessrio estar atento s novidades e agregar servios. Marli Viotti , scia do armarinho Botes e Cia, no shopping Jardim Sul, alerta para o bom tratamento ao cliente, mesmo que s leve uma agulha.E tambm para o momento certo de comprar.
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FHC ajudou a debelar golpe militar Tentativa ocorreu no incio deste ano; livro 'A Histria Real' conta bastidores desta eleio presidencial Da Sucursal de Braslia Documentos confidenciais do Exrcito revelam que o pas correu o risco de uma interveno militar em fevereiro deste ano. O motivo: as cenas do Sambdromo, onde Itamar Franco foi fotografado ao lado da modelo Lilian Ramos, sem calcinha. Fernando Henrique Cardoso, ento ministro da Fazenda e j candidato Presidncia, foi um dos personagens centrais da operao que acalmou os militares. A idia de golpe frequentou tambm os gabinetes do Palcio do Planalto. Integrantes do Grupo de Juiz de Fora discutiram com Itamar a proposta de aplicar no Brasil um autogolpe Fujimori. Os episdios so detalhados no livro A Histria Real'', da Folha, editado pela tica. O texto, baseado em pesquisa de um ano, foi preparado por Gilberto Dimenstein e Josias de Souza, diretores da Sucursal de Braslia. O livro, que comea a circular hoje, conta segredos da sucesso presidencial, transmitidos pelas fontes sob a condio de que s fossem divulgados depois da votao de hoje. Ao localizar no tempo as candidaturas de Lula e Fernando Henrique, A Histria Real'' desvenda, simultaneamente, detalhes ainda inditos das gestes dos presidentes Sarney e Collor. Mostra, por exemplo, como o cronograma do Plano Real encaixou-se com o calendrio das eleies, definido em reunies sigilosos entre tcnicos do Ministrio da Fazenda e polticos do PSDB. Um dos que palpitaram na operao que encaixou economia e poltica foi o ministro das Finanas da Argentina, Domingo Cavallo. O livro expe documentos reservados que embasaram toda a estratgia de marketing de Fernando Henrique. Outro texto, formulado pela assessoria de Lula, esboa um plano para manter o PT no poder at o ano 2000. Traa a estratgia para a sucesso presidencial de 1998. Antes de viabilizar-se como candidato favorito, Fernando Henrique e Lula reuniram-se em 1992, para estabelecer uma aliana em que o PSDB ajudaria a eleger o candidato do PT. Abaixo, alguns trechos do livro: O CONVITE O convite de Itamar para que Fernando Henrique fosse ministro da Fazenda no foi de todo inesperado. Estava em Nova York, na casa do embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Sardenberg. tarde, FHC tinha recebido um telefonema de seu scio e amigo Srgio Motta. Este lhe fez um relato dos boatos de que Eliseu Resende iria cair. Disse-lhe que seu nome frequentava as cotigaes do Palcio do Planalto. Acho bom voc voltar. Essa merda vai estourar na sua mo. O Itamar no vai ter outra alternativa'', disse-lhe Srgio Motta. Fernando Henrique cortou: Voc est maluco. Eu no aceitaria essa coisa jamais.'' PT 2000 Intitulado Projeto PT 2000'', um texto de oito pginas, elaborado pelo assessor Ricardo Kotscho, em 1992, estudado pela alta cpula do partido e aprovado por Lula, partia de um pressuposto: a conquista do poder em 1994 seria apenas um comeo. As reformas necessrias ao pas exigiriam pelo menos dez anos. Seria fundamental, portanto, que todos se preparassem para a sucesso seguinte. O objetivo exposto no relatrio, sem meias palavras: A idia criar condies, desde j, para o PT no s se consolidar como uma real alternativa de poder. preparar o caminho para o PT conquistar a maioria da nao, num amplo movimento ao mesmo tempo de massas e de articulao poltica, nica forma de vencer em 1994 e governar o pas em paz, com a sustentao mais ampla possvel, de tal forma que se possa fazer o sucessor em 1998''. ALIANAS O primeiro gesto ousado de Lula na busca de alianas aconteceu no primeiro semestre de 1992. Ele participou de encontro no apartamento de Fernando Henrique Cardoso, na rua Maranho, em Higienpolis, abastado bairro de So Paulo. Tasso Jereissati, ento presidente do PSDB, tambm estava presente. Se uma palavra do que se tramava ali vazasse para a imprensa, o plano afundaria instantaneamente. A trinca discutia o plebiscito, que poderia transformar o Brasil em uma nao parlamentarista, em abril do ano seguinte(...). Do encontro saiu um plano concreto: Lula e Tasso viajariam pelo pas, defendendo o parlamentarismo (...). Essas viagens destinavam-se a ir amaciando aos poucos os radicais do PT, presos aos conceitos da revoluo socialista, preparando-os para um ousado lance: a unio de petistas e tucanos na sucesso presidencial. No apartamento de Fernando Henrique, nascia a idia de que o PSDB apoiaria a candidatura Lula. Os tucanos indicariam o vice. As duas legendas negociariam o nome do primeiro-ministro. OJERIZA AO PFL Numa das ocasies em que Collor convidou o PSDB para ingressar no seu governo, Fernando Henrique manteve com o ento presidente um dilogo sugestivo: Est difcil de aceitar, presidente. Seu programa se encaixa muito bem com o nosso. Mas fica complicado participar de um governo que tenha o PFL. O partido a encarnao do atraso, simboliza tudo de ruim que h no pas.'' Embora alimentasse esperanas, Collor suspeitava que a negociao naufragaria. Suponho que o senhor no possa prescindir do PFL agora'', testou Fernando Henrique. No, realmente no posso abrir mo da participao do PFL. As condies polticas no me permitem'', descartou Collor. Dias depois, Collor teve um segundo encontro com Fernando Henrique. O senador tucano, na poca lder do PSDB no Senado, lanou a ponte para um eventual futuro entendimento com Collor. Pode contar conosco em 94.'' O presidente fez ar de espanto. Fernando Henrique foi, ento, mais explcito: Conte conosco para evitar que, na sua sucesso, o PFL queira impor o nome de Antnio Carlos Magalhes.'' MODELO FUJIMORI Chegou-se a tramar algo mais srio do que a renncia no Palcio do Planalto. Integrantes do chamado grupo de Juiz de Fora realizaram, com o presidente, um debate sobre a possibilidade de se aplicar no Brasil um golpe Fujimori. Propunha-se que, em sociedade com os militares, Itamar fechasse o Congresso, exatamente como fizera Alberto Fujimori no Peru, em abril de 1992. O idelgo da operao, que jamais saiu do campo da teoria e no chegou a entusiasmar Itamar, era o advogado Jos de Castro Ferreira, amigo ntimo do presidente. EFEITO ELEIO Em setembro de 93, a equipe econmica reuniu-se secretamente com a nata do PSDB, no apartamento de FHC, em Braslia. Os tcnicos explicaram aos polticos os detalhes do plano econmico, quela altura apenas um estudo. A reunio comeou s 22h. Em determinado instante da conversa, Mrio Covas explodiu: Vou embora'', disse, perto de 2h da manh. Se isso a o que temos, acabou.'' Candidato ao governo de So Paulo, Covas temia que um fracasso de Fernando Henrique terminasse por contaminar a sua prpria imagem. Edmar Bacha, segurando-o pelo brao, pediu: Senta a, Mrio. Vamos conversar.'' Mais uma hora de explicaes. E Covas voltou carga: Tudo muito bonito. Mas quero saber o seguinte: quando que a inflao vai baixar de verdade?'' No antes de maio de 94'', respondeu Bacha. DOMINGO CAVALLO Na escolha da data do lanamento do real, um palpite veio de fora. Em abril, o ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, ligou para seu colega Bacha, que conheceu em Harvard. Encontrou-o em sua casa, no Rio, de manh. Vocs tm de introduzir a nova moeda em junho'', sugeriu. E apelou para a linguagem eleitoral: Tem de ser em junho, porque a inflao demora a baixar. O impacto eleitoral s vem no terceiro ms. As nossas pesquisas s mudaram no terceiro ms. Vocs no podem permitir que os percalos acadmicos atrapalhem o caminho. Faam logo.'' O dia escolhido foi 1 de julho. SACANAGEM'' O noticirio sobre a folia de Itamar no sambdromo ainda frequentava as pginas dos jornais. O senador Pedro Simon, lder do governo no Senado, abordou o assunto de forma bem-humorada: E a, Itamar, como essa histria?''. Isso pura sacanagem da imprensa. Eu t l, quieto no meu canto. Botam a mulher do meu lado. Eu vou l adivinhar que ela est sem calas! Posso ser tudo, menos adivinho'', disse Itamar. Simon complementa: Ainda se fosse num fusquinha, vocs dois sozinhos...'' O senador insistia em tratar o tema com humor. Mas Itamar, retomando a tese da conspirao dos jornalistas, lembrou de uma foto em que Fernando Henrique aparecia em situao constrangedora. No rveillon, durante um passeio pelo calado de Copacabana, o ministro fora flagrado pelos fotgrafos no instante em que um travesti o abraava. Na opinio de Itamar, os jornais no dispensaram ao auxiliar o tratamento descorts de que se julgava vtima: Ali ningum falou nada. Ningum criticou. Mas comigo sempre do contra. Se o Fernando Henrique sai com um mulhero daqueles, vai ganhar uma baita manchete favorvel. Vo dizer que o tal, que faz tanto sucesso com as mulheres que elas chegam a tirar as calas quando esto do seu lado. Mas se um veado me d um beijo, vo dizer que uma bicha beijou a outra. No tem jeito.'' O GOLPE Fernando Henrique afundou na cadeira. O relato do general Romildo Canhim deixou-o impressionado. No tinha imaginado que a noitada de Itamar Franco no Sambdromo repercutira to mal nos quartis. A ponto de pr em risco a prpria democracia. E tudo acontecendo uma semana aps a aprovao de seu Fundo Social de Emergncia. O ministro foi da euforia profunda preocupao. Canhim tivera uma longa conversa com o ministro do Exrcito, general Zenildo de Lucena. Soube ento que os quartis estavam em polvorosa. To agitados que os ministros militares haviam se reunido secretamente, para analisar a amplitude da crise. Relatrios ultraconfidenciais vinham bater na mesa dos chefes militares. Avolumavam-se, especialmente sobre a escrivaninha do general Zenildo de Lucena. Uma estranha agitao se espalhava pela oficialidade, contaminando a cadeia de comando, num movimento que envolvia sargentos e tenentes da ativa. (...) Sentindo o cheiro de plvora, Fernando Henrique foi ao encontro de Itamar assim que o presidente, finda a folia, retornou a Braslia. A ansiedade convenceu o ministro de que no deveria esperar por um dos vrios despachos de rotina com Itamar. Correu ao encontro do chefe na Base Area de Braslia. Num gabinete reservado, ao lado do salo de desembarque da base, derramou sua preocupao: Itamar, voc deve ter informaes mais precisas do que as minhas. Os militares esto muito aborrecidos com toda essa histria''. Ao contrrio do que supunha, o presidente estava desinformado. Passou-lhe os detalhes. E chegou ao ponto: Eles querem a cabea do Maurcio Corra'' (o ministro da Justia havia bebido demais no Sambdromo). Diante do quadro pintado por Fernando Henrique, o presidente pareceu convencido de que deveria ceder. Tinha, inclusive, um nome para substituir o titular da Justia: Alexandre Dupeyrat, um advogado que o assessorava na Presidncia. Fernando Henrique deu o retorno a Canhim. BANHO DE POVO Escolhido vice de Fernando Henrique, Guilherme Palmeira sentia-se na obrigao de ajudar Fernando Henrique no trato com o eleitorado nordestino. Ministrou-lhe vrias aulas'', ilustradas com histrias verdadeiras. Disse que, candidato ao governo de Alagoas, foi convidado para almoar na casa de um correligionrio. Orgulhoso, o dono da casa no desgrudou de Palmeira. Casa cheia, todos comiam de p. Ao aproximar o prato do rosto, para a primeira garfada, Palmeira levou um susto. Seus olhos o haviam trado. As passas eram, na verdade, moscas mortas. Vrias delas, ali mesmo, no seu prato. No sabia o que fazer. J tinha me servido. Separei alguma coisa, mas tive de comer uma parte do arroz. No se deve fazer desfeita ao eleitor'', ensinou. Fernando Henrique torceu o nariz, fez cara de nojo. E, taxativo, adiantou: A demais. A esse ponto no chego''. APOIO IRRESTRITO Antes de descartar o nome de Lus Eduardo Magalhes para o posto de vice, Fernando Henrique teve com o filho de ACM um dilogo decisivo: Voc quer ser vice?'', perguntou FHC. No, no quero'', respondeu Lus Eduardo. Est bem. Mas quero que voc saiba que ser o que quiser em meu governo. Se quiser ser ministro, pode escolher a pasta. Se quiser ser presidente da Cmara, ter todo o nosso apoio. S no digo que ser eleito porque quem faz a escolha a Cmara. Mas, se eu for presidente, me empenharei muito para isso.'' ESPELHO MEU Um sigiloso documento para orientao da campanha, pilotado por Srgio Motta, elaborado em 22 de junho de 1994 pelo comando de marketing de Fernando Henrique, pintava um quadro vigorosamente realista: As pessoas esto comparando a situao de 1994 com a de 1989 e constantando que a vida mudou para pior. Se j queriam mudana quando elegeram Collor, devem estar pensando agora que a mudana de verdade era Lula. Hoje, boa parte dos eleitores desencantados vem Lula como a nica certeza de mudana. At porque Fernando Henrique no fala sobre isso e no sinaliza s pessoas que ele pode significar a mudana desejada. Fernando Henrique construiu uma grande aliana com a direita, na expectativa de ganhar votos, principalmente no Nordeste. Pode terminar perdendo alguns votos que j eram seus se no assumir um discurso mais esquerda.'' MODELO COLLOR Em seu primeiro encontro com Nizan Guanaes, uma das estrelas da publicidade brasileira, tambm convidado para fazer sua propaganda eleitoral, Fernando Henrique Cardoso encomendou: Preciamos criar um mito.'' Lembrou que Fernando Collor vencera porque criou e manipulou com habilidade o mito dos marajs'', privilegiados funcionrios pblicos de Alagoas. Aos marajs, Collor acoplou a defesa dos descamisados'', atacou polticos e empresrios. Apresentou-se como o anti-poltico. Nesse embate, ele reproduzia a simbologia universal do bem'' contra o mal'', to usada e abusada nas telenovelas e filmes de faroeste. O eleitor, prosseguia, precisa identificar o mocinho e o bandido para amar e detestar. Entremeando argumentos com lies de antropologia, tema que, graas sua mulher, Ruth, entupia as estantes do apartamento e da casa de campo em Ibina, Fernando Henrique disse que Lula no tinha mais essa preocupao: Ele o prprio mito'', sintetizou.
FHC ajudou a debelar golpe militar Tentativa ocorreu no incio deste ano; livro A Histria Real conta bastidores desta eleio presidencial Da Sucursal de Braslia Documentos confidenciais do Exrcito revelam que o pas correu o risco de uma interveno militar em fevereiro deste ano. O motivo foi o presidente Itamar ter sido fotografado no Sambdromo ao lado de uma modelo sem calcinha.[ Fernando Henrique Cardoso, ento ministro da Fazenda , foi um dos que acalmaram os militares. Este e outros episdios so detalhados no livro A Histria Real, da Folha . Conta segredos da sucesso presidencial em que disputavam Lula e Fernando Henrique ,e ainda detalhes inditos das gestes de Collor e Sarney. Correlaciona o Plano Real com as eleies presidenciais, ao lado de documentos confidenciais que alimentavam a estratgia de marketing de FHC. Antes de ser candidato presidncia , Fernando Henrique e Lula reuniram-se para estabelecer uma aliana em que o PSDB apoiaria o candidato do PT. Seguem outros trechos do livro: O convite de Itamar para que Fernando Henrique fosse ministro da Fazenda. Como estava em Nova York, seu amigo Srgio Motta lhe telefonou. FHC foi radical, dizendo que jamais aceitaria. Outro trecho fala do Projeto PT 2000 , texto elaborado pelo assessor Ricardo Kotscho, em 1992, aprovado por Lula, que fala das pretenses do partido de ir muito alm da conquista do poder em 1994. Alm desse, o objetivo era criar condies para que o PT conquistasse a maior parte da nao, num amplo movimento de massas e de articulao poltica. O livro continua ,ainda, revelando um gesto ousado de Lula na busca de alianas. Foi um encontro no apartamento de FHC em So Paulo, do qual participou Tasso Jereissati, ento presidente do PSDB . Temiam qualquer vazamento, pois discutiam o plebiscito propondo o parlamentarismo. Segundo o plano, Lula e Tasso viajariam pelo pas, defendendo a idia. E , ainda, que o PSDB apoiaria a candidatura de Lula e escolheria o vice. As duas legendas escolheriam o primeiro-ministro. Outra inconfidncia do livro fala do convite de Collor para que o PSDB ingressasse no seu governo. Fernando Henrique disse ser difcil, pois, apesar de identidades entre os programas de ambos, a presena do PFL complicaria sua participao. O partido (PFL) a encarnao do atraso, simboliza tudo de ruim que h no pas. No segundo encontro Collor , Fernando Henrique mais explcito: Conte conosco para evitar que, na sua sucesso, o PFL queira impor o nome de Antnio Carlos Magalhes. Outra passagem confidencial foi a proposta do chamado Grupo de Juiz de Fora para que Itamar , junto com os militares, desse um golpe Fujimori fechando o Congresso.
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Violncia no Rio A questo da violncia no Rio de Janeiro costuma despertar paixes. H desde os quevem na divulgao do tema uma campanha para destruir a imagem da cidade at os que consideram que a bandidagem tomou conta do Rio e hoje s pode ser combatida pelas Foras Armadas e sob estado de defesa. Em primeiro lugar, a violncia urbana no , ao contrrio do Po-de-Acar, monoplio do Rio. Chacinas, trfico, contrabando e corrupo policial ocorrem em qualquer grande centro urbano do pas. De outro lado, foroso reconhecer, as condies histricas e topogrficas da capital fluminense deram a todos esses problemas comuns maioria das metrpoles uma dimenso indita, alarmante. De fato, desde que deixou de ser a capital federal, o Rio como que perdeu sua vocao econmica. Passou por um perodo de desindustrializao (em 50 a indstria fluminense respondia por 25% da produo do pas; em 80 essa cifra j havia cado para apenas 12%) que agravou os desnveis sociais. Uma vez que a geografia carioca tende a colocar a populao carente em reas montanhosas prximas a bairros mais nobres, o morro passou a conviver lado a lado com os edifcios da classe mdia. Esse cenrio no s agua o conflito distributivo como faz com que at os mais ricos vivam a violncia dos morros, amplificando uma barbrie que, em outras cidades, est mais ou menos restrita periferia. Pode-se dizer que uma soluo duradoura para a questo da violncia no Rio passa no s pela melhoria da distribuio de renda isso vale para qualquer municpio brasileiro como tambm por um programa especfico de recuperao da economia da cidade, que, com as alarmantes notcias sobre criminalidade, sofre ainda mais. claro que a busca de uma soluo duradoura no deve impedir que se enfrente o problema em seu aspecto emergencial. E no h dvida de que ele emergencial, ainda que parea difcil discordar de que a mdia em geral, principalmente a eletrnica, tenha colocado seus holofotes sobre o tema. No se pode esquecer de que o eleitor carioca definir no s seu governador como tambm refar a votao para os cargos proporcionais. E vrias propostas vm surgindo para fazer frente criminalidade no Rio. Parece correto, por exemplo, que as Foras Armadas dem algum tipo de contribuio. No se trata, bvio, de substituir policiais por soldados. No h nenhuma razo para acreditar que os militares no acabassem corrompidos da mesma forma que os policiais. Ainda assim, as Foras Armadas poderiam, por exemplo, dar apoio logstico necessria operao de depurao das polcias cariocas. Outra importante colaborao seria na vigilncia de fronteiras, j que a maior parte das drogas e armas que provocam tanta violncia no so nem mesmo produzidas no Brasil. Pode-se at admitir que os militares participem de uma ou outra operao de maior envergadura nos morros, desde que estejam claros os objetivos e a durao da misso. Nunca demais alertar para os riscos de as Foras Armadas atolarem numa operao do tipo Vietn, invencvel e intoleravelmente sanguinolenta. Soldados so treinados para matar, no para policiar. Uma outra idia que surgiu mais recentemente, a de decretar estado de defesa, parece de fato um exagero. Evidentemente, no a dificuldade de apanhar os traficantes em flagrante ou o sigilo telefnico que esto impossibilitando uma ao eficaz da polcia. Assim, no h nenhuma razo para suspender garantias individuais, sobretudo num momento pr-eleitoral. Remdios extremos costumam provocar indesejveis efeitos colaterais. Como se v, a questo da violncia no Rio um problema complexo que tem de ser enfrentado tanto em suas causas como em seus sintomas mais agudos. A inevitvel lentido da primeira frente no deve ocultar a urgncia da segunda batalha. H pessoas morrendo.
Violncia no Rio A questo da violncia no Rio divide as opinies entre os que vem uma forma de difamar a cidade e os que defendem a interveno das Foras Armadas ou o estado de defesa. A verdade que o quadro que alimenta essa violncia no exclusividade do Rio , mas ocorre em qualquer grande centro do pas. Tambm preciso analisar as condies histricas e topogrficas da cidade. Depois que perdeu o status de capital federal, decaiu de sua vocao econmica. Em 50 a indstria fluminense respondia por 25% da produo nacional; em 80, por apenas 12%. Outra razo topografia montanhosa da cidade , que aproxima a populao carente dos edifcios de classe mdia . Esse convvio agua a diferena econmica . Uma soluo duradoura para o problema da violncia requer melhoria da distribuio de renda como em qualquer lugare um programa especfico de restaurao da economia local. Vrias outras propostas vm surgindo, sempre sujeitas a ponderao. A presena das Foras Armadas pode ser bem vinda em forma de apoio logstico necessria depurao das polcias cariocas; e de vigilncia das fronteiras , j que drogas e armas vm de outros pases. Podem at participar de alguma interveno maior, porm com objetivos claros e prazos definidos. Recentemente, tem-se sugerido o estado de defesa. Parece exagero. Monitorar e identificar traficantes , apanh-los em flagrante no a dificuldade. Suspender as garantias individuais no o caminho.
di94se04-17
Os pontos mais crticos do Plano Real IPC-r mostra efeito do choque de preos do fim de junho no poder de compra de quem ganha at oito salrios mnimos MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha As contradies do Plano FHC, depois denominado Plano Real, comearam de novo a ficar manifestas esta semana. A inflao medida pelo IPC-r, do IBGE, alcanando a 12% nos ltimos dois meses, destampou uma srie de inquietaes que foram estampadas na grande imprensa. A ironia est nos lamentos, argumentos e contra-argumentos dos economistas simpatizantes do plano. A maldio dos ndices (uma suposta lei Mailson) fez com que a equipe econmica escolhesse o pior dos ndices para medir a inflao oficial, proclamaram os analistas de planto. Ora vejamos, que ndice os senhores analistas desejavam escolher para verificar a perda do poder de compra da esmagadora maioria da populao trabalhadora brasileira, desde o dia 15 de junho? Um ndice calculado pela FIESP, o ndice encomendado pelo setor financeiro FGV, ou quem sabe o ndice de variao do dlar comercial? O que o ndice do IBGE mostra o que qualquer economista deveria saber: o efeito do choque de preos ocorrido nas duas ltimas semanas de junho sobre o poder de compra da populao que ganha entre um e oito salrios mnimos e que esta modesta e velha economista j tinha previsto e anunciado com dois meses de antecedncia. A saber: que o choque de oferta de fins de junho levaria para o espao o ganho proveniente da famosa diminuio do imposto inflacionrio, obtida com a reforma monetria. uma maneira interessante e nova (heterodoxa?) de diminuir o imposto inflacionrio, fazendo pagar previamente a conta aqueles que sofrem esse imposto (os que no tem conta remunerada). No tem problema, diro os economistas de planto. Em setembro, na data do dissdio, algumas categorias importantes podero reaver as perdas dos ltimos dois meses e assim sucessivamente para os dissdios subsequentes. Claro! Com o detalhe adicional de que s podero modificar o seu contrato de trabalho ao fim de um ano para evitar indexao e no recuperaro as perdas passadas. No resta dvida que uma maneira interessante de calcular a estabilidade do salrio mdio ao longo de um ano! Esta idia no ocorreu ao dr. Mrio Henrique Simonsen, quando aplicou pela primeira vez a frmula da mdia, em 1964. Ele estimou a inflao esperada, depois do primeiro plano de estabilizao do governo militar, em 5%, o que se verificou rapidamente ser um equvoco, pois a inflao daquele ano foi de 40%. Mas, enfim, o primeiro grande arrocho salarial foi feito pelo menos com alguma compostura terica. Qual ser o modelo dos atuais tecnocratas de planto? a hiptese sobre a inflao esperada durante o prximo ano ser zero? Ou os trabalhadores devem contentar-se impvidos com mais um arrocho salarial programado a frio? Moeda mais forte que o dlar, inflao zero ou quem sabe negativa vo compensar a nova queda da mdia? De mdia em mdia ainda acabaremos na paz dos cemitrios. E o juros? Ah, os juros esto no momento extrapolando uma inflao anual que varia de 48% para os pequenos aplicadores at 600% para os que se endividam recorrendo ao credirio. Alguns analistas (que temporariamente no esto de planto) comeam a se preocupar com os efeitos do arrocho salarial e do endividamento sobre os oramentos das famlias de baixa renda. Todas essas preocupaes surgem em meio a grandes discusses sobre a necessidade de juros altos para conter o consumo. Desta vez, pelo menos, no podem atribuir a to temida e ainda por vir bolha de consumo ao abono salarial, como no Plano Cruzado. Este, como alguns estaro lembrados, puxou todos os salrios para o dia D e deu um abono salarial de 8%, correspondente a uma inflao esperada de 20% (que foi o que acabou ocorrendo at dezembro), o que permitiu manter o poder de compra dos salrios at o fim do ano, isto , mesmo depois de o plano ter fracassado. Agora, neste Plano Real, a mdia salarial j est caindo firme para quem no pertence s grandes empresas industriais da amostra Fiesp (ou IBGE) e continuar caindo mesmo que os dissdios supostamente reponham as perdas dos ltimos dois meses e a inflao se mantenha entre 1% e 2% nos prximos meses. A partir de fevereiro, na melhor das hipteses, a nova perda salarial j dever ter ultrapassado os 20%. Assim, para explicar qualquer aumento de consumo, tero mesmo de se contentar com o efeito riqueza, iluso monetria ou a maldio dos ndices que afugentou os pequenos poupadores das cadernetas de poupana e os leva a gastar mais do que deviam! J que no h controle de preos nem poltica de rendas, clama-se pelo bom senso dos consumidores de baixa renda, tenta-se ensinar-lhes matemtica financeira, apela-se para seu patriotismo! Finalmente, terminar-se-h intervindo no mercado de crdito ao consumidor, uma vez mais por decreto, j que o aumento do compulsrio dos bancos no resolver a questo. No so eles que emprestam aos consumidores, mas sim os comerciantes, para quem o credirio um excelente negcio. Enquanto o emprego, a sade e o aumento de salrio no vm, cantemos em prosa e verso a moeda forte, que deve durar ao menos um ano, ancorada no cmbio. Fixo em cima e flutuante embaixo, o mercado de cmbio livre comporta-se como um iceberg derretendo ou congelando segundo as presses dos fluxos financeiros de entrada e sada de capitais especulativos. O teto continua firme, mas os que transacionam em dlar sabem que o terreno escorregadio. Alguns economistas, como o deputado Delfim Netto, esto preocupados com a sade dos exportadores e com as rachaduras do plano. No se preocupe, deputado, seno vo acabar dizendo que o sr. um xiita da oposio. Alguns governadores de boa vontade cedero, pressionados pelo Governo, parte dos impostos de exportao; sero dados alguns subsdios creditcios e outras isenes fiscais e os recursos para a sade e educao ficam para quando Deus quiser. Alm disso, como todos sabemos, indispensvel que haja uma saudvel competio, em que os nossos sapatos, txteis e confeces demonstrem que os seus preos em dlar so iguais ou menores que os dos chineses em Nova York, embora em reais estejam pela hora da morte. Ento, ameaa-se com uma reduo geral de tarifas de importao. E dizem que no esto programando desemprego e recesso! No seria melhor tentar levar srio estas eleies, cair na real e escolher de vez um caminho diferente ao de outras eleies e planos fracassados, para evitar uma vez mais a frustrao do povo? Todo mundo sabe que a estabilidade da moeda no se obtm por decreto e a etapa final de um longo processo negociado. Por qu tanta f em ncoras artificiais? No seria melhor deixar que o mundo de trabalho organizado (o segundo mundo) negociasse com o empresariado (o primeiro mundo) as suas condies de trabalho, o regime salarial, a produtividade, os preos e os tecnocratas apenas ajudassem nessas negociaes? No seria melhor tentar assumir politicamente a tarefa de resgatar os excludos do nosso terceiro mundo cobrando dos mais ricos o custo do plano de estabilizao e o cumprimento das leis? A propaganda do Plano Real vem ofuscando as condies reais de sobrevivncia dos trabalhadores. Fazer-lhe pagar mais uma vez a poltica de estabilizao no mnimo antitico, alm de ser ineficaz, porque no so eles que produzem a inflao. No so eles que controlam a riqueza financeira, nem a formao de preos. O prprio governo deixou solta os cachorros da inflao, desregulando os mercados cambiais, financeiros e especulativos. Pretende controlar os meios de pagamento na nova moeda (M1), sem controlar a ciranda financeira (M4) aviso de Simonsen). Deixa que os capitais especulativos passeiem vontade entre as Bahamas, os fundos lastreados em dvida pblica e a Bolsa de Valores (anexo 4) e paga juros escandalosos aos senhores do dinheiro (aviso de Andr Lara Rezende), comprometendo assim o oramento que deveria ser pblico e social. Tudo isso, meus caros leitores, apenas no que diz respeito chamada poltica macroeconmica. Quanto ao resto, fao minhas as palavras de Otavio Frias Filho, em seu artigo de quinta-feira passada: Gostaria que os adeptos de FHC, da nova ordem internacional, do Consenso de Washington, da qualidade total, que algum, enfim, explicasse onde est o admirvel mundo novo que eles anunciam. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).
Os pontos mais crticos do Plano Real IPC-r mostra efeito do choque de preos do fim de junho no poder de compra de quem ganha at oito salrios mnimos MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Nesta semana, voltaram em cena as contradies do Plano FHC. A inflao medida pelo IPC-r , do IBGE, nos seus 12% nos ltimos dois meses, provocou inquietaes , destacadas na grande imprensa. O que soa irnico so os lamentos , argumentos e contra-argumentos dos simpatizantes do plano. O ndice do IBGE mostra que o choque de oferta de fins de junho anularia o ganho proveniente da famosa diminuio do imposto inflacionrio. Fica a dvida de qual o modelo pretendido pelos tecnocratas: se a hiptese de inflao zero no prximo ano; ou se os trabalhadores devem mesmo ficar com mais um arrocho salarial. Moeda mais forte que o dlar, inflao zero vo compensar a nova queda da mdia? E os juros? No momento , ultrapassam uma inflao anual que varia de 48% para os pequenos aplicadores a 600% para os que compram em credirio . Esse cenrio j preocupa alguns analistas, que vem o comprometimento dos oramentos das famlias mais pobres. Agora, no Plano Real, a mdia salarial j est em queda para quem no pertence aos grandes grupos da Fiesp. A partir de fevereiro, a perda salarial deve ultrapassar 20%. Se impossvel controlar os preos , clama-se para o bom senso dos pequenos consumidores . E depois intervm-se no mercado de crdito ao consumidor , j que so eles , na prtica, os que emprestam aos consumidores. Nestas eleies, no conviria mais buscar outro caminho , diferente dos traados em planos anteriores, que no frustrasse o povo? Se a estabilidade no se obtm por decreto , mas o resultado de longa negociao, por que tanta f em ncoras artificiais? No seria melhor inocentar os excludos e passar aos mais ricos a conta do plano de estabilizao? O plano est parecendo uma venda que ofusca as condies reais de sobrevivncia dos trabalhadores. Faz-los pagar a dvida antitico, ineficaz , at porque no so eles que produzem a inflao, que controlam o dinheiro e a fixao dos preos.
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JERUSALM - O novo lder de Israel, Benjamin Netaniahu, conseguiu o apoio de partidos religiosos e de imigrantes russos para formar um novo governo de direita que, os rabes temem, poder interromper o processo de paz no Oriente Mdio. Os 120 deputados do Knesset (Parlamento) eleitos no fim de maio foram empossados ontem, mas Netaniahu no confirmou seu ministrio devido a problemas de ltima hora envolvendo a participao do controvertido ex-ministro Ariel Sharon. De manh, o prprio Sharon anunciou que integraria o novo gabinete como ministro da Habitao e da Infra-estrutura, mas, depois que os deputados da 14 legislatura tomaram posse, informou-se que esse ministrio - estratgico por envolver as colnias em terras rabes - ficar a cargo do prprio Netaniahu e do deputado Meir Porush, do Partido do Judasmo da Bblia, que iria aderir ao novo governo. O general Sharon, de 68 anos, foi um dos artfices da vitria eleitoral da frente direitista Likud-Tsomet-Guesher em maio. Sua participao no governo no bem vista pelos Estados Unidos, devido poltica de assentamentos que desenvolveu na dcada passada, quando ocupou a pasta da Habitao em outro governo do Likud. Terrorista - Antes de ser ministro da Habitao, Sharon ocupou a pasta da Defesa, quando foi o arquiteto da invaso do Lbano, em 1982. Em 1983, foi forado a renunciar depois de ser responsabilizado pela matana de centenas de palestinos pelas milcias crists aliadas de Israel nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, em Beirute. Logo depois da eleio de maio, quando a vitria do Likud foi confirmada, o general deu uma entrevista chamando Yasser Arafat de terrorista. Netaniahu reagiu, dizendo que s ele poderia falar de poltica no governo. Com ou sem Sharon, o gabinete de Netaniahu ser um retrato da frente que o elegeu. Seu partido, o Likud, ter quatro ou cinco pastas, inclusive as da Defesa e da Fazenda. O Ministrio do Exterior ir para David Levy, que pertence ao Guesher (integrante da frente). O Tsomet, terceiro partido da frente, dever ganhar o Ministrio da Agricultura e Meio Ambiente. O Partido Shas (10 deputados) e o Mafdal (Partido Nacional Religioso, com nove deputados) disputam o Ministrio das Religies. O b Ali, partido de imigrantes da ex-Unio Sovitica, com sete cadeiras no Knesset, ficaria com a pasta de Indstria, Comrcio e Imigrao. O Terceiro Caminho, que j aderiu coalizo, ganharia a pasta de Segurana Interna. Com a adeso do b Ali e do Partido do Judasmo da Bblia, a coalizo formada por Netaniahu, hoje com 55 deputados, ter 66. Os nomes dos ministros sero apresentados tarde no Parlamento, que ontem se despediu do primeiro-ministro trabalhista, Shimon Peres. Palestinos - Antes mesmo da divulgao do novo gabinete que ir governar Israel, os palestinos reagiram com pessimismo ao programa de governo apresentado ontem, pois nele Netaniahu no menciona os acordos de Oslo, assinados com os palestinos pelo governo anterior, nem as resolues das Naes Unidas sobre a devoluo de territrios ocupados na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Alm disso, reafirma a disposio de Netaniahu de desenvolver os assentamentos judaicos na Cisjordnia, impedindo a criao de um Estado palestino. Este programa fecha o crculo de paz e nos devolve aos tempos de conflito ideolgico, reagiu Hassan Asfur, diretor-geral do Departamento de Negociaes da Autoridade Palestina. Este programa ameaa perigosamente a segurana, a estabilidade e a paz na regio. Os primeiros a sofrer sero os israelenses e aconselhou-os a ler cuidadosamente o acordo de Oslo para entender direito o que foi acertado.
O novo lder israelense, Benjamin Netaniahu, conseguiu o apoio de partidos religiosos e de imigrantes russos, para compor um governo de direita, que, segundo os rabes, pode interromper as negociaes de paz no Oriente Mdio. A composio do novo ministrio no foi confirmada, por problemas relacionados presena do ex-ministro, general Ariel Sharon, um dos responsveis pela vitria da frente direitista Likud-Tsomet-Guesher. Ele ficaria com o ministrio da Habitao e da Infra-Estrutura. Mas sua poltica de assentamento na dcada passada , na pasta da Habitao influiu na sua rejeio , por parte dos EUA, para fazer parte do novo governo. O ministrio ter a face da frente vitoriosa: o Likud, partido de Netaniahu, ter quatro ou cinco pastas; o Guesher ficar com o Ministrio do Exterior; o Tsomet dever assumir o Ministrio da Agricultura e Meio Ambiente. Os partidos Shas e o Mafdal disputam o Ministrio das Religies; O b Ali, partido de imigrantes russos, ficaria com a pasta de Indstria, Comrcio e Imigrao; e o Terceiro Caminho , possivelmente com a Segurana Interna. Os palestinos anteciparam sua desconfiana no programa do governo, que no mencionou acordos assinados pelo governo anterior.
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Empresa fadada ao insucesso tem duas caras: uma real, outra para o cliente. Na hora de vender, promessas; quando o cliente confere, decepes. difcil encontrar o responsvel, quando a empresa no direcionada satisfao total dos clientes. Nas estruturas tradicionais de empresas, onde o mando predomina sobre a responsabilidade individual, no possvel sequer aprender em cima dos prprios erros. Faz-se de tudo para que no haja registro do erro, para que ele no seja do conhecimento dos que detm o poder de mando. preciso inverter a estrutura, colocando o cliente como a pessoa mais importante da organizao. Mas isso no pode ser apenas um discurso de boas intenes. Vai exigir mudanas para as quais existem duas palavras-chave: delegao e cooperao; disseminao das informaes. 1 SATISFAO DO CLIENTE Colocar a pessoa certa, na hora certa, para fazer certo, da primeira vez, o que o cliente deseja. Este o padro de excelncia desejado. Mas ser que existe mesmo na organizao o lugar certo para essa pessoa certa? Ser que a estrutura da empresa est direcionada satisfao total do cliente? A maioria das empresas possui estruturas tradicionais de comando, onde o cliente relaciona-se com as pessoas que tm menor poder de deciso. Existe uma distncia enorme entre os que detm o poder (a direo superior) e o cliente. O ovo de Colombo revirar totalmente esta estrutura superada. E adotar a pirmide invertida da Qualidade Total. A, as pessoas mais importantes na organizao passam a ser as de atendimento e vendas. So elas que tm contato direto com o cliente. Os demais funcionrios so responsveis pelo bom desempenho do pessoal de frente. A direo fica na base da pirmide: seu papel dar sustentao finalidade de bem atender. A delegao de poder fundamental nesse tipo de organizao participativa e cooperativa. Os acontecimentos mais importantes no so as reunies de chefia, mas os momentos em que a empresa tem contato direto com o cliente, os momentos da verdade. A empresa passa a estruturar-se para transformar em sucesso esses momentos da verdade. Por isso, os clientes esto no topo do organograma. Todos os demais setores se transformam em fornecedores de facilidade para os eventos de satisfao do cliente. O fluxo de operaes estar direcionado para o atendimento do cliente. 2 RELACIONAMENTO COOPERATIVO A responsabilidade compartilhada e o trabalho em equipe s podero se desenvolver se a estrutura permitir uma interao constante entre as reas. A empresa toda um macroprocesso, uma equipe nica voltada para o objetivo comum de atingir altos nveis de produtividade, com a manuteno e a conquista de novos clientes. 3 DISSEMINAO DE INFORMAES O fluxo de informaes que parte do cliente (pedidos, avaliaes, reclamaes, expectativas) passa pelos diferentes departamentos da empresa e deve retornar como resposta e soluo, de maneira gil, ao cliente. O fluxo da deciso e a cadeia cliente-fornecedor devem estar alinhados aos valores que o cliente preza: cortesia, presteza, eficincia, receptividade e personalizao. conhecido o fenmeno de rudo na comunicao: a informao se enfraquece e deforma quanto maior o nmero de transmissores e receptores intermedirios. comum a gerncia desconhecer a realidade da operao na ponta. A perda de competitividade a consequncia mais direta da falta de agilidade nas decises, perda de informaes, aumento da burocracia interna, pois, nos momentos da verdade, o funcionrio precisa tomar decises que implicam, muitas vezes, questes vitais para o cliente. Frequentes consultas aos nveis superiores causam perda de tempo e dinheiro. A reduo dos nveis hierrquicos ao mnimo necessrio traz agilidade. Experimente.
A satisfao total do cliente a meta fundamental de uma empresa moderna. O alcance desse objetivo significa o sucesso dela. Nas empresas tradicionais , o culto da figura do chefe ou diretor levava os funcionrios a no corrigir erros, mas a ocult-los a fim de no desagradar-lhe. Na empresa moderna, primordial inverter essa primazia. O que vai exigir delegar decises, incentivar o esprito de cooperao e disseminar informaes. Os funcionrios que contatam diretamente com o cliente devem ter bastante autonomia de decises , a fim de que este confie neles. Portanto, o seu nvel de competncia para tal funo deve ser o melhor possvel. Os demais participantes da empresa devem constituir-se em suporte para a sua eficincia . O relacionamento cooperativo deve ser resultado da interao estrutural entre as reas. Ele pressupe compartilhar responsabilidades , evitar estrelismos , com vistas a otimizar a produo e a conquistar novos clientes. O pedido de informaes ou sugestes dadas pelo cliente devem fluir rapidamente pelos diversos departamentos da empresa, e o resultado retornar com a mesma presteza, para que as decises do funcionrio-atendente conquistem o cliente e no o percam para o concorrente.
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Qurcia foi azaro em todas as disputas Em seu primeiro discurso no Senado, candidato critica governo militar; no MDB, tenta amenizar ataques ao regime Jnio estimulou Qurcia a ficarna poltica Da Reportagem Local No dia do seu casamento, Orestes Qurcia estava no altar, espera de Alade, quando um reprter perguntou se ele estava nervoso. Sua resposta d a medida do quanto sua vida est ligada poltica: Estou emocionado, mas no nervoso. Estou acostumado com esses embates. Seu pai, Octvio, diz que ele se casou tarde porque no tinha tempo para namorar, s para poltica. Qurcia enfrentou as urnas pela primeira vez em 1959, aos 21 anos. Queria ser vereador de Campinas pelo Partido Libertador. Teve menos de 200 votos, e perdeu. O PL era um partido pequeno, que se distinguia por ser o nico a defender o parlamentarismo. Como se v, Qurcia nem sempre foi presidencialista. Em 63, Qurcia conseguiu ser eleito vereador, com 416 votos. Na Cmara, levantava problemas dos bairros e cobrava solues do prefeito, que tambm era do PL. Em 65, quando o bipartidarismo foi instaurado, filiou-se ao MDB ao contrrio de muitos colegas. Foi eleito deputado estadual em 66, com 12.915 votos. Tornou-se vice-lder do partido na Assemblia, mas s cumpriu metade do mandato. Em 68, concorreu Prefeitura de Campinas. Aquela campanha ficou marcada na memria do vereador Romeu Santini (hoje do PFL), que disputou a Prefeitura pela Arena. A vitria do MDB era to improvvel que Qurcia pensou em desistir. Foi demovido por Jnio Quadros, que, mesmo cassado, tinha grande influncia na direo do MDB paulista: Continue. Mesmo perdendo a eleio, voc ganha, porque sai fortalecido para se candidatar a deputado federal. O conselho de Jnio foi narrado a Santini pelo prprio Qurcia. Sua campanha virou graas a um empurro dado pelo governador Roberto Abreu Sodr (Arena). Sodr cortou o adicional de salrio dos ferrovirios e no quis negociar com os professores em greve. Qurcia conseguiu o voto desses setores e dos estudantes. Foi eleito, para surpresa da Arena. Sua gesto na prefeitura revelou um estilo que voltaria a se manifestar no governo do Estado. Em 71, ele j defendia uma ao pragmtica, que evitasse a radicalizao do MDB, a qual lhe impedir toda e qualquer pretenso de um dia tornar-se governo. O prefeito acusava a direo nacional de estar muito ligada ao passado. Defendia a tese de que o MDB deveria aceitar o Movimento de 1964 como fato consumado e rever sua estratgia eleitoral. Segundo ele, o MDB no deveria se limitar a defender a revogao do AI-5, mas deveria propor uma poltica econmica desenvolvimentista. Ele prprio j aplicava essa orientao na prefeitura. Pavimentou avenidas, construiu casas populares e uma estao de tratamento de gua. Desenvolvia trabalhos em colaborao com a Unicamp, aproximando-se de intelectuais que at hoje o apiam. Na poca (em 70), surgiu tambm a primeira denncia contra Qurcia. Seu vice, Eugnio Alati, o acusou de desviar trilhos dos bondes locais para sua fazenda. Organizando o MDB Dedicou-se tambm a organizar o MDB no interior. Em 1969, ao tomar posse, o MDB tinha 204 diretrios (havia 506 municpios). Para estruturar os novos diretrios, mandava que assessores procurassem pessoas dispostas a entrar no MDB. Depois, ele mesmo visitava os escolhidos farmacuticos, comerciantes, estudantes. Era um trabalho difcil, porque muitos achavam que a legenda estava ligada aos comunistas. Qurcia conta um episdio em 72 na pequena cidade de Ubirajara. Ele chegou l s com o nome de um farmacutico que criticava o governo. O farmacutico, apavorado, no quis conversa, e o mandou para o padre, que no o recebeu. O nico que se disps a falar com Qurcia foi o delegado, mas logo avisou: Eu at simpatizo com o senhor, mas no vai formar diretrio do MDB aqui no. O ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Antnio Carlos Mesquita, ento estudante de direito em Limeira, foi um dos aliciados por Qurcia, que o encarregou de organizar o MDB na regio. Fazia at caf Levava lderes locais muitos deles dissidentes da Arena para conhecer suas obras em Campinas. Segundo o ex-deputado Chico Amaral (PMDB), para cooptar uma liderana local, Qurcia chegava a ir para a cozinha, fazer caf e servi-lo aos donos da casa. Tambm cantava moda de viola em pblico e jogava truco com os corregelionrios (chegou a dirigir a Associao Paulista de Truco). Ganhou assim a fama de caipira, que o acompanha: Sou um candidato de boteco disse em 86. Em 72, elegeu seu sucessor em Campinas (Lauro Gonalves) e ampliou a criao de diretrios. No incio de 73, o MDB tinha 250 diretrios locais. Em 74, Qurcia j ampliara esse nmero para 371. Nesse mesmo ano, disputou a indicao para ser candidato ao Senado. Seu principal adversrio era o deputado Freitas Nobre, com base na capital, apoiado pelos lderes do MDB (Franco Montoro e Ulysses Guimares). Venceu o adversrio na conveno por 361 votos a 59. Senado Na campanha ao Senado, soube aproveitar o horrio eleitoral para capitalizar os votos de protesto contra o governo. Obteve 4,6 milhes de votos (foi o senador mais votado at ento), derrotando o favorito, Carvalho Pinto (Arena). Em seu primeiro discurso no Senado, atacou o regime militar. Disse que a junventude estava amordaada. Foi criticado pelo senador Jos Sarney (Arena-MA). Foi o primeiro a propor, em 75, a convocao de Assemblia Constituinte, eleies diretas em todos os nveis e uma CPI sobre violao de direitos humanos. Entre as 397 projetos de lei que apresentou, porm, a maioria tinha cunho corporativo. Defendeu a volta da estabilidade para todos os assalariados e aposentadorias especiais para coveiros, faxineiros, taxistas, ferrovirios e garons. Nessa poca, iniciou sua aproximao com o PCB e o MR-8, que passariam a apoi-lo nas disputas internas do MDB. Hoje, chamado de grande timoneiro pelo MR-8 que o compara a Mao Tse-tung. Em 82, Qurcia disputou com Montoro a indicao para disputar o governo de So Paulo. Foi derrotado, mas conseguiu ser indicado vice, ganhando um lugar que Montoro reservara a Mrio Covas. como vice-governador que consolida suas bases no interior, atravs do movimento municipalista, que defendia o aumento da receita fiscal dos municpios. Em 1984, recebe de Tancredo Neves a tarefa de organizar a frente municipalista pelas diretas-j. Viaja pelo pas e amplia suas bases fora de So Paulo. Na votao da emenda das diretas, leva 5 mil prefeitos e vereadores a Braslia. Qurcia (e o PMDB) se fortalecem no interior. Em 86, ele indicado candidato sem disputa. Seu adversrio, Mrio Covas, teve de se resignar a disputar o Senado. Sua campanha custou a decolar. Em setembro, o partido previa um naufrgio, e parte da legenda queria abandonar o candidato. Quem for traidor e no quiser apoiar o Qurcia, que v para o diabo que o carregue. Vou ganhar do mesmo jeito, dizia ele. Ganhou, com a ajuda do Plano Cruzado embora perdesse na capital para o candidato do PTB, Antonio Ermrio de Moraes. No governo, reeditou em escala ampliada o que fizera na prefeitura grandes obras. As denncias de corrupo tambm cresceram. Assim como na prefeitura, conseguiu eleger seu sucessor (seu secretrio Luiz Antonio Fleury Filho). Deixou o governo e se tornou presidente do partido. Destacou-se como defensor do presidencialismo na campanha para o plebiscito sobre sistema de governo, em 93. Desgastado pelas denncias de corrupo, acabou deixando a presidncia do PMDB pouco depois. Apesar disso, sua base no partido j estava consolidada. Lanou sua pr-candidatura sem o apoio de Fleury. Seu mais forte adversrio o deputado Antnio Britto desistiu de enfrent-lo por temer uma derrota na conveno. A direo do partido convocou uma prvia ltima manobra para tentar derrot-lo. O senador Jos Sarney, bem colocado nas pesquisas, tambm renunciou, e Qurcia venceu mais esta etapa. Agora, novamente o candidato do partido.
Qurcia foi azaro em todas as disputas Em seu primeiro discurso no Senado, candidato critica governo militar; no MDB, tenta amenizar ataques ao regime. Jnio estimulou Qurcia a ficar na poltica. DA REPORTAGEM LOCAL No dia do casamento, enquanto esperava a noiva no altar, Qurcia foi abordado por um reprter , que lhe perguntou se estava ansioso. A resposta deu o tom de quanto estava preso poltica: Estou emocionado, mas no nervoso. Estou acostumado com esses embates. Disputou pela primeira vez em 59 , aos 21 anos. Perdeu. O partido , o PL, era pequeno. Em 63, foi eleito vereador. Na Cmara , cobrava do prefeito , tambm do seu partido, soluo para os problemas dos bairros. Em 65, filiou-se ao MDB e acabou sendo eleito deputado estadual com quase 13 mil votos. Em 68, concorreu prefeitura de Campinas. Quase desistiu por sentir quase improvvel a vitria do seu partido. Jnio o desaconselhou. Virou a campanha graas a uma medida do governador Roberto Abreu Sodr, que cortou o adicional dos ferrovirios e no quis negociar com os professores em greve. Qurcia aproveitou o clima. Em 71, defendia o pragmatismo de no-radicalizao do partido.E que ele aceitasse o Movimento de 1964 como fato consumado. Criticava na direo nacional uma posio muito voltada ao passado. Sua gesto na prefeitura de Campinas caracterizou-se por obras que aparecessem . A primeira acusao de corrupo veio dessa poca. Dedicou-se tambm a organizar o MDB no interior. Usava a estratgia de mandar assessores para farejar possveis adeptos e , depois, ele prprio ia procura-los firmar as adeses. Era incansvel para isso: levar lder locais para conhecer suas obras em Campinas, fazia caf na casa do anfitrio e servia, cantava msica caipira, jogava truco. Marcou-se como o poltico caipira. De 73 para 74 ampliou os diretrios locais do MDB de 250 para 371. Elegeu seu sucessor em Campinas em 72 , e no mesmo ano venceu a disputa para a indicao de candidato a senador. Durante a campanha , capitalizou votos com manifestao de protesto ao governo. Foi o senador mais votado at ento. No Senado, atacou o regime militar, props a convocao da Assemblia Constituinte, eleies diretas em todos os nveis e uma CPI para apurar violao de direitos humanos. Seus projetos de lei , na maioria, tinham carter corporativo. Tambm nessa poca , aproximou-se do PCB e do MR-8, que passaram a apoia-lo nas disputas internas. Em 82, disputou com Montoro a indicao para o governo do Estado de So Paulo. No ganhou, foi indicado vice. E nessa condio consolidada suas bases no interior , por meio do movimento municipalista. Em 86, indicado candidato ao governo do Estado de So Paulo . Aps uma campanha sofrida, elegeu-se com a ajuda do Plano Cruzado. Repetiu o obreiro de Campinas e ganhou novas denncias de corrupo. Depois do governo, tornou-se presidente do partido . Defendeu o presidencialismo na campanha pr plebiscito , em 93
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LONDRES - O grande conto de fadas deste fim de sculo termina sem final feliz. Ontem, dois meses depois do apelo da rainha Elizabeth II, a princesa Diana aceitou o pedido do divrcio do prncipe Charles. Diana vai continuar morando no Palcio de Kesington, ter um escritrio no Palcio de Saint James, poder opinar em todas as decises sobre os filhos e manter o ttulo de princesa de Gales, anunciou uma porta-voz da princesa. Mas a famlia real disse que estas condies so um pedido e ainda no esto acertadas definitivamente. Em encontro sigiloso, ontem tarde, no Palcio Saint James, residncia oficial do prncipe Charles desde a separao do casal real, em dezembro de 1992, Diana finalmente concordou com o divrcio. Os advogados dos dois princpes vo discutir agora os termos da dissoluo do casamento. Especula-se que o acordo financeiro possa chegar a quase R$ 40 milhes. Tanto o Palcio de Buckingham quanto o governo britnico foram aparentemente tomados de surpresa pelo anncio, feito por Jane Atkinson, porta-voz de Diana, em declarao exclusiva rdio e televiso britnica BBC: A princesa de Gales concordou com o pedido de divrcio do prncipe Charles. A princesa continuar a se envolver em todas as decises relativas aos filhos e permanecer no Palcio de Kesington, mantendo escritrios no Palcio de Saint James. A princesa de Gales vai reter o ttulo e ser chamada de Diana, princesa de Gales. Igreja - A maior autoridade eclesistica da Igreja da Inglaterra, o arcebispo da Canturia, George Carey, espera e acredita que isto seja do melhor interesse de todos os envolvidos, comentou laconicamente um assessor. Como o rei ou rainha chefia a Igreja Anglicana, Charles deve acumular este cargo quando subir ao trono. O problema que atualmente a lei probe que uma pessoa divorciada chefie a Igreja. Mas juristas britnicos entendem que no haver problema em mudar a lei. Afinal, Henrique VIII rompeu com o Vaticano, criando a Igreja da Inglaterra, em 1534, para se divorciar de Catarina de Arago, a primeira de suas seis esposas. O prncipe promete no se casar de novo, apesar de ter sido visto em pblico, no ano passado, em companhia de sua amante, Camilla Parker-Bowles. Diana, no entanto, jamais ser rainha-me, explica o historiador real David Starkey: Para ser rainha-me, preciso ter sido rainha-consorte. Ela ser apenas princesa. Mas no vejo problema constitucional. O problema de opinio pblica, diz. Starkey acredita que houve um conflito de personalidade entre os prncipes porque Charles uma pessoa discreta, recatada e Diana preferiu se tornar uma celebridade. Sem dvida, a princesa gosta de brincar com fogo e de manipular a mdia. Sua grande tacada publicitria custou-lhe o divrcio. Na entrevista TV BBC divulgada em novembro passado, Diana admitiu ter cometido adultrio com o capito James Hewitt. Foi demais para a rainha. Em dezembro, Elizabeth II ordenou aos prncipes de Gales que se divorciassem o mais rapidamente possvel. Diana resistiu um pouco mas acabou concordando. Trs dos quatro filhos da rainha da Inglaterra esto separados. O quarto, o prncipe Edward, deve anunciar em breve o seu casamento com Sophie Rhis-Jones. Caber a ele, que j foi acusado de homossexualismo pela imprensa sensacionalista, lavar a honra da escandalosa monarquia da Inglaterra.
A separao da princesa Diana e do prncipe Charles ps fim ao conto de fada to divulgado pela mdia. A rainha Elizabeth II , me de Charles , pressionou para eles se divorciassem. Alm das diferenas de personalidade ---o prncipe mais contido, e Diana mais afeita mdia ----, a rainha-me no pde tolerar a declarao da princesa BBC , em que confessou ter cometido adultrio com o capito James Hewitt. Diana continuar com o ttulo de princesa, com moradia no palcio de Kesington , poder opinar em todas as decises sobre os filhos e ---especula-se---o acordo financeiro pode chegar a R$ 40 milhes. Mas a famlia no confirma como certas, ainda, essas condies. Tanto o palcio de Buckingham quanto o governo britnico , aparentemente, se surpreenderam com a notcia do divrcio, dada a relutncia da princesa. A autoridade mxima da Igreja da Inglaterra, George Carey, acredita que tenha sido essa a melhor soluo. Como o rei ou a rainha comanda a Igreja Anglicana, o prncipe Charles poder acumular este cargo. verdade que h uma lei proibindo que um divorciado ocupe a funo , mas os juristas entendem que a lei pode ser mudada --- o caso de Henrique VIII um precedente histrico famoso.
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`Brasil pode ser exemplo latino-americano' Histrias de sucesso sero escritas pelos gigantes do mundo em desenvolvimento No existe substituto para a liderana dos EUA. O que no est claro como liderar Os Estados Unidos devem tomar a iniciativa de implementar acordos como o Nafta ou o Gatt, porque eles abrem nossos mercados aos pases em desenvolvimento, alm de criar mercados para o capital e os bens de consumo e servios dos pases desenvolvidos. Um dos principais motivos para se apoiar o livre comrcio com o mundo em desenvolvimento no econmico, mas poltico. Alguns setores se opem ao livre comrcio com o Mxico e outros pases porque acreditam que a indstria norte-americana ficaria em desvantagem competitiva. Outros se opem ao comrcio com pases do mundo em desenvolvimento que no sejam democracias ao estilo ocidental. Mas o livre comrcio com esses pases faria mais para desencadear reformas polticas do que qualquer ao unilateral que o governo americano pudesse propor. A lio mais importante que os pases em desenvolvimento podem aprender ignorar os conselhos daqueles que, nos EUA e na Europa Ocidental, ainda acreditam que apenas o caminho socialista leva ao paraso econmico. O ltimo refgio dos marxistas so as instituies de desenvolvimento econmico que vem solues estatais em lugar de solues baseadas no mercado como a chave para o crescimento. Eles pensavam que o desenvolvimento econmico liderado pelo Estado levaria independncia econmica. Em vez disso, leva a um beco sem sada econmico. H 40 anos, na condio de vice-presidente, eu visitei todos os pases da sia exceto a China comunista. Lderes polticos, jornalistas, professores e estudantes nas naes recm-independentes discutiam quais polticas produziriam progressos rpidos. Alguns estavam seduzidos pelo modelo sovitico; outros, pelo modelo comunista chins, enquanto outros ainda eram favorveis ao modelo socialista democrtico que na poca ganhava popularidade na Europa Ocidental. Agora a questo deixou de ser discutida. O modelo comunista foi rejeitado pelos povos da ex-Unio Sovitica e Europa Oriental. Os chineses ainda tm um governo comunista, mas utilizaram polticas econmicas de livre mercado para criar crescimento espetacular. O socialismo democrtico foi testado em pases to diversos quanto a Sucia, Frana e ndia, e ficou comprovado que no funciona. As polticas econmicas de livre mercado so a onda do futuro, mas elas no produzem prosperidade instantnea nem ininterrupta. As naes que tm polticas de livre mercado passam por perodos de recesso, de crescimento lento e de crescimento demasiado rpido. Uma poltica econmica de livre mercado ter inevitavelmente seus xitos e seus fracassos. Mas o mercado livre o nico sistema capaz de desencadear o potencial produtivo de uma nao. Se o nico interesse de um povo a estabilidade, ele no deve optar por uma economia de livre mercado. Os mercados livres so instveis por sua prpria natureza. Um filsofo do sculo 19 comparou o capitalismo a um vendaval de destruio criativa. Uma economia comandada pode produzir estabilidade, mas ao custo de reprimir a criatividade. Um sistema de livre mercado encoraja a criatividade, ao custo da instabilidade. Assim, a escolha que se coloca entre o progresso econmico ao custo de alguma instabilidade, ou a estabilidade a custo de nenhum progresso. Os supply-siders (proponentes da teoria segundo a qual um pas pode conquistar estabilidade econmica e controlar sua inflao atravs do aumento da oferta de bens e servios), keynesianos, monetaristas e proponentes de outras teorias econmicas continuaro a debater os mritos de suas diferentes polticas. A chave a livre discusso sobre o que funciona ou no e a disposio de descartar polticas que fracassaram e ampliar o mbito daquelas que deram certo. Quando aconselhamos os dirigentes de pises em desenvolvimento, precisamos descartar a idia de que temos todas as respostas prontas, pois a essncia do livre mercado que no existem respostas cem por cento certas. Se existissem, todos ns seramos bilionrios. Um das histrias mais inspiradoras dos ltimos 50 anos tem sido a dos pases que estavam atolados na misria aps a Segunda Guerra Mundial, mas que adotaram as polticas econmicas apropriadas e desencadearam espantosos progressos sociais e econmicos. China, Taiwan, Coria do Sul, Cingapura, Malsia, Tailndia, Chile e outros deram certo porque enfatizaram alguns princpios econmicos bsicos, como impostos mais baixos, menos regulamentaes governamentais, mercados abertos e indstrias competitivas, e deram prioridade educao. Esses princpios abriram suas economias e as integraram com aquelas do mundo desenvolvido. Progressos deste tipo esto ao alcance de todas as naes. Num prazo de duas ou trs dcadas, qualquer pas pode se libertar da pobreza e engrossar as fileiras das naes em processo de industrializao recente. Ajudando pases em vias de desenvolvimento a adotarem polticas baseadas no crescimento, os pases desenvolvidos podem fazer enormes contribuies positivas ao bem-estar de seus prprios povos e prosperidade de todos os povos. As histrias de sucesso da prxima gerao sero escritas pelos trs grandes gigantes do mundo em via de desenvolvimento ndia, Brasil e Indonsia, todos os quais j cobriram o primeiro trecho do caminho rumo prosperidade econmica potencial. A ndia, com uma populao de 875 milhes, est lentamente abandonando sua reputao de economia socialista. Ela aumentou seu comrcio com a Europa Ocidental e os Estados Unidos, reduziu os subsdios s indstrias estatais e fortaleceu a rpia nos mercados finceiros internacionais. O ndice d alfabetizao melhorou 120% desde 1960. O PNB per capita subiu de US$ 110 para US$ 310 nos ltimos 20 anos. Apesar do fato de que a ndia sofre conflitos religiosos e civis, ela se tornar uma grande potncia no prximo sculo se prosseguir no caminho rumo economia de livre mercado. O Brasil, que tem metade da populao da Amrica Latina, deu uma virada econmica notvel nos anos 90. Devastado por uma inflao descontrolada, uma dvida externa crescente, infra-estrutura pblica decadente e corrupo poltica amplamente difundida, o governo do presidente Itamar Franco abriu suas portas reforma econmica. O PIB brasileiro cresceu 4% em 1993 e a produo industrial aumentou em quase 10%. As exportaes aos Estados Unidos aumentaram 80% nos ltimos dez anos. As tarifas de importao sobre produtos como carros caram de 80% para 25% O Brasil ainda enfrenta srios problemas, mas com esta perspectiva econmica melhor tem potencial para transformar-se em exemplo econmico para o restante da Amrica Latina. A Indonsia constitui um exemplo notvel de como um pas em vias de desenvolvimento pode avanar da pobreza ao progresso, atravs da adoo de polticas de livre mercado. O pas, que to frequentemente passa desapercebido dos especialistas em poltica externa, a quarta nao mais populosa do mundo, depois da China, ndia e Estados Unidos. a maior nao muulmana do mundo, com mais habitantes do que todas as naes rabes juntas. Durante os ltimos 25 anos, a proporo de indonsios que vivem em pobreza absoluta caiu de 60% para 15%. A renda anual per capital aumentou de US$ 50 para US$ 650. A poltica de planejamento familiar reduziu o crescimento populacional anual de 2,4% para 1,8%. A Indonsia sofre os efeitos de corrupo, nepotismo e de um governo autoritrio. Mas o progresso em direo liberdade poltica j est comeando, e ir continuar medida que a liberdade econmica se expandir. O Vietn tem condies de transformar-se numa histria de sucesso econmico se romper com as polticas econmicas e as orientaes polticas fracassadas do passado. Como seus dirigentes so jogadores implacveis da poltica do poder, eles no tardaro a compreender que geopoliticamente no podem se dar ao luxo de retardar seu crescimento econmico com polticas comunistas, num momento em que sua rival mortal, a China, atingiu alto crescimento atravs de meios capitalistas. O Vietn j comeou a abrir sua economia a investidores estrangeiros, especialmente aqueles vindos da Europa Ocidental e do Japo. Mas a maior parte de suas reformas econmicas no passa de fachada. O Egito possui um potencial notvel, especialmente quando se leva em conta o fato de que muitas das prticas estatizantes que opunham obstculos a seu crescimento econmico nos anos 70 e 80 foram revogadas. Sob a corajosa liderana do presidente Hosni Mubarak, o Egito abriu suas portas ao livre comrcio com a Europa Ocidental e funciona como passagem econmica entre a Europa e o restante do mundo rabe. Nos ltimos dez anos o pas dobrou suas exportaes para os Estados Unidos. Com a sinistra ameaa dos fundamentalistas muulmanos radicais, a superpopulao e a inflao, o Egito se confronta com graves problemas. Mas, na condio de regime muulmano que de longe o mais populoso e influente do Oriente Mdio, ele merece o mximo de ateno e apoio do Ocidente. A Tuquia se transformou de refugo econmico em celeiro econmico. A partir da dcada de 80 o falecido primeiro-ministro turco Turgut Ozal promoveu uma agressiva polca de fim das restries ao comrcio, liberalizao da poltica econca e integrao econmica da Turquia com a Europa Ocidental. Estas polticas fizeram o PNB per capita da Turquia saltar de US$ 1.400 em 1980 para US$ 2.000 em 1993. O novo governo de Tansu iller prometeu manter a Turquia nesse mesmo caminho de reforma econmica. O Mxico tem sido a criana prodgio econmica dos anos 90. Sob a liderana do presidente Salinas, o Mxico aumentou seu comrcio com os Estados Unidos, liberalizou as indstrias estatais, restaurou a confiana mundial no peso e eliminou os onerosos subsdios governamentais. Desde que o Mxico comeou a reduzir suas barreiras comerciais, em 1986, as exportae dos EUA subiram de US$ 12,4 ilhes, naquele ano, para US$ 40 bilhes, em 1992. O resultado disto que o Mxico se transformou na economia mais progressista da Amrica Latina e representa um exemplo para as outras naes. Houve trs grandes guerras neste sculo a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Antes de cada uma delas houve conflitos amplamente difundidos. E depois de cada uma houve euforia incontida. Depois da Primeira Guerra, muitos norte-americanos esperavam que a Liga das Naes pudesse concretizar nossa meta de tornar o mundo seguro para a democracia. Mas o corajoso e eloquente apelo ao idealismo lanado por Woodrow Wilson caiu vtima de seu colapso fsico e da oposio das foras isolacionistas no interior dos Estados Unidos. Wilson acreditava que sob a Liga das Naes os pases trabalhariam em conjunto para resolver seus conflitos de modo pacfico. Vinte anos depois, as ditaduras do Eixo lanam a Segunda Guerra Mundial. Aps a derrota da Alemanha e do Japo na Segunda Guerra Mundial, o secretrio de Estado dos EUA, Cordell Hull, disse num testemunho proferido perante o Congresso: No haver mais necesdade de esferas de influncia, de alianas, de equilbrios de poder ou de quaisquer outras das alianas separadas com as quais, no passado infeliz, as naes procuraram salvaguardar sua segurana ou promover seus interesses. A ONU foi saudada como a entidade que tornaria possvel tudo isto. Em 1946, menos de um ano aps o fim da Segunda Guerra e da fundao da ONU, a Unio Sovitica lanava a Guerra Fria. Aps a queda do comunismo sovitico na Guerra Fria e a derrota da agresso na Guerra do Golfo Prsico, a posio amplamente aceita na poca era que estvamos testemunhando o incio de uma nova ordem mundial. Muitas pessoas acreditaram que a capacidade humana de raciocinar tomaria o lugar do instinto humano de agresso. A morte e destruio na Bsnia constitui apenas um exemplo do trgico fato de que o fim da Guerra Fria entre as superpotncias no representou o fim dos conflitos entre potncias menores. O sonho de paz perptua de Immanuel Kant desabou, transformando-se em pesadelo. A isto se soma o fato de que, com a unidade do Ocidente fracionada pelo fim da ameaa segurana, a arena econmica ameaa transformar-se, parafraseando Clausewitz, numa continuao da guerra atravs de outros meios. Ser necessria uma liderana poderosa para fazer frente aos desafios que nos confrontam no mundo na era para alm da paz. significativo que nenhum dos atuais lderes do mundo ocidental, embora sejam homens e mulheres capazes, tenha ndices de aprovao pblica que se equiparam sequer aos de Boris Ieltsin. Churchill observou certa vez que um dos primeiros-ministros britnicos do sculo 19, lorde Rosebery, teve a infelicidade de viver numa poca de grandes homens e pequenos acontecimentos. Historicamente, a grandeza dos grandes lderes no tem sido reconhecida a no ser que eles tenham governado em tempos de guerra. Precimos mudar nossa maneira de pensar. Manter a paz deveria ser reconhecido como um acontecimento to grandioso quanto travar guerras. Aqueles que enfrentam os novos e empolgantes desafios desta histrica era para alm da paz ganharo o manto da grandeza, porque tero a felicidade de viver numa era de grandes acontecimentos produzidos por eles mesmos. Que papel os Estados Unidos iro desempenhar nesta era para alm da paz? No incio do sculo 20 no ramos uma superpotncia militar ou econmica. Embora desempenhssemos um papel significativo no cenrio mundial, a liderana mundial norte-americana no era um fator indispensvel para a manuteno da paz. Hoje os Estados Unidos so a nao mais forte e mais rica do mundo. Est claro que no existe substituto para a liderana americana. O que no est claro como os Estados Unidos deveriam liderar. A histria mostra que as lies do passado podem ser usadas para resolver os problemas do futuro. Enfrentamos perigos menores do que os que enfrentvamos durante a Primeira Guerra, a Segunda Guerra ou a Guerra Fria. Naquelas trs guerras o perigo era tangvel podamos v-lo, senti-lo, toc-lo. Mesmo durante a Guerra Fria, enfrentvamos um perigo claro e presente. Mobilizando nossos recursos econmicos, polticos e militares, os EUA e seus aliados tinham condies de enfrentar e derrotar aqueles perigos. Com o fim da Guerra Fria a ameaa menor, mas o desafio maior. Possumos sem dvida alguma os meios de manter o poderio militar necessrio para assegurar a paz pela qual fizemos tantos sacrifcios. O custo ser muito menor, porque o perigo diminuiu em consequncia do fim da Guerra Fria. Mas no temos um inimigo no exterior para nos unir, nem uma causa para nos inspirar. A dvida profunda se os Estados Unidos iro se unir em defesa de uma poltica de liderana mundial esclarecida uma das maiores causas que qualquer nao poderia ter.
Brasil pode ser exemplo latino-americano Histrias de sucesso sero escritas pelos gigantes do mundo em desenvolvimento No existe substituto para a liderana dos EUA. O que no est claro como liderar Os Estados Unidos devem iniciar acordos com o Nafta ou o Gatt, que abram seus mercados aos pases e desenvolvimento e vice-versa. O interesse maior nem econmico , mas poltico. No valem, ento, os argumentos dos que so contra porque a competitividade americana pode ser ameaada por alguns pases , ou porque h incompatibilidade quanto a formas de governo. As reformas polticas nesses pases, conseguidas com a iniciativa americana, seriam muito mais eficazes do que se tivessem outro encaminhamento. A grande lio a ser aprendida pelos pases em desenvolvimento no ouvir conselhos dos que s admitem desenvolvimento por via socialista. Faz 40 anos, que , na condio de vice-presidente, visitei os pases da sia, fora a China. Lderes polticos, jornalistas, professores, estudantes de naes recm-independentes discutiam quais as vias polticas mais eficientes para o desenvolvimento. Havia os interessados pelo modelo sovitico, outros pelo chins e ainda outros pelo socialista democrtico ento em voga na Europa Ocidental. No se discute mais isso. O modelo comunista perdeu espao. A China, ainda que mantenha o comunismo, adota medidas econmicas de livre mercado. O socialismo democrtico testado na Sucia, Frana e ndia no funcionou. As polticas de livre mercado no funcionam como o toque de fada: tem seus altos e baixos , mas constituem o caminho para desenvolvimento produtivo. Uma economia comandada pode trazer estabilidade , mas com o sacrifcio da criatividade. o contrrio do regime de mercado. Basta ver o sucesso de pases desmoronados aps a Segunda Guerra Mundial que adotaram polticas econmicas mais abertas. China, Taiwan, Coria do Sul, Cingapura, Malsia, Tailndia, Chile seguiram procedimentos econmicos bsicos como impostos mais baixos, menos regulamentao oficial, mercados abertos, prioridade em educao e tiveram sucesso. Trs grandes pases em via de desenvolvimento ndia, Brasil e Indonsiaj percorreram uma etapa do desenvolvimento. A ndia aumentou seu comrcio com a Europa Ocidental e com os Estados Unidos, reduziu os subsdios s indstrias estatais, melhorou em 120% o ndice de alfabetizao e o PNB. O Brasil, devastado pela inflao, pela dvida externa crescente, pela corrupo e com infra-estrutura decadente, deu uma reviravolta nos anos 90 com as reformas econmicas do governo Itamar. Seu PIB cresceu 4% em 93 , e a produo industrial, em quase 10%. Ainda enfrenta srios problemas, mas a perspectiva de crescimento pode transform-lo em exemplo para o restante da Amrica Latina A Indonsia um bom exemplo de como possvel sair da pobreza para o progresso com a adoo de polticas de livre mercado. Outros pases ainda podem ser citados como exemplo de recuperao: Vietn, Egito, Turquia, Mxico. O sculo XX foi palco de trs grandes guerras : a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Os conflitos que as antecederam e , naturalmente, os concomitantes com elas foram seguidos por intensa euforia aps cada uma . Mas a esperana de durao no encontra ressonncia na realidade. Fica a pergunta sobre qual papel os EUA iro desempenhar no interregno de paz. No incio do sculo XX, no ramos uma potncia nem militar nem econmica . Hoje somos a nao mais poderosa do mundo. Qual caminho que esta superpotncia deve assumir para liderar?
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MOSCOU - O presidente Boris Yeltsin e o general Alexander Lebed selaram ontem uma aliana com o objetivo de dar a Yeltsin a vitria no segundo turno das eleies presidenciais russas, no incio de julho. Lebed vai tentar transferir para Yeltsin os 11 milhes de votos que lhe deram o terceiro lugar no primeiro turno, ajudando-o a derrotar o comunista Guenadi Ziuganov. Em troca, em plena campanha eleitoral, foi nomeado assessor de segurana nacional e secretrio do Conselho de Segurana, que assessora a presidncia em questes de defesa. E, de quebra, ainda conseguiu a cabea do ministro da Defesa, Pavel Grachev, seu antigo desafeto. Yeltsin conseguiu outro apoio ontem, ainda que hesitante. O economista Grigori Iavlinski, quarto colocado no primeiro turno, declarou, em entrevista transmitida pela televiso, ser contra o voto em Ziuganov. No se pode votar no Partido Comunista. Se voc tenta votar contra os dois, tem que entender que isso pode ajudar Ziuganov, afirmou. Rebelio - Alexander Lebed, um general de 46 anos, de voz cavernosa e sem papas na lnguas, assumiu atirando. Horas depois de nomeado, acusou Grachev de ter planejado um golpe contra Yeltsin e revelou que alguns generais, descontentes com a demisso, haviam iniciado uma rebelio, imediatamente contornada. No haver sublevaes, disse Lebed em entrevista imprensa. Segundo ele, o movimento dos oficiais tinha sido uma tentativa de pressionar Yeltsin. Lebed afirmou ainda que os cargos que assume tm tudo a ver com as promessas de campanha de pr ordem na casa. O general centrou a campanha na luta contra o crime e a corrupo, elegendo Yeltsin como alvo principal. Ontem, os dois homens demonstraram que poltica um jogo de verdades relativas - ou que um segundo turno de eleies zera acusaes e insultos trocados no primeiro. Lebed manifestou confiana em que seus eleitores o seguiro na adeso ao adversrio que tanto criticou. Yeltsin, por sua vez, garantiu que Lebed ser seu sucessor no ano 2000. Mas no o indicou como vice-presidente, cargo que o colocaria direto na linha do poder caso o presidente no consiga concluir o mandato. Yeltsin, 65 anos, j foi hospitalizado algumas vezes, com problemas cardacos. Alm disso, notrio seu gosto pelo lcool, o que lhe causou vrios constrangimentos, tanto na Rssia como em viagens oficiais ao exterior. A grande incgnita da aliana de ocasio entre Yeltsin e Lebed saber se o presidente est disposto a dar poder suficiente ao general para satisfazer suas ambies polticas, que no so pequenas. Os dois homens no se assemelham apenas na aparncia, um tanto rspida e grosseira. Ambos so produtos das hierarquias soviticas - Yeltsin, do Partido Comunista; Lebed, da elite de praquedistas do Exrcito. Caram igualmente em desgraa, Yeltsin quando deixou o Politburo para seguir carreira poltica, em 1987, e Lebed em 1995, quando o ento ministro da Defesa, Pavel Grachev, o destituiu do comando do 14 Exrcito. Iguais - Yeltsin sempre tratou Lebed com indulgncia, como a uma verso mais jovem de si prprio. Normalmente sensvel a insultos, no reagiu quando Lebed, ainda militar da ativa, em 1994, descreveu o presidente e comandante-em-chefe como um zero esquerda. Durante a campanha, referiu-se a Yeltsin como um homem velho e no muito saudvel que j fez o que podia. Com o acordo, essas desavenas viram coisas do passado. Mas deve estar clara, na cabea de Lebed, as dificuldades de relacionamento de Yeltsin com seu vice anterior, o tambm general Alexander Rutskoi. Rutskoi foi convidado por Yeltsin para integrar sua chapa durante a campanha de 1991. O objetivo do ento candidato era aumentar sua penetrao entre militares e eleitores nacionalistas. Mas a escolha se mostrou desastrosa - Rutskoi foi excludo das decises de governo pelos assessores liberais do Kremlin, e se vingou denunciando as reformas econmicas do presidente. Em 1993 liderou uma frustrada tentativa de golpe em Moscou e acabou na cadeia, de onde saiu mais tarde. Desde ento a Rssia no tem mais vice-presidente. Mas Lebed, do alto de 11 milhes de votos, desfruta de uma posio mais confortvel do que a de Rutskoi. Um risco que corre o general novato em poltica o de que, j de olho na prxima eleio, ele passe a cuidar de sua prpria agenda poltica, deixando de lado a de Yeltsin.
Em poltica, o que no era bom no primeiro turno pode mudar no segundo. A aliana do primeiro colocado, Boris Yeltsin, com o terceiro, general Alexander Lebed , comprova isso. Foram zeradas as acusaes de campanha ----para Lebed , Yeltsin era corrupto e incompetente--- em favor da vitria sobre o segundo colocado, Guenadi Ziuganov. Tambm o quarto colocado, Grigori Yavlinski, hesitante , apoiou os aliados. Lebed foi nomeado assessor de segurana nacional e secretrio do Conselho de Segurana. Yeltsin no o indicou como vice, pois o colocaria muito prximo do poder . A condio de sade de Yeltsin e sua predisposio ao lcool poderiam incentivar sua ambio do poder. To logo nomeado , acusou Pavel Grachev de ter planejado um golpe contra Yeltsin , em represlia sua destituio do comando do 14 Exrcito , quando Pavel era ministro da Defesa. A aliana entre Yeltsin e Lebed uma incgnita , pois dois bicudos no se beijam. Ambos tm aparncia rspida e grosseira. Ambos, tambm, provm de hierarquias soviticas. Ambos j caram em desgraa. Apesar de Lebed receber um tratamento indulgente da parte de Yeltsin, deve estar com a barba de molho , pois o vice anterior , general Rutskoi, acabou sendo excludo das decises do governo pelos assessores liberais do Kremlin. Denunciou as reformas econmicas do presidente e, mais tarde, uma tentativa de golpe levou-o priso.
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Fernando Henrique tenta decifrar as ruas Senador quando jovem queria ser cardeal; com Collor tentou aprender o caminho para o contato popular FERNANDO RODRIGUES Da Reportagem Local O professor de sociologia Fernando Henrique Cardoso, 62, ganhou sua nica eleio em 86. Conquistou uma cadeira no Senado Federal. Fazia campanha falando para grupos de 40 ou 50 pessoas. Percorreu 208 cidades do Estado de So Paulo. Discursava dentro de salas fechadas, por quase uma hora. Era mais aula que campanha. Na eleio presidencial, ser invivel repetir a estratgia. O pas tem 4.491 municpios e 90,2 milhes de eleitores. Socilogo de sucesso, Fernando Henrique vai ter de enfrentar as ruas. Falar para milhares de pessoas ao mesmo tempo. E adequar seu discurso ao palanque. Ter de se contentar com reflexes-relmpago, de dois ou trs minutos. S que o ex-ministro da Fazenda um intelectual. Relutou em fazer campanha de rua. Queria adi-la para depois da Copa do Mundo. Seu partido, o PSDB, resmungou. Fernando Henrique recuou. Ele assim mesmo. Pondera sobre tudo e cultiva a racionalidade. Defende seu ponto de vista e comea a frase seguinte com um mas.... * mais fcil entender Fernando Henrique Cardoso com uma de suas frases: (Toro para o) Corinthians, claro. Mas j fui scio do Palmeiras. Fora de So Paulo, toro para o Santos. E se a Portuguesa ganhar, no fico triste. A declarao de agosto de 85. A campanha era para a Prefeitura de So Paulo. Fernando Henrique perdeu para Jnio Quadros. Essa sua indeciso por alguns temas refora a imagem de hesitante de seu partido, o PSDB. Seu amigo, o senador Jarbas Passarinho (PPR-PA) costuma definir FHC hoje com uma piada: Fico feliz em saber que um socilogo. Se engenheiro fosse, construiria muros interminveis. FHC, como ficou conhecido por uma necessidade dos jornalistas de fazer o seu nome caber em ttulos, lutou nas ltimas duas dcadas para fazer do Fernando Henrique poltico um vencedor igual ao Fernando Henrique professor. O mestre um sucesso. Socilogo, publicou 24 livros em 34 anos. Deu aulas em oito faculdades ou universidades no exterior. professor emrito da Universidade de So Paulo (USP). Em resumo, possvel discordar das idias do professor Fernando Henrique. Isso no o afeta. Na poltica diferente. At agora, FHC foi testado trs vezes nas urnas em 78, 85 e 86. Perdeu as duas primeiras e ganhou a ltima. Em 78, disputou uma vaga no Senado e ficou apenas com a suplncia. Perdeu para Andr Franco Montoro. Mesmo tendo toda a esquerda de So Paulo em apoio inclusive o ento sindicalista Luiz Incio Lula da Silva. Teve, ainda, o aplauso entusiasmado de Orestes Qurcia. Seu segundo teste eleitoral foi em 85. Disputou e perdeu a Prefeitura de So Paulo. Foi derrotado por Jnio Quadros. A campanha de 85 foi uma sucesso de erros. Declaraes suas permitiram que adversrios o rotulassem de maconheiro e ateu embora nunca tenha afirmado diretamente no acreditar em deus nem ter consumido drogas. Para os amigos, foi ingnuo. Sofreria de sincerocdio, um neologismo criado pelo publicitrio Nizan Guanaes. Para os detratores, FHC presunoso e elitista. Os inimigos adoram recordar 85, quando o candidato prefeitura sentou-se na cadeira de prefeito antes da eleio. Perdeu para Jnio Quadros por apenas 141.154 votos. Mas perdeu. Seu ltimo teste eleitoral aconteceu em 1986. Ganhou sua nica eleio, para o Senado. Elegeu-se pelo PMDB na esteira do Plano Cruzado, que reduziu artificialmente a inflao brasileira para -0,11% no seu primeiro ms. Ainda assim, ficou em segundo lugar, 1,5 milho de votos atrs de Mrios Covas, outro peemedebista. Esses trs testes mostraram para FHC a diferena entre a poltica e a academia. Ele sabe que para ser presidente no basta fazer um exame de ctedra. Estou com o couro duro, costuma dizer. Uma das provas que vai enfrentar nesta campanha o que vem sendo chamado de guerra de dossis. So relatrios sobre a vida pessoal dos candidatos que estariam prontos para ser divulgados. De FHC, o boato recorrente em Braslia seria o seu suposto romance com uma jornalista de TV. O namoro teria durado quase oito anos. Um filho teria nascido da unio dos dois. O garoto teria hoje trs anos. Fernando Henrique nega tudo. Olha, se tiver alguma me dizendo que o filho meu, vamos examinar. Isso onda. A imprensa comeou a falar dessa coisa antes dos candidatos. O Qurcia teria um dossi, dizem. Mas o Qurcia no disse nada. No plano poltico, FHC certamente ser questionado na campanha sobre sua proximidade com o ex-presidente Fernando Collor. Em vrias ocasies esteve pronto para assumir algum ministrio. Nos jantares onde o convite era sempre reapresentado a FHC, a forma de tratamento entre os dois Fernandos costumava ser pelo primeiro nome. Exerciam um fascnio mtuo um pelo outro. FHC queria aprender com Collor o caminho do contato popular. E o presidente ficava fascinado com o professor Fernando Henrique, seu conselheiro informal. Esse relacionamento de proximidade a Collor sem aderir totalmente ao governo custou a FHC a imagem de indeciso. Uma pecha j carregada pelo PSDB. Mas o fato que nunca hove a adeso. O ministrio que FHC assumiu foi s no governo Itamar. Primeiro, o das Relaes Exteriores. Depois, o da Fazenda. Quando aceitou ser o czar da economia, o fez em situao delicada. Foi o quarto ministro da Fazenda de Itamar em pouco mais de um ano. Costurou um acordo amplo e conseguiu o apoio de empresrios, da mdia e de parte do Congresso. A inflao disparou. Mas FHC foi poupado. Lanou-se candidato certo de que poderia ser o anti-Lula. Seus ndices baixos nas pesquisas eleitorais ameaam fazer ruir o acordo que levou para a disputa. Fernando Henrique de 18 de junho de 1931. Nasceu em casa, na rua 19 de fevereiro, em Botafogo, no Rio. do signo de gmeos. Filho de pai militar, veio aos oito anos para So Paulo. O Fernando estava com um sapato branco, um roupa esporte bem caracterstica de carioca, lembra-se o engenheiro Osmar Penteado de Souza e Silva, 63, colega de FHC no ginsio, sobre o dia em que conheceu o amigo. Prestes (1898-1990) foi o mais popular lder comunista do Brasil. Papai e Prestes eram iguaizinhos a todos os militares: amavam o Brasil e o seu povo, diz FHC. Junto com os colegas, fundou o Centro Colegial So Paulo o grmio da escola. Seu grupo ganhou as eleies durante os trs anos do curso, de 46 a 48, FHC foi da diretoria os trs anos. No colegial o segundo grau da pca, os garotos tinham aulas de manh. As garotas, tarde. O Fernando era popular com as moas. Ele ia sempre nas classes das meninas para distribuir os panfletos da chapa, lembra o amigo Clio Benevides. Formado no colegial, em 49 ingressou na universidade. Fez sociologia, na USP. Estava na moda naquela poca, diz seu ex-professor, o deputado federal Florestan Fernandes (PT-SP), 73. Na USP, conheceu sua mulher, a tambm estudante de sociologia Ruth Corra Leite, um ano mais velha do que ele. Na poca, FHC tinha 18 anos. Ruth, 19. Eles faziam a mesma coisa na universidade, tinham os mesmos gostos. A gente falava que mais pareciam irmos do que namorados, diz Roberto Gusmo, 68, um colega da poca que chegou a ministro da Indstria e do Comrcio do governo Sarney (85-90). Em 47, Gusmo presidiu a Unio Nacional dos Estudantes (UNE). Ficou no movimento estudantil at o incio dos anos 50, quando conheceu Fernando Henrique. Ele era comuna. Eu era mais um socialista, diz. Em 31 de dezembro de 53, s 23h45, Gusmo e Fernando Henrique estavam na calada esperando a So Silvestre passar. A Corrida j era a mais importante prova pedestre de rua do Brasil. Fomos ver porque iria ganhar o Emil Zatopek, um tcheco, comunista. Era o mximo ver um comunista ganhar a corrida, afirma Gusmo. O sentimento de Gusmo e de FHC naquele dia habitou as esquerdas do pas durante anos: na falta de brasileiro com chance de ganhar, torcia-se preferencialmente por algum de um pas de regime comunista. Depois da prova, na comemorao da entrada de 1954, Fernando Henrique fez a declarao que Gusmo se lembra at hoje: Eu vou ser catedrtico, vou para a Sorbonne, vou ser senador da Repblica, e, se possvel, cardeal. Os cardeais formam o conselho consultivo da Igreja Catlica. No preciso ser padre para ser cardeal. So nomeados diretamente pelo papa. O cargo vitalcio. A funo mais importante de um cardeal eleger o papa. o carreirista mais bem-sucedido que eu conheo costumo brincar. S mudou a idia de cardeal para presidente, diz Gusmo. Logo depois da tomada do poder pelos militares, em 31 de maro de 64, FHC resolveu sair do pas por causa de uma ordem de priso preventiva. Era acusado de atividades subversivas. Ficou escondido no apartamento da psicanalista Melanie Farkas, no Guaruj, cidade litornea a 87 km de So Paulo. Passou duas semanas sem aparecer. Ficou no litoral junto como amigo Lencio Martins Rodrigues, outro socilogo. Maurcio Segall, filho do pintor Lasar Segall, e ligado ao Partido Comunista, preparou a fuga. FHC voltou incgnito para So Paulo. Passou na casa do amigo Roberto Gusmo. No poro, atrs de um aparelho de som, escondeu a papelada do que viria a ser sua tese de ctedra quatro anos depois. Embarcou para a Argentina, com seu prprio passaporte, no dia 17 de abril. A polcia de fronteira no percebeu. De Buenos Aires, foi para o Chile. Chegou em Santiago no dia 1. de maio. sua espera no aeroporto, um amigo: Francisco Weffort, hoje no PT. FHC foi para o Chile trabalhar no Ilpes (Instituto Latino-Americano de Planificao Econmica e Social). O Ilpes da Cepal (Comisso Econmica para a Amrica Latina), um organismo da ONU (Organizao das Naes Unidas). Os cepalinos, como eram conhecidos os economistas da Cepal eram adeptos da tese s h pses ricos porque existem os pobres. a teoria da dependncia: a periferia nunca vai se desenvolver. Fernando Henrique achava a teoria, como estava, um despautrio. Criticou os cepalinos. Naquela poca o tucano j dizia acreditar na economia de mercado ou nos benefcios da sociedade de consumo. Foi ainda no primeiro semestre de 64 que fez arrepiar a esquerda ortodoxa. O investimento dos trustes e cartis gera crescimento interno. Por isso, a sociedade se transforma, repetia. Nos 70, FHC foi mais direto. Enquanto as esquerdas s discutiam as formas de resistncias ao regime militar, o socilogo Fernando Henrique queria aumentar o nvel de consumo. Em artigo para o extinto jornal semanal Opinio, em fevereiro de 73, escreveu: As oposies, em vez de negar a realidade e encastelarem-se na crena de um imobilismo social que no existe, ou de menosprezarem a nsia por consumo das classes possuidoras, devem partir destas aspiraes procurando aument-las, corrigi-las e mostrar a inviabilidade ou a dificuldade de elas serem atendidas nos moldes atuais da sociedade. Embora tenha criticado ferozmente o que chama de Estado tcnico-burocrtico no incio dos anos 70, hoje ainda contra a venda da Petrobrs, maior empresa do pas. Sou a favor, sim, de abrir o monoplio, diz. Indagado sobre a razo especfica para defender a Petrobrs nas mos do Estado, tergiversa: uma questo que no est colocada. A Petrobrs ficar para sempre nas mos do governo? De novo, a mesma resposta. Os titubeios na hora de abraar de uma vez o liberalismo lhe rendem crticas. O deputado Roberto Campos (PPR-RJ) descreve-o de maneira singular: O Fernando Henrique um Lula que estudou.
Fernando Henrique tenta decifrar as ruas Senador quando jovem queria ser cardeal; com Collor tentou aprender o caminho para o contato popular .-----FERNANDO RODRIGUES O professor Fernando Henrique Cardoso ganhou sua nica eleio em 86uma cadeira no Senado. A campanha lembrava uma aula: ele falava para 40 ou 50 pessoas. Na eleio presidencial teria que ser diferente. Com a quantidade de municpios e de eleitores, ele teria que enfrentar as ruas. Com seus hbitos de intelectual, relutou. Mas o seu partido, PSDB, chiou e ele voltou atrs. Coerente , alis, consigo : defende o seu ponto de vista e recomea a frase com um mas. dele uma frase que o define bem:(Toro para o )Corinthians, claro. Mas j fui scio do Palmeiras. Fora de So Paulo, toro para o Santos. E se a Portuguesa ganhar, no fico triste. Essa sua indeciso por alguns temas refora a imagem de hesitante do PSDB. Como professor de sociologia , elogivel. Sua reputao intelectual paira acima das discordncias s suas idias. Mas na poltica diferente. Nos seus testes de urna 78,85 e 86perdeu duas e ganhou a ltima. Em 78 , ficou como suplente de senador.Em 85, cometeu uma srie de erros. Declaraes infelizes levaram seus adversrios a rotularem-no de maconheiro e ateu. A sua classificao oscilava de ingnuo para os amigos, a presunoso e elitista para os adversrios. Em 86, foi eleito senador . Os trs testes mostraram que poltica e academia tm diferena. Nesta campanha presidncia , vai enfrentar duras provas. Uma delas guerra dos dossis , que j lhe arranjou um filho extramatrimonial , negado por ele. No plano poltico , certamente vai ser provocado por sua proximidade com o ex-presidente Fernando Collor. De fato, havia uma forte admirao mtua. Fernando Henrique queria aprender o Collor o contato com as massas, e este tinha fascinao pelo professor socilogo. Esse relacionamento com Collor sem adeso ao governo custou a FHC a imagem de indeciso.
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Conhea a ntegra do pronunciamento do presidente eleito Da Sucursal de Braslia A seguir, a ntegra do pronunciamento do presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, feito ontem em Braslia: Em primeiro lugar, quero externar a minha alegria pela realizao das eleies na forma to democrtica, to positiva e pelos resultados. inegvel que o povo brasileiro, atravs de seu eleitorado, mais uma vez reafirmou sua vontade de prosseguir no caminho de mudanas, prosseguir no caminho de transformaes que se faam dentro da lei e dentro do que o pas deseja. Eu no posso tambm deixar de registrar a minha satisfao pelo fato de que o PSDB teve vitrias importantes no Brasil. E de que os demais partidos tambm, muitos deles, obtiveram votaes expressivas e elegeram governadores. Ns temos um quadro de governadores que um quadro que parece muito positivo. O resultado das urnas, como em qualquer democracia, ser respeitado, no s em termos das sucesses legais, mas em termos polticos. Eu tenho certeza de que o presidente Itamar Franco, com quem conversei ontem, tem a mesma sensao de satisfao com o resultado das eleies e a acrescento eu, que foram presididas de uma maneira absolutamente isenta pelo presidente da Repblica. Como futuro presidente, eu tambm quero deixar bem claro ao pas, reafirmar a minha disposio de trabalhar com todos os governadores, sejam do meu partido, sejam de partidos que me apoiaram, sejam de partidos que no apoiaram, que trabalharam pensando sempre naquilo que importante para as transformaes que o pas deseja. Estarei sempre disposto a discutir os problemas nacionais e, dentro das possibilidades, encaminhar em conjunto com os governadores as solues para os problemas dos Estados. O fato de ns termos tido uma eleio na qual os partidos que me apoiaram e uma boa parte dos governadores que eu manifestei tambm, dentro dos limites, o meu apoio, ter sido eleita, aumenta a minha responsabilidade. A satisfao de ver os resultados vai 'pari passu' com o sentimento crescente em mim da enorme responsabilidade de exercer a Presidncia da Repblica no contexto de um Brasil que comeou a se reorganizar no governo Itamar Franco e que fez uma opo clara por reformas. Eu vou me empenhar na realizao dessas reformas. Reforma no se faz com um ato de imprio. Reforma no o resultado de um decreto. Reforma no o resultado da aprovao pelo Congresso de uma lei, nem mesmo de uma transformao na Constituio. Reforma um processo. uma coisa que permanentemente deve estar no esprito de todos ns, que assumimos responsabilidades perante o pas. Vai ser no dia-a-dia, na gesto, na discusso de cada problema, temos que ter em vista um objetivo de mais longo prazo. Eu farei, como j declarei e como reafirmo aqui, um discurso de despedida no Senado, onde direi de forma mais concreta quais so as linhas das transformaes que parecem necessrias. Eu quero tambm deixar claro, nesse momento em que o Brasil reafirma a sua vocao para a democracia e para mudanas a favor de uma economia mais moderna, mais aberta e de uma populao mais atendida pelos poderes pblicos e com fontes de renda mais compatveis com a dignidade de uma vida decente, que os objetivos de transformao sero permanentes. A concepo dessa transformao no ser feita de afogadilho. E assim, enquanto ministro da Fazenda, com todo o apoio do presidente Itamar Franco, eu disse sempre ao pas o que iria fazer, eu sempre pedi o apoio e nunca aceitei uma atitude tecnocrtica, uma atitude que fosse de soberba, que fosse de imposio. Como presidente da Repblica, eu no vejo razo para mudar o meu modo de ser. O pas no precisa ficar na expectativa de surpresas, porque as surpresas no resolvem nada. Ou ns, no dia-a-dia, construmos as transformaes, convencemos da necessidade delas a populao e tambm somos convencidos quando for o caso da necessidade de mudar de rumo, ou ns no construiremos realmente uma transformao democrtica e duradoura. No vai ser meu estilo de governo, como no foi o do presidente Itamar Franco, o de surpreender o pas com medidas que ningum espera ou que muitas vezes especulaes aqui e ali antecipam, sem nenhuma base. No momento adequado, eu direi. J peo desde j a compreenso dos novos governadores para as medidas que ns vamos ter que tomar. Ns vamos continuar atentos ao processo de combate inflao. Eu acho que o resultado das eleies manifestou de uma maneira muita clara que o pas deseja a estabilidade econmico-financeira, quer ter uma moeda slida, uma moeda que signifique para o trabalhador uma garantia de que seu esforo de trabalho no ser corrodo pela inflao. Esta deciso j no mais de um governo, de um povo que aprovou esta conduta. Ns vamos continuar nesta direo. E os governadores que esto eleitos sabem que tambm o foram na mesma medida em que inspiraram ao povo a confiana de que seriam fiis seguidores desta vontade popular. Isso vai implicar um conjunto de medidas que sero tomadas sempre em dilogo, mas sero tomadas. No sentido de que o saneamento das finanas pblicas prossiga. Sero tomadas por ser imperioso tom-las. No se trata hoje de uma deciso da Unio, mas de uma deciso conjunta do povo brasileiro, que exige que, governadores e presidente da Repblica, nos debrucemos todos para resolver aquilo que foi sendo postergado. Eu tenho a convico de que esse sentimento de austeridade no s do governo federal, ser compartilhado pelos Estados. Eu quero dizer tambm que, no momento adequado, comporemos um governo que ser a expresso dessa vontade de transformao. Ser um governo unido por um programa e, ao mesmo tempo que estar atento necessidade da estabilizao, no vai se esquecer de que um pas como o Brasil precisa de produo. Precisa aumentar a sua produo, precisa dar condies para que os setores industriais e agrcolas possam realmente investir com tranquilidade e que tenham a certeza de que a competio, que saudvel, vai ser uma competio feita tambm a partir do desenvolvimento tecnolgico, que permita enfrentar as dificuldades que qualquer competio impe hoje a nvel internacional. Ns queremos as medidas adequadas para defender os nossos produtores do que se chama competio desleal. O esforo ser grande. A continuidade do processo de saneamento das finanas, de manuteno do valor do real em termos compatveis com a dignidade de um pas que sabe que a inflao um mal que no pode ser feito. Esse esforo vir com a preocupao de que a produo nacional continue crescendo e que ns teremos efetivamente, no decorrer dos anos de governo que nos esperam, a condio para que ns possamos retomar o desenvolvimento sustentado. Ningum mais, hoje em dia, aceita as formas selvagens de desenvolvimento econmico. Desenvolvimento sustentado significa um desenvolvimento voltado para acabar com os bolses de misria e pobreza e significa tambm respeito s condies ambientais. Eu peo, neste momento de alegria para tantos governadores e para os que foram eleitos no primeiro turno, que nos unamos nesta direo. Estou certo de que o governo ser um governo comprometido com esses objetivos, que so objetivos aprovados pelo povo. Ser um governo sensvel s realidades polticas, ser um governo que estar permanentemente dialogando com as foras do Congresso Nacional, do qual eu sou membro, no qual aprendi, e muito, sobre a vida pblica brasileira. Mas o Congresso que hoje, depois de experincias traumticas pelas quais passou, sabe tambm que a opinio pblica tem um balizamento muito claro, que a opinio pblica no aceita mais procedimentos notvagos. No sero mais mantidos. O dilogo ser muito franco e aqueles que se dispuserem a apoiar o governo participaro do governo para apoiar um programa. Tero as responsabilidades correspondentes a essa postura, mas no se tratar mais de uma negociao pontual, atravs de concesses a A, B ou C, em termos do d c, toma l. O pas no aceita mais esse procedimento. Os partidos tambm no o aceitam. Eu devo dizer, com muita alegria para mim, que depois de eleito conversei com vrios lderes partidrios; os lderes dos partidos que me apiam esto conversando com outros lderes partidrios, e todo o nosso desenrolar de negociaes tem sido feito em termos de conscincia das necessidades do pas. No houve e no haver qualquer outro tipo de negociao. Negociao hoje s claras. Temos um objetivo, temos um programa, o povo quer esse programa e ns precisamos constituir um governo capaz de levar adiante essas transformaes. To importante quanto essa atitude de uma permanente busca de mudana, no simplesmente de um dia D para que as coisas aconteam, a capacidade constante de gesto. O Brasil cansou de uma gesto irresponsvel, de incompetncia. A competncia tem que ser um critrio fundamental, aliado ao critrio de comprometimento poltico com os objetivos decididos na campanha eleitoral e aprovados hoje pela opinio pblica, em sintonia plena com a populao brasileira. Quero dizer tambm que com esse esprito que parto, daqui por diante, a ter conversas mais persistentes com as lideranas polticas e com os partidos no Congresso. Vamos iniciar a discusso das reformas que sero necessrias, temos grupos de trabalho discutindo algumas destas propostas e as reformas sero feitas com o esprito que eu disse aqui. Teremos quatro anos de governo. No vamos governar em cem dias. Muito mais do que cem dias. Nos cem dias de que todo mundo fala voc pode dar sinais. Mas os sinais espetaculares s servem para desiludir em seguida a populao, quando eles no so seguidos de uma atitude permanente de transformao e de reforma. com esse esprito que ns vamos pedir que o Congresso apie algumas modificaes, algumas na Constituio, algumas na legislao, mas, sobretudo, na experincia que hoje tenho de parlamentar, com o sentimento de que a lei no basta. Que preciso fazer cumprir e que a gesto, s vezes, suficiente para suprir lacunas legais ou para contornar dificuldades que muitas vezes parecem insuperveis e que isso mais vale na batalha do dia-a-dia, na gesto, do que pura e simplesmente anunciar grandes transformaes que depois no tm condies de ocorrer. Elas vo ocorrer. Elas j esto ocorrendo. E elas vo ocorrer porque o povo hoje um povo maduro, um povo que sabe perfeitamente acompanhar os acontecimentos e porque os dirigentes polticos brasileiros j esto afinados com esse novo esprito. E os que no estiverem, tero perdido o bonde da histria. Quero tambm dizer que, no regime democrtico, a oposio necessria. E que o governo, sob a minha conduo, no estar disposto cooptao. Estar sempre disposto a discutir os problemas nacionais com quem esteja na oposio. Isso vale para os governadores eleitos que no so da coligao que me apia, com os quais manterei, como sempre mantive no decorrer de toda a minha vida pblica, um dilogo respeitoso, pensando sempre que, quando o povo elege, quem decidiu foi o povo e o povo no pode ser penalizado se, eventualmente, o eleito no for at mesmo do agrado, o que no o caso, do presidente da Repblica. As noes presidenciais no so compatveis com ressentimentos. No so compatveis com mesquinharia. Ns estivemos alinhados, como estamos, pensando grande, pensando no pas que tem vitalidade, que hoje tem todas as condies de dar um grande salto. Tenho absoluta tranquilidade de que governo e oposio, juntos, faremos tudo aquilo que for necessrio para o Brasil se reafirmar como um pas que efetivamente no s democrtico, como prspero e capaz de multiplicar a sua riqueza. Quero finalmente dizer que, por volta de final de dezembro, anunciarei o ministrio; anunciarei sem precipitaes. No tem nenhum fundamento a tese de que eu vou primeiro nomear tal e qual ministro, que eu esteja negociando isto ou aquilo. Eu sou uma pessoa de dizer com muita franqueza o que penso e eu disse desde o incio como faria, estou fazendo como disse que faria. Estou pensando primeiro quais so os projetos necessrios para o formato necessrio para melhor atender as aspiraes do pas e, em seguida, vamos ver quais so as pessoas capazes de encarnar isso, tentando sempre prestar ateno competncia tcnica e posio poltica. O pas no se transforma s pela vontade imperial ou tecnocrtica. S se transforma com o apoio e esse apoio deriva da convico e da sintonia das foras polticas e da vontade da sociedade. Conversarei daqui at o governo com muita gente e podem fotografar vontade, mas no deduzam que uma conversa com o presidente eleito significa qualquer preenchimento de cargo. Ou melhor, deduzam, se quiserem, mas podem ter certeza de que no tm o meu aval e nem ningum fala por mim. Eu disse isso desde sempre: ningum fala por mim. A menos que eu tenha dito expressamente que vai falar. No fiquem ansiosos, porque, no momento adequado, eu espero ter a condio de apresentar ao pas um conjunto de pessoas que sero apenas a ponta de um iceberg. Porque ns precisaremos de muita gente para mudar o Brasil. O Brasil muito grande e essa mudana depende, depende muito de que a informao seja transmitida corretamente. Finalizo, mais uma vez, felicitando os recm-eleitos governadores de Estado e dizendo que eu tenho a certeza de que juntos ns vamos realmente conseguir levar os planos adiante. Isso s ser possvel porque o governo Itamar Franco tomou decises srias de enfrentar alguns dos mais difceis desafios do Brasil e isso facilita a tarefa do presidente eleito. Muito obrigado.
Conhea a ntegra do pronunciamento do presidente eleito Da Sucursal de Braslia Em primeiro lugar, quero manifestar minha alegria por esta demonstrao de democracia , reveladora de que o povo brasileiro quer prosseguir com as mudanas. E tambm minha satisfao pelos resultados obtidos pelo PSDB e os demais partidos, resultados que sero respeitados. Como presidente eleito, quero reafirmar minha disposio de trabalhar em consonncia com os governadores, no importa de que partido. Estarei sempre aberto a discutir com eles os problemas nacionais e , dentro do possvel, solucion-los. Vou me esforar pela realizao das reformas necessrias , consciente de que elas no so resultado de um decreto, mas fruto de um processo que se d no dia-a-dia. J quando ministro da Fazenda, sempre fui claro ao pas quanto ao que iria fazer, sempre pedi apoio e sempre recusei atitudes tecnocrticas, de soberba, de imposio. Como presidente, no vejo por que mudar. No vou pontilhar meu governo com surpresas . Mas , desde j, peo a compreenso dos novos governadores para as medidas que vou tomar. Continuamos com o objetivo de combater a inflao, respeitando, assim, o que o pas demonstrou nessas eleies: desejo de estabilidade econmico-financeira, de uma moeda forte , estvel, que corresponda aos esforos do trabalhador. As medidas sero tomadas aps dilogo, mas sero tomadas.E estou convicto de que austeridade necessria para tanto ter o apoio no governo federal e no dos Estados. O Brasil um pas que necessita de produo. Precisa, pois, dar condio aos setores industriais e agrcolas para que invistam com tranqilidade ; o desenvolvimento tecnolgico fundamental para isso. O nosso esforo, que ser grande, ser estimulado pela preocupao com o desenvolvimento sustentado , responsvel pela eliminao dos bolses de misria e tambm pela preservao ambiental. Se vamos estar atento s realidades polticas , permanentemente dialogando com o Congresso, tambm estamos ciente de que o Congresso, aps traumticas experincias, sabe que o povo brasileiro no aceita procedimentos encaminhados nas sombras. A nossa disposio para um dilogo franco.
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Choque de Poderes poderia ter sido evitado Inocncio disse a Hargreaves na sexta-feira que poderia cancelar reajuste com ato da Mesa da Cmara JOSIAS DE SOUZA Diretor-executivo da Sucursal de Braslia Quando viaja para seu municpio, Serra Talhada (PE), o presidente da Cmara, Inocncio Oliveira (PFL-PE), costuma isolar-se do mundo. Sua casa tomada noite por um silncio de cemitrio. H uma semana, na transio de sexta-feira para a madrugada de sbado, a calma do local foi cortada por insistentes telefonemas disparados de Braslia. Quando entrou na sala, Inocncio foi avisado de Henrique Hargreaves, ministro-chefe do Gabinete Civil da Presidncia, deixara trs recados. Atnito, o presidente da Cmara discou para Hargreaves. Passava pouco da meia-noite. Ouviu do ministro o relato sobre uma tensa reunio em que, duas horas antes, o governo havia decidido abrir guerra contra o Congresso e o Judicirio. Ao ser informado de que no centro da turbulncia estava a deciso dos congressistas e juzes do STF de se autoconcederem um aumento salarial de 10,94%, Inocncio reagiu espantado: Mas Hargreaves, com um simples ato da Mesa (Diretora da Cmara) eu poderia ter revisto esse reajuste. Era tarde. A nota do Planalto, com duros ataques aos outros dois Poderes, j havia sido divulgada. Inocncio passou o fim-de-semana em Pernambuco. Na segunda-feira, o pas estava mergulhado numa crise que poderia ter sido evitada com um simples telefonema. Ontem noite, em reunio no Palcio do Planalto, o presidente Itamar Franco revelava aos seus auxiliares em que condies admitiria abrir negociao com o STF. Apegava-se a pequenos caprichos. Dizia, por exemplo, que um telefonema do presidente do tribunal, Octvio Gallotti, poderia ser um bom comeo. Pela primeira vez desde o incio da crise, o presidente reconhecia que preciso obter uma sada que preserve a integridade do Supremo. O tamanho do desassossego que tomou conta de Braslia no combina com o apelido que a crise ganhou nos bastidores do Congresso. Os parlamentares se referem ao episdio como a guerra da gorjeta, numa referncia aos 10,94% que esto em jogo, um percentual equivalente ao que se costuma dar ao garom no restaurante. A ebulio trouxe de volta duas instituies que estavam fora de moda na poltica brasileira: os militares e o clube de Juiz de Fora, integrado pelos auxiliares mais prximos de Itamar Franco. Outro subproduto da crise foi o estremecimento das relaes entre o presidente e o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Uma frase de Fernando Henrique resumia suas preocupaes na ltima quarta-feira: O Itamar est muito envolvido ou deixando-se envolver pelos militares. Assim, eu estou fora. O parlamentar que ouviu a frase do ministro teve a impresso de que o interlocutor se encontrava extenuado, muito prximo do seu limite. A quarta-feira, de fato, no foi um dia fcil para Fernando Henrique. O ministro certificou-se naquele dia de que Itamar havia tido uma recada. Desde a sua entrada no governo, o Itamar dos pitos em ministros, dos preos dos remdios, dos juros altos, esse presidente das crises cclicas havia submergido. Naquela quarta-feira, porm, o velho Itamar reapareceu diante de Fernando Henrique. Aconselhado por Henrique Hargreaves e por Jos de Castro, presidente da Telerj e seu consultor jurdico de cabeceira, Itamar rejeitava a todo custo a negociao. No negocio, no negocio e no negocio, repetiu. O presidente queria que o STF se dobrasse. Eles precisam reconhecer que erraram, disse. O aumento de 10,94% para o Legislativo e o Judicirio resultou da opo por uma data: o dia 20 de cada ms. Os juzes chegaram mdia salarial dos ltimos quatro meses fazendo a converso dos prprios vencimentos URV no dia 20, data em que o governo lhes repassa o dinheiro da folha de pagamento. O governo exige que a converso seja feita com base no dia 30. disso que Itamar no abre mo. Nos ltimos dois dias, os ministros militares mostravam-se abertssimos negociao. S no admitiam uma coisa: um recuo do presidente. A partir do momento que o presidente assumiu a nossa posio, ficamos tranquilos e confiantes de que ele no vai ceder, dizia na quarta-feira o secretrio de Administrao do governo, general Romildo Canhim. A soluo montada na quarta-feira parecia perfeita. O governo reeditaria a medida provisria que instituiu a URV. Tornaria mais claro o artigo que obriga a converso dos salrios de todos os servidores pblicos pelo dia 30. O Congresso voltaria atrs e converteria os salrios dos seus funcionrios por esta data, abrindo caminho para que o STF fizesse o mesmo. Itamar, como desejam os militares, veria consagrado o dia 30. Todos os atores da crise, incluindo os militares e o STF, aceitaram a soluo. Mas o presidente bateu o p, rejeitando qualquer tipo de negociao. O curioso que o STF, que hoje resiste s presses, optou pela converso salarial no dia 20 a pedido de um sindicato conhecido apenas em Braslia, o Sindijuris, que representa a categoria dos servidores do Judicirio. Para convencer os ministros, o sindicato argumentou que a direo do Congresso j havia optado por aquela data. Convencidos de que a converso pelo dia 30, como queria o governo, imporia perda de 10,94% aos salrios do Judicirio, os ministros aquiesceram. Nove em cada dez ministros afirmavam no incio da semana que o Tribunal teria voltado atrs se tivesse recebido um pedido do governo nesse sentido. Se o Legislativo voltasse atrs tambm, no haveria razo para que o Judicirio ficasse isolado. Reforava-se a convico de que, se tivesse negociado, o governo teria evitado a crise. Paulo Brossard, outro ministro do Supremo, tinha a sua prpria tese, revelada numa frase engenhosa. A frase, na verdade uma pergunta, foi revelada Folha por um amigo do ministro: Se Deus limitou a inteligncia, por que no limitou tambm a burrice?. Em outras palavras, o ministro considera que a estultice do presidente ilimitada. Em conversa com outro colega de Tribunal, Francisco Rezek construiu outra tese: Ele (Itamar) est querendo criar um fato que apague da memria do brasileiro outro episdio recente em que foi flagrado em situao constrangedora, disse, referindo-se ao flagrante do Sambdromo, quando as lentes expuseram Itamar ao lado da modelo sem calcinhas. A caixa de correspondncias do Palcio do Planalto oferece uma boa explicao para a teimosia de Itamar. Desde que estourou com os outros Poderes, o presidente passou a receber de quatro a cinco cartas diariamente. Todas elas contm frases de apoio. O grupo de Juiz de Fora oferece outra boa explicao. O presidente s ouve de seus auxiliares palavras de estmulo. Alm de Hargreaves e Jos de Castro, estimulam-no o secretrio-geral da Presidncia, Mauro Durante, e a assessora especial Ruth Hargreaves. nica voz destoante no Palcio do Planalto, o assessor especial para Assuntos Institucionais, Augusto Marzago, no foi ouvido. Na tera-feira, Marzago j aconselhava o presidente a baixar a bola. A crise, na sua opinio, assumia propores exageradas. No meio da semana, Marzago desabafou: O que vale mais, US$ 270 milhes ou a democracia? Os dlares a que se refere o assessor de Itamar correspondem ao gasto que o governo estima que teria se concordasse com o autoreajuste do Legislativo e do Judicirio. Nos ltimos dois dias, os ministros militares se recolheram. Ontem, outro ministro do STF, Carlos Mario Veloso, parafraseava o ex-presidente americano John Kennedy, para expressar seus receios a um companheiro de toga: Quem se assenta no lombo de um tigre, acaba no seu ventre. Colaboraram CLVIS ROSSI, da Reportagem Local, e EUMANO SILVA, FLVIA DE LEON e SNIA MOSSRI, da Sucursal de Braslia
Choque de Poderes poderia ter sido evitado Inocncio disse a Hargreaves a sexta-feira que poderia cancelar reajuste com ato da Mesa da Cmara. JOSIAS DE SOUZA - Diretor-executivo da Sucursal de Braslia O presidente da Cmara, Inocncio de Oliveira, recebeu insistentes telefonemas de Henrique Hargreaves, ministro-chefe do Gabinete Civil da Presidncia, comunicando que o governo havia decidido abrir guerra contra o Congresso e o Judicirio. Quando soube que o motivo era a deciso dos congressistas e juzes do STF de se concederem um reajuste de 10,94%, reagiu: Mas Hargreaves, com um simples ato da Mesa (Diretora da Cmara) eu poderia ter revisto esse reajuste. A nota do Planalto , atacando duramente os dois Poderes ,j tinha sido divulgada. Na segunda-feira, tinha-se instalado uma crise no pas, evitada simplesmente por um telefonema. O presidente Itamar admitia a seus auxiliares que abriria negociaes com o STF , dependendo de um telefonema do presidente do tribunal. A crise trouxe em cena os militares e o clube de Juiz de Fora , formado pelos auxiliares mais prximos de Itamar , ambos fora de intromisses na poltica.E ainda houve o estremecimento entre o presidente e o ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, que assim expressou suas preocupaes: O Itamar est muito envolvido ou deixando se envolver pelos militares. Assim , eu estou fora. O ministro notou que , naquele dia, o Itamar de crises anteriores tinha reaparecido. Mesmo aconselhado por assessores, rejeitava terminantemente a negociao. Os juzes tinham estabelecido o dia 20 do ms como data da reconverso de seus vencimentos para a URV; Itamar determinara o dia 30. Montou-se uma soluo aparentemente perfeita: a medida provisria seria reeditada determinando o dia 30, como queria o presidente. Todos os envolvidos aceitaram, mas Itamar bateu o p. Se ele tivesse proposto negociao s duas outras instituies , estava resolvido o problema. Mas o seu ego s parece aceitar cartas de apoio e palavras de estmulo dos seus auxiliares; nada de confrontos.
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Agora moda carpete de madeira Indicado para residncias, tem fcil manuteno; preo mais alto que o similar txtil FILOMENA SAYO Da Reportagem Local Ter o cho de sua casa forrado com uma fina lmina de jatob, ip ou marfim tem sido a opo preferida de milhares de brasileiros. Lanado h menos de 15 anos, o carpete de madeira decolou nos ltimos trs anos. Agora, est no auge, afirmam os lojistas, apesar de ser, em mdia, mais caro que o seu similar de nilon, polister ou outros materiais. H um modismo. O produto muito indicado por decoradores, diz Wlademir Franco, 42, diretor de vendas da Casa Fortaleza, com 16 lojas. Ele vende entre 8.000 e 9.000 metros quadrados (m2) por ms do carpete. O tradicional atinge cerca de 80 mil m2. H dois anos, a proporo era de 1.000 m2 (madeira) para 60 mil m2 (txtil) mensais. De cada dez pessoas que querem revestimento para piso, oito levam carpete de madeira, diz Luiz Carlos de Abreu, 47, diretor comercial da Rebrasin, com trs lojas. H dois anos, acrescenta, dois em cada dez consumidores levavam esse produto. Ivo Ricardo Capasso, 28, um dos proprietrios da Unifort, no Trememb (zona norte), diz que a proporo de vendas em suas loja a mesma hoje. o nosso carro-chefe em vendas. O carpete de madeira conquistou construtoras, revela Rita de Cssia Kfouri, 28, gerente de vendas da Piso Arte. Ela diz que a Contrin comprou na rede, formada por seis lojas, o revestimento padro jatob para revestir o cho de 22 apartamentos de um prdio na Sade (zona sul). Vai bem com qualquer decorao. Ao contrrio do que muita gente pode pensar, esse tipo de revestimento para piso no substitui completamente o carpete tradicional. Em primeiro lugar, indicado para residncias e no escritrios. Como as lminas so finas (de 2,5 milmetros a 8 milmetros), elas podem sofrer danos em local de movimentao intensa. Alm disso, h que se tomar cuidado com mveis estes devem ter feltros nas bases e no serem arrastados, pois a madeira pode ser riscada facilmente. O mesmo cuidado vale para mulheres que gostam de sapatos com saltos altos e finos. Os passos das pessoas tambm so nitidamente refletidos pela madeira. Um de seus pontos fortes, afirma Jos Al Makul, 46, presidente da Abracarp (associao que rene revendedores de carpetes, tapetes, pisos e cortinas), a beleza da madeira que amplia os ambientes. Outro ponto favorvel a limpeza basta um pano mido. Sua instalao demora cerca de dois dias. Para a professora de ingls Ana Aparecida Gama Cintra, 50, o carpete de madeira vai ajudar a melhorar a rinite alrgica de sua famlia. H dois meses ela trocou o carpete de nilon dos trs quartos de seu apartamento por esse revestimento. Fiquei satisfeita. Vamos aguardar para ver se a alergia melhora. O Procon recomenda pesquisar preos e checar se este inclui colocao, rodap e manta isolante (para os carpetes de sete milmetros). Se a colocao das tiras de madeira forem na diagonal em relao s paredes, o consumo pode ser at 40% maior que a metragem do ambiente, diz o rgo.
Agora moda carpete de madeira Indicado para residncias , tem fcil manuteno ; preo mais alto que o similar txtil FILOMENA SAYODa Reportagem Local Virou moda para milhares de brasileiros ter o cho forrado com lminas de jatob, ip ou marfim, apesar de mais caros em mdia do que o equivalente de nilon, polister, etc. Wladimir Franco , diretor de vendas da Casa Fortaleza, diz que muito indicado por decoradores. Na mesma direo, Luiz Carlos de Abreu, diretor comercial da Rebrasin, informa que oito entre dez clientes escolhem piso de madeira. Rita de Cssia Kfouri , gerente de vendas da Piso Arte, informa que o carpete de madeira conquistou as construtoras. Mas ele no substitui completamente o piso tradicional. Sua opo mais para residncias do que escritrios, onde o movimento intenso provoca danos. Tambm necessrio tomar cuidados com os mveis e com os sapatos altos das mulheres. Jos Al Makul, presidente da Abracarp, salienta a beleza e a facilidade de limpeza como seus pontos fortes. E a expectativa da cliente Ana Aparecida Gama Cintra que a rinite alrgica da famlia v melhorar com a recente substituio pelo piso de madeira.
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Festa para crianas vira um negcio srio Reduo do tamanho dos apartamentos e falta de tempo dos pais aumenta a demanda por bufs infantis Free-lance para a Folha A reduo do tamanho dos imveis e a falta de tempo dos paulistanos est abrindo espao para a proliferao de bufs infantis. Destinados a crianas entre 3 e 12 anos, da classe mdia alta, os novos bufs tm atrado cada dia mais pais, interessados na praticidade do sistema a maioria das empresas providencia tudo relacionado s festas, da alimentao ao transporte. Para entrar na rea preciso investir cerca de US$ 23 mil e ter um rea de pelo menos 200 m2. O mais indicado encontrar um ponto perto de escolas, em bairros de alto poder aquisitivo. Quem est comeando pode usar servios de terceiros, contratados de acordo com as festas j encomendadas. Os pacotes, em geral, incluem bolo, salgadinhos, doces, refrigerantes, servio de garons e monitores, convites, lembrancinhas, decorao e acesso aos brinquedos. A maioria das casas trabalha com dois horrios (das 12h s 16h e das 18 s 22h) e faz preos diferenciados em dias de semana. Alguns bufs levam a festa s escolas. Nesse caso, entregam lancheiras com bolo, doces, sanduches e refrigerantes para as crianas. Oferecer um atendimento impecvel e atraes diversificadas so qualidades essenciais para enfrentar a concorrncia. Segundo a pedagoga Lucy Salles, 38, scia de dois sales do buf Mundo Encantado, em Moema (zona sul), so muitas as casas que abrem, mas poucas sobrevivem por falta de qualidade. Lucy calcula em 40 o nmero de concorrentes na regio, mas acredita que ainda h espao e pretende expandir formatando seu negcio no sistema de franquia. Ela organiza cerca de 30 festas por ms em cada um de seus sales e cobra R$ 700 por festa para 50 convidados. A pedagoga Eliane Chagas, 30, dona do buf Fik e Brink, em Santana (zona norte), afirma que seus maiores gastos so com mo-de-obra e alimentao, que juntos somam R$ 300, para uma festa de 50 pessoas. Com decorao, ela gasta mais R$ 100. Ela investiu R$ 30 mil no salo, que tem 400 m2 e est em um local estratgico: prximo a cinco escolas particulares. Em trs meses, j organizou 34 festas. Silvia Matta, 31, que h quatro anos abandonou as salas de aula para abrir o Sugar World, no Tatuap (zona leste), acredita que disposio para trabalhar nos finais de semana e bom relacionamento com o pblico tambm so requisitos fundamentais. importante acompanhar todas as festas para ganhar a credibilidade dos clientes, diz. Ela faz de 15 a 20 festas por ms. Durante a semana, h pacotes promocionais de R$ 440. Bernard Jeger, presidente da Associao Brasileira de Franchising, avalia que os bufs bem estruturados tero um amplo mercado para se expandir no s pelo pas, como no exterior, atravs de franquias. O conceito de buf infantil tipicamente brasileiro e pode ser exportado para outros pases, onde os pais costumam fazer festas em fast foods, afirma.
Festa para crianas vira um negcio srio Reduo do tamanho dos apartamentos e falta de tempo dos pais aumenta a demanda por bufs infantis Free-lance para a Folha Falta de espao e de tempo dos paulistanos promove a proliferao de bufs infantis, destinados a crianas entre 3 e 12 anos , da classe mdia alta. Os bufs do conta de tudo: da alimentao ao transporte. Para entrar no negcio, preciso investir US$ 23 mil e ter uma rea de pelo menos 200 m2. preferivelmente perto de escolas , em bairros privilegiados. Os pacotes incluem bolo, salgadinhos, doces, refrigerantes, servio de garons e monitores, convites, lembrancinhas , decorao e acesso a brinquedos. O segredo da concorrncia um atendimento impecvel e atraes diversificadas. Lucy Salles, scia de dois sales , organiza cerca de 30 festas por ms e cobra R$700,00 por festa para 50 convidados. A dona do buf Fik e Brink , em Santana, informa que seus maiores gastos so com mo-de-obra e alimentao. O seu salo de 400 m2 , no qual investiu R$30 mil, tem localizao privilegiada , prxima a cinco escolas particulares. Silvia Matta, dona do Sugar World , no Tatuap, aposta na disposio para trabalhar nos fins de semana e no bom relacionamento com o pblico.
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O democrata-cristo Helmut Kohl, de 64 anos, foi eleito no ms de novembro, pela quinta vez, chanceler federal do pas mais rico da Europa, a Alemanha. Se conseguir governar at 1998, ele ser o chanceler federal alemo (primeiro-ministro) com mais tempo no poder, 16 anos. Mais do que pelos sucessos de seu governo conservador na Alemanha, Helmut Kohl entrar para a histria como grande incentivador da Unio Europia e tambm por um acaso: a queda do Muro de Berlim, em 1989. Apesar de queda do Muro e a reunificao terem sido mais consequncia das manifestaes que em 1989 abalaram o Leste Europeu e da poltica de abertura promovida pelo ento presidente sovitico, Mikhail Gorbatchov, Kohl soube aproveitar o clima de euforia que tomou conta do pas. Conduziu rapidamente a unio monetria das duas Alemanhas e se reelegeu, em 1990, dizendo-se o chanceler da reunificao. Kohl tambm promoveu o ingresso da Alemanha reunificada na ento Comunidade Econmica Europia e na aliana militar Organizao do Tratado do Atlntico Norte (Otan). Ganhou, com isso, ainda mais a simpatia de seus colegas Franois Mitterrand e George Bush, ento presidente dos Estados Unidos. Em 3 de outubro de 1990, os aliados da Segunda Guerra Mundial (Frana, EUA, Reino Unido e Unio Sovitica), que at ento mantinham tropas no pas, assinaram a soberania da Alemanha. Foi o auge da carreira de Kohl. O chanceler tambm soube contornar as crises inevitveis da reunificao. Durante trs anos, enfrentou crticas e manifestaes devido ao aumento de impostos e do desemprego. Em 1990, chegou a ser recebido com ovos em visita a Halle, ex-Alemanha Oriental. O chanceler viu tambm a extrema direita crescer na Alemanha, assim como o aumento de ataques xenfobos contra estrangeiros em busca de asilo no pas. Kohl no se abalou. Na questo dos estrangeiros, fez um acordo com a oposio para restringir a concesso de asilo no pas, evitando perder votos para extremistas. Com o crescimento da economia e a tendncia a queda no desemprego, sua popularidade subiu e seu partido, a Unio Democrtica Crist (CDU), foi o mais votado nas eleies parlamentares do ms passado. Mas sua situao no Parlamento no tranquila. H um ms, Kohl foi eleito chanceler com apenas um voto a mais que o necessrio. Com uma oposio parlamentar to forte, no se sabe se conseguir governar at 1998. Os polticos alemes no negam, porm, que seu pas tambm se beneficia da Unio Europia. Nos prximos seis anos, calcula-se que cerca de US$ 18 bilhes sairo dos cofres da UE para projetos contra o desemprego na ex-Alemanha Oriental. A UE considera esta regio prioritria e vem soltando uma srie de pacotes de incentivo agricultura, cincia e tecnologia. A Alemanha tambm o pas que mais investe no Leste Europeu. Entre 1989 e 1993, pagou cerca de US$ 91 bi bilhes para reformas em pases do Leste e da ex-URSS. Com um PIB de US$ 1,8 trilho e um crescimento econmico de 2,8% no primeiro semestre deste ano, a Alemanha enfrenta enorme dficit pblico e os impostos sobem a nveis recordes. Antes das eleies de outubro, Kohl j havia declarado que, se eleito, este seria seu ltimo mandato. Comeam agora as especulaes sobre seu sucessor. Poltico habilidoso, Kohl no permitiu, nestes 12 anos de governo, que nenhum outro nome de seu partido, ou da coligao CDU-CSU, se destacasse tanto quanto ele. Alm do chanceler, o nome mais forte da CDU o ex-ministro do Interior e lder do partido no Parlamento, Wolfgang Schauble, vtima de um atentado que, em 1990, o deixou paraltico.
Eleito pela quinta vez como chanceler federal da Alemanha, Helmut Kohl , se governar at o final, bate o recorde no poder em seu pas. Entrar para histria como o grande incentivador da Unio Europia e da queda do muro de Berlim. verdade que a queda e a reunificao alem foram resultado de manifestaes que abalaram o Leste Europeu, mas ele soube aproveitar o clima de euforia. O ingresso da Alemanha reunificada na ento Comunidade Econmica Europia e na Otan granjeou-lhe maior simpatia de Mitterrand e de George Bush. E , na mesma linha, os aliados que mantinham tropas no pas assinaram a autonomia da Alemanha. Foi o apogeu de sua carreira. Kohl tambm foi hbil em amenizar as crises inevitveis da reunificao: crticas ao aumento de impostos, desemprego, formao de grupos extremistas da direita que se manifestavam contra a entrada de estrangeiros. Seu autocontrole e capacidade de negociao permitiram driblar as manifestaes . E o crescimento da economia , com a natural queda de desemprego, refletiu na sua popularidade e no sucesso eleitoral recente do seu partido, a Unio Democrtica Crist. Apesar de no ser tranqila sua situao no Parlamento, os polticos alemes no negam que a Unio Europia favorea seu pas. Cerca de US$ 18 bilhes sairo da UE para investimentos contra o desemprego na ex-Alemanha Oriental. Por sua vez, a Alemanha o pas que mais investe no Leste Europeu ( cerca de US$ 91 bilhes ) , entre 1989 e 1993 , para reformas na regio. At o momento atual, Kohl no incentivou nenhum nome para lhe fazer sombra , mas agora , quando ele j fala em pendurar chuteiras, as especulaes comeam.
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Uma chance para o Planalto virar a mesa Contradies do Plano FHC prejudicam trabalhadores e at as empresas; crescem riscos de novo desastre ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Faltam somente 24 a 48 horas para o lanamento do Plano FHC de combate inflao. Um prazo curtssimo. Mas que ainda pode ser aproveitado pelo presidente da Repblica para uma virada de mesa, cancelando definitivamente esses projetos tericos e convocando representantes dos empresrios, trabalhadores e consumidores para adoo imediata de um caminho alternativo contra a inflao. A sugesto no nenhuma sandice. Basta olhar ao redor, ler os jornais, ver a TV, para verificar que o Plano FHC uma aventura isolada de meia dzia de cabeas teimosas, incapazes de conseguir o apoio de empresrios, trabalhadores ou consumidores. No porque falte desprendimento em todas as camadas da sociedade brasileira, como o ministro FHC (e seus meninos de recado) gosta de dizer em seus xingamentos quase dirios. A razo simples, aritmeticamente comprovvel: o Plano FHC no existe, as medidas so contraditrias, traro ameaa de quebra para empresas e trabalhadores. A reao inevitvel a essas perspectivas abre caminho para um crculo vicioso bem conhecido pela sociedade, pois mera repetio de choques anteriores: as empresas no podem aceitar a camisa de fora dos preos, o governo fora um tabelamento ou congelamento (por mais que tenha negado essa inteno), surge o gio, a inflao explode e para combat-la o governo faz uma grande recesso, na esperana de que, sem conseguir vender, as empresas reduzam os preos. As vendas caem, o emprego recua, a arrecadao de impostos e da Previdncia desaba, o rombo ressurge e o pas patina no mesmo caos. A esta altura, cabe tentar explicar a afirmao de que o Plano FHC cheio de contradies, e por isso mesmo um salto no escuro. Para isso, parte-se de exemplo extremamente simples: Poupana O governo j disse que ela continuar fora da URV, isto , seus rendimentos no sero achatados. Ela continuar a pagar a correo calculada de acordo com a inflao velha, com rendimentos na faixa de 45% a 55% nos ltimos meses. Juros primeira vista, o tratamento previsto para a poupana correto. Mas ele exemplifica as contradies do plano, como qualquer criana pode entender. Ora, se os bancos so obrigados a pagar os 45% a 55% aos donos do dinheiro da poupana, eles obvivamente tero que cobrar tambm essa correo inteirinha, no-achatada, dos milhes de compradores da casa prpria, financiados dentro do SFH com dinheiro da poupana. Ou os bancos fazem isso, ou tm gigantescos prejuzos e correm o risco de quebra. No questo de ganncia. sobrevivncia. Emprstimos Ora, se os juros da poupana continuam acompanhando a inflao antiga, e no a URV, tambm aritmtico e bvio que todos os demais tipos de aplicaes no mercado financeiro tero que oferecer rendimentos iguais, no-achatados. Volta-se, a, ao reino das contradies. Se os bancos pagaro juros altos aos aplicadores, tero que cobrar juros altos, baseados na inflao velha ou na expectativa de inflao ou tero prejuzo, com risco de quebra. Preos As empresas, do outro lado do balco, pagaro juros com base na inflao velha, inteirinha. A surge, novamente, a contradio do plano: para grande nmero de empresas ser invivel pagar juros na faixa da inflao e adotar, espontanteamente, reajustes de preos achatados, baseados na mdia dos ltimos meses. Mais uma vez, no questo de ganncia. Mas de bom senso, para no operar com prejuzo. A esta altura, qualquer mortal j entendeu as contradies, o aventureirismo do Plano FHC. Haveria alguma possibilidade de adeso de empresrios, trabalhadores, consumidores, se todos recebessem o mesmo tratamento, isto , se a correo achatada, pela mdia, fosse adotada para todo mundo. A, ningum estaria perdendo nem ganhando. Mas o plano, como visto, provoca perdas e prejuzos a alguns e amplia os lucros e ganhos de outros. Tanto as empresas como os trabalhadores continuaro a pagar juros, emprstimos, impostos, aluguis todos corrigidos pela inflao inteira. E vo ter que aceitar preos e salrios achatados, corrigidos pela mdia? Essa possibilidade de adeso espontnea no existe. Fica aberto, ento, o caminho para o governo impor o controle de preos e de salrios. O trabalhador no ter como fugir ao achatamento. Mas as empresas, como ficou claro nos choques anteriores, desafiaro o governo. A, j se sabe... A sociedade no precisa aceitar que o pas seja empurrado para esse caminho novamente. O Palcio do Planalto pode ter um gesto de grandeza, sustar o plano e procurar uma grande aliana com empresrios e trabalhadores para uma frmula alternativa de combate inflao. Sonho? No. Todos os economistas, at da equipe FHC, so unnimes em apontar que existe hoje uma brutal diferena na situao da economia brasileira, comparada com a poca Collor ou Sarney. No presente, uma srie de fatores facilitaria a queda da inflao se fossem corretamente utilizados. O grande pecado da equipe FHC exatamente esse: ao longo de meses colocou como nico objetivo a criao da nova moeda. Desprezou incrivelmente as condies favorveis, no-existentes no passado, para reduzir as taxas inflacionrias. Pior ainda: tomou decises erradas, criando mais inflao e desperdcios/sacrifcios inaceitveis para a sociedade: Dlares Em governos anteriores, o Brasil enfrentava a falta de dlares. Frequentemente, era forado a adotar juros altos para atrair aplicaes de investidores estrangeiros ou para segurar a produo industrial e, consequentemente, as importaes. Essa elevao de juros provocava inflao. J h dois anos a situao havia mudado radicalmente. O Brasil passou a receber uma enxurrada de dlares, por uma srie de circunstncias. Poderia ter reduzido os juros e provocar queda de inflao. Essa crtica tem sido feita h meses por famosos economistas, progressistas (como Maria da Conceio Tavares) ou conservadores (como Delfim Netto). Teimosamente, a autoritria equipe FHC no a ouviu. Criou inflao e outros problemas to terrveis quanto. Dvida interna desinformado ou mal-intencionado, o ministro FHC tem repetido que os juros so altos porque a dvida interna do Tesouro precisa ser reduzida, e para isso o caminho o clebre ajuste fiscal. A verdade: com a equipe FHC, a dvida interna voltou a crescer, ou pior, deu um salto, por causa dos juros altos. Como assim? uma ciranda arrasadora: os juros altos atraem dlares desnecessrios (caminha-se para 40 bilhes de dlares em reservas...). Na etapa seguinte, o Banco Central emite cruzeiros para comprar esses dlares. A seguir, como as teorias dizem que muito dinheiro na economia (liquidez) provoca inflao, o BC vende ttulos do Tesouro para tirar os cruzeiros de circulao. Eis a uma das grandes mentiras da equipe FHC: que a dvida cresce por causa do rombo. Ela cresce pela torrente de dlares especulativos, mantida pela equipe. Brincadeira I A equipe passou meses discutindo cortes no Oramento e aumento de impostos, e fazendo ataques autoritrios ao Congresso, alegando ser preciso reduzir o rombo para reduzir a dvida. Na semana passada havia uma notcia, escondidinha-escondidinha, nos jornais: por causa da farra dos dlares, a dvida interna subiu de US$ 41,5 bilhes para US$ 45,5 bilhes. Brincadeira II Outra notcia escondidinha-escondidinha mostrava que os gastos do Tesouro com juros tambm subiram exatamente por causa da elevao das taxas adotadas pela equipe FHC, e por causa do crescimento da dvida... No primeiro semestre de 1993, o gasto com juros equivaleu a 1,5% do PIB. No segundo semestre, pulou para 2,5% do PIB. Isto , o pagamento de juros pulou da faixa dos US$ 6 bilhes para US$ 10 bilhes anuais. Um rombo extra de US$ 4 bilhes de dlares anuais. Ateno: neste comeo de 94, o rombo est sendo gravemente maior, pois os juros subiram mais ainda e a dvida continua a crescer. Em resumo: o plano um salto no escuro. A equipe insiste em erros. Mudanas nos juros e na atrao de dlares comeariam a derrubar a inflao e abrir caminho para a cooperao de empresrios e trabalhadores. A sim, tudo negociado. Sem choques. A chance da virada agora. ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de Redao da revista Viso e editor de Economia da Folha.
Uma chance para o Planalto virar a mesa Contradies do Plano FHC prejudicam trabalhadores e at as empresas; crescem riscos de novo desastre. ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha Em poucas horas , ser lanado o Plano FHC de combate inflao. Mas ainda d para o presidente da Repblica, numa virada de mesa, cancelar esses projetos tericos, convocar representantes dos empresrios, trabalhadores e consumidores , a fim de , juntos, estudarem um caminho alternativo de combate inflao. A sugesto no uma tolice. A leitura das notcias mostra que o Plano fruto de cabeas teimosas que no conseguiram sintonizar-se com representantes interessados da sociedade. As suas contradies pairam como espada de Dmocles. A reao esperada abre caminho para um ciclo vicioso , j experimentado em outros planos : de um lado ,revolta das empresas s contenes dos preos; de outro, tabelamento por parte do governo; cobrana de gio e exploso da inflao. Cabe uma explicao para as afirmaes sobre por que o plano contraditrio. Se a poupana remunerada de acordo com a inflao velha , os bancos , obviamente, vo cobrar a correo inteirinha dos compradores da casa prpria , financiados pelo dinheiro da poupana. E na mesma linha , todos os demais tipos de aplicaes financeiras devero ser igualmente remunerados. Para isso, os bancos tero que cobrar juros altos para no irem falncia. Tambm as empresas, que pagam juros na mesma base, no podero ficar com seus preos achatados. Restar ao governo impor controle de preos e salrios. As empresas , como em choques anteriores, reagiro. H caminho alternativo , que no esse. Todos os economistas, inclusive da equipe FHC, apontam unanimemente a diferena entre a situao nos governos de Collor e Sarney e a atual. Na situao presente, h condies favorveis que foram desprezadas pela equipe econmica. Se nos dois governos anteriores havia falta de dlares que exigia elevao de juros para atra-los , no atual h abundncia deles. Poderiam ser reduzidos os juros , com conseqente queda da inflao. O ministro Fernando Henrique tem repetido que os juros esto altos porque a dvida do Tesouro precisa ser reduzida. Na verdade, foi a alta dos juros que elevou a dvida interna. O motivo disso que os juros altos atraem dlares mais do que o necessrio , o que desanda a ciranda financeira. Duas notcias bem escondidas nos jornais provam isso. Uma delas dizia que a farra dos dlares fez a dvida interna subir de US$41,5 bilhes para US$45,5 bilhes. A outra informa que o salto de US$ 6 bilhes para US$10 bilhes anuais se deveu ao aumento das taxas de juros adotadas pelo governo nos gastos do Tesouro com juros.
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O reggae domina a primeira etapa do M2.000 Summer Concerts. Inner Circle, Shabba Ranks, Chakka Demus & Pliers e o fluminense Cidade Negra prometem levar ebulio as areias das praias do Gonzaga e da Barra. Isso sem contar com a presena de Chico Science e o mangue beat de sua Nao Zumbi. O reggae uma msica essencialmente mutante. O estilo criado pelos Wailing Wailers de Bob Marley e Peter Tosh viveu seu auge quase ao mesmo tempo em que explodia o movimento punk nas ruas de Londres, circa 77. Coincidncia ou no, graas a um ingls -Eric Clapton- o estilo tornou-se conhecido mundialmente. Muito do esprito fraternal e engajado do reggae se perdeu com a morte de Marley e Tosh, seus dois maiores nomes. Veio a gerao de Yellowman -atualmente em franca decadncia-, que, na prtica, propunha exatamente o oposto do que seus antecessores pregavam. As mensagens rastafri de amor universal e paz foram aposentadas. Na virada dos 90 surgiu uma nova verso do estilo, batizada de dancehall. No fundo, a receita simples: elimine os grooves -bases sonoras encorpadas baseadas no casamento de baixo e bateria-, adicione fortes doses de hip hop e eletrnica e passe a falar sobre violncia -o guntalk-, sexo fcil e baladas homricas. O sucesso instantneo da reciclagem do reggae provocou uma busca desenfreada das grandes gravadoras por novos nomes. Em apenas dois anos, 15 jamaicanos assinaram contratos internacionais polpudos. O primeiro nome do estilo a ganhar fama fora da ilha foi Shabba Ranks. Em 91, ele assinou com a Epic, por onde lanou dois lbuns e duas coletneas de remixes. Shabba chega ao Brasil com a autoridade de quem emplacou o megahit Mr. Loverman em praticamente todas as rdios do pas em 93. A maliciosa cano deve grande parte de seu impacto ao produtor Clifton Specialist Dillon. Shabba forjou o visual do homem do dancehall: roupas estilosas e cabelos curtos, alm de muitos anis e pulseiras. Chakka Demus & Pliers seguiram o rastro aberto por Ranks, injetando mais elementos de rap e hip hop receita. A dupla composta por um DJ e um MC, e gravou em 93 o lbum Tease Me, cheio de aluses sexistas. Desembarcam no Brasil sem um hit sequer. O contraponto da noite ser feito pelos rastas do Inner Circle e seu reggae de raiz e pelos fluminenses do Cidade Negra, que fazem um som ainda prximo do estilo original. O Inner Circle foi criado pelos irmos Ian e Roger Lewis (baixista e guitarrista), h 17 anos. Seu maior sucesso aconteceu em 76, com a cano Everything Is Great. Desde ento, considerado um dos principais nomes do reggae e esteve em evidncia at a morte do vocalista Jacob Miller, em 80. Ficaram em jejum at 86, quando Calton Coffey assumiu os vocais. A banda reencontrou o sucesso em 89, com o disco Identified e a entrada do baterista Lance Hall. Com o ltimo disco, Bad To The Bone, veio a pegajosa Sweat (A La La La La Long). Resultado: mais de dois milhes de cpias vendidas. O disco ainda traz Bad Boys, tema do seriado americano Cops e sucesso por l. Prepare-se para comear a balanar seus dreadlocks.
O evento musical M2.000 Summer Concerts destaca-se na sua primeira etapa pela presena de representantes do reggae , estrangeiros e nacionais. Esse estilo musical essencialmente mutante. O esprito fraternal e engajado da produo de seus criadores - Bob Marley e Peter Tosh morreu com eles. A gerao de Yellowman , que os seguiu, ao contrrio , pregava a violncia. Na virada dos anos 90, surgiu uma nova tendncia ---dancehall--- com modificaes na parte de som e de coreografia, que fala sobre violncia, sexo fcil e baladas homricas. O sucesso dos representantes da nova tendncia foi grande , concretizado em contratos internacionais milionrios. Estaro presentes no evento , no Rio de Janeiro , Shabba Ranks; Chakka Demus & Pliers; Inner Circle, alm dos nacionais, Cidade Negra e Chico Science.
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parte qualquer lgica eleitoral que possa ter, o acordo entre PFL e PSDB, desde que comeou a ser cogitado, acenava com toda sorte de dilemas e dificuldades em funo da grande disparidade entre as duas legendas em termos de ideologia, histria partidria e prtica poltica. To dspares que boa parte dos membros de uma apoiou a ditadura contra a qual lutou a maioria dos membros da outra. Pois alm das ameaas de rebelio que se disseminaram de imediato em diversos setores do PSDB, a estranha aliana j provocou um novo e embaraoso problema a partir do favoritismo que vinha sendo dado ao nome do deputado Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA) entre os cotados para compor, como candidato a vice, a chapa presidencial de Fernando Henrique Cardoso. Lus Eduardo de fato j tinha a caracterstica peculiar de, como filho de Antnio Carlos Magalhes, representar quase que um emblema do PFL trazendo, ao lado de um vigoroso apoio do governador da Bahia, a lembrana presente daquilo que esse partido significa em termos de prtica, de histria e de posies polticas no pas. No s isso. Como foi lembrado nos ltimos dias, Lus Eduardo votou contra o impeachment de Fernando Collor. Ora, o PSDB sempre se pretendeu um partido preocupado com a tica supostamente, sua criao como dissidncia do PMDB deveu-se em boa parte a essa questo. Assim, se o pacto com uma legenda vinculada s tradies mais deplorveis da vida pblica brasileira j difcil de justificar, a aceitao de um candidato a vice que defendeu Collor parece quase impossvel. Expresso de forma inequvoca num dos maiores movimentos cvicos que este pas j viu e que contou com a adeso integral do PSDB, o apoio da populao ao afastamento do chefe da Dinda e sua camarilha foi esmagador. Nessas circunstncias, o voto de Lus Eduardo contra o impeachment revela um desdm para com a opinio do eleitorado que atenta contra as responsabilidades e deveres da representao popular. A cotao do filho de ACM como postulante a vice decaiu sensivelmente nos ltimos dias, mas mesmo que seu nome seja definitivamente afastado o problema continua longe de resolvido. O fato que o PSDB chegou a considerar seriamente o nome do pefelista baiano para integrar sua chapa, sabendo perfeitamente como ele havia votado na deciso do impeachment. Assim, o seu possvel recuo agora pareceria dever-se muito mais ao temor do efeito eleitoral de uma divulgao do voto pr-Collor de Lus Eduardo do que a qualquer considerao de ordem tica quanto a esse mesmo voto atitude eleitoreira do tipo que o PSDB costumava condenar. Outra dificuldade que resta refere-se escolha de um novo nome do PFL para vice na chapa de FHC. Com o filho de ACM perdendo a dianteira, ressurge a difcil tarefa de encontrar um nome que ao mesmo tempo satisfaa a cpula pefelista, traga votos no Nordeste (ao fim e ao cabo, o maior atrativo do PFL) e no cause uma rebelio ainda maior entre os tucanos. So problemas, de todo modo, que no devem surpreender ningum muito menos o PSDB e que devero continuar a aflorar nos prximos meses. Afinal, no se pode aliar antigos inimigos e antpodas polticos impunemente.
A aliana entre o PFL e o PSDB , com vistas prxima eleio presidencial, contm um germe de incompatibilidade. A histria dos dois partidos , as ideologias que os fundamentam , a sua prtica poltica no facilitam uma boa convivncia. Tanto que vrios membros do PSDB no digerem bem a proposio do nome de Luiz Eduardo Magalhes (PFL-BA) para vice de Fernando Henrique. Os peessedebistas votaram pelo impeachment de Collor; Luiz Eduardo foi contra. Se o apoio da populao brasileira pela cassao foi macio , fica difcil acertar com tal vice. Apesar disso, o PSDB alimentou essa aliana . A reao, porm, foi esfriando as conversaes. E o temor de um reflexo eleitoral negativo , certamente, levou o partido a desistir da indicao. A dificuldade no terminou para o PSDB , pois ter que pensar num outro vice do prprio PFL e , logicamente, do gosto do partido.
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Menos impostos e menos negcios da China Bairros construdos em terras da Unio; jogo de ganhar juros com a sonegao; o Congresso mudar isso? ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha O luxuoso bairro paulistano de Alphaville foi construdo h alguns anos em terras pertencentes Unio. Nem mesmo a espcie de aluguel previsto para esses casos foi paga, ao longo dos anos, pelos felizes e prsperos donos de casas erguidas na regio. Alphaville no uma raridade. H milhes de casos iguais. Milhes? . Milhes. A Unio dona de nada menos de 2,5 milhes de imveis, cadastrados, de todos os tipos e tamanhos. Fazendas resultantes de terras devolutas e ocupadas por construtoras; faixas de terras de custo milionrio invadidas por milionrios ao longo das praias ou em ilhas; terrenos, prdios e casas recebidas na Justia como pagamento de dvidas... So 2,5 milhes de imveis, que deveriam render trilhes e trilhes de cruzeiros, se vendidos ou quando invadidos ou gentilmente cedidos pagassem a taxa de ocupao prevista em lei. No pagam. Por qu? H uma resposta fcil, neste Brasil dominado pelo festival de mentiras detinado a impedir que os negcios da China acabem. A resposta imediata e aparentemente correta esta: o Estado, o governo, no sabe administrar nem o seu patrimnio. Mas, se esse chavo for deixado de lado, a concluso outra. H grandes grupos, gente poderosa, se apoderando daqueles trilhes de cruzeiros que na verdade pertencem Unio. Isto , pertencem sociedade brasileira. Poderiam ser usados para reduzir os problemas sociais e reduzir a carga de impostos da classe mdia e do povo brasileiro. Em resumo: dizer que o Estado no administra bem um golpe para enganar a sociedade. Quem no administra, quem protege os poderosos interesses, so os ministros e governantes coniventes com esses assaltos contra o patrimnio coletivo. O escndalo maior do que se pensa. J antes da posse, uma das principais fontes de renda previstas pelo governo Collor era exatamente a reforma patrimonial, isto , a administrao correta desses milhes de imveis. O problema era conhecido. Identificado. Por que nada foi feito? E por que nada est sendo feito mesmo pela equipe de FHC? O ministro da Fazenda diz a todo momento que aceita renunciar aos aumentos de impostos e cortes propostos em seu plano se houver sugestes para arrecadar os recursos necessrios. Seguem-se, ento, um modesto lembrete para a questo dos imveis e mais outros cinco ou seis lembretes viveis: Ateno: preciso evitar que ministros e assessores, atuais ou futuros, repitam o comportamento criminoso de antecessores, isto , engavetem as mudanas ou faam corpo mole para implant-las. A advertncia, como se ver a seguir, justificada pela experincia. Assim, todas as medidas deveriam ser aprovadas pelo Congresso, fixando-se tambm um cronograma de prazos para execuo das diversas etapas. Eis os lembretes: Imveis a Unio tem obviamente uma diviso de patrimnio, incumbida de administr-lo. No pode agir. massacrada com a falta de verbas, pelos ministros da Fazenda. Por qu? Mistrio? No ano passado, 1993, recebeu uma ninharia miserenta. O funcionrio responsvel fez o que podia: segundo a Gazeta Mercantil, comprou um (unidade) microcomputador, desses que custam menos de US$ 1.000. Pois . So 2,5 milhes de imveis capazes de render trilhes. Mas os ministros ... A diviso precisa de verbas, gente, equipamentos. J. Amanh. Brincadeira no ltimo dia do ano, a equipe FHC enviou a reviso do Oramento ao Congresso, acompanhada de propostas de aumento de impostos etc. A sorte das equipes ministeriais (presente, passadas e futuras) que ningum mais l ntegras de projetos no Brasil. D pra fazer toda manipulao que se quiser, n? As receitas esto completamente manipuladas para baixo, claro. Mas o engraado, mesmo, que a mensagem do ministro destaca os dois avanos mais importantes para o aumento da arrecadao em 1993. So eles, segundo o texto, o recadastramento dos contribuintes e a obrigatoriedade de os bancos fornecerem as listas de clientes. Importante, no? S que o ministro e seus assessores se esqueceram de que o recadastramento dos contribuintes mal comeou, durou um ms e foi suspenso. Por qu? Porque os computadores que prestam servio ao leo, pertencentes ao Serpro, pifaram. O Serpro est sucateado graas ao corte de verbas de ministros (ex e atuais), que falam alegremente na necessidade de enxugar a mquina do governo. No h recadastramento sem reequipar o Serpro. E tampouco haver condies de utilizar as listas dos bancos, cata de sonegadores. Lembrete trs, portanto: reequipar o Serpro. Sem brincadeiras, n? Amnsia o ministro e seus assessores se esqueceram de mais uma coisinha. O Programa de Ao Imediata que a equipe FHC divulgou em meados do ano demonstrava competncia, em um ponto. Como assim? No Brasil, diante dos juros estratosfricos (defendidos pelos ministros da Fazenda e assessores/banqueiros), sabe-se que vantagem as empresas deixarem de pagar os impostos e aplicarem no mercado financeiro. Mais tarde, quando a Justia ordena o recolhimento, o sonegador j ganhou mais em juros do que vai pagar ao Tesouro. Ao tomar posse, a equipe sabia disso. Tanto, que propunha a criao de uma espcie de multa extra destinada exatamente a anular, compensar, o lucro ganho pelas empresas sonegadoras com os juros. No que o ministro e assessores se esqueceram disso? No s a proposta morreu h meses em uma gaveta qualquer. Ainda por cima, o ministro reduziu multas, extinguiu as prestaes iniciais de 15% a 20% e aumentou os prazos de parcelamento dos impostos sonegados. Aumentou os ganhos dos sonegadores s custas do Tesouro. Como se sabe, amnsia doena contagiosa que ataca os progressistas que chegam ao poder. Estadual e federal. Filosofagem construir sofismas virou um dos passa-tempos prediletos dos ministros da Fazenda no Brasil. O parcelamento da Cofins em 80 meses, criticado nesta coluna, recebeu uma justificativa ministerial. Como as empresas no haviam recolhido o imposto ao longo de 19 meses e a alquota de 2% do faturamento, se toda a dvida fosse cobrada de uma vez, ela representaria 38% do faturamento. Isso quebraria as empresas, dizem os competentes assessores. mesmo? Joguinho duro esse de fugir responsabilidade com sofismas. Ningum defendeu que as empresas pagassem tudo de uma vez. H muitos meses, defende-se nesta coluna um conceito esquecido pelos ministros e seus assessores consultores dos sonegadores (prove-se que no o so ...). O conceito da capacidade contributiva. O importante receber. Ningum quer quebrar empresas. O parcelamento defendeu-se sempre, aqui deveria obedecer o mesmo critrio da rolagem da dvida dos Estados e municpios. As prestaes deveriam representar um percentual, de 3% por exemplo, do faturamento das empresas. Com a recuperao da economia (que j houve) e crescimento do faturamento (idem) as prestaes tambm aumentaro e o Tesouro receber seu dinheiro mais depressa. Sem sacrificar as empresas. Esse critrio tem que ser adotado para todas as dvidas: Previdncia, FGTS, emprstimos bancrios na CEF, BB, BNDES etc. Sonegao a produo industrial cresceu 12% em 1993, a arrecadao do IPI apenas 2% a 3%. Na indstria automobilstica, crescimento recorde de 45% e aumento de 4% na arrecadao do IPI. No cheira sonegao desenfreada, de trilhes de cruzeiros? Ser que a melhor opo para arrecadar mesmo correr atrs da nota fiscal de pequenos comerciantes? Interessante, n? Contrataes a Advocacia da Unio est com seis advogados. Meia dzia. Fala-se em contratar advogados particulares para defender os interesses do governo em aes na Justia. A experincia j foi feita. Um doce para quem adivinhar o que aconteceu. Suborno? Corrupo? Pessoal Receita, INSS, Ministrio do Trabalho tambm precisam contratar fiscais para combater a sonegao. Ponto. tudo simples. D pra fazer perfeitamente, entre um sorriso e outro. Ou entre um sorriso e uma recusa de entrevista a um jornalista. Desagradvel. ALOYSIO BIONDI, 56, jornalista, foi diretor de Redao da revista Viso e editor de Economia da Folha.
Menos impostos e menos negcios da China Bairros construdos em terras da Unio; jogo de ganhar juros com a sonegao; o Congresso mudar isso? ALOYSIO BIONDI Especial para a Folha O luxuoso bairro paulistano Alphaville foi construdo h anos em terras da Unio. Nem o equivalente a aluguel foi pago por nenhum dos ricos moradores. H milhes de (2,5) de imveis cadastrados fazendas, prdios, casas , etc.--, que deveriam render trilhes de cruzeiros . A explicao que o Estado no administra bem o seu patrimnio e ricos senhores sonegam pagamentos que poderiam reverter em benefcios para a populao menos privilegiada , inclusive em reduo de impostos. Antes de tomar posse, Collor j tinha previsto como tima forma de arrecadao a reforma patrimonial , ou seja, os impostos advindos desses bens. O assunto sumiu e continua desaparecido na gesto de FHC como ministro da Fazenda. Como o ministro est sempre dizendo que renuncia a aumento de impostos se houver sugestes de formas eficientes de arrecadao, l vo algumas : preciso evitar que ministros e assessores repitam o comportamento criminoso de antecessores , engavetando as mudanas ou fazendo corpo mole na implantao de medidas. A Unio tem um setor encarregado de administrar o seu patrimnio. No age por falta de verba. Em 1993, recebeu uma ninharia . O responsvel fez o que pde: comprou um computador um nada diante da fortuna que poderia receber com uma eficiente gesto. No ltimo dia do ano , a equipe FHC enviou a reviso do Oramento ao Congresso, com propostas de aumento de impostos , etc. As receitas esto manipuladas para baixo. Na proposta aparecem os ditos avanos para a arrecadao de 1993: recadastramento dos contribuintes e obrigatoriedade de os bancos fornecerem a lista dos clientes. O procedimento ficou no incio, pois os computadores da Serpro que fazem o servio do leo pifaram . Lembrete : reequipar o Serpro. s vezes , ocorrem casos de amnsia. O Programa de Ao Imediata da equipe , sabendo que muitas empresas preferem atrasar os impostos e aplicar o dinheiro no mercado financeiro, com muita vantagem, props uma multa para compensar o prejuzo do governo. Resultado? Engavetaram. Esta coluna criticou o parcelamento da Cofins em 80 meses e recebeu uma justificativa : como as empresas no recolheram o imposto ao longo de 19 meses, se a dvida fosse cobrada de uma vez , iriam falncia. Acontece que esta coluna no nega a possibilidade de parcelamento nem quer falncia de ningum.O importante receber. Mas lembra que existe o conceito capacidade contributiva , e o parcelamento deveria seguir o mesmo critrio de rolagem de dvidas dos Estados e municpios. Ainda convm comparar estes dados: a produo industrial cresceu 12% em 93, a arrecadao do IPI , apenas 2%; a indstria automobilstica cresceu em 45% , e o IPI correspondente, s 4%
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Ainda que comece em 1922, com a Semana de Arte Moderna de So Paulo, o segundo mdulo da Bienal Brasil Sculo 20 tem origem em 1917, ano em que Anita Malfatti (1896-1964) faz sua primeira exposio individual em So Paulo. A exposio provoca grande rebulio. O escritor Monteiro Lobato faz uma crtica exposio, chamada Parania ou Mistificao?, em que condena a adeso de Malfatti ao cubismo, futurismo e outros ismos que ento surgiam na Europa. Com influncia inicial do expressionismo alemo, Malfatti vai contra a tendncia neoclssica da arte brasileira do incio do sculo. Para o curador da Fundao Bienal, Nelson Aguilar, Lobato ficou chocado com a economia de traos e a franqueza de cores de sua pintura. Malfatti tambm volta sua tcnica moderna ao mundo rural brasileiro, usando motivos primitivistas em seu trabalho. A atitude indita. Mas, segundo a curadora do mdulo, Annateresa Fabris, a modernidade que So Paulo comearia a adotar no a prescrita por Malfatti. Fabris d o exemplo de Victor Brecheret (1894-1955), cuja aceitao pelo meio intelectual foi muito maior. Para Annateresa, Brecheret lanava mo de referncias do passado, em dilogo com a tradio da escultura, e isso lhe rendeu sucesso entre os crticos paulistas. A modernidade que lhes interessava seria, ento, mais de contedo que de forma, mais de ordem que de mpeto destrutivo -o contrrio do que pregava a maioria das vanguardas internacionais. A esttica de Brecheret no chocava o senso comum da poca, diz Annateresa. Outro exemplo desse comportamento o temor que o escritor Mrio de Andrade manifestou pintora Tarsila do Amaral (1890- 1973). Ele temia que a temporada que Tarsila passaria em Paris fosse 'despersonalizar' sua linguagem artstica. Ali se comea a formar um discurso nacional, diz Annateresa. O que crticos como Srgio Milliet e Mrio admiravam em Tarsila era sua brasilidade. Para Annateresa, esse discurso impediu a avaliao de caractersticas importantes nas obras de Anita, Tarsila, Di Cavalcanti (1897-1976), Vicente do Rgo Monteiro (1899-1970), Lasar Segall (1891-1957) e Oswaldo Goeldi (1895-1961). Ao mesmo tempo, consagrou pintores apenas por mrito temtico. O maior exemplo, segundo Fabris, Cndido Portinari (1903-1962). Mrio de Andrade o converte em prottipo do artista nacional. J a dcada de 30. Desse perodo em diante, julga Aguilar, a arte moderna brasileira entra num figurativismo cada vez mais dogmtico. Segall, por exemplo, depois da ousadia de Paisagem Brasileira (1925), volta s cores sombrias e formas conservadoras de seu expressionismo. A consequncia disso exemplificada pela trajetria da pintora portuguesa Vieira da Silva (1908-1991) na dcada de 40. Radicada em Paris desde os anos 20, ela vem para o Brasil em 1940 e, para ter repercusso aqui, praticamente abandona seu abstracionismo (leia definio abaixo). O outro curador deste segundo mdulo, Tadeu Chiarelli, se dedicou a pensar nos artistas marginalizados por aquele discurso nacional -e no s por ele. Tambm houve os que foram postos margem por no ser de vanguarda, diz Chiarelli. Ele encaixa nessa categoria, entre outros, Anita Malfatti, porque voltou ordem, a repensar a tradio; Flvio de Carvalho (1899-1973) e Ismael Nery (1900- 1934), cujas obras so ousadas e conturbadas; e Maria Martins (1900-1978), por sua investigao do irracionalismo. Vamos mostrar uma viso no-institucionalizada do modernismo, diz. preciso rever as obras dos artistas independentemente dos grupos a que pertenceram.
Anita Malfatti , com sua exposio individual de pintura em 1917, d os primeiros sinais da Semana de Arte Moderna de 1922. A polmica em torno do acontecimento ficou marcada na crtica de Monteiro Lobato no artigo Parania ou Mistificao, em que ele condena as influncias do cubismo e futurismo , tendncias em voga na Europa. Sob influncia inicial do expressionismo alemo, Malfatti se ope tendncia neoclssica da arte brasileira do incio do sculo XX. Procura inspirao , tambm, no primitivismo do mundo rural brasileiro. Segundo Annateresa Fabris, curadora do segundo mdulo da Bienal Brasil Sculo 20, a modernidade adotada por So Paulo no foi a de Anita, mas a de Victor Brecheret, que interligava referncias do passado com a tradio da escultura. O senso comum dos paulistanos no se chocava com a esttica de Brecheret, menos destrutiva e mais voltada para temas nacionais. A crtica se mostra empenhada em valorizar a elaborao de um discurso nacional, que priorizasse a brasilidade temtica mais do que tudo. Mrio de Andrade, por exemplo, considera Cndido Portinari o modelo do artista nacional, por esse motivo. Tal prisma impediu a avaliao de caractersticas importantes nas obras de outros artistas da poca. A partir de 1930, segundo Aguilar, curador da Fundao Bienal, a nossa arte entra num figurativismo cada vez mais dogmtico. A moda acaba levando alguns artistas a abandonarem outros vos e a se enquadrarem. Outro curador do segundo mdulo, Tadeu Chiarelli , se preocupou em mostrar os efeitos redutores desse enquadramento para a avaliao da obra de certos artistas.
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Mudam os governos, permanecem os escndalos. Para o governo de Ronald Reagan, o que permaneceu foi o caso Ir-contras, trazido tona mais uma vez com Special Trust (Cadell & Daries, 389 pgs., US$ 25). O livro de autoria de Robert McFarlane com a jornalista Zofia Smardz. McFarlane foi Conselheiro de Segurana Nacional de Reagan entre 1983 e 1985. As decises relativas venda de armas para o Ir e ao envio de capital para os contras da Nicargua passaram por McFarlane, da o tom confessional do livro. O autor faz mea-culpa ao mesmo tempo em que aponta todos os outros personagens do escndalo, que conseguiram se desvencilhar de provas cabais da sua participao no caso, como o seu assessor direto Oliver North e o prprio presidente Ronald Reagan. De sua participao nas altas rodas do poder, McFarlane pode se gabar de ter sido responsvel pela reaproximao dos EUA com a URSS de Mikhail Gorbatchov. No mais, o livro um apanhado de memrias que no provocam exatamente orgulho do cidado McFarlane. No prefcio, ele conta com detalhes sua inteno de se suicidar (em 1987), devido s presses decorrentes do escndalo. O dado mais interessante de Special Trust talvez seja o fato de o livro trazer mais um relato dos bastidores do poder na gesto Reagan -claro que no isento. McFarlane reclama de que Reagan era um presidente emotivo para lidar com questes do Estado e deixa claro que todas as decises que tomou para levar adiante o caso Ir-contras (sem aprovao do Congresso) contou com apoio e aprovao de Reagan. O livro todo assim, explica, mas no justifica. Ele no convence de sua inseno ou boas intenes no caso, ainda que se possa relevar que no estivesse sozinho. Ele indica quem deveria ser punido no escndalo: o diretor da CIA, William J. Casey, e Oliver North, alm de apontar uma srie de assessores e conselheiros que tinham conhecimento de tudo. A grande falha de McFarlane que ele no convence de que no deve ser includo nesta lista. McFarlane deixa claro, no entanto, que apesar da aprovao de todos os conselheiros de Reagan, fora de sua presena, apenas duas pessoas se opuseram venda de armas ao Ir e o desvio do capital aos contras: o secretrio de Estado George Shultz e o secretrio de Defesa Caspar Weinberger. Mas segundo McFarlane, nem eles, nem o ento vice-presidente George Bush, que tambm tinha conhecimento do caso, apresentaram objees sobre as medidas do presidente Reagan. A capa de Special Trust traz uma foto de McFarlane escolhida a dedo: com o fantasma Reagan atrs, como que indicando que ele fora apenas um testa-de-ferro. McFarlane diz que ainda defende o que foi a administrao Reagan, mas descreve com tantos detalhes os atos ilegais cometidos no perodo que a publicao de Special Trust talvez tenha sido o seu maior erro poltico.
O conselheiro de Segurana Nacional do governo Reagan (1983---1985) , McFarlane , juntamente com a jornalista Zofia Smardz , publicou um livro sobre o escndalo Ir-contras (venda de armas ao Ir e envio de capital para os contras da Nicargua. McFarlane faz o mea-culpa e nomeia os demais envolvidos ---alguns conseguiram desvencilhar-se das provas de co-responsabilidade, inclusive o presidente Reagan. O livro no enaltece a figura de McFarlane. Apesar da tentativa, ele no consegue convencer de que no tinha culpa . Os detalhes sobre os bastidores do poder durante o governo Reagan talvez sejam o aspecto interessante do livro. Entre os conselheiros de Reagan que aprovaram as decises , apenas o secretrio de Estado George Shultz e o secretrio de Defesa Caspar Weinberger se opuseram ao envio de armas, mas no apresentaram objees .
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BRASLIA - Crticas ao decreto que permite a reviso de reas indgenas que ainda no foram registradas vo marcar, hoje, o Dia do ndio. O Conselho Indigenista Missionrio (Cimi) anunciou ontem que vai realizar um trabalho paralelo para fiscalizar a anlise das 56 reas indgenas que esto sendo contestadas com base no decreto, assinado em janeiro pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. A Funai tem ainda 50 dias para justificar os limites das reas questionadas por seus antigos ocupantes. Depois caber ao ministro da Justia, Nlson Jobim, dar a palavra final sobre as contestaes. De acordo com a Funai, das 56 reas contestadas, 31 no atendem s exigncias do decreto. So reas registradas, como o caso da reserva dos ianommi, em Roraima e Amazonas; de reas que ainda no haviam sido criadas, e ainda de contestaes que chegaram Funai depois do prazo fixado pelo Ministrio da Justia. H tambm situaes polmicas, como a rea interditada para os av-canoeiros, que so ndios ainda isolados. O grupo vive em Tocantins, na regio que, em parte, ser alagada pela hidreltrica de Serra da Mesa. ONGs - A contestao da rea dos avcanoeiros foi criticada por integrantes de organizaes no governamentais (ONGs) que participaram de audincia pblica na Comisso do Meio Ambiente e Minorias da Cmara. As contestaes partiram de pessoas fsicas e jurdicas, prefeituras e governos estaduais. O governo do Rio de Janeiro entrou com uma ao contra a criao da rea de Parati-Mirim. A rea do Ba, no Par, onde vive um sub-grupo de ndios caiaps, reinvidicada pela Prefeitura de Novo Progresso. Os governos do Par e de Mato Grosso entraram com contestaes contra a demarcao da rea dos ndios panar. Tambm so contestadas pelo governo do Par as reservas de apitereua, arauet do igarap Ipixuna, Cachoeira Seca, Praia do ndio, Praia do Mangue, Rio Curu, Rio Paru de Este, Trincheira Bacaj e Parque Indgena do Tumucumaque. O governo de Rondnia contesta uma rea interditada pela Funai no Rio Mequens, onde no ano passado foram localizados ndios isolados, e o governo de Roraima discorda da demarcao contnua da rea de Raposa/Serra do Sol, onde vivem ndios macuxis e uapixanas. As contestaes envolvem a anulao da homologao, anulao de portaria declaratria, reviso de limites e indenizao de terra. Decreto - O ministro Nlson Jobim, desde o incio do governo, defendeu como prioridade rever o decreto do ex-presidente Fernando Collor, que dava amplos poderes Funai para criar e demarcar reas indgenas. Segundo Jobim, o decreto no previa o direito de defesa das pessoas que se sentem prejudicadas com as demarcaes (contraditrio). Mesmo com as presses das ONGs e dos prprios tcnicos da Funai, o governo revogou o decreto de Collor e abriu a possibilidade de reviso de reas demarcadas a partir de 1991. O nmero de reas passveis de contestaes era 201, mas segundo a Funai, 56 foram questionadas. Do total, 23 receberam mais de uma contestao. O nmero total de contestaes chega a 536. O Conselho Indigenista Missionrio discorda desses nmero, e garante que foram mais de mil contestaes. O ministro da Justia retirou da lista 17 questionamentos apresentados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renovveis. O Ibama queria rever a situao de reas onde parques nacionais convivem com reas indgenas, como o caso dos ndios pataxs, na Bahia.
O Dia do ndio , hoje, vai ser marcado por crticas ao decreto que permite a reviso de reas indgenas ainda no registradas. O Conselho Indigenista Missionrio pretende realizar um trabalho paralelo para acompanhar os trmites da contestao de 56 reas indgenas , baseada num decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois de a Funai justificar os limites das reas contestadas, a deciso do ministro da Justia. Das reas contestadas, segundo a Funai , h as que no atendem s exigncias do decreto, por serem reas registradas, ou que ainda no tinham sido criadas, ou por terem a contestao fora de prazo. As contestaes partiram de pessoas fsicas, jurdicas , de prefeituras e de governos estaduais. E se referem a reas de vrios estados: Rio de Janeiro, Par, Mato Grosso, Rondnia. A briga promete, pois, em contraposio s reivindicaes dos interessados, h ONGs acompanhando o desenrolar das conversaes.
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O sentimento geral de que o neoliberalismo como parecia, como panacia, est fazendo gua. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra, como nos ensinaram os velhos brocardos portugueses que aqui chegaram no bojo das caravelas, isto , sofrendo as agruras do oceano. H resultados, mas tambm h fracassos. A verdade que o sonho de uma avassaladora onda de prosperidade e de paz, depois do fim da URSS e do desmoronamento do mundo do Leste, no se concretizou. As palavras revoluo e revolta no morreram, e os problemas da paz, simplificados no tempo da confrontao, esto mais complexos e mais volteis. H uma incipiente tendncia armamentista na sia que aflora no aumento substancial do oramento militar japons, a China equipa-se como potncia naval e na Coria ressurge a ameaa nuclear. Acabou-se a era da teorizao sobre a grande fase de paz e de prosperidade que todos sonhamos. A cruel realidade se impe mais forte que o sonho. Buscavam-se outras teorias para explicar os fracassos. A desculpa que o mal estrutural, vem da sociedade industrial! Descobre-se (grande novidade!) que a automao libera mo-de-obra e o desemprego tende a aumentar cada vez mais. Que fazer? Buscar frmulas novas. Diminuir horas de trabalho (!), rever os sistemas de previdncia, todos quebrados, reciclar trabalhadores, reeducar desempregados, enfim, sempre termos tericos. A verdade que no o tamanho do Estado que se deve medir, a qualidade do Estado. Este no mais o grande vilo do ano 90 ps-queda do Muro de Berlim mas um mal necessrio que deve ser forte e eficiente. O mercado, o Deus do novo tempo, mostra que ele resolve muitas coisas, mas no resolve tudo. Em tudo, para parte da populao mais nobre, tudo mesmo: assistncia mdica, educao, saneamento, infra-estrutura, segurana, moradia, cultura, lazer. As privatizaes no andam to bem, em todo lugar, como se prega. A onda maior no mundo do Leste e, claro, l, at a florista era do Estado... A senhora Thatcher no disse no Brasil que apesar da sua determinao e esforo, s conseguiu privatizar 20% das empresas? O grande perigo da privatizao no ser feita com o acoplamento de uma poltica industrial. Privatizar no pode ser dilapidar bens pblicos na bacia das almas. Considero o exemplo francs e o mexicano os melhores. L a coisa foi feita com critrio e deu certo. O nosso grande problema a Constituio. Ela estatizante onde o Estado no devia estar. Ela demaggica onde o governo devia ser eficiente. Ela contraditria, hbrida, cobra de duas cabeas, dividida entre prticas parlamentaristas e governo presidencialista. E o pas? A classe poltica? Atnita e nos anos 50, numa mistura de populismo, marxismo, demagogia e indisciplina. E as famosas elites? Estas vo bem, obrigado, querendo fazer poltica sem polticos, democracia sem instituies e economia de mercado sem livre concorrncia.
O neoliberalismo veio com a aurola de soluo para todos os males. Os pases que cumprissem a agenda de privatizao estariam contribuindo para a nova era de prosperidade e paz. Esse novo perodo, inaugurado com a queda da URSS, no se mostrou nem to saneador , nem to pacfico. Desabrocham ncleos de violncia em vrios lugares, com o aumento de preparativos blicos. As explicaes dadas para os fracassos de uma poca se equivalem s sugestes apresentadas para uma outra. A entrega das solues ao mercado no uma boa medida, principalmente para as classes menos favorecidas, que continuam com os problemas de assistncia mdica, educao, saneamento, segurana, moradia, cultura , lazer. A questo no anular o Estado, mas melhorar sua qualificao. Os pases do Primeiro Mundo , que vendem para os do Terceiro a idia de privatizao , no a implementaram com mesma intensidade. Para as elites , trata-se de mais uma ideologia que cumpre a tarefa de manter o status quo.
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BRASLIA - O Senado aprovou ontem, em primeira votao, a emenda que cria o Fundo de Estabilizao Fiscal (FEF) - que substituir o extindo Fundo Social de Emergncia. Com isso, estados e municpios passaro a recolher 20% dos seus impostos - retroativo a 1 de janeiro - para a composio do FEF. O fundo vai vigorar por 18 meses - at 30 de junho de 1997 - e a arrecadao prevista de R$ 20 bilhes por ano. O governo poder aplicar esses recursos como quiser, j que esto livres de vinculao oramentria. A votao de ontem foi tranqila e a emenda foi aprovada por 71 votos contra 10 e uma absteno. O segunda e ltima votao no Senado est prevista para o dia 29. A primeira grande vitria do governo, no perodo da convocao extraordinria, foi obtida pelo lder do governo no Senado, lcio lvares (PFL-ES). Atendendo ao apelo de lcio e s condies do relator da emenda e lder do PMDB, Jder Barbalho (PA), o ministro da Fazenda, Pedro Malan, mais uma vez concordou em dar compensaes aos prefeitos e facilitar o pagamento de suas dvidas atrasadas, assim como fez com os governadores durante a votao na comisso de Constituio e Justia do Senado. Segundo o senador Vilson Kleinubing (PFL-SC), Malan receber hoje uma comitiva de prefeitos, lderes e senadores de todos os partidos para discutir o que fazer com os prejuzos. A Caixa Econmica Federal ser mais uma vez acionada para abrir novas linhas de crdito para a renegociao das dvidas dos prefeitos. Malan concordou em negociar com os prefeitos o pagamento dos dois meses de recolhimento indevido - janeiro e fevereiro - em 10 parcelas. O mesmo acordo foi fechado anteriormente com os governadores. Nenhuma emenda foi apresentada na votao de ontem. O lder lcio lvares adotou o estilo marcao homem a homem para convencer os senadores a retirarem as assinaturas das propostas de mudana do FEF. A lder do PDT, Jnia Marise (MG), chegou a conseguir em plenrio as duas assinaturas que faltavam para totalizar as 27 exigidas pelo regimento. Vantagens - Mas, em seguida, Onofre Quinam (PMDB-GO) e Ldio Coelho (PSDB-MS) foram abordados pelo lder do governo com promessas de vantagens na renegociao das dvidas em seus estados. O lder do PSB, Ademir Andrade (PA), denunciou que os senadores esto atemorizados com as ameaas de serem investigados pela Receita Federal, depois que 12 deles retiraram as assinaturas de apoio s emendas. O debate durante a sesso tambm foi agitado pela polmica arrecadao do fundo e as perdas que provocar para estados e municpios. O governo afirma que no haver perdas, mas o relator, Jder Barbalho, em pronunciamento polmico, reconheceu: Vai haver perda sim, apesar de a equipe econmica dizer que no. Jder disse que deu parecer favorvel porque optou pela sobrevivncia do Plano Real. Assumo politicamente o risco de prejudicar estados e municpios em favor da sobrevivncia do Real, encerrou o lder do PMDB. Na tera-feira noite, o presidente Fernando Henrique se reuniu com senadores do PMDB no Palcio do Planalto. Segundo Jder, o presidente negou que o governo esteja investigando os senadores. Se assim, o PMDB mantm sua posio favorvel ao FEF, respondeu o lder do partido.
Foi aprovada ontem no Congresso, em primeira votao, a criao do Fundo de Estabilizao Fiscal (FEF), que vigorar por 18 meses, at junho de 1997. Para sua composio , estados e municpios depositaro 20% dos seus impostos. O recolhimento previsto de R$20 milhes por ano. Atendendo ao pedido do lder do governo no Senado e s condies do relator da emenda, o ministro da Fazenda , Pedro Malan, concordou em dar compensaes aos prefeitos e em facilitar o pagamento de dvidas atrasadas, como j tinha feito com os governadores. A Caixa Econmica Federal abrir linhas de crdito para a negociao das dvidas dos prefeitos. Para que no fosse apresentada nenhuma emenda na votao de ontem, o lder do governo no Senado empenhou-se bravamente. Chegou-se a ventilar a idia de que senadores seriam investigados pela Receita Federal, por terem retirado as assinaturas de apoio s emendas, o que foi desmentido pelo presidente Fernando Henrique. O governo desmentiu que haveria prejuzos para estados e municpios com a arrecadao do fundo, mas o relator, Jarbas Barbalho , confirmou e acrescentou que assumia o risco poltico da sua deciso.
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BRASLIA - Pressionados pelos parlamentares, os lderes dos partidos governistas recuaram e desistiram de extinguir o Instituto de Previdncia dos Congressistas (IPC) - uma das principais reivindicaes das centrais sindicais. O futuro do Instituto ser decidido em lei complementar, a ser elaborada no prazo de um ano aps a promulgao da emenda da reforma da Previdncia. Ontem, 447 deputados compareceram ao plenrio da Cmara para ouvir a leitura do novo relatrio sobre a emenda da Previdncia do deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM). Apesar de perder a batalha do IPC, a Central nica dos Trabalhadores (CUT) conseguiu garantir uma nova rodada de negociaes sobre a reforma, desta vez no plenrio da Cmara. Foi uma grande conquista, os deputados iro ouvir a opinio da sociedade civil, inclusive sobre o IPC, comemorou o presidente da CUT, Vicentinho, aps reunio com o presidente da Cmara, Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA). No encontro ficou estabelecido que a votao da emenda da Previdncia ser no dia 6 de maro. As presses contra o fim do IPC comearam ontem cedo, logo depois que os deputados tomaram conhecimento da extino do Instituto. Houve um movimento de parlamentares muito grande, que votariam contra a emenda se acabassem com o IPC, contou o relator da emenda, deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM). O problema poltico e de custo, reconheceu o lder do governo, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP). A extino do IPC no vai ser aprovada nunca pelo plenrio da Cmara, afirmou o presidente do Instituto, deputado Herclito Fortes (PFL-PI). Apelo - Pelos clculos do governo, o Tesouro ter que desembolsar R$ 97 milhes para pagar indenizaes a 2.017 parlamentares e funcionrios que contribuem para o IPC, caso decidam acabar com o Instituto. Alm da CUT, a Fora Sindical tambm levantou a bandeira do fim do IPC. O presidente da Fora, Luiz Antonio de Medeiros, desembarcou ontem em Braslia lanando mo de todos os artficios emocionais para convencer o relator a acabar com o IPC. Fao um apelo ao caboclo amazonense para que termine com o Instituto agora, disse Medeiros, que assim como Euler Ribeiro tambm do Amazonas. O esforo de Medeiros foi em vo. Depois de uma reunio no gabinete do lder do PMDB, Michel Temer (SP), o relator j saiu com a proposta de protelar o que seria feito com o IPC. Temer era o maior defensor de que o destino do Instituto fosse definido por lei complementar. Estrategicamente acredito que essa sada a mais razavel, disse Temer. O relator acusou todos os partidos, inclusive o PT, de defender a manuteno do IPC. A maioria dos petistas industririo; eles alegam que no tm como voltar ao trabalho depois do fim do mandato, afirmou Euler. Novidades - Hoje pela manh, os lderes dos partidos governistas e de oposio se renem novamente com Vicentinho. Vamos analisar o relatrio e ver se todos os pontos de entendimento foram includos. Existem pontos, como o caso da aposentadoria para o servidor pblico, que no concordamos e vamos tentar que os partidos de oposio derrubem isso no voto, disse Vicentinho. O novo relatrio apresentado ontem pelo deputado Euler Ribeiro no trouxe muitas novidades. O relator retirou de seu substitutivo o dispositivo que permitia a criao de um imposto sobre movimentaes financeiras e a centralizao dos recursos previdencirios no INSS. Euler Ribeiro tambm modificou a redao do artigo que permitia que os servidores pblicos de carreira - como juzes e professores universitrios - pudessem se aposentar com o salrio integral . Ao sair de seu gabinete no ministrio da Previdncia para acompanhar no Congresso a leitura do novo parecer reforma da Previdncia, o ministro Reinhold Stephanes negou qualquer possibilidade de modificao na proposta em futuras negociaes com sindicalistas. Todos os entendimentos que tinham que ser feitos j foram feitos. No h nenhuma matria nova, afirmou Stephanes.
Sob presso dos parlamentares, os lderes dos partidos governistas desistiram da extino do IPC ( Instituto de Previdncia dos Congressistas) -defendida como prioridade pelas centrais sindicais. Se no conseguiu a extino do IPC , a CUT garantiu uma nova rodada de negociaes sobre a reforma da Previdncia , no plenrio da Cmara, onde a opinio da sociedade civil, segundo Vicentinho , presidente da central sindical, poderia ser ouvida pelos deputados. O relator da emenda da Previdncia, deputado Euler Ribeiro , alegou que vrios deputados votariam contra ela, se fosse extinto o IPC. Houve alegao dos altos custos com o pagamento de indenizaes. Fazendo coro com a CUT, a Fora Sindical tambm defendeu o fim do Instituto. Medeiros, presidente da entidade, foi at dramtico no seu apelo ao relator Euler . Michel Temer quer que o assunto seja definido em lei complementar. Num novo encontro de Vicentinho com os lderes dos partidos governistas e de oposio, foi analisado se todos os pontos do entendimento foram includos. O lder sindical, que no concorda com o tipo de aposentadoria do servidor pblico, pretende que os partidos oposicionistas a derrubem no voto. A nova redao do relatrio sofreu pouca modificao: retirou-se o dispositivo que criava um imposto sobre movimentaes financeiras e modificou-se o artigo que permitia aposentadoria integral de juzes e professores universitrios.
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Poltica de Clinton desperta ira da sia Asiticos reagem ao protecionismo dos EUA, que desprezam regio econmica mais importante do mundo A reao aos EUA poderia se sintetizarcomo o sentimento de'sia para asiticos' 'Direitos humanos'so cortina de fumaapara esconder lobbieprotecionista dos EUA Ser que o presidentenorte-americano querrealmente brigar com os pases asiticos? ALVIN e HEIDI TOFFLER Quando se toma o pulso da sia hoje, de Nova Dli a Tquio, percebe-se uma mar crescente de ira, desapontamento e hostilidade em relao a uma administrao norte-americana que, aos olhos asiticos, est desajeitadamente engajada em destruir laos americano-asiticos que levaram meio sculo para serem tecidos. Ser que o presidente dos EUA, Bill Clinton, realmente quer brigar com a sia inteira? Se a resposta for no, ele far bem em desviar a ateno das preocupaes e escndalos internos e prestar ateno ao que seus diplomatas e negociadores fazem na maior regio econmica do mundo e a que est crescendo mais depressa. O futuro de toda a economia mundial vai depender de a regio da sia-Pacfico se transformar numa imensa rea de livre comrcio, englobando tanto os americanos e os asiticos ou de rachar, dividindo-se em blocos protecionistas em guerra um com o outro. Longe de estar criando um mercado aberto, pacfico e estvel em toda a regio, Washington est gerando uma reao negativa entre os asiticos, que se poderia sintetizar como um sentimento de sia para os asiticos. Isso poderia vir a dividir o Pacfico em duas partes, erguer muros protecionistas e transformar o Pacfico num mar de violncia outra vez. O presidente Clinton envia Mickey Kantor, seu principal guerreiro comercial, para falar grosso em Tquio e o secretrio de Estado Warren Christopher para esbravejar em Pequim. Funcionrios menos importantes se espalham por outras partes da regio, carregando consigo avisos e ameaas. Embora os EUA tenham queixas comerciais legtimas a fazer junto a alguns pases asiticos, e alguns destes evidentemente no satisfaam os padres americanos de democracia, direitos humanos ou poluio ambiental, nada disso ir melhorar com a pura e simples expresso de ofensivas crticas sia. E no faz sentido antagonizar todos ao mesmo tempo. Em lugar de, com inteligncia, fazer um adversrio voltar-se contra o outro, a inexperiente equipe de Clinton comeou ingenuamente a atacar as trs maiores economias asiticas Japo, China e ndia ao mesmo tempo. Pior ainda, ela est centrando sua ateno em problemas pequenos e ignorando as grandes oportunidades que a sia apresenta. Um exemplo disso a presso norte-americana para ingressar no mercado japons da construo. At pouco tempo atrs as gigantescas construtoras japonesas mantinham um relacionamento amistoso e corrupto com o governista Partido Liberal Democrtico, para o qual canalizavam enormes contribuies de campanha em troca de contratos uma prtica que no exatamente desconhecida nos EUA. O que o negociador comercial Kantor quer, entre outras coisas, que as empresas americanas consigam melhores oportunidades na construo de aeroportos e outros projetos no Japo. No h nada de errado nisso. Mas enquanto essa disputa sobre alguns insignificantes bilhes em negcios se desenrola em Tquio e Washington, vrias economias asiticas em rpido crescimento imploram por mais infra-estrutura. Desde o delta do rio Mekong, no Vietn, at a regio do rio Tumen, no norte da Coria, passando pela provncia chinesa de Yunnan, projetos enormes devero ser encomendados no futuro prximo. A Tailndia enfrenta escassez de gua. A China no consegue transportar seu carvo, do norte para o sul de seu territrio, em seu sistema ferrovirio obsoleto. A ndia quer eletricidade. O Frum Econmico siaPacfico estima que a sia representa um mercado de US$ 1.000.000.000.000 (isto um trilho, no um bilho!) em obras infra-estruturais. Um instituto de pesquisas de Cingapura acredita que, nos prximos 15 anos, podem ser necessrias obras no valor de at US$ 3 trilhes. Se joint-ventures nipo-americanas abocanhassem mesmo uma minscula parte desse imenso mercado, poderiam aliviar radicalmente o dficit norte-americano. Imagine, por exemplo, uma coligao de foras entre a GE e a Kajima ou a Marubeni e a Bechtel. Parcerias desse tipo j foram criadas entre empresas arquitetnicas norte-americanas e japonesas, como a HOK Sports Facilities Group, de Kansas City, e a Nikken Sekkei Ltd., embora at agora s estejam operando no Japo. Talvez j existam algumas no campo da construo. Mas se Kantor e companhia parassem de reagir impensadamente a alguns poucos lobbies de interesses especiais em Washington, como plantadores de arroz, firmas txteis e fabricantes de produtos de madeira, eles poderiam conseguir esboar solues estratgicas que reduzam, em lugar de ampliar, as brechas econmicas e polticas na regio. Querem reduzir o dficit comercial? Mudem a lei que restringe a venda de petrleo do Alasca sia proibio que no foi escrita para defender os interesses da segurana nacional norte-americana, como foi divulgado, mas para proteger um pequeno grupo de transportadoras martimas costeiras nos EUA. O ento primeiro-ministro japons Hosokawa divulgou outra proposta contendo modestas concesses aos EUA. Kantor a rejeitou imediata e publicamente. Isso se segue insistncia de Warren Christopher, ao visitar Pequim, em dar outro ultimato ameaando pr fim ao tratamento de nao mais favorecida, dado China, a no ser que a China satisfaa uma lista de exigncias na rea dos direitos humanos. Um covarde quando se tratou da Bsnia e do Haiti (populaes somadas de menos de 11 milhes), Christopher repentinamente se transforma em Rambo quando vai China (populao mais de 1,1 bilho). O resultado: a China responde tambm falando grosso, prende mais alguns dissidentes s para deixar claro quem manda ali, e Christopher se prepara para recuar. Enquanto isso, um arrepio percorre o resto da sia. Os asiticos vem a conversa sobre direitos humanos como o que realmente , em parte: uma cortina de fumaa para esconder medidas que beneficiam estreitos lobbies protecionistas nos EUA. (Ouve-se muito pouco sobre a necessidade de direitos humanos em Burundi, por exemplo, onde os EUA no tm interesses comerciais significativos.) A equipe de Clinton tambm parece desconhecer os efeitos colaterais de suas aes. Assim, manchetes na imprensa australiana descrevem o aviso lanado por Christopher China como ameaa economia australiana. Amplia-se nosso racha com Washington, proclama uma manchete de primeira pgina em Sydney. O artigo explica como aes norte-americanas prejudicariam o pas situado mais ao sul. E a Austrlia que no exatamente um tpico Estado autoritrio tambm no concorda que questes relativas aos direitos humanos devam ser atreladas poltica comercial, como a equipe Clinton vem fazendo. Isto tudo, sem falar na ndia. Clinton levou um ano inteiro para dar-se ao trabalho de nomear um embaixador para Nova Dli mais uma ofensa gratuita dignidade asitica e depois recusou-se publicamente a enviar a pessoa por quem os indianos haviam expressado sua preferncia. Enquanto a ndia liberaliza sua economia e investidores americanos afluem ao pas que tem a segunda maior populao do mundo, o prprio Clinton e um funcionrios indicado para o Departamento de Estado enfurecem a ndia, fazendo referncias descuidadas, ou provocadoras s reivindicaes separatistas em Caxemira. Aos ouvidos indianos, os EUA pareciam estar questionando a unidade e integridade territorial da ndia. A opinio pblica indiana se enfureceu a tal ponto que, de acordo com um industrial indiano citado recentemente pelo The Asian Wall Street Journal, est chegando ao ponto que uma joint-venture na ndia que hasteasse a bandeira americana seria alvo de um atentado a bomba. Na semana passada, em Nova Dli, o primeiro-ministro malasiano, Mahatir Mohamad, arrasou as propostas americanas de estabelecer um salrio mnimo mundial, qualificando-a de tentativa protecionista de desacelerar o investimento em pases em desenvolvimento, em vez de tentativa de elevar os padres de vida dos trabalhadores. Em toda a sia, a proposta vista como parte de um pacote de critrios sociais e ambientais que os EUA querem introduzir no Acordo Geral de Tarifas e Comrcio (Gatt) como meio de elevar os custos de produo nos pases mais pobres, reduzindo sua vantagem competitiva, e no como tentativa de melhorar os padres de vida e a qualidade ecolgica. Esta lista apenas o incio de um catlogo dos erros da administrao Clinton, que suscitaram a indignao de quase todos os pases da sia ao mesmo tempo. O que exatamente est acontecendo em Washington? o que os asiticos querem saber. Quem est administrando a loja? Clinton conduziu sua campanha presidencial, queixando-se de que seu predecessor dava ateno demais poltica externa. Ao que parece, nenhum de seus assessores lhe disse que deixar de prestar ateno poltica externa poderia colocar em perigo as relaes dos EUA com metade da populao do mundo. Um bilho de pessoas na sia podem ser resgatadas da pobreza se o dinamismo econmico da regio puder ser mantido. Esse processo tambm poderia energizar a economia americana. Mas o dinamismo asitico se fundamenta numa premissa de estabilidade poltica e militar, qual os falces comerciais de Clinton no parecem conferir a devida importncia. Ameaar essa estabilidade no interesse de alguns poucos interesses especiais em Washington constitui uma irresponsabilidade. Uma administrao taticamente ingnua e estrategicamente incompetente em Washington parece estar quase decidida a romper suas alianas na zona econmica e estratgica mais populosa e mais importante do mundo: a regio da sia-Pacfico. ALVIN e HEIDI TOFFLER so co-autores de obras como Future Shock, The Third Wave, Powershift e, mais recentemente, War and Anti-War: Survival at the Dawn of the 21st Century. Eles fazem viagens frequentes sia-Pacfico, tendo visitado mais recentemente a Malsia, Hong Kong e o Japo. Traduo de Clara Allain
Poltica de Clinton desperta ira da sia Asiticos reagem ao protecionismo dos EUA, que desprezam regio econmica mais importante do mundo A reao aos EUA poderia se sintetizar como o sentimento de sia para asiticos Direitos humanos so cortina de fuma para esconder lobbie protecionista dos EUA Ser que o presidente norte-americano quer realmente brigar com os pases asiticos? ALVIN e HEIDI TOFFLER Uma avaliao da sia atual, de Nova Dli a Tquio, permite sentir a ira, desapontamento e hostilidade em relao administrao norte-americana, vista por esses povos como desarticuladora da relao americano-asitica, h meio sculo fomentada. Se no for inteno de Clinton brigar com a sia inteira, bom que deixe de lado preocupaes e escndalos internos e comece a ver o que seus diplomatas e negociadores esto fazendo na maior regio econmica do mundo. O futuro da economia mundial vai depender de a regio sia-Pacfico se transformar numa imensa rea de livre comrcio, ou rachar-se em blocos adversrios um dos outros. Longe desse imenso negcio, Washington est criando um sentimento negativo de sia para os asiticos. Basta ver que o presidente Clinton envia Mickey Kantor, representante comercial, para falar grosso em Tquio e o secretrio de Estado Warren Christopher para esbravejar em Pequim. Mesmo tendo queixas comerciais contra alguns pases asiticos e restries quanto a seus comportamentos em relao a direitos humanos ou a poluio ambiental, nada vai melhorar com a expresso de ofensas sia. Ao invs de usar a inteligncia e facilitar animosidades entre os pases da regio, a equipe de Clinton comeou a atacar as suas trs maiores economias Japo, China e ndia simultaneamente. E ainda preocupando-se com questes menores, por exemplo, concorrer com os japoneses no mercado de construo. Antes, deviam notar oportunidades muito mais rendosas voltadas a infraestrutura Entre outras, obras voltadas para suprimento de gua na Tailndia, para a melhoria de transporte ferrovirio na China e eletricidade na ndia. Abocanhar uma pequena parte desse mercado aliviaria o dficit norte-americano. As crticas americanas contra abusos relacionados aos direitos humanos so vistas pelos asiticos como cortina de fumaa para esconder medidas que favorecem lobbies protecionistas dos EUA. Parece que a equipe de Clinton desconhece efeitos secundrios decorrentes de suas atitudes ofensivas. Por exemplo: demorar um ano para nomear um embaixador para Nova Dli. Na semana passada, em Nova Dli, o primeiro-ministro malasiano, Mahatir Mohamad foi duro com a proposta americana de estabelecer um salrio mnimo mundial. Em toda a sia, a proposta vista como tentativa de elevar os custos de produo dos pases mais pobres, reduzindo sua competitividade. A impresso que os assessores de Clinton no lhe esto informando que menosprezar a poltica externa pode desligar os EUA da metade da populao do planeta.
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Entrega a domiclio chega a novos negcios As grandes cidades tm potencial para empresas do tipo 'disque' que trabalhem com produtos diferentes ROBERTA JOVCHELEVICH Free-lance para a Folha Entregar produtos a domiclio pode ser uma boa opo de negcio para quem pretende montar empresa em uma cidade como So Paulo. Cada dia mais procurados, os chamados disques ainda so pouco explorados e praticamente se limitam a produtos tradicionais, como pizza ou comida congelada. Francisco Guglielme Jr., 38, consultor e professor da Fundao Getlio Vargas, aponta a entrega de material de escritrio (fora do horrio comercial) como uma atividade de grande potencial. Orivaldo Francisco Deitos, 36, dono de uma papelaria na rua So Bento, no Centro, dos poucos que j exploram, com sucesso, o negcio. H seis meses entrega produtos em escritrios da regio. Um disque meias, destinado a socorrer mulheres em apuros com meias desfiadas, outra alternativa recomendada por consultores. Um servio de entrega de meias em locais com grande circulao de secretrias e executivas pode ser um excelente negcio, diz Ana Maria Ramos Buairide, 43, consultora do Sebrae SP (Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo). Um servio diferenciado que obteve bastante sucesso o Disque Paella, montado h dois anos no Campo Belo. Comeou como teste. Investimos o mnimo possvel e acabou dando certo, diz Andrea Rodrigues, 28, dona. Dois anos depois, o faturamento da casa que funciona s para entregas de R$ 15 mil por ms. Comida chinesa a domiclio uma atividade que comea a crescer. A China in Box e o Lig-Lig j tm bons resultados nessa rea. Compras de supermercado, feira e fraldas tambm comearam a funcionar no sistema de disque h pouco tempo e j fazem parte da rotina do paulistano. A In Haus, por exemplo, que iniciou suas atividades em 93, entregando compras de supermercado, pensa em se expandir atravs de franquia. O investimento para abrir um disque varia de acordo com o tipo de produto, mas geralmente possvel comear pequeno. Basta ter um ponto bem localizado (prximo aos consumidores em potencial), uma linha telefnica (de preferncia com central de PABX) e um carro, moto ou bicicleta (dependendo do produto). O estoque pode ser montado de acordo com os pedidos. necessrio, no entanto, investir pesado na divulgao do servio, com anncios em jornais de bairro, faixas e panfletos. O raio de ao da empresa deve ser limitado. No existe regra fixa, mas o ideal atender os consumidores do bairro e evitar longas distncias. A Lazanharia & Cia, por exemplo, s faz entregas at 1 km. Quanto maior a distncia percorrida, maior o gasto com combustvel, o que acaba encarecendo o produto, diz Ana Maria, do Sebrae. O campo de ao deve ficar claro nos panfletos, para evitar problemas com clientes. Em caso de entrega de comida, importante usar embalagens trmicas e reforadas para garantir a qualidade do produto.
Entrega a domiclio chega a novos negcios As grandes cidades tm potencial para empresas do tipo disque que trabalhem com produtos diferentes ROBERTA JOVCHELEVICHFree-lance para a Folha A entrega de produtos a domiclio j pode ser negcio sedutor em cidades como So Paulo. Ainda est confinado a entregas tradicionais pizza e comida congelada . O consultor e professor da Fund. Getlio Vargas, Francisco Guglielme Jr. , v boas chances para quem entrega material de escritrio, fora do horrio comercial. Consultores tambm tambm sugerem a entrega de meias em locais onde h grande circulao de secretrias, s vezes em apuros com desfiamentos . Andrea Rodrigues fala do sucesso do seu Disque Paella no Campo Bello, que no exigiu grande investimento. Tambm comida chinesa a domiclio , compras de supermercado, de feira e fraldas j fazem parte da rotina do paulistano. O investimento num disque, apesar de variar de acordo com o produto, no elevado para comear. preciso ter um ponto bom (prximo do potencial fregus) , uma linha telefnica, um carro , moto ou bicicleta ( conforme o caso) e investir pesado na divulgao. O raio de ao deve ficar claro nos folhetos e , apesar das possveis variaes, no deve chegar a longas distncias , o que encarece o custo e pode prejudicar o atendimento ao fregus .
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Este suelto para avisar ao Lus Nassif e ao Clvis Rossi que o clube dos desesperados tem pelo menos trs scios. Desde 1986 nos convencemos de que era impossvel construir uma Constituio razovel a partir de um corpo eleito para fazer, simultaneamente, duas coisas: a legislao ordinria e a Constituio. Durante a campanha sofremos um grave dano, porque toda a propaganda sugeria nosso nome para constituinte. Estvamos convencidos ento e mais convencidos agora que no h como produzir uma Constituio, isto uma lei majestosa e permanente, que prescreva os direitos individuais, garanta o direito de propriedade, determine a organizao do Estado e do governo e limite a amplitude da legislao ordinria numa assemblia que imediatamente aps sua concluso vai legislar ordinariamente. O constituinte tem que ser eleito para um fim especfico. Tem que ter experincia provada e imaginao alerta para os problemas da sua regio e do pas. Tem, enfim, que ser protegido contra os mecanismos corporativistas que elegem seus representantes com o dinheiro do contribuinte para proteg-los. Vemos hoje como os monoplios politicamente construdos defendem seus privilgios. Extorquem seus altos salrios e benefcios da populao atravs do poder que lhes foi conferido, e aplicam parte infinitesimal desses recursos para convencer a populao de que patritico continuar a ser extorquida! Um superficial passeio pela Constituio de 1988 vai revelar dois aspectos interessantes: 1) ela a Constituio da vingana tudo o que existia no regime autoritrio era ruim por definio e no merecia a menor reflexo e 2) todos os privilgios privatizados (as estatais, a Zona Franca de Manaus, as vinculaes etc.) conseguidos alguns no prprio regime autoritrio foram constitucionalizados! O ttulo VI Da Tributao e do Oramento, apenas para dar um exemplo, em 24 artigos ocupando 18 pginas revela todo o rano de uma engenharia social ingnua e ineficiente! E o captulo VII Da Ordem Econmica e Financeira desperdia 22 artigos ocupando dez pginas de um irrealismo delirante! Havia ligeiras esperanas de que isso poderia ser corrigido por um dos poucos dispositivos lcidos, o artigo 3 das Disposies Transitrias, que permite que aps cinco anos a reviso da Constituio. Isso tambm foi perdido, pela confuso infinita que domina o governo Itamar Franco e pela necessidade de criar-se o Fundo Social de Emergncia. Hoje no nos resta outra alternativa seno lutar por uma Constituinte exclusiva, construda na base rigorosa de um homem um voto (com o mnimo de um para os Estados que no atinjam o quociente eleitoral) e que no tenha mais do que 100 representantes escolhidos diretamente pelo povo. Em trs ou quatro meses de trabalho intensivo essa assemblia de homens bons pode produzir uma Constituio capaz de liberar as energias nacionais e dar ao pas o que ele precisa: uma organizao poltica funcional.
Uma Constituio razovel no pode provir dos mesmos encarregados de , simultaneamente, cuidar da legislao ordinria. O constituinte tem que ser eleito para um fim especfico. Exige-se dele experincia e imaginao alerta para os problemas da sua regio , a fim de no ser cooptado pelo corporativismo que s enxerga privilgios. A Constituio de 1988 contm vrios exemplos de desvios: partiu do princpio de que tudo o que provinha do regime militar era ruim; incorporou privilgios privatizados ---alguns j na era militar---; o ttulo VI --Da Tributao e do Oramento uma demonstrao de ingenuidade e ineficincia; o captulo VII -Da Ordem Econmica e Financeira-peca pelo irrealismo. Mesmo o artigo 3 das Disposies Transitrias , que permite a reviso da Constituio aps cinco anos, foi vtima da confuso do governo Itamar Franco e da necessidade de criar o Fundo Social de Emergncia. Resultado: a soluo formar uma Constituinte exclusiva , firmada na relao um homem, um voto (garantindo o mnimo para os Estados que no atinjam o quociente eleitoral) , e que no ultrapasse 100 representantes escolhidos pelo povo.
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Pesquisa mostra perfil do empreendedor Da Reportagem Local Empreendedores so pessoas autoconfiantes, dedicadas ao trabalho, que tentam se manter atualizadas e tm a capacidade de gerar mudanas significativas a partir de novas idias. Ambiciosos e criativos, devem ter cautela diante de novas situaes, mas precisam ser capazes de assumir riscos. Para chegar a essas concluses, o Senac (Servio Nacional de Aprendizagem Comercial) se baseia em questionrio respondido por 119 participantes de seus cursos de aperfeioamento de empresrios. Desses, 70,6% mencionam a autoconfiana como uma das principais caractersticas do empreendedor. Dedicao fica em segundo na lista das qualidades do empreendedor, com 68,9% de indicaes (o questionrio permitia resposta mltipla). A seguir est a busca de conhecimento (62,2%), forma que o empreendedor tem para se manter atualizado. Em quarto lugar (52,1%) na lista das caractersticas do empreendedor est a capacidade de implantar novas idias. Improvisando, segundo 46,2% dos entrevistados, o empreendedor adapta o que tem mo para resolver problemas. Luciana Marques Pimenta, 39, gerente do Centro de Tecnologia em Gesto de Negcios do Senac, afirma que os dados extrados da pesquisa refletem a realidade das pessoas que frequentam cursos de atualizao para empresrios a base da pesquisa. Ela diz que ficou assustada com o baixo volume de respostas que apontaram ser necessrio ter viso de longo prazo (38,6%). Isso mostra que os empresrios esto mais ocupados em resolver questes do dia-a-dia, do que em investimentos futuros. Segundo Luciana, os empresrios tm procurado informaes prticas sobre modernizao. Um curso da entidade que mostrava como usar conceitos para melhorar a qualidade foi procurado por mais de 1.200 pessoas em todo o Estado de So Paulo. Esprito Luciana afirma que no existe esprito empreendedor.As pessoas podem aprender, adotando novos comportamentos, colocando uma srie de caractersticas pessoais ao seu servio. Isso fruto do aprendizado, diz. Os empreendedores so motivados pela necessidade de realizao. Em princpio vm as necessidades bsicas e fisiolgicas, que vo aumentanto de escala at chegar auto-realizao, que significa estar satisfeito com tudo e se motivar apenas por estar fazendo as coisas da forma certa. Na medida em que a satisfao vai subindo na escala, surgem novas necessidades. Para Luciana, poucos pequenos empresrios atingem picos de satisfao. A maioria ainda est suprindo as necessidades bsicas. Sonho Agnes Ezabella, 46, diretora operacional do Sebrae SP, diz que uma caracterstica do povo brasileiro cultivar o sonho de um dia vir a ser empresrio, mas so poucos os que concretizam a idia. Para ela, muito importante ter coragem e saber enfrentar riscos. O Sebrae (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas), quando procurado para auxiliar um empreendedor, sempre tenta detectar se ele tem conhecimento do ramo em que pretende atuar. Se tiver, pode se dedicar a superar deficincias em questes que no domina. Agnes diz que a maioria das pessoas que procuram o Sebrae na hora de abrir um negcio no esto preparadas. Ser empresrio uma soma de conhecimentos. Ningum sabe como antes de experimentar. como no casamento. S se sabe como no segundo. H um curso para formao de empreendedores, com durao de quatro meses, em parceria do Sebrae com a USP (Universidade de So Paulo). Da primeira turma, que se formou em 92, 31% dos alunos haviam se tornado donos do prprio negcio um ano depois. H uma srie de estudantes universitrios que j tm um negcio e outros que planejam empreender. Segundo Agnes, essa tendncia est aumentando nos ltimos anos. Os alunos no pensam apenas em ser funcionrios de uma grande empresa, diz. Quem no frequentou um curso superior tem mais dificuldade em comear num empreendimento, que exige planejamento e conceitos de administrao de empresas. Mas, segundo a diretora do Sebrae, durante os cursos, nota-se que as pessoas tm conhecimento emprico, prtico. Elas no sabem definir os conceitos, mas entendem como eles se aplicam.
Pesquisa mostra perfil do empreendedor Da Reportagem Local Os empreendedores se caracterizam por serem autoconfiantes, dedicados ao trabalho , voltados atualizao e capazes de gerar mudanas significativas. Devem conjugar cautela com audcia. Assim conclui o Senac a partir de um questionrio aplicado a 119 participantes de seus cursos de aperfeioamento. 70,6% deles mencionam a autoconfiana como uma das principais caractersticas dos empreendedores; 68,9% ( o questionrio permitia mais de uma resposta) consideram a dedicao ; 62,2% , a busca de conhecimento; 52,1% , a capacidade de implementar novas idias. Luciana Marques Pimenta, gerente do Centro de Tecnologia em Gesto de Negcios do Senac , ficou assustada com a baixa indicao da viso a longo prazo(38,6%) como uma das caractersticas. Ela afirma que o esprito empreendedor no existe; aprende-se , com a necessidade de realizao. Agnes Ezabella, diretora operacional do Sebrae SP, diz que o brasileiro sempre sonha em ser empresrio, mas poucos concretizam a idia. Coragem e enfrentamento de riscos, para ela, so muito importantes. O Sebrae , quando solicitado para auxiliar um empreendedor, procura investigar seus conhecimentos sobre o ramo pretendido. Agnes afirma que a maioria dos pretendentes a um negcio no est preparada. que ningum est , antes de experimentar. Da primeira turma de um curso para empreendedores , em parceria Sebrae-USP, 31% j tinham conseguido seu prprio negcio , aps um ano.
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Eleio ser teste para democracia mexicana CARLOS FUENTES Uma nica palavra ocupa o epicentro da eleio mexicana de 21 de agosto: credibilidade. H 66 anos o Partido Revolucionrio Institucional, com suas sucessivas siglas PNR, PRM e PRI, tem sido a igreja poltica da Revoluo Mexicana, e as revolues, como bem sabemos, geram sua prpria legalidade. O partido no perdeu uma nica eleio presidencial e, at muito pouco tempo atrs, nenhuma eleio para governo de Estado. Controla as duas Cmaras e, sobretudo, um partido controlado, em sua cpula, pela autoridade presidencial, e em sua base muito obscura pelos caciques, pelas chefaturas policiais e pelos interesses concretos dos exploradores das regies, dos municpios e das comarcas mais distantes do pas. A comparao entre a longa permanncia do PRI no poder e os casos dos social-democratas suecos ou dos liberais japoneses no aceitvel. Esses partidos jamais so acusados de se manterem no poder mediante fraude. O sistema mexicano tem se assemelhado mais a outros sistemas de partidos de Estado: a Unio Sovitica ou a Espanha franquista. Em Moscou, a desintegrao do partido coincidiu com a desintegrao de um imprio. Mas em Madri a transio democracia foi possvel graas vontade e inteligncia dos atores polticos, com o rei Juan Carlos atuando como fiel da balana. Em 1975, entretanto, a situao espanhola no era muito diferente da situao mexicana em 1994. Trata-se de uma grande divergncia entre as realidades econmicas, sociais e culturais e as prticas polticas. Estas, na Espanha de Franco ou no Mxico do PRI, j no so representativas daquelas. E isto acontece no porque o Mxico seja plenamente moderno, mas porque a nao e a cultura so to variadas, to plurais, to antigas e to novas em sua economia, sua cultura, sua relao social, que o PRI, se alguma vez foi criado para impor ordem e coeso anarquia militar ps-revolucionria, j no pode justificar-se impondo unidade monoltica ao pas criado, em grande medida, pelas instituies revolucionrias. A cultura mexicana carece de correspondncia poltica. Esta s lhe pode ser proporcionada pela democracia ao mesmo tempo pluralista e integradora. Hoje ns mexicanos sabemos que a nao mais do que o Estado: a cultura. Sabemos que o Estado mais do que o partido: o projeto do bem comum. E sabemos que o partido menos que tudo: , ou deve ser -como seu nome indica- uma parte. E este o propsito central da eleio mexicana: separar a nao e o Estado do partido, para que floream a identidade da nao e sua cultura. A justificativa do sistema presidencial PRI-governo tem sido: a democracia lenta, o autoritarismo rpido. Mas bom insistir que o Mxico, assim como outro pas de tradio autoritria -a Espanha-, tem sua prpria vocao democrtica. Ela provm de tradies comunitrias indgenas, de leis humanitrias da Coroa espanhola. Provm, sobretudo, das lutas sociais constantes do povo mexicano: pela terra, por trabalho, pela justia. Na eleio de 21 de agosto o Mxico conta com o melhor sistema eleitoral de sua histria. preciso dar crdito independncia das autoridades eleitorais, respeitabilidade e credibilidade dos conselhos de cidados, transparncia fsica das urnas, ao prprio fato de se poder exercer o voto secreto, atrs de cortinas. Embora no tenham se concretizado as cabines para assegurar melhor vigilncia, o voto est encorajado graas acessibilidade dos locais de votao. E onde estes so distantes, esperemos que funcione o sistema previsto para assegurar a presena de observadores e representantes da oposio. A concordncia entre as listas e as credenciais eleitorais satisfaz a alguns, mas no a outros. A esta altura j no possvel passar o pacote eleitoral em julgamento: preciso coloc-lo prova ou retirar-se da disputa. Um eleitorado alerta deve registrar irregularidades que porventura venham a ocorrer no prprio dia da eleio. E a partir da prova eleitoral, o pacote poder ser revisto. Os eleitores querem uma contagem rpida dos votos, o anncio dos resultados no prprio dia da eleio e um pronunciamento claro do IFE (Instituto Federal Eleitoral) sobre a confiabilidade das eleies, antes e depois de sua realizao. Outras vitrias no foram concretizadas. A desigualdade vigorou nos meios de comunicao eletrnicos: seis a um a favor do PRI. Os limites impostos aos gastos eleitorais no funcionaram de forma equitativa: o PRI sozinho gastou mais que todos os outros partidos juntos. Houve presso do empresariado. Houve presso dos governadores. Houve presso dos pequenos exploradores e caciques. Apesar disso, as manifestaes favorveis oposio so as maiores de nossa histria poltica. To grandes que tornam inacreditveis as sondagens que atribuem ao PRI at 46% das intenes de voto, contra 26% do PAN e apenas 8% para o PRD. fato que nos falta cultura eleitoral, que as pessoas so cautelosas, que ningum anuncia sua verdadeira inteno, e que a soma das intenes permanece oculta para as sondagens. Existe, porm, algo mais. As manifestaes da oposio tm fundamento. As do PRI no podem t-lo: esse partido no possui vocao de luta, e sim de acomodao e traslado; no explora a f, e sim o meio. Cedo ou tarde, o acmulo de fraudes, intransigncias e impunidades que marcaram os 66 anos do partido oficial no poder lhe sero cobrados. O PRI visto como fraudulento, salvo prova em contrrio. Hoje podemos ver que o PRI tem sido e uma tragdia para a democracia no Mxico e uma tragdia para si mesmo. Porque trgico que um partido possa vencer legitimamente uma eleio e que, no obstante, ningum esteja disposto a acreditar nisso. Ser que o PRI s pode demonstrar que democrtico, perdendo uma eleio? Basta fazer-se essa pergunta para admitir que o anti-democrtico negar a priori que o PRI possa vencer uma eleio limpa. Mas o pas est to ferido, to dolorido, to desconfiado, que possivelmente apenas a derrota do PRI e a alternncia no poder possam satisfaz-lo. Com todos os riscos que acarreta, me parece mais perigosa, daqui at o ano 2000, a perpetuao do PRI do que a oposio no poder. Crdenas ou Fernandez de Cevallos talvez possam formar administraes mais amplas e representativas do que as do PRI atual. E os empresrios e funcionrios, superado o pnico inicial, se acomodariam s vicissitudes da vida: sempre se pode negociar com o poder. Um olhar bem-intencionado sobre o pas indicaria, em lugar disso, que desta vez pelo menos possvel que a realidade coincida com o ideal. Dir-se-ia que as manifestaes pblicas, a opinio e at mesmo a inteno oculta daro a cada partido porcentagens semelhantes, entre 35 e 40%. Um resultado apertado porm digno de crdito poderia contentar a todos e encorajar todos a prosseguirem na tarefa de construir uma democracia mexicana. Nestas circunstncias, o inacreditvel no seria a eleio. O inacreditvel seria a violncia ps-eleitoral. Na medida em que o pluralismo se instalasse nas cmaras, nos governos estaduais, nos legislativos locais e nos municpios, o caminho democracia e paz seria ampliado. O que precisa ficar claro que, vena quem vencer PRI, PAN ou PRD, os avanos democrticos no Mxico no so concesses gratuitas. Foram conquistados, em tempo histrico, pelas lutas sociais do povo mexicano e tambm pela vontade democrtica que o PAN vem demonstrando h meio sculo, e pelos mortos que a militncia do PRD registrou neste sexnio. Seja qual for o resultado, no resta ao Mxico outro caminho seno fazer valer seus direitos pacificamente e prosseguir sua luta pela democracia, vena quem vencer. Pois nem Zedillo, nem Cuauhtmoc nem Diego passam de episdios de um acontecimento eleitoral. A democracia um processo que inclui esse acontecimento, mas que depende, para criar uma cultura, de muitas outras coisas: federalismo, separao de poderes, limites ao presidencialismo, independncia e responsabilidade da importao de justia, liberdade municipal etc. Ponhamos prova o que conquistamos. E no dia seguinte eleio, julguemo-la com mentes atentas. preciso denunciar as fraudes; preciso dar prosseguimento s metas. A democracia ser colocada prova no dia 21 de agosto, mas no comear nem terminar no dia 21 de agosto. J se obteve muito. preciso obter mais. preciso esgotar as vias legais e os procedimentos pacficos, e quando estes se esgotarem, preciso redobrar a imaginao e o esforo para abrir novos caminhos. No nos deixemos derrotar pela raiva, pela ignorncia, pelo rancor. Esta seria a verdadeira vitria do PRI dinossurico. O destino do partido oficial deixar de s-lo e converter-se em partido simplesmente, de centro, persuasivo, democrtico, dialogador. Se isso no acontecer, cavar sua prpria sepultura. Porque adiante dos partidos, mais alm das eleies, o que est se movendo no Mxico a sociedade civil, seus diversos estratos, sua problemtica cultural e econmica, que s vezes coincide tematicamente apesar das diferenas de classe, s vezes concentrada nas afrontas sofridas pela classe despossuda e ultrajada. A sociedade mexicana tomou a dianteira dos partidos e do governo. O mnimo que estes podem fazer respeitar a vontade da sociedade quando, no domingo, ela se manifestar nas urnas. CARLOS FUENTES escritor, autor de Terra Nostra e escreveu para o World Media Traduo de Clara Allain
Eleio ser teste para democracia mexicana CARLOS FUENTES Uma nica palavra ocupa o epicentro da eleio mexicana de 21 de agosto: credibilidade. O Partido Revolucionrio Institucionalnas suas variadas siglas PNR, PRM e PRI--- monopoliza h 66 anos a poltica no Mxico, no tendo perdido nenhuma eleio presidencial e , at pouco tempo, nenhuma para governo de Estado. Controla as duas cmaras e controlado pela autoridade presidencial e, em sua base obscura, pelos caciques, chefaturas policiais e pelos interesses dos exploradores diversos. Se alguma vez justificou sua criao para impor ordem e coeso anarquia militar ps-revolucionria, j no faz sentido a imposio de unidade monoltica ao pas. Falta uma correspondncia poltica cultura mexicana, que s a democracia pluralista e integradora pode oferecer. este o propsito central da eleio atual: separar a nao e o Estado do partido, a fim de que a nao e sua cultura desabrochem . Mas convm insistir que o Mxico tem sua vocao democrtica , provinda de tradies comunitrias indgenas , de leis humanitrias da Coroa espanhola e , principalmente, das lutas sociais do povo pela terra, pelo trabalho e justia. Nesta eleio de 21 de agosto, o pas conta com o melhor sistema eleitoral de sua histria. preciso dar crdito iseno das autoridades eleitorais, respeitabilidade e credibilidade dos conselhos de cidados, ao prprio fato de se poder votar secretamente. H tambm um eleitorado alerta para qualquer eventual irregularidade. As desvantagens ocorreram na divulgao tendenciosa dos meios de comunicao: seis a um a favor do PRI. Tambm o partido gastou mais do que todos os outros juntos. Apesar disso, as manifestaes pr oposio foram as maiores da nossa histria. O PRI , salvo provas em contrrio, um partido fraudulento. Cedo ou tarde, sero cobrados os logros , intransigncias e impunidades cometidos nesses 66 anos. Hoje o PRI visto como uma tragdia constante para a democracia mexicana. O povo est to ferido e desconfiado , que s a derrota do partido o aliviar. No entanto, o importante que, vena este ou aquele partido , o progresso democrtico no caiu do cu; sedimentou-se pelas lutas sociais do povo mexicano , pela vontade democrtica do PAN nestes longos anos e pela morte dos militantes do PRD. necessrio pr prova o que conquistamos. Aps as eleies, preciso denunciar as fraudes, dar prosseguimento s metas e conscientizar-se de que estas eleies colocam prova a democracia , mas s representam uma partida de uma longa caminhada.
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A novela do Plano Real ainda continua Os ingnuos e bem-intencionados que me perdoem, mas em vez de torcer devemos pensar a srio na estabilizao possvel MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O Plano Real, ex-Plano FHC (fase 3), est vivendo uma etapa novelesca em que a propaganda oficial e o desejo do povo de ganhar mais uma Copa do Mundo embrulhou as expectativas. A poltica econmica tentando transformar ossos em ouro, como na recm-terminada novela das oito da TV Globo, proclama que temos uma moeda forte! Mas a realidade muito diferente do suposto imaginrio popular televisivo ou fantasias governamentais. A inflao vai ficar baixa em agosto e setembro, mas os preos foram para o espao e os salrios de mais da metade da populao esto no subsolo do Terceiro Mundo. O poder de compra das famlias que ganham de um a oito salrios mnimos caiu 12,7% (em URV-real) desde maro (dados do IBGE); a cesta bsica est em mais de US$ 100, para um salrio mnimo de menos de 70. Assim, temos uma moeda forte por decreto: a paridade dlar-real foi fixada arbitrariamente, no obedece a qualquer conceito de paridade real de poder de compra. Por isso, as comparaes internacionais entre preos e salrios em dlar so to absurdas: preos de Nova York e salrios mais baixos que no Paraguai. A propaganda sobre moeda forte (O real vale mais do que o dlar!) , portanto, grotesca. Lembra-me Salazar com o escudo forte e a arrogncia de Reagan entre 81 e 85, na sua diplomacia do dlar forte e juros altos. Mas, pelo menos, Salazar tinha uma justificativa: o pas estava comercialmente fora do mundo e podia exportar em massa portugueses para as colnias ou ex-colnias. Quanto a Reagan, podia obrigar o resto do mundo a financiar os dficits americanos. Mas o dlar forte s aguentou cinco anos. Como o Brasil no est em nenhuma das duas situaes, fico matutando o que nos aguardar, passado o entusiasmo (?) eleitoral, com esta moeda forte. O desejvel uma moeda estvel (desindexada) e no uma moeda forte. Esta ltima, por definio, privilgio dos pases do Primeiro Mundo que dominam o sistema financeiro mundial. Para manter esta caricatura de moeda forte, teremos de dolarizar toda a economia, abrir mo de ter moeda, como a Argentina. S que no d sequer para usar o slogan da vodca Orllof e dizer eu sou voc amanh. A Argentina levou 20 anos para desindustrializar-se e tinha padres de vida (de salrio e educao) muito superiores aos do Brasil. Assim mesmo, no est aguentando. Vejamos agora a coerncia interna da poltica macroeconmica. A poltica monetria anunciada fixa um limite de expanso dos meios de pagamento arbitrrio, j que no se sabe qual ser a demanda de moeda nova, nem o volume de expanso da base monetria provocado pela entrada de capitais, a variao das reservas bancrias e a flutuao dos juros. Isto , a ncora monetria est operando no escuro e provocando uma grande instabilidade nas previses de juros, liquidez e na estabilidade monetria. Com juros nominais altos, mantida a moeda financeira indexada, estoques reduzidos e sem horizonte confivel de estabilidade poltico-econmica, o mais provvel que os empresrios reajam poltica monetria instvel diminuindo a produo, reduzindo o emprego e subindo as margens de lucro. Seguir-se-, provavelmente, uma recesso provocada pela contrao da produo, respondendo queda no consumo e alimentada pelos baixos nveis do investimento pblico e privado. Com os efeitos fiscais provocados pela dvida interna, pela queda no consumo e, agora, com a sada indignada e correta de Osiris Lopes, a receita esperada pela Unio pode cair em relao s previses da Receita. Mas a execuo oramentria austera tentar garantir, custa dos gastos sociais, o equilbrio oramentrio (?) de no se sabe bem que Oramento. Os pesos pesados da economia apoiam o candidato do governo s prximas eleies, mas continuam defendendo os seus interesses pouco legais, como denunciou Osiris, cujas declaraes, salvo sobre os jogadores da seleo, foram pouco repercutidas na mdia. E o que dizer da ncora cambial? A equipe econmica reconheceu que as divisas com a entrada do smart money no so de confiana nem permitem a dolarizao total da economia agora. Esperando a recesso, contentaram-se (temporariamente?) com a fixao arbitrria da paridade entre o real e o dlar e permitiram a flutuao livre (?) da taxa de compra de divisas em mercado. Esta precria e original ncora cambial s com uma banda dever durar o que for possvel e ser supostamente coadjuvada, a curto prazo, por uma ncora fiscal, isto , um novo arrocho no gasto pblico essencial. Sem perspectiva de crescimento sustentado, sem polticas de preos e salrios pactadas e com a instabilidade fiscal, monetria e cambial, as expectativas reais dos agentes econmicos so de que tudo ser feito para sustentar a iluso de estabilidade e esconder as tendncias recessivas em agosto e setembro. Depois das eleies haver uma fase quatro, ou ento ao vencedor as batatas. O governo faz propaganda do real e acusa a oposio de torcer contra o plano. Ora, um plano no jogo da seleo para que todos possamos torcer in pectore. Suas vtimas, em especial parte da classe mdia e do povo, podem at torcer, imaginando a vitria sobre a inflao. Mas uma velha economista como eu, escaldada de ver tantas boas intenes irem para o inferno, no tem o direito de torcer. A crtica dos economistas da oposio no uma estratgia eleitoral, pois h quem ache (corretamente, do ponto de vista eleitoreiro) que no se deve criticar um plano que d a iluso da estabilidade desejada pelo povo. Como no somos economistas populistas, que manipulam ou se servem das iluses do povo, temos de dizer a verdade, doa a quem doer. Esta a nossa modesta contribuio verdadeira estabilidade que desejamos mais do que os economistas da situao. Os economistas neoliberais ou libero-sociais sustentam que, garantida por trs ou quatro meses a estabilidade de preos, os empresrios voltaro a investir e a economia de mercado encontrar o seu leito natural. A este respeito convm respeitar tanto os fundamentos da macroeconomia quanto as evidncias das dezenas de planos de estabilizao implementados urbi et orbi sob inspirao do Consenso de Washington, alm das declaraes abertas ou veladas dos prprios empresrios brasileiros. Afirmo que o plano, alm de ser contra os interesses reais do povo, no se sustenta macroeconomicamente pelas seguintes razes: 1) Aumento do conflito distributivo (antes a razo central dos modelos tericos dos atuais economistas no governo, ex-neo-estruturalistas, que pregavam com afinco a neutralidade do plano). 2) Desequilbrio fiscal potencial crescente, com piora na alocao de recursos pblicos, no permitindo sequer o uso do Fundo Social de Emergncia como poltica compensatria (recomendado pelo Consenso de Washington). 3) Poltica cambial inconsistente com a poltica monetria, se se pretende manter o supervit comercial e as reservas internacionais por mais de seis meses. Resultado de uma dolarizao a meias, os economistas do governo ficam esperando a fase quatro, aps novembro, talvez sonhando com a dolarizao completa. 4) Uma estabilidade espria no leva retomada do crescimento e do emprego. Ao contrrio, os componentes ativos da demanda efetiva esto contidos, em particular o investimento pblico e privado, e o consumo dos trabalhadores est reduzido entre 15% e 20%. Estes s mudaro se houver uma poltica deliberada de investimento autnomo do governo e induzido para boa parte do setor privado, mediante uma poltica de financiamento adequada produo, s exportaes e ao abastecimento da cesta bsica. Recursos existem, simplesmente esto sendo esterilizados para tentar sustentar uma poltica macroeconmica insustentvel. Concluo os meus argumentos dizendo que esta novela do Plano Real est levando longe demais os poderes de sua alquimia. Esta, embora possa ser parada entre 3 de outubro e 15 de novembro, ainda levar mais de um ano para que seus efeitos malficos mais imediatos sejam corrigidos. Os ingnuos e bem-intencionados que me perdoem, mas ser melhor que, em vez de torcer, pensemos a srio na estabilizao possvel, no emprego e na regenerao deste pas, que vai precisar menos de sonho, iluses e campeonatos e mais de coragem, verdade e pacincia para negociar caminhos possveis para todos. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).
A novela do Plano Real ainda continua Os ingnuos e bem-intencionados que me perdoem, mas em vez de torcer devemos pensar a srio na estabilizao possvel. MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O Plano Real vive uma etapa em que a propaganda oficial e o desejo fantasioso do povo misturou o meio de campo. A equipe econmica est sempre proclamando que temos uma moeda forte, mas no verdade. A inflao vai estar baixa em agosto e setembro, mas os preos subiram e os salrios perderam o poder aquisitivo. Portanto, a moeda forte uma utopia arranjada arbitrariamente. A propaganda sobre a paridade dlar-real grotesca. Fico matutando o que nos aguardar aps a euforia eleitoral. O desejvel uma moeda estvel e no uma moeda forte, privilgio dos pases do Primeiro Mundo. Examinemos agora a coerncia da poltica macroeconmica. A poltica monetria anunciada estabelece um limite de expanso dos meios de pagamento arbitrrio, o que significa a ncora monetria operando no escuro e provocando instabilidade na previso de juros, da liquidez e na estabilidade monetria. Com juros altos, moeda indexada, estoques reduzidos e falta de estabilidade poltico-econmica , certamente os empresrios reagiriam, diminuindo a produo e , conseqentemente, o emprego e a margem de lucro. Sob os efeitos fiscais causados pela dvida externa, pela recesso de consumo , a receita da Unio provavelmente acompanhar a expectativa. E a ncora cambial? A equipe econmica admitiu que a entrada do dinheiro vivo no confivel e nem basta para a dolarizao da economia no momento. Num quadro da expectativas baixas nos vrios setores da rea econmica, os responsveis tentam passar a iluso da estabilidade e esconder as tendncias recessivas em agosto e setembro. O governo faz propaganda do seu plano e critica os opositores por torcerem contra. Mas eu, economista velha e escaldada de ver tantas boas intenes irem para o brejo, no posso torcer. No caso, a crtica no jogo eleitoral , porque um plano que inspira confiana ao povo no deve ser criticado. Os economistas neoliberais garantem que, em poucos meses, os empresrios voltaro a investir e a economia caminhar normalmente. Apresento razes para afirmar que o plano vai contra os interesses do povo: Aumento do conflito distributivo; desequilbrio fiscal potencial crescente , com piora na alocao dos recursos pblicos; poltica cambial desafinado com a poltica monetria, caso se pretenda manter o supervit comercial e as reservas internacionais por mais de seis meses; estabilidade falsa que no favorece a retomada do crescimento e do emprego---a demanda est contida , e o consumo dos trabalhadores est reduzido entre 15% e 20%. Concluo dizendo que a novela do Plano Real est sobrelevando seus poderes . Os ingnuos e os bem-intencionados devem, em vez de torcer , quebrar a cabea para descobrir com alcanar a estabilizao possvel, o nvel de emprego , em suma, a regenerao do pas.
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O filho por fora JUNIA NOGUEIRA DE S Com sua licena, leitor, vou fazer aqui uma crtica preventiva da mdia -mas que nem de longe, infelizmente, est baseada em futurologia. O motivo simples: encerrado ontem o prazo de desincompatibilizao dos candidatos com cargos pblicos, a corrida eleitoral ganha novo cenrio a partir de hoje. Os que sonham com o Planalto j ingressaram na complicada fase de negociao para a composio de chapas, e agora o jogo para valer. Coisa para profissionais. Diante desse quadro, os jornais, revistas, rdio e TV mergulham desolados na constatao de que esta vai ser a campanha mais suja a que o pas j assistiu. Promete deixar no chinelo o episdio Miriam Cordeiro (a ex-namorada de Lula que o acusou, em 89, de encoraj-la a fazer um aborto, num depoimento no programa eleitoral de Collor). De tramias financeiras a escndalos sexuais e muita ladroagem, h o temor de que dossis preparados por alguns candidatos, e devolvidos altura por outros, transformem a disputa pela Presidncia numa corrida de obstculos dentro do pntano. Qual deve ser a postura da imprensa diante disso? O que podem fazer jornais, revistas, rdio e TV diante de candidatos municiados por revelaes acachapantes sobre seus adversrios? O que se pode esperar do noticirio at que saia das urnas o novo presidente eleito pelo voto direto? Bem, a imprensa pode no fazer nada, publicar as chamadas baixarias de campanha da forma como sarem da boca de candidatos e seus assessores, e ponto final. Estar, assim, reproduzindo o comportamento que teve em 89, quando muito se falou sobre a vida ntima de Lula e Collor e nada se discutiu acerca de suas propostas de governo. Por conta da eleio, o (e)leitor soube que Lula tinha uma filha por fora do casamento -Collor idem. Soube ainda que a de Lula quase no vingara por conta de um aborto a que a me diz ter resistido, e que o de Collor vem a ser resultado de uma aventura a quem o pai muitas vezes deixou faltar a mesada. Sobre o que fazer com a sade, a educao, a dvida externa, a inflao, etc, a imprensa se esqueceu de perguntar. O que saiu publicado eram promessas -vagas- de campanha, e a maior delas feita e repetida exausto por Collor, de no tocar na poupana, foi enterrada soberbamente um dia aps sua posse. Diante de um pas e uma imprensa atnitos que descobriram, ali, que no conheciam nada do programa de governo do presidente da Repblica. Desta vez, no h desculpa. A imprensa adquiriu na marra o chamado know-how, tem experincia acumulada e, portanto, o dever de agir de outra forma. No pode censurar as baixarias de campanha, nem esse seu papel. No pode, ela sozinha, escolher o que baixaria publicvel ou impublicvel sobre cada um dos candidatos. Mas pode conter formidavelmente o mar de lama se, a cada vez que se deparar com uma dessas baixarias, interrogar o candidato que a promove acerca de seu programa de governo. Repito: programa de governo, para cada uma das reas crticas deste pas. Nada de se contentar com as promessas de campanha. Porque o pas j sabe, na prtica, qual a diferena entre um arroubo de palanque e o compromisso com mudanas de verdade. Ocorre que a cobertura da corrida pelo Planalto j est embicando da pior forma possvel, e a imprensa passou a ltima semana seduzida pelas evidncias de que o senador Fernando Henrique tem, ele tambm, um filho por fora. O que era um velho zum-zum-zum nas redaes (sim, leitor, voc foi o ltimo a saber) acabou virando pergunta numa entrevista da revista Exame, e o ento ministro deu sua resposta. Isso uma besteirada. Emendou uma insinuao de que dizem coisas sobre Qurcia, o temido autor dos piores dossis que estariam prontos para sair praa, de onde Fernando Henrique e todos os outros esperam chumbo grosso. Bastou para que reprteres e mais reprteres de todas as publicaes fossem escalados para repetir a pergunta ao candidato, at o ponto de torn-la ridcula. Porque se o candidato tem um filho por fora, a quem mais que sua mulher, a me do filho e o prpio filho isso interessa? Que trao de carter isso desnuda num pas em que muitas famlias tm l a sua histria de um filho por fora, e a maior parte deles encontra a tolerncia de quem deveria se incomodar com o fato? Se, em vez do filho por fora, a imprensa estivesse preocupada com detalhes dos programas de governo, a histria teria ficado restrita a Exame e pouco mais que isso. Teria recebido repercusso adequada sua possibilidade de interferir no desempenho de Fernando Henrique como eventual presidente da Repblica. Estaria j reduzida a uma passagem na biografia do candidato, e s. No demais lembrar que, at agora, o leitor s conhece propostas de programa do PT (o partido no tem ainda programa definitivo), publicadas na imprensa mas ainda no suficientemente discutidas. No demais dizer, ainda, que alguns dos terrveis dossis engatilhados na campanha podem at conter fatos relevantes, que merecero investigao sria e profunda por parte da imprensa -ou tero, para o (e)leitor, a pouca importncia objetiva, a explosividade fcil e o apelo sensacionalista de histrias como as que relatam um filho por fora. Est nas mos da imprensa, portanto, boa parte da responsabilidade pelo nvel da campanha que ela teme e anuncia ser a mais suja da histria do pas. Ao leitor, tambm no demais lembrar que ele tem o direito e o dever de protestar e exigir que jornais, revistas, rdio e TV divulguem mais sobre propostas de governo que orientem seu voto do que baixarias de campanha que esgotem sua pacincia. Pode ser que assim, alm de suja, esta se transforme na mais esclarecedora campanha eleitoral que o pas j teve. O leitor pode conferir os nmeros do atendimento de maro a ao lado. O ms no chegou a ter um assunto dominante entre as reclamaes. J os elogios (15, um recorde em minha gesto) aumentaram devido srie Qualidade Total, que chega hoje a seu quarto nmero. No h dvidas de que o jornal marcou um gol com essa iniciativa. O Painel do Leitor mostra a mesma reao com uma enxurrada de cartas que tambm elogiam a Folha. Depois da coluna de 20 de maro, em que a ombudsman criticou os ttulos da Folha, no param de chegar protestos contra os piores publicados no jornal. O eleito na semana que passou apareceu na edio de segunda-feira, pg. 1-10: Higiene na infncia pode fazer mal sade. Antes que o leitor pudesse imaginar que a Folha estava invertendo todos os conceitos do que seja sade, a reportagem esclarecia que crianas mantidas em ambientes muito limpos podem desenvolver, na idade adulta, uma doena especfica que teria alguma relao com os rgidos hbitos de higiene. O ttulo, como se v, enganou o leitor. Os quatro grandes jornais deram, na segunda-feira, a mesma manchete para informar como acabou o Grande Prmio do Brasil, que aconteceu domingo passado. Era Senna erra e Schumacher vence (em O Globo, a frase ficou pouco maior que isso). Com essa constatao enviesada de que o alemo s chegou em primeiro porque o brasileiro cometeu uma bobagem, a imprensa coroou o festival sennista da semana anterior, quando todas -sem exceo, todas- as coberturas apontavam a vitria de Ayrton Senna em Interlagos. A Folha chegou a escrever que o melhor piloto do mundo (Senna), na direo do melhor carro do mundo (a Williams) teria sua consagrao no autdromo. E que s Schumacher acreditava em sua possibilidade de vencer. Senna, todo mundo viu, rodou quando estava em segundo lugar e com poucas chances de recuperar o primeiro. Enterrou as previses mais do que otimistas, e deixou ver quanto viciado o noticirio esportivo. O compromisso com a preciso (e, por extenso, com o leitor) vale menos do que a torcida da imprensa nessas horas. A imprensa j se esqueceu de que os oligoplios so o vilo da URV e do plano FHC. O pas convive com o novo indexador h um ms, o ministro virou candidato e os preos chamados de abusivos continuam em vigor. O assunto saiu da pauta, ainda que esteja dentro do bolso do leitor. JUNIA NOGUEIRA DE S a ombudsman da Folha. A ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ela no pode ser demitida durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Junia Nogueira de S/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.
A responsabilidade da imprensa pela seleo do que anuncia e pela transparncia das suas manchetes comea a ser preocupao at por um dos seus representantes. O ombudsman da Folha de S.P., por exemplo, comenta o incio da campanha eleitoral presidncia da Repblica , em que disputam Lula e Fernando Henrique. Os rgos de comunicao , desolados, prevem uma repetio da disputa entre Collor e Lula na campanha anterior, durante a qual predominaram acusaes envolvendo a vida particular , numa demonstrao de hipocrisia moralista. Na poca , a imprensa enfatizou as baixarias, divulgou-as , mas no se preocupou em cobrar programas de governo que falassem do que seria da sade, educao, dvida externa, inflao , e de outras necessidades nacionais. Das vagas promessas publicadas , uma, de Collor , realada ao mximo a intangibilidade da poupana --- foi esquecida logo que ele tomou posse. Na disputa atual, a imprensa no pode alegar desculpa ; tem experincia acumulada. Se, de um lado, no lhe cabe o papel de contrapor s baixarias um discurso moralizante, de outro, tem como ameniz-las , desviando seus questionamentos para problemas realmente importantes para a realidade nacional. Apesar do know-how adquirido, um zum-zum nas redaes sobre um filho extramatrimonial de FHC acabou virando reportagem da revista Exame. Como se esse hipottico acontecimento interferisse na competncia do candidato. Enquanto se desvia para essas fofocas, as propostas de governo ficam de lado. At agora, somente foram publicadas as do PT(ainda no bem definidas) , mas no suficientemente discutidas. Certamente, a imprensa tem a ver, em grande parte, com o diz-que-diz inconseqente. E o leitor tambm , que no pode abrir mo de seu direito e dever de supervisionar o poder. A Folha de So Paulo, com a srie Qualidade Total e com O Painel do Leitor tem convocado o leitor a dar sua opinio. O que constitui um bom caminho de politizao . O prprio ombudsman do jornal tem sido impiedoso com o falseamento de interpretao oferecido por certas manchetes. Uma das ltimas Higiene na infncia pode fazer mal sade.--- no condiz com a reportagem , que informa ser o excesso de assepsia na infncia responsvel pelo desenvolvimento de uma doena especfica , na idade adulta.
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Nunca mais Trinta anos depois do movimento militar que deps o presidente Joo Goulart, no surpreende que uma pondervel maioria de brasileiros consultados pelo Datafolha em pesquisa divulgada no caderno especial que esta Folha publica hoje diga que vivia melhor durante o perodo militar do que agora. evidente que os pescadores de guas turvas, que no faltam neste momento de crise aguda em todos os terrenos, podero interpretar o resultado da pesquisa como uma espcie de convite ou incitao para que se volte ao passado, ao autoritarismo que se manteve durante 21 longos e obscuros anos. Mas a interpretao mais razovel para esse saudosismo outra e bem mais simples. Em tempos de crise, o normal que se idealize o passado. verdade que, em circunstncias normais, este no seria um passado to remoto a ponto de as pessoas se esquecerem das reais condies em que viviam. O ciclo militar se encerrou faz apenas nove anos, o que praticamente nada em termos histricos. Ocorre que a histria brasileira dos anos recentes to tumultuada, to acidentada, que parece que faz muito mais tempo. Nesse curto perodo de nove anos, o pas viveu a maior mobilizao popular de sua histria, em torno do grito de diretas j no que, de resto, era uma condenao explcita ao regime militar ento agonizante. Viveu tambm a derrota da emenda que tentava dar forma legal ao grito das diretas cantado nas ruas. Trocou a esperana no voto direto pela crena em que um presidente como Tancredo Neves, mesmo eleito indiretamente, devolveria horizontes a uma nao angustiada. Chorou, em seguida, a agonia e morte de Tancredo, levado a um hospital na vspera da posse para dele s sair para o tmulo. Viveu ainda a euforia e a frustrao do Plano Cruzado, as esperanas e decepes da Constituio-cidad, o encanto e o engodo de Fernando Collor, primeiro presidente eleito diretamente depois de 29 anos de silncio das urnas. uma histria to carregada de inusitados que, se fosse contada pela pena de um Gabriel Garca Mrquez ou qualquer outro autor do realismo mgico latino-americano, pareceria fico e no a mais pura e dura realidade. natural, portanto, que a sequncia de emoes fortes oferecida sociedade durante o curto perodo democrtico faa com que o ciclo militar parea ter sido melhor, mais tranquilo, mais prspero. Mais tranquilo, certamente foi num certo sentido. Imps-se, pela fora, a paz dos cemitrios, aboliu-se o dissenso, pela censura e pelo arbtrio. No se resolveu, evidente, um s dos inmeros problemas da sociedade, mas, ao suprimirem-se a discusso e o debate, parecia que os problemas inexistiam. Era mais fcil censurar o noticirio sobre o surto de meningite que ocorreu em So Paulo, no incio da dcada de 70, do que cuidar eficazmente da sade pblica como se o que no se pudesse noticiar de fato no existisse. Que o pas cresceu, e muito, durante o ciclo militar inegvel. Que esse crescimento beneficiou muito mais a minoria j rica, igualmente inegvel. Prova-o, de resto, o fato de que a sociedade comea a se mobilizar para tentar ajudar os 32 milhes de miserveis que so o alvo da campanha contra a fome. S a extrema m-f permitiria supor que esse lote de excludos de uma vida digna pode ser debitado exclusivamente na conta da democracia. Seja como for, crucial assinalar que no basta pregar as virtudes do regime democrtico. Mesmo que o autoritarismo tivesse sido um xito completo do ponto de vista econmico, seria inaceitvel porque a plena vigncia das liberdades pblicas uma caracterstica das sociedades modernas e civilizadas. O problema que a liberdade, por si s, no enche barriga, no diminui a excluso social, no abate a inflao, no fornece educao de boa qualidade, no d assistncia social e previdenciria a todos os que delas necessitam. A liberdade tem de ser, tambm, eficaz na resoluo dos problemas que angustiam os cidados. A democracia brasileira, di diz-lo, no conseguiu ainda mostrar que capaz de conciliar as liberdades pblicas com a soluo dos problemas bsicos da maior parte da populao. Trinta anos aps 1964, esse o grande desafio a enfrentar, para evitar que a democracia corra riscos. Se ela no conseguiu, ainda, dar conta das angstias do cotidiano, suprimi-la no seria a soluo, mas s a criao de ao menos mais um problema: a impossibilidade de expressar a angstia de cada um.
Nunca mais Aps trinta anos do regime militar, no surpreende a pesquisa do Datafolha revelando que boa parte da populao confessa ter vivido melhor naquela poca. Os saudosistas tendenciosos podem interpretar como sendo a vontade popular de voltar ao autoritarismo. A interpretao, porm, deve ser outra: que em tempos de crise costuma-se idealizar o passado. No se estranha que uma vivncia tumultuada nesse curto perodo de 9 anos de democracia pinte o perodo militar de cor de rosa. A tranqilidade do perodo s aparente. Como havia censura e represso, os descontentamentos no eram divulgados. O crescimento econmico do pas na poca, embora tenha existido, beneficiou a minoria rica. No entanto, no suficiente exaltar o perodo democrtico. Se com ele existe liberdade , mas h carncia alimentar, excluso social, inflao alta, m qualidade na educao e na sade pblica, falta democracia verdadeira. O necessrio dar eficcia democracia , no suprimi-la
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Neste frio e poludo agosto e no meio de uma frentica correria eleitoral, vale sublinhar os absurdos mais bvios desta campanha. O primeiro refere-se participao dos micropartidos nas eleies majoritrias, ridicularizando os chamados horrios gratuitos de rdio e TV. A nova lei eleitoral bem que tentou evitar isso, mas o Supremo Tribunal Federal houve por bem declar-la inconstitucional nesse aspecto. Essas candidaturas fictcias tambm dificultam a realizao de debates entre os candidatos que concorrem para valer, embaraando ainda mais o esclarecimento dos eleitores. O segundo absurdo o sistema eleitoral proporcional, que constrange os candidatos a deputados estaduais e federais a competirem com outros candidatos de seu prprio partido e a sarem catando votos em centenas de municpios. Em So Paulo, por exemplo, eles disputam os votos de 20 milhes de eleitores. Os custos financeiros de viagens e material de propaganda se multiplicam. Os eleitores, aturdidos com tantos candidatos, no conseguem fixar-se num nmero pequeno para comparao e escolha. Desanimam e inclinam-se para o voto branco ou nulo. Pior ainda, sendo obrigatrio o horrio gratuito geral tambm para os candidatos a deputado, o tempo disponvel para cada concorrente se torna nfimo e os programas infinitamente enfadonhos, como no poderia deixar de ser. Com um sistema distrital, haveria campanhas localizadas e mais baratas, melhor conhecimento dos pleiteantes pelos eleitores e horrios gratuitos nas rdios e TVs regionais, com poucos candidatos. A sim, fariam sentido. O terceiro absurdo a proibio de que membros de um partido possam falar no horrio gratuito dos candidatos de sua agremiao. Nem o presidente do partido pode! Uma coisa, correta, evitar programas custosos que vendem candidatos como sopa concentrada, sem mostrar os pleiteantes nem expor suas idias. Mas outra, bem diferente, cercear a apresentao das propostas partidrias. Um quarto absurdo, e aqui puxo brasa para minha sardinha, repartir o tempo dos candidatos ao Senado de forma igualitria e no proporcional representatividade de seus partidos e coligaes, como acontece com todos os demais candidatos. A lei, embora ambgua, por ter sido mal redigida, no obriga a esse tratamento discriminatrio, mas a Justia Eleitoral assim o interpretou. O resultado que, pela carncia de tempo, os candidatos a senador que disputam para valer ficam impossibilitados de explicar a que vm o que at parece bom para alguns. Em meio a tudo isso e tenso natural de qualquer campanha, h um fato que reconforta. Na eleio mxima, a de presidente, h uma boa polarizao que, parece, vai manter-se entre Fernando Henrique e Lula. Dois candidatos com passado limpo, compromissos democrticos slidos e elevada sensibilidade social. Isto um avano no Brasil. A diferena para a escolha entre um e outro deve ser procurada na capacidade de propor um programa concreto de governo, ao mesmo tempo ousado e realista, e de articular as alianas necessrias para garantir sua execuo. O leitor sabe minha avaliao sobre qual o candidato que pode fazer isso melhor, bem melhor.
O perodo de campanha eleitoral apresenta uma srie de defeitos. Por exemplo, permite que os micropartidos participem nas eleies majoritrias , desclassificando os horrios gratuitos, pois impossvel debater seriamente as questes importantes. Outro defeito a competio de deputados estaduais e federais com outros do mesmo partido. Obriga-os a uma caa de voto exaustiva, cara e sem proveito para o esclarecimento do leitor. O sistema distrital, com campanhas localizadas e mais baratas , com melhor identificao dos candidatos, resolveria. Outro desvio a proibio de membros do partido falar no horrio gratuito de candidatos da agremiao Pode-se acrescentar , ainda, a inconvenincia de candidatos ao Senado terem que repartir o tempo de forma igualitria e no de acordo com a representatividade de seus partidos . Foi assim que entendeu a Justia Eleitoral , e os pleiteantes com maior empenho no tm tempo para a exposio de suas idias. Em contrapartida, a disputa polarizada entre Luta e Fernando Henrique constitui uma prova de amadurecimento democrtico.
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Foi acionada h uma semana uma bomba-relgio que, sendo de fabricao americana, o Japo provavelmente nunca importaria. O artefato est programado para explodir a 30 de setembro se persistir o impasse nas negociaes comerciais entre os dois pases. Foi esse o prazo imposto ao Japo para reduzir o supervit com os EUA. O governo americano pressiona o japons para que aumente suas importaes, principalmente de equipamentos mdicos e de telecomunicaes. As negociaes se arrastam h mais de um ano e, por enquanto, no h perspectiva de que cheguem a um acordo. A ameaa americana de impor sanes, que poderiam vir na forma de tarifas alfandegrias mais elevadas sobre alguns produtos japoneses. Nessa hiptese, estaria declarada a guerra comercial. Os EUA alegam que o Japo discrimina produtos estrangeiros. O Japo mostra nmeros: sustenta que, no caso de equipamentos mdicos, 32% das compras do governo so de produtos importados, em comparao a 3% nos EUA. A disputa entre os dois pases extrapola o interesse bilateral por provocar tenso nas negociaes internacionais que procuram criar um ambiente de livre comrcio. Se a ameaa for cumprida, ser a primeira ao do gnero desde a assinatura da Rodada Uruguai, no incio do ano, quando se decidiu, no mbito do Gatt (Acordo Geral de Comrcio e Tarifas), os rumos do comrcio mundial. Uma eventual guerra comercial tambm no seria a melhor maneira de dar boas-vindas Organizao Mundial do Comrcio, que deve substituir o Gatt em janeiro. No igualmente de bom augrio para o comrcio internacional o fato de que, no mesmo 30 de setembro, os EUA vo anunciar uma nova verso da legislao que ficou conhecida como Super 301, que permite aos americanos retaliar contra pases que discriminem suas exportaes. No papel, a Rodada Uruguai conseguiu restringir as legislaes sobre dumping, s quais se recorria sem parcimnia para dar sustentao ao protecionismo. Na prtica, o lobby de empresas americanas continua acenando com a possibilidade de sanes contra o que considera ser comrcio desleal por parte de pases exportadores. Essa atitude de praticar o que critica nos outros mina a autoridade dos negociadores dos EUA. Para o Financial Times, os EUA esto encalacrados. Em editorial, o jornal britnico argumenta que o governo japons no tem condies de aceitar as exigncias americanas e que, portanto, cabe aos EUA encontrar uma sada para evitar que o impasse persista. O problema penetra na esfera poltica porque um dos pontos da plataforma de Clinton era exatamente resolver a disputa com o Japo, o que George Bush, seu antecessor, no conseguira. O fracasso de Clinton pode se espalhar pela sia, caso cumpra a ameaa de impor sanes. Os pases da regio no aprovam os mtodos de Washington e a deteriorao das relaes comerciais com esses parceiros seria desastrosa para a balana comercial americana. Por inabilidade no manuseio, a bomba-relgio pode acabar sendo detonada nas mos do fabricante.
EUA e Japo jogam um brao-de-ferro, que vem se arrastando h um ano. Os EUA cobram do Japo que aumente suas importaes de produtos norte-americanos. O prazo imposto vence dentro de praticamente um ms. E vem com a ameaa de aumento de tarifas alfandegrias para os produtos vindos do Japo. Diante da acusao de que discrimina produtos estrangeiros, o Japo mostra que, em equipamentos mdicos, suas importaes so de 32%. As ameaas norte-americanas vm em momento inoportuno: em substituio ao Gatt , est para ser inaugurada a OMC (Organizao Mundial do Comrcio) ; uma nova legislao que permite aos EUA retaliar contra pases que no importam seus produtos no soa bem para o comrcio internacional. A repercusso j freqenta a mdia. As empresas americanas pressionam , mas , segundo o Financial Times, os japoneses no tm como aceitar as exigncias, e os EUA devem pensar em outra sada. O fracasso de Clinton nesse caso pode espalhar-se pela sia, onde vrios pases no aprovam os mtodos de Washington.
mu94fe6-13
Rssia esconde o fantasma do fascismo Situao russa no deve fazer o Ocidente esquecer os riscos que enfrenta nos Blcs e na Europa Oriental JAMES A. BAKER 3. Depois do avano fascista e comunista verificado nas eleies russas de dezembro passado e da renncia de importantes reformistas, os especialistas j esto perguntando: Quem perdeu a Rssia? Mas essa no a pergunta certa. No a pergunta certa pela seguinte razo: os interesses norte-americanos na reforma russa so parte integrante dos interesses mais amplos dos Estados Unidos numa Europa segura, democrtica e prspera. Ao focalizar nossas atenes sobre Moscou em detrimento de nossos outros interesses, corremos o risco de deixarmos de consolidar as conquistas democrticas na Europa Central e Oriental. O infortnio que acometeu as reformas econmicas nos pases antes situados atrs da Cortina de Ferro alimentou uma alarmante ascenso do nacionalismo rancoroso -talvez at mesmo do neofascismo. O pesadelo que os Estados Unidos e seus aliados precisam evitar uma Europa fragmentada e fascista. No entanto, a maioria dos observadores s prestou ateno s ms notcias vindas de Moscou. Os dois grandes defensores das reformas, o primeiro-ministro, Iegor Gaidar, e o ministro das Finanas, Boris Fiodorov, renunciaram e o segundo dirigiu crticas mordazes a Strobe Talbott, o czar russo do Departamento de Estado que, dentro em breve, ser vice-secretrio de Estado. Ao que parece, uma casta de apparatchiks assumiu o controle do pas. Estes acontecimentos provocaram consternao nas capitais ocidentais, mas os comentrios sobre a perda da Rssia so enganosos, pelo menos por duas razes. Em primeiro lugar, no se perdeu a Rssia. Em termos microeconmicos, a situao econmica melhorou sob muitos aspectos de um ano para c. Mais de 75% das microempresas e das lojas varejistas da Rssia se encontram em mos de particulares. Mais de 25% da fora de trabalho est empregada no setor privado. Infelizmente, o crescimento do setor privado foi acompanhado por um aumento impressionante na criminalidade organizada -e violenta. A corrupo e o pagamento de propinas viraram instrumentos comerciais amplamente utilizados. Os reformistas, assim como os democratas em Washington, precisam comear a opor-se criminalidade tanto quanto seus adversrios se opem. O principal risco que se apresenta para as reformas est no front macroeconmico. Justamente agora os esforos de Fiodorov haviam comeado a render frutos. A inflao estava caindo. Na verdade, o fator principal que impedia que se colocasse a inflao sob controle total era -e ainda - o presidente do Banco Central, Viktor Geraschenko, um comunista renitente e adversrio acirrado das reformas. por isso que essas renncias so to inquietantes. So os integrantes do gabinete que determinam a poltica nacional. Com a sada dos reformistas e sua substituio por administradores vermelhos, sobraram poucas figuras nos altos escales de Moscou -com exceo do prprio Boris Ieltsin- que tenham qualquer compromisso comprovado com as reformas. As renncias lembram a de Eduard Chevardnadze ao cargo de ministro sovitico das Relaes Exteriores, em 1990. O presidente Mikhail Gorbatchov achou que poderia prosseguir com as reformas sem seu colega de confiana, mas aconteceu que a velha guarda tentou dep-lo num golpe. Os avanos conseguidos pelo Partido Liberal Democrata de Vladimir Jirinovski -que no liberal, nem democrtico e nem sequer um verdadeiro partido- nas eleies de 12 de dezembro so uma das causas fundamentais de boa parte da confuso atualmente reinante na Rssia. Eles revelam a extenso da oposio popular ao programa de reformas econmicas de Ieltsin e a disposio popular em buscar solues simplistas. No entanto, o povo russo tambm aprovou uma Constituio que concede poder real ao governo, no ao Parlamento. No inexato dizer que Boris Ieltsin tem em mos os instrumentos necessrios para acelerar as reformas. A verdadeira pergunta se ele tem a disposio -e a equipe necessria- para faz-lo. Em segundo lugar, o Ocidente no pode perder a Rssia. A Rssia pode ser perdida, mas apenas pelo povo russo e por seus lderes. A Rssia uma nao de mais de 150 milhes de pessoas, que abrange 12 fusos horrios. As grandes potncias so grandes principalmente porque determinam seus prprios destinos. Em ltima anlise, so as escolhas que os prprios russos fizerem que vo moldar seu futuro. Apenas eles podem perder uma nascente Rssia democrtica para o fascismo ou para o comunismo. O que o Ocidente pode perder, entretanto, a oportunidade de remodelar a Europa. A influncia ocidental sobre os acontecimentos na Rssia pequena, mas nossa influncia sobre os acontecimentos nas democracias emergentes da Europa Central e Oriental pode ser decisiva. Entretanto, os acontecimentos recentes na regio no tm conduzido mais a reformas do que os acontecimentos em Moscou. Em Belarus, o primeiro-ministro Stanislav Shushkevich, outro reformista engajado, foi derrubado pelo Parlamento por haver promovido as reformas de modo excessivamente agressivo e por no ter alinhado a poltica externa de Minsk com a de Moscou. Em Kiev, no est claro se o Parlamento ir apoiar integralmente o recente acordo nuclear tripartite. Isso, apesar da promessa do governo Clinton de dobrar a assistncia concedida ao governo ucraniano, para que ele faa exatamente aquilo que j duas vezes nos prometeu que faria. Enquanto isso, a inflao j atingiu a marca dos 100% mensais na Ucrnia, efetivamente solapando a independncia econmica da populao. E nas recentes eleies na Crimia, um secessionista russo conseguiu 73% dos votos. Mais a oeste, nos Blcs, a guerra continua -e em lugar de diminuir de intensidade, est aumentando. Os srvios bsnios instituram uma mobilizao geral. H informaes de que tanto a Srvia quanto a Crocia esto enviando unidades do Exrcito regular Bsnia. Numa viagem a Belgrado na semana passada, Jirinovski vinculou esses acontecimentos quando afirmou: A retirada acabou, estamos lanando uma ofensiva geral, que nossos inimigos nos temam... Que se contoram em Paris, Londres, Washington e Tel Aviv. A viagem de Jirinovski aos Blcs simboliza o perigo que confronta o Ocidente. Devemos lev-lo a srio -tanto pelo que ele diz, quanto por onde ele o diz. Atravs de suas palavras, Jirinovski nos revela contra o qu ele . Com exceo da limpeza tnica srvia, no est claro o que defende. Ele contra a democracia, contra o livre mercado, contra o Ocidente e contra os no-russos e no-brancos dependendo da platia que o escuta. A frustrao com as perdas da Rssia sua fora motriz, assim como o ressentimento contra aqueles que alegadamente as causaram: os ocidentais, os capitalistas, os judeus. Jirinovski um fascista puro e simples. A nao suprema; o indivduo, subserviente. Para ele, ser russo uma condio intrinsicamente boa. Ser qualquer outra coisa uma condio intrinsicamente m a no ser que, com objetivos tticos, ele queira unir os russos e os srvios numa irmandade eslava ou os russos aos europeus e americanos brancos, contra os negros. Igualmente inquietantes so os lugares onde ele vem fazendo seus pronunciamentos. Na semana passada ele encontrou uma platia receptiva na Srvia. Ele e o homem-forte da Srvia, Slobodan Milosevic, so sob muitos aspectos irmos de alma. Ambos se alimentam de um hipernacionalismo que combina autoritarismo no interior do pas com o desprezo por tudo o que estrangeiro. O perigo que os Milosevic e Jirinovski continuem a pregar sua mensagem de intolerncia e dio, chegando at mesmo a conspirarem juntos, pressionando outros dirigentes a defenderem seus povos. Em pouco tempo, o etnocentrismo, e no a democracia, poderia se transformar no princpio organizador da regio. A histria nos diria que isso provvel. Isso poderia levar s seguintes consequncias: A Srvia poderia estender sua limpeza tnica aos albaneses em Kossovo e Sandjak e aos hngaros em Vojvodina. Poderiam crescer as tenses entre a Grcia e a Albnia sobre os albaneses j expulsos da Grcia e os 60 mil a 300 mil gregos que vivem na Albnia. (O litgio j to grande que a Grcia e a Albnia sequer conseguem chegar a um acordo sobre o nmero verdadeiro.) Essas tenses iriam provavelmente ter ecos na Turquia onde haver exortaes pela defesa dos albaneses, em sua maioria muulmanos, alm das aproximadamente 800 mil pessoas etnicamente turcas que vivem na Bulgria. Os nacionalistas hngaros poderiam chegar ao poder, com base em promessas de proteger os mais de 4 milhes de hngaros tnicos que vivem em pases vizinhos. claro que as tenses pesam pouco quando comparadas com os potenciais conflitos envolvendo os 25 milhes de russos que vivem no exterior prximo. evidente que os Blcs so um ponto explosivo. Mas tambm o so o Cazaquisto e o leste da Ucrnia -onde vivem muitos russos e onde ainda esto muitas armas nucleares. Em suma, os interesses norte-americanos na Europa e na Eursia abarcam mais do que quem faz o que a quem dentro dos muros do Kremlin. Nem todos os problemas na Europa podem ser resolvidos atravs da linha telefnica direta Moscou-Washington. Nas prximas semanas, o presidente Bill Clinton e seus principais assessores precisam formular e responder cinco perguntas. Primeiro: como pode o Ocidente conter o conflito nos Blcs e impedir que ele se transforme numa ampla guerra dos Blcs? O Ocidente pode no ser capaz de parar a guerra na Bsnia por um custo aceitvel, mas, com deciso e previso, pode impedir que outra guerra tenha incio na Macednia, na Albnia, na Hungria e em outros Estados vizinhos. Segundo: como pode o Ocidente integrar aquelas democracias da Europa Central e Oriental que satisfazem critrios objetivos (por exemplo, a Polnia, a Hungria, a Repblica Tcheca), para que se tornem membros integrais das instituies ocidentais? A Parceria pela Paz uma fuga, uma maneira de desviar-se da questo, no uma resposta. Terceiro: como podemos promover a independncia dos Estados ex-soviticos que no so russos e, ao mesmo tempo, trabalhar pela desnuclearizao daqueles Estados? Clinton perdeu uma boa oportunidade de defender a democracia quando deixou de visitar o Quirguisto. Sob a liderana de Askar Akaiev, esse pas est caminhando em direo democracia e ao livre mercado e no fez promessas para depois romp-las. Quarto: o que pode ser feito para apoiar a democracia e o livre mercado na Rssia agora que a maioria dos reformistas saiu do governo? Esperemos que o Ocidente no entre em pnico e corte a assistncia aos reformistas nos nveis locais e no setor privado, que agora precisam desesperadamente de nossa ajuda. Finalmente, o que Washington pode fazer para aumentar a coordenao e a cooperao entre o Ocidente e o prprio Ocidente? Se os Estados Unidos e seus aliados europeus ocidentais no conseguirem chegar a um acordo sobre uma trajetria a seguir, ento uma Europa inteira e livre certamente se perder para uma Europa fragmentada e fascista. A pergunta, ento, no ser Quem perdeu a Rssia?, mas Quem perdeu a Europa? JAMES A. BAKER 3. foi secretrio de Estado dos EUA durante o governo de George Bush. Copyright Los Angeles Times Syndicate. Traduo de Clara Allain
Rssia esconde o fantasma do fascismo Situao russa no deve fazer o Ocidente esquecer os riscos que enfrenta nos Blcs e na Europa Ocidental JAMES A.BAKER Depois do avano fascista e comunista nas eleies russas de dezembro passado e da renncia de importantes reformistas, os especialistas perguntam: Quem perdeu a Rssia? No a pergunta correta, pois os interesses maiores dos EUA esto voltados para uma Europa equilibrada , democrtica e prspera. Os azares das reformas econmicas ocorridas nos ex-pases da cortina de ferro alimentaram um nacionalismo rancoroso . Isso provoca pesadelo nos Estados Unidos e aliados , que no querem uma Europa fragmentada e fascista. Ainda quanto pergunta,pode-se dizer que, em primeiro lugar, no se perdeu a Rssia. Sob o aspecto microeconmico a situao melhorou , com mais de 75% das microempresas nas mos de particulares e 25% da fora do trabalho empregada no setor privado. verdade , esse crescimento veio acompanhado por um aumento enorme da criminalidade organizada . O risco maior para as reformas est no mbito macroeconmico. O descontrole da inflao teve como seu maior patrocinador o presidente do Banco Central, Viktor Geraschenko, comunista renitente e anti-reformista. A renncia de integrantes do gabinete, responsveis pela poltica nacional, causa inquietao. Tambm os avanos nas eleies de 12 de dezembro conseguidos pelo Partido Liberal Democrata de Vladimir Jirinovski constituem uma das causas das confuses reinantes na Rssia. O Ocidente no pode perder a Rssia. Se a perda acontecer em caso de fenecimento da nascente democracia e um desvio para o fascismo ou comunismo-- , que os responsveis sejam o prprio povo e suas lideranas. Mais do que o caso russo, o Ocidente no pode deixar de fazer remodelar a Europa , principalmente a Central e Oriental . Entretanto acontecimentos recentes na regio no so animadores. Em Belarus, o primeiro ministro Stanislav Shushkevich , reformista comprometido, foi derrubado pelo Parlamento ; em Kiev, no est evidente se o Parlamento vai apoiar integralmente o recente acordo nuclear tripartite , apesar da promessa de Clinton de dobrar a assistncia ao governo da Ucrnia , onde a inflao j atingiu 100% mensais. A viagem de Jirinovski aos Blcs simboliza o perigo para o Ocidente, pois ele um fascista, para quem a nao suprema e o indivduo , subserviente; para quem ser russo fundamentalmente bom e no ser fundamentalmente mau. O seu encontro com Slobodan Milosevic, homem-forte da Srvia uma combinao de ultranacionalismo autoritrio xenfobo. O perigo ser maior se eles cooptarem adeptos para a sua causa. Alm dos Blcs , o Cazaquisto e o leste da Ucrnia so pontos explosivos. Como os interesses americanos na Europa ultrapassam a viabilidade de serem resolvidos atravs do telefone vermelho, convm que o presidente Clinton e assessores formulem e respondam questes como estas: Como pode o Ocidente reprimir o conflito nos Blcs e impedir que ele se transforme numa ampla guerra? Como pode o Ocidente harmonizar as democracias da Europa Central e Oriental ( por exemplo, Polnia, Hungria, Repblica Tcheca), para que se tornem membros das instituies ocidentais? O que pode ser feito para apoiar a democracia e o livre mercado na Rssia agora que a maioria dos reformistas saiu do governo? O que Washington pode fazer para incrementar a coordenao e a cooperao entre o Ocidente e o prprio Oriente?
op94ab04-a
Sobre uma crise real, prolongada e devastadora, montou-se uma crise artificial e farsesca. Uma constitui a caricatura da outra. So aspectos dramticos da desorientao que cega as elites das classes dominantes, que vivem no Brasil, mas enxotam do pensamento as necessidades pungentes do povo. A crise real exprime a multiplicao geomtrica de ardis, de cumplicidades e de malogros dos que mandam. Agem primeiro, em funo de interesses mesquinhos, e descobrem depois que, ao tosquiar, no alteram suas posies. Mantm-se numa subordinao servil ao mercado mundial, em troca de compensaes fictcias das naes centrais e do capital financeiro internacional. Mostram-se incompetentes para suplantar-se e construir projetos nacionais de desenvolvimento econmico vinculados universalizao da cidadania e consolidao de uma Repblica democrtica. A crise artificial seria o lado pitoresco de um pas que no srio entre os que desfrutam, governam e administram. Revelam competncia para expandir suas fortunas e monopolizar o poder absoluto, amordaando o Estado, submetendo s conciliaes, que reproduzem e ampliam a cultura das aparncias, as bases civis de uma sociedade moderna. A crise artificial equivale a um jogo de cartas marcadas. Os que cedem aos parceiros obtm vantagens econmicas e polticas polpudas. Ela opera como um artifcio e, no fim, se o desgoverno se manifesta, fundamenta e justifica a proclamao de uma crise real explosiva. Nos dias que correm, confrontamo-nos com essa superposio. Um presidente excntrico nega seus valores e as promessas improvisadas para exibir, em todo o esplendor, um poder que no possui, que lhe escapa entre os dedos como se fosse gua ou areia. O governo identifica-se com os pobres, porm pratica uma poltica para as aves de rapina do grande capital nacional e estrangeiro. Enquanto os lucros voam para o cu, os salrios so soterrados. Os planos econmicos brotam do imaginrio de especialistas respeitados e eruditos. Mas aulam as foras naturais da economia, reforando a crise real e inchando a crise artificial. Para responder ao terremoto e desgastar um candidato Presidncia com probabilidades de vitria, fabrica-se um candidato da ordem, sob o faniquito do patronato e o terror dos liberais, conservadores e reacionrios. H uma luta entre os trs Poderes? Os militares se aprestam para remover os riscos sinistros do apodrecimento das instituies sacrossantas? Os partidos da ordem (infelizmente com o PSDB frente) movimentam-se para a restaurao? A reforma constitucional ir resolver problemas candentes imediatos? Pura fantasia! Nem a crise real nem a reforma estrutural do Estado e do governo atraem ao eficaz. Trata-se de um aproveite quem puder. O que vem do alto um esforo insensato de soldar o pas a grilhes despedaados, fantasmas do cinema mudo.
O Brasil convive com a superposio de uma crise artificial sobre uma crise real. O efeito disso desastroso para o pas. A crise real consiste , em resumo, na excluso significativa da maior parte da populao. A artificial resultado da atuao das elites, que buscam o prprio interesse a qualquer preo: mantm-se submissas ao mercado internacional em troca de falsas compensaes; expandem suas fortunas habilmente , ainda que s custas de trocas de favores esprias. O governo , que subordinado pela classe dominante, compe com ela essa farsa , assumindo aparentemente a causa dos pobres. E quando essa crise artificial se torna real, vm os planos econmicos para sanear, ou as manobras para anular algum candidato Presidncia no vinculado ao sistema. Se o desconcerto cria um clima de luta entre os Poderes, cada um deles toma providncias para no mexer nas estruturas.
co94ab03-16
Revistas 'vendem' brasileiras no Japo Mercado de prostituio no Japo v crescer participao de brasileiras, que usam anncios com fotos em revistas THAS OYAMA Da Reportagem Local Alm dos dekasseguis (termo que os japoneses usam para identificar os descendentes nascidos no exterior e que vo trabalhar em seu pas), o Brasil tambm exporta prostitutas para o Japo. O mercado de prostituio no pas, tradicionalmente dominado por coreanas e filipinas, conta com um nmero cada vez maior de jovens nascidas no Brasil. Em pelo menos trs revistas pornogrficas japonesas que oferecem servios de massagem e sexo, as brasileiras so responsveis por cerca de 30% dos anncios. Chegam a cobrar at US$ 500,00 por programa (sexo pago). A polcia japonesa no quis fornecer dados sobre a participao das brasileiras no mercado, mas confirma que tem crescido nos ltimos anos. A Polcia Federal brasileira tem a mesma avaliao. A entrada de brasileiras no mercado tem acontecido, basicamente, de trs formas. Dekasseguis que vo ao pas trabalhar em diversas atividades, s vezes perdem o emprego e acabam se prostituindo. Outras, muitas vezes no-descendentes de japoneses, deixam o pas para trabalhar como prostituta de luxo. Algumas destas chegam a se casar com nikkeis (descendentes de japoneses nascidos fora do pas) brasileiros para poderem obter visto de trabalho temporrio. O visto para turistas de 90 dias, mas a lei japonesa concede o visto de trabalho de at trs anos para nikkeis e suas mulheres. E existem as que viajam com a expectativa de trabalhar como bailarinas sem saber a atividade que as aguarda. Vo ao Japo a convite de agncias que dizem promover shows brasileiros l. Acabam em boates de terceira categoria, onde tm que atuar como hostess (anfitri, em ingls). No Japo, o termo hostess usado para designar mulheres que trabalham em bares noturnos com a funo de conversar com clientes, estimulando-os a consumir bebidas alcolicas. Eventualmente, aceitam fazer programas. S na cidade de Yokohama (a segunda do pas em nmero de habitantes) existem cerca de 6.000 estabelecimentos deste gnero. Trs bailarinas profissionais ouvidas pela Folha relataram terem sido vtimas do mesmo golpe. Foram ao Japo entre 89 e 93, a convite da mesma empresa, a Berenice Promoes, que fica em Santa Ceclia (centro de So Paulo). Uma delas, Marisa (no quis dar o sobrenome), 24, embarcou para Nigata (cidade prxima a Yokohama) em julho de 93, com a promessa de que faria shows de samba e ganharia US$ 5.000 por ms. Quando vi a casa em que trabalharia, desconfiei. Nem palco tinha, conta ela. Durante as trs primeiras noites, os donos alegavam que o show havia sido adiado. Ao mesmo tempo, pediam que ela induzisse os clientes a consumir. No me diziam para sair com os fregueses, mas sei que algumas meninas faziam isso. Cheguei a ver garotas fazendo sexo oral com clientes dentro do bar, afirma. Sua colega Gisela (no quis dar o sobrenome) viajou nas mesmas condies e confirma o relato. As duas dizem que telefonaram para a empresa no Brasil procurando ajuda e no foram atendidas. A bailarina A.M.S., 34, viveu experincia parecida em 89. Contratada pela mesma empresa, supostamente para shows de chorinho e samba, foi enviada para uma casa de hostess, em Osaka. Recusou-se a ficar l e foi transferida pela agncia para outro local, de boa categoria, onde atuou como bailarina. A satisfao foi passageira. A estratgia foi alternar casas idneas com de prostituio disfarada. Voltei aps um ms, diz. A bailarina move ao trabalhista contra a agncia. O processo ainda est em andamento. Berenice Nascimento, proprietria da empresa, nega as acusaes. Afirma que a agncia tem 15 anos e promove intercmbio cultural e artstico com o Japo, levando bailarinas profissionais que atuam em hotis e casas noturnas respeitadas. Diz que no contrato est terminantemente proibida qualquer atividade ligada prostituio. Afirma no trabalhar com hostess e desconhecer qualquer episdio de bailarinas foradas a trabalhar nessas casas.
Revistas vendem brasileiras no Japo Mercado de prostituio no Japo v crescer participao de brasileiras , que usam anncios com fotos em revistas THAS OYAMA -- Da reportagem local Alm de dekasseguis , o Brasil exporta prostitutas para o Japo. No pas, este mercado cresce muito , com progressiva participao de brasileiras, que ocupam 30% dos anncios em pelo menos trs revistas japonesas. Chegam a cobrar at US$500,00 por programa. A polcia japonesa no quis fornecer dados , mas confirma o crescimento nos ltimos anos. a mesma posio da Polcia Federal. O procedimento para a entrada no mercado no normalmente segue trs vias.Dekasseguis que foram em busca de trabalho e depois se prostituem aps perder o emprego. Outras, normalmente no descendentes, vo como prostitutas de luxo. Ainda h as que vo trabalhar como bailarinas, a convite de agncias promotoras de shows brasileiros. Acabam em boates de terceira categoria como hostess , termo que no Japo usado para designar mulheres que trabalham em bares noturnos para conversar com clientes e para estimula-los a beber. Trs bailarinas entrevistadas pela Folha experimentaram praticamente o mesmo roteiro. A convite da empresa, Berenice Promoes , para fazer shows ---uma delas com a promessa de ganhar US$5.000 por ms --- sentiram-se totalmente ludibriadas . Uma diz que no era pressionada a sair com fregueses , mas que chegou a ver meninas fazendo sexo oral. Berenice Nascimento , proprietria da empresa, nega as acusaes. Sua empresa diz elapromove intercmbio cultural e artstico com o Japo , levando bailarinas para apresentaes em casas noturnas respeitveis.
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BRASLIA - O presidente da [Vicentinho e Hernando Uchoa Lima] Central nica dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, no confia no presidente Fernando Henrique Cardoso. Se me perguntarem se confio no presidente, eu digo que no. Porque a postura do governo tem sido a de quebrar acordos, disse Vicentinho, ontem, durante palestra na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Braslia, quando tambm reclamou das negociatas, realizadas a portas fechadas. Vicentinho se referia aos pontos da reforma da Previdncia, que haviam sido acertados com a CUT, mas acabaram no sendo includos no parecer do relator, Euler Ribeiro (PMDB-AM). Se este fato episdico ou no, eu no sei. Eu s toro para que o presidente seja sincero, prestigie esse momento de negociao e leve a discusso para a prtica. A sim, eu poderei dizer que confio no presidente, afirmou. Dizendo-se muito decepcionado com a atuao de Euler Ribeiro - que definiu como um deputado que foi mordido pela mosca azul e est fazendo muita besteira -, Vicentinho passou cerca de uma hora discutindo a reforma da Previdncia com os conselheiros da OAB. Vocs, advogados, sabem que toda negociao tem uma prtica. Mas esta foi horrvel. Incluiu uma negociao sria com as portas abertas e, mais tarde, as negociatas. Se o relator tivesse colocado no relatrio o que foi acertado naqueles dias, tinha ficado tudo certo, afirmou. Mal-estar - Mesmo aceitando conversar com o governo, Vicentinho fez questo de mostrar, no Congresso, sua postura oposicionista. Quando entrou no gabinete do lder do PFL, Inocncio Oliveira (PE), o presidente da CUT provocou: Inocncio, o homem que de inocente s tem o nome. Diante do mal-estar, o deputado Jos Genono (PT-SP), que o acompanhava, apelou para a diplomacia: Mas isso no bom sentido, lgico. Inabalvel, Inocncio riu e respondeu: Mesmo assim, isso muito bom para mim. Minutos depois, os fotgrafos pediram que Vicentinho apertasse a mo de Inocncio. O presidente da CUT voltou carga: Este o encontro de dois nordestinos, um rico e outro pobre. Inocncio reagiu: No, no, so dois pobres. Apesar das estocadas, Vicentinho ainda conseguiu arrancar elogios de Inocncio: Esse um cabra bom, que lutou muito e, para chegar onde chegou, teve que passar por muita dificuldade, reconheceu o lder do PFL. Vicentinho tambm procurou o presidente da Cmara dos Deputados, Lus Eduardo Magalhes (PFL-BA), para expressar sua preocupao com o relatrio de Euler. Este um tema extremamente preocupante. Vamos ler o relatrio todinho e j marcamos uma reunio com Lus Eduardo para amanh (hoje), para dizer o que est errado, afirmou o presidente da CUT. Vicentinho mandou ainda um recado ao ministro da Administrao e Reforma do Estado, Lus Carlos Bresser Pereira, que j avisou que no quer negociar a reforma administrativa com a CUT, porque as posies da central so totalmente opostas s do governo. Quanto mais ele falar que no quer discutir com a gente, mais a gente vai falar que quer negociar esta reforma, afirmou o sindicalista. Para Vicentinho, participar dessas discusses era um sonho antigo, do qual ele no vai abrir mo. H muitos anos espervamos a possibilidade de dar palpite nos assuntos que so importantes para toda a sociedade brasileira. Como em Braslia tudo importante, queremos dar palpite em tudo, concluiu.
Durante palestra na sede da OAB, Vicentinho , presidente da CUT, declarou aos reprteres que no confiava no presidente Fernando Henrique, porque os acordos acertados com a sua entidade, no constaram no relatrio de Euler Ribeiro. Aos conselheiros da OAB ele disse que o que tinha sido negociado a portas abertas foi vtima de negociatas depois. Apesar de sua disposio de conversar com o governo, Vicentinho no foi amvel com o lder do PFL, Inocncio de Oliveira, no Congresso. Disse a ele que de inocente s tinha o nome--- farpa logo amenizada por Genono. Vicentinho ainda voltou carga, mas Inocncio no reagiu. . O presidente da CUT ainda procurou o presidente da Cmara dos Deputados, Lus Eduardo Magalhes (PFL) , para falar de sua preocupao com o contedo do relatrio e marcou com ele uma reunio para o dia seguinte. Ao ministro da Administrao e Reforma do Estado, Bresser Pereira, que no queria negociar com a CUT por causa da diferena de posies, mandou o recado de que insistiria na proporo da recusa---pois era um momento apropriado para tratar de questes importantes para a sociedade brasileira.
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O senador Jarbas Passarinho (PPR-PA) est com a corda toda. Aos 74 anos, em boa forma fsica e mental, conquistou at uma namorada de 39, a bonita Armnia, gerente do Banco do Brasil. Na presidncia da CPI, somou mais elogios que crticas, alm da sbita popularidade, a maior de sua vida pblica, iniciada ao entrar no Exrcito, em 1943, de onde saiu coronel em 1964 para ser governador binico do Par. Passarinho cumprimentado no aougue, na rua, no cinema. Quando foi a So Paulo gravar entrevista no programa de J Soares, ficou surpreso com o modo como foi recebido pelas pessoas no aeroporto de Cumbica. Muitos saam da fila para dizer que continuasse o trabalho e pedir autgrafos. Estou at preocupado, diz Passarinho. Se essa CPI no der resultado, em vez de palmas vou levar um soco na rua. Na CPI, sua atuao foi ao mesmo tempo enrgica e bem-humorada. As piadas e citaes variaram do erudito simples galhofa. Como no dia em que resolveu definir a CPI: Ela funciona como um suti. Corrige os desviados, contm os exaltados e revela os decados. Experiente, fez vazar algumas informaes para a imprensa embora mantivesse a proibio aos demais parlamentares. Chegou a trancar um documento em seu cofre para impedir sua divulgao. No trato com a mdia eletrnica, chega ao requinte de carregar no bolso do palet um pedao de cartolina branca. Sempre que uma emissora de TV deseja entrevist-lo, expe o carto e oferece: Quer bater o branco? Os cinegrafistas lhe so gratos. A filmagem de uma superfcie branca indispensvel para o ajuste de cores das cmeras. J na reta final, surgiram as maiores crticas. Nos bastidores, alguns deputados diziam que estava protegendo a Fundao Roberto Marinho. Outros se queixavam que teria dificultado as investigaes em torno do governador Joaquim Roriz. De viva voz, os mesmos parlamentares afirmavam apenas que conduziu bem os trabalhos. A atuao de Passarinho na CPI ajuda a deixar cada vez mais distante o tempo dos bilhetes do SNI alertando: Iminente sequestro. Era o perodo ps AI-5, que o senador assinou como ministro do Trabalho de Costa e Silva. Curiosamente, mesmo quem sofreu naquela poca no guarda mgoa dele. No tenho rancor, diz Maurlio Ferreira Lima (PSDB-PE), cassado pelo AI-5. O ex-guerrilheiro Jos Genono (PT-SP), que trocou presentes com Passarinho no final do ano, conta que a ligao entre os dois comeou durante o Congresso constituinte, quando o senador presidiu a subcomisso do Estado e Foras Armadas. Ele imparcial quando preside, eu disputava com Fiuza e ele soube conduzir muito bem, diz Genono. Os dois s evitam conversar sobre guerrilha do Araguaia, para evitar constrangimentos. Uma qualidade que todos reconhecem em Passarinho, alis, que sempre assumiu ter sido um homem do regime. Defende o Exrcito com unhas e dentes e, na reserva j h 29 anos, tambm fala em nome dos cidados comuns. H um ms, perguntado sobre uma suposta obtusidade dos homens de farda por um reprter, respondeu com uma de suas tiradas filosficas: Os militares pensam que so monopolistas do patriotismo e os civis pensam que so monopolistas da inteligncia.
Ainda vigoroso nos seus 74 anos a ponto de conquistar uma namorada de 39, o senador Jarbas Passarinho tambm conta pontos na conduo da CPI, a ponto de at estranhar a sbita popularidade. A sua formao militar , certamente, deve estar contribuindo na sua gesto enrgica da CPI. Habilidoso tambm no trato com a imprensa , chegou a vazar algumas informaes a reprteres , ao mesmo tempo que as proibia aos parlamentares. Parece ter conquistado o senso poltico civil e desfeito da hierarquia autoritria da caserna , de onde est afastado h 29 anos. J iam distantes os tempos do SNI em que atuou. Apesar de discordncias da sua atuao na CPI, os parlamentares , ao vivo, elogiavam a conduo dos trabalhos. Assim como os cassados da poca da ditadura militar no guardavam mgoas. At o ex-guerrilheiro Jos Genoino fala da sua imparcialidade na presidncia da submisso do Estado e Foras Armadas. Outra reconhecida qualidade sua a clara definio de que lado estava; nunca escondeu sua anuncia ao AI-5 e sua afinidade com os ideais do Exrcito .
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Carta de intenes O discurso de posse do embaixador Rubens Ricupero como ministro da Fazenda uma pea de qualidade e densidade, caractersticas que vinham se tornando raras no Brasil. Ainda assim, contm passagens que merecem reparos. O aspecto mais positivo do discurso o de que, embora seu tempo no ministrio seja curtssimo (apenas nove meses), nem por isso Ricupero limitou-se s questes imediatas agora colocadas sob sua responsabilidade. Ao contrrio, ousou esboar as linhas gerais de um modelo para o Brasil do futuro. No um modelo pronto e acabado, mas, ao menos, os conceitos essenciais em torno dos quais deve-se tentar a reconstruo de uma nao esgarada pelas dificuldades econmicas e polticas e especialmente por uma situao social aviltante. Sob esse ponto de vista, merecedor de aplauso o fato de Ricupero detectar qual o problema central do mundo e do Brasil, jamais resolvido pelas economias socialistas nem pelas de mercado: como desenhar um sistema produtivo que assegure a prosperidade sem excluses, onde o pleno emprego seja a situao normal, que no necessite conviver com ciclos de desemprego elevado e desumano. Esta Folha fica muito vontade, de resto, para apoiar essa observao, medida que ponto de vista muito parecido foi externado no editorial E a Terra era redonda, publicado na ltima tera-feira. igualmente elogivel o fato de o novo ministro sepultar o conceito de estabilidade da economia como um fim em si mesmo. Apenas mentes ensandecidas poderiam ser contra a estabilizao econmica que o pas persegue h tanto tempo. Mas s os conformistas e os medocres poderiam aceitar que, alcanada a estabilidade, a tarefa estaria concluda. Ricupero no se incluiu entre os conformistas, ao menos na retrica, ao dizer que a estabilidade no um fim em si mesmo, mas a condio para o crescimento durvel. Mais ainda, o ministro chegou a desenhar um trip para um projeto de Brasil: Uma economia em crescimento sustentado, mudanas sociais aceleradas e uma plena incorporao dos custos ecolgicos para melhorar a eficincia e a qualidade de vida. Ricupero acerta de novo ao atacar uma das questes centrais que precisam ser equacionadas para a indispensvel reorganizao do Estado. Restabelecer a dignidade da funo pblica e rejuvenescer o Estado federal, como prope o ministro da Fazenda, no s necessrio como urgente. O caminho apontado tambm parece adequado. Muita coisa pode e deve ser repassada aos Estados e municpios atravs da descentralizao ou iniciativa empresarial, mediante vigorosa privatizao, defende Ricupero. O binnimo descentralizao-privatizao, ainda mais quando acompanhado do termo vigoroso, irrepreensvel. Cabe ressalvar, em todo caso, que, no governo Itamar, a privatizao esteve longe de ser vigorosa. A lgica a sustentar a privatizao surge, cristalina, no discurso: como o Estado perdeu a capacidade de poupar e vem h muito se endividando para cobrir despesas de custeio, somente a privatizao poder permitir que os escassos recursos disponveis se destinem s reas essenciais como educao, sade, saneamento, segurana. importante lembrar, a propsito, que, na campanha presidencial anterior, em 89, esta Folha publicou uma srie de reportagens cuja rubrica (Menos governo, menos misria) sintetizava essa idia. Pena que, transcorridos cinco anos, a tese tenha de ser repetida porque nada se fez nessa direo. H, no entanto, passagens que no podem ficar sem srios reparos. O ministro confundiu a estabilizao com o Plano FHC, que, alis, ele prefere que seja chamado de PPB ou plano do povo brasileiro. Que a estabilizao uma tarefa de todos, no resta dvida. Enquanto a sociedade no se convencer de que ela tambm responsvel, dificilmente se atingir a estabilidade. Mas assume caractersticas algo imperiais a exigncia do ministro de que cada brasileiro, sem exceo, assuma o plano como coisa sua, como responsabilidade prpria, pessoal e intransfervel. O plano econmico, embora tenha sido elaborado de uma forma bem mais aberta na comparao com os anteriores, nem por isso deixa de ser obra de um pequeno grupo de especialistas. sociedade est cabendo apenas adaptar-se a ele, com maiores ou menores traumas, conforme a situao peculiar de cada pessoa ou setor da economia. Exigir a adeso incondicional equivale a decretar que, fora do Plano FHC ou PPB, no h salvao, o que altamente questionvel, para dizer o mnimo. Da mesma forma, erra o ministro na atribuio de culpas pelo estado de inflao crnica que devasta o pas. Ao dizer que o brasileiro o povo de maior indulgncia com a inflao, Ricupero no deixa de ter certa razo, ante o silncio da sociedade sobre o fenmeno. Mas, com essa frase, o ministro universaliza as culpas, o que a maneira mais simples de diluir as verdadeiras responsabilidades e ocultar os verdadeiros responsveis. S uma sociedade masoquista contribuiria, intencionalmente, para instaurar e manter uma situao de superinflao. A inflao brasileira est longe de ser culpa de todos por igual. Ela , acima de tudo, de responsabilidade do prprio Estado, ainda que a omisso da sociedade tenha sua parcela de culpa. Sucessivos chefes de governo estimularam ou no coibiram o descontrole das contas pblicas, combustvel maior da fogueira em que arderam vrias moedas nacionais. Mas culpa tambm de uma elite insensvel, que ou lucra com a inflao ou, no mnimo, se resguarda de seus efeitos deletrios porque tem sua disposio mecanismos defensivos. A maioria da populao paga a conta, s em parte devida a seu silncio. injusto, portanto, responsabilizar a todos igualmente. No balano geral, de todo modo, o discurso positivo. As prioridades colocadas so essencialmente corretas e os conceitos, estruturais ou conjunturais, so apropriados. Mas no basta. O prprio discurso lembra que, nove anos atrs, o presidente Tancredo Neves cunhou a expresso proibido gastar, que Ricupero agora retoma como uma espcie de lema de sua gesto. A lembrana ilustrativa do enorme fosso que tem existido entre a palavra dos governantes e a prtica dos governos. Se Ricupero conseguir, mesmo no seu curto perodo de gesto, ao menos reduzir o tamanho do fosso entre a boa retrica e a m prtica, j ter prestado inestimvel servio ao pas. Mas certo que cabe tambm a cada brasileiro cumprir a sua parte, com o que se tornar menos distante e menos utpica a radiosa manh da ressurreio de um Brasil estvel e prspero, justo e generoso, que o ministro encomendou a Deus. Frase por frase, melhor a que diz ajuda-te que Deus te ajudar. Afinal, a poltica essencialmente humana e, de boas intenes, o inferno est cheio.
Carta de intenes O discurso de posse de Rubens Ricupero como ministro da Fazenda expressa qualidades e densidade que esto rareando no Brasil. Mesmo assim, alguns pontos merecem reparos. O aspecto mais positivo que, apesar do seu curtssimo tempo pela frente, ousou delinear um modelo para o futuro do pas, com conceitos fundamentais para a reconstruo de uma nao corroda por dificuldades econmicas e polticas e , fundamentalmente, por uma pssima situao social. Quanto a esse aspecto, merece aplausos seu enfoque do problema crucial do Brasil e do mundo: a competncia de assegurar um sistema produtivo sem excluses, em que o pleno emprego seja a constante. Tambm elogivel sua afirmao de que a estabilidade no um fim em si mesmo, mas a condio para o crescimento durvel. Volta a acertar quando questiona problemas centrais que dificultam a reorganizao do Estado. Para restabelecer a dignidade da funo pblica e rejuvenescer o Estado federal , prope a descentralizao com repasses aos Estados e municpios e uma rigorosa privatizao. Quanto a esta , assim se expressa: como o Estado perdeu a capacidade de poupar e vem h muito se endividando para cobrir despesas de custeio, somente a privatizao poder permitir que os escassos recursos disponveis se destinem s reas essenciais como educao, sade, saneamento, segurana. Merece reparos, no entanto, sua confuso entre estabilizao e Plano FHC .Mesmo admitindo a responsabilidade da sociedade civil para o sucesso do plano, e a sua elaborao mais aberta, no h como negar que produo de uma equipe de especialistas. A responsabilidade do povo pelo sucesso do plano, portanto, limitada. O peso maior certamente do Estado . Historicamente se viu que chefes de governo estimularam ou foram reticentes quanto farra com dinheiro pblico. Tambm a culpa maior cabe elite insensvel , que sempre pode lucrar com a inflao ou defender-se dela. Feitas as ressalvas, o discurso do ministro positivo. As prioridades so na essncia corretas , e os conceitos estruturais ou conjunturais--- so adequados.
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Tudo em famlia MARCELO LEITE Quando escrevi minha primeira coluna como ombudsman, publicada no ltimo dia 2, no imaginava que uma simples nota Na ponta da lngua causasse tanta repercusso. Nela eu anunciava a inteno de vigiar de perto o texto jornalstico, que estaria precisando de um choque de portugus. Para surpresa minha, fez mais sucesso do que meu balano da cobertura das eleies, no qual afirmava que a imprensa tinha henricado, sim. Recebi algumas manifestaes de apoio por esse julgamento sumrio, mas nada comparvel ao nmero de cartas e telefonemas que me incentivavam a uma cruzada pr-lngua. Em respeito vontade do leitor, abordo hoje uma faceta dolorosa da decadncia do texto jornalstico: a desarticulao narrativa. Contar mal uma boa histria uma das formas mais encontradias de impercia em minha profisso, tanto mais grave em um mundo em que a sucesso de imagens e mdulos de informao criam a iluso de simultaneidade em que nada dura, s se envelhece. Pelos fantasmas e temores ancestrais que mobiliza, o noticirio policial compe oportunidades privilegiadas para arrancar o leitor do fluxo besta de seu dia-a-dia. Quando ocorre um crime incomum, desses que pem a nu toda a barbrie humana, agua-se o apetite de quem tem um jornal em mos por uma narrativa decente. No digo nem por uma obra-prima como A Sangue Frio, de Truman Capote, mas ao menos uma histria com comeo, meio e fim. Coitado do leitor. As semanas que passaram ofereceram no s uma, mas duas dessas chances normalmente nicas. Com intervalo de apenas dez dias, aconteceram dois casos de assassinatos mltiplos em famlias no-proletrias, cujas autorias foram quase imediatamente atribudas a seus prprios filhos. Gustavo Pissardo, 21, confessou ter executado com tiros na cabea pai, me, irm e avs, em So Jos dos Campos e Campinas, dois importantes centros a menos de 100 km de So Paulo. Em Porto Alegre, a confisso foi de Carlos Alberto Oliveira, 35, o Beto. Com a ajuda de um ex-PM, teria abatido os pais a facadas: 36 no pai, 20 na me. Desde os primeiros dias de cobertura do caso Pissardo, alertei em vo na crtica da edio que circula diariamente na Folha para o mau desempenho do jornal. No confronto com o material publicado por seu concorrente direto, O Estado de S.Paulo, isso ficava evidente. Dia aps dia, o outrora sbrio jornalo paulista se esmerava na apresentao de detalhes sensacionais, como a compra de bermudas por Gustavo entre as duas etapas do morticnio. Na edio do dia 5, por exemplo, a Folha socou esse caso vibrante em meras 29 linhas de um texto de duas colunas em pgina par (menos nobre do que as mpares) do caderno Brasil. Nas poucas vezes em que obteve informaes mais elucidativas, como o fato de Gustavo ter sido instrutor de tiro no Exrcito, publicou-a somente em seu caderno para o Vale do Paraba, Folha Vale. Algo de muito semelhante aconteceu com a cobertura do caso Oliveira, em Porto Alegre. Tomada de estupefao pelo que h de inexplicvel nesses crimes, a imprensa e no s a Folha fica como barata tonta em meio a fontes policiais e psiquitricas sequiosas de publicidade. Da objetividade idiota de delegados provincianos ao freudianismo capenga dos psi-qualquer coisa de planto, sobrou desinformao. Como excees que confirmam a regra, destaco dois bons momentos em que talento, mincia e sentido dramtico conseguiram impor certa ordem esttica nesse turbilho de irracionalidades: 1. A reportagem Na verdade foi Gustavo quem morreu, publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo em 9 de outubro. Um vigoroso relato do drama da famlia Pissardo, narrado pela tia que s sobreviveu por acaso. 2. A reportagem de capa da revista Isto de 19 de outubro, Matar pai e me. O texto tambm incorre em muitos vcios, mas tem uma abertura primorosa. Depois de inventariar em 29 linhas as incongruncias entre as biografias de Gustavo e Beto, sem qualquer meno aos crimes que teriam cometido, arma-se a pergunta: O que h em comum entre `a ovelha negra' da famlia Oliveira e o filho amoroso e obediente da famlia Pissardo? Sangue. pura retrica, no resta dvida. Mas tambm a forma jornalstica de fazer a inteligncia triunfar sobre o inexplicvel. J escrevi aqui que no considero que a imprensa tenha tanto poder quanto se atribui a ela, mas cada vez mais me conveno de que ela possui, de fato, um poder a um s tempo demolidor e insignificante: o de destruir reputaes e o de pr particulares em apuros. Suponha o leitor que foi fotografado, sem se dar conta disso, na calada defronte uma espcie de bar. No importa muito o que voc est fazendo por ali, se est s de passagem, foi buscar o carro no estacionamento do lado ou de fato um frequentador da casa. A foto est feita, pronto. Domingo, famlia reunida, o leitor abre seu jornal e d de cara com a malsinada foto ilustrando uma reportagem sobre novos pontos de prostituio chique na cidade. A imagem, feita distncia, meio borrada, parece tratar-se de mais um no time de manobristas, mas nenhum de seus conhecidos deixa de identific-lo, imediatamente. Sua vida desaba, o casamento est por um fio. Voc fica possesso, est convencido de que o jornal teria de obter sua autorizao para publicar a foto, quer abrir um processo. Dissipada parte da ira inicial e aps algumas consultas, conclui que ao menos no Brasil no ter muita chance nos tribunais. Alm disso, o que vai ganhar levando o caso a juzo? Nada que possa recompor sua famlia. O jornal, de sua parte, alega que a imagem foi feita em local pblico e que nada na edio faz qualquer aluso a atos criminal ou moralmente condenveis da parte do leitor. Mais ainda, a foto foi visivelmente feita com o propsito de dificultar a identificao. Voc est no mato e sem cachorro. Pode at queixar-se ao ombudsman, se o jornal que publicou a foto tiver um. Ele vai constatar, como voc, que o mal est feito e no h Erramos no mundo que possa consert-lo. Quando muito, vai concordar em que um pouco mais de cuidado, na escolha ou na edio da maldita foto, poderia livr-lo do pesadelo que voc est vivendo. Sozinho. Prometi na semana passada que s voltaria ao tema do caderno Olho no Voto se a rplica dos jornalistas Elvis Cesar Bonassa e Daniela Pinheiro publicada nesta mesma pgina ensejasse alguma contribuio ao aperfeioamento de futuras publicaes. o caso, por exemplo, do esclarecimento que eles ofereceram sobre o regimento interno da Cmara (que probe reunies simultneas do plenrio e de comisses). Espero que na prxima publicao do gnero a Folha d destaque a esse tipo de informao essencial para a validao dos critrios adotados. No resisto porm a prosseguir com essa espcie de briga em famlia, pois no posso deixar sem resposta a tentativa maldisfarada de imputar-me uma mentira. Refiro-me afirmao de Bonassa e Pinheiro de que a carta do deputado Fabio Feldmann fora objeto de resposta da Redao, ao contrrio do que eu afirmara. Feldmann enviou na realidade duas cartas para o Painel do Leitor da Folha. A primeira delas publicada dia 20 de setembro saiu sem resposta da Redao, apesar de apontar dois supostos erros do caderno (ele teria apresentado 26 e no 22 projetos, um dos quais teria sido transformado em lei, diferentemente do que se publicara). Alertada na crtica da edio que circulou na ltima segunda-feira para essa omisso, a Redao providenciou verificao junto ao Centro de Informtica e Processamento de Dados do Senado Federal. Segundo listagens oficiais do Prodasen, foram apresentados nesta legislatura por Feldmann s os 22 projetos mencionados no caderno. O que foi transformado em lei dataria da legislatura anterior. Ou seja, o caderno no errou, neste caso, embora tenha dado impresso oposta ao deixar de responder a primeira carta. Lamento que s agora, com mais de um ms de atraso e por iniciativa do ombudsman, o leitor receba essa satisfao. MARCELO LEITE o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ele no pode ser demitido durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Marcelo Leite/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.
Tudo em famlia MARCELO LEITE Uma simples nota Na ponta da lngua na minha coluna de estria como ombudsman repercutiu mais do que eu esperava. Ali eu revelava minha inteno de vigiar de perto o texto jornalstico. Superou a minha cobertura das eleies, quando falava que a imprensa tinha henricado. A quantidade de cartas e telefonemas me estimulou a continuar na defesa da lngua. Hoje abordo um dos aspectos da decadncia do texto jornalstico: a falta de coerncia narrativa. O noticirio policial, por exemplo, propicia boas oportunidades para atrair o leitor para os meandros de um fato bem contado. Nas semanas que passaram, aconteceram dois casos exemplares. Gustavao Pissardo, 21, confessou ter executado com tiros na cabea, pai, me, irm e avs, em So Jos dos Campos e Campinas. Em Porto Alegre, Carlos Alberto Oliveira , com a ajuda de um ex-policial militar, matou os pais. Apesar de minhas advertncias Folha, O Estado de S. Paulo saiu frente esmerando-se em detalhes sensacionais, como a compra de uma bermuda feita por Gustavo no intervalo dos dois momentos do crime. A Folha foi econmica na extenso e, quando conseguiu informaes mais esclarecedoras o fato de Gustavo ter sido instrutor de tiro no Exrcito-- , publicou-as s no caderno para o Vale do Paraba. Em geral, a imprensa perde o rumo nesses casos: fica presa a declaraes de delegados e explicaes de psiquiatras. Mas h excees. A reportagem Na verdade foi Gustavo quem morreu de O Estado de S.Paulo traz um relato forte do drama da famlia , e Matar pai e me da Isto ɔ faz uma comparao entre as biografias dos dois assassinos sem mencionar os crimes e coloca a pergunta : O que h em comum entre a ovelha negrada famlia Oliveira e o filho amoroso e obediente da famlia Pissardo? Sangue. A pergunta retrica , mas inteligente, j que o fato inexplicvel. O poder da imprensa costuma ser superestimado, mas no se pode negar sua capacidade de destruir reputaes. Por exemplo, se algum foi inadvertidamente fotografado em frente a uma espcie de bar e sua foto sair numa reportagem abordando novos pontos de prostituio, sua vida e casamento esto complicados. No adianta reclamar na Justia que neste caso pouco ajudae junto ao jornal, que alegar ser espao pblico e no trazer referncias a comportamento do leitor. Apesar da minha promessa de s voltar polmica com Elvis Csar Bonassa e Daniela Pinheiro sobre publicao no caderno Olho Vivo caso houvesse uma contribuio vlida, fao agora depois do esclarecimento que deram a respeito do regimento interno da Cmara.Ele probe reunies simultneas do plenrio e de comisses, o que pode indicar injustamente falta de assiduidade. Mas a tentativa canhestra dos dois reprteres de me atriburem uma mentira vai motivar uma resposta.
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MARAB, PA - O Ministrio da Justia encontrou indcios de que parte dos 19 sem-terra mortos pela Polcia Militar do Par podem ter sido executados. Vrios cadveres apresentam tiros na testa e dois dos mortos tiveram a cabea destruda por tiros. Alguns sem-terra tm marcas de plvora no rosto, indicando que podem ter sido mortos por disparos queima-roupa, e outros levaram tiros certeiros no corao. Infelizmente, h fortes indcios de que houve execues, conclui o advogado Perclio Neto, um dos dois membros do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana enviados ao Par pelo ministro da Justia, Nelson Jobim, para investigar o massacre. Para Perclio no h dvida de que a PM cometeu um crime. Imagens feitas pela TV Liberal do Par durante o conflito mostram que os policiais militares chegaram rea onde os sem-terra estavam acampados na rodovia PA-150, disparando bombas de gs lacrimognio. Os agricultores reagiram atirando pedras e partindo para cima dos policiais com faces e cacetes. Os policiais reagiram atirando com fuzis e metralhadoras. Pelo menos dois militantes do Movimento dos Sem Terra estavam armados de revlveres, segundo as imagens da TV. Desobstruo - Os sem-terra foram mortos no final da tarde de quarta-feira. O conflito comeou pouco depois das 16h, quando 150 policiais militares chegaram rea onde estavam acampados cerca de 1.500 sem-terra. O objetivo era for-los a desobstruir a rodovia PA-150, que tinham ocupado para protestar contra o atraso na desapropriao de terras para reforma agrria. O secretrio de Segurana do Par, Paulo Sette Cmara, disse que autorizou os policiais a agirem com a fora necessria para forar os sem-terra a deixarem a estrada. Se encontrassem resistncia, eles estavam autorizados a reagir e inclusive a atirar se isso fosse necessrio. O segredo era dosar a fora. Pelos resultados, houve excesso no esforo policial. O major Pantoja de Oliveira, que comandou a operao, foi afastado ontem do comando do batalho de Marab. Segundo os sem-terra que esto feridos em hospitais de Marab, a polcia j chegou rea atirando. Eles no deram nenhum aviso. Cercaram a gente e foram metendo bala, diz o agricultor Enos Pereira Brito, baleado no p direito e na perna esquerda. Algemado -Maria Abadia Barbosa, de 57 anos, que levou dois tiros na parte de trs da coxa, acusa os policiais de terem assassinado Oziel Pereira, um dos lderes do movimento dos sem-terra. O Oziel j estava preso, algemado, e continuou apanhando. A, um dos policiais segurou ele pelos cabelos e outro atirou bem na cara dele, conta. Josimar Pereira Freitas, outro sem-terra ferido, diz que viu Oziel ser algemado pelos PMs. Ele estava vivo quando prenderam ele. Depois apareceu com um tiro na cara, denuncia. A Polcia Civil do Par estima que pelo menos 36 sem-terra estejam feridos, mas o nmero de vtimas pode chegar a 50. Os 19 corpos dos sem-terra foram levados para Marab e s chegaram ao IML s 7h05 de ontem, mais de 12 horas depois do encerramento do conflito. Os cadveres chegaram em um caminho e foram empilhados em uma sala do IML, com a porta aberta. Os legistas s chegaram ao IML s 16h, quase um dia inteiro depois das mortes. O ministro Nelson Jobim esteve em Marab ontem, mas no chegou a sair do avio. Ele deixou na cidade como representantes dois integrantes do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e o assessor de imprensa do ministrio. Jobim seguiu para Belm onde foi se reunir com o governador Almir Gabriel (PSDB).
O Ministrio da Justia encontrou indcios de execuo de alguns sem-terra pela Polcia Militar do Par: marcas de plvora no rosto, cabeas destrudas por tiros. Para o advogado Perclio Neto , do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, houve crime da polcia. Imagens feitas por uma TV local mostram os soldados disparando gs lacrimogneo sobre os acampados na rodovia PA-150, que protestavam contra a demora de desapropriao para reforma agrria.. Os sem-terra reagiram com pedras , faces e cacetes. Os policiais atiraram com fuzis e metralhadoras. O secretrio de Segurana do Par disse que autorizou a fora necessria, mas admite, a partir dos resultados, que houve exagero. Os depoimentos dos feridos em hospitais de Marab confirmam que a polcia chegou atirando, sem nenhum aviso. Pela fala de dois feridos , um dos mortos, Oziel, j estava preso e algemado , e apareceu morto com um tiro na cara. Os cadveres, empilhados numa sala do IML, s foram atendidos pelos legistas quase 12 horas depois. O ministro da Justia, Nelson Jobim, esteve na cidade , mas no desceu do avio. Foi reunir-se com o governador do Estado.
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Sem dvida no se compara com os nmeros anunciados ao mundo com a criao do Nafta nem com aqueles que se tornaram corriqueiros com os avanos da Unio Europia. Ainda assim, o acordo ratificado anteontem pelos membros do Mercosul, que cria um espao econmico de 200 milhes de habitantes e um produto total de quase US$ 800 bilhes, constitui um marco histrico para as economias envolvidas e aponta para um processo ainda mais profundo de integrao. O acerto confirmado em Buenos Aires pelos presidentes de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai estabelece uma unio aduaneira a partir de 1 de janeiro do ano que vem. Isso significa, no s que mercadorias podero circular no Mercosul sem taxas alfandegrias, como tambm que produtos importados de outros pases tero, em tese, tarifas iguais para todo o bloco. Essa tarifa externa comum (TEC) variar dentro da faixa de 0 a 20%. Bens de capital e de informtica tero tratamento especial com prazo maior at a unificao. E h ainda diversas excees. Cada pas poder, por exemplo, manter tarifas diferenciadas para at 300 produtos, ou 399 no caso do Paraguai. de se notar, porm, que a esmagadora maioria dos produtos estaro cobertos pelas normas gerais e, de resto, concesses especiais so providncias que, longe de entravar, permitem que a integrao caminhe apesar de desacordos e de diferenas na situao econmica de cada membro. Tanto assim que a Unio Europia, em seu longo amadurecimento, sempre contemplou divergncias por meio de clusulas especiais para um ou outro pas. Foi assim que se conseguiu superar as resistncias do Uruguai ao atual acordo, que ameaaram a prpria realizao da cpula. certo que, dadas as dimenses do Brasil, o impacto do Mercosul se faz sentir mais fortemente nos demais membros do que aqui. Isso no significa porm que a economia nacional esteja indiferente evoluo do bloco; ao contrrio, dados relativos s exportaes so eloquentes ao demonstrar como o Brasil vem-se beneficiando com a liberalizao do comrcio regional. Entre 1990 e 1994, as exportaes brasileiras para a Argentina saltaram 390%, tornando-a o segundo maior importador de bens nacionais atrs s dos EUA isso, certo, tambm com o auxlio da defasagem cambial interna argentina. Mesmo o Mercosul como um todo, porm, de 4,1% de 1990 passou a absorver hoje 14% das vendas brasileiras ao exterior, tanto quanto todo o continente asitico. E esses valores podem aumentar ainda mais, dado o grande interesse demonstrado por Chile e Bolvia em se aproximarem do Mercosul. A cpula de Buenos Aires deixou claro tambm que o projeto regional vai alm de uma unio aduaneira. Sinalizando que esperam caminhar no futuro rumo a um mercado comum em que, alm de mercadorias, tambm pessoas, capitais e servios circulam livremente os pases membros concluram acordo reconhecendo mutuamente diplomas escolares de primeiro e segundo graus. um primeiro passo no sentido de uma maior liberdade de movimentao para trabalhadores entre os quatro pases. Uma importante mostra de realismo foi dada pelos participantes da cpula ao ressaltar a importncia de buscar acordos do Mercosul com a Unio Europia e, posteriormente, com o Nafta. Afinal, apesar de tudo, inegvel que na insero nos grandes fluxos da economia mundial que os pases membros, e o Brasil especificamente, mais tm a ganhar.
Embora muito menos do que os nmeros anunciados com a criao do Nafta e com as transaes na Unio Europia, o acordo de anteontem entre os membros do Mercosul representa uma marco histrico: 200 milhes de habitantes comercializando o equivalente a U$ 800 bilhes . Segundo o acordo, Brasil, Argentina , Uruguai e Paraguai , a partir de janeiro de 1995, liberaro de taxas alfandegrias os produtos comercializados entre si, assim como unificaro as tarifas de produtos importados de outros pases. Essas tarifas externas oscilaro de 0 a 20%. E ,ainda, cada pas pode ter tarifas diferenciadas para at 300 itens --- 399 no caso do Paraguai. Essas excees so fundamentais para o amadurecimento das relaes. Foi o que aconteceu com a UE . E a flexibilidade no Mercosul foi responsvel pela confirmao do acordo por parte do Uruguai. Se os demais pases do Mercosul tiveram mais vantagens, o Brasil no pode queixar-se com a evoluo de suas exportaes para o bloco --- 14% , hoje , tanto quanto as que vo para o continente asitico. A cpula de Buenos Aires espera ampliar o acordo, incluindo nessa liberao prestao de servio e um mercado financeiro. Nessa linha, os pases membros reconheceram mutuamente os diplomas de primeiro e segundo graus. A aspirao que se chegue a acordos com a Unio Europia e Nafta.
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Manifestao lembra 1 ano da Candelria Educadora afirma que h manipulao poltica do crime RONI LIMA Da Sucursal do Rio Hoje completa um ano a chacina da Candelria em que oito meninos de rua foram assassinados, de madrugada, perto da igreja da Candelria (centro do Rio). Alm de ato ecumnico, est prevista para hoje manifestao de ONGs (organizaes no-governamentais) e de polticos da Frente Brasil Popular. A educadora e artista plstica Yvonne Bezerra de Mello, que trabalha com meninos e meninas de rua, havia programado uma viglia no local para ontem noite. Hoje, no pretende participar dos atos. Ela critica o que chama de manipulao poltica do crime. A omisso continua. A morte deles vai virar palanque poltico, mas ningum chega nem perto de uma criana dessas. Segundo Yvonne, dos cerca 62 sobreviventes que andavam pela Candelria, metade continua nas ruas o restante foi absorvido por projetos que cuidam de crianas. Autora do livro As Ovelhas Desgarradas e seus Algozes (Editora Civilizao Brasileira), que conta a saga dessa gerao perdida nas ruas, ela no cr na punio dos responsveis pela chacina. Quatro pessoas esto presas, acusadas de participar da chacina. Trs so PMs e um serralheiro. Apenas o tenente Marcelo Cortes dever ir a jri popular at dezembro. O promotor Jos Muios Pieiro Filho, 37, disse ontem ter informaes de que, em princpio, apenas o tenente no recorrer ao Tribunal de Justia da sentena judicial de primeira instncia. Em 28 de junho passado, a juza do 2 Tribunal do Jri, Maria Lcia Capiberibe, decidiu que os quatro acusados vo a jri popular. Pieiro disse que trs devero entrar com recurso contra a deciso. O prazo para recorrer termina na prxima tera-feira. Se forem confirmados, desembargadores do TJ analisaro recursos dos trs. Neste caso, Pieiro disse que levar pelo menos mais um ano at que desembargadores confirmem ou no a sentena da juza de mandar os acusados a jri popular. Pieiro e o promotor Maurcio Assayag, 35, se preparam para denunciar Justia mais quatro ou cinco pessoas, tambm acusadas de participar da chacina. No mnimo oito pessoas tiveram participao na chacina, disse Pieiro. Ele no quis revelar os nomes dos futuros denunciados. A denncia ser baseada em novas investigaes policiais. Em maio, foi aberto inqurito policial para investigar o caso da apreenso, no interior do Estado do Rio, de uma arma utilizada na chacina. A arma foi encontrada com o soldado da PM Arlindo Lisboa Afonso Jnior, que dever ser um dos novos denunciados. Exame pericial constatou que ela foi utilizada na chacina. Alm do tenente Cortes, aguardam julgamento os soldados Marcos Vinicius Emmanuel e Cludio Andrade dos Santos e o serralheiro Jurandir Gomes de Frana. Chacina Chacina da Candelria como ficou conhecido o assassinato de oito meninos de rua ocorrido na madrugada do dia 23 de julho do ano passado. Cerca de 50 meninos dormiam sob a marquise de um prdio na praa Pio 10, a 50 metros da igreja da Candelria, quando 0h30 foram vtimas de disparos de quatro ou cinco homens encapuzados. Mais de 40 sobreviventes disseram que eram ameaados de morte por PMs. Segundo os meninos interrogados pela polcia, policiais militares do 5 Batalho fizeram ameaas porque no dia anterior um dos menores apedrejara um Opala da corporao. No mesmo dia da chacina, noite, a Polcia Civil identificou trs soldados da PM como suspeitos. Eles haviam sido apontados pelos menores em fichas com retratos de policiais. O episdio teve repercusso internacional. No Brasil, entidades de defesa da criana, parlamentares, artistas e organizaes protestaram contra o massacre. Um ano e sete meses antes, relatrio da CPI (Comisso Parlamentar de Inqurito) do Menor havia divulgado uma relao de 77 pessoas envolvidas em extermnio de crianas e adolescentes no Estado do Rio. Doze dos nomes eram de policiais militares.
Manifestao lembra 1 ano da Candelria Educadora afirma que h manipulao poltica do crime RONI LIMA - Da Sucursal do Rio Hoje faz um ano que aconteceu a chacina da Candelria- que resultou na morte de 8 meninos de rua. Cerca de 50 garotos dormiam sob a marquise de um prdio , perto da igreja da Candelria quanto foram metralhados. Alm de um ato ecumnico, constam manifestaes de ONGs e de polticos da Frente Brasil Popular. A artista plstica , Yvonne Bezerra de Mello, que trabalha com meninos de rua, havia programado uma viglia no local , mas desistiu de participar por causa de manipulaes polticas.Ela no cr que os responsveis sejam punidos. J esto presos quatro dos acusados: trs PMs e um serralheiro. A juza Maria Lcia Capiberibe decidiu que os quatro vo a jri popular. Mas o promotor Jos Muios Pieiro disse que trs devero entrar com recurso. Pieiro e o promotor Maurcio Assayag se preparam para denunciar quatro ou cinco envolvidos. Os garotos sobreviventes denunciaram as ameaas sofridas por policiais. J antes, o relatrio da CPI do Menor tinha relacionado 77 pessoas envolvidos com extermnio de crianas e adolescentes, dos quais 12 eram menores. O episdio teve repercusso internacional.
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Os 13 de Nova Braslia MARCELO LEITE A histeria com a violncia no Rio, desencadeada por uma chacina, representa oportunidade nica para refletir sobre a responsabilidade de meios de comunicao e governantes. Com o ar compungido que cabe portar em face da tragdia sbita e artificialmente notria, todos eles concordam em que preciso fazer alguma coisa. E deram incio a uma das mais revoltantes exibies pblicas de oportunismo de que se tem notcia no Brasil, traficando com a segurana e o destino de centenas de milhares de habitantes dos temidos morros. Parece at que antes do assassinato de 13 pobres diabos traficantes, talvez, mas nascidos e mortos pobres diabos na favela de Nova Braslia no havia problemas no Rio. Ou, melhor dizendo, antes de a eleio para governador encaminhar-se a um segundo turno em que um candidato da ordem henriquista enfrenta um representante da barbrie pedetista mais uma de tantas mistificaes que despolitizam esta eleio, confinando-a a um jogo de imagens vazias, como a suposta guerra religiosa em So Paulo. Para o bem e para o mal, a imprensa o teatro em que se encena esse drama macabro. A melhor indicao de que a matana daquele 18 de outubro foi somente um pretexto para pr o Urutu em marcha que ningum mais se lembra dela. A sociedade nada sabe, e aparentemente nada quer saber, sobre as responsabilidades por aquele crime brbaro. Quando muito, fica a memria confusa daquela fileira de corpos jovens e mulatos enfileirados, sob a inscrio Obrigado, Senhor, por mais um dia. Mais uma imagem que se funde na penumbra de tantas primeiras pginas, em que j no se distingue Carandiru de Vigrio Geral, Candelria de Francisco Morato. Posso at cometer alguma injustia, mas no me lembro de algum jornal ter noticiado as concluses da investigao. No h sequer um responsvel preso ou indiciado. O pblico desconhece se foram realizadas autpsias nos 13 mortos, providncia elementar quando se suspeita de que policiais tenham executado os jovens a sangue frio; se feitas, que resultados tiveram. Nenhum jornal se preocupou ainda, passadas quase trs semanas, em informar seus leitores sobre isso. Em contrapartida, avolumam-se informaes descartveis, como a espessura do muro construdo na delegacia atacada antes da chacina. Atenta-se para os mnimos detalhes das reunies em que Itamar Franco planeja o Vietn que vai legar a seu sucessor, com o mesmo afinco com que se persegue a identidade da namorada de ocasio daquele que j no parece mais enxergar-se como presidente da Repblica, se que algum dia o fez. De informao, que bom, muito pouco. A revista Veja levantou a pista, domingo passado, de que na origem da mirabolante idia de uma interveno federal no Rio estava um famigerado amigo presidencial, Jos de Castro, hoje instalado na Telerj. Estranhamente, os jornais no foram atrs. Antes disso, tinha chegado a elogiar a Folha por sua postura equilibrada em relao s mortes na favela Nova Braslia. Na crtica interna que circula diariamente na Redao, referente edio de 19 de outubro, anotei que o jornal se destacava dos outros no tratamento mais distanciado das informaes da polcia, na caracterizao inequvoca da invaso como uma represlia e na publicao de um editorial duro, o nico do dia dedicado ao acontecimento. No basta, porm, marcar posio. Um grande jornal capaz de converter convices editoriais em pautas audaciosas para reportagens e em mpeto investigativo, seja nos morros do Rio, seja nos gabinetes de Braslia. Neste aspecto, a Folha comeava a ficar para trs. Os dois jornais de maior prestgio no Rio, O Globo e Jornal do Brasil, punham lenha na fogueira da interveno federal. E isso depois de terem publicado registros bem mais discretos que os dirios de So Paulo sobre a matana em Nova Braslia. Com a perspectiva de ver batalhes de soldados expostos mira dos traficantes entrincheirados, parece que se assanharam. Partiram ento para manchetes enviesadas como a de O Globo em 25 de outubro, Itamar tenta apoio de Nilo contra o crime (ou seja, subentende-se que o governador fluminense no estaria propenso a d-lo). A nica explicao plausvel para tal comportamento devastadora para um rgo de informao pblica: dificultar a vida do governador e, por tabela, a do candidato de seu partido, Anthony Garotinho (PDT) no segundo turno. Paralelamente, O Estado de S.Paulo, concorrente direto da Folha at em uma posio mais favorvel interveno, mantinha seu noticirio relativamente imune. Publicava reportagens informativas, de um modo geral bem mais interessantes e detalhadas do que as da Folha. Esta permanecia presa de uma letargia que no se sabia se provinha de falta de informao ou de espao (o jornal saa de uma crise de fornecimento de papel que mutilara seus cadernos). Assim seguiu at a ltima quarta-feira, um dia dos mortos em que poucos se lembraram dos 13 de Nova Braslia. Foi quando a Folha resolveu injetar um pouco de adrenalina na cobertura do recm-assinado convnio Itamar/Nilo e meteu os ps pelas mos, com a manchete Nilo quer limitar ao do Exrcito. Supostamente a sustent-la havia uma boa entrevista da Sucursal do Rio, em que Nilo se escudava em raciocnios formalistas e constitucionais para tentar mostrar, muito na defensiva, que sua autoridade no havia sido arranhada. Mas a primeira pgina da Folha o apresentava como um homem de bravatas: Governador diz que manda na segurana do Rio, dizia o subttulo (ou linha-fina, no jargo dos jornalistas). Na edio seguinte, de quinta-feira, o jornal reencontrou o caminho da sobriedade e do melhor jornalismo. Publicou cinco pginas de reportagens, trouxe textos crticos e investigativos at de dois diretores de sucursal (Rio e Braslia). Anotei porm na crtica interna da edio que o Estado, mesmo ficando para trs no aspecto interpretativo, ainda apresentava desempenho melhor na quantidade de informaes. Os prximos dias e semanas diro quem sair vencedor dessa guerra (porque da outra, a que j come solta h muito tempo nos morros do Rio, tenho certeza de que sairo derrotados os pobres diabos de sempre). Mas tomo a liberdade de reproduzir aqui o fecho de minhas observaes dirigidas Redao na ltima quarta-feira, pois acho que se aplicam bem a toda a imprensa: Se me alongo nestes comentrios, porque no quero ver a Folha acusada de apostar no fracasso da tentativa de pr ordem no Rio apenas para obter manchetes mais vibrantes.
Os 13 de Nova Braslia MARCELO LEITE ( ombudsman da Folha de So Paulo) Com a chacina de 13 pessoas na favela Nova Braslia e o conseqente clima de histeria por causa da violncia no Rio , criou-se tima oportunidade para refletir a respeito da responsabilidade da mdia e dos governantes. Com a tragdia, todos certamente concordam que preciso tomar providncia. E ela veio na forma de exibicionismo comprometedor para os milhares de habitantes dos morros. A impresso que se deu que , antes da chacina dos 13, no havia problemas no Rio. Para o bem e para o mal, o drama passa pela imprensa. A marca de uma conscincia sobre o problema parece no ter ficado registrada na populao. Talvez a imagem de corpos enfileirados. Como a de Carandiru e outras. Posso at estar cometendo injustia, mas na minha condio de ombudsman , no me lembro de nenhum jornal ter noticiado as concluses da investigao. No h responsvel preso ou indiciado; nada se sabe sobre as necessrias autpsias nos 13 corpos. Em contrapartida, sobram informaes impertinentes, como a espessura do muro construdo na delegacia atacada antes da chacina. De reais informaes, quase nada. A revista Veja levantou a pista de que a idia de interveno federal provinha de um amigo presidencial, Jos de Castro. Os jornais no quiseram saber. Antes, cheguei a elogiar a Folha pelo seu equilbrio em noticiar a chacina. Mas necessrio avanar; um jornal capaz de transformar convices editoriais em reportagens investigativas em qualquer lugar. No Rio, O Globo e Jornal do Brasil estimulavam a interveno federal. Pareciam interessados em ver soldados sob a mira de traficantes. Uma manchete de O Globo Itamar tenta apoio de Nilo contra o crime (depreende-se que o governador no quisesse) sugere que a inteno era prejudicar o governador. Paralelamente, O Estado de S.Paulo publicava reportagens informativas mais interessantes e detalhadas do que as da Folha. Mesmo quando a Folha tentou uma reao cobrindo o recm-assinado convnio Itamar/Nilo, no foi feliz. Uma entrevista com Nilo em que ele explicava com raciocnios adequados como sua autoridade no tinha sido arranhada perdeu substncia com esta manchete: Governador diz que manda na segurana do Rio . J na edio seguinte, o jornal foi sbrio e publicou cinco reportagens com textos crticos e investigativos . Mesmo assim, anotei nos meus comentrios de circulao interna na Folha que O Estado de S.Paulo , sem igualar no aspecto interpretativo, era melhor na quantidade de informaes.
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Sensao contraditria de vitria e derrota Que a verso `ps-moderna' da `ordem e progresso' no vire pesadelo movido a Kafka, droga e `Consenso de Washington' MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Terminei a semana das eleies com sensaes contraditrias de derrota e vitria. A pergunta clssica sobre as sociedades contemporneas heterogneas ainda martela minha cabea. Afinal, quem somos ns? O distanciamento emocional impossvel, mas a razo crtica'' continua funcionando com toda a fora. Os fatos so passveis de muitas leituras, mas algumas so inescapveis e trazem nelas possibilidades de futuro. O fato mais ostensivo destas eleies foi a derrota de Lula e a vitria de FHC. Uma primeira leitura mostra que Lula foi derrotado porque aumentou muito o seu ndice de rejeio, baseado em preconceitos destilados pela mdia e induzidos por uma cultura de senhoritos'' e de colonizados mentais. Por sua vez, a vitria de FHC teve todos os apoios, legtimos e at alguns ilegtimos. Foi louvada em prosa (propaganda) e verso (mercadolgico) pela grande imprensa conservadora, tendo at direito a rvore genealgica'', publicada num caderno de um dos grandes jornais do Rio de Janeiro. Supostamente, governar com a maioria esmagadora dos poderes (econmico, poltico e cultural) e o apoio da opinio pblica. Ser to simples? Por quanto tempo? Uma segunda leitura indica outras coisas. Lula teve 28% dos votos e a esquerda sozinha na estrada'' a mais forte da Amrica Latina e do mundo ocidental e cristo''. Por outro lado, as alianas de FHC e a ideologia expressa em seu projeto de governo so incompatveis, mas ningum discutiu seriamente qualquer projeto de governo, nem as reais condies de governabilidade. Esta ltima, ora supe uma Presidncia imperial (sobre um Estado devastado?), ora um esquema de alianas precrio e insuficiente que torna a hegemonia poltica do presidente eleito e de seu partido tericamente inviveis. A maioria da Cmara continuar com o PMDB e o PFL, partidos regionalizados e sem lideranas nacionais capazes de ser unjidas pelas urnas na disputa presidencial. Eles representam mais um estilhaamento da nao e dos interesses do que qualquer consenso'' em torno de um projeto de Estado ou de sociedade futura, como se viu na malograda reviso constitucional''. Assim, qualquer que seja a leitura possvel, a ambiguidade tanto da derrota como da vitria so inescapveis. Um segundo fato, evidente, mas pouco comentado, foi que a heterogeneidade das condies regionais, sociais e culturais produziu efeitos cruzados inesperados e alianas locais impossveis de extrapolar escala nacional. Os resultados mais amargos foram desde um grande nmero de abstenes e votos nulos e brancos at o surgimento de novos personagens polticos patolgicos. Ambos os fenmenos ocorreram sobretudo nas grandes metrpoles. Uma primeira leitura, de natureza estrutural, indicaria que o Brasil nunca ser uma sociedade politicamente democrtica enquanto suas imensas massas pobres no forem mais escolarizadas e socialmente mais homogneas. Sim, mas e qual a ponte entre a situao estrutural e o quadro eleitoral? Uma segunda leitura mais atenta da representao poltica mostra que no houve correlao clara entre condies econmicas e sociais e o carter tico, poltico e ideolgico da representao popular. Por outro lado, os fenmenos patolgicos no se prendem sociedade pobre, mas sobretudo a segmentos da classe mdia urbana que s o olho atravessado de Nelson Rodrigues poderia descrever com preciso. Este o ponto mais delicado e mais difcil de decifrar das vitrias e derrotas. Aparentemente, a situao de classe, sexo, raa e idade da populao, to explorada nas pesquisas de opinio nos Estados Unidos (de quem copiamos toda a parafernlia), no explicativa dos resultados eleitorais. O poder econmico, poltico e cultural das elites explica muita coisa nesta eleio casada, exceto o fato de que ela no foi casada'' em nenhum sentido social mais profundo. At prova em contrrio, as bases tericas de interpretao possvel das nossas vitrias e derrotas polticas no podem ser fundadas nos grandes clssicos, Marx, Tocqueville e Weber, seno numa referncia estrutural muito ampla. Os dois candidatos mais importantes Presidncia da Repblica so em si mesmos personagens peculiares na histria poltica brasileira. A explorao simblica das suas biografias se deu num nvel aparentemente civilizado, mas profundamente mistificador. Para um analista habituado a ler por baixo da superfcie fcil entender a conjuntura favorvel (econmica e poltica, nacional e internacional) que deu a vitria a FHC. O que no fcil de entender porque a direita brasileira, pela segunda vez, teve de investir num personagem que no a representa cabalmente e as razes simblicas que levam a que nenhuma figura politicamente relevante se reconhea como conservadora e de direita, com raras e (des)honrosas excees. S os humoristas e caricaturistas deste pas parecem ser capazes de exprimir a imensa mistificao que significa converter interesses legtimos das classes dominantes em imagens de propaganda de supostos ideais de equilbrio e maturidade inteiramente fora de lugar. Esperemos que a nossa verso ps-moderna'' da ordem e progresso'' no se converta mais uma vez num pesadelo movido a Kafka, droga e Consenso de Washington''. A mistura pode ser extremamente dissolvente do que resta desta nova tentativa de modernizao conservadora''. A minha prpria eleio um desafio s vises convencionais. Aparentemente, no fui eleita apenas por uma minoria de esquerda intelectualizada e seus familiares, mas pelo que represento simbolicamente para uma populao mais ampla que inclui desvalidos e indignados de vrias classes sociais. Honradez e desassombro so caractersticas da minha biografia que encontra eco na indignao de uma parcela da populao do Rio de Janeiro. Mas a elas responde tambm, de forma compensatria, a conscincia culpada de certas elites modernas'' que queriam votar num projeto liberal-conservador, mas com um espcie de fiscal garantido''. As minhas imagens na mdia: em particular as lgrimas do Plano Cruzado e a minha personagem da Escolinha do Professor Raimundo'' tambm parecem ter contribudo de forma ambgua para minha eleio. Ningum tem muito claro (nem eu) o efeito dessas imagens na amplitude'' da minha representao popular. Assim, no exerccio do meu mandato no me deixarei levar pelas imagens'', mas pela convico profunda de que a tica na poltica se pratica tendo, mais do que uma histria de vida, um projeto e um enquadramento poltico-partidrio capazes de dar sustentao a uma biografia. Felizmente para mim e para os meus representados, tive o cuidado de escolher bem. Estou e sou o PT. Escolhi e fui escolhida e, apesar de que muitos dos que votaram em mim no simpatizam com o meu partido, a nica garantia real que eles tm de que no trairei a representao que me deram justamente por estar no PT. No apenas, como dizem os nossos slogans, porque o PT no tem ladro'', mas sobretudo porque ele se compe de uma parcela tica de trs mundos que me proponho representar: o mundo das contra-elites'' (conscincia crtica), o do trabalho (conscincia de organizao e luta) e o terceiro mundo (a luta pela sobrevivncia e o desejo de justia social). o desejo profundo e a vontade poltica de unir esses trs mundos e construir uma nao onde todos caibam como cidados que me anima e aos meus companheiros de partido. Nele temos representantes ilustres dos trs mundos. Eu, apesar de pertencer ao primeiro'', no me sinto melhor nem mais preparada que os demais. evidente que, apesar de Mercadante e eu sermos mais prximos socialmente, nossa admirao por Lula e Benedita no toa e reflete o peso indiscutvel e a qualidade excepcional das lideranas originadas no segundo e no terceiro mundos dentro do PT. A nao, convm lembrar, no apenas injusta, nem o pas est perto da maturidade, como sustentou o candidato vencedor. O futuro democrtico do Brasil depende da capacidade que os representantes desses trs mundos tenham de desfazer o n do subdesenvolvimento e liderar a luta pela justia social e pela tica poltica. nesta luta que estou engajada desde jovem e agora mais do que nunca me sinto em casa e posso considerar-me apenas um pequeno ponto de representao desta imensa rede de solidariedade social e nacional que, embora maior que o PT, passa necessariamente por ele. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).
Sensao contraditria de vitria e derrota Que a verso ps-moderna da ordem e progresso no vire pesadelo movido a Kafka, droga e Consenso de Washington MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha Este fim de eleies me imbuiu de sensaes contraditrias de derrota e vitria. Ainda me martela a inquietao sobre quem somos ns. Se a proximidade dos fatos no permite, a imparcialidade da razo permite considerar vrios ngulos que a situao oferece. O fato que mais sobressai nestas eleies a derrota de Lula para FHC. primeira vista, a derrota de Lula se deveu rejeio motivada por preconceitos estimulados pela mdia e cultivados pela tradio bacharelesca. FHC teve apoios legtimos e ilegtimos. Foi decantada pela grande imprensa , inclusive com direito a rvore genealgica. Lula teve 28% dos votos certamente vindos da maior representao de esquerda da Amrica .Latina. Outra possvel leitura que as alianas de FHC e a ideologia expressa em seu projeto de governo so incompatveis, mas ningum discutiu seriamente as reais condies de governabilidade, a qual supe ora uma presidncia imperial , ora um esquema de alianas precrio e insuficiente. Outro fato , pouco comentado, que a diversidade de condies regionais, culturais e sociais cruzou alianas locais incapazes de alcanar escala nacional. Seria possvel ver tambm que o Brasil jamais poder ser plenamente democrtico enquanto o quadro de escolaridade e de heterogeneidade social se mantiver como est. O poder econmico, poltico e cultural das elites esclarece muitas coisas nestas eleies, salvo que elas no tm fundamentao social profunda. possvel entender a conjuntura favorvel que elegeu FHC ; s no se entende como a direita escolheu outra vez uma personagem que no a representa cabalmente. Minha prpria eleio um desafio ao convencionalismo. Mais do que por uma esquerda intelectualizada e seus familiares, fui eleita pelo que represento simbolicamente para uma populao de desvalidos e indignados de vrias classes. Posso acrescentar honradez e coragem na minha biografia, que levarei para o exerccio do meu mandato . Muitos que votaram em mim no simpatizam com o meu partido- o PT, mas posso garantir-lhes que no trairei a representao , at pelo fato de ser deste partido. Sobretudo porque ele se compe de uma parcela tica de trs que pretendo representar: o das contra-elites (pela conscincia crtica), o do trabalho ( convico de organizao e luta) e o terceiro mundo ( o da luta pela sobrevivncia e o anseio de justia social). O futuro democrtico do Brasil depende da competncia dos seus representantes de resolver o n dessa trade.
ce94se05-35
Conhea a ntegra da carta Entreguei na tarde de ontem ao presidente Itamar Franco meu pedido de dispensa do cargo de Ministro da Fazenda. Sei que devo uma explicao aos brasileiros que me honraram com a sua confiana. Na noite da ltima quinta-feira, uma conversa de carter inteiramente particular que eu mantinha com o jornalista Carlos Monforte foi levada ao ar sem o meu conhecimento ou consentimento. Fui vtima de uma falha eletrnica. Aguardava o momento de comear a vigsima-quinta entrevista daquele dia em que o real completava dois meses. Estava exausto. Enquanto esperava que fossem sanados problemas tcnicos da emissora, tive uma conversa informal com uma pessoa a que estou ligado por laos de parentesco e antiga convivncia. Todos entendem que conversas desse tipo nem sempre se orientam pela exatido dos conceitos ou pelo cuidado na apresentao dos argumentos. Todos sabem tambm que, ao longo dos ltimos meses, vinha-me dedicando com grande esforo quela parte da minha tarefa que julgava ser a mais importante: a divulgao do Plano Real e o trabalho de informar e orientar a populao sobre as mudanas na economia. Nessa verdadeira maratona que incluiu muitas viagens pelo pas e um sem-nmero de conferncias, palestras e entrevistas, fui provavelmente vtima, alm do cansao fsico, de um processo em que a excessiva exposio mdia e ao calor popular inflaram minha vaidade. Assumo inteira responsabilidade por aquele momento de fraqueza que me levou a dizer palavras que no refletem o que penso ou o que sinto. Em alguns daqueles comentrios nem eu mesmo me reconheco. Posso ter dito coisas irrefletidas, mas estou seguro de que, na minha gesto, no fiz nada de errado. Sem querer justificar o injustificvel, repudio os trechos da conversa em que deixo transparecer uma opinio vaidosa e arrogante sobre mim e sobre o meu trabalho frente do Ministrio da Fazenda. No esse o comportamento que sempre tive, no essa a minha regra de conduta. Do que aconteceu, retiro, contudo, uma lio de humildade. Ao contrrio do que o apoio popular sugere, sou um ser humano como qualquer outro, com as mesmas limitaes e defeitos, com os seus momentos de fraqueza. E, por isso mesmo, no hesito em pedir desculpas quando erro. Fao-o agora, por tudo o que possa ter decepcionado quem quer que seja. Fao-o, tambm, pela referncia aos empresrios brasileiros ao generalizar comportamentos individuais que j havia condenado. No posso deixar de explicar algumas passagens da conversa tornada pblica. Minhas palavras, pela maneira confusa e entrecortada com que ficaram registradas, esto-se prestando a interpretaes e acusaes precipitadas. Sei que provoquei um choque quando disse que no teria escrpulos em mostrar o que bom e esconder o que ruim. Do que estava falando? Estava simplesmente me referindo convenincia de divulgar, a cada semana, o IPC-r. Contrariamente a uma viso tcnica, no hesitaria em divulgar os ndices semanais se isto servisse ao propsito de manter a tendncia de baixa dos preos. Tinha plena convico de que, caso no mostrasse a tendncia fortemente declinante da inflao, conforme indicavam todos os demais ndices, estaramos dando munio para aumentos preventivos de preos, com base em uma inflao que na verdade no existiu. Tinha em mente o caso de algumas empresas denunciadas ao Ministrio da Fazenda por tentarem antecipar aumentos de preos antes mesmo da divulgao oficial do IPC-r de agosto. Mesmo considerando que a primeira acepo da palavra escrpulo hesitao ou dvida da conscincia, sem qualquer conotao moral, compreendo que a frase em que usei a palavra, citada fora do contexto e sem a explicao dada por esse pano-de-fundo, tenha causado surpresa e consternao. Em nenhum momento, menti populao. Em nenhum momento, escondi informaes. Em nenhum momento, manipulei ou deixei que manipulassem ndices de preco. Em nenhum momento, deixei de me conduzir de acordo com princpios ticos e religiosos que sempre pautaram a minha vida particular e pblica. Quando fiz o comentrio presunoso de que o governo precisa muito mais de mim do que eu dele, estava respondendo a uma pergunta sobre minha eventual participao em futuro governo, e no no atual governo. Fao questo de retificar a impresso falsa que se criou a partir dessa passagem porque prezo de forma muito especial os sentimentos de respeito e lealdade que me ligam ao presidente Itamar Franco. Meus comentrios pessoais sobre os possveis efeitos do Plano Real nas eleies e sobre a cobertura do plano pelos meios de comunicao no foram mais do que impresses superficiais. Eles carecem de qualquer base concreta que os possam justificar, a no ser pela associao inevitvel que se tem feito entre a candidatura do meu antecessor no Ministrio da Fazenda e o Plano Real, em razo de o senador Fernando Henrique Cardoso ter sido o idealizador e o executor inicial do programa de estabilizao. As minhas fraquezas no podem prejudicar o que o mais importante neste momento, que o xito do Plano Real. Por isso, pedi demisso. Essa a contribuio que posso dar continuidade do plano e a maior demonstrao de lealdade ao povo que confiou em mim. Durante os cinco meses em que estive frente do Ministrio da Fazenda, procurei, dentro das minhas possibilidades, contribuir para a implementao de um plano que slido, equilibrado e capaz de trazer a estabilidade ao Brasil e acabar com o pesado sacrifcio imposto pela inflao aos mais pobres. Identifiquei na explicao do plano e na orientao das pessoas mais simples, daqueles que sempre foram esquecidos nas grandes mudanas tentadas na nossa economia, a minha principal misso. Nunca faltei com a verdade ou com sinceridade que garantiam o nico instrumento de que eu dispunha para a ao, que a credibilidade. Fui por vezes criticado por falar demais em pblico, por expressar com franqueza os meus sentimentos e opinies, por adiantar idias fora dos procedimentos tradicionais, mas jamais por dar falsas esperanas ou criar expectativas descabidas. Trabalhei at o limite das minhas foras, no poupando incontveis horas extras de esforo, muitas delas roubadas ao convvio com minha famlia. Nos fins-de-semana em que poderia descansar, viajei pelo Brasil para levar, a Estados e cidades que h muito no eram visitados por um ministro da Fazenda, ou que nunca o tinham sido, informaes sobre as mudanas na economia e uma palavra de confiana no Plano Real e na fora dos cidados. Procurei transformar o Ministrio da Fazenda em um instrumento de mobilizao social em torno dos direitos dos consumidores e da luta contra a inflao, porque acreditei desde o princpio que nada se faria sem a participao do povo brasileiro, especialmente das donas de casa, dos aposentados, dos estudantes, dos trabalhadores que finalmente comearam a ter motivos verdadeiros para confiar no futuro do pas que constroem com o seu esforo. A todos peo que sigam engajados nesta luta que do Brasil inteiro; que no se desmobilizem nunca; que continuem a participar do Plano Real com o mesmo esprito cvico que est mudando a face do Brasil para melhor; e que dem ao meu sucessor o mesmo apoio que me incentivou e me fez ter orgulho do que estava fazendo. O Plano Real uma obra coletiva da Nao e tem sua continuidade assegurada pelo xito que j obteve, pela qualidade e competncia da equipe econmica que ajudou a conceb-lo e est ajudando a implement-lo, e pelo compromisso do governo do presidente Itamar Franco com a estabilidade econmica como condio para o desenvolvimento e a justia social. Se pude ter algum sucesso no exerccio das minhas funes e principalmente na tarefa de informar e orientar a populao, foi porque contei sempre com um grande apoio da imprensa falada e escrita deste pas, muito especialmente de jornalistas que me acompanharam desde o primeiro dia. A todos dirijo uma expresso de agradecimento e fao uma homenagem sincera pelo seu profissionalismo. Finalmente, quero reservar uma palavra de carinho a minha famlia, a Marisa, minha mulher, e aos meus filhos Cristina, Isabel, Bernardo e Mariana. Eles so a razo de tudo o que fao, de tudo aquilo em que acredito; deles recebo a fora que me ajudou sempre e que me ajuda agora, neste momento em que posso retornar ao convvio para com eles compartilhar estas lies de vida que ainda aprendo e a satisfao pelo que pude realizar. Ao iniciar a minha experincia no Ministrio da Fazenda, no momento de receber o cargo, pedi a Deus que me desse a fora da sua graa, a qual nunca veio a me faltar nestes meses. Agora que me despeo deste ministrio e retorno a minha vida de funcionrio e professor, quero evocar, como melhor fecho desta minha passagem pela vida pblica, duas palavras de Deus na Bblia. A primeira, que resume tudo o que sinto nesta hora, do livro de J, quando o grande sofredor diz: O Senhor deu, o Senhor tirou. Bendito seja o nome do Senhor. A segunda citao do mesmo salmo que evoquei no dia de minha posse, o Salmo 32, que transcrevo, desta vez, de forma mais completa: Feliz o povo cujo Deus o Senhor e a nao que escolheu por sua herana. Dos altos cus o Senhor olha e observa; Ele se inclina para olhar todos os homens. Ele contempla do lugar onde reside e v a todos os que habitam sobre a terra. Ele formou o corao de cada um e por todos os seus atos se interessa. O Senhor desfaz os planos das naes e os projetos que os povos se propem mas os desgnios do Senhor so para sempre os pensamentos que Ele traz no corao, de gerao em gerao vo perdurar. No Senhor ns esperamos confiantes, porque Ele o nosso auxlio e proteo. Por isso o nosso corao se alegra Nele, Seu santo nome nossa nica esperana. Sobre ns, venha, Senhor, a Vossa graa, da mesma forma que em Vs ns esperamos.
Conhea a ntegra da carta Entreguei ao presidente Itamar Franco meu pedido de demisso do cargo de ministro da Fazenda. E agora dou a necessria explicao aos brasileiros que me honraram com sua confiana. Uma conversa particular que eu mantinha com o jornalista Carlos Monforte , por causa de uma falha eletrnica, foi levada ao ar sem meu consentimento e conhecimento. Os laos de parentesco com o jornalista e a longa convivncia facilitaram uma conversa solta , sem preocupao com a exatido dos conceitos e argumentos. A tarefa de divulgar o Plano Real , que me colocava em contato com o povo, e a exposio mdia insuflaram possivelmente a minha vaidade , a ponto de no vigiar minhas palavras. Mas assumo total responsabilidade por aquela demonstrao de fraqueza . Sem querer justificar meu ato, repudio a parte em que deixo transparecer arrogncia por minha atuao no Ministrio da Fazenda. Disso tudo, porm, aprendo uma lio de humildade: como qualquer ser humano , tenho limitaes de fraquezas . No hesito, pois, a pedir desculpas . Minha fala saiu de maneira confusa e entrecortada e , por isso, se prestou a acusaes precipitadas. Reconheo o choque provocado quando disse que no teria escrpulos em mostrar o que bom e esconder o que ruim. Na verdade , estava me referindo convenincia de divulgar semanalmente o IPC-r. Caso no mostrasse a tendncia recessiva da inflao, estaramos estimulando aumentos preventivos dos preosque era o caso de algumas empresas denunciadas ao Ministrio da Fazenda. Em nenhum momento , faltei aos princpios ticos e religiosos , que so parmetros para a minha vida particular e pblica. A frase o governo precisa muito mais de mim do que eu dele de tom presunoso- era uma resposta sobre minha participao num futuro governo e no no atual. Os comentrios que fiz sobre os efeitos do Plano Real nas eleies no passaram de impresses superficiais. A verdade que minhas fraquezas no podem prejudicar o Plano ; da o motivo do pedido de demisso. Posso dizer que nunca faltei com a verdade , fiadora da credibilidade para atuar frente ao Ministrio . Trabalhei com afinco na divulgao do Plano Real, sacrificando fins de semanas, que seriam reservados famlia, para levar a outros Estados informaes sobre ele. E ainda agora, peo a todos que continuem empenhados nessa luta , que est modificando positivamente a face do Brasil. Da minha parte, se pude ter algum sucesso principalmente nesta misso catequtica, foi porque contei com o apoio da imprensa , qual dirijo meus agradecimentos. E uma palavra final de carinho minha famlia esposa e filhos-- , a cujo convvio retorno , e com quem vou compartilhar estas lies de vida que aprendi.
in96ab26-b
PEQUIM - Os presidentes da China, Jiang Zemin, e da Rssia, Boris Yeltsin, anunciaram ontem em Pequim uma parceria estratgica, definida por Yeltsin como um modelo de relaes para outros pases. Num comunicado conjunto, os chefes de Estado alertaram contra naes que tentam dominar o mundo ps-Guerra Fria, recado claro aos Estados Unidos e seus aliados da Organizao do Tratado do Atlntico Norte (Otan, aliana militar ocidental). Os chanceleres dos dois pases frisaram, no entanto, que a nova parceria no uma aliana destinada a fazer frente a outras potncias. Alm do comunicado conjunto, Yeltsin e Jiang assinaram 13 acordos. Entre eles, um de cooperao para desenvolvimento de tecnologia militar e maior intercmbio entre suas Foras Armadas. Tambm estabeleceram uma linha direta de telefone ligando os dois gabinetes. Os dois presidentes disseram ainda que pretendem assinar um tratado para retirar seus soldados da fronteira comum. Yeltsin disse imprensa que a China vai aderir s conversaes do G-7 (grupo dos sete pases mais ricos) e Rssia sobre o banimento de testes nucleares. Mas de acordo com um porta-voz do governo chins, a histria no bem assim. Acho que preciso haver mais estudos e discusses, disse o porta-voz Shen Guofang. A China insiste na permisso de se realizar exploses nucleares pacficas depois da assinatura do tratado. Hegemonia - A parceria entre China e Rssia foi estabelecida um dia depois da divulgao, em Londres, do relatrio anual do Instituto Internacional de Estudos Estratgico (IIEE). O relatrio destaca a volta da diplomacia da fora, usada principalmente pelos Estados Unidos, potncia hegemnica no mundo depois do colapso do comunismo. (Apesar de apontar tambm, como exemplo desta diplomacia, as manobras militares da China no Estreito de Formosa.) Presses - No comunicado, Jiang e Yeltsin dizem que hegemonia, poderes polticos e repetida imposio de presses sobre outros pases continuam a ocorrer. A poltica de blocos tomou espao de outras manifestaes. Em resposta, a China diz considerar a campanha militar russa na Chechnia um assunto interno; a Rssia assume a mesma posio em relao a Formosa e ao Tibete. A questo da expanso da Otan para os pases da Europa Central e do Leste, a que Yeltsin se ope, tambm foi tratada pelos dois chefes de Estado. No que diz respeito ampliao da Otan, o presidente Jiang Zemin decididamente compartilha da opinio da Rssia de que a expanso da Otan em direo s suas fronteiras inadmissvel, disse Yeltsin. Para diplomatas, o acordo marca o pice dos laos entre Pequim e Moscou desde que a aliana sino-sovitica desmoronou nos anos 60, em meio rivalidade pela supremacia do mundo comunista e a conflitos de fronteira. Queremos que as relaes entre Rssia e China amaduream de modo que possam resistir a qualquer reviravolta, disse Yeltsin. As relaes de amizade sino-russas entraram numa nova era, confirmou Jiang. Yeltsin, que termina hoje a visita de trs dias China, no perdeu a oportunidade de alfinetar seus adversrios comunistas. Sem nenhum constrangimento, o presidente russo disse para uma platia formada pela elite comunista chinesa que uma vitria comunista nas eleies de junho na Rssia seria uma tragdia para o pas.
Os presidentes da China e da Rssia, Jiang Zemin e Boris Yeltsin, firmaram uma parceria estratgica, designada por Yeltsin com um modelo de relaes para outros pases. Num comunicado conjunto , previnem as naes que tentam dominar o mundo ps-Guerra Fria--- Estados Unidos e aliados do Otan. Alm desse, assinaram 13 acordos , entre os quais, um de cooperao para desenvolvimento de tecnologia militar e maior intercmbio entre as suas Foras Armadas. Estabeleceram, tambm, uma ligao telefnica direta entre os dois gabinetes , e pretendem retirar as tropas da fronteira comum. O retorno da diplomacia da fora, principalmente por parte dos Estados Unidos, certamente tem a ver com a deciso dos dois pases. No clima do acordo, China e Rssia esquecem mutuamente os conflitos poltico-militares internos. E na direo dos prprios interesses, firmam posio contra a expanso da Otan para os pases da Europa Central e do Leste. Para os diplomatas , o acordo representa o ponto alto das relaes entre os dois pases , desde o desmoronamento da aliana entre eles, provocado pelos conflitos de fronteira e pela vaidade de definir a supremacia no mundo comunista. Apesar dos votos de amor eterno , Yeltsin , no seu discurso a uma platia formada pela elite comunista chinesa, disse que uma vitria comunista na Rssia nas prximas eleies seria uma tragdia.
br94ag11-16
Leia a ntegra do discurso do ministro da Fazenda Esta a ntegra do discurso do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, em cadeia de rdio e TV: Boa tarde. Demorei um pouco para voltar a conversar sobre a economia para deixar mais tempo para voc sentir o que viver sem inflao. Voc j pode perceber que o salrio mantm o seu poder de compra: os preos, em sua maioria, ficaram estveis, muitos deles caram e continuam a cair. O Plano Real est dando certo graas ao apoio que vem recebendo de cada um de vocs. As pesquisas indicam que mais de 70% do povo brasileiro apoia o plano e aprovam o trabalho do presidente Itamar Franco. Isso mostra que estamos no caminho certo e que o fim da inflao era um desejo da imensa maioria dos brasileiros, que no suportavam mais conviver com aumentos dirios de preos, com a especulao e com a carestia. O real permite saber os preos de cor, comparar, lembrar quanto se pagou na semana passada. A estabilidade facilita a vida. Acabou aquela aflio com o dinheiro que se desvalorizava a cada dia. Os efeitos concretos de ter uma moeda forte e de ser um consumidor consciente voc est vendo no seu dia-a-dia. A cesta bsica, por exemplo, j caiu 5,68% desde o dia 1 de julho at o dia de ontem. E deve cair ainda mais, se no tivermos problemas com o clima, como a geada. Estamos propondo aos governadores reduzir o imposto sobre os produtos da cesta bsica e garantir que essa reduo beneficie ainda mais o consumidor, tornando a cesta mais barata, especialmente para os mais pobres. Estamos negociando com os produtores de frangos, ovos e carne de porco para garantir esses produtos, a preos razoveis e estveis, durante a entressafra da carne de boi. Se voc substituir a carne de boi pela de frango, ovos e at carne de porco -que no Brasil, vou dizer, no est to barata como devia-, vai sair ganhando, porque vai economizar e vai ajudar a baixar o preo da carne de boi. O consumidor no pode baixar a guarda. Para manter os bons resultados que tivemos at agora, preciso que a populao continue nesta luta que de todos ns. Ainda cedo para acharmos que tudo est sob controle e que podemos nos despreocupar. Mas voc pode me perguntar: se a inflao j baixou, se os preos at cairam, se o salrio manteve o seu poder de compra e at pode comprar mais, por que ento no devo voltar a gastar o meu dinheiro do mesmo jeito que fazia antes? Por que continuar repetindo esse discurso pedindo cuidado e moderao nas compras? A resposta simples. Em primeiro lugar, porque os preos ainda podem cair muito mais. H muita gordura nos preos. Isso voc pode ver pelas promoes, s vezes com desconto de mais de 50%. Ora, quem d desconto de 50%, e ainda tem lucro, porque est trabalhando com ganhos muito elevados, com preos muito gordos. Se ns comearmos a comprar demais agora, esses preos podem parar de cair. J se comprarmos com cuidado, adiando o que no urgente e procurando o melhor preo, vamos sair ganhando ainda mais porque vamos comprar mais barato dentro de pouco tempo. E ateno: ainda h diferenas escandalosas, absurdas, entre os preos de um mesmo produto em lojas diferentes. Se o consumidor no tomar cuidado, vai sair perdendo muito. Em segundo lugar, as lojas esto facilitando as vendas, dividindo o preo em trs, quatro vezes, ou oferecendo credirio. E a que existem dois problemas. O primeiro que, com o fim da inflao, preciso prestar muita ateno na diferena entre o preo vista e o preo total a ser pago a prazo. Some as parcelas. Quase sempre voc vai se espantar com a diferena. E essa diferena no se justifica mais, porque a inflao muito baixa e os juros esto caindo. O segundo problema, porm, quando o preo vista e o do credirio o mesmo. Uma amiga minha, por exemplo, foi comprar aqui em Braslia uma armao de culos e o vendedor pediu R$ 200 vista ou cinco prestaes de R$ 40. Ora, mesmo se a inflao fosse zero, existe um custo do dinheiro que o juro. portanto, se o vendedor recusa fazer desconto vista porque nesse preo est embutido um lucro exagerado. O consumidor brasileiro ainda est muito desprotegido, porque a inflao o acostumou a pensar que o preo bom se ele puder comprar a mercadoria, no importando muito se o valor pago justo. Com isso, acabamos comprando mais caro ou pagando juros altssimos, que vem embutidos nesses esquemas de pagamento facilitado. Gostaria de pedir a todos, s donas-de-casa, aos aposentados, s pessoas que me escrevem para formar associaes de consumidores. No difcil. Vamos distribuir nas agncias do Banco do Brasil cartilhas com conselhos prticos para preparar listas de preos, com as leis Antitruste e do Consumidor. Pea ao seu jornal, ao seu clube ou igreja para publicar colunas e boletins para defender seus direitos, exigir produtos com qualidade, segurana, garantia, preos justos. Vamos organizar concursos para premiar as melhores iniciativas, vamos estimular com apoio financeiro, se preciso, a publicao de revistas comparando preos e qualidades de produtos, como em outros pases. Em vez de ser o ministrio dos poderosos, em vez de ser o governo dos poderosos, o governo do presidente Itamar, o nosso ministrio, vai ser o ministrio do consumidor, da dona-de-casa, do aposentado, daquele que nunca ouvido quando se tomam decises. Por ltimo, bom lembrar que agora, com a inflao muito baixa, poupar passou a ser ainda melhor. Voc pode planejar para o futuro, pensar em comprar uma geladeira ou uma mquina de lavar, um carro, ou mesmo a casa prpria. E isso fica mais fcil se voc tiver uma boa parte do dinheiro guardado para dar de entrada ou at comprar a vista. Assim, voc negocia melhor o preo, tem mais escolha, pode avaliar melhor as oportunidades. Aquele hbito de gastar o dinheiro na primeira opo que aparecia coisa do passado, de quando o dinheiro queimava na mo. Agora, diferente. A caderneta de poupana tem sido o melhor investimento, especialmente para o cidado comum, o trabalhador, os que vivem de salrio ou da aposentadoria. No se deixe impressionar com o rendimento aparentemente mais baixo da poupana de agora em diante. Ele agora um rendimento real e ainda por cima muito maior do que na maioria dos pases que tm inflao baixa. A inflao roubava de ns o futuro e nos fazia olhar para o imediato, o curto prazo. Nos outros pases, o rendimento da poupana fornecido para o ano, no para o ms. Nos Estados Unidos, por exemplo, ela rende 4% ao ano, ou pouco mais. Aqui est rendendo mais de 30% ao ano. Pense em tudo isso. voc tem feito muito pelo sucesso deste plano. Ele s est dando certo por causa de voc, por causa do seu apoio.
Neste outro discurso , aps algum tempo de implantao do Plano Real, o ministro volta a dirigir-se populao. Procura insistir nas suas vantagens: preos estveis ou mais baixos, queda de 5,68% na inflao em pouco tempo, facilidade de manter os preos de cor, o que permite fazer comparaes. E o trunfo : mais de 70% da populao o aprova. Fala de medidas tomadas reforar o sucesso do plano: a proposta aos governadores de reduo do imposto sobre produtos da cesta bsica, o que beneficiar os mais pobres; negociao com os produtores de frangos , ovos e carnes de porco para que estabilizem os preos durante a entressafra da carne de boi. Mas no esquece a participao do consumidor , lembrando-o de que tambm responsvel xito , e ainda de que se o plano for bem sucedido, ele , consumidor, que lucra. Para o consumidor apressado, que, com as vantagens conseguidas, quer voltar a consumir como antes , diz que isso impediria a continuidade de queda dos preos. E esclarece : se nas promoes chega a haver descontos de 50%, certamente com lucro, porque os ndices esto muito elevados. A seqncia do discurso do ministro est toda voltada para alertas e conclamao do consumidor. Por exemplo, diferenas escandalosas de preos do mesmo produto , de uma loja para outra; vendas a prazo com taxas de juros muito acima das razoveis num perodo de estabilidade financeira; preos iguais, vista ou prazo --- forma de manter preo elevado. Conclama as donas-de-casa , os aposentados e outros interessados a formarem associaes de consumidores. E, para facilitar essa tarefa, diz que vai distribuir cartilhas informativas nas agncias do Banco do Brasil. . Finaliza esclarecendo aos assalariados comuns que poupar o melhor investimento. O pequeno investidor no deve desistir pelo fato de os juros da caderneta de poupana serem pequenos; isso natural num perodo de estabilidade. Em compensao, ele ter dinheiro para uma compra vista muito mais vantajosa.
op94se25-01
Depois pode ser nunca Daqui a uma semana e um dia votam 94 milhes de brasileiros. A pesquisa Datafolha publicada hoje confirma o favoritismo de Fernando Henrique Cardoso que, amparado no real, vai para uma provvel vitria j no primeiro turno. H certamente entre os eleitores que at agora optaram por FHC muitos que reconhecem no candidato virtudes pessoais, outros que acreditam nos princpios da social-democracia. Mas no h como negar a imensa fora mobilizadora do projeto de estabilizao. O prprio candidato reconhece e insiste nesse ponto quase cotidianamente, colocando sua candidatura como garantia de continuidade na luta contra a inflao. Porm, se ocorrer de fato a vitria no primeiro turno, a lgica se inverte: no ser mais o plano a embalar o candidato, mas o futuro presidente obrigado a mostrar como, de fato, a luta continuar. Talvez os trs meses iniciais do real tenham sido j a lua-de-mel entre a sociedade e FHC. A partir de outubro tudo vai se passar quase ao contrrio de uma eleio comum, em que o vitorioso tem ainda um tempo longo at a posse e, depois desta, um perodo de graa. A luta pela estabilidade, apesar dos bons resultados iniciais, mal comeou e parece improvvel que se possa simplesmente comemorar e esperar, entre outubro de 94 e janeiro de 95. Se eleito no primeiro turno, FHC ter um capital poltico sem precedentes no pas. Collor, sem vencer no primeiro turno, tambm tinha um capital significativo, afinal investido num plano, secreto, lanado no dia da posse. Agora o plano est na rua e exige desde j do futuro chefe de governo no apenas o endosso a medidas tpicas, mas uma iniciativa imediata e transparente, que confirme a expectativa de que o real ser consolidado. O risco maior a embriaguez da vitria dilatar as pupilas do vencedor, criando a sensao enganosa de que o futuro, seu e do plano, est magicamente assegurado. o risco de ignorar o fato poltico nu e cru de que no h poder que se sustente indefinidamente, sem desgaste, ainda que seja inicialmente enorme. , em suma, o risco de um plano arrojado e ainda incompleto transformar-se precocemente em nova verso da velha e conhecida poltica do feijo-com-arroz. A lua-de-mel ter de converter-se rapidamente em ao, se no se quer no cotidiano ps-eleitoral frustrao eleitoreira e politiquice. Certamente haver dificuldades em levar o Congresso Nacional a votar reformas, particularmente antes de eleitos todos os governadores e articulada a nova base parlamentar. Mas entre essa constatao bvia e a inrcia h uma enorme distncia que, mal preenchida, converte-se rapidamente em vcuo e decepo. Como a poltica tem horror ao vcuo, a rigor talvez seja justamente nesse perodo que o futuro presidente disponha de maior prestgio e, portanto, capacidade de superar essas dificuldades. Algumas iniciativas j oferecem uma perspectiva mais ofensiva. O deputado Jos Serra trata de levar a votao uma emenda que facilite alteraes futuras da Constituio. O assessor especial da Fazenda, Edmar Bacha, lanou o neologismo desconstitucionalizao. J o ministro da Fazenda, Ciro Gomes, menos comprometido com a idia de iniciar antes da posse do novo presidente uma mobilizao pela reforma da Constituio. O candidato que lidera as pesquisas ainda evita o tema. Ser certamente assediado, se vitorioso, pela mar montante das negociaes para composio do futuro ministrio e demais nomeaes. Talvez cogite de apresentar-se comunidade internacional. Pretender repousar antes de assumir a Presidncia. Tudo isso inevitvel. Deve-se entretanto fugir da iluso de que possvel dar tempo ao tempo. A energia e as foras que ser necessrio mobilizar para dotar o Brasil de uma Constituio compatvel com a estabilidade econmica so enormes, numa sociedade que prima pela inrcia e pelo jeitinho. Impe-se ao presidente da Repblica, principalmente se vitorioso no primeiro turno, logo depois da eleio lanar-se de corpo e alma na mobilizao, at agora adiada, por mudanas constitucionais. Na essncia, o dilema o mesmo que j se viveu em outros planos espetaculares de estabilizao: o ajuste radical do Estado e as mudanas enfim da ordem econmica necessrias para viabilizar uma moeda confivel, quando adiadas, no chegam nunca. Pecado maior de muitos que acreditaram, amparados em votos ou planos, que o poder para sempre.
Depois pode ser nunca Pesquisa do Datafolha publicada hoje confirma o favoritismo de Fernando Henrique Cardoso , candidato presidncia , nas eleies daqui a oito dias. Entre os seus eleitores , muitos reconhecem as suas qualidades pessoais, outros acreditam nos princpios da social-democracia. Mas o projeto de estabilizao em curso tem muito a ver com essa preferncia, como o prprio candidato reconhece. Porm, necessrio analisar que, passada a vitria, a situao muda: o presidente eleito vai ter que mostrar servio para a continuidade do plano , pois a luta pela estabilidade mal comeou. O povo vai exigir satisfao de suas expectativas. A embriaguez da vitria no se sustenta na crena de que o plano est magicamente assegurado. Nenhum poder dura indefinidamente sem desgaste. Portanto, a alegria do vitorioso deve se concretizar logo em ao. verdade que haver dificuldades em obter do Congresso Nacional votao de reformas , principalmente antes de eleitos os governadores e definida a nova base parlamentar. Mas convm cuidar-se , pois poltica tem horror a vcuo. J esto sendo encaminhadas algumas iniciativas. O deputado Jos Serra encaminha emenda que facilite alteraes na Constituio; o assessor da Fazenda, Edmar Bacha , lanou o neologismo desconstitucionalizao. S o ministro da Fazenda, Ciro Gomes, mais cauteloso antes da posse do presidente. Sabendo-se quanto de energia ser necessrio para adequar a Constituio estabilidade econmica, convm no perder tempo.
di94ma08-15
Real pode nascer sem lastro e sem ncora No existem regras simples nem planos mirabolantes que sejam capazes de estabilizar a moeda de golpe MARIA DA CONCEIO TAVARES Especial para a Folha O debate acadmico estritamente formal sobre a possibilidade de uma escolha simples entre cmbio fixo com taxa de juros varivel ou cmbio flutuante com taxa de juros fixa no encontra mais apoio emprico em qualquer experincia contempornea. No entanto, apesar das evidncias de que no h regras fixas nem equilbrios automticos possveis nos mercados de cmbio mundiais, continua-se, nas palavras de Dionsio Carneiro (O Estado de S. Paulo, 05/05/94), vendendo para os agentes econmicos contos da carochinha como os do Plano Cavallo ou o de opo simples entre ncora cambial e ncora nominal. O apelo idia de um sistema lastreado, a exemplo do h muito falecido padro ouro, tambm continua perturbando as mentes de nossos acadmicos, sejam eles ortodoxos ou heterodoxos. Suas leituras sobre hiperinflao europia do perodo entre guerras os leva a tentaes de transposio ou de reinveno absolutamente fantasiosas, dada radical diferena da situao financeira internacional contempornea. A tentativa de lastrear a nova moeda em dlar, numa cesta de moedas, em aes das estatais, em hipotecas de ativos reais, ou sob que forma seja, no far nascer por si s uma moeda real, em qualquer sentido da palavra. Ser obrigatoriamente uma moeda fiduciria, como so todas as moedas conhecidas contemporneas. Assim, em vez de perdermos tempo com fantasias estreis, seria melhor que nos dedicssemos a discutir as questes relevantes da terceira fase do suposto plano de estabilizao, que dever ser executado sob o comando do ministro Ricupero. Eleitoral ou no, tudo o que se sabe da nova etapa que j entrar com pouca credibilidade porque a ncora cambial no ser to ncora assim. Dado o atraso cambial, a taxa de cmbio no poder ser fixa, sob pena de ameaar o prximo governo de uma imediata midi ou maxidesvalorizao. O ex-ministro Mrio Henrique Simonsen j anunciou, h mais de um ms, que o real deveria vir o mais rapidamente possvel e a paridade cambial teria de admitir bandas de flutuao em torno de 15%, na melhor das hipteses. Como isto no propriamente uma banda que confira credibilidade nova moeda, a taxa de juros real poder ser ainda mais alta que a atual para evitar a especulao e a fuga de capitais que as autoridades monetrias e todos tememos. A discusso sobre a bolha de consumo que a remonetizao provocaria, a exemplo do fracasso do Cruzado, no vem ao caso, dado que nem as condies salariais, nem os preos em dlar, nem as taxas de juro (internas e internacionais) guardam qualquer semelhana com a situao anterior. Por outro lado, a idia de fixar metas quantitativas para a expanso da base monetria tem sido progressivamente abandonada, mesmo pela maioria dos bancos centrais de pases ricos. No por estarem comprometidos com a manuteno de uma taxa de cmbio fixa, mas porque simplesmente no conseguem nunca atingir essas metas, dada a interdependncia entre poltica monetria, fiscal e cambial, da qual o ex-presidente do FED (Banco Central norte-americano), mr. Volkof, foi ao mesmo tempo um dos principais causadores e vtimas desde os fins da dcada de 70. No caso brasileiro, a desregulao do mercado cambial e financeiro promovida pelo governo Collor antes mesmo de obter a abertura comercial e, principalmente, antes de obter a estabilizao relativa da nossa pobre moeda, levou a situao das finanas pblicas a um verdadeiro desastre. Uma poltica monetria pseudo dura, em menos de dois anos, em vez de acabar com a inflao, obrigou as finanas pblicas, j de si precrias, a aguentar o custo financeiro de absorver reservas internacionais fictcias, emitindo dvida pblica a taxas de juros flutuantes e progressivamente mais altas. Como j estou cansada de repetir-me, vou usar a palavra de um autorizado acadmico conservador, o professor Celso Pastore, que tem a vantagem de no ser aliado nem adversrio poltico da atual equipe econmica. O que vem recomendando ele nas suas poucas intervenes pblicas e acadmicas? Resgatar a poltica monetria da sua atual impotncia e da perversidade de uma entrada e possvel sada de capitais externos especulativos. Ele reconhece que a moeda atrelada ao cmbio no permite uma poltica monetria ativa e afirma que no caso do nosso peculiar sistema monetrio a elevao da taxa de juros produz mais e no menos inflao. Depois de desenvolver um raciocnio tcnico, que no caberia neste artigo, o professor Pastore recomenda que se volte a praticar controle da entrada (e oxal da sada) de capitais e que se adote no uma taxa de cmbio, mas duas. Uma taxa de cmbio comercial que possa acompanhar a situao de preos e competitividade de nossas exportaes e evite uma sobrevalorizao peridica sempre ameaada pela chamada lei Mailson. Esta indica que os exportadores pedem, exigem e conseguem uma maxidesvalorizao da ordem de 30% cada vez que o cmbio se atrasa demais, o que manda para o espao qualquer plano de estabilizao. Outra taxa de cmbio, a financeira, esta sim interagindo forosamente com a taxa de juros, atravs da poltica monetria ativa, porm sem torn-la rgida para baixo e, portanto, sem uma projeo perversa sobre a inflao e o dficit fiscal. Em resumo, prope o professor Pastore uma mudana no regime monetrio e cambial, que no vai na direo da falsa opo entre ncora cambial e ncora monetria, que est na moda no nosso debate falsificado. Evidentemente, tanto ele quanto Mrio Simonsen parecem ter mais f do que eu numa poltica de crdito restritiva e no controle da demanda agregada. Esse o lado que revela suas origens ortodoxas, mas pelo menos imprimem um maior realismo discusso contempornea. Tanto eles quanto eu e dezenas de economistas de todos os matizes, neles includo o deputado Delfim Netto, consideram a atual poltica de juros, bem como a proposta de uma ncora cambial pela metade extremamente problemticas. No creio que este acordo entre economistas de to diferentes procedncias se deva apenas ao desejo de fazer oposio ao atual governo ou ao seu candidato. Ao contrrio, nesta situao econmica de extrema gravidade, todos gostariam de ajudar o pas. Para isso, porm, necessrio que o nosso Banco Central busque no a independncia do Tesouro, que impossvel, mas que deixe de quebr-lo com a sua poltica agressiva de juros. Por outro lado, o governo deveria coordenar-se com os demais rgos econmicos, para no ocorrerem duas coisas, ambas graves. A primeira atrelar-se visivelmente a uma candidatura numa hora de tamanha instabilidade. A segunda tentar amarrar com reformas administrativas ou decises arbitrrias os destinos do prximo presidente da Repblica, por medo de que ele no seja o de sua preferncia. Quando fao as minhas crticas, no estou fazendo oposio ao governo do nosso pas ou ao Banco Central, estou apenas tentando colaborar, mostrando que no existem regras simples nem planos mirabolantes capazes de estabilizar a moeda de golpe. Esta s se estabilizar quando um novo governo, com opes claras de desenvolvimento econmico e social, abrir caminho de fato para a ancoragem de capitais num novo padro de crescimento. At l, e particularmente agora, o Banco Central no ter controle nem sobre a demanda, nem sobre a oferta da moeda. Assim, as medidas que ter de tomar sero fatalmente discriminatrias de setores amplos das prprias classes dominantes, sob pena de quebrar de vez o Estado. Neste sentido, o BC precisaria neste momento de todo o apoio poltico, que s encontrar se for capaz de ouvir representantes de todas as correntes polticas. Deveria levar em conta, sobretudo, que a fase quatro, depois de eleito o presidente da Repblica, ainda est sob sua responsabilidade e que existem assessores notrios e de reconhecida competncia em todos os partidos. MARIA DA CONCEIO TAVARES, 63, economista, professora emrita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade de Campinas (Unicamp).
Real pode nascer sem lastro e sem ncora No existem regras simples nem planos mirabolantes que sejam capazes de estabilizar a moeda de um golpe MARIA DA CONCEIO TAVARES- Especial para a Folha O debate acadmico formal em torno da possibilidade de uma escolha entre cmbio fixo com taxa de juros varivel ou cmbio flutuante com taxa de juros fixa insustentvel empiricamente em qualquer experincia contempornea. No entanto, continua o impasse entre opo por ncora cambial e ncora nominal, apesar das evidncias de que no h regras fixas nem equilbrios automticos nos mercados de cmbio mundiais. Os acadmicos continuam tambm discutindo a idia de um sistema lastreado . A tentativa de lastrear a nova moeda em dlar , no acarretar , por si s, uma moeda real Seria melhor, ento discutirmos as questes pertinentes da terceira fase do suposto plano de estabilizao. At agora , o que se sabe que j vem com pouca credibilidade porque a ncora cambial no justifica plenamente o nome. No caso brasileiro , a desregulao do mercado cambial e financeiro da poca Collor antes de obter a abertura comercial e a estabilizao relativa da nossa moeda deu num desastre. Cansada de repetir, vou usar as palavras do professor Celso Pastore, que vem recomendando resgatar a poltica monetria da sua atual impotncia e da perversidade de uma entrada e possvel sada de capital especulativo. Reconhece que a moeda atrelada ao cmbio no permite uma poltica monetria ativa e que , no nosso peculiar sistema monetrio , produz mais inflao. O professor recomenda ainda que retorne o controle da entrada de capitais e que se adotem duas taxas de cmbio. Uma comercial , para acompanhar os preos e a competitividade das exportaes. Outra, a financeira , que interagir com a taxa de juros por meio de uma poltica monetria ativa , sem torn-la rgida para baixo , o que evitar uma projeo ruim sobre a inflao e o dficit fiscal. Em resumo, ele prope uma mudana no regime monetrio e cambial , que fuja da falsa opo entre ncora cambial e monetria. Ele, Simonsen , eu e vrios economistas avaliamos a atual poltica de juros e a proposta de uma ncora cambial como muito problemticas. Nesta situao econmica to grave, no lugar de crticas ao governo, todos gostariam de ajudar. Para tanto, porm, preciso que o Banco Central busque no a independncia do Tesouro, que impossvel, mas evitar quebr-lo com a sua poltica de juros. O governo deveria sintonizar-se com os demais rgos econmicos, para evitar: Primeiro, ficar visivelmente preso a uma candidatura neste momento de instabilidade; segundo, tentar amarrar os destinos do prximo presidente com reformas administrativas ou decises arbitrrias , como se ele no fosse o preferido. A moeda s se estabilizar quando um novo governo, consciente das opes de desenvolvimento econmico e social, abrir sada para a ancoragem de capitais , tendo claro um novo padro de crescimento.
di94de25-12
A difcil convivncia com capitais externos O exemplo mexicano, que com a alta dos juros nos EUA perdeu investimentos estrangeiros, serve de lio LUCIANO COUTINHO Especial para a Folha Aps um longo perodo de marginalizao causado principalmente pela crise da dvida as economias em desenvolvimento voltaram, nos ltimos trs anos, a ser objeto de interesse dos capitais estrangeiros. Com efeito, aps captar muito pouco capital externo no perodo 1982-1989, os pases em desenvolvimento receberam abundantes influxos de capitais numa proporo mdia de 2,5% dos seus PIBs no perodo recente (1990-1994). US$ 400 bilhes afluram a estes pases nos ltimos quatro anos (cerca de US$ 96 bilhes/ano), sob a forma de investimentos em Bolsas de Valores, aplicaes financeiras em ttulos, inverses diretas e emprstimos aos respectivos setores pblicos. No caso da Amrica Latina, essa reverso foi ainda mais marcante, pois durante a etapa 1982-1989 a regio, ao invs de receber, havia transferido anualmente recursos para os credores e investidores numa proporo mdia de 2,4% do seu PIB. Ao contrrio, no perodo recente (1990-1994), recebeu influxos anuais equivalentes a 3% do PIB. Essa verdadeira avalanche de capitais em direo aos pases em desenvolvimento tem sido explicada pelos seguintes fatores conjunturais: a) pela lassido das polticas monetrias nos pases desenvolvidos que, com exceo da Alemanha, praticaram taxas de juros muito baixas entre 1990 e incio de 1994; b) pela busca de alternativas de retorno muito mais elevados, oferecidas pelos pases em desenvolvimento (juros dos respectivos ttulos pblicos e privados e expectativas de ganhos de capital nas Bolsas de Valores emergentes); c) pelas decises de investir diretamente nos pases em desenvolvimento, para expandir negcios ou adquirir ativos produtivos, aproveitando as atraentes oportunidades criadas pelos respectivos programas de privatizao. Influxos de capitais so em geral positivos para economias em desenvolvimento, mas em doses excessivas tornam-se negativos. Com efeito, as seguintes consequncias tm sido destacadas: 1) os ingressos de capitais permitiram acomodar dficits em conta corrente de magnitudes crescentes (os pases em desenvolvimento passaram de posio deficitria mdia anual de US$ 19 bilhes na segunda metade dos anos 80 para um nvel de US$ 94 bilhes/ano entre 1991-1994); 2) esses dficits elevados em conta corrente no seriam contraproducentes se correspondessem absoro de investimentos produtivos, mas adquirem carter deletrio se o ingresso de capitais financia primordialmente o incremento do consumo (a balana de comrcio dos pases em desenvolvimento passou de uma posio superavitria mdia anual de US$ 27 bilhes entre 1986-1990 para uma posio anual deficitria de US$ 23 bilhes entre 1991-1994). Na grande maioria dos pases, este dficit referiu-se importao de bens de consumo, sem que ocorresse uma elevao significativa da taxa de investimento agregado. No caso dos pases da Amrica Latina, a proporo dos investimentos sobre o PIB permaneceu praticamente constante, enquanto os gastos de consumo subiram 2,5% da renda nacional; 3) os influxos macios de capitais descontrolam a oferta monetria e provocam fortes valorizaes dos ativos reais e financeiros nos pases receptores (preos dos imveis, aes, ttulos), sinalizando presses inflacionrias; 4) os ingressos em grande escala de capitais externos inundam o mercado de divisas e provocam uma apreciao da taxa real de cmbio; 5) finalmente, os pases cujos dficits em conta corrente so financiados pela entrada de capitais tornam-se vulnerveis reverso destes fluxos. Nesta circunstncia, uma reverso abrupta criaria violentas tenses inflacionrias, forte depreciao cambial e risco de graves falncias financeiras. At mesmo as instituies mais ortodoxas, como o Fundo Monetrio Internacional, passaram a se preocupar com os riscos decorrentes dos influxos excessivos de capitais (1). O mais recente relatrio anual do Fundo (de outubro p.p.), adverte na pg. 57: ... a preocupao com influxos macios de capitais inclui o impacto sobre as condies monetrias, a possibilidade de intensificao das presses inflacionrias e de uma apreciao excessiva da taxa real de cmbio, o que tende a reduzir a competitividade externa e a exacerbar os dficits em conta corrente. Sobretudo, qualquer reverso sbita desses influxos colocaria em risco a viabilidade externa e a estabilidade domstica dos mercados financeiros. A gravidade desses riscos aumenta com a proporo de capitais de curto prazo e em pases onde as condies econmicas fundamentais no esto devidamente equacionadas (2). O exemplo mexicano, nesta semana que passou, no poderia ser mais eloquente. O que poderia causar uma sbita e perigosa reverso do movimento de capitais? O relatrio do FMI pondera que pode surgir nos pases desenvolvidos (especialmente nos EUA) uma forte inconsistncia entre a poltica fiscal (dficits elevados) e a poltica monetria, o que, associado a expectativas altistas de inflao, tenderia a provocar uma subida exagerada das taxas de juros nos mercados financeiros centrais, atraindo os capitais que hoje financiam os dficits dos pases em desenvolvimento. Esta possibilidade levada a srio pelo FMI, ao ponto de determinar uma alternativa pessimista para o cenrio global. Os juros muito elevados abreviariam a recuperao da economia mundial e provocariam uma dramtica crise dos pases em desenvolvimento, particularmente naqueles que dependem de entrada de capitais externos. Isso j no mais apenas um cenrio. A subida recente da taxa de juros nos EUA colocou o Mxico, j vulnervel, numa situao periclitante, obrigando as autoridades econmicas a admitir uma forte maxidesvalorizao do peso, cujas consequncias ainda esto por vir. Ainda difcil prever a dimenso do estrago, cuja digesto depender do apoio que o Federal Reserve americano possa dispensar ao BC mexicano. De qualquer forma, a credibilidade foi quebrada e dificilmente se conseguir reverter uma significativa depreciao do peso mexicano, provocando graves perdas para os investidores estrangeiros (detentores de US$ 51 bilhes em papis mexicanos) e prejuzos para o governo, empresas pblicas e privadas mexicanas devedoras em dlar. Tenses inflacionrias poderosas sero deflagradas, em virtude do elevado coeficiente de importao, colocando em risco o anunciado congelamento de preos e salrios por 60 dias. Se a cadeia de efeitos desestabilizadores no for brecada por intervenes, a Argentina ser a prxima vtima. Mas, ainda que as sequelas da crise mexicana venham a ser parcialmente neutralizadas, ser inevitvel uma interrupo por vrios meses dos influxos de capitais para a Amrica Latina. Para o Brasil, que inicia um novo governo, cercado de grandes esperanas e otimismo, esta interrupo temporria dos influxos de capitais livra a nova equipe econmica do dilema imediato de como evitar presses adicionais de valorizao do real sem desequilibrar as condies fiscais-monetrias internas. relevante, porm, aprender a lio e preparar alternativas para o futuro. Passada a tempestade, os influxos podero voltar, ainda que em menor escala, uma vez que o Brasil hoje visto como uma rea sub-representada nas carteiras de aplicaes dos bancos e investidores internacionais. At pouco tempo atrs, antes da imploso mexicana, importantes instituies bancrias recomendavam a ampliao do peso de papis brasileiros em seus ativos. Agora ficou insofismvel: no possvel ajustar-se passivamente aos influxos de capitais e aceitar dficits elevados em conta corrente (como desejava parte da atual equipe econmica) sem correr graves riscos. indispensvel imaginar formas de corrigir a defasagem da taxa de cmbio e evitar sua apreciao adicional. Num prximo artigo exploraremos alternativas de poltica nesta direo, compatveis com o Plano Real e consistentes com a retomada organizada do desenvolvimento. (1) Vide Recent Experiences with Surges in Capital Inflows, Kahn, R. et alli, I.M.F., dezembro, 1993. (2) Vide World Economic Outlook, I.M.F., outubro, 1994. LUCIANO COUTINHO, 47, professor titular do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). Foi secretrio-geral do Ministrio da Cincia e Tecnologia (governo Sarney).
A difcil convivncia com capitais externos O exemplo mexicano, que com a alta dos juros nos EUA perdeu investimentos estrangeiros, serve de lio. LUCIANO COUTINHO Especial para a Folha Aps longo perodo de excluso provocado principalmente pela dvida- os pases em desenvolvimento voltaram a ser interesse do capital externo. Em perodo recente ( 1990-94) esses pases chegaram a receber influxos externos numa mdia de 2,5% dos seus PIBssob a forma de investimentos em Bolsas , aplicaes em ttulos e emprstimos aos setores pblicos. Na Amrica Latina , essa reverso se destaca pelo fato de antes (l982-l989) a regio transferir recursos quase equivalentes para seus credores. Essa avalanche de capitais para os pases em desenvolvimento assim tem sido explicada: a) pelo afrouxamento das polticas monetrias nos pases desenvolvidos que praticaram taxas de juros muitos baixos entre 1990 e incio de 1994; b) pela inteno de expandir negcios ou adquirir ativos produtivos , aproveitando-se dos programas de privatizao. Altas doses de influxos de capitais tm efeitos negativos, provocando conseqncias : 1- esses influxos permitiram acomodar progressivos dficits em conta corrente; 2- eles provocam efeitos negativos por facilitar mais o consumo e menos investimentos produtivos; 3- descontrolam a oferta monetria e provocam fortes valorizaes dos ativos reais e financeiros nos pases que os recebem, pressionando a inflao; 4- o financiamento de dficits com a entrada desses capitais pode provocar inflao, depreciao cambial e falncias , caso haja reverso repentina deles. At o Fundo Monetrio Internacional passou a preocupar-se com esses influxos excessivos. Quais as conseqncias dessa reverso repentina? - nos pases desenvolvidos , uma forte inconsistncias entre a poltica fiscal (dficits elevados) e a poltica monetria, ocasionando elevao das taxas de juros nos mercados financeiros centrais, subtraindo o capital financiador de dficits nos pases em desenvolvimento; - os juros muito altos abreviariam a recuperao econmica nos pases do Primeiro Mundo, mas provocariam crise nos menos desenvolvidos. Isso j no suposio . O Mxico, por conta da elevao dos juros nos EUA , viveu situao dramtica , sendo obrigado a uma forte maxidesvalorizao do peso e perda de credibilidade , de difcil recuperao. Para Brasil , que inicia novo governo sob uma clima de otimismo, a interrupo de captao de capital temporria alvissareira , pois fica livre de como evitar presses extras de valorizao do real . fundamental , no entanto, aprender a lio e preparar alternativas futuras, pois impossvel evitar altos riscos , acumulando altos dficits e aceitando capital externo para financi-los.
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Comparada com a potencialidade econmica do pas, o nvel da educao bsica brasileira est em ltimo lugar no mundo. A informao est num relatrio preparado pelo Unicef (Fundo das Naes Unidas pela Infncia), a ser divulgado este ano no Brasil. O dado preocupante no apenas por revelar a baixa taxa de cidadania. Revela tambm um obstculo para o crescimento econmico, cada vez mais dependente de mo-de-obra educada, compatvel com o avano tecnolgico. A pesquisa sobre a situao educacional no mundo est includa num relatrio intitulado The Progress of Nations (O Progresso das Naes). Para se determinar a posio de cada nao, o Unicef comparou a taxa de evaso escolar com o Produto Interno Bruto per capita soma de todos os bens e servios produzidos, dividida pela populao do pas. Para cada pas foi estipulada uma taxa de crianas que deveriam ter completado pelo menos cinco graus de escolaridade. Essa taxa corresponde ao nvel da potencialidade econmica, definido pelo PIB, de cada pas. Essa taxa foi ento comparada com taxa real de escolarizao. O nvel real de escolarizao foi subtrado do nvel esperado. Este valor definiu a posio do pas no ranking de 129 naes. Pelo potencial econmico brasileiro, pelo menos 88% das crianas matriculadas no primeiro grau deveriam concluir pelo menos a 5 srie. Com base em dados fornecidos pelo Ministrio da Educao, a lista da ONU informa que apenas 39% chegam a este estgio. Com isso, o pas ficou com ndice negativo de 49 pontos. Acima do Brasil, est o Gabo, na frica, com ndice negativo de 40 pontos. Na Amrica do Sul, naes bem mais pobres do que o Brasil exibem um ndice expressivamente mais alto. O Paraguai, por exemplo, recebeu 6 pontos negativos ou seja, est prximo do nvel aceitvel. O Uruguai apresenta 6 pontos positivos. Eles deveriam ter matriculados 88% das crianas at a 5 srie: sua taxa de 94%, comparvel aos pases mais desenvolvidos do planeta. Na Sua, todos os meninos (100%) continuam nas escola at esse estgio. O ministro da Educao, Murlio Hingel, admite: Apesar de todos os esforos, nosso ensino bsico vexaminoso. Segundo as estimativas do ministrio, apenas 22% dos alunos completam a 8 srie. S 5% conseguem concluir o 1 grau sem repetir um ano. A mdia de permanncia na escola de um aluno que completa a 8 srie de aproximadamente 12 anos. um tremendo desperdcio de recursos. Tivssemos uma taxa menor, haveria menos sobrecarga de professores e salas de aula, afirma Hingel, numa opinio compartilhada pela imensa maioria dos educadores brasileiros. Ao se aprofundar a discusso do desperdcio da repetncia, encontra-se um antigo mito: a criana sai da escola por falta de condies econmicas da famlia. As mais recentes pesquisas esto demonstrando que a famlia valoriza a educao, vista como um mecanismo de ascenso social.Mas o aluno no consegue progredir, assimilar conhecimento e, depois de vrias tentativas em meio repetncia, engrossa as estatatsticas de evaso escolar. H uma srie de fatores que confluem: os professores recebem baixos salrios e so mal-treinados, a metodologia e o currculo so inadaptados, o aluno chega sala de aula sem nenhuma base educacional da famlia ou da pr-escola. At as instalaes facilitam a evaso, criando um ambiente inadequado. Recente pesquisa patrocinada pelo Ministrio do Planejamento mostra que, em 75% das escolas pblicas, no existem banheiro ou eles no esto funcionando. O Ministrio da Educao calcula que existem ameaas dificultando a melhoria das escolas. Devido a mudanas legais, facilitaram-se as aposentadorias de professores, o que fez aumentar a despesa do ministrio com inativos. At cinco anos atrs, os gastos com aposentados representavam 15% da folha de pessoal do ministrio. Agora, chegam a 40%, cerca de R$ 700 milhes por ano. O ministro Hingel chega a prever o que chama de caos: Se mantivermos esse ritmo, num prazo de 10 anos todas as verbas do ministrio sero destinadas apenas aos aposentados.
Comparada com a potencialidade econmica do pas, o nvel da educao bsica brasileira est em ltimo lugar no mundo , segundo relatrio do Unicef. O dado preocupante pelo que significa de excluso de cidadania e de entrave ao desenvolvimento econmico. O clculo se baseia na comparao da evaso escolar---levando-se em conta a expectativa de pelo menos cinco anos de escolaridade--- com a diviso do PIB pela populao do pas. Segundo ele, 88% das crianas brasileiras deveriam concluir pelo menos a 5 srie. Com base nos dados do Ministrio da Educao , apenas 39% chegam l , e o pas ficou com 49 pontos negativos. Abaixo , portanto, do Gabo , na frica, (40 pontos negativos), do Paraguai (6 pontos negativos), Uruguai ( 6 pontos positivos) , sem contar a Sua onde 100% das crianas continuam na escola at esse estgio. A evaso escolar representa um imenso desperdcio de recursos. Mais do que culpar a falta de condies econmicas da famlia como causa da evaso , preciso rever os baixos salrios, o mau treinamento dos professores , a metodologia , o currculo , e at m qualidade das instalaes educacionais. O Ministrio da Educao v dificuldades na melhoria das escolas, pois h um comprometimento muito srio com aposentadorias precoces. E exemplifica com dados: at cinco atrs , os gastos com aposentados representavam 5% da folha de pagamento; agora, chegam a 40%. Nesse ritmo, segundo o ministro Hingel , o emperramento da mquina ser total.
co94de04-23
Especialistas denunciam onda neopaternalista MAURICIO STYCER Da Reportagem Local No intervalo de uma semana, em novembro, quatro episdios isolados, mas vistos em conjunto, mostraram o tamanho da onda neoconservadora que atinge So Paulo, avaliam especialistas de diferentes reas ouvidos pela Folha. Resumindo: Um menino de seis anos foi impedido de usar brinco em um colgio na zona oeste da cidade. Um empresrio foi interpelado por policiais ao fazer cooper de sunga no parque Ibirapuera. Um garoto de 14 anos foi rejeitado num colgio na zona leste por usar cabelo comprido. Dois grupos de rap foram detidos pela polcia enquanto cantavam msicas de protesto durante show no vale do Anhangaba. Um dos primeiros a estranhar essa sucesso de fatos foi um estrangeiro, o escritor portugus Miguel Esteves Cardoso, que visitava So Paulo na semana passada. Nesta sua terceira viagem ao Brasil, Cardoso se surpreendeu primeiro com uma sinistra novidade: a lei municipal que instituiu a obrigatoriedade do uso do cinto de segurana em So Paulo. Este o primeiro sinal de restrio s liberdades individuais. Em Portugal, tambm comeou assim, h dois anos. Na semana passada, no meu pas, fizeram uma lei que obriga o uso do cinto no banco de trs, diz Cardoso. Autor do romance O Amor Fodido, que veio lanar em So Paulo na Feira do Livro Portugus, Cardoso, 39, prefere chamar a onda neoconservadora de neopaternalista. Hoje o Estado me obriga a usar cinto de segurana. Amanh, vai me obrigar a fazer ginstica e me proibir de comer gordura, o que seria bom para o corpo, mas pssimo para as instituies. Se no usar o cinto, s vou causar mal a mim mesmo, diz. Como Cardoso, o advogado Celso Bastos, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, tambm v sinais de uma onda neopaternalista. H uma idia muito forte, e nada moderna, de que a sociedade deve ser liderada por algum que sabe alguma coisa porque a sociedade no saberia nada, diz. Diante dos fatos ocorridos recentemente em So Paulo, Bastos, 56, observa que o paternalismo est se espraiando para fora da esfera do governo. No caso do brinco, porm, o advogado ressalva: H 30 anos, era mais ntida a oposio entre liberais e conservadores. Hoje, muita gente hoje usa brinco por modismo e no para contestar valores. Para o psiclogo Marcos Ribeiro, autor do best-seller infantil Menino Brinca de Boneca?, preocupante que um colgio restrinja o uso de adornos, como brincos, ou o corte de cabelo dos meninos. Isso preconceito das escolas, diz. Ribeiro, 30, coordenador do Cedus (Centro de Educao Sexual), uma organizao no-governamental que est implantando um programa de educao sexual nas escolas municipais do Rio. A seis anos do fim do sculo, quando uma escola probe brinco ou rabo-de-cavalo, voc deve se perguntar: Ser que essa escola no est deixando de se preocupar com coisas mais importantes? Vtima direta da onda neoconservadora, o cantor de rap Big Richard, 21, est assustado. Agora virou moda. A polcia chega l e leva o cara. Da prxima vez, no sei se ele vai preso ou se vai para a vala, exagera. Big Richard foi detido no dia 15 de outubro, enquanto cantava Homens da Lei, uma msica que diz: Sempre, sendo por eles perseguidos, nos do porrada sem que haja motivos, espalham terror, da zona sul at a baixada. No ltimo dia 26 de novembro, seus colegas dos grupos Racionais MC's e RMN foram detidos por cantarem msicas com teores semelhantes. Se o Estado acha que a msica pesada, eles tm que entrar na Justia e me processar, e no fazer justia com as prprias mos, critica Big Richard. O rapper acha que a sua msica revolucionria e, por isso, est provocando reaes conservadoras. Seria iluso querer mudar o mundo com a minha msica, mas posso ensinar alguma coisa, como, por exemplo, que Nelson Mandela, Zumbi e a escrava Anastciano so apenas santos de macumba, diz.
Especialistas denunciam onda neopaternalista MAURCIO STYCER Quatro episdios isolados da semana passada mostram a intensidade da onda conservadora em S.Paulo, segundo especialistas ouvidos. Um menino de 6 anos foi impedido de usar brincos num colgio; um empresrio foi interpelado por fazer Cooper de sunga no Ibirapuera; um garoto de 14 anos no pde freqentar um colgio por ter cabelos compridos; dois grupos de rap foram detidos por cantarem msica de protesto no Anhangaba. O escritor portugus Miguel Esteves Cardoso , em visita a S.Paulo, foi quem estranhou primeiro a onda, com relao obrigatoriedade do uso de cinto de segurana. V nisso o primeiro passo para as limitaes de liberdades individuais. Outros viro no embalo, diz ele. Tambm o advogado Celso Bastos sente isso. Segundo ele, a estranha convico de que a sociedade precisa ser vigiada porque no sabe nada. No caso do brinco, ele diz que antes a polarizao contestatria era mais forte; hoje mais modismo. O psiclogo Marcos Ribeiro se preocupa com essas proibies de adornos em garotos. At pergunta se essa preocupao no falta de outras coisas principais em que pensar. O cantor de rap Big Richard foi detido por cantar msica de protesto . E tambm seus colegas dos grupos Racionais MCs e RMN. O cantor argumenta que se o Estado acha as suas msicas inconvenientes, que o processe na Justia.
br94se11-20
tica, ratos e outros bichos JUNIA NOGUEIRA DE S Peo licena aos leitores da Folha para reproduzir aqui uma carta que recebi na semana passada, enviada por um veterinrio de 39 anos que mora em So Paulo: Escrevo para pedir que voc lance o olhar para um lado que ficou esquecido no caso Ricupero: o jornalista Carlos Monforte. Ningum est analisando o que representa o poder da falta de tica dos jornalistas. Se a parablica no tivesse captado a conversa, bvio que os cidados brasileiros no saberiam nada do dilogo em que o sr. Ricupero mostrou sua alma, teve seu lapso de lucidez. Pergunto se Carlos Monforte teria ou no o dever de nos informar sobre o que pensava verdadeiramente o sr. Ricupero. Quantos jornalistas, inclusive da Folha, no nos informam do que sabem, a verdade? Esse o problema: a maior parte dos jornalistas, detentores do poder e dever de informar os cidados, no fazem seu trabalho. Eles so dirigidos pelo conceito de lealdade sua condio social e no cidadania, ao pas e verdade. O leitor est coberto de razo. A conversa parablica entre o agora ex-ministro Rubens Ricupero e o jornalista Carlos Monforte dominou o noticirio da semana, mas em nenhum momento a mdia de preocupou em fazer ela mesma um mea culpa e discutir seu verdadeiro papel nesse episdio. No dilogo que teve com o jornalista, o ex-ministro foi claro como gua quando disse que suas aparies na Rede Globo seriam um achado para a emissora, j que ela no precisaria mais dar apoio ostensivo (so palavras dele tambm) ao candidato FHC. Botam a mim no ar e ningum pode dizer nada. Agora, o PT est comeando, mas no pode. Ora, ora, ora. Estamos diante da confisso (tornada pblica) de um ministro de Estado segundo a qual a maior rede de televiso do pas d apoio por tabela, via Plano Real, a um dos candidatos Presidncia da Repblica e a mdia fecha boca, olhos e ouvidos, provavelmente inspirada pelo fato de que boa parte dela tem desmedida simpatia pelo mesmo candidato. A prpria Rede Globo no veiculou esse trecho da conversa entre Ricupero e Monforte, reafirmando a prtica de transformar em notcia apenas o que interessa a ela. Num episdio que revela muito da promiscuidade entre o poder e a imprensa, s a primeira parte levou a pior o que mostra que poder, de verdade, quem tem a imprensa. Especialmente o poder de se calar quando sua tica, e a tica de seus profissionais, que esto em discusso. A revista Veja que circulou semana passada publicou reportagem revelando (se que algum ainda no sabia) que existem emissoras de rdio e jornais do interior do pas que vendem espao para candidatos em campanha. Mas no s eles: a reportagem de Veja flagrou a mesma prtica num programa da Rdio Globo e nas pginas do Dirio Popular, ambos com uma respeitvel massa de pblico (o Dirio Popular teria, segundo a revista, uma circulao de 150 mil exemplares). Na quarta-feira, Folha e Folha da Tarde publicaram a mesma notcia sobre o Dirio Popular, acompanhada de explicaes de seu diretor-superintendente. No temos espao para todos os candidatos. Decidimos publicar informaes daqueles que se dispuserem a pagar. Tenho quase absoluta certeza de que o leitor no toma aquelas informaes como material jornalstico, disse Ricardo Saboya. No DP, uma nota de 25 linhas acompanhada de foto sai por R$ 1.000. O material no acompanhado de anotao que o identifique como propaganda eleitoral, como manda a lei. Ao contrrio do que diz o diretor-superintendente do DP, tenho quase absoluta certeza de que o leitor no percebe que aquele no material jornalstico. Trata-se de um abuso que fere a tica da imprensa (a que ela deveria ter, pelo menos), e contra o qual a Justia Eleitoral no se manifestou at o momento. Pelo menos seis leitores da Folha se incomodaram com uma reportagem publicada no jornal de domingo passado, na pgina Especial-3 do caderno Supereleio, com o ttulo: Lixo do comit de FHC revela doadores. O que incomodou os leitores incomodou a mim tambm: a reportagem conta com detalhes que funcionrios do comit do candidato, em Braslia, acondicionam o lixo produzido durante a semana em sacos plsticos. Num dia determinado, os papis (especialmente eles) so queimados num aterro, em local proibido. A questo, entretanto, no ambiental: a reportagem da Folha recuperou parte do lixo que no foi consumido pelo fogo e revelou aos leitores uma lista de supostos doadores de dinheiro para a campanha tucana. Mas a prpria reportagem dizia, em seu terceiro pargrafo: A legislao eleitoral permite que os candidatos mantenham em sigilo os nomes dos financiadores de suas campanhas. Apenas nos casos em que h suspeita de irregularidade o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pode requisitar as prestaes de contas. Eis a o problema: a Folha revirou o lixo de FHC para revelar algo que nem o TSE pode fazer sem solicitar ao candidato. invaso de privacidade, repetiram os leitores. Que, irritados com o jornal, chegaram a chamar os reprteres de ratos (dois deles). Se a semana no tivesse sido dominada pelo noticirio parablico e pela sucesso no Ministrio da Fazenda, o abuso da Folha teria dado o que falar. Por falar nisso, sumiu dos jornais (da Folha, em especial, que foi quem mais dedicou espao ao assunto) a denncia de que a campanha tucana usaria os servios de um assessor do presidente americano, James Carville. Esta Folha> chegou a noticiar com estardalhao que a assessoria, desde que no formalizada atravs de pagamentos, seria ilegal. A menos que Carville estivesse recebendo bnus eleitorais de FHC, algo difcil de imaginar. Enfim, antes mesmo das devidas explicaes aos leitores, o assunto sumiu dos jornais. s mais um daqueles que desaparecem como que por encanto. A jornalista Snia Mossri, reprter da sucursal de Braslia, teve o cuidado de consultar a fita gravada durante a palestra do socilogo Hlio Jaguaribe para uma platia de militares aquela que gerou farto noticirio na Folha, pelas declaraes de Jaguaribe de que seria preciso acabar com o ndio, e que comentei na coluna de domingo passado. Snia Mossri, responsvel pela reportagem que deu o pontap inicial na polmica, informa que a frase integral de Hlio Jaguaribe foi a que segue: preciso desmistificar formas de congelamento da antropologia. No existe a menor possibilidade de permanncia das comunidades primitivas. preciso acabar com o ndio. No vai haver ndio no ano 2.000. Reli a reportagem assinada por Snia Mossri, e o problema est (a reprter reconhece) em que essa frase de Jaguaribe no aparece ntegra. O texto diz que Jaguaribe disse que preciso acabar com o ndio' at o ano 2.000 e promover sua integrao mediante escolarizao. O ttulo que o jornal acrescentou na edio, e a chamada na Primeira Pgina, ajudaram a colocar lenha na fogueira: Jaguaribe defende o fim do ndio at o ano 2.000, escreveu o jornal. No foi, e a fita consultada agora por Snia Mossri revela isso, exatamente o que o socilogo afirmou em sua palestra. O jornal, mantenho o que escrevi na semana passada, fez jornalismo apressado sobre as idias de Hlio Jaguaribe. JUNIA NOGUEIRA DE S a ombudsman da Folha. A ombudsman tem mandato de um ano, renovvel por mais um ano. Ela no pode ser demitida durante o exerccio do cargo e tem estabilidade por um ano aps o exerccio da funo. Suas atribuies so criticar o jornal sob a perspectiva do leitor recebendo e checando as reclamaes que ele encaminha Redao e comentar, aos domingos, o noticirio dos meios de comunicao. Cartas devem ser enviadas para a al. Baro de Limeira, 425, 8 andar, So Paulo (SP), CEP 01202-001, a.c. Junia Nogueira de S/Ombudsman. Para contatos telefnicos, ligue (011) 224-3896 entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.
tica, ratos e outros bichos JUNIA NOGUEIRA DE S ( ombusdman da Folha) Peo licena aos leitores da Folha para sintetizar uma carta que recebi na semana passada. O missivista me pedia que eu observasse o lado do jornalista Carlos Monforte na malfadada entrevista com o ministro Ricupero. Nela , uma conversa em off (no intencional) teve o seu contedo no ar por conta de uma parablica , que a captou. Do contrrio , nada saberamos. O missivista pergunta se a tica jornalstica no exigiria do reprter ser transparente ao traduzir o pensamento de Ricupero. O leitor est correto. O ministro falava que suas aparies na Rede Globo foram um achado porque disfarariam o apoio dado ao candidato FHC; e que o PT, por estar comeando , no podia. A mdia silenciou sobre o assunto, certamente por boa parte dela estar tambm comprometida. A revista Veja publicou reportagem revelando que emissoras e jornais do interior vendem espao a polticos. A prtica tambm foi flagrada na Rdio Globo e no Dirio Popular. O superintendente do Dirio disse que, como no tinha espao para todos, resolveu informar sobre os que podiam pagar. S posso afirmar que falta de tica da imprensa e informar que at agora a Justia Eleitoral no se pronunciou. Alguns leitores da Folha se incomodaram com uma reportagem intitulada Lixo do comit de FHC revela doadores. Ela informa que funcionrios do comit ensacava os papis em plsticos e depois os incineravam em lugar proibido. A reportagem da Folha recuperou uma parte em que havia uma lista de possveis doadores de campanha. Os reclamantes no concordavam com a poluio do ambiente, mas consideraram a atitude de reprteres como invaso de privacidade. Aqui, os leitores que perderam o rumo. No prximo caso, h culpa do jornal. Uma reportagem sobre uma palestra do professor Hlio Jaguaribe informava que ele tinha dito ser preciso acabar com o ndio. Dada a celeuma , a jornalista consultou a fita gravada e transcreveu todo o contexto: preciso desmistificar formas de congelamento da antropologia . No existe a menor possibilidade de permanncia das comunidades primitivas. preciso acabar com o ndio. No vai haver ndio no ano 2000 e promover sua integrao mediante escolarizao. A manchete , portanto, fruto de jornalismo apressado.
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Grande empresa gera pequenas a seu redor Novos empresrios passam a fornecer produtos e servios para antigo empregador; perigo dependncia exagerada NELSON ROCCO Da Reportagem Local A eliminao de departamentos e a terceirizao de processos e servios feitas por grandes empresas esto criando uma nova gerao de empresas-filhotes. Terceirizao significa repassar partes do trabalho para outras empresas. O objetivo reduzir quadros e aumentar a agilidade de uma grande organizao. Ao mesmo tempo em que enxuga sua estrutura (demite), a empresa-me estende a mo para as pequenas que esto nascendo e as ajuda a dar os primeiros passos. A negociao entre as partes raramente traumtica. O simples fato de um ex-funcionrio bater porta da antiga empresa j desperta interesse, afirma o consultor Jos Antonio Rosa, 41. Ele diz que, obtido o aval do ex-empregador, pode-se procurar outros clientes. necessrio apenas tomar cuidado para no ir direto a um concorrente. A transmisso de tarefas pode envolver as chamadas atividades-meio, como servios de limpeza, restaurante, transporte de funcionrios e manuteno. H casos, no entanto, em que empresas repassam para terceiros parte da produo, como peas e componentes as atividades-fins. O risco de se tornar filhote, segundo consultores e empresrios, ter a grande empresa como nico cliente. Isso configura uma perigosa relao de dependncia. Jos Roberto Schettino Mattos, 35, diretor da Andersen Consulting (consultoria empresarial) diz que o ideal comprometer at 50% do potencial de produo com a empresa-me. O restante deve ser pulverizado entre outros clientes. Mattos v outro desafio: a manuteno da qualidade, j que a empresa que est nascendo tem dificuldades para adquirir equipamentos e tecnologia avanados. Para ele, preciso que a grande organizao fornea recursos necessrios para que a pequena possa prestar servios de qualidade. O diretor da Andersen Consulting diz que o empreendedor deve verificar se seu produto ou servio tem mercado alm daquele criado pela empresa-me. Recm-nascidos A MK Ttica uma recm-nascida. Ceclia Rotemberg, 30, dona, abriu a empresa em fevereiro depois de deixar o Grupo ATP. Rotemberg e a scia Simone Certain, 26, prestam servios de organizao de eventos e feiras. Fazem tambm todo o trabalho de marketing para o ex-empregador. Por j me conhecerem, os diretores da ATP so muito exigentes. Por confiarem na empresa, avalizam nosso trabalho, diz. Isu Fang, 53, diretor-superintendente do Grupo ATP, diz que a ex-funcionria j havia chegado ao topo de sua carreira na empresa, e a melhor sada para seu crescimento era se lanar como empresria. A MK Ttica tem feito trabalhos espordicos para outras empresas, mas a ATP sua principal fonte de faturamento. A SPZ Servios faz trabalhos de limpeza, copa, recepo e manuteno para a Tec Toy. Elpdio Spiezzi Jnior, 36, abriu a empresa h trs meses. Spiezzi diz que tem recebido apoio da empresa onde trabalhava para resolver os problemas que surgem em seu novo negcio. Adolfo Menezes Melito, 41, diretor-administrativo da Tec Toy, afirma que seu filhote tem usado, inclusive, o sistema de computadores da empresa.
Grande empresa gera pequenas a seu redor Novos empresrios passam a fornecer produtos e servios para antigo empregador ; perigo dependncia exagerada NELSON ROCCODa Reportagem Local A eliminao de departamentos e a terceirizao de servios por parte de grandes empresas esto provocando o aparecimento de empresas-filhotes. Com a terceirizao, as grandes empresas repassam parte de servio ou produo para outras menores. Com isso elas enxugam sua estrutura e agilizam a organizao. Se isso cria um relacionamento pouco traumtico de um lado, de outro pode provocar uma situao de excessiva dependncia das empresas menores. Para evit-la, bom que estas no tenham a grande como nico cliente; que 50% de sua produo seja para outros clientes. Ainda h a questo de qualidade. Como as pequenas no tm como investir em alta tecnologia, convm que a grande empresa fornea recursos para que a qualidade se mantenha.
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SO PAULO - Susana Marcolino da Silva fez uma ligao pessoal para o dentista Fernando Colleoni ainda na noite do dia 20, quinta-feira, convidando-o a passar onde estava hospedada, no apartamento de PC Farias, no bairro do Morumbi. Ela ligou para Fernando dizendo que estava com uma amiga e perguntou se ele no queria tomar uma champanhe, disse ontem o delegado titular do 30 Distrito Policial, Naief Saad Neto. O fato foi levantado pelo delegado, a fim de demonstrar que o detetive particular Alceu Alves Guimares, contratado pelo empresrio Caio Luiz Ferraz do Amaral, a pedido de PC Farias, no seguiu os passos de Susana em So Paulo. Guimares disse em seu depoimento que na noite do dia 20 Susana ainda estava hospedada na residncia da sua prima Maria Jos Rosenbaum, em Santo Andr, na Grande So Paulo, afirmou Saad Neto, para quem Guimares no realizou a vigilncia encomendada. Segundo o delegado, o detetive particular declarou em seu depoimento que Colleoni e Susana passaram por dois motis, mas no quis dar os nomes dos locais. Colleoni negou ao delegado ter passado por algum motel. O dentista, segundo Saad Neto, no aceitou o convite de Susana para tomar uma champanhe na noite do dia 20. Saad Neto afirmou ainda que Guimares admitiu ter inventado a histria de que Susana estava sendo seguida por outras duas pessoas, alm de dois agentes contratados por ele. Para o delegado, os agentes Toninho e Luiz Carlos, que teriam sido contratados por Guimares, no existem. O empresrio Caio Luiz Ferraz do Amaral afirmou que contratou a empresa Mega Detetives, de Alceu Alves Guimares, para seguir os passos de Susana em So Paulo, a pedido pessoal de PC Farias. Segundo ele, PC Farias pretendia tomar algumas decises e queria ter um relato das atividades de Susana. O empresrio deps ontem no 30 Distrito Policial do bairro de Tatuap, onde declarou que o detetive particular Guimares foi contratado para o servio de acompanhamento duas horas antes de Susana chegar a So Paulo, no vo 346 da Varig, proveniente de Macei, no dia 19. Recebi um informe do detetive no dia 20, dizendo que at aquele momento no havia nada que depusse contra a moa. Liguei para Paulo e ele disse que aguardaria para saber das atividades de Susana depois que ela mudasse para seu apartamento no bairro do Morumbi. Susana deixou a residncia de sua prima Maria Jos Rosenbaum, em Santo Andr, na Grande So Paulo, no dia 20, passando a dormir no apartamento de PC Farias. A partir da, deixei de receber informes do detetive, disse Ferraz. Segundo o delegado Saad Neto, a interrupo dos contatos do detetive particular Guimares com Ferraz indica que PC Farias no sabia que Susana saiu com o dentista Fernando Colleoni na noite do dia 21, quando foram jantar. O empresrio alagoano teria morrido, no dia 24, sem ter sido informado do rpido flerte entre os dois. Para Ferraz, o detetive Guimares pretendia extorquir dinheiro dele, ao ter comentado na ltima sexta-feira, dia 28, a inteno de levar o caso da campana feita junto a Susana para a polcia e a imprensa. Guimares alegava que os dois agentes contratados para segui-la desapareceram depois da morte de PC Farias e de sua namorada em Macei. Guimares ligou posteriormente para o empresrio afirmando que seus agentes pensavam em ir polcia ou imprensa denunciar o caso. Ferraz, que tem um escritrio de representao comercial em So Paulo, disse que conhecia PC Farias h 25 anos. Atualmente ele cuidava do pagamento das contas de luz, gua e telefone dos imveis do empresrio alagoano em So Paulo. O relacionamento entre Ferraz e PC Farias teve incio quando o empresrio alagoano decidiu abrir a revenda de automveis Motoral, com veculos da marca General Motors-Chevrolet, em Macei, h 25 anos. Ferraz ficou encarregado, em So Paulo, dos contatos comerciais. O mesmo ocorreu com outras revendoras de PC Farias, como a DiCasa e Tratoral. H 17 anos que no vou a Macei, declarou Ferraz. Depois da morte de PC Farias, Ferraz ligou para o mdico Luiz Farias e o deputado Augusto Csar Farias (PPB-AL), irmos de PC Farias, para falar da investigao solicitada. O Augusto me disse que haviam sido feitas tambm investigaes em Macei, disse Ferraz.
O empresrio Caio Luiz Ferraz do Amaral, a pedido de P.C. Farias, contratou o detetive particular Alceu Alves Guimares para seguir os passos de Susana Marcolino assim que ela chegasse ao aeroporto em So Paulo. Nos depoimentos aps a ocorrncia do assassinato de Farias e Susana, o delegado do 30 Distrito Policial, Naief Saad Neto fez um rastreamento dos fatos. Constatou que ela telefonou para o dentista Fernando Colleoni , convidando-o para tomar um champanhe no apartamento de P.C. Farias, no Morumbi, onde estava. Segundo o detetive, no mesmo dia e horrio , ela ainda estava na casa de uma prima em Santo Andr. Ainda de acordo com o detetive, o dentista e Susana passaram por dois motis. O dentista negou. Saad Neto afirmou que Guimares inventou a histria de que Susana estava sendo seguida por mais duas pessoas, alm dos detetives que ele contratou. Na opinio do delegado, estes detetives no existem. No seu depoimento, o empresrio Amaral disse que a nica comunicao do detetive , no dia seguinte chegada dela , informava sobre a normalidade de suas atividades e que s voltaria a contact-lo depois que ela mudasse para o apartamento no Morumbi. Isso no mais aconteceu, segundo ele. Para o delegado Saad Neto , P.C. Farias morreu sem saber que Susana tinha sado com o dentista. Ferraz acreditava que o detetive pretendia extorquir dinheiro dele, pois manifestou-lhe a inteno de comunicar imprensa e polcia o caso da campana. Posteriormente, o empresrio telefonou para os irmos de P.C.Farias, informando sobre as investigaes. Eles disseram que, tambm em Macei, elas tinham sido feitas.
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Dias nervosos viro O pas inicia nesta tera-feira um perodo decisivo para seu futuro imediato, por mais que o termo decisivo j tenha sido usado na histria recente. O marco inicial desse momento de intensa atividade poltico-econmica ser a votao, prevista para o dia 8, do Fundo Social de Emergncia (FSE), elemento essencial do chamado Plano FHC. O resultado da votao representar o sepultamento do plano, no caso de rejeio, ou o incio de sua fase seguinte, a de combate direto inflao, com enormes reflexos no cenrio econmico e poltico. Por isso, torna-se conveniente tentar uma anlise do que tende a acontecer. Se houver a rejeio, fica relativamente fcil imaginar o desdobramento imediato: Fernando Henrique Cardoso demite-se do Ministrio da Fazenda. Ao rejeitar o FSE, na prtica o Congresso estar rejeitando o Plano FHC, o que, como evidente, torna difcil a permanncia do ministro. tambm de se imaginar, nesse cenrio, que FHC sair do cargo disparando contra o Congresso, como smbolo da desprestigiada categoria dos polticos. Se fcil fazer tais suposies, tudo o mais torna-se extremamente nebuloso. Entre tentar ser o candidato antipoltico e ter sucesso nessa empreitada, vai uma distncia enorme. O que parece evidente que, nessa hiptese, a candidatura FHC nascer, se chegar a nascer, mais fraca do que se imaginava h dois ou trs meses. O desgaste do ministro junto aos setores que influenciam a opinio pblica grande e s dever aumentar se o seu plano for rejeitado pelo Congresso. Seu enfraquecimento representa igualmente o enfraquecimento do que se chama o centro do arco poltico-ideolgico, o que pode tanto abrir espao para o surgimento de uma nova candidatura nessa faixa como levar a uma polarizao direita-esquerda tendo a esquerda um candidato j definido (Luiz Incio Lula da Silva, do PT) e a direita ainda buscando um nome que possa fazer frente ao do petista e acabar tornando-se o anti-Lula. O natural , portanto, que se acelerem, sempre nesse cenrio de rejeio do FSE, as conversas, articulaes e negociaes em busca de uma candidatura alternativa de Lula, a nica que, como demonstram as pesquisas de opinio, se mantm solidamente no panorama eleitoral. Parte desses movimentos j ficou visvel na semana que est terminando. Orestes Qurcia (PMDB) autolanou-se candidato Presidncia. Antnio Carlos Magalhes (PFL) e Paulo Maluf (PPR) reiniciaram conversaes em torno de uma eventual candidatura nica do que se convencionou chamar de setores conservadores. Houve at sinais de que o governador do Cear, Ciro Gomes, tentaria ser candidato pelo mesmo PSDB de Fernando Henrique. Todos esses movimentos refletem, de alguma forma, a crise dos partidos polticos brasileiros. H divergncias internas no PMDB, com a disputa entre a seo gacha (com destaque para Antnio Britto) e os que apiam Orestes Qurcia, da qual se aproveita o governador de So Paulo, Luiz Antnio Fleury Filho, para tentar se colocar como terceira via. H divergncias at mesmo no PT, como o indica o conflito entre a bancada federal e os setores mais radicais do partido que se opem participao na reviso constitucional. A hiptese de candidatura Ciro Gomes divide o PSDB. PFL e PPR tambm no foram ainda capazes de encontrar nomes com chance de emplacar junto ao eleitorado. Essa confuso poltica s demonstra que a sucesso presidencial um processo em aberto, embora falte pouco tempo at a votao em primeiro turno (pouco mais de sete meses). Igualmente difcil de analisar o cenrio econmico e eleitoral que nascer da hiptese inversa, ou seja, da aprovao do FSE na tera-feira ou em qualquer outra data prxima posterior. Se a rejeio do plano provocar uma provvel acelerao inflacionria, a sua aprovao pode abrir caminho para a derrubada da inflao. Aprovada a primeira etapa do Plano FHC, o governo naturalmente partir para a implementao, em curto prazo, da Unidade Real de Valor (URV), primeiro como novo indexador da economia e, em seguida, como nova moeda. As condies bsicas para que a inflao caia seriam, nessa hiptese, mais favorveis do que as existentes em 1989, ano da eleio presidencial anterior. Primeiro, porque o governo dispe agora de formidveis reservas internacionais, acima dos US$ 30 bilhes. Segundo, porque a dvida interna inferior de 89 e seus prazos so mais longos, o que retira um pouco de oxignio do drago inflacionrio. Alm disso, razovel prever que o governo jogar pesado, tambm politicamente, para reduzir a inflao e, por extenso, solidificar uma candidatura presidencial nascida de suas fileiras e que, nessa hiptese, provavelmente ser a de FHC. Tanto pelos handicaps econmicos como pela deciso poltica, que pode incluir algum tipo de controle de preos para acelerar o processo de asfixia da inflao, as possibilidades de que ela caia parecem razoveis. evidente, no entanto, que debelar a inflao no tarefa indolor, principalmente se o governo tiver de utilizar juros ainda mais altos como arma antiinflacionria. A intensidade da dor vai depender, em parte, da maior ou menor urgncia do governo na converso da URV em moeda. Estes dois fenmenos reduo da inflao e eventual queda da atividade econmica tm inequvocos e contrapostos efeitos eleitorais. Inflao baixa d prestgio e popularidade ao governo que a derruba. Mas recesso significa impopularidade. De qualquer forma, se a evoluo econmica for favorvel, abre-se a perspectiva de o chamado centro do arco poltico-ideolgico ganhar fora eleitoral. Em consequncia, igualmente previsvel que se privilegie o entendimento em vez de uma polarizao direita-esquerda, que seria a hiptese mais provvel no caso de rejeio do FSE. Todo esse complexo emaranhado poltico, econmico e eleitoral estar, nas suas grandes linhas, definido entre a prxima tera-feira e o incio de abril, quando vence o prazo para a desincompatibilizao das autoridades do Executivo que quiserem concorrer ao pleito de outubro. No quer dizer, bvio, que todo o quebra-cabeas estar armado, mas as suas peas estaro j mais visveis. De abril at outubro, a sim, se far a armao final, que vai dizer como ficar o Brasil pelos prximos anos.
Dias nervosos viro Descortina-se um perodo decisivo para o futuro do Brasil a partir do dia 8 , quando deve ser votado o Fundo Social de Emergncia ( FSE), base do Plano FHC. Por esse motivo , importante refletir sobre os resultados dessa votao. Se ela for rejeitada, fcil concluir que Fernando Henrique se demita do Ministrio da Fazenda. E considerando desprestigiado o seu plano, sua demisso certamente vir acompanhada de ataques ao Congresso . A seqncia previsvel que sua candidatura Presidncia , se acontecer, vir mais enfraquecida do que antes. Tal enfraquecimento significa a fragilizao do centro do arco poltico-ideolgico e a uma abertura para nova candidatura nessa faixa ou , ainda, a polarizao direita-esquerda, com Lula j definido e a direita em busca de algum. O natural o aceleramento , nesse clima de rejeio do FSE, das conversas e negociaes com vistas a encontrar uma alternativa para contrapor a Lula. Nesse sentido, h um movimento embrionrio: Orestes Qurcia (PMDB) j se autolanou; Antnio Carlos Magalhes(PFL) e Paulo Maluf (PPR) j andaram conversando sobre uma candidatura nica . Nessas conversaes, fica evidente a crise poltica dos nossos partidos. O PMDB fica indeciso entre Qurcia e Antnio Britto, este do Sul; dentro do prprio PT h divergncias; a candidatura Ciro Gomes divide o PSDB; PFL e PPR no se decidiram por um nome. A sucesso presidencial ainda um processo aberto. Tambm no fcil analisar o cenrio, caso o FSE seja aprovado. Nesse caso, a queda da inflao uma boa probabilidade. At porque as condies bsicas so mais favorveis do que na disputa anterior: a disponibilidade de reservas internacionais muito maior e a dvida interna inferior. Por outro lado , derrubar a inflao no um parto com anestesia. Se o governo tiver que aumentar mais os juros e , conseqentemente, a atividade produtiva esfriar, no surpresa vir tona a insatisfao popular e certamente a rejeio ao candidato responsvel
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SEUL - As Corias do Sul e do Norte puseram ontem mais lenha na fogueira diplomtica que comeou a queimar h quatro dias, quando os norte-coreanos iniciaram suas incurses militares na localidade de Panmunjom, na zona desmilitarizada entre os dois pases: Na sexta-feira o exrcito do Norte mandou 100 soldados regio; no sbado, 200; e no domingo, 180. O presidente sul-coreano, Kim Young-sam, alertou Pionguiangue que as inconseqentes provocaes no iro mais ser toleradas, aumentou o alerta militar e deu oprens de atirar se houver nova incurso. Os norte-coreanos acusaram seus vizinhos de estarem preparando uma invaso a seu pas, com a ajuda militar dos Estados Unidos. Violao - Os sul-coreanos tentaram ontem angariar o apoio mundial sua denncia contra a Coria do Norte pela violao da trgua acertada em 1953, que acabou com a guerra entre os dois pases. O porta-voz do ministro do Exterior, Suh Dae-won, disse que a Coria do Sul pediu a 30 pases, entre eles Estados Unidos, China, Japo e Rssia, para que pressionassem Pionguiangue a respeitar o armistcio de mais de 40 anos. Segundo indicou Suh, o pas pensa at em recorrer ao Conselho de Segurana das Naes Unidas contra as agresses. O ministro da Defesa sul-coreano, Lee Yang-ho, disse ontem que as tropas do pas, apoiadas por 37.000 soldados americanos, estariam prontas para responder a qualquer agresso militar de seus vizinhos. Ele revelou ter se reunido com os chefes militares do pas para decidir como agir frente s provocaes. Segundo a agncia Yonhap, as tropas foram instrudas ontem para atirar em qualquer soldado norte-coreano que cruzasse a partir de ontem a fronteira com a zona desmilitarizada. O Comando das Naes Unidas considerou a invaso norte-coreana de domingo uma violao significativa do armistcio, mas agregou que no havia motivo para um alarme. A mesma opinio partilhada pelo governo americano. Mesmo assim, os presidentes Kim Young-sam e Bill Clinton iro se reunir na prxima tera-feira, na cidade sul-coreana de Cheju, para discutir qual a melhor atitute frente s movimentaes militares norte-coreanas. Um editorial no jornal do Partido Comunista da Coria do Norte, Rodong Sinmun dizia ontem que os vizinhos do sul enfrentariam um desastre irrevogvel caso ignorassem os alertas de Pionguiangue sobre o que considerava ser movimentaes beligerantes. Os sul-coreanos realizaram exerccios militares, do dia 28 do ms passado ao ltimo dia 2, reunindo as trs Foras Armadas. Alm disso, Seul e Washington examinam a possibilidade de reforar a vigilncia sobre a Coria do Norte, principalmente com avies-radar. Tratado de paz - Muitos analistas acreditam que Pionguiangue espera, com suas supostas provocaes, obrigar os americanos a iniciar conversaes bilaterais. O objetivo seria substituir o velho acordo do armistcio por um tratado de paz negociado em separado. Assim, os norte-coreanos passariam por cima do governo de Seul, que consideram um marionete. Eles esto apenas pondo um ponto de exclamao na sua afirmao, feita ao longo dos ltimos dois anos, de que o armistcio est morto, analisou Jim Coles, porta-voz do Comando das Naes Unidas.
A penetrao de tropas norte-coreanas numa regio desmilitarizada entre as duas Corias reesquentou o clima diplomtico dos dois pases , em paz desde o armistcio de 1953, que selou o fim da guerra entre eles. A Coria do Sul reagiu e ameaou contra-atacar se as provocaes continuassem. Tentou tambm angariar apoio de 30 pases ---entre eles Estados Unidos, China , Japo e Rssia--- , a fim de que eles pressionassem a Coria do Norte a respeitar a trgua. O ministro da Defesa sul-coreano informou que suas tropas, apoiadas por 37.000 soldados americanos, responderiam a qualquer ataque do vizinho. O Comando das Naes Unidas e o governo americano reconheceram a violao, mas no vem motivo para alarme. Mesmo assim, o presidente sul-coreano e Bill Clinton se reuniro para discutirem a melhor atitude a ser tomada. Por sua vez, um editorial norte-coreano contraps srias ameaas , se os sul-coreanos continuassem com movimentaes militares. Muitos analistas vem a atitude dos norte-coreanos como uma forma de ser revisto o tratado de paz entre os dois pases , e conseguirem um outro em separado , com o qual se desvinculariam de compromissos com Seul.
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A leitura atenta das entrevistas de Fernando Henrique Cardoso (candidato pela coligao do PSDB) e Luiz Incio Lula da Silva (da aliana liderada pelo PT) Folha revela muito mais coincidncias do que divergncias. Semelhanas que comeam nas primeiras medidas que cada um deles anuncia como prioritrias para o incio de governo. Ambos mencionam a reforma tributria como ponto de partida, o que, de resto, segue uma lgica inescapvel: o Estado brasileiro est em evidente estado falimentar e no h governo que possa fazer o que quer que seja se, antes, no conseguir reorganizar racionalmente as suas fontes de recursos. At a frmula para a implementao dessa reforma indispensvel, a negociao com a sociedade, semelhante entre os dois candidatos que lideram todas as pesquisas de inteno de voto. A indagao acerca do rtulo poltico-ideolgico que cada um assume revela outra enorme semelhana. Lula, embora continue se afirmando socialista, menciona como modelo de pas a Dinamarca, que exatamente um dos prottipos da social-democracia. Fernando Henrique, por sua vez, assume por inteiro a qualificao de social-democrata. Para acentuar as semelhanas, a palavra Estado, com conotao positiva, foi certamente a mais empregada pelo candidato tucano ao longo da entrevista, acompanhada do enterro retrico do neoliberalismo. No h, alis, motivo para espanto no fato de os dois principais candidatos e, por isso mesmo, os dois grandes rivais do pleito presidencial mostrarem tantas coincidncias. O sepultamento do comunismo, com a queda do Muro de Berlim em 1989 e a derrocada da Unio Sovitica em fins de 1991, acabou por tornar muito mais convergentes as posies de correntes polticas antes mais distanciadas e das lideranas que as representam nas disputas eleitorais. Alm disso, o diagnstico sobre os males do Brasil est feito h algum tempo. No h candidato que ignore que reequacionar o Estado e, por extenso, as suas funes essenciais (educao, sade etc.) uma prioridade bvia. Da mesma forma, no h quem possa escapar constatao de que os problemas sociais so profundos e pedem providncias estruturais e de emergncia. natural, portanto, que todos os candidatos e no apenas os dois principais as incorporem como prioridades em seus respectivos programas de governo. Apontadas as semelhanas e parte de suas causas, fica mais difcil assinalar diferenas realmente de fundo. Pelo menos nas duas entrevistas que esta Folha publica hoje, as divergncias so mais de nfase. O discurso de Lula, previsivelmente, est profundamente pontilhado pela questo social. J o discurso de Fernando Henrique Cardoso, embora tambm trate dela, gasta mais palavras no tema da insero do Brasil no cenrio internacional. A questo das privatizaes , talvez, o ponto mais ntido de divergncia. Lula demonstra m vontade em relao no apenas s privatizaes j feitas, mas tambm no que se refere s que podem vir a ser feitas pelo futuro governo. J o candidato tucano aceita a desestatizao com boa vontade. Mas, de todo modo, os dois coincidem em tentar retirar da discusso o aspecto ideolgico que cercava o tema at muito recentemente e que para alguns candidatos, como Leonel Brizola, permanece ainda como questo de princpios. Bem feitas as contas, a diferena entre os dois candidatos que, ao menos por ora, so os favoritos na corrida para o Planalto muito mais de biografia e de alianas. De um lado, tem-se um grande lder de massas, como o prprio FHC definiu Lula. De outro, um grande intelectual, como Lula qualificou FHC. Se esto sendo absolutamente sinceros nessas respostas, o mais provvel que um venha a precisar muito do outro, seja qual for, entre os dois, aquele que vencer a disputa eleitoral.
Pelas entrevistas dos dois candidatos presidncia ---Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lus Incio Lula da Silva (PT) -- , conclui-se que h mais convergncias do que divergncias entre eles. Ambos mencionam a reforma tributria como ponto de partida para o prprio governo , coerentes , alis, com a condio bsica para a sobrevivncia do pas. E os dois pretendem faz-la , negociando com a sociedade. Tambm o perfil poltico-ideolgico de ambos se mostra cada vez mais prximo da social-democracia . uma tendncia observada aps o fim do comunismo , com a queda do Muro de Berlim (1989) e o esfacelamento da Unio Sovitica (1991). Ainda revelam semelhana quanto ao diagnstico sobre os males do Brasil , que so prioridades do Estado: educao , sade e vrias outras questes de ordem social. Fica at difcil , pelo menos at agora, apontar as diferenas . Lula enfatiza mais a questo social , e Fernando Henrique , sem descuidar dela, acentua a insero do Brasil no mundo. O ponto de maior divergncia quanto as privatizaes. Fernando Henrique aceita-as com tranqilidade ; Lula , no. Mesmo assim, ambos tentam enfoc-las sem o vis ideolgico recente.
in96fe26-b
JERUSALM - Pelo menos 25 pessoas morreram na manh de ontem em Israel, vtimas de dois atentados terroristas praticados por membros da Organizao Fundamentalista Islmica, Hamas. No mais grave deles, uma bomba acionada por um terrorista suicida no interior de um nibus, no centro de Jerusalm, deixou 23 pessoas mortas e mais de 50 feridas. Pouco depois, novo atentado a bomba, em Ashkelon, no sul do pas, causou dois mortos e 22 feridos. O atentado ocorrido em Jerusalm, o mais sangrento de que se tem lembrana em Israel, ocorreu pouco antes das sete da manh, no momento em que um nibus lotado de passageiros, em sua maioria soldados que voltavam para suas bases, se aproximava da estao rodoviria. O terrorista esperou que o nibus parasse num sinal e acionou a bomba. O enorme impacto causado por cerca de dez quilos de dinamite destruiu totalmente o nibus e atingiu vrios outros nas proximidades. Os 50 feridos foram internados, e oito deles esto em estado grave. Metal - A Rua Jaffa, a principal de Jerusalm, se assemelhou a um campo de batalha, com dezenas de corpos mutilados espalhados num raio de dez metros, e feridos presos nas ferragens. Segundo a polcia, o efeito destruidor da exploso foi ampliado por pedaos de metal introduzidos na bomba para causar mais danos. Cerca de 45 minutos mais tarde ocorreu nova exploso. Disfarado numa farda do Exrcito israelense, um terrorista aproximou-se dos soldados que se aglomeravam num ponto de nibus de Ashkelon, prximo Faixa de Gaza, e acionou a bomba que trazia junto a seu corpo. A semelhana entre os dois atentados levou a polcia a deduzir que se tratou de uma operao coordenada por uma mesma faco do Hamas, num ato de vingana contra o atentado praticado por um extremista judeu h exatamente dois anos em Hebron, episdio em que 29 palestinos foram assassinados. Outra data lembrada foi a dos 50 dias do assassinato do terrorista Yahia Ayash, conhecido como o Engenheiro, presumivelmente praticado pelo servio secreto israelense. Pouco depois, um volante do Hamas encontrado prximo ao local do atentado de Jerusalm dizia que toda atividade armada ser suspensa quando Israel suspender todas as aes terroristas contra o grupo e libertar seus ativistas presos. Fronteiras - Os dois atentados de ontem ocorreram apenas dois dias depois da reabertura das fronteiras de Israel com os territrios palestinos de Cisjordnia e Gaza, determinado a partir de informaes de que radicais muulmanos tentariam vingar a morte de Ayash. O clima de insegurana que voltou a imperar em Israel obrigou o governo a fechar novamente as fronteiras, desta vez por tempo indeterminado. Tambm os contatos do governo com a Autoridade Nacional Palestina (ANC) foram suspensos, e s sero retomados depois dos funerais das vtimas. Pouco depois dos atentados, o primeiro-ministro Shimon Peres afirmou que seu pas no dar trgua ao terrorismo, e que prosseguir com o processo de paz com os palestinos. Em Gaza, o lder palestino Yasser Arafat condenou duramente os dois ataques. So aes terroristas, aes criminosas, voltadas no apenas contra pessoas inocentes mas contra todos o processo de paz, disse ele. Horas mais tarde, a polcia palestina prendeu na regio de Gaza cerca de 50 militantes do Hamas, e anunciou seu propsito de nas prximas horas deter mais 150 suspeitos. Os presidentes Bill Clinton, dos EUA, e Hosni Mubarak, do Egito, bem como o rei Hussein, da Jordnia, enviaram mensagens de condolncias s famlias das vtimas e ao governo israelense.
Dois ataques terroristas do grupo Hamas , num intervalo pequeno, mataram pelo menos 25 pessoas e deixaram cerca de 72 feridos. A violncia , principalmente do primeiro , praticado dentro de um nibus, fazia lembrar uma praa de guerra. Os dois atentados foram vingana contra o morticnio de 29 palestinos, praticado por um extremista judeu , dois anos antes, e contra o assassinato do terrorista Yahia Ayash , possivelmente praticado pelo servio secreto israelense. Os dois atentados , ocorridos apenas dois dias depois da reabertura das fronteiras de Israel com os territrios palestinos de Cisjordnia e Gaza, deixou um clima de insegurana tal que obrigou o governo a fech-las novamente. O primeiro-ministro Shimon Peres afirmou que no dar trgua ao terrorismo e que continuar com o processo de paz. Do lado palestino, Yasser Arafat condenou os dois ataques , prendeu 50 militantes do Hamas e anunciou o propsito de prender imediatamente mais 150. Bill Clinton , Hosni Mubarak , do Egito, e o rei Hussein da Jordnia enviaram condolncias s famlias das vtimas e ao governo israelense.
di94jl01-09
A regulamentao do artigo 38 e a credibilidade do governo SRGIO RIBEIRO DA COSTA WERLANG O plano da estabilizao econmica ora em vigor bem estruturado em geral, mas desde sua primeira edio (medida provisria 434, publicada no Dirio Oficial da Unio de 28/2/94) contm uma falha grave: um de seus artigos altera as clusulas de correo monetria de contratos j em andamento (artigo 36 da MP 434). Atualmente, em sua verso definitiva, a lei 8.880, contm um artigo semelhante, o de nmero 38. Um contrato entre duas partes feito porque ambas as partes ficaro melhor. Claramente, um contrato de longo prazo em uma economia inflacionria tem de conter alguma clusula de indexao. Ocorre que qualquer contrato incompleto, isto , impossvel que todas as contingncias (ou seja, todos os acontecimentos possveis durante a vida do contrato) sejam definidas com preciso. Assim, se ocorrer um fenmeno que tem pouca chance de realizar-se, em outras palavras, se ocorrer uma surpresa ou um fato inesperado, comum haver recontratao, isto , a renegociao do contrato. A reviso contratual quando da realizao de uma surpresa no s um princpio econmico saudvel e correto uma vez que nunca se consegue listar em um contrato todas as possveis ocorrncias durante a vida do mesmo como tambm uma boa doutrina jurdica. Alis, muito comum que as instituies jurdicas indiquem a experincia passada de uma sociedade, representando os mecanismos legais que se mostraram mais estveis e mais agregadores de valor adicionado economia no longo prazo. Tem estado muito em voga a teoria institucional que cuida de no s verificar quais as instituies que emergem, mas tambm qual o efeito da ambincia institucional no longo prazo da economia. Em particular, esta linha de pesquisa tem sido muito popular nas disciplinas de law and economics e de histria econmica, tendo sido premiada no ltimo Nobel de Economia que foi dado a Douglass North e Robert Fogel. justamente a viso de longo prazo que deve nortear a correta regulamentao do artigo 38. importante que seja entendido qual o novo critrio de correo monetria sugerido pelo artigo 38 e qual seu impacto estimado em contratos corrigidos por ndices de preos. Por problemas estatsticos, impossvel medir um ndice instantneo de inflao. Assim, qualquer ndice de preos calculado com base no comportamento dos preos no passado. Dessa forma, toda vez que h uma queda brusca da inflao esta levar algum tempo a ser captada numericamente. Por exemplo, se a inflao de junho for de 45% ao ms, e se a inflao a partir de 1 de julho for zero (o que significa que o plano econmico foi um sucesso completo), haver ainda uma inflao residual no IGP-M lembre-se, isto apenas um efeito estatstico advindo da metodologia do clculo de ndices de 35% distribudos entre os meses de julho e agosto. A regulamentao sugerida pelo governo no artigo 38 eliminaria por completo estes 35%. A argumentao usada pelos integrantes da equipe econmica a teoria da surpresa que, como explicada acima, justificaria a reviso dos contratos. No entanto, fcil ver que a teoria da surpresa nem sempre se aplica ao caso. Com efeito, em muitas situaes, a inflao residual nos contratos foi antecipada, isto , foi levada em considerao quando da negociao inicial. O exemplo mais bvio foi na compra de NTNs indexadas ao IGP-M, aps as declaraes, por sinal muito saudveis, de Francisco Pinto em dezembro passado em favor da inalterabilidade dos contratos. Note-se que Francisco Pinto era, poca, o diretor do Banco Central responsvel pela dvida pblica. Desse modo, suas declaraes eram vistas como refletindo o pensamento unssono da equipe, de forma que o mercado passou imediatamente, a negociar NTNs indexadas ao IGP-M com juros mais baixos j que estes ttulos teriam uma correo adicional em relao, por exemplo, ao dlar, quando a taxa de inflao diminusse. Nesse caso especfico, no se pode dizer que a queda brusca da inflao representa uma contingncia imprevista ou uma surpresa, uma vez que foi antecipado. Assim, no deve haver recontratao. Por outro lado, imagine um indivduo no especialmente informado das sutilezas estatsticas de ndices de preo, que comprou um imvel quando a inflao j estava em nveis elevados (por exemplo, 30% ao ms) atravs de uma financiamento indexado ao IGP-M. Parece claro que esta uma situao em que a queda brusca da inflao introduz um elemento novo, uma surpresa. Portanto, neste caso, justo que grande parte (mas no a totalidade) do resduo da inflao do IGP-M seja expurgado de sua dvida. Os dois exemplos acima, ilustram que os ganhadores e perdedores com a queda abrupta da inflao no so claramente identificados a priori. Cada caso um caso. No primeiro exemplo, a nova regra de indexao proposta pelo artigo 38 flagrantemente injusta. J no segundo exemplo, a regra aproximadamente verdadeira. Tendo em mente isto, a seguinte pergunta fundamental: ser que ao invs de determinar qual a melhor maneira de identificar a priori qual ser a regra de passagem que diminui o grau de conflito (ou seja, diminui o desejo de recontratao) no seria melhor deixar que os agentes insatisfeitos entrassem com aes na Justia provando (ou tentando provar) que em seus casos particulares a queda brusca da inflao introduz um elemento de surpresa que justifica a reviso dos termos do contrato? Para responder a esta pergunta, procuro medir o efeito da perda de credibilidade que o governo federal teria com a adoo do artigo 38. Fao-o de modo muito conservador e centro-me especificamente sobre o impacto sobre as contas do setor pblico do aumento da desconfiana causada na dvida mobiliria interna do governo federal. Isto porque, sendo difcil estimar qual a melhor maneira de alterar os contratos em vigor, ao menos deve-se ter uma medida do custo da deciso de alterar estes contratos. Para medir-se o efeito lquido nas contas do setor pblico, devem-se estimar tanto os ganhos quanto as perdas do governo federal. Do lado dos ganhos, note-se que o expurgo nas NTNs reajustadas em IGP-M (NTN-B e NTN-C) seria de cerca de 35% do estoque destas NTNs que vende depois de primeiro de julho. Em dados de 1 de junho, do Banco Central, o governo federal perderia um total de US$ 1,6 bilhes. J para estimar as perdas, h dificuldades adicionais. Ser que possvel mensurar o efeito da perda de credibilidade que o governo sofrer com a introduo do expurgo pelo artigo 38? Um mtodo aproximado para calcular o efeito do artigo 38 o seguinte. Observa-se que as taxas de juros em NTNs cambiais curtas (de at trs meses) no incio de fevereiro eram pouco inferiores a 26% ao ano. A MP 434 foi editada no Dirio Oficial da Unio de 28/2/94. No dia seguinte, 1/3/94, o Banco Central leiloou NTNs cambiais curtas (e longas tambm). As taxas demandadas pelas instituies financeiras para as NTNs curtas variaram de 28% a 30% ao ano. O Banco Central desistiu de colocar os ttulos a este preo. Mas o fato importante que havia demanda por ttulos cambiais a dlar mais 26% ao ano logo antes do plano, e aps o mesmo a demanda passou a 28%-30%, sem que houvesse nenhuma alterao substantiva na liquidez da economia. Logo, pelo menos uma diferena de 2% a 4% ao ano na taxa de juros requerida pelo pblico foi observada, simplesmente pela edio da medida. Supondo-se que: 1) a dvida mobiliria interna fique constante em termos de dlares reais e 2) o prmio que a dvida pblica tenha que pagar pela perda de credibilidade seja de 2% ao ano, mas caia a zero linearmente em 40 anos; chega-se concluso (utilizando-se o juro real de longo prazo em dlares de 2% e 3% ao ano) de que o valor presente da perda de credibilidade em decorrncia da edio da MP 434 varia entre US$ 7,6 bilhes e US$ 8,9 bilhes! Como somente o artigo 36 da MP 434 altera as condies contratuais das dvidas do governo, a fonte desta perda de credibilidade reside a. Ou seja, no atual artigo 38 da lei 8.880. Conclui-se que o governo acaba por perder muito mais do que os US$ 1,6 bilho que so computados diretamente. E isto sem levar em considerao a perda de credibilidade que foi imposta a toda a economia brasileira, uma vez que houve interveno em todos os contratos da economia. Uma vez que o Executivo props uma medida que lhe danosa, e ao povo brasileiro em geral, cabe ao Legislativo corrigir isso. Basta que, ao regulamentar o artigo 38, o Congresso proponha que no se alterem os contratos em vigor. SRGIO RIBEIRO DA COSTA WERLANG, 35, doutor em economia pela Universidade de Princeton (EUA) e diretor-geral da Escola de ps-graduao em Economia da Fundao Getlio Vargas (RJ).
A regulamentao do artigo 38 e a credibilidade do governo SRGIO RIBEIRO DA COSTA WERLANG O plano da estabilizao ora vigente , em geral, bem estruturado , mas desde a primeira edio contm um falha grave: um de seus artigos as clusulas de correo monetria de contratos em andamento(art.36 da MP 434) . A lei 8.880 contm um artigo semelhante, o 38 ) Um contrato de longo prazo , em uma economia inflacionria , precisa ter uma clusula de indexao. Pelo fato de todo contrato ser incompleto, impossvel que tenha previstas todas as contingncias. Por isso, se ocorrer uma surpresa , comum uma reviso, que constitui um princpio econmico saudvel . comum que as instituies jurdicas levem em conta a experincia passada de uma sociedade, o efeito da ambincia institucional no longo prazo da economia , e no s as organizaes emergentes. exatamente a viso de longo prazo que deve servir de parmetro para a regulamentao do artigo 38. fundamental ficar claro qual o critrio de correo monetria sugerido por esse artigo e qual seu impacto em contratos corrigidos por ndices de preos, que tm sua atualizao baseada em preos passados. Por exemplo, se a inflao de junho for de 45% mensais, e a partir de julho , zero, haver uma inflao residual no IGP-M de 35% , distribudos entre os meses de julho e agosto. A regulamentao sugerida pelo governo no artigo eliminaria o resduo. a chamada teoria da surpresa , que justificaria a reviso dos contratos.Diferente dos casos em que a inflao residual j foi prevista por ocasio do incio das negociaes. O exemplo bvio desta situao a compra de NTNs indexadas ao IGP-M. No caso, no houve surpresa e, portanto, no deve haver recontratao. No a situao de quem, sem maiores informaes sobre ndices, compra um imvel com a inflao alta . Sua queda repentina ser considerada um elemento surpresa, que justifica o expurgo da inflao . Nos dois casos, ganhadores e perdedores com a queda abrupta da inflao no so identificados a priori. Assim sendo, fundamental perguntar: em vez de determinar qual a melhor maneira de identificar com antecipao os meios de evitar o conflito, no seria melhor deixar que a Justia resolvesse a contenda? Minha resposta leva em conta o grau de perda de confiabilidade do governo federal, no caso de aceitar o artigo 38. Se difcil avaliar o melhor caminho de alterar os contratos em vigor, que se leve considerao o custo da deciso , com base nos seus lucros e perdas. Uma vez que o Executivo props uma medida danosa a ele ao povo , cabe ao Legislativo corrigir, propondo , ao regulamentar o artigo, a no-alterao dos contratos em vigor.